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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Espaços livres de uso público são aqueles que apresentam uma condição diferenciada, uma
vez que servem indiscriminadamente à toda população que por esta circula, e que dela
usufrui. Sua existência é importante no ato de parcelamento do solo urbano e seus
atributos, equipamentos e diferenciais podem proporcionar qualidade de vida, coesão
social, espaços para lazer, descanso e atividades esportivas. O Estatuto da Cidade
(BRASIL, 2001), que define o planejamento e gestão do território urbano, estabelece uma
série de diretrizes que visam, em seu conjunto, condicionar que as cidades sejam mais
igualitárias, com acesso a bens e serviços públicos de forma mais harmoniosa. Dentre as
diversas diretrizes promulgadas por esta lei, podem ser citadas:
- o direito a cidades sustentáveis;
- a gestão democrática através de associações representativas;
- o planejamento do desenvolvimento das cidades;
- a oferta de equipamentos urbanos e comunitários adequados aos interesses e necessidades
locais;
- a ordenação e controle do uso do solo (para se evitar, por exemplo, a deterioração de
áreas urbanizadas) e;
- a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído.
Desta forma, é aberta uma grande gama de possibilidades para o fortalecimento das
políticas públicas e das iniciativas que desenvolvam localmente o ambiente, atendendo aos
anseios comunitários, que podem ser diversos e específicos em cada região de uma área
urbana. E esta experimentação coletiva pode acontecer nas áreas públicas livres, aliando a
melhoria estética com a segurança alimentar, através da implementação de pomares
públicos não comerciais.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Fig. 2 Bairros da área urbana de São Carlos em que se inserem as praças tomadas
como áreas-piloto. Fonte: Elaboração própria.
São descritos os aspectos gerais do município de São Carlos, pelo fato de as três áreas
discutidas estarem inseridas em sua área urbana. Sob as coordenadas geográficas 47º30´ e
48º30´ de longitude oeste e
2
21º30´ e 22º30´ de latitude sul, sua área municipal é de 1.136,907 km e sua área urbana de
67,25 km2. A população estimada do município é de 243.765 habitantes, e a densidade
demográfica de 195,15 habitantes/km2 (IBGE, 2017). Possui dois distritos – Água
Vermelha e Santa Eudóxia.
A Tabela 1 apresenta características dos bairros e suas respectivas praças tomadas como
áreas-piloto.
Tabela 1 Caracterização de bairros e praças tomados como estudo de caso
A base teórica de artigos utilizada nesta investigação foi derivada de fontes como a Science
Direct e o Portal da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De uma forma geral a proposta de ações está bastante alinhada ao Plano de Arborização
Urbana de São Carlos – PDAU – por conta da promoção da arborização urbana, integração
e envolvimento da população, busca pela revitalização de espaços urbanos, diversificação
das espécies e proposição de um planejamento conjunto com o poder público local na
execução de um projeto que traga benefícios ambientais e sociais. Além disso, esta
proposta pode auxiliar o Plano de Manejo de Arborização Urbana da Coordenadoria de
Meio Ambiente ao identificar novos espaços potenciais para o plantio em áreas de
circulação humana.
Tal proposta de ações objetiva a produção de alimentos de qualidade (de forma acessível e
em espaços públicos), e a coesão social e o aumento da sensação de pertencimento que os
cidadãos devem resgatar e fortalecer quando se trata de um espaço público. Eis as
variáveis, a seguir, apresentadas de forma genérica, onde não se relaciona o que foi
executado em cada área-piloto:
Antes da seleção do espaço, é necessário que haja uma investigação sobre quais bairros
contam com Associações de Moradores de Bairro devidamente constituída. Depois disso,
torna-se indispensável o contato, diálogo e consulta sobre a possibilidade do
estabelecimento de tal parceria.
