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EMPREENDEDORISMO

Nº 23 | NOVEMBRO/DEZEMBRO | 2018

Economia
Partilhada

ECONOMIA
PARTILHADA CRIATIVIDADE
• “Collaborative • Dar o salto para
Economy”: uma nova a mudança P. 8
realidade P. 3
• Shareacar P. 5
• Biclas e Triclas P. 6

INOVAÇÃO
• O que pode ser
protegido por
patente? P. 12
ABERTURA

Editorial
Índice
ECONOMIA PARTILHADA Mónica Monteiro
• “Collaborative Economy”: uma nova realidade P. 3 monicamonteiro@startandgo.pt
• Shareacar P. 5
• Biclas e Triclas P. 6

C
CRIATIVIDADE onfesso que esta edição está
• Dar o salto para a mudança P. 8 especialmente interessante. Sendo a
última edição deste ano, podemos dizer
GESTÃO DO CONHECIMENTO
• Gerir conhecimento nas organizações P. 10 que fechamos com chave de ouro. Abordamos
a tendência da economia colaborativa, que,
INOVAÇÃO segundo alguns, não é um tema especialmente
• O que pode ser protegido por patente? P. 12
novo, mas veio para ficar. Na sua essência,
VENDAS quando falamos de economia colaborativa,
• Só vai a jogo quem também treina ou partilhada, estamos a colocar em causa o
competências funcionais P. 15 conceito de “posse”. De certa forma, porque não
• Como se adaptam os vendedores ao
desenrascanço dos compradores P. 18 existe a necessidade de possuir um determinado
bem, como por exemplo um carro, ou porque
GESTÃO DE MARCA se deseja rentabilizar um bem que se possui e
• Menos Tendência, Mais Essência. P. 19
que não se utiliza. O artigo do Ricardo Gonçalves
MARKETING ajuda-nos a entender melhor esta nova
• A arte de navegar o marketing das start-ups P. 20 tendência.
Novas tendências introduzem novos paradigmas
GESTÃO DE QUALIDADE
• Os vizinhos de cima e o seu umbigo… P. 21 e trazem consigo um processo de mudança.
• “World State of Quality” – perfil de Portugal! P. 22 A mudança induz a criatividade. Vítor Briga, no
seu artigo, defende que não seremos certamente
EMPRESAS FAMILIARES
• Empreendedorismo e cooperação mais criativos fazendo o mesmo de sempre.
deviam ser indissociáveis P. 24 Quando falamos em criatividade, facilmente
associamos às start-ups. É com muito gosto que
GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS publicamos, nesta edição, o artigo do Professor
• "Não criámos uma geração de robôs" P. 26
Carlos Brito, que nos alerta para os fatores
FINANCIAMENTOS críticos de sucesso na estratégia de marketing
• Financiar a adaptação às alterações climáticas P. 28 das start-ups.
• 2ª edição da CALL FOR MVP para projetos nas áreas
de digital e engineering&manufacturing P. 29 Sabe o que é o gamming? Como pode ser
utilizado em contexto empresarial? Helder
GESTÃO DE CUSTOS Ferreira explica e deixa a promessa de novos
• Criar uma cultura de otimização de custos P. 30 artigos.
GAMMING 2019 está à porta, e muitas são as novidades que
• Gamification: nem novidade nem moda. estamos a preparar para si! Desejamos a todos
Uma ferramenta de gestão! P. 32 os nossos leitores, autores e parceiros que este
FORA DA CAIXA novo ano seja repleto de sucessos pessoais e
• ADN: da bioética a humanoides perfeitos P. 33 profissionais.
Não se esqueça: só necessita de Start & Go!!!
TI'S
• RPA – Robotic Process Automation P. 34
• Como a tecnologia ajuda a transformar
dados em "insights" P. 37

EXTERNIALIDADES
• Vem aí o pior dos tempos ou o melhor dos tempos P. 38
REVISTA EM FORMATO DIGITAL | Nº 23 – novembro/dezembro 2018
CONSULTÓRIO FISCAL COORDENADORA Mónica Monteiro (monicamonteiro@startandgo.pt)
• O residente não habitual P. 39 PAGINAÇÃO Flávia Leitão (flavialeitao@vidaeconomica.pt)
PARTICIPAM NESTE NÚMERO Adriana Gonçalves, Adriano Ribeiro, Ana Isabel
EMPREENDEDOR Lucas, André Pinheiro, António Nogueira da Costa, Carlos Brito, Daniela Moreira,
Dell Technologies, Expense Reduction, Fernando Belém, Helder Barbosa, High
• Os nossos valores estão assentes numa liderança sólida, Play, José Carlos Pereira, José Oliveira, Mário Castro Marques, Mónica Monteiro,
uma cultura única que se perpetua no tempo P. 40 Paulo Sampaio, Pedro Amendoeira, Portugal Ventures, Renata Abranchs, Ricardo
Gonçalves, Rui Pedro Oliveira, Rui Raposo, Samuel Soares, Vitor Briga
PRODUTIVIDADE INDIVIDUAL PUBLICIDADE PORTO Rua Gonçalo Cristóvão, 14, 4000-263 Porto
• Como tornar a organização um hábito P. 41 Tel: 223 399 400 • Fax: 222 058 098
LISBOA Campo Pequeno, 50 - 4º Esq. 1000-081 Lisboa • Tel: 210 129 550
DICAS P. 42 E-mail: Geral@startandgo.pt

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ECONOMIA PARTILHADA

“Collaborative Economy”:
uma nova realidade

Ricardo Gonçalves porte, comida, entretenimento, roupa,


Partner @ Core Investments
A economia etc.
partilhada é Permite ainda desenvolver uma nova
forma de trabalhar, não só em termos
um sistema de espaço (co-work, que são escritórios
socioeconómico que em open space em que cada um arrenda
O “eu quero, logo, compro” se desenvolve ao as secretárias/espaço que necessita), mas
dá hoje lugar a “Eu quero, redor da partilha de também de conteúdo. Hoje em dia é pos-
logo, pago para usar” ou recursos humanos sível ter três ou quatro empregos, sendo
e físicos, tais como que um deles até pode ser full-time e os
ainda “o que é meu é teu, outros representam meras fontes parale-
e o que é teu é meu”. Estas conhecimento, las de rendimento, que podem passar por
são algumas das premissas habilidades, tempo, atividades tão diversas como ser motoris-
da economia colaborativa bens, carros, roupas, ta da Uber ou prestador de serviços espe-
ou de partilha, como é comida, casas, etc. cializados ou indiferenciados (via platafor-
ma Zaask, por exemplo).
frequentemente designada.
des, tempo, bens, carros, roupas, comida, COMO SE CRIA UMA

O
mundo está cada vez mais in- casas, etc. Na maioria dos casos, une pes- ECONOMIA PARTILHADA?
terligado. Com os mais recentes soas que têm ativos, que não estão a ser Tem de existir um sentimento de confian-
desenvolvimentos tecnológicos eficientemente aproveitados, com pessoas ça, pois só assim consegue partilhar o que
(nomeadamente a proliferação de plata- que querem fazer algum dinheiro extra, é seu e usar o que outros partilham. Se
formas e marketplaces) tornou-se possí- com pessoas que não têm possibilidade (ou não confiar, não vai certamente entrar no
vel globalizar o mercado da partilha dos não querem) comprar, mas sim usar. carro de um estranho, dormir numa casa
activos (bens ou serviços). Está, por isso, Esta nova economia desenvolve a interde- de pessoas que nunca viu ou entregar do-
a redefinir-se a natureza do trabalho, na pendência, o que vem contra a sociedade cumentos a um prestador de serviços des-
sua forma, local e conteúdo. tradicional que privilegia a posse. Porque conhecido.
O que é Collaborative ou Sharing Eco- estará esta nova forma de economia a Portanto, a reputação na sharing economy
nomy? A economia partilhada é um siste- ganhar aderência de forma tão signifi- é fundamental, daí todos os ratings usa-
ma socioeconómico que se desenvolve ao cativa? Porque permite a várias pessoas dos nas diferentes plataformas. Sem essa
redor da partilha de recursos humanos e terem acesso, de forma facilitada e equi- reputação não há propagação do negócio.
físicos, tais como conhecimento, habilida- librada (economicamente), a casa, trans- Também os próprios clientes são avaliados e

