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Resumo: A falta de leitura e o desinteresse por ela podem ser ocasionados pela influência das novas
tecnologias. Com base nesta premissa, os professores, em suas práticas pedagógicas, devem usar
as ferramentas digitais como aliadas. Muitas vezes, não há incentivo do ato de ler na família que,
apesar de reconhecer a importância da leitura, não dá a ela o seu devido valor. Mas não podemos
negar que, infelizmente, o desprazer pela leitura é reforçado, principalmente, na própria escola, que a
trata de maneira obrigatória e desagradável, afastando os alunos, cada vez mais, do prazer e,
consequentemente, da prática leitora. É, portanto, tarefa urgente, buscar diferentes maneiras de
estimular os estudantes de forma que, conscientes de sua importância, façam da leitura uma
necessidade para a sua vida, pois, sem ela, um indivíduo não consegue sobreviver numa sociedade
letrada, competitiva e excludente como a da atualidade. Compreende-se que o ato de ler, por si só,
não basta, é preciso despertar no educando o gosto pela leitura. E para que isso aconteça, é
necessário que o professor seja um leitor de fato e esteja disposto e preparado para estimular e
mediar a leitura, através de situações significativas.
1
Professora PDE 2012, com Graduação em Letras – Português/Inglês e Especialização em Metodologias para o
Ensino de 1º e 2º Grau. Atua na Rede Publica de Ensino do Estado do Paraná, no Colégio Estadual
Desembargador Clotário Portugal, em Campo Largo.
2
Professora da UFPR – Setor Litoral, Mestre em Literatura Brasileira pela UFPR.
Partindo do pressuposto teórico de que o professor deve ser o principal
promotor de leitura e formador do público leitor, Silva (2003), afirma que cabe ao
educador a responsabilidade de despertar o desejo de ler nos alunos, porém isso
não pode ficar apenas no desejo. Ele deve conduzir os estudantes para as
competências do “ler bem” para que eles passem a “ler muito” ao longo de sua vida.
Ezequiel Theodoro da Silva também afirma que a escola tem mais
responsabilidade na formação leitora das crianças do que a família, quando diz:
Parafraseando Silva (2009), naquela escola, o aluno não podia dar sua
opinião, fazer uma crítica e, muitas vezes, não podia tirar suas dúvidas em relação
ao que lhe era ensinado. Só podia calar e obedecer, caso contrário, eram-lhe
aplicados castigos como ficar de joelhos sobre grãos de milho, dar bolos com a
palmatória ou desfilar nas ruas com orelhas de burro, seguido pelos olhares e vaias
das pessoas que por ali passavam.
Ainda de acordo com Silva (2009), nada se aprendia naquela escola
tradicional e conteudista. Sintaxe, geografia, álgebra, física, retórica, francês, lições
orais e escritas eram despejadas para os alunos sem muitas explicações. Não havia
estímulos ou prêmios, mas, sim, punição imediata para os alunos faltosos e para
aqueles que eram considerados incompetentes.
No poema “Minha Escola”, escrito pelo pernambucano Ascenso Ferreira,
citado por Silva (2009), pode-se observar o ambiente escolar sombrio e hostil
daquela época e como o aluno se sentia naquele espaço.
Durante muito tempo, o modelo de educação no Brasil era puramente
tradicional e, muitas vezes, não valorizava os alunos como seres humanos. Hoje, os
alunos conquistaram seu espaço na escola, ganharam mais liberdade de expressão
e respeito. Estão inseridos nos conteúdos das disciplinas do currículo, além das
matérias obrigatórias, conhecimentos que o aluno levará para sua vida. Além disso,
Aprende-se o respeito aos direitos das pessoas e a solidariedade entre os
povos, e também se aprende a refletir, a formar uma consciência crítica e a
ter coragem de expor e defender o próprio ponto de vista. Não é a isto que
chamamos formar o cidadão? (SILVA, 2009, p. 29)
Nunca é tarde lembrar que uma seleção de textos, por melhor que seja, não
funciona por si mesma nos espaços escolares. Ela precisa do mediador –
professor (você!) para orientar de modo que o prazer e a fruição realmente
aconteçam durante as aventuras da leitura do grupo; de forma que o
material possa ser aproveitado ao máximo na situação de ensino-
aprendizagem, sem perder a sua capacidade de acender mais luzes para
compreensão da vida. (SILVA, 2003, p. 77)
[...] que o professor tome a literatura como uma experiência e não como um
conteúdo a ser avaliado. Desse modo, é a leitura literária feita pelo aluno
que está no centro do processo de ensino e aprendizagem, devendo a
avaliação buscar registrar seus avanços para ampliá-los e suas dificuldades
para superá-las. O professor não deve procurar pelas respostas certas, mas
sim pela interpretação a que o aluno chegou, como ele pensou aquilo. O
objetivo maior da avaliação é engajar o estudante na leitura literária e dividir
esse engajamento com o professor e os colegas – a comunidade de
leitores. (COSSON, 2011, p. 113).
