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Fellipe Nogueira Andrade de Morais

Avaliação do Comportamento de Eletrodos de


Aterramento Frente a Correntes de Descargas
Atmosféricas: Teoria de Linha de Transmissão
versus Teoria de Campo

Belo Horizonte - Brasil


06/07/2016
Fellipe Nogueira Andrade de Morais

Avaliação do Comportamento de Eletrodos de


Aterramento Frente a Correntes de Descargas
Atmosféricas: Teoria de Linha de Transmissão versus
Teoria de Campo

Trabalho de Conclusão de Curso submetido


à banca examinadora designada pelo Colegi-
ado do Departamento de Engenharia Elétrica
do Centro Federal de Educação Tecnológica
de Minas Gerais, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Bacharel
em Engenharia Elétrica.

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET- MG


Departamento de Engenharia Elétrica

Orientador: Rafael Silva Alípio

Belo Horizonte - Brasil


06/07/2016
Fellipe Nogueira Andrade de Morais
Avaliação do Comportamento de Eletrodos de Aterramento Frente a Correntes
de Descargas Atmosféricas: Teoria de Linha de Transmissão versus Teoria de
Campo/ Fellipe Nogueira Andrade de Morais. – Belo Horizonte - Brasil, 06/07/2016-
68 p. : il. (algumas color.) ; 30 cm.

Orientador: Rafael Silva Alípio

Trabalho de Conclusão de Curso – Centro Federal de Educação Tecnológica de


Minas Gerais - CEFET- MG
Departamento de Engenharia Elétrica , 06/07/2016.
1. Aterramento elétrico. 2. Transitórios. 3. Descargas atmosféricas I. Rafael
Silva Alípio. II. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-
MG
Departamento de Engenharia Elétrica . IV. Avaliação do Comportamento de
Eletrodos de Aterramento Frente a Correntes de Descargas Atmosféricas: Teoria
de Linha de Transmissão versus Teoria de Campo

CDU 02:141:005.7
Fellipe Nogueira Andrade de Morais

Avaliação do Comportamento de Eletrodos de


Aterramento Frente a Correntes de Descargas
Atmosféricas: Teoria de Linha de Transmissão versus
Teoria de Campo

Trabalho de Conclusão de Curso submetido


à banca examinadora designada pelo Colegi-
ado do Departamento de Engenharia Elétrica
do Centro Federal de Educação Tecnológica
de Minas Gerais, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Bacharel
em Engenharia Elétrica.

Trabalho aprovado. Belo Horizonte - Brasil, 6 de julho de 2016:

Rafael Silva Alípio


Orientador

Cláudia Rejane Mesquita


Convidado

Tarcísio Antônio Santos de Oliveira


Convidado

Belo Horizonte - Brasil


06/07/2016
À minha pequena grande família.
Agradecimentos

Agradeço a Deus por me iluminar durante a longa caminhada da graduação.


Agradeço especialmente ao meu grande pai Marconi, minha maior inspiração.
Agradeço a minha mãe Márcia por todo apoio, principalmente nos momentos de
dificuldade. Agradeço a minha avó Ilva e a minha irmã Camilla pelo companheirismo nesta
caminhada.
Agradeço a minha namorada Fernanda por todo amor e pela paciência.
Agradeço aos professores do CEFET-MG por todo conhecimento transmitido
durante o curso. Em especial ao professor Rafael Alípio pela magnífica orientação durante
o desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço aos Engenheiros Fernando Neves Cordeiro e Augusto Pirassinunga por
abrirem as primeiras portas para meu desenvolvimento profissional.
Agradeço especialmente ao Coordenador de SGI da Metalsider, Augusto Duarte,
pela magnífica orientação de estágio durante os seis meses de trabalho na Metalsider.
“Quem conheceu a alegria da compreensão conquistou um amigo infalível para a vida.
O pensar é para o homem, o que é voar para os pássaros.
Não toma como exemplo a galinha quando podes ser uma cotovia”
(Albert Einstein)
Resumo
O aterramento elétrico é muito importante para a proteção dos seres vivos e para a melhoria
do desempenho dos sistemas elétricos. Recentemente, muitas técnicas foram e vem sendo
desenvolvidas para otimizar a operação dos sistemas de transmissão de energia elétrica.
A impedância impulsiva mostrou-se nesses últimos anos ser um parâmetro de extrema
importância para realizar análises de sistemas submetidos a descargas atmosféricas. Este
trabalho propõe uma síntese matemática baseado na teoria de linhas de transmissão para
obter, de maneira mais rápida, curvas de impedância impulsiva aproximadas àquelas
obtidas via teoria de campo para eletrodos horizontais de aterramento.

Palavras-chaves: linha de transmissão. aterramento elétrico. descargas atmosféricas.


Abstract
Electrical grounding is very important for protection of living beings and to improve
the performance of electrical systems. Recently, many techniques have been and are
being developed to optimize the operation of electricity transmission systems. Impulsive
impedance proved in recent years to be a very important parameter to perform systems
analysis submitted to lightning. This paper proposes a mathematical model based on
transmission line theory to get, faster, impulsive impedance curves approximate to those
obtained via field theory for horizontal grounding electrodes.

Key-words: transmission lines. electrical grounding. lightning.


Lista de ilustrações

Figura 1.1 – Mapa do Sistema Interligado Nacional - obtida em [1] . . . . . . . . . . 25


Figura 1.2 – Índices de (a) DEC e (b) FEC no intervalo entre 2000 e 2015. . . . . . 26
Figura 2.1 – Componentes de corrente no solo e circuito equivalente do aterramento
- retirada de [2]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 2.2 – Impedância de aterramento ao longo do espectro característico de uma
descarga atmosférica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 2.3 – Atenuação e distorção da onda de corrente ao longo do eletrodo de
aterramento - retirada de [2]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 2.4 – Elevação do potencial de aterramento em um eletrodo - adaptada de [3]. 35
Figura 2.5 – Região de ionização de um sistema de aterramento - retirada de [2]. . . 35
Figura 2.6 – Decaracterização da geometria de um sistema de aterramento de pequeno
porte submetido a uma injeção de corrente elevada (I3 > I2 > I1 ) -
retirada de [2]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 2.7 – Curva típica de impedância impulsiva (ZP ) e resistência de aterramento
(R) em função do comprimento de um eletrodo. . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 2.8 – Forma típica de uma curva de coeficiente impulsivo - elaborada pelo
autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 3.1 – Modelo de um eletrodo horizontal enterrado no solo. . . . . . . . . . . 47
Figura 3.2 – Fluxograma do algoritmo da ferramenta computacional desenvolvida. . 53
Figura 4.1 – Aspectos básicos de uma forma de onda triangular. . . . . . . . . . . . 56
Figura 4.2 – Formas de onda características para (a) primeira descarga e (b) descarga
de retorno subsequente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Figura 4.3 – Curvas da impedância impulsiva (ZP ) de eletrodos de aterramento ho-
rizontais submetidos a correntes representativas de primeiras descargas
de retorno (esquerda) e descargas subsequentes (direita) para solos de
resistividade ρ0 de: (a) e (b) 300 Ω.m, (c) e (d) 1000 Ω.m, (e) e (f) 2400
Ω.m e (g) e (h) 5000 Ω.m. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Lista de tabelas

Tabela 2.1 – Ordem de grandeza da resistividade do solo para alguns materiais. . . . 33


Lista de abreviaturas e siglas

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

HEM hybrid electromagnetic model

LT linha de transmissão

TEM transversal electromagnetic mode


Lista de símbolos

α constante de atenuação

β constante de fase

γ constante de propagação

δ constante do modelo do comportamento do solo

ε permissividade elétrica

εr permissividade elétrica relativa

ε0 permissividade elétrica do vácuo


0
ε∞ /ε0 permissividade relativa para altas frequências

µ permeabilidade magnética do vácuo

ω frequência angular

σ condutividade do solo

σ0 condutividade do solo para baixas frequências

F −1 transformada inversa de Fourier

F transformada de Fourier

a raio do eletrodo

C capacitância elétrica

d profundidade do eletrodo

~
E vetor campo elétrico

f frequência

G condutância elétrica

GP R grounding potential rise (elevação de potencial no aterramento)

h(σ0 ) função do aumento relativo da condutividade do solo

J~c vetor densidade de corrente de condução


J~d vetor densidade de corrente de deslocamento

I(ω) fasor de corrente

IC coeficiente de impulso

IL corrente longitudinal

IP valor de pico da corrente

IT corrente transversal

Ipico amplitude da forma de onda de corrente

L indutância elétrica

l comprimento do eletrodo

lef comprimento efetivo do eletrodo de aterramento

R resistência elétrica

RT resistência de aterramento

tf tempo de frente da forma de onda de corrente

tc tempo de cauda da forma de onda de corrente

V (ω) fasor de tensão

VP valor de pico da tensão

Z(ω) impedância de aterramento

Z impedância harmônica

Z0 impedância característica de uma LT

ZC impedância de carga de uma LT

ZP impedância impulsiva
Sumário

Lista de ilustrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Lista de tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.1 Relevância do tema sob investigação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.2 Objetivos do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.3 Organização do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2 COMPORTAMENTO DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS FRENTE


A CORRENTES DE DESCARGAS ATMOSFÉRICAS . . . . . . . . 29
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.2 Impedância de aterramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.2.1 Circuito equivalente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.2.2 Significado físico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.3 Particularização da resistência de aterramento . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.3 Efeitos de propagação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4 Caracterização do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.4.1 Dependência da frequência dos parâmetros elétricos do solo . . . . . . . . 34
2.4.2 Ionização do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.5 Parâmetros para a caracterização do comportamento impulsivo do
aterramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.5.1 Impedância harmônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.5.2 Elevação de potencial no aterramento (GPR) . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.5.3 Impedância impulsiva e comprimento efetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.5.4 Coeficiente de impulso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

3 MODELAGEM DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS: UMA ABOR-


DAGEM DE LINHAS DE TRANSMISSÃO . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2 Breve revisão bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.1 Análise crítica dos modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.3 Apresentação do modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.3.1 Modelo de linhas de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.3.2 Considerações adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.4 Implementação computacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.4.1 Aspectos computacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.5 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2 Parâmetros de simulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.1 Resistividades de solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.2 Faixa de comprimentos de eletrodo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.2.3 Onda de corrente injetada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3 Resultados e Análises . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.3.1 Análise física dos resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.3.2 Aplicabilidade da síntese matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.4 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.1 propostas de continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
25

1 Introdução

1.1 Relevância do tema sob investigação


O Brasil é um país de grande extensão territorial e, devido a isso, decorre uma
situação particular: a distância entre a matriz energética e os grandes centros de consumo
torna necessária a construção de longas linhas de transmissão (LTs), que ficam expostas
à incidência de descargas atmosféricas, sobretudo considerando a elevada densidade de
descargas para terra típica de regiões brasileiras. A união dessas duas condições provoca
muitos desligamentos da rede de transmissão de energia elétrica brasileira que, conforme
mostra a Figura 1.1, é grande e complexa.

