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Variáveis para implementação de pomares urbanos

Gustavo DAlmeida Scarpinella


Universidade Federal de São Carlos
gscarpinella@gmail.com

Ricardo Siloto da Silva


Universidade Federal de São Carlos
silotosilva@gmail.com
8º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,
REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)
Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios
Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

VARIÁVEIS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE POMARES URBANOS

G. D.A. Scarpinella, R. S. da Silva

RESUMO

A qualificação de áreas públicas a partir do enriquecimento com espécies frutíferas é uma


prática cada vez mais observada em diversas cidades brasileiras. No presente artigo, foram
analisadas três áreas públicas de recreio em diferentes bairros da área urbana de São
Carlos, estado de São Paulo, Brasil, sendo desenvolvida uma discussão a respeito das
variáveis propostas e empregadas na implementação de pomares urbanos, tema de central
interesse deste artigo. Como procedimentos metodológicos para contextualização e
discussão das áreas abordadas, foram adotados a observação direta, pesquisa bibliográfica
e o emprego de ferramentas de SIG – Sistema de Informação Geográfica. De uma forma
geral, pode ser relatado um bom desenvolvimento do projeto, que neste momento encontra-
se na fase de pré-plantio em duas, das três áreas. Foi programado ao todo o plantio de 143
mudas frutíferas de 22 espécies diferentes, e que pode beneficiar diretamente cerca de
10.000 moradores dos bairros abordados.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de centros urbanos gera uma série de impactos, desde o adensamento


demográfico, que demanda estrutura viária, de moradia e serviços, provocando
compactação e impermeabilização do solo, passando pela importação de materiais e
energia, produção de resíduos sólidos, líquidos e inertes, e perda de diversidade de fauna e
flora.

Como alternativa e contraponto a esta perda de qualidade em um ambiente bastante


modificado, há o aproveitamento de áreas públicas - tratadas aqui como espaços livres de
uso público – as quais apresentam um grande potencial como espaços verdes (ou não) de
convívio social, construção comum de um ideal, fortalecimento da cidadania e da sensação
de pertencimento.

Espaços livres de uso público são aqueles que apresentam uma condição diferenciada, uma
vez que servem indiscriminadamente à toda população que por esta circula, e que dela
usufrui. Sua existência é importante no ato de parcelamento do solo urbano e seus
atributos, equipamentos e diferenciais podem proporcionar qualidade de vida, coesão
social, espaços para lazer, descanso e atividades esportivas. O Estatuto da Cidade
(BRASIL, 2001), que define o planejamento e gestão do território urbano, estabelece uma
série de diretrizes que visam, em seu conjunto, condicionar que as cidades sejam mais
igualitárias, com acesso a bens e serviços públicos de forma mais harmoniosa. Dentre as
diversas diretrizes promulgadas por esta lei, podem ser citadas:
- o direito a cidades sustentáveis;
- a gestão democrática através de associações representativas;
- o planejamento do desenvolvimento das cidades;
- a oferta de equipamentos urbanos e comunitários adequados aos interesses e necessidades
locais;
- a ordenação e controle do uso do solo (para se evitar, por exemplo, a deterioração de
áreas urbanizadas) e;
- a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído.

Desta forma, é aberta uma grande gama de possibilidades para o fortalecimento das
políticas públicas e das iniciativas que desenvolvam localmente o ambiente, atendendo aos
anseios comunitários, que podem ser diversos e específicos em cada região de uma área
urbana. E esta experimentação coletiva pode acontecer nas áreas públicas livres, aliando a
melhoria estética com a segurança alimentar, através da implementação de pomares
públicos não comerciais.

Muitas pesquisas se dedicam à agricultura urbana, sobretudo às hortas comunitárias.


Exemplos internacionais podem ser citados, em estágios diferenciados de características e
evolução, como a Alemanha (BENDTA et al. 2013), Estados Unidos (EIZENBERG, 2012,
GHOSE & PETTYGROVE, 2014), Índia (WORLDWATCH INSTITUTE, 2014) e Canadá
(MONTREAL’S COMMUNITY GARDENING PROGRAM, 2006), dentre outros. No
Brasil, este tipo de produção se distribui de forma predominante embaixo de linhas de
transmissão e terrenos abandonados ou subutilizados. Silva (2014) faz referência a uma
série de iniciativas nacionais de agricultura urbana, mais voltadas às hortas comunitárias.
Rio Grande do Norte, São Paulo, Ceará, Santa Catarina e Minas Gerais são citadas. A
autora destaca também a iniciativa da distribuição de mudas frutíferas em Lavras (MG) a
preços inferiores, em um projeto chamado Pomar Doméstico, o qual visa garantir maior
segurança alimentar à população e aumentar sua fonte de renda.