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ECONOMIA PARTILHADA

podem não conseguir usufruir dos serviços


se tiverem maus ratings. Não faltará muito
para a reputação ser portátil e ser possível
conhecer as diferentes performances da
mesma pessoa como motorista da Chef que
vai a casa de clientes cozinhar, cliente da Air-
bnb ou de um serviço de bike-renting…
Esta “nova economia”, que nos transporta
para os seus primórdios, ou seja, troca dire-
ta, teve igualmente como base princípio de
pessoa-para-pessoa, contudo a tecnologia
permitiu escalar rapidamente os negócios
e hoje já se encontra nesta área empre-
sas de referência a nível global. Estas têm
conseguido fazer a ligação entre a oferta
e a procura, gerando maior eficiência eco-
nómica ao aproveitar muitos dos recursos
disponíveis. Quase todas as empresas têm
uma forte componente tecnológica e mui-
tas são plataformas ou marketplaces. A
característica principal é que não precisam e, acima de tudo, acreditar em si e nas
de deter propriedade, mas conseguem efe- suas competências.
tuar a ligação entre proprietário e utiliza- A mudança de paradigma está obviamen-
dor: a Uber, maior empresa de transporte A flexibilidade te relacionada com uma nova cultura que
de pessoas, não tem carros, e a Airbnb, que que esta opção tem por base as novas gerações. Os mille-
é hoje “o” maior hotel do mundo, não pos- dá à gestão de nials têm uma filosofia de vida diferente,
sui qualquer quarto. vida pessoal e onde a posse é algo que não valorizam.
Estes modelos de negócio foram disrupti- profissional levou Nos EUA três em cada quatro millenials
vos e, desde logo, desenvolveram vários prefere pagar um serviço, experiência ou
novos empregos e empresas à sua volta.
milhões a seguirem evento do que ser proprietário de algo.
Pode afirmar-se que este tipo de disrup- este caminho A sociedade encontra-se perante uma
ção já aconteceu no passado, como foi o (certamente nem nova forma de trabalhar e de criação de
caso da indústria discográfica e da fotogra- todos por vontade emprego que parece não ter retrocesso.
fia digital. A grande diferença é a velocida- própria) Projeções indicam que nos EUA os 16 mil
de a que estas mudanças estão a ocorrer, milhões de dólares gerados em sharing
bem como a sua simultaneidade. economy em 2016 serão 336 mil milhões
As grandes multinacionais da economia em 2025.
tradicional estão muito pressionadas, pois É então urgente que a sociedade e, sobre-
quanto mais as pessoas partilharem me- dor e empregado há riscos de ambas as tudo, os governos saibam lidar com este
nos vão comprar novo. Por isso, também partes. Nestes novos negócios há uma novo cenário e tentem proteger os mais
estas empresas estão a fazer a sua adapta- mudança em relação a quem corre risco, desprevenidos. Para além de regulação e
ção, por isso, já vemos alguns dos grandes ou seja, nestas circunstâncias, o mesmo legislação, poderá ser necessário criar um
players da indústria automóvel a criarem passa na totalidade para o trabalhador/ sistema de apoio social que permita dis-
plataformas onde as pessoas podem par- prestador de serviços. Essa é cada vez por de algum tipo de proteção durante o
tilhar viaturas. mais a realidade. Por exemplo nos Estados período em que não haja trabalho.
Dada a velocidade da mudança, estas Unidos da América, uma em cada três pes- Vivemos tempos muito interessantes, mas
novas empresas beneficiam da falta de soas é hoje free-lancer. também dificeis, pois tudo acontece mui-
regulação e aproveitam esse espaço para Por esta razão há quem designe esta nova to depressa, talvez até demasiado depres-
crescerem e lucrarem rapidamente. A so- economia não de partilha, mas de deses- sa, e a tendência é para que a velocidade
lução passará menos pela proibição e mais pero, em que as pessoas aceitam traba- aumente. As culturas mudam porque as
por adequar a legislação para que todos lhar sob condições de enorme inseguran- mentalidades mudam, porque as pessoas
possam operar sob as mesmas regras que ça. Mas a flexibilidade que esta opção dá à mudam. Estamos a assistir e a viver essa
devem proteger o cliente/utilizador. gestão de vida pessoal e profissional levou mudança, pelo que também nos cabe de-
milhões a seguirem este caminho (certa- cidir se queremos ser parte ativa da mes-
“PERIGOS” DA SHARING mente nem todos por vontade própria). ma ou meros espetadores.
ECONOMY Quem o fez conscientemente necessitou Artigo originalmente publicado em http://
Numa relação contratual entre emprega- de coragem, capacidade de empreender visao.sapo.pt

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ECONOMIA PARTILHADA

Shareacar
U
m fim de semana prolongado e a
vontade de alugar uma “pão de
forma” foi tudo o que Jóse Fran-
cisco precisou para que a ideia da Sharea-
car se começasse a formar na sua cabeça.
“Queria alugar uma ‘pão de forma’ para
passear. O máximo que consegui encon-
trar foi uma carrinha no OLX. Não tive de
apresentar quaisquer garantias nem havia
seguro. Se tivesse corrido tudo mal, como
seria a questão da responsabilidade?”, re-
corda o empreendedor.
Daí até ao nascimento da Shareacar, uma
plataforma 100% portuguesa que permite
a rentabilização do nosso carro pessoal,
através do aluguer a outros condutores
nos períodos de inatividade, passaram
uns meses. Com um investimento próprio
de 50 mil euros e com uma grande cren- reacar antes de ficarem disponíveis para forma, ressaltam a aprendizagem obtida
ça no projeto, José Francisco decidiu tirar alugar. “São 2 anos de aprendizagem. De estudar-
uma licença sem vencimento da Unilever Para salvaguardar os utilizadores de todos mos, conhecermos a nossa comunidade e
Jerónimo Martins, depois de seis anos no os riscos, a Sharecar oferece ainda um se- de lhes apresentarmos soluções. O setor
grupo. guro, garantido pela Allianz e sem custos da mobilidade é finalmente um tema, dis-
“Ter um carro custa em média 6000 euros para o proprietário, que inclui cobertura cutido com profundidade, pela implicação
por ano, entre custo de aquisição, depre- de responsabilidade civil. direta que tem na vida das pessoas e das
ciação e manutenção. Além disso, um car- Mas o serviço disponibilizado pela Sharea- organizações. A Shareacar quer ser parte
ro não é usado durante 24 horas por dia car não fica por aqui. Agora já é possível da solução é para isso que trabalhamos
todos os dias da semana. Porque não tor- alugar um carro em Lisboa e entregá-lo no todos os dias.”
ná-lo rentável nos dias e horas em que não Porto com duas modalidades à escolha: A criação da Comunidade é encarada
é usado e oferecer um serviço mais barato um carro pequeno a um custo de 9 euros como o maior desafio encontrado para a
a quem quer alugar carro? Foi com este e um carro familiar a um custo de 17 eu- construção do Marketplace “Este é o nos-
mote que quisemos reinventar o conceito ros. Com este serviço, a plataforma ofere- so desafio desde o dia 1 e será sempre
de car-sharing e criar uma comunidade de ce aos viajantes uma alternativa cerca de o nosso desafio. Queremos que a comu-
partilha que junta pessoas e carros”, expli- 75% mais económica em comparação com nidade cresça, que todas as pessoas que
ca. um serviço oferecido por empresas de têm carros os possam alugar sempre que
Para alugar um carro na plataforma basta rent a car tradicionais. não os usam, ganhando dinheiro, e que
ter carta de condução. O interessado deve Dois anos passados da criação da plata- quem precise de um carro encontre na
submeter na plataforma Sha- Shareacar a melhor alternativa,
reacar a carta de condução e flexível, económica e sustentá-
o cartão de cidadão e esperar vel”. Portugueses e estrangei-
pela aprovação, que demora ros já viram na Shareacar um
no máximo 48h. Já do lado parceiro para a disponibilização
dos que desejam rentabilizar de um carro e já são muitos os
o seu veículo, ou seja, os Car que optam por não ter carro
Owners: os carros têm de es- próprio.
tar em perfeitas condições de Para o futuro a Shareacar tem
circulação, certificado de ins- a ambição: tornar-se um player
peção periódica válido e ter de mobilidade global. “Olha-
menos de 10 anos. Também mos para a Europa como uma
não devem ter um valor Euro extensão natural do mercado.
Tax superior a 50.000€. De Da Shareacar podem esperar
igual forma, há uma aprova- inovação, ambição e responsa-
ção por parte da equipa Sha- bilidade."

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ECONOMIA PARTILAHDA

Biclas e Triclas

J
osé Luis Leitão trabalhou como di-
retor de arte em séries de ficção e
telefilmes para os principais canais
de televisão. Sara Rêgo foi docente duran-
te alguns anos e mãe galinha nos seguin-
tes. Hoje José é socio-gerente da Biclas e
Triclas e trata da parte operacional da fro-
ta, website, marketing digital e conteúdos
para plataformas de venda online. Já Sara
é a cara da loja, prima no atendimento e
coordena os guias e todas as reservas e
contactos via mail. Juntos definem as es-
tratégias e o rumo da Biclas e Triclas com
um cunho muito especial. Estivemos à
conversa com estes empreendedores para
saber um pouco mais do seu projeto.

Como surgiu a ideia de criar a Biclas & Tri-


clas? Quando foi criada? to e queremos que os nossos clientes ado-
2014, em plena crise e num ambiente rem as nossas bicicletas e a nossa cidade”. A ideia de iniciar
pessimista, perdi o meu trabalho de quase Em Maio de 2015 abrimos as portas da BI-
toda a vida, mas simultaneamente ganhei CLAS & TRICLAS - Rent a Bike and Tours,
um projeto que
a oportunidade de começar algo novo. um negócio familiar, localizado estrategi- contribuísse de
A ideia de iniciar um projeto que contri- camente em Miragaia, no centro histórico forma positiva para
buísse de forma positiva para a qualidade do Porto e ao mesmo tempo afastado o a qualidade de vida
de vida na cidade do Porto, que influencias- suficiente do rebuliço da cidade para par- na cidade do Porto,
se a mentalidade coletiva para as boas prá- tir tranquilamente num belo passeio pelas que influenciasse a
ticas, já andava a fervilhar há algum tempo. margens do rio Douro até à praia.
O Porto e o crescimento do turismo, a visi- Iniciamos com uma pequena frota de alu-
mentalidade coletiva
ta de pessoas com hábitos mais saudáveis guer composta por biclas (vulgo bicicletas) para as boas práticas,
e amigos do ambiente e a minha atração e triclas (triciclos de três lugares movidos já andava a fervilhar
pelas biclas e transportes não poluentes a pedais com assistência elétrica) que de- há algum tempo
foram os ingredientes principais para dar ram notoriedade à nossa marca pela sua
corpo à ideia “Adoramos bicicletas e o Por- originalidade e empatia.
Com um percurso auspicioso, estamos a
caminho do 4º aniversário e estamos or-
gulhosos do nosso trabalho. Em 2018, as
nossas biclas azuis são parte incontorná-
vel da paisagem da cidade, mais de 10 000
clientes adoraram as nossas bicicletas e a
nossa cidade.
Abrimos uma segunda loja, aumentámos
substancialmente e diversificámos a nos-
sa frota, melhorámos os nossos serviços
através da oferta de passeios guiados, ex-
periências únicas e parcerias importantes,
criámos trabalho para a nossa equipa ex-
periente e bem disposta.