Figura 1.1 – Mapa do Sistema Interligado Nacional - obtida em [1]

Atualmente, estima-se que cerca de 70% dos desligamentos das linhas de transmissão
brasileiras são ocasionados por raios [4]. Este número provoca considerável impacto na
qualidade de energia elétrica, principalmente tratando-se de indicadores de qualidade
26 Capítulo 1. Introdução

de energia do ponto de vista da qualidade do serviço. Parâmetros como, por exemplo,


DEC (duração equivalente de interrupção por unidade consumidora) e FEC (frequência
equivalente de interrupção por unidade consumidora) são diretamente afetados por esses
desligamentos. Resumidamente, a DEC é definida pelo tempo médio que o consumidor teve
seu fornecimento interrompido durante certo período de observação independentemente
da causa (defeito ou manutenção preventiva) e a FEC é definida pelo número médio de
interrupções sofridas pelo consumidor durante certo período de observação.
Para minimizar este elevado número de desligamentos provocados pela incidência
de descargas atmosféricas e melhorar o desempenho do sistema elétrico, diversas técnicas
foram e vem sendo desenvolvidas. Para impulsionar ainda mais estas melhorias e exigir a
excelência das concessionárias nacionais, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétricas)
vem reduzindo ano a ano os limites da DEC e da FEC. A Figura 1.2 mostra os valores
apurados e os valores limite estabelecidos para os dois índices nos últimos quinze anos. É
possível observar que há redução dos valores limite para ambos índices e que, apesar do
valor da DEC manter-se quase constante nos últimos anos, deve-se levar em consideração
o aumento do número de unidades consumidoras, que aumentou aproximadamente 16%
entre 2009 e 2015. É possível também observar que o valor da FEC reduziu nos últimos
anos e mantendo-se abaixo dos limites estabelecidos. Analisando estes dados, pode-se
concluir que, apesar de o tempo médio de fornecimento interrompido por consumidor
manter-se quase constante, a frequência com que estas interrupções estão ocorrendo é cada
vez menor, indicando que, mesmo com o aumento do número de consumidores, o sistema
elétrico nacional possui uma rotina de melhoria contínua proporcionada, principalmente,
por melhorias técnicas.

35 40
Apurado Apurado
Limite 35 Limite
30

30
25
25
20
DEC

FEC

20
15
15
10
10

5 5

0 0
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
Ano Ano

(a) (b)

Figura 1.2 – Índices de (a) DEC e (b) FEC no intervalo entre 2000 e 2015.

Dentre as técnicas empregadas para melhoria do desempenho de linhas de transmis-


são, a atuação no aterramento possui destaque, uma vez que as sobretensões atmosféricas
1.2. Objetivos do trabalho 27

resultantes são diretamente influenciadas pela impedância impulsiva de pé de torre. Nesses


casos, é importante a adequada modelagem do aterramento para predição correta do valor
da impedância impulsiva. Vale salientar que muitos trabalhos que abordam o desempenho
de LTs frente a descargas atmosféricas ainda representam erroneamente o aterramento por
meio de sua resistência de aterramento.
A modelagem de aterramentos elétricos evoluiu muito ao longo do tempo e diversos
modelos foram e vem sendo elaborados utilizando diferentes teorias como, por exemplo,
teoria de campo, de linhas de transmissão e de circuitos elétricos sendo que cada uma
delas possui suas particularidades. Considerando essas particularidades, os modelos que
utilizam a teoria de campo fornecem resultados mais exatos; entretanto, demandam grande
tempo de simulação devido ao elevado esforço computacional, mesmo considerando os
computadores atuais. Por outro lado, as metodologias que utilizam os modelos de linha
de transmissão são aplicáveis ao caso de aterramentos de torres de LTs, compostos por
eletrodos horizontais (cabos contrapesos) e fornecem resultados “razoavelmente” precisos
com tempos de simulação bastante inferiores. Note-se que, do ponto de vista de engenharia
aplicada, é desejável o emprego de abordagens que forneçam respostas rápidas para a
solução de alguns problemas sem, contudo, perda de qualidade dos resultados providos.
Este trabalho consolida o conhecimento de muitos anos de pesquisas que foram
realizadas por renomados nomes de referência na área e é fruto de evolução do tema desde
o início da década de 1930. Como já dizia o grande mestre Isaac Newton, “para enxergar
mais longe é preciso se apoiar no ombro de gigantes”.

1.2 Objetivos do trabalho


Tendo em vista o exposto, este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo
principal desenvolver uma modelagem de aterramentos elétricos, baseada na teoria de
linhas de transmissão, tomando partido de sua eficiência computacional. Pretende-se, com
essa modelagem, determinar o valor da impedância impulsiva de eletrodos de aterramento.
Adicionalmente, e como aspecto inovador, pretende-se avaliar os limites de aplicação da
modelagem desenvolvida comparando os resultados providos por ela com aqueles obtidos
aplicando-se uma abordagem de teoria de campo.
O objetivo geral deste trabalho consiste desenvolver uma modelagem de aterra-
mentos elétricos baseada na teoria de linhas de transmissão, tomando partido de sua
eficiência computacional, para estimar a impedância impulsiva de aterramento ZP de
eletrodos horizontais de aterramento, que são tipicamente aplicados em torres de linhas de
transmissão. Para alcançar este objetivo são delineados alguns objetivos específico:

• Desenvolvimento de uma síntese matemática, baseada na teoria de linhas de trans-


28 Capítulo 1. Introdução

missão, para representação de eletrodos de aterramento;

• Desenvolvimento de uma ferramenta computacional que implemente a síntese desen-


volvida;

• Aferição da ferramenta desenvolvida pela comparação com resultados obtidos a partir


da aplicação de um modelo baseado na teoria de campo.

1.3 Organização do texto


Este trabalho está estruturado em cinco capítulos, incluindo este capítulo intro-
dutório que descreve a relevância do tema sob investigação, os objetivos do trabalho e a
organização do texto em questão.
O Capítulo 2 descreve de maneira sucinta os conceitos básicos que são utilizados no
estudo de aterramentos submetidos à descargas impulsivas. São apresentados os conceitos
de impedância de aterramento, efeitos de propagação, caracterização do solo e finalmente,
os parâmetros utilizados para caracterizar o comportamento impulsivo de eletrodos de
aterramento.
O Capítulo 3 apresenta uma revisão bibliográfica das principais metodologias
utilizadas para descrever o comportamento dos eletrodos de aterramento e realiza uma
análise crítica a respeito destas metodologias. Em seguida, expõe a síntese elaborado,
utilizando a teoria de linhas de transmissão, para realizar a análise do aterramento de
eletrodos horizontais frente à descargas impulsivas.
O Capítulo 4 apresenta os resultados deste trabalho. São apresentadas inicialmente
algumas considerações referentes aos parâmetros utilizados para simulação e em seguida é
realizada a análise do comportamento das curvas de impedância impulsiva obtidas através
da teoria da linhas de transmissão bem como sua comparação às curvas obtidas através da
teoria de campo.
O Capítulo 5.1 destaca as contribuições e conclusões deste trabalho e apresenta
algumas propostas de continuidade para este trabalho.
29

2 Comportamento de aterramentos elétricos


frente a correntes de descargas atmosféri-
cas

2.1 Introdução
O comportamento do aterramento elétrico frente a correntes impulsivas, advindas
de descargas atmosféricas, possui comportamento particular. Nesse sentido, ao trabalhar
com o sistema de aterramento, considerando fenômenos de altas frequências, é essencial
utilizar um modelo mais bem elaborado e considerar o comportamento das componentes
de alta frequência contidas no espectro de uma corrente impulsiva.
Este capítulo tem como objetivo descrever os conceitos mais relevantes para com-
preender o comportamento da resposta de um sistema de aterramento quando submetido
a correntes impulsivas.

2.2 Impedância de aterramento


Definir a “impedância de aterramento” é essencial para caracterizar o comporta-
mento transitório de um sistema de aterramento elétrico e analisar seu desempenho frente
a uma descarga atmosférica (correntes impulsivas). Ela pode ser conceituada como uma
oposição oferecida pelo solo à injeção de uma corrente elétrica, através dos eletrodos de
aterramento [5]. Para descrever a natureza desta impedância a seguir é mostrada uma
abordagem conceitual simplificada do circuito equivalente.

2.2.1 Circuito equivalente


A corrente injetada no eletrodo é parcialmente dissipada para o solo e parcialmente
transferida para o comprimento restante do eletrodo. Uma parcela é transversal e a outra
é longitudinal. Para avaliar a natureza de um aterramento considera-se que uma conexão
à terra apresenta três efeitos: resistivo, capacitivo e indutivo. Considerando tais efeitos, a
Figura 2.1 é utilizada para representá-los em um elemento de um eletrodo de aterramento
[2].
A corrente longitudinal (IL ) associa-se às perdas internas no condutor e também é
responsável por gerar um campo magnético interno ao eletrodo e ao seu redor. Seus efeitos
são representados pela associação em série entre uma resistência R e uma indutância L.
circuito equivalente que representa estes efeitos para uma pequena porção ou
elemento de um eletrodo de um sistema de aterramento. A corrente neste elemento é
composta de duas parcelas: uma corrente transversal IT que dispersa para o solo e
30 Capítulo
uma 2. Comportamento
corrente longitudinal de aterramentos
IL que elétricos
é transferida para ofrente a correntes
restante de descargas atmosféricas
do eletrodo.

Figura 2.1 – Componentes de corrente no solo e circuito equivalente do aterramento –


Figura 2.1 – Componentes de corrente no solo e circuito equivalente do aterramento -
adaptada de [1].
retirada de [2].

A corrente longitudinal está associada às perdas internas no condutor e gera


A corrente transversal (I ) está associada à dispersão de correntes condutivas e
um campo magnético internoTe em volta dele. Na Fig. 2.1, uma resistência R e uma
capacitivas para oLsolo
indutância em e seussão
série efeitos são representados
responsáveis pelo paralelo
pela modelagem entre uma
desses efeitos. condutância
Ambos os
G e umaparâmetros
capacitância
geramC. umaO campo
queda deelétrico no Rsolo
tensão (∆V está
e ∆V associado ao fluxo de correntes
L) ao longo do eletrodo quando

condutiva
estee écapacitiva.
percorrido por uma corrente.

AtravésA da
corrente transversal está associada à dispersão para o solo de correntes
lei circuital de Ampère (equação de Maxwell-Ampère) é possível deter-
condutiva e capacitiva. A razão entre essas duas correntes não depende da geometria
minar a relação entre as amplitudes das correntes que compõe IT . Considerando a sua
do eletrodo, mas apenas da freqüência característica do fenômeno solicitante e da
forma diferencial (Equação 2.1), a relação entre as correntes condutiva e capacitiva é dada
condutividade e permissividade elétrica do solo. Esta razão é discutida mais
pela Equação 2.2, onde σ é a condutividade do meio, ε é a permissividade do meio e ω é a
detalhadamente em outra seção. Os efeitos transversais associados a essa corrente
frequência angular [6].
de dispersão são modelados na Fig. 2.1 por meio de uma condutância G e uma
Ainda considerando
capacitância a Equação 2.1, é possível notar que a relação entre os com-
C em paralelo.
ponentes condutivo
Um aspectoe capacitivo
que mereceda corrente
atenção transversal
refere-se ao cálculonão
dosdepende
parâmetrosdaR,geometria
L, G e do
eletrodoCde
do aterramento,
circuito ilustradodependendo
na Fig. 2.1. Talsomente
aspecto édas
destacado no Capítuloelétricas
características 3. do solo e da
A representação
frequência angular [7]. ilustrada na Fig. 2.1 se aplica apenas a uma pequena porção
do eletrodo. Adicionalmente, ~ = devem
~ + jωε ser~ considerados os acoplamentos
∇×H σE E = J~c + J~d (2.1)
eletromagnéticos próprios e mútuos (capacitivo, condutivo e indutivo) entre os diversos
elementos dos eletrodos de aterramento [6]. O conhecimento do comportamento
IG
completo do aterramento requer a solução σ
de uma série de circuitos similares ao
= (2.2)
apresentado na Fig. 2.1 conectados Ide ωε com a geometria do aterramento,
C acordo

incluindo os efeitos mútuos [5]. A solução desse complexo circuito fornece a


Como já destacado, o circuito da Figura 2.1 representa apenas um pequeno “ele-
impedância vista do ponto de injeção de corrente, que corresponde à razão entre a
mento” do aterramento. Para representar um aterramento completo é necessário utilizar
um circuito mais complexo, constituído por um conjunto de circuitos similares ao mostrado
na Figura 2.1. Este novo circuito deve respeitar a topologia da configuração geométrica do
sistema de aterramento assim como a conexão dos eletrodos.

