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Democracia e Direitos Humanos:

desafios para a Museologia e para os Museus

Democracia e Direitos Humanos: desafios


para a Museologia e os museus

Kátia Regina Felipini Neves1


DOI 10.26512/museologia.v8i16.27321
220
Resumo Abstract
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 8, nº16, Jul./ Dez. de 2019

O artigo reflete sobre Democracia e Direitos The article looks into the reflections on De-
Humanos e a crise na contemporaneidade. mocracy and Human Rights, as well as the
Questiona as instituições museológicas, em contemporary identity crisis. Its main ques-
que a maioria ainda não assumiu como parte tions involves the museological institutions,
de sua missão colaborar na formação de cida- many of them which did not assume yet, as
dã/os para a valorização dos princípios demo- part of their mission, to collaborate in citi-
cráticos e do respeito aos direitos humanos, zenship education to value the democratic
deixando essa responsabilidade a cargo das principles and the respect of Human Rights,
instituições criadas para essa finalidade. Co- leaving this responsibility to the already for-
loca aos museus o desafio de continuar com med institutions who have these targets as
sua trajetória de transgressões, assumindo a aim. The article focus on the challenges put
temática dos direitos humanos nas ações mu- to the Museums to continue a rod to trans-
seológicas de forma sistêmica e problematiza gression, assuming fully the Human Rights
de que forma as Universidades podem inserir themes as part of their systemic actions and
a temática nos seus três pilares – ensino, pes- emphasize the three pillars of the Universities
quisa e extensão –, especialmente na forma- – education, research and extension - in the
ção em Museologia. museology formal education.

Palavras-Chave: Keywords:
Democracia. Direitos Humanos. Lugares de Democracy. Human rights. Sites of Memory.
Memória. Museus. Museologia. Museums. Museology.

Falar sobre democracia implica pensar a respeito das características que


qualificam um Estado, uma Nação, como democráticos e a sua relação com os
direitos humanos. A partir daí, refletir sobre o nosso papel, como profissionais
do campo da Museologia e dos museus, em colaborar na formação dos cidadãos
para que valorizem os princípios democráticos e os direitos humanos. São estas
algumas das questões que pretendo desenvolver neste artigo. Para tanto, come-
ço com duas perguntas – 1) Vivemos em uma democracia? 2) Que países são, de
fato, democráticos? – e uma afirmação: vivemos um período antidemocrático.
Democracia é mais que eleições, embora estas sejam um dos indica-
dores que diferenciam os estados autocráticos e de exceção. Para analisarmos
essa assertiva, tomaremos a teoria das regras constitutivas da democracia de
Norberto Bobbio2, em virtude de sua contribuição de extrema relevância para
a compreensão da democracia dos Estados modernos (Cf. Bobbio, 1983). Cha-
madas de “procedimentos universais” por se encontrarem em regimes demo-
cráticos, as seis regras, todas articuladas, têm sido pensadas como instrumento
1  Doutoranda em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, Portu-
gal. Diretora de Ações Museológicas do Núcleo de Preservação da Memória Política de São Paulo.
2  Norberto Bobbio foi filósofo, escritor e senador nascido em Turim, na Itália (1909 – 2004), que se dedi-
cou à filosofia do direito, à teoria política e à história do pensamento político.
Katia Regina Felipini Neves

para medir o grau de democracia dos regimes políticos contemporâneos. Para


Michelangelo Bovero3, também da Escola de Turim e discípulo de Bobbio, são
“geralmente consideradas a versão mais pontual e madura da chamada ‘concep-
ção processual’ ” (Bovero, 2009: 2-3). São elas: 1) Todos os cidadãos maiores de
idade devem desfrutar os direitos políticos (opinião própria e escolha de repre-
sentante); 2) O voto de todos os cidadãos deve ter o mesmo peso; 3) Todos os
cidadãos devem ser livres para poder votar; 4) Livres também no sentido de 221
escolher entre soluções diferentes; 5) Deve valer a regra da maioria numérica
tanto por decisão coletiva como por eleições; 6) Nenhuma decisão tomada
pela maioria deve limitar os direitos da minoria, particularmente o direito de se
tornar, por sua vez, maioria em igualdade de condições.
Para Bovero, mais que critérios puramente técnicos, as regras são base-
adas em escolhas de valores, os valores democráticos explicitados por Bobbio
como tolerância, não violência, renovação da sociedade pelo debate livre e fra-
ternidade, e aquelas implícitas nas regras, como igualdade e liberdade:

Corretamente democrático é o reconhecimento da dignidade polí-


tica igualitária de todos os indivíduos, da qual decorre a distribuição
igualitária do direito/poder de participar da formação das decisões
coletivas. Do mesmo modo, corretamente democrática é a liberda-
de positiva, que é a liberdade como autonomia, a capacidade de de-
terminar por si mesmo suas próprias opiniões e escolhas políticas,
e de fazê-las valer na cena pública. (Bovero, 2009: 5)

É possível garantir a efetiva observância ao conjunto de regras, o que de


fato tornaria um país democrático? Bobbio (1983) concluiu que nenhum regime
histórico conseguiu atender ao conjunto e, por isso, os regimes são mais ou
menos democráticos. Entretanto, mesmo que se distancie do ideal, não deve
ser confundido com um regime autocrático ou, tomando nossas experiências
pretéritas, de exceção.
Considerando a relação entre democracia e direitos humanos, tratare-
mos agora de um dos documentos mais importantes que temos nessa matéria:
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pelos 48 dos 56 países
membros (uma vez que 8 deles abstiveram-se de votar) que participaram da As-
sembleia Geral das Nações Unidas, em 1948. Esse documento fundador traz em
seus 30 artigos valores essenciais a todos os povos, e se baseia na universalidade
ideológica e cultural dos direitos. A partir desses valores que novas convenções
e pactos importantes, que detalham e ampliam os direitos, foram acordados en-
tre os países. Segundo Celso Lafer4, “foi um acontecimento histórico de grande
relevância. Ao afirmar, pela primeira vez em escala planetária, o papel dos direi-
tos humanos na convivência coletiva, pode ser considerada um evento inaugural
de uma nova concepção de vida internacional” (2008: 297).
Imbuídos dos ideais da Declaração, em 1949 é realizada pela Organiza-
ção das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), com
a colaboração dos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU),
a exposição “Les Droits de l’Homme”. Inaugurada no dia 30 de setembro de
1949, no Musée Galliéra, em Paris, França, tinha como objetivo representar vi-
3  Michelangelo Bovero é filósofo, escritor e professor de Filosofia na Universidade de Turim, Itália. Foi
assistente e colaborador de Norberto Bobbio.
4  Advogado, jurista, professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. É membro da
Academia Brasileira de Letras.
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sualmente a história e os temas, por vezes abstratos, dos artigos da Declaração