O que pode esperar um cliente que che-


ga a vossa loja?
A primeira impressão do cliente ao entrar

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ECONOMIA PARTILAHDA

na nossa loja é o aspeto simples e vivido


do espaço, depois é recebido pelo sorri-
so e o cumprimento afável da Sara, com
um atendimento personalizado, com dicas
úteis sobre os melhores percursos e locais
para visitar. O check-in é rápido e descom-
plicado, o preçário é justo (uma ida e volta
à praia numa bicicleta pode ser mais bara-
to do que viajar em transportes públicos),
dispomos de bicicletas fiáveis e confortá-
veis para todas as idades e para utilizações
diversas.
A loja online em tricla.pt é o local prefe-
rido pelos clientes para reservar os nos-
sos serviços. Com um aspeto sóbrio e
informação detalhada sobre as nossas
Através de parceiros
experiências e serviços, um sistema de fornecemos serviços
pagamento seguro e claro, é a forma mais dência está a mudar muito, por força dos em diversas cidades
cómoda e mais aconselhada em períodos turistas que nos visitam e nos inspiram. Há em Portugal e
de grande procura. muitos desafios pela frente e espaço para Espanha, como
crescer. entrega ou recolha de
Qual é o perfil dos vossos clientes? Através de parceiros fornecemos serviços
O perfil dos nossos clientes é muito hete- em diversas cidades em Portugal e Espa-
bicicletas e bagagens
rogéneo. De todas as idades, nacionalida- nha, como entrega ou recolha de bicicle-
des muito diversas, todos os estratos so- tas e bagagens. Foi necessário entendermos o mercado e
ciais, mais e menos exigentes, todos têm reinventarmo-nos por diversas vezes, pro-
em comum o prazer por andar de bicicleta Quais os principais desafios encontrados curar financiamento e alguma resiliência.
e partilham a ideia de que a melhor forma para implementar o projeto? Finalmente, começámos a acertar nas es-
para conhecer a cidade é a pedalar numa No início, tivemos as dificuldades inerentes tratégias e a obter fruto e estabilidade.
bicicleta. à nossa própria inexperiência neste e em
qualquer tipo de negócio. Que bicicletas Que projetos para o futuro?
Porquê a cidade do Porto? Está previsto o comprar, onde comprar, a loja estava mal Em 2018 abrimos uma nova loja, BIKE-
alargamento a outras cidades? situada, fora do fluxo de turistas. O recruta- TUR - Adventure Bike Agency, com ser-
Porquê a cidade do Porto?! Porque é a mento de colaboradores com o perfil certo. viços diferenciados para quem viaja de
nossa cidade, embora, no que diz respei- A informação confusa e a falta de uma co- bicicleta ou pretende alugar uma bicicle-
to às bicicletas, por vezes não pareça, é a municação eficiente com os serviços ad- ta de aventura completamente prepara-
cidade a que estamos ligados e conhece- ministrativos acerca do exercício da nossa da para viajar por vários dias a partir do
mos bem. O Porto ainda não é uma cidade atividade tornou o nosso início muito atri- Porto.
muito amiga das bicicletas, mas esta ten- bulado e esgotante. O nosso foco para o futuro está nos pe-
quenos nichos e mais virado para os habi-
tantes da cidade. Estamos a desenvolver
parcerias e a criar pequenos pontos de
entrega e recolha de bicicletas no grande
Porto para que o acesso a uma bicicleta
seja mais fácil.
Acreditamos que a bicicleta é o verdadeiro
transporte pessoal do futuro e o Porto e
Portugal devem e têm que aderir às polí-
ticas europeias que colocam as bicicletas
na categoria de transporte público e, por
isso, acreditamos que vão existir no futuro
próximo mais estruturas e vias reservadas
aos ciclistas, o que vai potenciar o uso da
bicicleta e, consequentemente, tornar as
nossas cidades mais limpas e com melhor
qualidade de vida.
Pense global, pedale localmente!

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CRIATIVIDADE

Dar o salto para a mudança


Vítor Briga
Formador de Criatividade
e Comunicação
www.vitorbriga.eu

You have brains in your head,


You have feet in your shoes.
You can steer yourself
Any direction you choose…

Out there things happen


And frequently do
To people as brainy
And footsy as you.
Dr. Seuss

I
maginemos uma panela cheia de água
e no seu interior uma rã a nadar. Co-
meçamos então a aquecer a água
gradualmente. Em pouco tempo a água
fica morna, mas a rã continua a nadar
tranquilamente. Aos poucos, vamos au- experimentando coisas e pessoas novas é na sepultura: “Morreu aos trinta e foi se-
mentando a temperatura da água, mas que expandirá a sua criatividade. pultado aos setenta”.
a rã não tem consciência disso. O calor Ao longo da vida temos tendência a Numa época em que tudo na nossa vida
provoca-lhe fadiga e um pouco de sono. ‘tornarmo-nos nos nossos pais’, isto é, muda a uma velocidade estonteante, em
Chega um momento em que a água fica passamos da rebeldia típica da juventu- que pilares da nossa estabilidade, como o
muito quente, mas a rã já não tem forças de para o conforto da meia-idade. Como trabalho e as relações pessoais, são cada
para saltar devido ao desgaste de todo o dizia um colega meu, “se achas que não vez mais mutáveis, ter rotinas permite-
processo, de forma que prefere aguentar -nos alcançar alguma paz e assegurar um
dentro. Rapidamente a água começa a porto de abrigo aonde ir carregar ener-
ferver e a rã acaba por ser cozida sem ter gias para enfrentar os desafios. O pro-
feito nenhum esforço para sair da panela. A história da rã é blema é que as rotinas agradáveis, por
Se tivéssemos atirado a rã para a pane- uma boa metáfora serem confortáveis, rapidamente se tor-
la com a água a ferver ela teria saltado nam mais atraentes do que a vontade de
logo para fora, mas como se foi fervendo
para ilustrar a explorar o desconhecido. Ficamos num
a água gradualmente, esta deixou-se ficar nossa tendência conforto apático que adormece o nosso
até morrer. para cair, sem que lado criativo!
A história da rã é uma boa metáfora para nos apercebamos, Edward Diener, um dos autores da área
ilustrar a nossa tendência para cair, sem numa vida pouco da psicologia positiva (o estudo da felici-
que nos apercebamos, numa vida pouco estimulante e dade humana), concluiu que um excesso
estimulante e ficarmos reféns do tédio de felicidade pode ser negativo para a
confortável. Dificilmente se terão ideias
ficarmos reféns do criatividade. Em estudos feitos com “pes-
diferentes, e mais criativas, continuan- tédio confortável soas felizes” e “pessoas extremamente
do a fazer o que sempre se fez. Para que felizes” verificou que as últimas vivem
surjam novas perspetivas devemos viver menos e têm menos sucesso do que as
novas experiências. Sair do espaço segu- se fez nenhuma música boa depois dos que são moderadamente felizes. Segun-
ro e familiar e dar o salto para o desco- anos oitenta, é porque o teu cérebro está do Diener, numa escala de zero a dez, o
nhecido, enfrentando o desconforto ine- parado nos anos oitenta”, ou, neste sen- nível de felicidade ideal é oito, pois será o
rente. A pessoa criativa tem medo, mas tido, é pior aquela ironia que sentencia nível que permitirá uma existência agra-
faz! Sabe que só explorando o mundo e que há pessoas que deveriam ter escrito dável, mas simultaneamente uma mar-

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CRIATIVIDADE

gem de insatisfação para que a pessoa se


mantenha inquieta e seja criativa.
Assim, para ter ideias criativas é impor-
tante que evite a sedutora ‘rotina de
veludo’ e continue a explorar-se e a ex-
plorar. Às vezes, basta mudar pequenos
hábitos, como, por exemplo, ir ao cinema
ver um filme que jamais veria, ouvir músi-
ca diferente, ler uma revista ou um jornal
distinto dos habituais, socializar com ou-
tras pessoas em novos contextos, mudar
um dia de funções lá no trabalho, fazer
apresentações em público (se isso for um
desafio para si), passar férias em locais
diferentes do habitual, mudar o caminho
que faz do trabalho para casa, fazer um
curso de escrita criativa, ou de culinária,
ou de teatro, ou de algo que nunca ima-
ginou aprender (ou que imaginou, mas
ainda não teve coragem), mudar o lugar
da sua secretária, experimentar aquela
comida esquisita, etc.
Um dos hábitos que mais poderão abrir a
mente é o hábito regular de viajar. A via-
gem provoca, desinstala e inspira, é uma são da viagem, mas sim a dimensão do pacientes durante as suas últimas doze
lufada de ar fresco. Quando voltamos, olhar que se ganhou após a viagem. semanas de vida. Com base nas conver-
trazemos ideias e vontade. No entanto, Depois existem aqueles ‘saltos para o sas que tinha com os doentes, gravou os
viajar não é o mesmo que fazer turismo. abismo’ que mudam aspetos mais es- maiores arrependimentos das pessoas
Nas palavras de G.K. Chesterton, «o via- às portas da morte, o que deu origem
jante vê o que vê, o turista vê o que veio ao blogue Inspiration and Chai e ao li-
ver». Viajar implica humildade, aceita- vro “The Top Five Regrets of the Dying”.
ção e entrega ao que acontecer: aos lo- Concluiu que aquilo que as pessoas mais
cais, aos imprevistos, às pessoas. É um No fundo, o mais se lamentam antes de morrer é de não
treino intensivo de criatividade. Viajar importante não terem tido a coragem de viver uma vida
implica sempre um desconforto, princi- é a dimensão da que fizesse sentido para si, mas sim a vida
palmente se o fazemos sozinhos. No en- viagem, mas sim a que os outros esperavam delas. Faz pen-
tanto, fica marcada, para toda a vida, a dimensão do olhar sar!
aprendizagem retirada desse mergulho O nosso salto deve ser desafiante para
no desconhecido. Viajar com tudo pre-
que se ganhou após que nos possamos superar constante-
parado e controlado é mais uma tarefa; a viagem mente, mas não demasiado, para que o
viajar, com algo preparado, mas disposto excesso de tensão não bloqueie e iniba a
a abraçar o imprevisto é um acto viven- ação criativa. Talvez viver seja como estar
cial criativo. a andar num arame, um equilíbrio instá-
Se não tiver oportunidade para fazer vel que obriga sempre a estar desperto.
uma viagem grande e, ainda assim, qui- truturantes na nossa vida, como trocar No belíssimo filme “O Homem no Ara-
ser provocar o olhar, muitas vezes peque- de emprego, mudar de cidade, ou até me”, vencedor de um Óscar para melhor
nas viagens na nossa cidade, ou até no mesmo despedir-se e criar finalmente a documentário em 2009, o protagonista
nosso bairro, podem ser refrescantes. O sua própria empresa. Ou, ainda, terminar Philippe Petit diz: «Para mim, é realmente
princípio é passar pelos mesmos sítios aquela relação amorosa tóxica que já só muito simples. A vida devia ser vivida no
de sempre com o tal olhar de viajante, existe porque é uma rotina. Nestes ca- seu limite. Temos de nos rebelar. Recusar
esse olhar curioso que quer captar tudo sos, o desconforto será bem maior, mas sujeitarmo-nos a regras. Recusar o nosso
e ainda não está viciado. Não é por aca- a abertura do seu olhar e o crescimento próprio sucesso. Recusar repetirmo-nos.
so que os nossos convidados acabam por criativo tenderão também a ser bastante Ver cada dia, cada ano, cada ideia, como
descobrir coisas na nossa cidade que ig- mais compensadores. um verdadeiro desafio... e então viver-
norávamos. Porque eles ainda não têm as Bronnie Ware é uma enfermeira austra- mos a nossa vida no arame».
rotinas que os impedem de ver mais. No liana que passou vários anos a trabalhar O ideal será que consiguir fazê-lo com um
fundo, o mais importante não é a dimen- em cuidados paliativos e a cuidar de sorriso na cara.