2.2.2 Significado físico


Tratando-se do domínio da frequência, o sistema de aterramento pode ser caracte-
rizado por meio de uma impedância de aterramento [2]. Então, para representar os efeitos
relacionados às componentes de altas frequências, é essencial representar o aterramento
por meio de uma impedância.
2.2. Impedância de aterramento 31

A relação entre a elevação de potencial desenvolvida no eletrodo de aterramento


e a corrente aplicada neste eletrodo, para cada frequência específica, leva ao conceito de
impedância de aterramento, que é representado matematicamente pela Equação 2.3. Na
literatura, ela também é conhecida por Impedância Complexa de Aterramento.

V (ω)
Z(ω) = (2.3)
I(ω)
O valor de Z(ω) depende da geometria do sistema de aterramento e, também, das
características eletromagnéticas do solo (resistividade (ρ), permissividade relativa (εr ) e
permeabilidade eletromagnética (µ)) [2].
A Figura 2.2 mostra o comportamento de Z(ω) ao longo do espectro. Tal figura foi
obtida utilizando a modelagem apresentada no Capítulo 3. Nela, considera-se um eletrodo
horizontal de 50 m de comprimento e 0, 7 cm de raio, enterrado a 0, 5 m de profundidade
num solo de resistividade 2400 Ω.m.

300 60

250 40

200 20

Ângulo (o)
|Z (ω)| (Ω)

150 0

100 −20

50 −40

Módulo Ângulo
0 2 3 4 5 6
−60
10 10 10 10 10
Frequência (Hz)
Figura 2.2 – Impedância de aterramento ao longo do espectro característico de uma
descarga atmosférica.

Observando a Figura 2.2 é possível notar que, para baixas frequências, a impedância
pode ser aproximada por um número real puro que, conforme adiante, representa a
resistência de aterramento. Entretanto, para frequências elevadas, os valores do módulo e
do ângulo de fase de Z(ω) são diferentes dos valores característicos em baixas frequências
32 Capítulo 2. Comportamento de aterramentos elétricos frente a correntes de descargas atmosféricas

e, para estas condições, representar o sistema por meio de uma resistência de aterramento
não é mais consistente portanto, torna-se necessário modelar o aterramento por meio de
uma impedância.

2.2.3 Particularização da resistência de aterramento


Na maioria das aplicações práticas, o dimensionamento do aterramento é especifi-
cado para atender a solicitações lentas, como, por exemplo, correntes de curto-circuito.
Nestas condições, os efeitos reativos são reduzidos e, por isso, na literatura, é comum utilizar
o termo “resistência de aterramento” ao invés do termo “impedância de aterramento”.
Em função do valor reduzido da frequência, a reatância longitudinal que possui
caráter indutivo e a susceptância transversal que possui caráter capacitivo podem ser
desprezadas. Além disso, é possível, também, desconsiderar a resistência longitudinal
no eletrodo porque o efeito pelicular nessa faixa de frequência é reduzido. Desta forma,
pode-se representar o aterramento por meio de um conjunto de condutâncias em paralelo,
assegurando a inclusão dos efeitos mútuos condutivos entre elas [5].
Desta maneira, o sistema de aterramento deixa de enxergar uma impedância
complexa e passa a visualizá-la como uma resistência, conhecida por “resistência de
aterramento” (Equação 2.4).

V
RT = (2.4)
I

2.3 Efeitos de propagação


Quando uma corrente impulsiva é injetada em um eletrodo enterrado, a onda
eletromagnética se propaga ao longo do eletrodo [7]. As componentes de altas frequências
possuem comprimentos de onda muito pequenos com relação aos comprimentos típicos e,
por isso, os eletrodos de aterramento podem ser interpretados como linhas longas. Desta
maneira, a característica de propagação pode ser analisada através da teoria de linhas de
transmissão em um meio com perdas, que apresenta dois fenômenos associados: atenuação
e distorção da onda.
O primeiro fenômeno está associado à perda de energia da onda enquanto ela se
propaga e, assim, há decréscimo de sua amplitude ao longo do eletrodo. O segundo está
associado à deformação da onda enquanto ela se propaga e corresponde às diferentes
velocidades que cada um dos componentes de frequência possui. Em particular, como
consequência do fenômeno de atenuação, a corrente dispersa no solo apresenta uma
distribuição não uniforme e a densidade de corrente de dispersão diminui ao longo do
eletrodo.
Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 15

eletrodo. A propagação
2.4. Caracterização do solo da onda eletromagnética em um meio com perdas, como 33
o
solo, apresenta dois fenômenos associados: atenuação e distorção da onda. O
primeiroA constitui-se
teoria da propagação de ondas
no decréscimo da eletromagnéticas define
amplitude da onda como a ao
de γcorrente constante de
longo do
propagação da onda (Equação 2.5). Nela, α é a constante de atenuação da onda, que
eletrodo. O segundo representa a deformação da onda à medida que se propaga e
corresponde à parcela real, e β é a constante de defasamento, que corresponde à parcela
corresponde fisicamente às diferentes velocidades que cada componente de
imaginária. É importante salientar que tanto α quanto β são fortemente dependentes da
freqüência apresenta, não apresentando assim uma propagação uniforme como um
frequência [6].
todo. A atenuação aumenta com a freqüência e com a condutividade do solo, assim
como as perdas. Em resumo, a onda de corrente que se propaga ao longo do eletrodo
γ = α + jβ (2.5)
de aterramento tem sua amplitude atenuada e sofre deformação com o aumento do
A Figura
tempo de 2.3longo
frente ao resume
da odireção
comportamento da onda
de propagação. de corrente
Esses aspectosinjetada. A onda
estão ilustrados
se propaga ao longo do eletrodo e sua amplitude é atenuada e sofre deformação com o
na Fig. 2.4.
aumento do tempo de frente ao longo da direção de propagação [2].

Figura
Figura 2.3 2.4 – Atenuação
– Atenuação e distorção
e distorção dada corrente
onda ao longo
de corrente ao do eletrodo
longo – adaptada
do eletrodo de [5].
de aterramento
- retirada de [2].

Como conseqüência direta do fenômeno de atenuação, a corrente que dispersa


do eletrodo de aterramento apresenta uma distribuição não uniforme ao longo do
2.4 Caracterização do solo
mesmo. A densidade de corrente de dispersão (A / m) diminui ao longo do eletrodo.
DessasOconsiderações
solo, em seu estado natural,
deriva-se é um mau
o importante condutor
conceito de de eletricidade.
comprimento Caso seja
efetivo, que
considerado completamente
corresponde seco, elelimite
a um comprimento comporta-se como um
do eletrodo de material isolante
aterramento. [5]. A Tabela
Eletrodos com
2.1 mostra o quanto
comprimento a resistividade
superior a esse valordolimite
solo énão
elevada quando
implicam nacomparada a outros
redução da materiais.
impedância de
aterramento. Tal comportamento
Tabela 2.1fica explícito
– Ordem de quando,
grandezapor
da exemplo,
re- verifica-se que o
sistividade do solo para al-
aumento além de determinado comprimento do cabo contrapeso ligado à torre de uma
guns materiais.
linha de transmissão não afeta o desempenho da mesma frente a descargas
Meio
atmosféricas. Isto ocorre justamente Resistividade
porque (Ω.m)
a atenuação do campo para tal
−8
Cobre que
comprimento já é tão acentuada, puro a corrente1,que
6 x 10
dispersa para o solo a partir dali é
Alumínio 2, 7 x 10−8
desprezível. A existência de eletrodo a partir desse ponto é inócua e não afeta o valor
Solos mais comuns 5 a 20000
da impedância de aterramento. O comprimento efetivo diminui com o aumento da
Fonte – Adaptada de [5].
condutividade do solo e da freqüência máxima representativa do fenômeno solicitante
[5]. Tal comportamento é prontamente compreendido levando-se em consideração os
Quando o sistema de aterramento é submetido a correntes impulsivas, os parâmetros
aspectos de propagação, tendo em vista que a atenuação se acentua com o
do solo (resistividade e permissividade), responsáveis pelas correntes condutiva e capacitiva,
34 Capítulo 2. Comportamento de aterramentos elétricos frente a correntes de descargas atmosféricas

são fortemente dependentes da frequência. Então, um aspecto essencial para o estudo e a


simulação de aterramentos elétricos é a modelagem adequada do solo.
Adicionalmente, a corrente impulsiva pode ser tão alta, que os níveis de campo
elétrico no solo podem ultrapassar um valor chamado “crítico”. Acima deste valor ocorre
o fenômeno da ionização do solo e isto também afeta o comportamento do sistema de
aterramento.
Esta seção tem como objetivo descrever o comportamento do aterramento em
função destes fatores.

2.4.1 Dependência da frequência dos parâmetros elétricos do solo


As análises dos sistemas de aterramento submetidos à distúrbios de baixas frequên-
cias e a caracterização do solo nesta faixa de frequências já são satisfatoriamente abordadas
na literatura [8]. Nestes casos, normalmente a permissividade é desconsiderada e a con-
dutividade é obtida através da medição da resistividade do solo à 100Hz. Em baixas
frequências, a corrente de deslocamento pode ser desprezada e, por isso, a composição da
corrente o solo considera apenas a parcela relativa à corrente de condução.
A dependência da resistividade do solo e da permissividade relativa em função
da frequência no espectro típico de uma descarga atmosférica foi provada há alguns
anos por Scott [9]. Porém, tradicionalmente, para análises de fenômenos impulsivos, os
parâmetros do solo (condutividade e permissividade) são considerados constantes. Uma
aproximação conservadora considera a resistividade do solo medida em baixas frequências
e a permissividade relativa do solo entre 4 e 81 de acordo com a umidade do solo
[7]. Entretanto, alguns trabalhos clássicos da área, como, por exemplo, [9], [10], [11] e
[12], publicaram resultados experimentais de laboratório e de campo que mostram uma
dependência significante da resistividade do solo e da permissividade relativa em função da
frequência, ademais, a permeabilidade magnética é considerada constante e muito próxima
da permeabilidade do vácuo para a maioria dos solos [3].
Por outro lado, trabalhos recentes mostram que, quando o aterramento é submetido
à este tipo de fenômeno, a dependência dos parâmetros do solo não pode ser desconsiderada.
Um trabalho publicado por Alípio e Visacro [3] mostra a importância de considerar
a dependência dos parâmetros do solo em função da frequência. A Figura 2.4 mostra três
curvas para a elevação do potencial de aterramento de um eletrodo em função do tempo e
uma curva de corrente. Para obter estas curvas Alípio e Visacro utilizaram um modelo
eletromagnético e medições em campo [3] sendo que, a corrente elétrica injetada para
fins de simulação foi obtida de maneira experimental. Pode-se observar que, quando os
parâmetros do solo são considerados constantes, há um erro significativo quando comparado
à modelagem que considera os parâmetros do solo dependentes da frequência. Além disso,
2.4. Caracterização do solo 35

é importante observar a curva que considera esta dependência, que é muito próxima da
curva obtida através de medições.

400 10

300 7,5

Corrente (A)
Tensão (V)

200 5

GPR medido

GPR simulado − ρ e ε constantes


100 2,5
GPR simulado − ρ e ε função de ω

Corrente

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo (µs)

Figura 2.4 – Elevação do potencial de aterramento em um eletrodo - adaptada de [3].

Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 21


2.4.2 Ionização do solo
alta intensidade. Em alguns sistemas de pequeno porte, com solo fortemente ionizado,
O solo apresenta
a geometria um comportamento
do aterramento, predominantemente
em alguns casos, lineardada
pode até descaracterizar-se, na amaioria dos
casos práticos.
grandeEm uma ampla
abrangência faixaionizada.
da região de frequências,
Esse últimooefeito
aterramento
é ilustrado apresenta
na Fig. 2.9. uma razão
constante entre a amplitude
Assim, para doaterramento
os sistemas de potencialtípicos
no ponto
de linhasde injeção e por
de distribuição, a exemplo,
corrente injetada.
que são formados geralmente por pequenas hastes verticais interligadas,
Entretanto, dependendo de algumas características do sistema de aterramento, o campo o fenômeno
merece ser investigado com cautela. Já na análise de sistemas de aterramento
elétrico no solo, ao redor dos eletrodos, pode ultrapassar um valor crítico e romper a
tipicamente empregados nas torres de linhas de transmissão, que possuem grandes
rigidez dielétrica do meio. Quando isso acontece, o solo deixa de possuir comportamento
dimensões, mesmo para estudos de propagação de correntes de descargas
linear e passa a prevalecer
atmosféricas, um comportamento
a ionização do solo costuma nãonão linear. como um aspecto de
se caracterizar
maior importância [17].

Figura 2.8 – Representação da região de ionização em um sistema de aterramento submetido


Figura 2.5 – Região de ionização de corrente
à injeção de uma um sistema de aterramento
I – adaptada de [17]. - retirada de [2].
Assim, para os sistemas de aterramento típicos de linhas de distribuição, por exemplo,
que são formados geralmente por pequenas hastes verticais interligadas, o fenômeno
merece ser investigado com cautela. Já na análise de sistemas de aterramento
36 tipicamente
Capítulo 2. empregados nas
Comportamento de torres de linhas
aterramentos de transmissão,
elétricos quedepossuem
frente a correntes grandes
descargas atmosféricas
dimensões, mesmo para estudos de propagação de correntes de descargas
Ao ultrapassar
atmosféricas, este valor
a ionização crítico
do solo ocorre
costuma nãoa se
ionização do solo
caracterizar comoe um
há ocorrência
aspecto de de
descargas elétricas do[17].
maior importância eletrodo em direção ao solo. Esse processo faz com que essa porção
ionizada do solo transforme-se em um tipo de plasma que possui características condutivas.
A Figura 2.5 mostra que a disrupção se inicia na superfície do eletrodo, que possui
densidade de corrente J mais intensa, e continua até o ponto que o valor do campo elétrico
atenue suficientemente para tornar-se menor que o valor crítico [2].
Observando a Figura 2.5, verifica-se que há aumento da área de dispersão de
corrente e, por isso, a ocorrência da ionização do solo é responsável pela redução da
impedância impulsiva de aterramento (ZP ), conceito que é mais bem explorado na seção
2.5.
Tratando-se de eletrodos curtos, a densidade de corrente J pode ser tão intensa que
o campo elétrico excede facilmente o valor crítico. Quando o solo se ioniza em sistemas de
pequeno porte, por exemplo, a geometria do sistema de aterramento, devido à abrangência
da região ionizada,
Figura 2.8 pode se descaracterizar
– Representação [2]. A em
da região de ionização representação deste
um sistema de efeito é submetido
aterramento mostrada na
Figura 2.6. à injeção de uma corrente I – adaptada de [17].

Figura 2.9 – Representação da ionização do solo em um sistema de aterramento de pequeno


Figura 2.6 – Decaracterização da geometria de um sistema de aterramento de pequeno
porte submetido à injeção de corrente sendo I3 > I2 > I1 – adaptada de [17].
porte submetido a uma injeção de corrente elevada (I3 > I2 > I1 ) - retirada
de [2].

Na análise de sistemas de aterramento tipicamente empregados nas torres de linhas


de transmissão, os eletrodos possuem grandes dimensões como por exemplo, no caso de
linhas de transmissão brasileiras em solos de 1000 ωm nas quais comprimento de eletrodo
possui aproximadamente 50 m. Por isso, muitas vezes a ionização do solo não possui grande
relevância nos estudos referentes à propagação de correntes de descargas atmosféricas [13].
A avaliação deste fenômeno apresenta duas complexidades relevantes [7]. A primeira
refere-se à determinação do valor limite do campo elétrico no solo para se processar sua
2.5. Parâmetros para a caracterização do comportamento impulsivo do aterramento 37

ionização. O valor tipicamente adotado na literatura para o campo elétrico crítico é de


300kV /m [14]. A segunda refere-se à distribuição não uniforme da corrente de dispersão
ao longo do eletrodo devido ao efeito de atenuação durante a propagação da onda.

2.5 Parâmetros para a caracterização do comportamento impulsivo


do aterramento
Os conceitos definidos nesta seção não estão bem normalizados na literatura,
por isso, é importante defini-los no contexto deste trabalho já que serão utilizados mais
adiante. São definidos: impedância harmônica, elevação de potencial no aterramento (GPR),
impedância impulsiva, comprimento efetivo e coeficiente de impulso. Estas definições estão
de acordo com [2] e [15].

2.5.1 Impedância harmônica


A definição da impedância de aterramento pode ser resumida pela relação indicada
na Equação 2.3, ou seja, ela é a relação entre o fasor de tensão no ponto de injeção de
corrente e o fasor da corrente injetada, para cada frequência; ela é avaliada na faixa de
frequência de interesse do transitório. A impedância do aterramento depende somente da
geometria do aterramento e das características eletromagnéticas do meio [2].
O domínio da frequência, além de ser o domínio original de sua definição, permite
a visualização das características condutivas, capacitivas e indutivas do aterramento, bem
como dos efeitos de propagação [2], por isso, analisar a impedância de aterramento no
domínio da frequência é de fundamental importância.

2.5.2 Elevação de potencial no aterramento (GPR)


O perfil da forma de onda da sobretensão resultante no ponto de injeção é conhecido
na literatura como GPR (grounding potential rise). Este parâmetro é bastante adequado
e atrativo do ponto de vista aplicado para a avaliação e a determinação de práticas de
proteção contra descargas atmosféricas [2].
A elevação de potencial desenvolvida no aterramento é obtida através da Equação
2.6, ou seja, a GPR é calculada através da transformada inversa de Fourier (F −1 ) do
produto da impedância harmônica pela transformada direta de Fourier (F) da corrente
injetada no sistema de aterramento.

GP R = F −1 {Z(ω)F{i(t)}} ≡ F −1 {Z(ω)I(ω)} (2.6)


38 Capítulo 2. Comportamento de aterramentos elétricos frente a correntes de descargas atmosféricas

Analisando a Equação 2.6, pode-se concluir que a variação dos parâmetros que
determinam a impedância harmônica reflete diretamente no cálculo do GPR, que também
depende fortemente do conteúdo espectral da corrente injetada.

2.5.3 Impedância impulsiva e comprimento efetivo


A impedância impulsiva (ZP ) é definida como a razão entre os picos de tensão e de
corrente no ponto de injeção e seu conceito é originalmente definido no domínio do tempo
e depende da forma de onda e do tempo de frente da corrente injetada [7].
Em muitos casos os picos de tensão e de corrente não ocorrem simultaneamente;
entretanto, este é um parâmetro prático muito interessante. Através dele, é possível estimar
o valor máximo da sobretensão resultante no ponto de injeção de corrente multiplicando o
valor de pico da corrente por ZP . A Equação 2.7 indica esta relação. Nela, o termo VP
corresponde ao valor de pico da tensão em função do tempo, V (t) e o termo IP corresponde
ao valor de pico da corrente em função do tempo, I(t).

VP
ZP = (2.7)
IP

A impedância impulsiva é um parâmetro que varia em função do comprimento


do eletrodo. A Figura 2.7 ilustra este comportamento para eletrodos horizontais de
comprimentos entre 10 e 120 metros imerso em um solo de resistividade de 2400 Ω.m. Tal
figura é obtida através da modelagem desenvolvida no Capítulo 3. É importante notar
nesta figura um ponto de inflexão característico na marca de 68, 5 m. Este ponto identifica
outro conceito importante e muito interessante, que é objeto de estudo deste trabalho, o
comprimento efetivo.
O conceito de comprimento efetivo de eletrodos de aterramento é amplamente
utilizado no estudo e projeto de sistemas de aterramento. O fenômeno da atenuação citado
na seção 2.3 provoca uma distribuição não uniforme da corrente ao longo do eletrodo [7] e
esta consideração é muito importante para definir o conceito de comprimento efetivo. Em
geral, ele é estabelecido como o comprimento do eletrodo a partir do qual um aumento de
extensão não implica a redução da impedância impulsiva de aterramento.
É possível observar na Figura 2.7 que, com o aumento do comprimento do eletrodo,
ZP decresce até certo ponto e, a partir dele, permanece constante, ou seja, o aumento
das dimensões do aterramento somente é efetivo na redução da impedância impulsiva até
determinado ponto. Este ponto é definido como comprimento efetivo; nele, a atenuação da
onda de corrente já é tão acentuada que a corrente que dispersa para o solo a partir deste
ponto é praticamente desprezível.
É importante também nesta seção mostrar a relação entre a impedância impulsiva
2.5. Parâmetros para a caracterização do comportamento impulsivo do aterramento 39

400
ZP
350 R

300
Zp,R (Ω) 250

200

150

100

50 ⇒ lef = 68,5 m

0
20 40 60 80 100 120
Comprimento do eletrodo (m)

Figura 2.7 – Curva típica de impedância impulsiva (ZP ) e resistência de aterramento (R)
em função do comprimento de um eletrodo.

e a resistência de aterramento. A Figura 2.7 também mostra que, para as características


simuladas, a resistência de aterramento acompanha o comportamento da impedância
impulsiva até aproximadamente o comprimento efetivo. Como pode-se observar, tanto a
curva da impedância impulsiva quanto a curva da resistência de aterramento diminuem
a medida que o comprimento do eletrodo aumenta. Contudo, a partir de determinado
comprimento, pode-se observar que o valor de ZP permanece constante enquanto R
continua a diminuir.
Esta relação também mostra a importância de se considerar a impedância impulsiva
ao invés da resistência de aterramento porque, quando um sistema de aterramento é
submetido à uma corrente de natureza impulsiva, esta corrente enxerga o aterramento
como uma impedância e não como uma resistência. Assim, a impedância verdadeira,
enxergada pela corrente impulsiva, é maior do que a resistência de aterramento para
comprimentos de eletrodos maiores do que o comprimento efetivo, por isso, do ponto de
vista prático é ideal utilizar eletrodos com comprimentos iguais ao comprimento efetivo.

2.5.4 Coeficiente de impulso


O coeficiente de impulso (IC ) é um parâmetro útil para comparar o comportamento
impulsivo de um sistema de aterramento com seu comportamento em baixas frequências.
Ele corresponde à razão entre a impedância impulsiva e a resistência de aterramento, ou
seja,

ZP
IC = (2.8)
R
40 Capítulo 2. Comportamento de aterramentos elétricos frente a correntes de descargas atmosféricas

Este é um parâmetro de interesse prático porque, na maioria das aplicações, a


medição da impedância impulsiva de aterramento em condições de campo é inviável ou
apresenta dificuldades. A prática mais comum é realizar a medição da resistência de
aterramento, que pode ser utilizada para, a partir do conhecimento do coeficiente de
impulso, estimar a resposta do aterramento frente a descargas atmosféricas.
A relação indicada na Equação 2.8 pode ser observada na Figura 2.8. Tal figura
mostrada também é obtida através da modelagem desenvolvida no Capítulo 3.