Universal dos Direitos Humanos. Segundo as curadoras Katrine K. Bregengaard
e Eva Prag5, que pesquisaram os arquivos da UNESCO para realizar a remonta-
gem da exposição em 2014, no Buell Hall Gallery, na Columbia University, em
Nova Iorque, Estados Unidos:

222 O layout da exposição guiou seus visitantes ao longo de uma tra-


jetória de tecelagem por meio de uma série de grandes pilares e
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instalações que ilustraram a história dos direitos humanos e os


30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos com
fotografias e documentos enviados pelos Estados-Membros da
UNESCO. Após o mostra inaugural em Paris, a exposição foi con-
vertida em um álbum de exibição portátil, reproduzido em 10.000
exemplares e enviado para os 50 Estados-membros da UNESCO.
Como um recurso pedagógico e móvel, o conteúdo do Álbum foi
projetado para ser descompactado e exibido em inúmeros locais
ao redor do mundo, incluindo escolas, museus, bibliotecas e ou-
tros ambientes institucionais para “ajudar a levar a mensagem de
direitos humanos de forma visual para os povos de muitos países”
(Jamie Torres Bodet, Diretor-Geral). (Tradução minha)6.

Entretanto, a exposição foi esquecida nos arquivos da UNESCO e, ao


que tudo indica, circulou somente até 1953.
Órgão auxiliar da ONU, a UNESCO foi criada em 1945, ao final da Se-
gunda Guerra Mundial (1939-1945), em reação à destruição das duas grandes
guerras, para preservar e difundir a educação, o patrimônio e a cultura. A ONU
teve como antecessora a Liga das Nações, uma organização internacional idea-
lizada em 28 de abril de 1919 e criada em Versailles, na França, com o objetivo
de unir todas as nações para a manutenção da paz e a resolução dos conflitos
internacionais. Em reunião no dia 18 de abril de 1946, a organização se auto-
dissolveu, por unanimidade, e suas responsabilidades foram passadas à ONU. A
UNESCO teve também como precursor o Instituto Internacional de Coopera-
ção Intelectual, que funcionou de 1921 a 1946 (Herreman, 2015). A UNESCO
atua nas áreas da Educação, Ciências Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Cul-
tura e Comunicação, e Informação.
A Convenção da UNESCO diz:

Que, como as guerras nascem no espírito dos homens, é no espíri-


to dos homens que devem ser erguidas as defesas da paz;
Que o desconhecimento recíproco dos povos tem sido sempre,

5  O projeto é organizado pelo Institute for the Study of Human Rights (Instituto de Direitos Humanos)
da Columbia University, e tem como objetivo “construir uma rede colaborativa e criativa de acadêmicos,
curadores, fotógrafos e organizações que explorem novas formas de expor e discutir o passado, presente
e futuro dos direitos humanos”. Para saber mais, acessar exhibithumanrights.org/theproject. A visita à ex-
posição foi parte da programação do Seminário Displaying Human Rights - Museums, Archives, And P O S T
- Dictatorship In Latin America, organizado por Joaquin Barriendos, entre os dias 24 e 26 de abril de 2014.
6  The layout of the exhibition guided its visitors along a weaving path through a series of large pillars and installa-
tions that illustrated the history of human rights and the UDHR’s 30 articles through photographs and documents
submitted by UNESCO’s Member States. After the inaugural show in Paris, the exhibition was converted into a por-
table exhibition album reproduced in 10.000 copies and sent to UNESCO’s 50 Member States. As a pedagogical,
mobile resource, the Album’s contents were designed to be unpacked and exhibited in a myriad of venues around
the world including schools, museums, libraries and other institutional settings to “help carry the human rights mes-
sage in visual form to the peoples of many countries.” (Jamie Torres Bodet, Director-General).”
Katia Regina Felipini Neves

através da história, causa da desconfiança entre as nações, daí re-


sultando que as disputas internacionais tenham, na maior parte dos
casos, degenerado em guerra;
Que a grande e terrível guerra agora terminada se tornou possível
pela negação do ideal democrático de dignidade, igualdade e respei-
to pela pessoa humana e pela proclamação, em vez dele e mediante
a exploração da ignorância e do preconceito, do dogma da desigual-
dade das raças e dos homens;
223
Que a difusão da cultura e a educação da humanidade para a justiça,
a liberdade e a paz são indispensáveis à dignidade humana e cons-
tituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir com
espírito de assistência mútua;
Que uma paz fundada exclusivamente sobre acordos políticos e
económicos, celebrados entre governos, não conseguirá assegurar
a adesão unânime, duradoura e sincera de todos os povos e, por
conseguinte, para que a paz subsista deverá assentar na solidarieda-
de intelectual e moral da humanidade. (Convenção... 1945)

Desta forma, a preservação do patrimônio com vistas à educação foi


parte da missão da UNESCO desde a criação e o seu protagonismo na produ-
ção de documentos e propostas de normatização de novos paradigmas para a
Museologia, em contexto global, a partir da segunda metade do século XX, é
indiscutível. (Cf. Primo, 2007)
Ainda dentro do clima de perda do patrimônio causadas pela Segunda
Grande Guerra, o sentimento da aceleração da história e a necessidade de
tudo preservar para nada esquecer, foi criada uma profusão de museus das mais
diversas tipologias, dos generalistas aos especializados e monográficos. E, ainda
como reflexo da destruição, das atrocidades do Holocausto, e pela publicação
da Declaração Universal dos Direitos Humanos7, levando-se em conta que, se
seu documento final foi adotado em 1948, desde antes estava sendo gestada,
também foram criadas instituições museológicas que não estão especificamente
enquadradas nos movimentos de urgência, mas, sim, preocupadas com as ques-
tões relacionadas às violações dos direitos humanos.
Assim, ainda no final dos anos 1940, foram criados os primeiros museus
e memoriais comprometidos em desvelar as arbitrariedades praticadas contra
os direitos humanos, Inicialmente, foram implantados nos próprios lugares de
memória onde os fatos ocorreram, mas, posteriormente, também em espaços
construídos ou requalificados para essa finalidade.
Um dos lugares mais antigos de que temos conhecimento é o Museu
Memorial de Terezín8 (República Tcheca), criado inicialmente como Memorial
da Dor, em 1947, e sediado na pequena Fortaleza de Terezín e no Grande Forte
de Terezín, locais que serviram de prisão, gueto judio e estação de trânsito dos
judeus até os campos de extermínio da Gestapo durante a ocupação nazista na
parte Tcheca da antiga Tchecoslováquia (Neves, 2011). A instituição continua em
funcionamento, desenvolve ações de pesquisa, apresenta exposições de longa
duração e temporárias e oferece visitas educativas.
Ainda nos anos 1950, Isaac Schneersohn decide criar em Paris, na França,
o Memorial do Mártir Judeu Desconhecido9 (MMJI), destinado à memória das
7  Cuja primeira reunião para sua redação ocorreu em 1947.
8  Para conhecer mais, acesse o site www.pamatnik-terezin.cz.
9  Mémorial du Martyr Juif Inconnu (memorialdelashoah.org).
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vítimas do holocausto. O Memorial, que também conta com ações de pesqui-