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GESTÃO DO CONHECIMENTO

Gerir conhecimento
nas organizações
Ana Isabel Lucas
Consultora & Formadora
Comunicação & Gestão da Qualidade
annalukkas@hotmail.com

D
e que depende o sucesso de uma
organização?
O sucesso ou fracasso de uma
organização depende do conhecimento.
O conhecimento organizacional pode ser
um processo ou um ativo e, na perspetiva
da gestão do conhecimento, está hierar-
quizado da seguinte forma: dados, infor-
mação e conhecimento.
Para se perceber melhor esta perspetiva
é importante a compreensão destes três
elementos. Existe uma relação entre da-
dos, informação e conhecimento. O co-

Os dados por si só Os dados por si só não representam infor- O conhecimento é um recurso ilimitado da
não representam mação. São avaliados em termos qualita- organização, tem origem e é aplicado na
tivos pela forma de acesso aos mesmos, mente humana, sendo um ativo que au-
informação. São pela relevância e extração de conheci- menta através do uso contínuo.
avaliados em termos mento. Só assim podem ser considerados O campo teórico da gestão do conheci-
qualitativos pela a matéria-prima que vai permitir criar in- mento tipifica o conhecimento em dois, o
forma de acesso formação. conhecimento explícito e o conhecimento
aos mesmos, pela Dar forma e relevância aos dados é trans- tácito.
relevância e extração formá-los em informação, normalmente O conhecimento explícito é produzido a
expressa numa mensagem dotada de sig- partir de dados que são transformados
de conhecimento. nificado. Tem um emissor e um recetor e e armazenados em informação. É aque-
Só assim podem foi organizada com uma finalidade, mudar le que pode ser facilmente identificado,
ser considerados a o modo como o destinatário vê algo. partilhado e aplicado. Normalmente, está
matéria-prima que Para divulgação da informação, tem que escrito.
vai permitir criar existir um canal ou meio. A tecnologia tem O conhecimento tácito é aquele que re-
informação um papel muito importante, é um meio side na mente humana. Ao contrário do
que viabiliza a comunicação da informa- explícito, é difícil de formalizar, comuni-
ção, necessitando de mediação humana. car e partilhar. Está enraizado nas suas
Depois de comunicada, a informação experiências, ideias, valores e emoções e
nhecimento deriva da informação e a in- transforma-se em conhecimento. engloba duas dimensões, uma ao nível de
formação deriva dos dados. A organização O trabalho de transformação da infor- know-how e a outra ao nível cognitivo.
precisa de ter a sabedoria de como passar mação em conhecimento é realizado por Numa organização, o conhecimento exis-
de um para o outro, saber qual deles é ne- pessoas. Em todo o processo de transfor- te em documentos, publicações, manuais
cessário, com qual se deve contar e o que mação, de dados em informação e infor- e procedimentos (explícito), mas deverá
fazer com cada um deles. mação em conhecimento, está sempre ser complementado com o conhecimento
No contexto organizacional, os dados são presente o mesmo elemento – as pessoas. que existe na mente das pessoas (tácito).
registos organizados de transações, têm Por fim, o conhecimento fica armazenado Para que o conhecimento tácito se torne
que ter relevância e propósito para pode- na mente humana, à espera de ser utiliza- efetivo numa organização, tem que haver
rem ser transformados em informação. do para os diversos fins a que se destina. uma transferência para o contexto organi-

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GESTÃO DO CONHECIMENTO

zacional, que se vai refletir nos processos, Uma forma de aprendizagem é através da versos meios de comunicação, sendo ex-
métodos e pessoas. formação. É na formação que se adquirem celentes meios que permitem armazenar
Por um lado, existe o desafio para criar novos conhecimentos, conceitos, atitu- e trabalhar dados, bem como veículos de
condições que permitam transferir o co- des, regras ou habilidades que vão melho- difusão de informação.
nhecimento tácito em explícito e, por rar o desempenho no trabalho. Para uma gestão efetiva do conhecimento,
outro, o desafio da partilha das aprendiza- A implementação de um sistema de ges- é importante:
gens individuais e grupais. tão da qualidade é outra forma de apren- • Criar um banco de dados em suporte di-
Só com a junção dos dois tipos de conhe- dizagem. O sistema de gestão de qualida- gital que reúna informações importan-
cimentos se podem resolver problemas de é construído com conhecimento explí- tes e de fácil acesso.
dentro de uma organização e, quando cito, através de manuais, procedimentos, • Selecionar e gerir informação com vista
partilhado, o conhecimento aumenta ex- instruções e registos. Tem implícito o ciclo ao aperfeiçoamento de competências
ponencialmente. PDCA (planear, executar, verificar e atuar) • Realizar ações e criar um ambiente de
Logo, é importante identificar uma estra- ou melhoria contínua, conferindo caráter forma intencional, que favoreçam a
tégia para promover a partilha das apren- dinâmico aos processos e capacidade de transferência de conhecimento tácito
dizagens individuais e grupais. aprendizagem. em explícito.
A capacidade de uma organização em me- Estas duas formas permitem à organização • Identificar e gerir conhecimento de for-
lhorar as aptidões existentes e de apren- aprender, mas a aprendizagem decorrente ma explícita
der novas aptidões depende da forma destas, “per se”, pode não ser efetiva. • Organizar o conhecimento e transmiti-lo
como são geridos estes dois tipos de co- A consolidação da aprendizagem está no aos elementos da organização
nhecimento. Esta é a melhor estratégia de perfil dos recursos humanos, orientada • Criar uma cultura que recompense a
competitividade. para o conhecimento, implicando o con- partilha de conhecimento
ceito de trabalhador do conhecimento. • Desenvolver mecanismos de motivação
De que forma pode uma O trabalhador do conhecimento tem ta- que permitam adquirir competências
organização aprender? lento e inteligência, faz uso intensivo da • Orientar o perfil dos recursos humanos
O processo de aprendizagem é psicológi- informação, analisa dados e comunica para o conhecimento.
co, ocorre somente nas pessoas e não nas com o seu grupo, possui conhecimentos Gerir o conhecimento implica modificar
organizações, mas as organizações são multidisciplinares e de especialidade na comportamentos, abrir as portas a novas
compostas por pessoas e são estas que sua área de atuação, conduzindo esta sua ideias, novos conhecimentos e abraçar a
permitem à organização aprender. especialidade ao encontro dos objetivos mudança na forma como o trabalho é rea-
É possível gerir e transformar o conheci- da organização. lizado.
mento que resulta da aprendizagem e, por Implica, ainda, abrir caminho para a co-
conseguinte, transformá-lo em novos co- O perfil do trabalhador municação, de forma a facilitar o proces-
nhecimentos e inovação. do conhecimento so de interação e colaboração, partilha
Através da aprendizagem, dão-se respos- deve ser transversal de ideias e construção de competências,
tas adaptadas às solicitações e desafios a todos os colaboradores onde os relacionamentos são valorizados.
múltiplos do quotidiano, promovem-se É importante salientar o papel das novas “Se o conhecimento pode criar proble-
mudanças pessoais e adaptação às condi- tecnologias da informação, que fornecem mas, não é através da ignorância que po-
ções do ambiente. ferramentas para trabalho em grupo e di- demos solucioná-los”.

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INOVAÇÃO

O que pode ser protegido por patente?


Mário Castro Marques
Agente Oficial da Propriedade Há diversos tipos de criação inovadora e 20 anos), de proibir que outros produzam,
Industrial e Advogado que têm sido ao longo do tempo descri- usem ou vendam a sua invenção sem a
mariocastromarques@gmail.com
Todos os direitos reservados, Porto, tos e classificados por autores e organi- sua permissão…”(6).
Fevereiro de 2018 zações(2). Contudo, nem todos podem ser Neste contexto, se assim podemos dizer, a
protegidos por patente. patente é (1) um “título oficial” que con-
Mas então o que é uma patente? Sobre cede um direito de exclusivo, e que (2) in-

A
“criação inovadora” patenteável que recai? cide sobre uma invenção. Sem tal “título”
– o que pode ser protegido por A Organização Mundial da Propriedade não há um direito que permita ao interes-
patente? Algumas situações. Intelectual(3) define a patente enquan- sado/inventor explorar – com exclusivida-
Já tínhamos abordado a questão das pa- to “um direito de exclusivo sobre uma de – a invenção no mercado em que foi
tentes há alguns números atrás(1), nesta invenção, que pode ser um produto ou concedido.
revista. Aflorámos então, de forma muito processo, e que apresenta, em termos Por conseguinte, a “criação inovadora”,
genérica, um conjunto de ideias iniciais, gerais, uma nova forma de fazer algo, ou para ser patenteável, terá de consistir,
nomeadamente, relacionadas com a pre- estabelece uma nova solução técnica para desde logo, numa invenção. O que se en-
paração do pedido de patente, com o um problema”(4). tende por invenção não está definido na
decorrer do processo, a sua abrangência lei, mas é comummente aceite ser uma
territorialmente limitada, a proteção in- solução para um problema técnico.
ternacional existente, a questão das diver- Mas não basta termos uma invenção, para
sas estratégias possíveis em matéria de in- A patente é (1) um obtermos uma patente(7), será necessário
ternacionalização e de algumas restrições “título oficial” que que se preencha um conjunto de requisi-
temporais na sua implementação. Eram, concede um direito tos(8), apresentando-se um processo espe-
de facto, assuntos complexos e em que de exclusivo, e que cífico, que contenha a explicação porme-
apenas foi nossa intenção realçar alguns norizada da invenção, das suas caracterís-
aspectos mais salientes.
(2) incide sobre uma ticas técnicas e do "modus operandi", de
Este segundo artigo irá centrar-se, na me- invenção. Sem tal maneira a que sejam examinados aqueles
dida do possível, no que pode ser protegi- “título” não há um requisitos e que se faça ainda a divulgação
do por patente, embora sem a pretensão, direito que permita pública da invenção.
frise-se, de se descrever exaustivamen- ao interessado/ Esta divulgação (daí se chamar “patente”
te todas as hipóteses abrangidas. Serão inventor explorar – a este direito) constituiu, desde o início e
apenas analisados alguns dos temas mais em termos históricos, um dos motivos que
recorrentes e salientes em termos empre-
com exclusividade justificou a criação do sistema de paten-
sariais. – a invenção no tes: é concedido um direito individual de
Uma primeira nota que, desde logo, jul- mercado em que foi exclusivo sobre a invenção, mas, em con-
gamos importante salientar e que está re- concedido trapartida, o Requerente tem de divulgar
lacionada com o tema é a seguinte: nem a invenção (no processo na sua fase públi-
toda aquela criação que seja inovadora é ca) para que o conhecimento técnico ínsi-
suscetível de ser protegida por patente, to fique depois acessível à comunidade(9).
isto é, é patenteável! Em complemento, o Instituto da Patente A divulgação é, digamos, a “outra face da
Podemos estar, claramente, na presença Europeia(5) (organização europeia de pa- moeda”, sendo a primeira face o referido
de uma criação, grosso modo, inovadora, tentes) considera a patente como o “título direito de exclusivo.
mas não ser “elegível” de acordo com cer- legal que concede ao inventor o direito, Tendo-se presente esta breve análise, e
tos parâmetros para se obter a patente. por um período limitado (normalmente de regressando-se, então, à questão principal