Coeficiente de Impulso
3

2.5

2
IC

1.5

0.5

0
20 40 60 80 100 120
Comprimento do eletrodo (m)

Figura 2.8 – Forma típica de uma curva de coeficiente impulsivo - elaborada pelo autor.

O valor de IC é menor que a unidade. Isso ocorre porque, conforme mostra a Figura
2.7, acima do comprimento efetivo o valor de ZP permanece constante enquanto o valor
da resistência de aterramento continua a decrescer; a partir de então, o valor de IC possui
comportamento crescente. O ponto de inflexão da Figura 2.8 possui o exatamente o mesmo
comprimento do eletrodo indicado na Figura 2.7 e por isso, a curva de IC também é uma
ferramenta muito interessante para se determinar o comprimento efetivo de um eletrodo
de aterramento.
41

3 Modelagem de aterramentos elétricos: uma


abordagem de linhas de transmissão

3.1 Introdução
A quantidade de trabalhos que propõe modelos para a análise do comportamento
transitório dos sistemas de aterramento é muito grande. Este grande número de modelos
utilizados mostra que, aparentemente, não existe consenso em relação aos limites de
aplicabilidade, de interpretação e de validade dos resultados de cada um deles. Outro
importante ponto, relacionado à grande variedade de modelos, é a carência de resultados
experimentais para validar os modelos.
Cada um destes modelos apresenta vantagens, desvantagens e limites para os
domínios de aplicação. Uma análise geral destes admite sua divisão em três grupos
principais [2], adotando métodos baseados em:

• Teoria de campos;

• Teoria de linhas de transmissão;

• Teoria de circuitos.

Este capítulo faz uma breve revisão bibliográfica dos três tipos de modelos que
podem ser utilizados, apresenta o modelo matemático utilizado para alcançar o objetivo
deste trabalho e descreve os aspectos básicos da implementação computacional utilizada
para realizar as análises.

3.2 Breve revisão bibliográfica


O objetivo deste trabalho é estimar o comprimento efetivo de eletrodos de ater-
ramento utilizando a teoria de linhas de transmissão, por isso, é realizada uma breve
revisão bibliográfica dos modelos utilizados na literatura para justificar a escolha do modelo
que utiliza a teoria de linhas de transmissão. Alípio descreve detalhadamente em sua
dissertação [2] o estado da arte dos principais trabalhos que conduziram pesquisas que
investigam o comportamento de eletrodos de aterramento frente a correntes impulsivas.
Nesta seção são citados alguns destes trabalhos e as vantagens e as desvantagens de cada
tipo de modelo.
42 Capítulo 3. Modelagem de aterramentos elétricos: uma abordagem de linhas de transmissão

Inicialmente, é essencial citar que os primeiros trabalhos de pesquisa nesta área


foram basicamente experimentais e objetivaram estimar a impedância impulsiva do eletrodo
de aterramento. Durante as décadas de 1930 e 1940 os resultados de pesquisa mostraram
que a impedância impulsiva dos eletrodos é diferente da resistência CC ou CA na frequência
de operação da rede (60 Hz). Desta maneira, ficou evidente que o comportamento dos
eletrodos de aterramento submetidos às correntes impulsivas é diferente do solicitado por
correntes de baixa frequência.
No final da década de 1940 Sunde publicou uma das referências mais clássicas
desta área de pesquisa [16]. Nela, os dois últimos capítulos destinam-se à investigação do
comportamento de sistemas de aterramento frente a fenômenos de alta frequência e, para
isso, utilizam a teoria de linhas de transmissão. Nesta obra, Sunde estabeleceu fórmulas
para o cálculo dos parâmetros elétricos de uma linha enterrada em função do comprimento
do eletrodo. Estas fórmulas são utilizadas neste TCC e são mostradas na próxima seção.
Embora as contribuições provenientes dos trabalhos citados tenham sido de grande
importância, até a década de 1970 não houve muita evolução no desenvolvimento de modelos
capazes de avaliar o comportamento do aterramento frente a correntes impulsivas. Até então,
os projetos de sistemas de aterramento utilizavam uma metodologia bastante semelhante
àquelas adotadas para fenômenos de baixas frequências, salve algumas modificações.
Alguns trabalhos publicados no final da década de 1970 e no início da década de
1980, como, por exemplo, [17], [18], [19], [20] e [21], propuseram modelos no domínio do
tempo baseados na teoria de linhas de transmissão, nos quais o procedimento usual é a
divisão dos eletrodos de aterramento em diversos segmentos. O que diferencia uns dos
outros é a forma como são calculados os parâmetros e o método utilizado para solucionar as
equações. Este tipo de modelagem adota algumas simplificações que merecerem destaque,
citadas por Alípio em [2] como, por exemplo, a adoção do modo de propagação TEM para
calcular o parâmetro G. Além disso, o efeito da interface solo-ar e os acoplamentos entre
os diversos segmentos não são incluídos. Um destaque que deve ser dado à estes trabalhos
refere-se ao trabalho de Gupta e Thapar [18], o qual propôs uma das primeiras fórmulas
empíricas para calcular o comprimento efetivo dos eletrodos de aterramento.
Na tentativa de minimizar os problemas oriundos das simplificações, em 1987
Papalexopoulos e Meliopoulos apresentaram um novo trabalho utilizando uma solução
mais elaborada das equações de Maxwell [22]. Apesar do grande número de simulações
realizadas, este trabalho limitou-se em simular sinais de baixas frequências e por isso, os
resultados restringiram as aplicações associadas a correntes impulsivas.
Também na segunda metade da década de 1980, Dawalibi [23] e Grcev [24] publica-
ram os primeiros trabalhos que serviram de base para o primeiro modelo de aterramentos
elétricos baseado numa solução mais elaborada das equações de Maxwell. A partir destes
trabalhos, em 1990, eles se reuniram e publicaram um dos artigos mais aclamados da
3.2. Breve revisão bibliográfica 43

época [25]. Nele, um modelo eletromagnético para transitórios em sistemas de aterramento


é descrito detalhadamente; os principais aspectos deste trabalho podem ser encontrados na
dissertação de Alípio [2] e, apesar de não apresentar resultados computacionais para validar
o modelo, ele foi bem aceito porque era muito completo e baseava-se na solução direta das
equações de Maxwell. Este trabalho inspirou várias pesquisas independentes e em 1997
Grcev publicou importantes estudos relacionados ao comportamento da impedância de
malhas de aterramento ao longo do espectro típico das descargas atmosféricas [26].
Trabalhos contemporâneos aos desenvolvimentos de Grcev e Dawalibi foram publi-
cados por Visacro e Portela no início da década de 1990 propondo uma modelagem no
domínio da frequência, também baseada nas equações de campo [27], [28] e [29]. Estes
trabalhos originaram uma versão final do modelo, detalhada na tese de Visacro [30]. A
solução do modelo o levou, mais tarde, a receber o nome de HEM (Hybrid Electromagnetic
Model) por utilizar alguns conceitos típicos da teoria de circuitos.
Em meados de 1996, Olsen e Willis desenvolveram outro importante estudo baseado
na teoria de campo [31]. Neste trabalho, o objetivo dos autores é verificar em quais
condições a aproximação de campo quase-estática é válida e, para isso, os autores propõe
uma metodologia baseada na teoria de antenas, nomeada de modelagem exata. Apesar
de uma contribuição importante, este trabalho limitou-se à configuração de um eletrodo
vertical e, por isso, não pode-se afirmar se os mesmos critérios utilizados são válidos para
configurações de aterramento mais complexas.
A teoria de campo, como pode-se perceber, foi predominante ao longo da década
de 1990, porém surgiram, no final desta década, novos modelos mais utilizando as teorias
de circuitos e de linhas de transmissão. Em 1999 Otero, Cidrás e del Álamo apresentaram
um modelo baseado na teoria de circuitos considerando o domínio da frequência [32]. Nele,
o circuito elétrico equivalente obtido é analisado a partir da análise nodal e no cálculo
dos acoplamentos a aproximação quase-estática é adotada e os efeitos de propagação são
desprezados. Todos os cálculos são realizados no domínio da frequência e a resposta no
domínio do tempo é obtida por meio da transformada inversa de Fourier. Os resultados são
comparados com os estudos realizados por Grcev [33] e algumas diferenças foram observadas
[2]. No inicio de 2000 Otero e Cidrás juntaram-se a Garrido para dar continuidade a este
trabalho e incluíram o efeito de ionização do solo [34].
Em 2001, Liu e outros pesquisadores publicaram um trabalho propondo um modelo
“melhorado” baseado na teoria de linhas de transmissão [35]. Na definição deste modelo
os autores assumiram algumas simplificações como, por exemplo, a aproximação de que
o campo eletromagnético que circunda o condutor é quase-TEM e a desconsideração do
fenômeno de ionização. A partir das considerações descritas, cada eletrodo é assumido
como parte de uma linha de transmissão e o acoplamento entre os condutores é considerado
a partir do cálculo dos parâmetros da linha (R, L, G e C), que foram obtidos através
44 Capítulo 3. Modelagem de aterramentos elétricos: uma abordagem de linhas de transmissão

de um software da ABB. Para validar os resultados, os autores simularam configurações


semelhantes às realizadas por Grcev em dois de seus trabalhos, [26] e [33], e verificaram
comportamento similar, porém, com algumas diferenças [2].
Em 2003, Lorentzou e outros apresentaram um modelo também baseado na teoria
de linhas de transmissão [36]. O procedimento adotado é característico deste tipo de
abordagem e os eletrodos são divididos em segmentos, cada um representado por um
circuito π a parâmetros concentrados e não há informações sobre a metodologia para
realizar os cálculos destes parâmetros e por isso não pode-se afirmar se houve consideração
do efeito da interface solo-ar. Neste trabalho, as distribuições de tensão e de corrente
ao longo do eletrodo são obtidas a partir da solução da “equações do telégrafo”. Na
solução destas equações o autores estabeleceram uma relação entre a corrente injetada
e as tensões nodais. Este procedimento permitiu a obtenção de expressões matemáticas
fechadas para a corrente e para a tensão ao longo do eletrodo. O fenômeno da ionização
do solo é considerado a partir da variação dinâmica do raio do eletrodo. Os resultados
foram comparados com outros trabalhos baseados na teoria de circuitos, na teoria de linhas
transmissão e em simulações realizadas utilizando EMTP e os autores observaram uma
boa concordância. Porém, a carência de comparações com modelos mais precisos e dados
experimentais que representam fenômenos de alta frequência limitam a confiabilidade do
modelo.
Em 2005, Liu e outros apresentaram um novo trabalho propondo uma abordagem
não uniforme da teoria de linhas de transmissão para analisar os transitórios em sistemas
de aterramento [37]. O procedimento utilizado é aquele geralmente adotado em modelagens
que utilizam a teoria de linhas de transmissão. A principal contribuição deste trabalho
está na metodologia utilizada para calcular os parâmetros elétricos do modelo. Segundo os
autores, como a distribuição de corrente nos segmentos não é uniforme e varia ao longo do
tempo durante o transitório, os diversos acoplamentos entre os segmentos também deve
variar ao longo do tempo. É considerado, também, que os campos eletromagnéticos que
circundam o eletrodo não são exatamente TEM e isto implica que, o cálculo dos parâmetros
elétricos do modelo dependem do comprimento do eletrodo. O comprimento efetivo é
avaliado para eletrodos horizontais a partir do modelo proposto, porém, os resultados não
são comparados com medições ou resultados de outros autores.
Para avaliar o comprimento efetivo de cabos de contrapeso de linhas de transmissão
durante transitório provenientes de descargas atmosféricas He e outros publicaram em
2005 um importante trabalho [38]. Esta publicação também utiliza a teoria de linhas de
transmissão e os eletrodos são divididos em diversos segmentos modelados por circuitos π
a parâmetros concentrados. Para calcular estes parâmetros, assim como no trabalho de Liu
[37], os autores utilizaram as equações propostas por Sunde [16]. Este trabalho considera o
fenômeno da ionização do solo, modelado pela mesma metodologia utilizada por Velazquez
3.2. Breve revisão bibliográfica 45