sa10, salvaguarda e comunicação, foi inaugurado em 1953.Vale informar que Isaac
Schneersohn já havia criado em 1943, juntamente com outros membros da co-
munidade judaica, o Centro de Documentação Judeu Contemporâneo (Centre
de Documentation Juive Contemporaine – CDJC), que tinha como objetivo
reunir documentos que pudessem provar a perseguição dos judeus na França.
224 O arquivo foi utilizado do Julgamento de Nuremberg (Alemanha, 1945 a 1946)
a outros julgamentos11.
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Nos anos 1957, foi criada a Casa de Anne Frank12 (Amsterdam, Holanda).
Um grupo de cidadãos, incluindo o pai de Anne Frank, criou uma fundação como
forma de evitar a demolição da construção que serviu de esconderijo à família.
A Casa de Anne Frank foi inaugurada exatamente três anos depois, em 3 de
maio de 1960. Entre os anos de 1970 e 1971, sofreu uma reforma para atender
às demandas do aumento do público (que chegava a 1.500 por dia) e da neces-
sidade de estrutura museal; nos anos noventa, foram realizadas novas reformas
e adequações. Hoje, recebe em torno de 1 milhão de visitantes por ano e é um
dos museus mais visitados em Amsterdam. O discurso de Otto Frank, em Nova
York, em 24 de março de 1959, no âmbito da restauração da casa, diz:

A restauração da casa está agora em pleno andamento e espera-


mos que o Anexo Secreto esteja aberto para visitação neste verão.
(...) O valor espiritual da casa é muito grande. Milhares de pessoas
de todo o mundo a têm visitado nos últimos anos, muitos trazem
flores, e o fato de estarem nos cômodos onde tudo o que Anne
escreveu aconteceu, lhes causa uma impressão inesquecível. Porém,
mais do que isso deve ser alcançado. Não basta que as pessoas
se comovam e reflitam sobre todos os terríveis acontecimentos.
Temos de agir.

Assim como na maioria dos museus sobre o tema, este é um exem-


plo de caso em que a criação parte do interesse de um indivíduo (Otto
Frank) e da coletividade (grupo da sociedade ligado à ciência e cultura),
mas que avança com o comprometimento de uma instituição pública: foi
somente a partir do envolvimento pessoal do prefeito de Amsterdam (Van
Hall) e, em seguida, da prefeitura, que a compra do edifício foi possível e
evitou a demolição13. A Casa Anne Frank conta com exposição de longa dura-
ção e temporárias, ação educativa e cultural e desenvolve materiais educativos
que, inclusive, estão disponíveis no site.
Assim, foram criados museus e memoriais em fortificações e presídios,
10  Ver mais em memorialdelashoah.org.
11  Diversos museus, memoriais e outras organizações têm sua origem a partir da reunião e organização
de documentos para fins de reparação econômica ou de justiça. Dentre eles podemos citar o Museo de
la Memoria y los Derechos Humanos, do Chile, em que um dos objetivos de sua criação foi para abrigar
os relatórios da Comissão da Verdade; o Núcleo de Preservação da Memória Política, organizado a partir
do Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos de São Paulo, constituído para apoiar e dar
suporte nos processos de reparação econômica de anistia política etc.
12  http://www.annefrank.org/pt/Museu/De-esconderijo-a-museu/Centro-Internacional-da-Juventude
13  A partir de pesquisas, da minha experiência como coordenadora do Memorial da Resistência de São
Paulo e da minha convivência com instituições similares, defendi na minha dissertação de mestrado (Neves,
2011) que são necessários três fatores para que essas instituições sejam bem sucedidas: a reivindicação
e participação efetiva dos principais atores sociais/comunidades envolvidas com o tema, o apoio de uma
instituição/organização que apoie conceitual e financeiramente e, sobretudo, a ação museológica compro-
metida técnica e politicamente.
Katia Regina Felipini Neves