A inserção de árvores frutíferas traz uma série de vantagens se comparada às hortas


urbanas: arrefecimento local, cobertura vegetal mais efetiva para o solo, minimizando os
riscos de erosão hídrica, maior produção de oxigênio através da fotossíntese e absorção de
gás carbônico, maior resistência à seca, frio e outras condições climáticas adversas, sombra
ao local após estágio inicial de desenvolvimento, e necessidade de menores cuidados
intensivos, por se tratarem de plantas perenes (HASTIE, 2003). Ainda, de acordo com o
mesmo autor, se comparadas à arborização urbana convencional, apresentam como
vantagens: a floração, que muitas vezes exala perfumes adocicados e agradáveis; a visita
de pássaros e outros seres polinizadores e; a possibilidade de coleta de frutos, se bem
conduzidas.

Foi objetivo deste artigo a discussão sobre as variáveis de implementação de pomares


urbanos, tomando como estudo de caso 3 áreas públicas de uso livre localizadas na área
urbana de São Carlos, município situado no centro do Estado de São Paulo.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Área de estudo

As áreas de estudo são apresentadas a seguir, nas Figuras 1 e 2.


Fig. 1 Sequência de aproximação da área de estudo: Brasil, com destaque ao estado
de São Paulo; Estado de São Paulo, com destaque ao município de São Carlos e;
Município de São Carlos, com destaque à sua área urbana. Fonte: Elaboração
própria.

Fig. 2 Bairros da área urbana de São Carlos em que se inserem as praças tomadas
como áreas-piloto. Fonte: Elaboração própria.

São descritos os aspectos gerais do município de São Carlos, pelo fato de as três áreas
discutidas estarem inseridas em sua área urbana. Sob as coordenadas geográficas 47º30´ e
48º30´ de longitude oeste e
2
21º30´ e 22º30´ de latitude sul, sua área municipal é de 1.136,907 km e sua área urbana de
67,25 km2. A população estimada do município é de 243.765 habitantes, e a densidade
demográfica de 195,15 habitantes/km2 (IBGE, 2017). Possui dois distritos – Água
Vermelha e Santa Eudóxia.

A Tabela 1 apresenta características dos bairros e suas respectivas praças tomadas como
áreas-piloto.
Tabela 1 Caracterização de bairros e praças tomados como estudo de caso

Jardim Jockey Jardim


Informações/Bairro
Araucária Clube Cardinalli
Ano de formação do
2015 1955 1974
bairro
População aproximada 2.025 7.500 1.300
Área da praça (m2) 3.300 8.000 4.600
Há infraestrutura no
Não Sim Sim
espaço?
Número de diferentes
14 12 12
espécies inseridas
Número total de
exemplares arbóreos 84 26 33
inseridos

2.2 Material utilizado

Para a identificação e contextualização geral do município, área urbana, bairros e áreas do


sistema de espaços livres de uso público, foi feito o uso de SIG – Sistema de Informação
Geográfica – através do software Quantum GIS, versão 2.18. Foram utilizadas imagens de
satélite Quickbird, datadas de 2014, com resolução espacial de 0,5 metro, imagens do
Google Earth e cartas da prefeitura municipal de São Carlos. O sistema de projeção
adotado foi o SIRGAS 2000, fuso 23 Sul. Já para a passagem das informações do GPS para
o computador, foi usado o software EasyGPS, versão 5.79.

Já para a análise da área e sua contextualização in loco, foram utilizados os seguintes


materiais: um GPS de mão da marca Garmin, modelo e-Trex 30, uma trena aberta de 100
metros da marca Vonder, uma trena fechada de 5 metros da marca Lufkin e uma máquina
fotográfica da marca Nikon, modelo D5100, com 16,2 megapixel de resolução. Como o
foco deste artigo é a discussão sobre as variáveis que conduziram ao estabelecimento dos
pomares urbanos, as caracterizações e detalhamento de cada área-piloto não serão
abordados em sua forma gráfica.

A base teórica de artigos utilizada nesta investigação foi derivada de fontes como a Science
Direct e o Portal da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A implementação de pomares urbanos não comerciais, dentro desta proposta metodológica


de ações, deve atender primeiramente aos seguintes preceitos gerais: áreas livres públicas
disponíveis (ociosas ou subutilizadas), coesão social através da constituição de uma
Associação de Moradores de Bairro aonde tais áreas forem selecionadas, e seleção de
espécies frutíferas adaptadas à região.