Para se efetivar o plantio e manutenção dos pomares é necessário que, após o aceite da
Associação em participar deste projeto, seja determinada a área a ser adotada e quais
espécies serão plantadas. Em alguns casos, o bairro pode contar com mais de uma área
destinada ao sistema de áreas públicas livres, devendo ser de escolha dos associados, qual
espaço será estrategicamente escolhido. Esta área deve ser necessariamente livre de uso
público, uma vez que tais parcelas não podem ser convertidas em áreas institucionais.
d) Caracterização da área selecionada a receber o pomar
A fim de serem mapeados os espaços vazios para inserção de espécies frutíferas, deve ser
realizado um levantamento da área estudada, com auxílio de SIG e GPS de mão. Através
do SIG, são vetorizados, sobre a imagem de satélite, os seus traços mais importantes, como
contorno, caminhos cimentados internos e calçadas, equipamentos públicos e outros
elementos. A referência de exemplares vegetais com altura superior a 2 metros de altura,
ou aqueles de porte menor, mas que vêm sendo conduzidos de alguma forma por seus
cuidadores, também é necessária, para que haja um mapeamento completo do local. As
informações armazenadas no GPS podem ser transferidas via cabo para o computador,
através de softwares disponíveis na rede, ou via bluetooth. para o software de SIG.
Para a seleção das espécies, pode ser realizado um levantamento das frutíferas cultivadas
em escala comercial no município, através do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE (2006). A escolha, desta forma, pode ser baseada na
produção histórica local de espécies que apresentem boas condições edafoclimáticas -
aspectos relevantes a serem considerados durante a escolha das mudas que constituirão o
pomar urbano.
A partir desta lista, a Associação deve selecionar quais frutíferas gostaria de cultivar nos
espaços vazios da área de seu bairro. A seleção das espécies e sua localização específica,
ocorrerá em função da disposição dos espaços livres e do porte da frutíferas selecionadas,
quando adultas.
Para informações sobre possíveis tubulações de água e esgoto, deve ser contatada a
autarquia responsável pelo serviço de fornecimento de água e coleta de esgoto. Quanto à
investigação sobre a fiação enterrada, pode ser contatada a Secretaria de Serviços Públicos.
Já para a verificação de existência de cabeamento ótico de telefonia, deve ser feito contato
com a(s) operadora(s) de telefonia local (ou regional).
Adubação - Eis aqui a apresentação de uma idealização, ou seja, da ação mais correta para
que o solo esteja adequadamente preparado para receber as mudas. A análise química,
através da coleta de amostras deveria ser feita, uma vez que tais áreas públicas
provavelmente sofreram empobrecimento de sua camada mais superficial, através do
revolvimento com máquinas de terraplanagem ou pela erosão laminar do solo. A coleta de
solo resultará em uma amostra composta, em que em diversos pontos de todo o terreno são
coletadas porções de terra (a uma profundidade de 0-20 cm). Esta amostra, ao final, é
misturada representando toda a área. A análise e a recomendação técnica devem ser
individualizadas, por espaço e por cultura. Portanto, para um espaço que vá contar com 12
espécies diferentes de fruteiras, seria necessário o custeio da análise de solo e de 12
recomendações técnicas diferentes. O custo aproximado para esta etapa seria de U$
140,00, sem considerar o custo de envio das amostras.
Caso não seja possível a análise química do solo, recomenda-se a aplicação de esterco de
gado curtido a uma proporção de 10-20 litros por cova, além da aplicação de calcário,
cerca de 250 g por cova. Tal ação visa, respectivamente, fornecer mais nutrientes ao solo e
garantir que sua acidez seja reduzida. Naturalmente, a segunda possibilidade é
financeiramente mais acessível. No entanto, perde-se a precisão da real demanda
nutricional para cada fruteira no espaço aonde será plantada.
h) Acesso a água
O acesso à água é outro ponto determinante para o sucesso destes pomares urbanos, uma
vez que o desenvolvimento inicial (e em épocas de estiagem) demanda este recurso em
maior volume.