A conotação positiva que antes se tinha da leitura, torna-se, com o passar dos
anos, negativa. O livro que era uma opção de lazer, sem vínculos com a escola,
passa a ter tonalidade do dever. Esse é o fator que mais interfere na formação do
leitor.
Para Geraldi (2011), vivemos em um sistema capitalista onde o que importa
em uma atividade, é o produto. Assim, excluiu-se, da grande maioria da população,
a leitura como prazer e somente alguns podem usufruir dela. E a escola, seguindo e
preparando os alunos para esse mesmo sistema, exclui de suas práticas, qualquer
atividade que não seja lucrativa.
Diante dessas considerações, Ezequiel Theodoro da Silva, constata:
De acordo com essa mesma linha de pensamento, Maria (2002, p. 33), afirma
que: “Mais que ensinar, é preciso apenas que o professor não impeça a criança de
aprender, que não deixe que se perca, no cotidiano escolar, a curiosidade natural
das crianças.” Se seguirmos pelo caminho da imposição e do autoritarismo, o que
ensinaremos para nossos jovens será uma leitura falida e inoperante. Não há
educação no silêncio, na imposição de fórmulas prontas, na repetição mecânica, no
hábito conservador e oposto ao progresso. Se agirmos dessa maneira, afastaremos
o aluno do mundo letrado.
O especialista em leitura, Ezequiel Theodoro da Silva (2003, p. 57), nos leva a
analisar o que a gramática representa para a literatura: “[...] os textos literários não
foram escritos para ser dissecados pela gramática, mas sim para mover a fantasia
dos leitores e aumentar a sua sensibilidade para uma melhor compreensão da vida
social.”
Seguindo essa premissa, percebemos que não podemos formar leitores
através de atividades impostas, mecânicas e repetitivas:
Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
sempre relacionadas com a língua. Não é de surpreender que o caráter e os
modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da
atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A
utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos),
concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da
atividade humana. (BAKHTIN, 2000, p. 279)
Nesse contexto, não devemos negar a leitura digital na esfera social, mas sim
adequá-la a fim de que traga, aos nossos estudantes, mais capacidade
argumentativa. Espera-se que, ao fazer uso das tecnologias ocorram, na vida das
pessoas, mudanças positivas e que, sendo um ambiente social, novos caminhos
sejam abertos, que ocorra a participação, interação e publicação de ideias.
Diante dessas considerações, concluímos que devemos fazer com que as
ferramentas digitais contribuam, de forma significativa na formação e na educação
de nossos jovens. E cabe à escola fazer com que os alunos-leitores superem as
expectativas do domínio da leitura, e que, através de suas práticas leitoras,
interajam com os suportes de difusão de informação, de forma democrática, como
direito de todos.
No entanto, há muita contradição entre o mundo globalizado e nossa
realidade, pois conforme consta nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa:
Ainda sob essa perspectiva, a autora nos leva a refletir que não faz tanto
tempo que a condição para o indivíduo ser considerado alfabetizado, limitava-se ao
ensino das primeiras letras e que soubesse “desenhar” seu próprio nome. Hoje,
porém, isso não é o suficiente:
Como nos relata, ainda, tão sabiamente, Maria (2002) sobre o ato de ler e
escrever: “Leitura é exercício de condição de pensar, é alimento para a imaginação.
É refinamento do espírito. De nada servem normas de “como” escrever, a quem não
tem “o que” dizer.”
Para Marisa Lajolo, citada por Geraldi:
Defendendo a leitura em seu sentido amplo, Bakhtin nos leva a refletir que:
Freire (2005) ainda nos leva a refletir que se os educandos têm o direito de
falar, os professores têm o dever de escutá-los, porém sem cobranças posteriores.
Nesse sentido, escutá-los seria falar com eles e não falar para eles. Dizer-lhes
palavras que não tenham sentido arrogantes, colocando-os em posição inferior,
afirmando o elitismo, o autoritarismo da classe dominante. Freire afirma que
ninguém sabe tudo e ninguém ignora tudo, portanto não podemos separar o ato de
ensinar do ato de aprender.
A tarefa ambiciosa da escola é formar leitores, porém, isso não se faz do dia
para noite, é uma conquista que se realiza a longo prazo, com muito esforço e
empenho da escola, do professor. Vejamos o que Luzia de Maria nos orienta:
Implementação do Projeto
No processo de Implementação do Projeto: A formação do professor como
mediador da leitura, pode-se perceber boa aceitação por parte dos integrantes da
Equipe Multidisciplinar, em relação às propostas apresentadas. Foram realizadas
conversas informais e apresentações de materiais teóricos embasados em autores
que abordam o tema leitura. Durante as reuniões, foram realizadas rodas de leitura e
surgiram muitas ideias, através das atividades efetivadas, de como levar o aluno a
ser um leitor para a vida toda. Os integrantes da Equipe Multidisciplinar organizaram,
no Colégio, uma campanha de doação de livros para a biblioteca, onde arrecadaram
482 livros.