De uma forma geral a proposta de ações está bastante alinhada ao Plano de Arborização
Urbana de São Carlos – PDAU – por conta da promoção da arborização urbana, integração
e envolvimento da população, busca pela revitalização de espaços urbanos, diversificação
das espécies e proposição de um planejamento conjunto com o poder público local na
execução de um projeto que traga benefícios ambientais e sociais. Além disso, esta
proposta pode auxiliar o Plano de Manejo de Arborização Urbana da Coordenadoria de
Meio Ambiente ao identificar novos espaços potenciais para o plantio em áreas de
circulação humana.

Tal proposta de ações objetiva a produção de alimentos de qualidade (de forma acessível e
em espaços públicos), e a coesão social e o aumento da sensação de pertencimento que os
cidadãos devem resgatar e fortalecer quando se trata de um espaço público. Eis as
variáveis, a seguir, apresentadas de forma genérica, onde não se relaciona o que foi
executado em cada área-piloto:

a) Seleção do município e mapeamento da área urbana, com a distribuição espacial de


seus bairros

Um mapeamento dos bairros urbanos do município é o início da investigação, que


possibilitará a contextualização de seu número e dimensão. Tal atividade pode ser
elaborada em ambiente de SIG – Sistema de Informação Geográfica - com o emprego de
fonte de mapas e imagens provenientes do poder público municipal. Através do SIG é
possível a contextualização geral das áreas e, depois, de cada praça de forma mais
minuciosa.

b) Identificação das áreas livres de uso público

Etapa também realizada em ambiente de SIG, através da sobreposição de informações


gráficas, a distribuição de áreas institucionais e de livres de uso público, sendo
selecionadas apenas as últimas em cada bairro da cidade, baseadas em mapa
disponibilizado pelo poder público municipal.

Como se trata de uma situação dinâmica - em que a constituição de Associação de


Moradores pode estar em fase inicial, já estabelecida ou abandonada - esta etapa deve ser
constantemente atualizada. Como fontes de consulta, sugere-se o poder público municipal,
(Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano), pesquisa na internet da existência de
estatutos e associações do município, e a consulta direta com organizações sociais locais.

c) Identificação e Diálogo das Associações de Moradores de Bairro

Antes da seleção do espaço, é necessário que haja uma investigação sobre quais bairros
contam com Associações de Moradores de Bairro devidamente constituída. Depois disso,
torna-se indispensável o contato, diálogo e consulta sobre a possibilidade do
estabelecimento de tal parceria.

Para se efetivar o plantio e manutenção dos pomares é necessário que, após o aceite da
Associação em participar deste projeto, seja determinada a área a ser adotada e quais
espécies serão plantadas. Em alguns casos, o bairro pode contar com mais de uma área
destinada ao sistema de áreas públicas livres, devendo ser de escolha dos associados, qual
espaço será estrategicamente escolhido. Esta área deve ser necessariamente livre de uso
público, uma vez que tais parcelas não podem ser convertidas em áreas institucionais.
d) Caracterização da área selecionada a receber o pomar

A fim de serem mapeados os espaços vazios para inserção de espécies frutíferas, deve ser
realizado um levantamento da área estudada, com auxílio de SIG e GPS de mão. Através
do SIG, são vetorizados, sobre a imagem de satélite, os seus traços mais importantes, como
contorno, caminhos cimentados internos e calçadas, equipamentos públicos e outros
elementos. A referência de exemplares vegetais com altura superior a 2 metros de altura,
ou aqueles de porte menor, mas que vêm sendo conduzidos de alguma forma por seus
cuidadores, também é necessária, para que haja um mapeamento completo do local. As
informações armazenadas no GPS podem ser transferidas via cabo para o computador,
através de softwares disponíveis na rede, ou via bluetooth. para o software de SIG.

e) Definição, por parte da Associação, das espécies a serem inseridas

Para a seleção das espécies, pode ser realizado um levantamento das frutíferas cultivadas
em escala comercial no município, através do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE (2006). A escolha, desta forma, pode ser baseada na
produção histórica local de espécies que apresentem boas condições edafoclimáticas -
aspectos relevantes a serem considerados durante a escolha das mudas que constituirão o
pomar urbano.