1. Vj. nosso artigo “Patentear ou não patentear a sua invenção, eis a questão”, in Revista START &GO nº 19, Julho de 2017.
2. A OECD para efeitos de quantificação da Inovação estabeleceu quatro tipos de Inovação: Inovação de produto, Inovação de processo, Inovação de Marketing e Inovação Organizacional, in
Manual de Oslo, pags. 46 ss.
3. vd. www.wipo.int
4. N. Tradução: www.wipo.int
5. vd. https://www.epo.org/index.html
6. N. tradução: https://www.epo.org
7. Só com a patente é concedido um direito de exclusivo, e não com um pedido provisório de patente, que atribui um direito de prioridade.
8. A legislação portuguesa estabelece como requisitos de patenteabilidade “…as invenções novas, implicando actividade inventiva, se forem susceptíveis de aplicação industrial… “vd. nº1 do
artigo 51.º do Código da Propriedade Industrial (CPI).
9. Uma descrição da invenção, clara e suficiente, é essencial para que se faça a divulgação de modo a que qualquer “pessoa competente” possa executá-la. Note-se: não significa isto que
se esteja a permitir, desde logo, a sua exploração económica por qualquer terceiro – bem pelo contrário, pois se esta exploração ocorrer, poderá já infringir os direitos prioritários do
Requerente da patente.

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INOVAÇÃO

do que pode ser protegido por patente, conhecimento teórico da realidade”, sen- criações, aplicações, produtos, soluções
importa referir que a invenção pode sur- do que “a invenção é um estado de co- concretas, então, os respetivos resultados
gir, em princípio, em qualquer domínio ou nhecimento prático na realidade”. Neste concretizados já poderão ter a sua even-
área da tecnologia(10). No entanto, como seguimento, no primeiro caso, estamos tual salvaguarda nalgum dos tipos de pro-
acima já foi antevisto, há um conjunto de perante uma mera cognoscibilidade – a teções legais previstas, desde que cumpri-
situações que estão excluídas, outras limi- apreensão de algo já existente na realida- dos os respetivos requisitos.
tadas, e outras sujeitas a condições legais. de –, enquanto, no segundo caso, na in- No que concerne agora à referida “paten-
Em Portugal, não são patenteáveis, desde venção, existe já um ato de intervenção e teabilidade das ideias”, consideramos re-
logo, invenções cuja exploração comer- transformação técnica sobre a realidade. levante não se descurar aquele princípio
cial seja, efetivamente, contrária à lei(11), No entanto, este entendimento não é pa- da liberdade, de forma a que o sistema
ordem pública, saúde e bons costumes. cífico e, em muitos países, as práticas e in- da Propriedade Intelectual (engloban-
Nesta situação, surge, nomeadamente, o terpretações tendem a ser diferentes. do patentes e direitos de autor, entre os
“processo de clonagem de seres humanos, Em princípio, um simples encontrar, sem direitos) funcione de forma congruente
o processo de modificação da identidade mais, de um material já existente na na- e harmonizada. Como tal, as ideias in-
genética germinal do ser humano, a utili- tureza será considerado como uma desco- ventivas que cumpram os requisitos e
zação de embriões humanos para fins in- berta e não como uma invenção. pressupostos acima melhor expendidos
dustriais ou comerciais, e ainda o proces- Quanto à proteção das ideias, entende- poderão ser protegidas na medida das
so de alteração da identidade genética de mos importante, primeiro, realizar uma respetivas concretizações e resultados
animais”(12). breve análise sob o prisma dos direitos em que tenham sido plasmadas. Em abs-
Não podem também ser objecto de pa- de autor. Neste plano, a generalidade da trato e enquanto simples e meras ideias
tente o corpo humano(13), ou um dos seus doutrina portuguesa(16) considera que a li- genéricas, não acolhem, em princípio, no
elementos, embora aqui se preveja a pos- berdade de ideias é o princípio aplicável. nosso país, uma proteção por patente ou
sibilidade de concessão de patentes sobre Esta solução encontra-se plasmada na le- outro direito.
invenções que recaiam sobre um daqueles gislação nacional(17) de direitos de autor, O mesmo entendemos que será de aplicar
elementos(14), em certas condições. que prevê que “as ideias … não são, por aos conceitos, princípios, processos, siste-
Entre outras situações ainda previstas e si só e enquanto tais, protegid(a)s…” por mas e métodos operacionais, que apenas
excluídas ou limitadas na lei, quanto à pa- direitos autorais. – Diga-se, desde já, que se fiquem no plano da abstração.
tenteabilidade, surgem-nos alguns casos o mesmo se aplica, entre outros, aos pro- Em termos ainda de patenteabilidade,
relevantes e que recorrentemente susci- cessos, sistemas, métodos operacionais, surgem-nos ainda outros dois tipos de
tam dúvidas e questões de muitos interes- conceitos e princípios. situações, recorrentes também, e que
sados. É o caso, nomeadamente, da pro- Neste seguimento, consideramos que o iremos abordar muito sinteticamente,
teção por patente, de ideias, de conceitos, significado de “ ideias … por si só e enquan- dado que proporcionam muitos aspetos
de princípios, ou descobertas. to tais” deve ser entendido no sentido de e questões complexas e que ultrapassam
Começando-se pela última das situações estas ideações se apresentarem ainda de o carácter introdutório deste artigo. Estas
– “patenteabilidade de descobertas” –, forma genérica e abstrata, quedando-se duas situações são os métodos de negó-
a diferença entre descoberta e invenção no puro plano conceptual. Mas, se tais cio e os programas de computador.
nem sempre é fácil de se fazer. Adotando- ideias (e conceitos, princípios, processos, Quanto aos métodos de negócio(19), em
-se a posição da doutrina nacional(15) mais sistemas, métodos operacionais) se plas- Portugal, a sua patenteabilidade está ex-
relevante, “a descoberta é um estado de marem depois em certas e determinadas cluída se o objeto que se pretende prote-

10. Tendo presente o Acordo internacional ADPIC/TRIPS (Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights) em particular, o nº 1 do artigo 27º do ADPIC/TRIPS N/ tradução:
“… é possível a concessão de patente para qualquer invenção, quer de produtos ou processos, em todos os domínios da tecnologia… “.
11. A redação da lei portuguesa – nº1 do artigo 53º do CPI - não se apresenta feliz e clara, prevendo: “As invenções cuja exploração comercial seja contrária à lei, à ordem pública, à
saúde pública e aos bons costumes são excluídas da patenteabilidade, não podendo a exploração ser considerada como tal pelo simples facto de ser proibida por disposição legal ou
regulamentar”. Se verificarmos, no nº 2 do artigo 27º do ADPIC/TRIPS estipula-se algo um pouco diferente:“Members may exclude from patentability inventions, the prevention within their
territory of the commercial exploitation of which is necessary to protect ordre public or morality, including to protect human, animal or plant life or health or to avoid serious prejudice to the
environment, provided that such exclusion is not made merely because the exploitation is prohibited by their law”. Como se refere a “exclusão da patenteabilidade se prende com a ilicitude
da exploração comercial da invenção e não a ilicitude do objecto…” – in Código da Propriedade Industrial Anotado, António Campinos, Luís Couto Gonçalves- anotação ao artigo 53º. O
objetivo é, portanto, impedir-se aquela exploração comercial que cause prejuízos à moral e ordem pública, salvaguardando-se um conjunto de bens públicos, como a saúde ou vida humana,
animal e vegetal ou o ambiente.
12. Nº 2 do artigo 53º do CPI.
13. Nº3 do artigo 53º do CPI.
14. Vd. alínea c do nº1 do artigo 54º do CPI, que prevê: “Uma invenção nova, que implique atividade inventiva e seja suscetível de aplicação industrial, que incida sobre qualquer elemento
isolado do corpo humano ou produzido de outra forma por um processo técnico, …”.
15. Vd. Luís Couto Gonçalves, in Manual de Direito Industrial, 7ª edição, págs. 45 e ss.
Vd. José de Oliveira Ascensão, in Direito de Autor e Direitos Conexos, págs. 58 e ss, que afirma: “categoricamente que não há propriedade ou exclusividade de ideias. As ideias, uma vez
concebidas, são património comum da humanidade”.
16. Vd. Código de Direitos de Autor e Direitos Conexos, no seu artigo 1º, nº2, em que se prevê que “as ideias, os processos, os sistemas, os métodos operacionais, os conceitos, os princípios ou
as descobertas não são, por si só e enquanto tais, protegidos nos termos deste Código”.
17. O CPI, na alínea d) do nº1 do artigo 52.º, prevê enquanto exclusões de patenteabilidade: “os projetos, os princípios e os métodos do exercício de actividades intelectuais … no domínio das
atividades económicas, assim como os programas de computadores, como tais, sem qualquer contributo”; - Mas, no nº 3, refere-se ainda que “… só exclui a patenteabilidade quando o
objeto para que é solicitada a patente se limite aos elementos nele mencionados”.
18. Enunciados na lei – vd. alínea d) do artigo 52º do CPI – enquanto métodos do exercício de atividades intelectuais … no domínio das atividades económicas”.
19. Vd. Código da Propriedade Industrial Anotado, António Campinos, Luís Couto Gonçalves- anotação ao artigo 52º.