como os museus que compõem a rede do Museu da Resistência Nacional na


França (em várias cidades do país) e as prisões da Alemanha, como o Memorial
Bautzen (em Bautzen) e o Memorial Berlin-Hoenschönhausen (em Berlim); em
campos de concentração, ou mesmo em edifícios públicos e clandestinos, utili-
zados para detenção, tortura e desaparecimento, bastante comuns na América
Latina devido a décadas de cruéis ditaduras, como é o caso do Parque por la
Paz Villa Grimaldi14 (Chile), e o Memorial da Resistência de São Paulo (Brasil) 225
e, mais recentemente, o Museu Sítio de Memória ESMA (Argentina). Atualmen-
te, embora tenhamos centenas15 dessas instituições em praticamente todos os
continentes, inclusive aquelas construídas para essa finalidade – e que não estão
exatamente sediadas em lugares de memória onde os fatos ocorreram – é um
número bastante incipiente.
Na América Latina, a RESLAC – Rede de Sítios de Memória Latinoa-
mericanos e Caribenhos, da Coalizão Internacional de Sítios de Consciência
(International Coalition of Sites of Conscience) – conta com 47 membros, entre
instituições e grupos, como o Núcleo de Preservação da Memória Política, orga-
nização da qual sou diretora juntamente com Maurice Politi, ex-preso político e
um dos seus criadores, e Oswaldo dos Santos Jr, historiador e professor da Uni-
versidade Metodista de São Paulo. Em sistema de co-gestão, o Núcleo Memória
e a Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo, conceberam o Plano
Museológico para a criação do Memorial da Luta pela Justiça, no prédio da an-
tiga auditoria militar16. Participaram da elaboração do Plano ex-presos políticos,
advogados, procuradores, organizações governamentais e não governamentais
e profissionais multidisciplinares (Museologia, História, Arquitetura, Audiovisual
etc. O Plano foi submetido à Lei Rouanet e encontra-se em fase de captação de
recursos para a implantação do Memorial.
Essas instituições têm características muito específicas, da origem ao
desenvolvimento. Se, nos projetos museológicos das instituições, de uma ma-
neira geral (qualquer que seja a tipologia), vislumbramos a preocupação com a
transformação social, naqueles voltados à defesa dos direitos humanos o com-
prometimento com a formação cidadã para a valorização da democracia e da
defesa dos direitos humanos é levada às últimas consequências. Essas institui-
ções participam dos mesmos dilemas sobre o que preservar (ou privilegiar) e
do que prescindir, mas não no sentido deliberado do esquecimento, pois elas
têm objetivos comuns. Talvez, como em nenhum outro, nesses lugares homem17
e objeto são indissociáveis: é o cidadão, o ser ético e político, aquele que tem
poder sobre sua vida e a de outros seres humanos o objeto em questão. Não
há espaço ou lugar para dúvidas: somos, sim, capazes de cometer as mais cruéis
atrocidades, mas, seres humanos que somos, também de resistir e de acreditar
que, lutando, podemos colaborar para a formação de uma consciência crítica so-
bre a história contemporânea, para que as barbaridades não se repitam (Neves,
2011).
14  O local foi musealizado com os mesmos objetivos e está sendo concebido o projeto para o museu.
15  Para conhecer mais sobre o assunto, recomendamos os sites memorialmuseums.org e sitesofcons-
cience.org
16  Durante a Ditadura Militar (1964-1985), as Auditorias Militares eram os órgãos de primeira instância
da Justiça Militar que recebiam as denúncias formalizadas pelos inquéritos policiais militares e julgavam
os presos políticos. Em São Paulo, nesse prédio funcionaram três Auditorias: a 1ª, da Aeronáutica, a 2ª, do
Exército (que tinha o maior número de processos), e a 3ª, da Marinha. O Tribunal era composto por quatro
juízes militares e apenas um civil.
17  Neste caso, utilizamos o termo ‘homem’ (e não ser humano), como referência à definição de fato
museal, de Waldisa Rússio Camargo Guarnieri, de 1982.
Democracia e Direitos Humanos:
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Nos anos 1990, o compromisso com os direitos humanos é reafirmado.


É no clima de otimismo advindo com o fim da Guerra Fria no final dos anos
1980 e, como salienta Lindgren-Alves18 (2018), apesar dos inúmeros conflitos
daquele momento, foi realizada em Viena, em 1993, a Conferência Mundial de
Direitos Humanos, quando participaram todos os Estados de um mundo já des-
colonizado, e a sua declaração final foi adotada por consenso, ao contrário do
226 que ocorrera em 1948. Via-se os direitos humanos como “objetivo universal
alcançável e como instrumento para orientar as sociedades rumo ao progresso
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social.” (Lindgren-Alves, 2018: 43) Ainda segundo Lindgren-Alves (2018: 159), a


“declaração final afirmou, no Artigo 1º, ‘que a natureza universal desses direitos
e liberdades fundamentais não admite dúvidas’ e o Artigo 5º (...) sendo obriga-
ção dos estados ‘promover e proteger todos os Direitos Humanos, e liberdades
fundamentais, independente dos respectivos sistemas políticos, econômicos e
culturais’”.
Entretanto, Lindgren-Alves ressalta que a década de 1990, com a globa-
lização capitalista, desenfreada pelo desaparecimento de sistemas alternativos
e acelerada na forma de um liberalismo sem qualquer preocupação social, ao
lado de permitir a asserção dos direitos humanos como última utopia, “destruia
esses mesmos direitos nas categorias de direitos civis e políticos” (2018: 285).
Assim, se a Convenção de Viena exigia maior engajamento dos Estados, a nova
ordem exigia o Estado mínimo.
Bovero (2009) questiona se, nas últimas décadas (especialmente a partir
dos anos 1990), podemos aplicar os procedimentos universais na experiência
política contemporânea. E coloca em questão: da regra 1 – condição de inclusão,
como ficam os indivíduos excluídos da vida pública? Da regra 2 – a condição
de equivalência é válida diante dos efeitos distorcidos da representação políti-
ca? Como fica a condição de pluralidade de informação da regra 3 diante das
grandes concentrações nas mídias? e o pluralismo político, condição da regra
4, diante da personalização (da luta e da administração)? Como fica a eficiência
da democracia – condição da regra 5 –, com o abuso do princípio da maioria?
E, finalmente, como fica a sobrevivência da democracia se a condição da regra
6, os “direitos das minorias”, se são violados os direitos fundamentais, sobre-
tudo os sociais? (Bovero, 2009: 4-5). Para ele, desde finais do século XX, a de-
mocracia está em crise: as características das manifestações antidemocráticas
são a repressão violenta; a ilusão demagógica; a hiperpersonalização da política;
fortalecimento do executivo; e maneiras subversivas da ordem consolidada nas
arquiteturas constitucionais. Com isso, alerta sobre o risco de uma nova forma
de antidemocracia travestida de democracia eleitoral e de um facismo pós-
-moderno (2009: 7-8).
Assim, concluímos que, se a democracia está em crise, em crise também
estão os direitos humanos, só possíveis em estados democráticos. Embora te-
nha iniciado este artigo com uma afirmação aparentemente pessimista – aparen-
temente, porque acredito que não apenas eu, mas que a maior parte dos seres
humanos é por natureza otimista – também sou esperançosa, mas esperançosa
no sentido Freiriano19 – não da espera, mas da ação. Podemos trabalhar para a

18  José Augusto Lindgren-Alves foi diplomata, embaixador e trabalhou em várias missões junto à ONU.
Dedica-se, há mais de trinta anos, aos Direitos Humanos.
19  Para Paulo Freire, a esperança era fundamental para a necessária luta para fazer a existência humana
melhor, mas como práxis: “Enquanto necessidade ontológica, a esperança precisa da prática para tornar-se
concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se
espera na espera pura, que vira, assim, espera vã.” (1992: 5)
Katia Regina Felipini Neves

valorização dos princípios democráticos, pois a democracia é sempre passível


de ser aprimorada.
Marilena Chauí, em sua fala “Direitos Humanos e Educação”, no âmbito
do Congresso sobre Direitos Humanos, realizado em Brasília em 30 de agosto
de 2006, afirma:

Dizemos que uma sociedade – e não um simples regime de gover- 227


no – é democrática quando, além das eleições, partidos políticos,
divisão dos três poderes da república, respeito à vontade da maio-
ria e das minorias, institui algo mais profundo, que é a condição
do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que
essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade
democrática social realiza-se como um contra-poder social que de-
termina, dirige, controla e modifica a ação estatal e o poder dos go-
vernantes. A sociedade democrática institui direitos pela abertura
do campo social à criação de direitos reais, à ampliação de direitos
existentes e à criação de novos direitos. (Chauí, 2006: 3)

Diante disso, retomarei os ‘procedimentos universais’ de Bobbio (1983)


como um exercício, uma licença, para pensar para a ação. Para além da primeira
regra, porque implícita – que todos os indivíduos (sem nenhuma distinção) que
atinjam a maioridade devem desfrutar dos direitos políticos –, interessam-nos,
sobretudo, as regras três e seis. A terceira – que todas as pessoas que desfrutam
dos direitos políticos devem ser livres para votar de acordo com sua opinião –,
e a sexta – em que nenhuma decisão tomada pela maioria (referente à quinta
regra, que diz respeito à maioria numérica, ou seja, ao maior número de votos)
deve limitar os direitos da minoria, especialmente na igualdade de condições.
No que diz respeito à terceira regra, livres quer dizer em condições eco-
nômicas e sociais iguais, livres no sentido de saber escolher. Então, aí, evocamos
a educação libertadora do nosso mestre Paulo Freire (1967)20, que possibilita o
desenvolvimento da consciência crítica necessária para o exercício da cidadania
e, desta forma, para qualificar a sexta regra para o exercício da resistência.
Sempre me pergunto o quanto nós, que temos o privilégio de exercer
de fato nosso papel de cidadão, além do privilégio da nossa profissão, temos
trabalhado para isso. Gostaria de colocar o desafio dos direitos humanos para
os museus em geral. Inicio com uma frase e proponho uma questão ou, mais,
uma provocação. A frase “os museus são, portanto, instituições do seu tempo,
visíveis aos seus contemporâneos e sempre servindo a causas de sua época”, e
a questão: os Direitos Humanos estão fadados aos museus do futuro?
Uma pergunta que, à primeira vista, induz à contradição da frase. Mas,
não é o caso. Se, por um lado, compartilho da afirmação da museóloga Maria
Cristina Oliveira Bruno que “os museus servem às causas do seu tempo” (2011:
31), por outro me pergunto como um tema de crucial interesse para a huma-
nidade – os Direitos Humanos – ainda não esteja integrado nas instituições
museológicas como missão, e não como atividades efêmeras. Temos, é verdade,
museus que trabalham especialmente sobre o tema, já citados anteriormente, e
até foi criado no ICOM, em 2001, um comitê especial para essas instituições –
o Committee of Memorial Museums in Remembrance of the Victims of Public
20  Para Paulo Freire (1967), todo aprendizado deve ser associado à tomada de consciência da situação
vivida pelo educando, ou seja, da prática histórica real. Para entender mais sobre a pedagogia de Freire,
sugerimos seu livro Educação como prática da liberdade.
Democracia e Direitos Humanos:
desafios para a Museologia e para os Museus

Crimes21 - (ICMEMO). Segundo o website,

Os objetivos do ICMEMO são fomentar uma memória responsável


da história e promover a cooperação cultural através da educação
e do uso do conhecimento no interesse da paz, que é também um
dos principais objetivos da UNESCO. O propósito destes Museus
228 Rememorativos é recordar as vítimas do Estado, de crimes social-
mente determinados e ideologicamente motivados. As instituições
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 8, nº16, Jul./ Dez. de 2019

estão frequentemente localizadas nos locais históricos originais, ou


em locais escolhidos pelos sobreviventes de tais crimes para fins de
recordação. Elas buscam transmitir informações sobre eventos his-
tóricos de uma maneira que retenha uma perspectiva histórica, ao
mesmo tempo em que estabelecem fortes ligações com o presente.
(Tradução minha)22

Assim, se por um lado o tema está quase que majoritariamente relegado


às instituições de tipologia específica, por outro, concordo que os museus ser-
vem às causas do seu tempo, como tão bem argumentado, e do qual a citação é
parte do artigo “Os museus servem para transgredir: um ponto de vista para a
Museologia paulista”, escrito em 2011:

É possível constatar, e a bibliografia é farta dessas análises das expe-


dições colonizadoras europeias que percorreram diversas regiões
de todas as partes do mundo, cujas coletas referentes à natureza
e às sociedades foram abrigadas nos museus; quando os embates
pelos Estados nacionais se mostraram proeminentes, os museus
reverberaram essas perspectivas; quando as descobertas pré-his-
tóricas evidenciaram outra humanidade, os respectivos vestígios
encontraram guarda nas instituições museológicas; quando as pes-
quisas antropológicas e dos ramos da história natural se estrutu-
raram, foi exatamente a partir dos museus que se projetaram em
relação ao universo das ciências; quando a técnica e a tecnologia
passaram a ser encaradas como um legado, essas instituições lhes
deram apoio para a preservação de suas referências; quando a de-
mocratização da educação se enraizou nas sociedades, os museus
serviram de grande suporte no que tange à difusão das ciências e
das artes. Da mesma forma, as instituições museológicas se abriram
para anseios comunitários, identitários e étnicos, assim como têm
viabilizado a valorização da arte contemporânea, têm denunciado
a opressão política e têm desempenhado o papel de ícone urbano.
(Bruno, 2011: 32)