A partir desta lista, a Associação deve selecionar quais frutíferas gostaria de cultivar nos
espaços vazios da área de seu bairro. A seleção das espécies e sua localização específica,
ocorrerá em função da disposição dos espaços livres e do porte da frutíferas selecionadas,
quando adultas.

A inserção destas espécies deve seguir critérios de espaçamento e dimensionamento. É


importante ressaltar que o espaçamento entre os exemplares pode diferir para mais do que
aqueles citados pela literatura, posto que além das especificações técnicas, devem ser
consideradas a função estética e a circulação das pessoas.

f) Mapeamento de tubulação de água e esgoto, fiação subterrânea elétrica e de telefonia


ótica

Como o plantio envolve movimentação de terra com maquinário pesado, através da


abertura de covas que podem chegar a profundidade de quase 1 metro, é prudente que seja
solicitado junto aos órgãos responsáveis o mapeamento de tubulações que podem
eventualmente passar sob estas áreas.

Para informações sobre possíveis tubulações de água e esgoto, deve ser contatada a
autarquia responsável pelo serviço de fornecimento de água e coleta de esgoto. Quanto à
investigação sobre a fiação enterrada, pode ser contatada a Secretaria de Serviços Públicos.
Já para a verificação de existência de cabeamento ótico de telefonia, deve ser feito contato
com a(s) operadora(s) de telefonia local (ou regional).

g) Preparo do terreno (pré-plantio)

Passadas as etapas de prospecção, o conjunto de ações seguinte consiste no pré-plantio.


Após selecionadas as espécies e sua distribuição no espaço, deve ser preparado o solo para
o futuro plantio das mudas, formado pelas seguintes etapas:
Estaqueamento – etapa de definição local das futuras covas, com a demarcação nos
espaços vazios. As estacas deverão permanecer até o plantio, podendo ou não ser
substituídas, conforme seu estado de conservação. Após o estaqueamento, uma área com
diâmetro de 1 metro de seu entorno deve ser limpa (mecânica ou manualmente),
permanecendo assim, para que o acesso e visualização sejam facilitados.

Adubação - Eis aqui a apresentação de uma idealização, ou seja, da ação mais correta para
que o solo esteja adequadamente preparado para receber as mudas. A análise química,
através da coleta de amostras deveria ser feita, uma vez que tais áreas públicas
provavelmente sofreram empobrecimento de sua camada mais superficial, através do
revolvimento com máquinas de terraplanagem ou pela erosão laminar do solo. A coleta de
solo resultará em uma amostra composta, em que em diversos pontos de todo o terreno são
coletadas porções de terra (a uma profundidade de 0-20 cm). Esta amostra, ao final, é
misturada representando toda a área. A análise e a recomendação técnica devem ser
individualizadas, por espaço e por cultura. Portanto, para um espaço que vá contar com 12
espécies diferentes de fruteiras, seria necessário o custeio da análise de solo e de 12
recomendações técnicas diferentes. O custo aproximado para esta etapa seria de U$
140,00, sem considerar o custo de envio das amostras.

Caso não seja possível a análise química do solo, recomenda-se a aplicação de esterco de
gado curtido a uma proporção de 10-20 litros por cova, além da aplicação de calcário,
cerca de 250 g por cova. Tal ação visa, respectivamente, fornecer mais nutrientes ao solo e
garantir que sua acidez seja reduzida. Naturalmente, a segunda possibilidade é
financeiramente mais acessível. No entanto, perde-se a precisão da real demanda
nutricional para cada fruteira no espaço aonde será plantada.

Coveamento - com dimensões mínimas aproximadas de 0,60 m de profundidade, 0,60 m


de largura e 0,60 m de comprimento, o bom coveamento auxiliará no bom
desenvolvimento da planta. Para solos mais compactados, estas dimensões podem ser
maiores: 0,70m X 0,70m X 0,70m. As covas devem estar prontas, preferencialmente 2 a 3
meses antes do plantio, para que haja tempo para reação destes compostos (adubo e
calcário) com a terra.