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INOVAÇÃO

ger estiver “desprovido de carácter e efeito tal, não pode ser objeto de patente(26)”. São questões que não tiveram ainda uma
técnico”(20). Neste âmbito, o Instituto por- Com efeito, não são patenteáveis aqueles resposta dos legisladores, nacional ou
tuguês tem adotado uma posição seme- programas de computador – nas palavras europeu. Têm sido respondidas, primor-
lhante à posição do Instituto da Patente da lei – “… como tais, sem qualquer con- dialmente, através de um conjunto de de-
Europeia, que tem proferido um conjunto tributo(27)” e “… quando o objeto para que cisões que integram a chamada “jurispru-
de decisões, seja acerca do conceito de é solicitada a patente se limite aos ele- dência” do Instituto da Patente Europeia.
efeito técnico(21), seja sobre alguns méto- mentos nele mencionados(28)”. De forma muito breve, diremos que,
dos excluídos de patenteabilidade(22). Portanto, apesar de a preferência legal ser atualmente, o carácter técnico constitui
Por último, não menos relevante e com ainda pelos direitos de autor, a proteção um requisito essencial de patenteabilida-
cada vez maior importância económica, em termos de patente, em Portugal e ain- de nesta situação. Assim, em abstrato,
surge a questão da patenteabilidade dos da no Instituto da Patente Europeia, não pode ser patenteável aquele programa de
programas de computador. Dada a sua se encontra à partida totalmente excluída. computador cujo carácter técnico se ma-
complexidade, far-se-á uma análise muito Ter-se-á, sim, é de preencher um conjunto nifeste na produção de “um efeito técnico
resumida deste assunto. No entanto, note- de condições legais para que se consiga suplementar distinto da mera interação
-se desde logo que a preferência do legis- proteger um programa por patente. Não é física entre o programa e o computa-
lador(23) é a de conceder àqueles progra- todo e qualquer programa de computador dor(29)” e que se apresente enquanto uma
mas uma proteção “análoga à conferida que à partida será elegível para ser paten- invenção, nova, com atividade inventiva
às obras literárias em termos de direitos teado. e tenha aplicação industrial. Os progra-
de autor”(24). Por outro lado, ainda sobre Mas, então, naturalmente, perguntar-se- mas de computador que cumpram estes
o prisma dos direitos de autor, prevê-se -á: que programa de computador é paten- requisitos, em princípio, poderão ser pro-
ainda que esta proteção “… não prejudica teável? tegidos por patente.
a liberdade das ideias e dos princípios que - Aquele que constitua, desde logo, uma A concluir este já longo deste texto, foram
estão na base de qualquer elemento do invenção e que cumpra os requisitos de assim apresentadas breves notas sobre
programa ou da sua interoperabilidade, patenteabilidade acima já aflorados. algumas criações inovadoras que podem,
como a lógica, os algoritmos ou a lingua- Mas como podemos entender o concei- ou não, ser protegidas por patente. Mui-
gem de programação”(25). Têm-se entendi- to de invenção e aqueles requisitos em tas outras não foram sequer abordadas,
do, em Portugal, que estes são livres. face de uma criação como o programa de dado o carácter breve pretendido. A com-
Quanto à questão da proteção por paten- computador? O que se entende por pro- plexidade dos temas agora enunciados su-
te, no actual contexto legal, considera-se gramas “enquanto tais, sem qualquer con- gere sempre a análise e aconselhamento
que um “programa de computador, como tributo”? prévios especializados.
20. Vd. por exemplo decisões T 854/90, T 931/95 e T 258/03 - https://www.epo.org
21. Vd. por exemplo decisões T 16/83, T 854/90 e T 931/95 - https://www.epo.org
22. Vd. Decreto-Lei n.º 252/94, de 20 de Outubro, que transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 91/250/CEE, do Conselho, de 14 de Maio
23. Vd. nº 2 do artigo 1º do Decreto-Lei n.º 252/94.
24. Vd nº 2 do artigo 2º.
25. Vd. Luís Couto Gonçalves, in Manual de Direito Industrial, 7ª edição, págs. 47 e ss.
26. Vd. artigo 52.º do CPI: “Excetuam-se do disposto no artigo anterior:” - alínea d) do nº1: “ … os programas de computadores, como tais, sem qualquer contributo”;
27. Vd. nº 3 do artigo 52º do CPI.
28. Vd. Luís Couto Gonçalves, in Manual de Direito Industrial, 7ª edição, págs. 47 e ss.

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A Fraude e a Evasão Fiscal
na União Europeia: Novidade
do “Luxleaks” aos “Panama Papers”

Escrito a partir da experiência parlamentar do


autor no Parlamento Europeu, este livro convida
o leitor para uma viagem ao mundo da vigarice
fiscal.
Através de uma linguagem simples e acessível, é
desbravado caminho numa área deliberadamente
complexa onde o cidadão comum muitas vezes
não é bem-vindo.
Este livro contribuindo para uma melhor com-
preensão por parte dos leitores desta temática,
pretende dar passos na mobilização da opinião
pública, não permitindo que, como aconteceu no
passado, a questão da fraude e da evasão fiscal
caia no esquecimento.

Estrutura da obra:
Capítulo 1: Os antecedentes
(A globalização financeira e a desregulamenta-
ção; Os paraísos fiscais)
Capítulo 2: Os protagonistas
(As multinacionais; As big four; As instituições
políticas; O sistema financeiro; Os lançadores de
alerta )
Capítulo 3: Tipologia e mecanismos da fraude e
evasão fiscal
(Três exemplos clássicos; Manual de instruções
da fraude e evasão fiscal)
Capítulo 4: O papel das instituições europeias
Autor Miguel Viegas (Deputado no Parlamento Europeu) (Antes do “Luxleaks”; Após o “Luxleaks”)
Págs. 112 PVP €12.90

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VENDAS

Só vai a jogo quem também


treina competências funcionais
José Carlos F. Pereira
MBA pela ESADE
Business Expert & Developer

O
mundo das vendas nunca este-
ve tão agitado e dinâmico como
está hoje – o jogo é só mesmo
para ser jogado por campeões se o obje-
tivo for atingir resultados extraordinários.
A explosão da tecnologia disponível, a auto-
mação e novas ferramentas, a Inteligência
Artificial, os “Bots”, o “social selling” pelo so de informação de venda numa apresen- seja, alguém com mais experiência em
meio, a integração efetiva do SMarketing tação, quando quase tudo está à distância algum tema que os possa ajudar no pro-
(Sales + Marketing), e poderia continuar – de um “googlar” por parte de quem com- cesso de decisão, para que o mesmo seja
o paradigma em parte mudou e vai mudar pra quando quer saber mais sobre o nosso mais eficiente e eficaz (comprar bem a um
novamente, logo as competências funcio- produto/serviço. E como contornar isto? Há melhor preço). E é aqui que, na minha opi-
nais passam a ser obrigatórias se o foco é a formas de funcionalmente sermos melhores nião, entra o vendedor dos nossos dias…
um consultor de vendas!
Este novo vendedor cria facilmente rela-
cionamentos, ajuda no processo de com-
No treino de vendas podemos procurar pra e encontra soluções para as “dores”
atividades nas quais já estamos envolvidos, do seu cliente. As competências interpes-
como sessões práticas, para desenvolver soais do passado não saíram do jogo, bem
pelo contrário – investir na relação, fazer
competências em vendas. Já pensou nisto? as perguntas certas e identificar com cria-
tividade as soluções é fundamental para
ter sucesso.
diferenciação, e é em parte isso que tento que as máquinas? A automação pode ser
explorar neste artigo, com algumas boas melhorada? Existe diferenciação com novas “As competências
práticas numa vertente funcional, de forma (ou velhas) competências no novo mundo interpessoais do passado não
a provocar melhores resultados. das vendas? Julgo que sim! Nunca colocan- saíram do jogo, bem pelo
Há precisamente um ano, explorava al- do em causa tudo o que de bom as novas contrário – investir na relação,
gumas características de um vendedor ferramentas nos trouxeram para estudar e fazer as perguntas certas e
Top performer. Aqui, neste desafio a mim entender a procura. identificar com criatividade as
mesmo, numa espécie de “note to self”, soluções é fundamental para
depois de amadurecer algumas ideias e E que tal fazer do ter sucesso.”
práticas em várias equipas, com erros pelo supostamente velho novo,
meio, tento explorar algumas competên- novamente? Passo a explicar: As técnicas tradicionais de treino em ven-
cias funcionais, dando especial importân- No novo jogo das vendas, os clientes em das continuam a ser válidas – formação
cia à comunicação. potencial continuam a precisar de alguém em sala, ler um livro, webinars, etc. –; a
Já nem quero entrar no dilema da “old (humano) para os ajudar no caminho da questão é o tempo escasso que temos
school” vs “new school” – no “martelanço” compra, de forma a transformar conhe- para investir na tipologia de treino tra-
das “cold calls” de prospeção que podem ser cimento em algo útil para os seus negó- dicional em função da dinâmica atual. E
substituídas por marketing de automação; cios... embora reconheça que cada vez como combater isto? Será possível traba-
“surveys” obsoletos de análise quantitativa menos em processos rotineiros que não lhar competências funcionais, do tipo ir ao
comparados com sistemas incríveis de Inte- obriguem a intervenção humana, como ginásio todos os dias com boas práticas,
ligência Artificial que procuram intenções de por exemplo o ecommerce de produtos para ganhar músculo em vendas sem estar
compra em redes sociais; ou mesmo exces- de grande rotatividade (e até outros). Ou preso um dia inteiro em formação?