e Mukhedkar [21] e os autores não deixam claro como foram solucionadas as equações das
linhas de transmissão. O aumento do comprimento efetivo em função da resistividade do
solo e do tempo de frente da onde de corrente injetada e sua diminuição em função da
magnitude da corrente injetada são duas conclusões importantes deste trabalho. Além
disso, é proposta uma fórmula empírica para estimar o comprimento efetivo de cabos
contrapeso considerando três condições de injeção de corrente diferentes.
Em 2008, Alípio publicou sua dissertação, em que propõe um modelo baseado na
solução direta das equações de Maxwell no domínio da frequência. Para obter a resposta no
domínio do tempo aplica-se uma transformada direta de Fourier. O modelo desenvolvido
considera os acoplamentos eletromagnéticos entre os componentes do aterramento, os
efeitos de propagação e o comportamento dos parâmetros do solo em função da frequência,
que foi baseado no trabalho de Portela [11]. O resultado deste trabalho é uma ferramenta
computacional que implementa o modelo eletromagnético em questão e é capaz de gerar
como resultados: curvas de impedância de aterramento, perfil de potencial e distribuição
de corrente ao longo do eletrodo de aterramento, distribuição de potenciais no nível do
solo, distribuição de campo elétrico no nível do solo e ao longo da superfície do eletrodo,
curvas de impedância impulsiva de aterramento, tensão transitória resultante no ponto de
injeção de injeção de corrente. Comparações com resultados experimentais mostraram a
consistência de tal ferramenta que atualmente é utilizada como base de comparação para
verificar outras modelagens.
Entre 2008 e 2012, importantes trabalhos concentraram-se em determinar uma
melhor modelagem para o comportamento dos parâmetros elétricos do solo (permissividade
relativa e condutividade do solo). Artigos importantes publicados por Alipio, Visacro
e outros como, por exemplo, [3], [12] e [39], e a dissertação de Pedrosa [8] tornaram-
se um marco importante na análise de sistemas de aterramento submetidos a descargas
atmosféricas porque destacaram a importância de se analisar a dependência dos parâmetros
elétricos do solo em função da frequência. Dentre todos estes trabalhos, cabe destacar a
tese de Alipio [15], que determinou através de maneira experimental esta dependência.
A metodologia foi validada e demonstrou experimentalmente a relevância do efeito da
dependência da frequência no comportamento impulsivo de aterramentos elétricos. Os
resultados mostraram que a resistividade diminui com o aumento da frequência e que
esta diminuição é mais acentuada para solos de maior resistividade em baixa frequência.
Também, mostraram que a permissividade do solo diminui com o aumento da frequência
e possui, na maior parte do espectro, valores mais elevados do que aqueles usualmente
adotados na literatura. Com base nos resultados experimentais e nas tendências observadas,
foram desenvolvidas fórmulas para estimar a dependência da frequência dos parâmetros
do solo em função da resistividade em baixa frequência. Dando continuidade a estes
trabalhos, Alipio e Visacro publicaram em 2014 um modelo causal [40], baseado no modelo
apresentado em [15], para caracterizar a dependência dos parâmetros do solo em função
46 Capítulo 3. Modelagem de aterramentos elétricos: uma abordagem de linhas de transmissão

da frequência.

3.2.1 Análise crítica dos modelos


Recentemente, uma grande quantidade de modelos tem sido propostos para anali-
sar transitórios associados aos sistemas de aterramento quando submetidos à descargas
impulsivas. É notável que cada uma das três metodologias principais existentes( teorias de
campo, de linhas de transmissão e de circuitos) tem seu lugar e por isso esta seção tem
como objetivo descrever as principais características de cada um dos modelos e apresentar
suas vantagens e desvantagens.
Os modelos baseados na teoria de circuitos a parâmetros concentrados são os mais
simplificados [41]. Eles modelam os componentes do sistema de aterramento através da
associação simples de elementos RLC. As metodologias que utilizam esta abordagem
possuem algumas simplificações que devem ser destacadas. Em geral, elas não incluem
o acoplamento entre os componentes do aterramento de forma adequada e, além disso,
desconsideram os efeitos de propagação. Esta última consideração é muito importante
quando deseja-se avaliar respostas impulsivas tendo em vista que a sua aplicabilidade
limita-se à fenômenos de baixas frequências (alguns kHz). Apesar destas características,
este tipo de modelagem pode ser desenvolvida no domínio da frequência ou no domínio do
tempo através da utilização de programas computacionais como, por exemplo, softwares da
série EMTP ou similares. A precisão é baixa e o tempo de processamento computacional é
pequeno.
Os modelos que utilizam aproximações obtidas através da teoria de linhas de
transmissão possuem precisão intermediária. Este tipo de modelo assume que a propa-
gação do campo eletromagnético ao longo do eletrodo é ditada pelo modo transversal
eletromagnético (TEM). Por algum tempo, acreditou-se que não era possível incluir a
variação dos parâmetros do solo em função da frequência para este tipo de abordagem [2],
porém, como é mostrado neste trabalho, atualmente já é possível considerar tais variações.
Caso seja desejado, também é possível considerar o fenômeno da ionização do solo através
da variação do raio do eletrodo ao longo do seu comprimento. As abordagens que adotam
a teoria de linhas de transmissão possuem precisão intermediária e possuem tempo de
processamento computacional menor do que as abordagens que adotam a teoria de campo.
Outra vantagem importante é que a solução para o domínio do tempo permite que efeitos
não lineares sejam incluídos diretamente.
Os modelos que utilizam aproximações obtidas através da teoria de campo apre-
sentam elevado rigor físico e matemático e, por isso, são considerados de maior precisão.
Considerações como, por exemplo, os efeitos de atenuação e defasamento podem ser
diretamente incorporados nas equações de campo relativas a cada frequência. Além disso,
pode-se também incluir a variação eletromagnética dos parâmetros do solo em função da
3.3. Apresentação do modelo 47

variação da frequência. Este ponto é importante quando deseja-se investigar sistemas de


aterramento inseridos em solos que possuem nítida variação dos parâmetros eletromag-
néticos em função da variação da frequência. Alípio ressalta em [2] que, por basearem-se
nas equações de Maxwell, esses modelos são aplicáveis a configurações genéricas. Em
contrapartida, os modelos deste tipo necessitam de grande tempo computacional para
realizar os cálculos e, por isso, este torna-se um problema crítico quando a análise trata
de malhas de aterramento que possuem grande extensão. Apesar de, no passado, este ter
sido um problema, atualmente a frequência de processamento já é muito superior, porém,
ainda leva-se algumas horas para realizar uma simulação. Outra desvantagem deste tipo
de modelo é que ele não permite incorporar diretamente fenômenos não lineares, como,
por exemplo, o fenômeno de ionização do solo. Contudo, como citado em [2], isso pode ser
feito de outras formas.

3.3 Apresentação do modelo


Os modelos de sistemas de aterramento são essenciais para auxiliar a solução de
alguns problemas práticos de engenharia como, por exemplo, a avaliação do desempenho
de linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas, os estudos de compatibilidade
eletromagnética envolvendo subestações e instalações críticas contra a incidência de raios e
a qualidade da energia elétrica fornecida. Os modelos de sistemas deste tipo desempenham
uma função muito importante para a predição de algumas variáveis importantes para o
dimensionamento de sistemas de proteção contra surtos, como, por exemplo, a impedância
de aterramento e os níveis máximos de sobretensão [2].
Este trabalho implementa uma síntese matemática, a partir das equações de linhas
de transmissão, para analisa a resposta impulsiva de eletrodos de aterramento horizontais
e avaliar o comportamento da impedância impulsiva, ZP . O sistema modelado é composto
por um eletrodo horizontal simples, de raio a, comprimento l e enterrado no solo a uma
profundidade d conforme ilustra a Figura 3.1.
ar
solo
d
a

Figura 3.1 – Modelo de um eletrodo horizontal enterrado no solo.

Quando o eletrodo é solicitado por uma corrente impulsiva i(t), é de fundamental


importância conhecer o comportamento transitório do sistema de aterramento. Uma síntese
48 Capítulo 3. Modelagem de aterramentos elétricos: uma abordagem de linhas de transmissão

que seja fisicamente consistente permite que previsões acerca do comportamento transitório
do sistema de aterramento.
A síntese matemática desenvolvida neste trabalho é apresentado a seguir. Ele é
baseado na teoria de linhas de transmissão e considera as equações clássicas deste tipo de
abordagem. É importante destacar que esta síntese não considera o fenômeno da ionização
do solo, porém, em futuros trabalhos ele pode ser considerado através da variação do
raio do eletrodo. Este tipo de abordagem foi escolhido porque possui uma aproximação
concordante com modelos que utilizam a teoria de campo e demanda menor tempo de
processamento computacional.

3.3.1 Modelo de linhas de transmissão


Considerando o eletrodo ilustrado na Figura 3.1, a síntese elaborado neste trabalho
considera que a impedância harmônica é calculada como a impedância de entrada da linha
de transmissão e que o eletrodo de aterramento pode ser interpretado como uma linha de
transmissão aberta. Então, a partir da teoria clássica de linhas de transmissão, o primeiro
passo para desenvolver a síntese utilizado neste trabalho consiste na definição do cálculo
da impedância harmônica do aterramento, que é calculada, no domínio da frequência,
utilizando a Equação 3.1 [6], na qual γ é a constante de propagação da onda, Z0 é a
impedância característica, ZC é a impedância da carga e l é o comprimento da linha.

" #
ZC + Zo tanh(γl)
Z = Z0 (3.1)
Z0 + ZC tanh(γl)

Considerando o circuito aberto, ou seja, impedância de carga infinita, calcula-se o


limite da Equação 3.1 com ZC → ∞ e então, obtém-se a Equação 3.2, que é a impedância
de entrada, ou seja, é a impedância harmônica definida no Capítulo 2. Nesta equação, Z0
é obtido através da Equação 3.3 e γ é obtido através da Equação 3.5.

Z = Z0 coth(γl) (3.2)

s
jωL
Z0 = (3.3)
G + jωC

q
γ = (R + jωL)(G + jωC) (3.4)

Pode-se perceber que o parâmetro γ, indicado na Equação 2.5, é calculado utilizando


os parâmetros da linha através da Equação 3.4 [6]. Nestas duas equações, R, L, C e G são os
parâmetros da linha (resistência, indutância, capacitância e condutância, respectivamente)
e ω é a frequência angular.
3.3. Apresentação do modelo 49

A síntese desenvolvida neste trabalho desconsidera o efeito pelicular e, por isso,


o parâmetro R da Equação 3.4 é desprezado. Desta maneira, calcula-se γ utilizando a
Equação 3.5.

q
γ = (jωL)(G + jωC) (3.5)

Para calcular os outros parâmetros (G, L e C), este trabalho utiliza as equações
clássicas de Sunde, obtidas a partir de [16], reunidas por Grcev em [42].
S
A condutância G é calculada em /m utilizando a Equação 3.6, onde ρ é a
resistividade do solo em Ω.m. Esta fórmula é derivada da aplicação do método das imagens,
considerando dois condutores iguais, em paralelo, separados por uma distância 2d em um
meio homogêneo de resistividade ρ.

