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2° ESTUDO DIRIGIDO DE FITOPATOLOGIA GERAL - CASOS CLÁSSICOS DE

DOENÇAS EM PLANTAS
Arthur Bressan
Discente de Fitopatologia Geral no curso de Bacharelado em Agroecologia, pelo IF Sudeste
MG - Campus Rio Pomba.
Prof. Leonardo Barbosa

ESPORÃO DO CENTEIO (Claviceps purpurea):

O esporão do centeio é uma doença fúngica que pode infestar plantações de cereais e
gramíneas em geral, como o trigo e a cevada, mas, seus hospedeiros mais comuns são o
centeio e gramíneas da família Pooidae, como o azevém.
O patógeno que provoca essa doença é o fungo Claviceps purpurea, um fungo parasitoide
que se alimenta dos ovários dessas plantas, e colonizam o mesmo. Se reproduzem de forma
assexuada, formando um conjunto de hifas semelhante a um tumor, entre as sementes da
espiga, que possui a forma de um esporão de galo (em francês, Ergot, daí o nome da doença
que causa em plantas e animais que comem a planta contaminada, o ergotismo). O esporão
pode chegar a ter de 1 a 5 cm em plantas de grande porte como o centeio, e sobre ele, vão
crescer um conjunto de pequenos micélios (cogumelos), responsáveis por abrigar os corpos
reprodutivos (os peritécios), pequenas cavidades em forma de frascos que cobrem todo o
chapéu do micélio, onde estão abrigados os esporos do fungo, do tipo ascósporos, esporos
filiformes assexuados, que a planta lança na atmosfera de forma ativa, para ser propagado
pelo vento.
A doença em questão é propagada em duas instâncias, possui um inóculo primário e um
inóculo secundário. O inóculo primário é o ascósporo, que ao ser carregado pelo vento, é o
responsável por iniciar a doença em novas plantações antes sadias. As plantas onde o esporo
conseguir cair sobre seus ovários são contaminadas, iniciando o ciclo da doença.
Após a colonização do ovário, uma outra estrutura reprodutiva chamada conídio é
formada, estes têm origem em uma estrutura diferente do micélio, chamada mitosporo, que
possui células diplóides e dá origem a estes esporos. No mitosporo, a divisão celular por
meiose é retomada, gerando células haplóides assim como são as células da estrutura dos
fungos, em geral, e é capaz de gerar de forma assexuada um indivíduo igual ao que a
originou. Os conídios então formam um exsudado açucarado se mesclando à seiva da planta,
este exsudado é o inóculo secundário, responsável por contaminar outras flores da mesma
planta, por meio da seiva, e plantas próximas, por meio de insetos que vão se alimentar da
seiva contaminada e carregar o patógeno.
O fungo C. purpurea, ao entrar na alimentação, também causa uma doença em humanos e
animais chamada de ergotismo, descrita desde 600 a.C., em registros dos assírios, e que se
tornou uma epidemia a partir de um primeiro surto em 857 d.C., na Alemanha. Durante a
Idade Média, essa foi uma das grandes epidemias, que assombrou e enlouqueceu grande
parcela da população, tendo diversos casos de surtos em vários países, que se intensificavam
na primavera e no outono, períodos ideais para germinação dos ascósporos que estavam
depositados nas plantações. O período mais crítico dessa doença foi entre 945 e 997 d.C.,
quando matou cerca de 60 mil pessoas no sul da França. O ergotismo causa a contração de
arteríolas do sistema nervoso, principalmente no cérebro (causando delírios e alucinações, em
sua maioria, ligadas a visões negativas), no intestino (causando uma queimação insuportável)
e nas extremidades do corpo humano, provocando a imobilização desses membros, que eram
geralmente amputados em portadores da doença. Até que pudesse ser conhecida a causa da
doença, ela se alastrava porque pães contaminados com o esporão do centeio eram
largamente consumidos, isso porque o pão feito com grãos de centeio era principalmente
destinado aos pobres, e era um pão mais escuro. Assim, o pão de centeio era conhecido como
“pão dos pobres” e o pão de trigo “pão dos nobres”.
Hoje em dia alimentos contendo esporão do trigo não são mais confeccionados e a doença
não é preocupante em humanos, ocorrendo casos muito raros e isolados (o último conhecido
foi na Índia, em 2020), e pode ocorrer também em pessoas que consumiram excesso de
drogas manipuladas a partir da ergolina (substância presente no fungo), como o remédio para
enxaqueca ergotamina, e o próprio LSD. Existe sim preocupação com a incidência da doença
em aves e rebanhos que ocasionalmente consomem plantas contaminadas, ou ração
contaminada.
Nas plantas de centeio, os sintomas mais comuns da infecção são descoloramento do
tecido radicular, tornando a raiz cinza, ou morte de partes do tecido, gerando lesões de forma
ovalada e marrom em plantas adultas, nas raízes e na coroa (região do caule próxima à
superfície do solo). O sinal da doença é o tumor (esporão) que é formado nas espigas.

FIGURAS 1, 2 e 3: Esporões presentes na espiga do centeio; estrutura isolada do esporão; e


fotografia dos micélios, respectivamente (fonte: apsnet.org).

FIGURA 4: Representação gráfica do mitosporo, estrutura do fungo


que gera os inóculos secundários (fonte: pt.wikipedia.org)

FONTES CONSULTADAS:
https://www.apsnet.org/edcenter/disandpath/fungalasco/pdlessons/Pages/ErgotPort.aspx
https://revistaampla.com.br/ergotismo-a-doenca-das-alucinacoes-da-queimacao-e-da-perda-d
os-membros/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Con%C3%ADdio

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