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VENDAS

O treino funcional num ginásio depende humana se torna importante? Um algorit- dos. A concorrência é um bom e saudável
de exercícios que imitam as ações em que mo pode, eventualmente, ser melhor para estímulo, até para nos podermos com-
nos podemos envolver durante o nosso descobrir as necessidades de um cliente parar com alguém em algumas métricas,
dia-a-dia. Da mesma forma, no treino de em potencial, mas não pode substituir a num mundo competitivo, dinâmico e de-
vendas podemos procurar atividades nas interação empática entre duas pessoas safiante. E se essa competitividade, para
quais já estamos envolvidos, como ses- (comprador e vendedor). A empatia é que o mercado discrimine a nosso favor
sões práticas, para desenvolver compe- uma habilidade humana, acredito que em amanhã, pudesse ser trabalhada como
tências em vendas. Já pensou nisto? Será parte inata, embora possa ser melhora- um músculo? Logo, quanto mais usar a
que podemos, então, treinar interação da com a prática. Como estamos sempre competição, mais eficaz vai ficar em ba-
para a relação, empatia para a “ligação”, rodeados de pessoas, ficam aqui duas su- ter metas, e, como a mim próprio recor-
criatividade para encontrar soluções e co- gestões para serem repetidas diariamen- do sempre, no limite “o maior desafio
municação para ser mais eficaz? te: contacto visual com todas pessoas com somos nós mesmos com o que consegui-
Sim, com um foco intencional e um pou- que se cruze no seu dia-a-dia, cumprimen- mos melhorar hoje sobre os resultados de
co de planeamento no treino para desen- tando-as pelo nome sempre que possível ontem”. Uma sugestão simples para cul-
volver estas “skills” todos os dias. Como é (quando identificadas); quando estiver tivar esta competência funcional: definir
meu hábito, pois também sou um homem com um grupo de amigos, perguntar sobre metas, sejam elas semanais ou mensais
de rotinas (acredito profundamente que um desafio atual do outro, extraprofissio- em algumas atividades extraprofissionais
somos aquilo que repetidamente faze- nal, e não fazer nada mais senão ouvir o (exemplos: tempo de permanência no gi-
mos), num formato de “copos telegráfi-
cos”, aqui estão seis competências fun-
cionais que podem, eventualmente, ser
desenvolvidas diariamente:

1
Descobrir os problemas e desafios
do cliente – A capacidade de enten-
der os problemas dos clientes com
potencial de compra é uma competência
crítica nas vendas. A tecnologia e auto-
mação assumem, e bem, as vendas de
simples transações, enquanto os ven-
dedores de hoje podem trabalhar escla-
recimentos de problemas reais que os
clientes estão a enfrentar nas vendas de
soluções e projetos mais elaborados. Sa-
ber fazer perguntas é uma arte, embora
não seja suficiente. Hoje, o papel é qua-
se o do detetive, demonstrando conforto outro. Lembre-se – a venda é um proces- násio ou a fazer exercício físico, número
no “caminho de compra” com proximi- so de ouvir o outro, bem mais do que fa- de livros lidos ou “x” páginas de um livro,
dade e conectividade. Duas dicas práti- lar. Quando ouvimos, estamos, à partida, chegar mais cedo a um determinado horá-
cas podem ser estas: ir para um evento sempre a receber algo que não sabemos rio de entrada no escritório, etc.) e acom-
profissional (workshop ou seminário) e ainda! panhe medindo os progressos. Registe os
comprometer-se consigo mesmo a falar resultados de atividades dentro e fora do
o mínimo possível – do tipo de, quando “Um algoritmo pode, trabalho, não se restringindo ao extrapro-
sentir vontade de fazer uma intervenção, eventualmente, ser melhor fissional (exemplo: indicadores e objetivos
fazer apenas e só uma pergunta; ao ouvir para descobrir as necessidades de vendas, etc.), em função do período de
os profissionais dos programas favoritos de um cliente em potencial, análise definido e supere-se. Isto é uma
de jornalismo (na TV, rádio ou podcasts), mas não pode substituir a prática simples para ganhar músculo na
prestar atenção a como eles fazem per- interação empática entre duas função competição.
guntas para que as pessoas se abram e pessoas.”

4
sintam confortáveis. Experimente, pois a Exercer o poder de influência em

3
mim custou-me muito fazer, mas provo- Ser competitivo e ambicioso (de quem queremos atingir – As con-
cou bons resultados com algum treino. forma sadia) – Só consigo conceber versas ou reuniões “one to one”
o jogo das vendas com objetivos são importantes e normalmente não inti-

2
Criar empatia com os clientes – Já bem definidos e recompensas pelo seu midam ninguém (julgo que uma maioria é
pensou que, ironicamente, quanto atingimento, visto que são essas recom- forte neste modelo). A questão é quando
mais tecnologia se insere em de- pensas (e reconhecimento) o desafio e a o processo de uma proposta que apresen-
terminados dispositivos mais a interação energia que alimentam os bons resulta- tamos avança e mais à frente temos de

17 | START&GO | novembro/dezembro 2018


VENDAS

nos apresentar para um grupo de pessoas com a parte criativa muito activa! Eu tento ção que preferem e como adaptar a nossa
que vai ter intervenção direta na decisão autoestimular-me da seguinte forma: hoje estratégia de comunicação ao seu estilo.
de compra. Não chego ao limite do “public em dia, ouço muitos “podcasts” e tento Então, antes de identificar ou emergir nas
speaking”, a que me obrigo quase sema- seguir algumas mentes criativas e entre- “buyers personas”, nos estudos de caso e
nalmente em diferentes intervenções que vistas aos mesmos, de forma a entender no conteúdo de marketing, a minha suges-
faço, falo apenas de praticar falar para qual a origem das suas ideias; outro for- tão passa por praticar estas competências:
públicos mais restritos. É possível praticar mato é assistir a alguns vídeos fora da mi- a atenção ao outro e a escuta ativa; estu-
esta competência funcional? É, e ficam nha zona profissional ou mesmo de temas dar e praticar linguagem corporal (a nossa
aqui umas pequenas sugestões: assistir a que apelam ao meu pensamento contra- e a deles); perceber tudo aquilo que não é
vídeos no youtube de grandes oradores ditório, esperando que o meu cérebro por dito com empatia, provocando uma forte
em termos de comunicação e tentar sele- vezes se auto-estimule a pensar de forma conectividade; ser persistente na comuni-

Hoje o marketing e as vendas devem ter por


base oferecer produtos/serviços com histórias
que se partilham, por pessoas e marcas
memoráveis que ficam retidas no “top of the
mind” de quem em potencial pode comprar

cionar e seguir aqueles que mais impacto


têm nas suas plateias. Repetir a visualiza-
ção de alguns vídeos muitas vezes, pois
numa primeira visualização estará apenas
atento ao conteúdo, na segunda à sua lin-
guagem não verbal (aos seus gestos em
sintonia, ou não, com as suas palavras) e,
numa terceira visualização, já vai ser pos- diferente. E por vezes, felizmente, surgem cação de atração e não intrusivo; e gerir
sível aprender, registar e praticar o que boas ideias ou diferentes perspetivas para e estar confortável com as pausas e os si-
eles estão a fazer; outra sugestão são os olhar sobre o mesmo assunto. lêncios.
“toastmasters” locais, pois uma das for- Acredito profundamente que hoje o marke-

6
mas de melhorar o falar em púbico é pra- Ser um “expert” a comunicar - um ting e as vendas devem ter por base ofere-
ticar sobre um modelo e repetir muitas dos fatores críticos de sucesso em cer produtos/serviços com histórias que se
vezes até se tornar “natural”; no limite, vendas é a capacidade de recolher partilham, por pessoas e marcas memorá-
praticar em frente ao espelho ou mesmo e fornecer informações num formato tal veis que ficam retidas no “top of the mind”
grupo de amigos, mesmo com conteúdos que o cliente, em potencial, deseje fazer de quem em potencial pode comprar. E es-
de comédia ou num registo de anedotas. negócios connosco, porque simplesmente tes 6 bons hábitos, com sugestões de práti-
reconhece a nossa autoridade no tema/in- ca, julgo poderem contribuir para melhores

5
Encontrar soluções criativas para dústria. A nossa proposta de valor, o preço resultados, fazendo regressar algo suposta-
as “dores” do cliente – como es- e os benefícios do que oferecemos como mente velho (a relação e interação homem/
tamos a falar de músculos e treino produto/serviço são relevantes, mas nada homem) ao novo mundo das vendas com
funcional nas vendas, os maiores especia- disto importa, a menos que consigamos mais tecnologia incorporada.
listas em criatividade dizem que a mesma comunicar e nos façamos ouvir por quem As competências funcionais são, para
não é um “bicho de 7 cabeças” e pode ser compra (de que serve comunicar quan- mim, fatores críticos de sucesso nas ven-
estimulada. Na prática, a criatividade é a do não atingimos quem queremos atin- das. Sugiro, então, que dedique um pouco
capacidade de combinar informação e co- gir?). Logo, temos de estar incrivelmente do seu tempo a praticar as mesmas para
nhecimento que já existe, de duas áreas sintonizados ("rapport") com o potencial que amanhã estejam mais musculadas e
distintas, em algo novo que não existia com comprador e entender o que ele quer efe- com força para derrotar algumas automa-
aplicação no nosso negócio em específico. tivamente quando nos diz algo, ou quan- ções na “viagem de quem compra” – ou,
E é exatamente isso que os vendedores do mesmo nada nos disser (por vezes, ler simplesmente, talvez o melhor modelo
precisam de fazer para acrescentar valor aquilo que não é dito é relevante)! Preci- para mim, trabalhe melhor com todas as
aos seus clientes. Praticar a criatividade samos de saber como eles se movimen- automações e ferramentas digitais dispo-
do modelo de abordagem fora do registo tam no processo de decisão, com o que níveis, como complemento e soma ao que
profissional pode ter um impacto positivo eles realmente se importam da nossa pro- já faz bem, para potenciar resultados ex-
no trabalho, mesmo não sendo um artista posta de valor, qual o estilo de comunica- traordinários amanhã!