Foram organizados momentos de leitura, na biblioteca, durante os quais, os
professores faziam a leitura de contos aos alunos e os levavam a refletir sobre a
importância que a leitura tem na vida das pessoas. Através do Projeto Ler e Pensar,
realizado pela Gazeta do Povo, o Colégio recebe, diariamente, dois exemplares
deste jornal, os quais ficam na biblioteca para que os alunos possam, através da
leitura, estar sempre informados de fatos que acontecem em Curitiba e no mundo.
Houve, inclusive, depoimentos de professores e alunos onde relataram como a
leitura foi introduzida em suas vidas. Os alunos reconheceram o quanto é importante
o incentivo do professor para que eles se interessem pela leitura e se tornem
leitores.
A Implementação do Projeto levou os professores a refletirem sobre a
importância da leitura para eles próprios, pois antes de “cobrar” a leitura de seus
alunos, é preciso acreditar em seu poder e ser, primeiramente, um leitor. Os
professores também entenderam que a leitura não pode ser feita de forma
mecânica, ler apenas por ler, ou ainda, realizada como cobrança ou castigo. Assim,
devem rever suas práticas pedagógicas, de forma que seus alunos tomem gosto
pela leitura e percebam que é a partir dela que eles farão diferença na sociedade
atual, tão competitiva e letrada.
Considerações Finais
Formar leitores no mundo atual, não é tarefa fácil, pois vivemos num sistema
complexo, articulado e com a evolução da tecnologia, a Internet está cada vez mais
presente na vida das pessoas. Com a presença massiva dos recursos midiáticos no
dia-a-dia das pessoas, é inevitável que as culturas sociais se alterem, pois a
sociedade encontra novas maneiras de transmitir informações e gerar
conhecimento. E, acostumados ao imediatismo, às imagens instantâneas, ao som,
às novas tecnologias, torna-se cada vez mais difícil, para nossos alunos, a leitura de
livros. Para reverter esta nova realidade, faz-se necessário que o professor aprenda
a utilizar as tecnologias da informação e comunicação (TICs), para mediar a leitura,
pois as novas gerações de estudantes estão cada vez mais conectadas a essas
novidades. É preciso que o professor seja um articulador dos conhecimentos e use
as ferramentas digitais de forma que venham a contribuir, de maneira eficaz, na
formação leitora dos alunos.
Com pai e mãe trabalhando, muitas responsabilidades que antes eram da
família, são repassadas à escola. A leitura é uma destas responsabilidades. Com a
correria da modernidade, nem todos os pais leem para seus filhos, compram livros,
levam-nos a uma livraria, biblioteca, ou mesmo, os incentivam a ler. Por isso, os
professores devem estar dispostos e preparados para estimular e mediar os alunos,
através de situações significativas de leitura, para que eles possam perceber o real
valor do ato de ler. Assim, o objetivo da leitura na escola é preparar um aluno que
seja sujeito da formação de sua própria história, crítico, reflexivo, pesquisador e que,
através da prática leitora, desenvolva competências e habilidades para atuar, de
forma consciente, na sociedade.
Muitos autores afirmam que a escola tem grande parcela de culpa em afastar
o aluno da leitura, quando a impõe. Mudar isso significa resgatar a leitura como
fruição, isto é, o ler pelo ler, sem cobranças, simplesmente pelo prazer que a leitura
proporciona. E é exatamente essa ausência de cobrança, esse desinteresse pelo
controle do resultado da leitura, que desperta o interesse, o gosto pela prática
leitora.
O objetivo do professor, não é ter competência para ensinar leitura através de
práticas mecânicas e impostas, mas sim ser um mediador e organizar práticas
leitoras que possibilitem, aos alunos, aperfeiçoar seus conhecimentos e ao mesmo
tempo incorporar na sala de aula aquilo que aprendem fora dela. As mudanças
estão aí e precisamos fazer com que elas sejam facilitadoras da aprendizagem.
Sendo assim, o professor deve buscar leituras do contexto de seus alunos e
elaborar diversas atividades com estes textos, interagindo com os recursos
tecnológicos que a escola dispõe. Além de mediar e realizar práticas que despertem
no aluno o gosto pela leitura, o professor deve ser um leitor de fato, pois não poderá
ofertar aos alunos aquilo que ele próprio não tem.
Referências
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. 3 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 1 ed. São Paulo: Contexto,
2011.
GERALDI, João Wanderley; et al. O texto na sala de aula. 5 ed. São Paulo: Ática,
2011.
MARIA, Luzia de. Leitura & colheita: livros, leitura e formação de leitores.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2002.