Composteira - Também faz parte dos preparos de pré-plantio, o dimensionamento e


implementação de uma composteira. Sua existência torna-se necessária, para que sejam
absorvidos ao menos parte dos resíduos produzidos (frutos, folhas e pequenos galhos) e
para que estes possam, após seu processo de decomposição, retornar ao solo em forma de
composto orgânico, adubando as plantas. O dimensionamento da composteira ocorrerá em
função da área trabalhada. Quanto maior a área e o número de exemplares frutíferos, maior
deverá ser a composteira.

h) Acesso a água

O acesso à água é outro ponto determinante para o sucesso destes pomares urbanos, uma
vez que o desenvolvimento inicial (e em épocas de estiagem) demanda este recurso em
maior volume.
i) Contrapartida do poder público municipal

Naturalmente, há um interesse do poder público que as praças da área urbana sejam bem
cuidadas, que surjam iniciativas que as tornem melhores, mais limpas e frequentadas. Por
outro lado, a implementação de um pomar urbano, passa necessariamente pela ajuda do
poder público municipal, sendo demandadas atividades que vão além da simples
manutenção (com podas temporárias) e não podem ser desenvolvidas pela Associação de
Moradores de Bairro. Exigem maquinário pesado, autorização especial e envolvem riscos
de acidente. Assim, ao ser informado (e depois solicitada tal parceria), o poder público
municipal reconhece formalmente o projeto e propicia a melhoria destas áreas através das
seguintes atividades, as quais podem ser em maior ou menor volume, dependendo das
características e condições de cada espaço:
- Instalação ou reparo de pontos de água nas praças (Serviço Autônomo de Água e
Esgoto);
- Remoção de exemplares mortos e destoca de suas raízes (motosserra e trator de
esteira, respectivamente);
- Abertura de covas para plantio das mudas (trator com retroescavadeira).

j) Treinamento de pessoal

A oferta de um treinamento básico a um grupo reduzido de Associados dos bairros


envolvidos, propicia que sejam transferidas informações mínimas necessárias para uma
boa condução dos pomares. Podas, adubações, regas e cuidados no controle das principais
pragas e doenças estão no escopo deste treinamento, que poderá ser feito pelo autor do
projeto (ou seus pares em conhecimento técnico). Desta forma, com tais conhecimentos
adquiridos, pode haver uma multiplicação de saberes aos demais associados do bairro.

k) Cronograma de atividades

A proposta aqui descrita pode ser desenvolvida em um período de 12 meses, ou até menos,
a depender do sucesso de desenvolvimento de todas as variáveis elencadas. Ressalta-se que
o condutor do projeto deve, preferencialmente, realizar o plantio das mudas na época de
maior precipitação. Isso acarretará em menor mão-de-obra para a irrigação inicial, além de
se realizar o plantio na época adequada para seu desenvolvimento pleno. Nada impede que
o plantio seja realizado em outras épocas do ano, contanto que haja disponibilidade de
água durante as épocas de menor ocorrência pluviométrica. O Quadro 1 apresenta uma
proposta de cronograma a ser seguida.
Quadro 1 Cronograma de atividades sugerido para implementação de pomar urbano.
Fonte: Elaboração própria.

Seleç.
Contato Seleção Análise Estaq. e Aplic. de
dos Investig. Prep.
Mês com as das quím. do abertura adubo e Plantio
bairros e do do
Assoc. Espécies solo das covas calcário
áreas subsolo terreno
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12

l) Busca de parcerias

O aporte financeiro para a implementação de um pomar pode contar com o auxílio da


Associação de Moradores de bairro e da universidade (através de reserva técnica). Uma
contribuição externa, feita por empresas privadas, pode garantir o pleno desenvolvimento
do projeto. Cada município pode ter programas específicos de auxílio à manutenção de
praças, ou que favoreçam parcerias público-privadas a partir de redução de impostos ou
outros mecanismos de facilitação.
***
A maior parte das variáveis propostas neste artigo foi aplicada nos estudos de caso. Com
exceção da busca por parcerias e análise química do solo. A não busca por tais parcerias
até o momento não invalida o projeto. Tais prospecções podem ser realizadas a qualquer
instante, até porque as áreas necessitarão de manutenção constante, e o eventual auxílio
com aporte financeiro posterior também é importante. Já quanto à análise química do solo,
houve um consenso pela sua não realização, posto que o parecer técnico para mais de 1
dezena de espécies diferentes em cada praça (e para três espaços diferentes) encareceria
expressivamente o projeto.

Não houve maiores dificuldades quanto a caracterização do objeto de estudo ou


investigação da existência de Associações de Moradores de Bairro.

Os maiores entraves foram encontrados na baixa adesão dos Associados ao projeto, muito
embora tenha havido aprovação e alinhamento ideológico para tal. Dificuldades, também,
na morosidade para as repostas ou o desenvolvimento de tarefas por parte do poder público
municipal.