Nesse artigo, Cristin Bruno propõe a reflexão, a partir do ponto de


21  Comitê de Museus Memoriais em Lembrança às Vítimas de Crimes Públicos.
22  The aims of ICMEMO are to foster a responsible memory of history and to further cultural cooperation through
education and through using knowledge in the interests of peace, which is also a key goal of UNESCO.The purpose
of these Memorial Museums is to commemorate victims of State, socially determined and ideologically motivated
crimes. The institutions are frequently located at the original historical sites, or at places chosen by survivors of
such crimes for the purposes of commemoration. They seek to convey information about historical events in a way
which retains a historical perspective while also making strong links to the present. Disponível em: http://icom.
museum/the-committees/international-committees/international-committee/international-committee-of-
-memorial-museums-in-remembrance-of-the-victims-of-public-crimes. Acesso em: 20 abr. 2018.
Katia Regina Felipini Neves

vista da Museologia, sobre o caráter transgressor dessas instituições: ao longo


de sua trajetória, os museus têm buscado inovar e dominar técnicas relativas às
suas responsabilidades de preservação e de comunicação de seus acervos e, “ao
mesmo tempo, pelas questões ideológicas e éticas que envolvem a sua atuação
de salvaguardar e comunicar as referências culturais e alavancá-las para contex-
tos de valorização social.” (Bruno, 2011: 32)
Interessante que na UNESCO, que sempre teve um caráter inovador23, e 229
tem um papel indiscutivelmente fundamental para a definição e preservação do
patrimônio, e para o desenvolvimento da Museologia e dos museus (a exposição
sobre Direitos Humanos, de 1949, e a promoção dos seminários internacionais
são exemplos disso), até onde sabemos é somente na Recomendação de 2015
24
que o tema dos direitos humanos como sendo uma problemática a ser tratada
nos museus é indicada, assim como a igualdade de gênero. Este documento diz
que “os museus também devem promover o respeito aos direitos humanos e à
igualdade de gênero” (UNESCO, 2015: 8).
A UNESCO sempre acreditou nas exposições como meios de educação
e, para isso, inclusive, escreveu manuais que facilitassem a sua itinerância25. Assim,
penso que deveria recomendar o tema em questão – o dos direitos humanos –
de forma mais contundente para os museus, pois exposição temporária não é
museu. Por isso, defendemos que a temática sobre direitos humanos deve estar
inserida em sua exposição de longa duração, em exposições temporárias e itine-
rantes, nos diferentes programas, e deve fazer parte da missão das instituições,
pois, enquanto a exposição deve ser vista “como um produto visível do pro-
cesso de musealização”26 (Bruno, 1996: 66), ou seja, “o museu, com sua função
social, está comprometido com a produção do saber, a preservação dos objetos
e a comunicação com o visitante”27 (Davallon, 1997: 7, tradução minha). Função
social pressupõe processo museológico, ou seja, em constante construção.
Se antes o tempo corria mais devagar devido às limitações dos meios de
transporte e de comunicação, o século XXI, especialmente no que diz respeito
à comunicação, acelerou o tempo como era quase impossível a nós imaginar.
Praticamente, não dependemos mais dos correios, visto que temos respostas
imediatas pelo correio eletrônico e WhatsApp; não precisamos esperar as via-
gens para conhecer os museus e suas exposições altamente tecnológicas; tam-
bém não precisamos nos deslocar a outros estados ou países para participar de
todos os eventos que nos interessam, pois podemos selecionar alguns deles e,
a outros, assistir a palestras em tempo real; em um clique, fazemos download
de excelentes publicações, embora nada substitua a experiência de visitar um
23  Como sublinhou a museóloga e professora Judite Primo, em 2018, em sala de aula, em reunião com
o grupo de mestrandos e doutorandos do Programa de Museologia da Universidade Lusófona de Hu-
manidades e Tecnologias, em fevereiro de 2018, em que apresentava, além das atividades do Programa, a
conquista da Cátedra em “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural” pela Unesco, no âmbito do Pro-
grama UNITWIN/UNESCO, em novembro de 2017. Judite Primo é professora e Diretora do Programa de
Museologia da universidade citada.
24  UNESCO. Recomendação referente à Proteção e Promoção dos Museus e Coleções, sua Diversidade e seu
Papel na Sociedade. Aprovada em 17 de novembro de 2015 pela Conferência Geral da UNESCO em sua
38ª sessão.
25  Para saber mais, interessante o artigo “A museologia itinerante: uma perspectiva histórica”, de Denise
Walter Xavier (2013).
26  Texto em que apresenta a exposição de longa duração “Formas de Humanidade” do Museu de Arqueo-
logia e Etnologia da Universidade de São Paulo – MAE/USP, inaugurada no dia 12 de dezembro de 1995, em
conferência realizada no MAE/USP, no dia 11 de abril de 1996.
27  Sa fonction sociale lui impose une part de recherche (production de savoir ou d’informations) et de conserva-
tions des objects à côté de la communication de la direction du visiteur.
Democracia e Direitos Humanos:
desafios para a Museologia e para os Museus

museu, participar presencialmente de um evento ou tomar um livro nas mãos.


Os noticiários nos colocam os problemas da humanidade em tempo
real, dando-nos insumos para trabalhá-los nas instituições. Cada vez mais, as
desigualdades sociais saltam aos nossos olhos, a intolerância se tornou parte
inseparável do nosso cotidiano, sentimos o racismo, o preconceito e a xenofobia
na nossa pele, dia a dia, tolhendo nossos direitos e nos excluindo. Vivemos em
230 um tempo duro e triste, mas a maioria dos museus continua impávida. Na maio-
ria, nenhuma sala que se debruce sobre qualquer um dos temas congêneres.
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 8, nº16, Jul./ Dez. de 2019