1
G= " ! # (3.6)
ρ 2l
ln √ −1
π 2da
Similarmente, a capacitância é calculada em F/m e considera a relação de dualidade
entre G e C através da relação indicada na Equação 3.7, onde ε é a permissividade dielétrica
do solo em F/m.

ρε
C= (3.7)
G
Em [16] Sunde propõe uma fórmula aproximada para o cálculo da indutância
porém, em [42], Grcev apresenta outras equações que podem ser utilizadas para aproximar
o cálculo da indutância. A equação escolhida é, considerando o trabalho de Grcev, a que
mais se aproxima de um modelo que utiliza a teoria de campo. Sua aproximação é baseada
no método das imagens e é indicada pela Equação 3.8, na qual µ é a permeabilidade
magnética do solo em H/m.

" ! #
µ 2l
L= ln √ −1 (3.8)
2π 2da
Após calcular a impedância harmônica, outro passo importante para a modelagem
é determinar a forma de onda da corrente injetada no eletrodo. Este trabalho utiliza a
forma de onda triangular. Nela são consideradas duas variáveis: o tempo de frente e o
tempo de decaimento.
Através da impedância harmônica, Z(ω), definida e calculada no domínio da
frequência e da forma de onda da corrente injetada, i(t), definida e modelada no domínio
do tempo, é possível realizar outros cálculos para simular o comportamento de parâmetros
importantes para determinar o desempenho do aterramento frente correntes impulsivas. A
50 Capítulo 3. Modelagem de aterramentos elétricos: uma abordagem de linhas de transmissão

Equação 3.9 modela o comportamento da forma de onda de tensão, no domínio do tempo,


através da aplicação de uma transformada direta de Fourier, aplicada na corrente, e de
uma transformada inversa de Fourier, aplicada no produto da impedância harmônica e da
corrente no domínio da frequência.

v(t) = F −1 {Z(ω)F{i(t)}} (3.9)

A partir da Equação 3.9, é possível determinar a curva da elevação de potencial no


aterramento (GPR) bem como as curvas da impedância impulsiva, determinada por meio
da Equação 2.7 e do coeficiente de impulso, definido pela Equação 2.8, que são relações
importantes para determinar o comprimento efetivo do eletrodo de aterramento.

3.3.2 Considerações adicionais


É importante resgatar o que foi explicado na seção 2.4, ou seja, mencionar que
os parâmetros do solo (condutividade e permissividade) são fortemente dependentes da
variação da frequência. Portanto, o cálculo das Equações 3.6 e 3.7 depende de ρ e de ε,
que são dependentes de f . Neste trabalho, esta dependência é modelada por meio das
equações apresentadas por Alípio e Visacro [43]. Portanto, a condutividade é calculada por
meio da Equação 3.10 e a permissividade relativa é calculada por meio da Equação 3.11.


f
σ = σ0 + σ0 × h(σ0 ) (3.10)
1M Hz

0
ε tan(πδ/2) × 10−3
εr = ∞ + σ0 × h(σ0 )f δ−1 (3.11)
ε0 2πε0 (1M Hz)δ

Onde:

• σ é a condutividade do solo em mS/m;

• σ0 é a condutividade do solo em mS/m para baixas frequências (100Hz);

• εr é a permissividade relativa;
0
• ε∞ /ε0 é a permissividade relativa para altas frequências;

• ε0 é a permissividade do vácuo;

• f é a frequência em Hz.

Em relação às Equações 3.10 e 3.11 deve-se fazer algumas considerações. Os


0
parâmetros h(σ0 ), δ e ε∞ /ε0 devem ser escolhidos de acordo com o objetivo. Observando
3.4. Implementação computacional 51

as dispersões de três modelos obtidos em [43], este trabalho considera resultados médios e
por isso utiliza a função h1 (σ0 ) apresentada por Alípio e Visacro, modelada na Equação
0
3.12. Além disso, também para resultados médios, os valores dos parâmetros δ e ε∞ /ε0
considerados são, respectivamente, 0, 54 e 12.

h(σ0 ) = 1, 26 × σ0−0,73 (3.12)

3.4 Implementação computacional


A modelagem apresentada na seção 3.3 possui características adequadas para que
seja realizada sua implementação computacional. Apresenta-se a seguir os aspectos básicos
da ferramenta computacional que implementa modelagem descrita.

3.4.1 Aspectos computacionais


O procedimento implementado utiliza a linguagem de programação MATLAB R
e
consiste basicamente em três etapas: entrada de dados, realização dos cálculos de interesse
e apresentação dos resultados através de gráficos. O algoritmo descrito a seguir apresenta
os passos seguidos pela ferramenta computacional desenvolvida e o fluxograma da Figura
3.2 mostra esquematicamente o código base desenvolvido através da síntese apresentado
na seção 3.3.

1. Entrada de dados;

a) Geometria do aterramento (l, a e d);


b) Constantes eletromagnéticas (µ0 e ε0 );
c) Tempo de frente (tf )e tempo de cauda (tc ) da forma de onda de corrente
injetada;
0
d) Constantes do modelo dos parâmetros do solo (σ0 , h(σ0 ), δ e ε∞ /ε0 )

2. Transformação da forma de onda de corrente injetada para o domínio da frequência


(F{i(t)})

3. Para cada frequência:

a) Cálculo dos parâmetros elétricos do solo (σ e ε)


i. Para cada comprimento:
A. Cálculo dos parâmetros do modelo de linhas de transmissão (G, C, L,
Z0 , γ e Z);
B. Cálculo da tensão no domínio da frequência (Z(ω)F{i(t)});
52 Capítulo 3. Modelagem de aterramentos elétricos: uma abordagem de linhas de transmissão

C. Transformação da forma de onda de tensão para o domínio do tempo


(F −1 {V (ω)})
D. Cálculo da impedância impulsiva (ZP )
E. Cálculo da resistência de aterramento (RT )
F. Cálculo do coeficiente de impulso (IC )
G. Cálculo do comprimento efetivo (lef )
ii. Fim 2
b) Fim 1

3.5 Conclusões
Neste capítulo foram apresentadas as características de uma síntese matemática
desenvolvida com base na teoria de linhas de transmissão, que permite a avaliação da
resposta de sistemas de aterramento frente a fenômenos transitórios de alta frequência
(correntes impulsivas).
3.5. Conclusões 53

Início

Entrada de Dados
• Geometria do aterramento
• Constantes eletromagnéticas
• Faixa de frequência de interesse
• Forma de onda da corrente injetada
• Constantes dos parâmetros do solo

Cálculo da corrente no Cálculos para cada frequência


domínio da frequência • Parâmetros elétricos do solo

Cálculos para cada comprimento


• Parâmetros elétricos do modelo
• Tensão no domínio da frequência
• Tensão no domínio do tempo
• Impedância impulsiva
• Resistência de aterramento
• Coeficiente de impulso

Resultados Possíveis
• Gráfico de ZP x l Varreu
• Gráfico de IC x l todos os Não
• Gráfico de Z(ω) x f compri-
• Cálculo de lef mentos?
• Gráfico de GPR

Sim
Fim

Varreu
todas as Não
frequên-
cias?

Sim

Figura 3.2 – Fluxograma do algoritmo da ferramenta computacional desenvolvida.


55

4 Resultados

4.1 Introdução
Apresenta-se neste capítulo os resultados obtidos pela aplicação da ferramenta com-
putacional desenvolvida com base na síntese descrita no Capítulo 3, considerando arranjos
de aterramento compostos por eletrodos horizontais. Os resultados são apresentados em
termos de curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo. Tais
curvas são avaliadas considerando-se diferentes valores de resistividade em baixa frequência
(ρ0 = 1/σ0 ), correntes com tempos de frente representativos de primeiras descargas e
descargas subsequentes e uma ampla faixa de comprimento de eletrodos. Adicionalmente,
com o intuito de avaliar os limites de aplicabilidade da teoria de linhas de transmissão
para avaliação do comportamento impulsivo de eletrodos de aterramento, os resultados
obtidos neste capítulo são comparados com aqueles determinados pela aplicação da teoria
de campo, conforme desenvolvimentos de Alípio e outros em [2] e [15].

4.2 Parâmetros de simulação


O arranjo básico de aterramento de interesse neste trabalho consiste em eletrodos
enterrados horizontalmente no solo. Esse arranjo é representativo do aterramento de
torres de linhas de transmissão, constituído por cabos contrapeso. Considerando esse
arranjo, avalia-se a sensibilidade da impedância impulsiva com relação a variações no
valor da resistividade do solo, comprimento do eletrodo e corrente injetada. Nas subseções
a seguir são especificadas as faixas consideradas para avaliação dos parâmetros citados
(resistividade, comprimento do eletrodo e corrente injetada) e detalhes adicionais relativos
às modelagens empregadas.

4.2.1 Resistividades de solo


Consideram-se os seguintes valores de resistividade do solo em baixa frequência
(ρ0 = 1/σ0 ): 300 Ω.m, 1000 Ω.m, 2400 Ω.m e 5000 Ω.m. Os valores adotados para
resistividade do solo têm o objetivo de contemplar desde solos de baixa resistividade até
solos de resistividade elevada, passando por valores típicos como 1000 Ω.m (valor médio
para o território brasileiro) e 2400 Ω.m (valor médio para o estado de Minas Gerais) [44] e
[45].
É importante, ainda, ressaltar que para este trabalho a resistividade e a permissivi-
dade do solo variam em função da frequência e respeitam o comportamento indicado nas
56 Capítulo 4. Resultados

Equações 3.10 e 3.11; já a permeabilidade magnética do solo é mantida constante e igual a


do vácuo (µ0 = 4π × 10−7 H/m).

4.2.2 Faixa de comprimentos de eletrodo


Avaliam-se comprimentos de eletrodo entre 5 m e 150 m. Os comprimentos mais
elevados são necessários para o caso de solos de resistividade mais alta, que levam a
comprimentos efetivos mais extensos, sobretudo no caso de ondas de corrente lentas
(representativas de primeiras descargas). Em todos os casos os eletrodos possuem raio de 7
mm e estão enterrados a 0, 5 m de profundidade no solo.
Vale salientar que, no caso do programa computacional desenvolvido no Capítulo
3, adotou-se um passo de 0, 5 m nas simulações. No caso da teoria de campo, o passo
adotado foi de 2, 5 m em função do maior esforço computacional.

4.2.3 Onda de corrente injetada


Considerando os trabalhos técnicos que avaliam o comportamento de sistemas de
aterramento frente a correntes de descargas atmosféricas, não há uma padronização das
formas de onda de corrente utilizadas em simulações, principalmente na região mais crítica,
que é a frente da onda. Normalmente, são encontrados principalmente três tipos de onda:
triangular, função de Heidler e função dupla exponencial [46].
Neste trabalho, optou-se por utilizar uma forma de onda corrente triangular em
função de dois aspectos principais, quais sejam, simplicidade de implementação e facilidade
de variação do tempo de frente da onda.
A onda triangular, ilustrada na Figura 4.1, é descrita pela equação 4.1, em que
Ipico é o valor de pico da corrente e tf e tc são, respectivamente, os tempos de frente e de
cauda da onda.

i(t)
Ipico

Ipico
2

tf tc t

Figura 4.1 – Aspectos básicos de uma forma de onda triangular.