Das três praças, o plantio ocorreu até o momento no Bosque das Cerejeiras (praça do bairro
Jardim Cardinalli). Na praça do bairro Jockey Clube, os pontos de água ainda não foram
instalados e no Jardim Araucária, os pontos foram instalados, mas ainda não foram
testados. Na futura praça do Jardim Araucária, as mudas já foram encomendadas. Portanto,
no caso da praça do Jardim Araucária, há um certo adiantamento em relação ao andamento
das ações. O Quadro 2 apresenta a relação de espécies selecionadas para cada espaço.
Quadro 2 Relação de fruteiras selecionadas para cada área-piloto.

Espécies frutíferas Bairro


Jardim Jardim Jockey
Nome popular Nome científico
Araucária Cardinalli Clube
Abacate Persea americana 4 - -
Acerola Malpigia emarginata 6 3 2
Amoreira Morus nigra 7 3 2
Araçá Psidium araçá Raddi - 3 -
Carambola Averrhoa carambola 4 - -
Cereja do Rio Grande Eugenia involucrata - 3 -
Coqueiro anão Cocos nucifera 9 - 3
Fruta do Conde Annona squamosa 8 - 2
Fruta do Sabiá Acnistus arborescens - 3 -
Goiaba Psidium guajava 3 - 2
Graviola Annona muricata - 3 -
Grumixama Eugenia brasiliensis - 3 3
Jabuticaba Plinia cauliflora 4 - 2
Laranja Citrus sinensis 20 - 2
Limão Citrus limon 11 - 1
Mamão Carica papaya 3 - -
Manga Mangifera indica 1 - -
Nêspera japonesa Eriobotrya japonica - 2 -
Pitanga Eugenia unifora 2 3 3
Pitomba Talisia esculenta - 2 -
Romã Punica granatum - 2 2
Uvaia Eugenia pyriformis 2 3 2
Total 22 84 33 26

A Figura 3 apresenta algumas fotos dos locais em momentos diferentes.

b c
Fig. 3 Atividades nas praças. (a) Supressão de árvore morta no Jd. Cardinalli; (b)
Abertura de covas no Jockey Clube; (c) Plantio no Jardim Araucária.

4 CONCLUSÕES

Dadas as variações de abordagem e as demandas de informações de fonte pública, de fácil


aquisição, a presente proposição apresenta-se com segura possibilidade de replicação. As
plataformas eletrônicas para trabalho com SIG, também disponibilizadas de forma gratuita,
permitiram a redução dos custos deste projeto em qualquer localidade. Os trabalhos
pesados, de remoção de exemplares mortos (e suas respectivas destocas) e a abertura das
covas nas dimensões técnicas recomendadas em áreas urbanas, são atividades habituais e
inerentes ao poder público municipal, que dispõe de maquinário e pessoal apropriado para
tal. O acesso a informações como rede de água, esgoto e fiação elétrica enterrada não
oneram o projeto.

O gerenciamento do orçamento de cada Associação de Moradores de Bairro, ocorre de


forma totalmente independente e autônoma, o que reflete no desenvolvimento e
manutenção da praça adotada. Em nenhum caso, foi realizada a análise química do solo,
por conta de contenção de despesas. Optaram por concentrar gastos na instalação dos
pontos de água (além da mão-de-obra para tal), aquisição das mudas e das mangueiras para
a realização das regas periódicas.

Os três espaços adotados como estudo de caso, portanto, embora se encontrem em


momentos distintos e com organizações diversas, apresentaram caminhos parecidos quanto
à adoção das variáveis aqui elencadas.

No caso específico deste estudo de caso, embora tenha recebido pouca adesão por parte de
todos os Associados, a Associação de Moradores, representada pelos seus membros mais
atuantes, e o poder público municipal (em nome do Coordenador de Meio Ambiente do
município), se mostraram interessados e empenhados no desenvolvimento projeto,
formado por suas diversas variáveis, e nos seus desdobramentos.

A perenidade das culturas selecionadas, seu potencial paisagístico, o poder de coesão


frente a um objetivo comum, a produção de alimentos saudáveis a custos reduzidos e a
tríplice base (universidade x poder público x sociedade civil organizada) nos cuidados com
espaço, fazem do pomar urbano uma proposta de vanguarda para a gestão dos espaços
públicos verdes das cidades brasileiras no Século XXI. Sem a atuação desta tríplice base,
no entanto, o desenvolvimento das variáveis elencadas como ações para a implementação
de pomares urbanos, torna-se praticamente inviável.
5 REFERÊNCIAS

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Ghose, R. e Pettygrove, M. (2014), Actors and networks in urban community garden


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