Vivemos em uma aceleração do tempo incrível, temos à disposição materiais de


primeira ordem e não os utilizamos.
Considerando que as exposições são meios de comunicação privilegia-
dos (Moutinho, 1989), os museus poderiam exibir, ao lado do enaltecimento das
grandes conquistas da humanidade, dos gênios da pintura, reflexões sobre nos-
sas questões contemporâneas. Entretanto, não é o que observamos na maioria
dos museus: nos de História e Etnologia, não vemos as diásporas causadas pelo
escravagismo, reflexões sobre as raízes do racismo ou debates sobre as ações
afirmativas e a importância das cotas raciais e sociais, que ajudassem a diminuir
a ignorância e fúria da classe média e branca que se sente alijada do seu mile-
nar privilégio. Neste mundo globalizado, as políticas migratórias e imigratórias
incipientes nos colocam fronteiras quase intransponíveis e desafios imensos,
revertendo-se em xenofobia.Tantas questões poderiam ser tratadas nos museus
de Arte, de Ciências, de Tecnologia: do êxodo rural, dos sem-terra e da (não)
reforma agrária; dos sem teto, moradores de rua e das ocupações; da falta de
empregos e do trabalho escravo contemporâneo; da exploração de pobres e
imigrantes; da (não) sustentabilidade humana e ambiental etc. Para qualquer
assunto que pusermos em diálogo, teremos interlocutores. Afinal, “a museologia
é um importante movimento cultural, e tem uma força mobilizadora sem igual”
diz Moutinho (1989: 29), ao observar alguns aspectos da Museologia tradicional.
Penso que os gestores de museus, em grande parte, têm jogado a res-
ponsabilidade dessas discussões para os programas educativo-culturais. Desta
forma, os projetos e demais ações que tratam sobre o tema ficam como um
apêndice que, a qualquer corte de orçamento ou por pressão de instituições ou
da sociedade civil, é “extirpado” mais facilmente. Os problemas sociais contem-
porâneos de qualquer comunidade, de qualquer país, perpassam pelos direitos
humanos.
Acredito, fervorosamente, que o desafio para os museus está em reto-
mar sua trajetória de transgressões e se comprometer de fato com a educação
para a cidadania, tanto para a valorização dos direitos humanos universais como
para os culturais. O desafio passa, então, pela formação dos seus profissionais.
Ainda em 1962, quando se discutia sobre os museus como centros cul-
turais que deveriam colaborar com a dinamização da sociedade, a UNESCO já
propunha, no âmbito do V Seminário Regional, realizado no México entre os dias
17 setembro e 14 outubro, a formação em Museologia em diversos graus acadê-
micos, ou seja, em nível de graduação e pós-graduação (especialização, mestrado
e doutorado), bem como de uma forma mais ampliada, como a capacitação dos
trabalhadores de museus em seminários, cursos, visitas técnicas, estágios etc,
uma vez que caberia a esses profissionais a capacitação das comunidades locais
(Primo, 2007). Para promover as mudanças nos museus e no pensamento muse-
ológico, a boa formação era fundamental. Conforme Primo,

O museu foi-se transformando num centro de expressão da dinâ-


Katia Regina Felipini Neves

mica social dos grupos que trabalhavam a partir da memória e das


referências do passado para a construção da sua identidade. Os
museólogos se definiram como «pessoas-recursos», animadores e
agentes para o desenvolvimento sócio-cultural. O termo «pessoas-
-recursos» foi utilizado por Hugues de Varine (2000) para carac-
terizar o museólogo inserido nos novos processos museológicos
dos anos 70 e 80. O museólogo, «pessoa-recurso», era apresentado
como um agente de intermediação entre a acção comunitária e a
231
instituição museológica, na relação de apropriação e de interpre-
tação dos códigos de identidade colectiva, tendo por fim último a
promoção do desenvolvimento colectivo de âmbito sócio-cultural.
(Primo, 2007: 93)

As pessoas-recursos28, ao atuarem como mediadoras, deveriam incen-


tivar a aproximação dos membros da sociedade. Ainda sobre a atuação da
UNESCO e sua produção relativa aos seminários que promoveu no âmbito da
Museologia, Primo (2007: 130) sintetiza que as discussões (e recomendações)
ficaram nos anos 1950 em torno da função educativa; nos anos 1960, sobre os
museus como centros culturais, conforme já falado; e, nos anos 1970, as refle-
xões voltaram-se para o desenvolvimento sustentável e a adaptação dos museus
ao mundo moderno. Na Recomendação de 2015, a UNESCO também reafirma
a importância do Encontro que ocorreu em 1972, em Santiago, no Chile.
No que diz respeito à educação e outras diretrizes relativas aos Direitos
Humanos, desde os anos de 1995, ainda no governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso, vem sendo implementada uma Política Nacional de Direitos
Humanos. Podemos atribuir a isso, entre outros, os compromissos assumidos
pelos países na Convenção de Viena de 1993, as pressões internacionais, das
organizações não governamentais e da sociedade civil em geral. Além disso, uma
carta aberta de Marcelo Rubens Paiva29 na revista Veja cobrava do governo uma
solução para os desaparecidos pela Ditadura, que perdurou de 1964 a 1985.
(Gregori, 2009). Em vista dessas reivindicações, era premente a criação de uma
política efetiva de direitos humanos. José Gregori foi o responsável pela minuta
da lei dos desaparecidos e pela criação da Secretaria Nacional de Direitos Hu-
manos, ligada ao Ministério da Justiça. Para ele, “era necessário um espaço es-
pecífico onde o eixo fossem os direitos humanos para operacionalizar políticas
específicas e dar visibilidade a um tema tratado pelos governos, até então, como
algo secudário, sem a autonomia que um órgão especificamente daria.” (Gregori,
2009: 175) Também foi se fortalecendo o Conselho de Defesa da Pessoa Huma-
na.
Nessa conjuntura, foi iniciada a elaboração do Plano Nacional dos Direi-
tos Humanos – PNDH, cujo pré-projeto foi discutido em encontros em várias
regiões do Brasil com praticamente todas as comunidades dos direitos humanos
do país. Para Gregori (2009), a Secretaria teve um papel indutor no processo e
marcou o Brasil entre “antes” e “depois”. No primeiro mandato do presidente
Luis Inácio Lula da Silva, foi criada, com o status de ministério, a Secretaria Espe-
cial de Direitos Humanos, vinculada diretamente à Presidência.

28  Nem sempre levada a cabo mesmo nos dias atuais. As pessoas-recurso, no que diz respeito à gestão
de museus (planejamento, implementação e controle) poderiam auxiliar e também propiciar a formação
das comunidades.
29  O escritor é filho do deputado Rubens Paiva, sequestrado, torturado e desaparecido desde 1971 por
agentes repressivos da Ditadura Civil-Militar (1964-1985).
Democracia e Direitos Humanos:
desafios para a Museologia e para os Museus