4.3. Resultados e Análises 57

Ipico


 t , t ≤ tf
tf


i(t) = 0, 5t 0, 5tf
! (4.1)
− + + 1 , t > tf


 Ipico
tc − tf tc − tf

Utilizando a função indicada na Equação 4.1 são obtidas as formas de onda indicadas
na Figura 4.2. Ambas possuem amplitude normalizada de 1 kA sendo que: a primeira é
típica para primeiras descargas, possuindo tempo de frente de 5 µs e a segunda é típica de
descargas de retorno subsequentes, possuindo tempo de frente de 1 µs. Estes tempos de
frente aproximam-se dos tempos de frente associados às medições realizadas na Estação
do Morro do Cachimbo, no Brasil [44] e, por isso, são utilizados neste trabalho. O tempo
de cauda pouco influencia no comportamento transitório do sistema de aterramento; desta
maneira, para ambas formas de onda o tempo de cauda (tc ) considerado é de 50 µs [2].

Descarga de retorno subsequente Descarga de retorno subsequente


1100 1100
1000 1000
900 900
800 800
Amplitude (A)

Amplitude (A)

700 700
600 600
500 500
400 400
300 300
200 200
100 100
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
tempo (µs) tempo (µs)
(a) tf = 5 µs (b) tf = 1 µs

Figura 4.2 – Formas de onda características para (a) primeira descarga e (b) descarga de
retorno subsequente.

4.3 Resultados e Análises


A impedância impulsiva, Zp , conforme a definição indicada no Capítulo 2, é a razão
entre os picos de tensão e de corrente no ponto de injeção de corrente e seu conceito é
originalmente definido no domínio do tempo. Este é um parâmetro muito importante
para a análise de sistemas de aterramento porque, por meio dele, é possível estimar de
maneira rápida o valor máximo da sobretensão no ponto de injeção apenas multiplicando
o valor de pico da corrente por ZP . Além disso, muitas vezes a impedância impulsiva pode
ser utilizada como uma melhor representação do aterramento para estudos envolvendo
descargas atmosféricas, em relação à utilização do parâmetro resistência de aterramento
A Figura 4.3 apresenta as curvas de impedância impulsiva (Zp ) em função do
comprimento do eletrodo considerando diferentes combinações de tempo de frente da onda
58 Capítulo 4. Resultados

de corrente injetada e resistividade do solo em baixas frequências. As curvas tracejadas


correspondem aos resultados obtidos aplicando-se a síntese matemática descrita no Capítulo
3 e a as curvas contínuas correspondem aos resultados obtidos aplicando-se a teoria de
campo, conforme Alípio [15]. Como indicado na seção anterior, são considerados dois
tempos de frente (5 µs e 1 µs) e quatro resistividades do solo (300 Ω.m, 1000 Ω.m, 2400
Ω.m e 5000 Ω.m. Esse tipo de gráfico, ZP versus l, é bastante importante e útil do ponto
de vista prático, inclusive quando se deseja determinar o comprimento efetivo de eletrodos
de aterramento horizontais.
Antes de iniciar as análises propriamente ditas dos resultados obtidos, é impor-
tante ressaltar que as curvas da Figura 4.3 representam de forma compacta/resumida o
comportamento impulsivo do aterramento. Vale enfatizar, também, que para obtenção
dessas curvas algumas dezenas de centenas de simulações foram realizadas. (Para cada
comprimento de eletrodo determina-se, primeiramente, a impedância harmônica para uma
dada faixa de frequências, depois o fasor de GP R, em seguida o GP R no domínio do
tempo e, finalmente, a impedância impulsiva.)
A análise dos resultados ilustrados Figura 4.3 a seguir é dividida em duas partes.
A primeira destaca a consistência física dos resultados obtidos a partir da aplicação da
teoria de linhas de transmissão e a segunda discute os limites de aplicação dessa teoria,
tendo como base a teoria de campo.

4.3.1 Análise física dos resultados

De acordo com os resultados obtidos pela aplicação da síntese matemática desen-


volvida no Capítulo 3, quanto maior o valor de resistividade de solo, maior o valor de
impedância impulsiva. Também, pode-se observar que a impedância impulsiva decresce
com o aumento do comprimento do eletrodo até determinado ponto, a partir do qual
acréscimos posteriores não implicam redução de ZP . Tal limiar indica o comprimento
efetivo do eletrodo, lef .
Conforme pode ser observado, o comprimento efetivo é menor para solos de maior
condutividade e ondas de corrente mais rápidas (no caso, onda de tempo de frente de 1
µs). Essa observação pode ser imediatamente compreendida tendo em conta que o conceito
de comprimento efetivo está intimamente ligado ao fenômeno de atenuação das ondas
que se propagam ao longo do eletrodo. Quanto mais intensa essa atenuação, menor é
o comprimento efetivo. Assim, espera-se que o comprimento efetivo seja tanto menor
quanto maior for a condutividade do solo (menor resistividade), mantendo-se fixa a onda
de corrente. Por outro lado, para um dado solo, quanto mais rápida a onda de corrente
(menor tempo de frente), menor é o comprimento efetivo, uma vez que ondas mais rápidas
têm componentes de frequência mais elevada associados.
4.3. Resultados e Análises 59

Dos comentários anteriores e considerando referências clássicas sobre o tema [40],


pode-se concluir que os resultados providos pela síntese desenvolvida e implementada no
Capítulo 3 são fisicamente consistentes.
60 Capítulo 4. Resultados

70 70
Teoria de Campo Teoria de Campo
60 Teoria de LT 60 Teoria de LT

50 50

40 40
Zp (Ω)

Zp (Ω)
30 30

20 20

10 10

0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Comprimento do eletrodo (m) Comprimento do eletrodo (m)

(a) tf = 5µs e ρ0 = 300 Ω.m (b) tf = 1µs e ρ0 = 300 Ω.m

220 220
Teoria de Campo Teoria de Campo
200 200
Teoria de LT Teoria de LT
180 180
160 160
140 140
Zp (Ω)

120 Zp (Ω) 120


100 100
80 80
60 60
40 40
20 20
0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Comprimento do eletrodo (m) Comprimento do eletrodo (m)

(c) tf = 5µs e ρ0 = 1000 Ω.m (d) tf = 1µs e ρ0 = 1000 Ω.m

500 500
Teoria de Campo Teoria de Campo
Teoria de LT Teoria de LT
400 400

300 300
Zp (Ω)

Zp (Ω)

200 200

100 100

0 0
0 50 100 150 0 20 40 60 80 100
Comprimento do eletrodo (m) Comprimento do eletrodo (m)

(e) tf = 5µs e ρ0 = 2400 Ω.m (f) tf = 1µs e ρ0 = 2400 Ω.m

1000 1000
Teoria de Campo Teoria de Campo
900 Teoria de LT 900 Teoria de LT
800 800
700 700
600 600
Zp (Ω)

Zp (Ω)

500 500
400 400
300 300
200 200
100 100
0 0
0 50 100 150 0 50 100 150
Comprimento do eletrodo (m) Comprimento do eletrodo (m)

(g) tf = 5µs e ρ0 = 5000 Ω.m (h) tf = 1µs e ρ0 = 5000 Ω.m

Figura 4.3 – Curvas da impedância impulsiva (ZP ) de eletrodos de aterramento horizontais


submetidos a correntes representativas de primeiras descargas de retorno
(esquerda) e descargas subsequentes (direita) para solos de resistividade ρ0
de: (a) e (b) 300 Ω.m, (c) e (d) 1000 Ω.m, (e) e (f) 2400 Ω.m e (g) e (h) 5000
Ω.m.
4.4. Considerações finais 61

4.3.2 Aplicabilidade da síntese matemática


A Figura 4.3 compara os resultados de impedância impulsiva obtidos a partir
da modelagem de linhas de transmissão, Capítulo 3, e aquelas obtidos a partir de uma
formulação de campo, Alípio [2]. Tomando como referência a modelagem de campo, pode-se
observar que a síntese matemática simplificada, baseado na teoria de linhas, indica um
comprimento efetivo um pouco superior. Contudo, para comprimentos inferiores ao efetivo,
a teoria de linhas fornece resultados em excelente concordância com aqueles derivados
da teoria de campo. De modo geral, os erros são menores no caso da onda mais lenta,
representativa de primeiras descargas de retorno.
Quando se comparam a abordagem de campo e a abordagem de linhas de trans-
missão, é interessante ressaltar que as do primeiro tipo, embora forneçam resultados mais
exatos, demandam grande tempo de simulação devido ao elevado esforço computacional,
sobretudo no caso de aterramentos mais extensos. Por outro lado, de acordo com os
resultados apresentados, em uma primeira aproximação, a metodologia de linhas de trans-
missão fornece excelentes resultados em termos de estimativa da impedância impulsiva de
aterramento de eletrodos de aterramento. Note-se que, do ponto de vista de engenharia
aplicada, é desejável o emprego de abordagens que forneçam respostas rápidas para a
solução de alguns problemas sem, contudo, perda de qualidade dos resultados providos.
Embora os resultados tenham sido obtidos para eletrodos horizontais simples, eles
podem ser utilizados como uma primeira aproximação para avaliação do comportamento
impulsivo de arranjos mais complexos compostos por eletrodos horizontais, tais como
aterramentos de torres de linhas de transmissão e anéis de Sistemas de Proteção contra
Descargas Atmosféricas (SPDA).

4.4 Considerações finais


Apresentou-se neste capítulo resultados do comportamento impulsivo de eletrodos
de aterramento obtidos pela aplicação da ferramenta computacional desenvolvida com base
na modelagem de linhas de transmissão descrita no Capítulo 3. Dos resultados obtidos,
duas principais conclusões podem ser esboçadas.
Primeiro, a modelagem desenvolvida fornece resultados fisicamente consistentes do
comportamento impulsivo de eletrodo de aterramento, tendo em conta outros trabalhos
consagrados na literatura.
Segundo, considerando resultados obtidos pela aplicação da teoria de campo, pode-
se afirmar que a ferramenta fornece resultados com excelente exatidão para eletrodos com
comprimento inferior ao efetivo. Além disso, os erros são menores no caso de ondas de
corrente mais lentas, tais como aquelas de primeiras descargas de retorno.
63

5 Conclusões

Este trabalho concentrou-se na modelagem do comportamento de eletrodos de


aterramento frente a corrente de descarga atmosféricas, aplicando-se a teoria de linhas de
transmissão. Adicionalmente, compararam-se os resultados obtidos pela teoria de linhas
de transmissão com aqueles determinados pela aplicação da teoria de campo.
Os principais resultados deste trabalho são:

• Implementação de um código computacional que permite calcular a impedância


impulsiva e estimar o comprimento efetivo de eletrodo horizontais de aterramento. De
acordo com análises realizadas e comparação com resultados clássicos da literatura,
o código fornece resultados fisicamente consistentes do comportamento impulsivo de
eletrodos de aterramento;

• Comparação entre resultados obtidos para o comportamento de eletrodos de aterra-


mento frente a correntes de descargas, considerando a teoria de linhas de transmissão
e a teoria de campo. De acordo com os resultados obtidos, para comprimentos de
eletrodo inferiores ao efetivo, a teoria de linhas fornece resultados em excelente
concordância com aqueles derivados da teoria de campo. Adicionalmente, os erros são
menores para ondas de corrente representativas de primeiras descargas de retorno.

5.1 propostas de continuidade


Tendo em vista as realizações deste trabalho e a experiência adquirida durante este
Trabalho de Conclusão de Curso, julga-se que alguns itens merecem explorações adicionais,
podendo-se citar, dentre estes:

• Avaliação de outras formas de onda mais representativas de correntes reais empre-


gando, por exemplo, funções de Heidler, funções mais representativas ou, até mesmo,
resultados de medições.

• Obtenção de fórmulas práticas para cálculo aproximado do valor da impedância


impulsiva de eletrodos de aterramento.

• Extensão da modelagem de aterramento desenvolvida para arranjos compostos por


conjuntos de eletrodos horizontais, tais como aterramentos de torres de linhas de
transmissão e de Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosféricas.
65

Referências

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