i) Contrapartida do poder público municipal
Naturalmente, há um interesse do poder público que as praças da área urbana sejam bem
cuidadas, que surjam iniciativas que as tornem melhores, mais limpas e frequentadas. Por
outro lado, a implementação de um pomar urbano, passa necessariamente pela ajuda do
poder público municipal, sendo demandadas atividades que vão além da simples
manutenção (com podas temporárias) e não podem ser desenvolvidas pela Associação de
Moradores de Bairro. Exigem maquinário pesado, autorização especial e envolvem riscos
de acidente. Assim, ao ser informado (e depois solicitada tal parceria), o poder público
municipal reconhece formalmente o projeto e propicia a melhoria destas áreas através das
seguintes atividades, as quais podem ser em maior ou menor volume, dependendo das
características e condições de cada espaço:
- Instalação ou reparo de pontos de água nas praças (Serviço Autônomo de Água e
Esgoto);
- Remoção de exemplares mortos e destoca de suas raízes (motosserra e trator de
esteira, respectivamente);
- Abertura de covas para plantio das mudas (trator com retroescavadeira).
j) Treinamento de pessoal
k) Cronograma de atividades
A proposta aqui descrita pode ser desenvolvida em um período de 12 meses, ou até menos,
a depender do sucesso de desenvolvimento de todas as variáveis elencadas. Ressalta-se que
o condutor do projeto deve, preferencialmente, realizar o plantio das mudas na época de
maior precipitação. Isso acarretará em menor mão-de-obra para a irrigação inicial, além de
se realizar o plantio na época adequada para seu desenvolvimento pleno. Nada impede que
o plantio seja realizado em outras épocas do ano, contanto que haja disponibilidade de
água durante as épocas de menor ocorrência pluviométrica. O Quadro 1 apresenta uma
proposta de cronograma a ser seguida.
Quadro 1 Cronograma de atividades sugerido para implementação de pomar urbano.
Fonte: Elaboração própria.
Seleç.
Contato Seleção Análise Estaq. e Aplic. de
dos Investig. Prep.
Mês com as das quím. do abertura adubo e Plantio
bairros e do do
Assoc. Espécies solo das covas calcário
áreas subsolo terreno
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l) Busca de parcerias
Os maiores entraves foram encontrados na baixa adesão dos Associados ao projeto, muito
embora tenha havido aprovação e alinhamento ideológico para tal. Dificuldades, também,
na morosidade para as repostas ou o desenvolvimento de tarefas por parte do poder público
municipal.
Das três praças, o plantio ocorreu até o momento no Bosque das Cerejeiras (praça do bairro
Jardim Cardinalli). Na praça do bairro Jockey Clube, os pontos de água ainda não foram
instalados e no Jardim Araucária, os pontos foram instalados, mas ainda não foram
testados. Na futura praça do Jardim Araucária, as mudas já foram encomendadas. Portanto,
no caso da praça do Jardim Araucária, há um certo adiantamento em relação ao andamento
das ações. O Quadro 2 apresenta a relação de espécies selecionadas para cada espaço.
Quadro 2 Relação de fruteiras selecionadas para cada área-piloto.
b c
Fig. 3 Atividades nas praças. (a) Supressão de árvore morta no Jd. Cardinalli; (b)
Abertura de covas no Jockey Clube; (c) Plantio no Jardim Araucária.
4 CONCLUSÕES
No caso específico deste estudo de caso, embora tenha recebido pouca adesão por parte de
todos os Associados, a Associação de Moradores, representada pelos seus membros mais
atuantes, e o poder público municipal (em nome do Coordenador de Meio Ambiente do
município), se mostraram interessados e empenhados no desenvolvimento projeto,
formado por suas diversas variáveis, e nos seus desdobramentos.
Brasil (2001), Lei n° 10.257 de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da
Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras
providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm. (Acessado 4 abril
2018).
Hastie, C. (2003), The benefits of urban trees. Warwick District Council, 139 p.
São Carlos (2009), Decreto n°216 de 5 de junho de 2009. Institui o Plano de Arborização
urbana no município de São Carlos, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.saocarlos.sp.gov.br/images/stories/legislacao_urbanistica_municipal/Decreto%
20216-09-digital.pdf. (Acesso 18 março 2018).
Worldwatch Institute. (2014), Urban Agriculture Helps Combat Hunger in India’s Slums.
Disponível em: http://www.worldwatch.org/urban-agriculture-helps-combat-hunger-
india%E2%80%99s-slums-1. (Acessado 23 de março 2018).