No Plano Nacional de Direitos Humanos 2, existem diversas Propostas


de Ações Governamentais em “Educação, Conscientização e Mobilização”, sen-
do que os itens 470 a 518 são todos voltados à educação em direitos humanos
do ensino fundamental a cursos universitários, para a polícia etc, mas nada que
diga respeito diretamente à área da cultura.
É somente no Plano Nacional de Direitos Humanos 3, lançado em 2010,
232 que vislumbramos propostas para uma política voltada à preservação da me-
mória histórica e conhecimento da verdade, especialmente sobre o período
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 8, nº16, Jul./ Dez. de 2019

da Ditadura Civil-Militar. O PNDH3 pode ser acessado pela internet em vá-


rios sites, inclusive no do Observatório criado especialmente para a averigua-
ção e monitoramento das ações relativas ao documento. Para que quem não
o conhece possa ter alguma ideia, ele está estruturado em torno de seis eixos
orientadores: I. Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil; II. De-
senvolvimento e Direitos Humanos; III. Universalizar Direitos em Contextos de
Desigualdades; IV. Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência; V.
Educação e Cultura em Direitos Humanos; e VI. Direito à Memória e à Verdade.
Então, acredito que, tanto no âmbito dos museus como na formação
em Museologia30, temos insumos para inserir os direitos humanos em nossas
áreas de atuação. A interdisciplinaridade intrínseca à Museologia permite a in-
terlocução com distintos agentes e, por isso, deveríamos envidar esforços para
estabelecer essas relações.
Se, de um lado, a gestão museológica pode inserir os direitos humanos
em toda a sua cadeia operatória – da salvaguarda à comunicação –, passando
especialmente pela formação dos seus profissionais, além de ampliar seu reper-
tório preservacionista, de outro, acredito que a formação em Museologia pode
possibilitar a inserção do tema de forma sistêmica e abrangente, a partir da
organização própria do seu campo – do campo essencial, do campo de interlo-
cução e do campo de projeção (Bruno, 2006).
Na Mesa Redonda “Formação em Museologia no Brasil e conquistas da
sociedade democrática”, do IV Seminário Brasileiro de Museologia (2019), Cris-
tina Bruno finalizou sua fala dizendo que é preciso reconhecer que a Museologia
contemporânea transita entre “o Desejo, o Direito e o Dever de Memória.”
No Brasil, embora ainda incipiente em termos de número, a formação
em Museologia alcança todas as regiões: em nível de graduação, a do Rio de
Janeiro, de 1932 (que era técnico em museus até os anos 1970); a da Bahia, de
1969; a da Faculdade Estácio de Sá, também no Rio de Janeiro, que funcionou de
1975 a 1995; e mais 14 graduações, criadas partir de 2004, e que estão localiza-
das em todas as regiões do país (Isolan, 2017).
Em nível de pós-graduação lato sensu, tivemos ao menos seis entre os
anos 1970 e 2000: a da Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais da Fundação
Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1978-1996) em parceria com o
MASP – Museu de Arte Assis Chateaubriand; o Curso de Especialização em
Museologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
(1999-2006); do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (2000-
2002); da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; da Escola de Música e
Belas Artes do Paraná (EMBAP-PR); e a da Universidade de Santa Catarina. Em
nível de mestrado, o Programa da UNIRIOo, no Rio de Janeiro, criado em 2006,

30  A formação em Museologia pode explorar toda a tríade no âmbito da Universidade, ou seja, no ensino,
inserir a questão nas disciplinas teóricas e técnicas; na pesquisa, estimular trabalhos acadêmicos teóricos
e aplicações práticas; na extensão, por meio da ampliação dessas perspectivas para públicos internos e
externos à Universidade.
Katia Regina Felipini Neves

que oferece também doutorado desde 2011; o Programa de Pós-Graduação


Interunidades da Universidade de São Paulo, que funciona desde 2012; o Pro-
grama de mestrado da Universidade Federal da Bahia, desde 2013; o Programa
de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal
do Piauí, desde 2015; e o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, criado
em 2016. Além do Curso Técnico em Museologia oferecido pelo Centro Paula
Sousa, do Governo do Estado de São Paulo, vários outros mestrados, com di- 233
ferentes programas – Museologia, patrimônio, curadoria, artes etc. – funcionam
desde o início dos anos 2000 (Isolan, 2017).
Não conheço o programa pedagógico, grade curricular e ementário das
disciplinas de todos, e nem mesmo tenho conhecimento do seu material de
divulgação. Mas conheço daquele – da especialização em Museologia da Escola
Pós-Graduada de Ciências Sociais da FESP –, cujo legado inspirou o programa
do CEMMAE/USP31 que, penso, também deveria servir de inspiração a todos: o
folheto de divulgação do Curso, de 1979, apresentava “uma formação que há
de encontrar seu embasamento nas técnicas museográficas e sua filosofia de
trabalho na visão de museu como processo social”. Foi coordenado por Waldisa
Rússio Camargo Guarnieri, que considero o maior referencial na área da Muse-
ologia brasileira, com uma carreira voltada à teorização, sistematização e aplica-
ção da Museologia, e seguramente uma das primeiras profissionais a entender e
difundir, na Academia e na atuação frente aos museus, o conceito (ou preceitos)
de Sociomuseologia.
Uma mulher corajosa, ousada, sem medo de sonhar, Waldisa acreditava
no museu como o estimulador da consciência crítica e agente da utopia, porque
também os pensava a partir da práxis, assim como Freire (1992). Ela afirma que
“o pensamento utópico a que nos referimos é sempre deste mundo: radical na
concepção, amplo na visão; realista na execução, e apoiado nas realidades mais
profundas da vida.” (Rússio, 1976: 68).Waldisa via na preservação do patrimônio
“um fato e um ato político” (Guarnieri, 1990: 209), uma vez que “a preservação
consciente e libertária implica um compromisso com a vida.” (Guarnieri, s/d:
160). Ela era consciente e propagadora do papel do museólogo como o “tra-
balhador social” que não deveria “recusar a dimensão e o risco político do seu
trabalho” (1990: 209).
Acredito nos museus e que essas instituições estão predestinadas aos
Direitos Humanos, pois “como as guerras nascem no espírito dos homens, é no
espírito dos homens que devem ser erguidas as defesas da paz”32. Acrescento à
citação: as defesas contra o preconceito, contra o racismo, contra a xenofobia,
todos decorrentes da estigmatização daqueles que são alijados, de fato, dos seus
direitos básicos e humanos. Espero que isso seja equacionado em um futuro
próximo.
Acredito no poder da nossa profissão de colaborar na formação de ci-
dadãos críticos, no desenvolvimento da consciência crítica e no nosso papel que
pode ser, de fato, de agentes de transformação da sociedade.

Referências

31  Além de cursar a segunda turma do CEMMAE/USP, graduei-me em Museologia pela Universidade Fe-
deral da Bahia, à qual sou extremamente grata pela formação humanista que me proporcionou.
32  Convenção que constituiu a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura –
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Democracia e Direitos Humanos:
desafios para a Museologia e para os Museus

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MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 8, nº16, Jul./ Dez. de 2019

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Recebido em 01 de agosto de 2019


Aprovado em 30 de setembro de 2019

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