18 | START&GO | novembro/dezembro 2018


VENDAS

Como se adaptam os
vendedores ao desenrascanço
dos compradores
Daniela Moreira
Senior Consultant e facilidade de devolução. Contudo, em Adicionalmente, os vendedores que só
BWS Consulting compras mais complexas, ainda que rara- se relacionavam com o cliente pela ven-
dfmoreira@bws-consulting.pt
mente deixemos realizar alguma pesquisa, da presencial ou pessoal (telefónica, por
há uma tendência de se seguirem os pro- exemplo) passam a recorrer a uma pa-
cessos de compra mais tradicionais, con- nóplia de canais de comunicação digital,
sultando vendedores de confiança, pelos incluindo redes sociais, email-marketing,
ganhos de eficiência e de segurança con- etc, que completam ou substituem esfor-

N
as últimas décadas, a evolução seguidos. ços de vendas presencial.
das tecnologias da informação O aparecimento deste novo tipo de com- Mas as consequências sobre as equipas de
(TI) e a facilidade de acesso ge- pradores fez com que os métodos de vendas não são todas nefastas, dado que
neralizado aos canais digitais tem sido tal venda mais tradicionais, com abordagens a exploração cada vez mais optimizada das
que se verificou uma alteração radical nos personalizadas, tenham deixado de ser TI, permite, por exemplo:
processos de vendas em ambos os seg- suficientes. Tendo em consideração que • Chegar a mais clientes potenciais
mentos (B2C e B2B), com os compradores o nível de conhecimento prévio dos com- • Aperfeiçoar o perfil do cliente e re-
a estarem permanentemente conecta- pradores é diferente, a nova geração de distribuir equipas de venda de for-
dos e com mais informação sobre o que vendedores – combinam a sua abordagem ma mais eficaz (por exemplo, passar
pretendem comprar do que nunca. Esta de vendas com este nível de conhecimen- de uma lógica geográfica, para uma
mudança de paradigma tem criado um to dos compradores. orientação à necessidade)
conjunto de desafios para vendedores e • Acesso à informação em tempo real
também para compradores. A nova geração de vendedores, para ter su-
Com o acesso às informações fornecidas A adaptação das cesso, precisa de novas competências que
pelas TI através dos canais digitais, os com- equipas de vendas lhes permitam interagir de modo cirúrgico
pradores são autossuficientes e podem com cada cliente, utilizando de modo exímio
com facilidade prescindir do apoio e/ou
às mudanças as ferramentas a que têm acesso (e-mail, re-
intervenção de um vendedor. Por um lado, decorridas nas des sociais, webinars, podcasts, websites,
quando pretendemos saber ou aprender últimas décadas é app, etc.), bem como devem integrar-se
algo sobre um produto, um serviço, uma apenas um exemplo mais em todas as actividades em que haja
técnica, uma simples pesquisa num mo- da capacidade alguma relação com o cliente, por mínima
tor de busca pode resultar em milhares que temos de nos que seja, para se garantir que os clientes re-
de resultados, onde se incluem, artigos cebem mensagens consistentes e assentes
técnicos, blogs, fóruns, vídeos, páginas de
adaptarmos às numa estratégia bem orquestrada.
fornecedores, páginas de influenciadores novas circunstâncias. O desenvolvimento de novas competên-
sociais (em que imparcialidade pode ser cias vai ser o kikckoff para um processo de
posta em causa). Por outro, também po- mudança transformador na forma como
demos comprar através do canal online, Para poderem ter uma abordagem mais se gerem, interagem, motivam, remune-
prescindindo da ajuda que até então, era personalizada para chegar até aos clien- ram e treinam as estruturas comerciais
altamente valorizada. tes e com a quantidade de informação, das empresas
Enquanto compradores, o nosso nível de os vendedores passaram a ter novas ne- A adaptação das equipas de vendas às
desenrascanço (característica tipicamen- cessidades que passam pela adopção das mudanças decorridas nas últimas décadas
te portuguesa) varia consoante o tipo de TI. Desde o CRM que é fundamental, inde- é apenas um exemplo da capacidade que
compra que pretendemos realizar, che- pendentemente da dimensão da empresa, temos de nos adaptarmos às novas cir-
gando-se mesmo a eliminar o vendedor a utilização de ferramentas de gestão de cunstâncias.
do processo. De entre as vantagens, que dados, business intelligence e analytics¸ Mas será que estamos preparados, en-
vamos identificando, surge a facilidade de que lhes permitam tomar decisões mais quanto sociedade, para continuarmos
repetir encomendas, o acompanhamento inteligentes, não descurando obviamente sem limites neste caminho da automação
do estado da encomenda (desde o aguar- a componente das infra-estruturas e equi- e do “Do it yourself”? Deixo esta reflexão
dar pagamento até entrega efectuada) pamentos associada a esta necessidade. para outra oportunidade!

19 | START&GO | novembro/dezembro 2018


GESTÃO DE MARCA

Menos Tendência, Mais Essência.


Renata Abranchs dilhas que as fariam perder o seu sentido Com este caminho de aprimoramento da
especialista em Fashion Branding, maior. Só para lembrar algumas que você nossa metodologia, além do movimento
Pesquisa e Consultadoria de Estilo
conhece e que nos inspiraram a imergir sem volta das marcas, nós, do Bureau, es-
neste mundo: Levi´s, Patagônia, Adidas, tudamos a fundo os ciclos geracionais e as
Chanel, Havaianas, Klaus Porto. Em co- novas formas de consumir, num processo
mum, atitudes recorrentes, linguagem in- contínuo e diário que, de 2013 para cá, nos

P
arecia ser só mais uma terça-feira. confundível, produtos proprietários e co- trouxe mais de 20 projetos de estratégia de
Toca o telefone, e logo, o convite: munidade engajada. Sabe porquê? Porque marca, com empresas dos mais diversos
Bom dia, Renata! Depois de alguns tudo o que elas falam e fazem é a mais pura portes, contribuindo para o fortalecimento
meses de trocas e negociações, enfim, o verdade. das mesmas.
nosso CEO quer conversar pessoalmente Um episódio recente, que tangibiliza mui- Esse caminho nos levou a romper as bar-
com você! E lá fui eu para São Paulo, para to claramente o quanto legitimidade e reiras do mercado brasileiro, e, em 2017,
o encontro que me abriria de vez as portas coerência importam para os seguidores chegámos a Portugal, para iniciar um pro-
para o mundo do Branding. de uma marca: na última Paris Fashion jeto muitíssimo estratégico da gigante Sal-
Se tratava da Hering, marca brasileira de Week, a francesa Céline causou um forte sa (jeans). Da clarificação da essência e de
Moda (e a principal do Grupo Hering), que desconforto nas admiradoras da marca ao todos os atributos que constroem o novo
faz parte da vida da maioria dos brasileiros apresentar uma coleção intrigantemente posicionamento da companhia à realiza-
por se tratar de uma das empresas mais diferente de tudo o que ela construíra por ção destas diretrizes nas coleções e na co-
antigas do país (+135 anos) e uma das mais municação, um ano após iniciada a nossa
fortes e valiosas redes de franquias do Brasil, construção, já é possível notar sua atuação
presente em cada cantinho do nosso mapa. Menos Tendência, como marca refrescada, a oferta de produ-
Em mais um ciclo de renovação habitual, a Mais Essência é meu tos atualizada, a equipa mais consciente e
Hering acabava de construir um Brandbook alinhada ao novo posicionamento “It Jeans
e nos convocava, então, para ajudar na ma-
mantra desde 2009, Me”.
terialização de todos aqueles conceitos por quando comecei a Enfim, o que se ganha imergindo e traba-
meio do Lifestyle e do Design de seus pro- me aprofundar no lhando definitivamente pela Vocação e Es-
dutos. Questões como “quem seriam seus fascinante universo sência da sua marca e não mais surfando
embaixadores ideais”; “qual o novo Look & das marcas com em ondas e modismos?
Feel dos pontos de venda ou o perfil dos alma, personalidade
vendedores... indo mais além: ˜como seria • Sua marca mais consciente de sua essên-
o seu design autoral? Seus looks, estampas,
e história cia e atributos proprietários e diferencia-
cores, tecidos proprietários?” Estava lança- dores, a alicerçar o crescimento de seu
do o desafio! valor no mercado;
Durante nove meses envolvemos todas as décadas como identidade de marca. An- • Maior sustentabilidade para o negócio
suas lideranças (do MKT à Engenharia de tes e sempre: um estilo chic – atemporal (redução de risco e desperdício, otimiza-
Produção) em torno da Essência da marca, - artsy, para uma mulher autêntica e culta; ção de recursos);
desenvolvemos diretrizes objetivas para agora, com a mudança na direção criativa: • Equipas confiantes e alinhadas, remando
que Produtos e Comunicação pudessem uma Celine (sem o acento agudo), sem para a mesma direção;
atuar estratégica e coerentemente como arte, monocromática (preta), imatura, qua- • Seus seguidores mais próximos e enga-
reforço do novo posicionamento e perpe- se banal. Resultado: um enorme protesto jados;
tuação da marca. fashion! No dia seguinte ao desfile, cente- • Seus donos e donas podendo até tirar um
O ano era 2013. E o projeto seria uma das nas de clientes e editoras de moda tiram ano sabático (!) porque sabem que suas
pedras fundamentais para o processo de seus antigos Céline do guarda-roupa, estre- lideranças caminham de pés firmes e co-
reestruturação e crescimento iniciado no lam coloridas nas redes sociais e viralizam nhecem bem o caminho.
ano 2010, ajudando a seta da faturação a campanha #OldCeline. Dois dias depois,
anual subir de R$480 milhões para R$ 2 bi- é criada a conta @OldCéline no instagram, É um movimento sem volta e sem prece-
lhões (+400%), em 2018. que até o momento do fecho deste artigo, dentes na história do Branding, o de as
Menos Tendência, Mais Essência é meu três semanas após a sua criação, já tem marcas priorizarem reconhecerem-se para
mantra desde 2009, quando comecei a mais de 120 mil seguidores. se renovarem. Elas estão, enfim, conven-
me aprofundar no fascinante universo das cidas de que só se acessando, de dentro
marcas com alma, personalidade e história. Conclusão: “Você é para fora, conseguem insumos para inovar
Que agem com legitimidade e coerência, a responsável por tudo aquilo e perpetuar seu valor único com inabalável
resistir a modismos baratos e outras arma- que cativas” legitimidade. E você, já começou?

20 | START&GO | novembro/dezembro 2018


MARKETING

A arte de navegar o marketing


das start-ups
Carlos Brito Neste contexto, o ativo de marketing mais cida num canto menos famoso do planeta.
Professor da Faculdade de Economia
– Universidade do Porto importante é a marca. É ela que contribui Quer isto dizer que o sucesso da estraté-
para aumentar a confiança no projeto, gia de marketing de uma start-up depende
atraindo dessa forma clientes, investido- muito da reputação de quem está no “bar-
res e outras parcerias. Está-se, obviamen- co” – os empreendedores, os investidores
te, a falar em marca no sentido lato do ter- ou outros parceiros de referência –, assim

O
marketing ajuda as empresas a mo, não restringida à dos produtos nem à como do “mar” em que navega – ou seja,
atraírem clientes, a manterem corporativa consubstanciada no nome da o ecossistema onde foi gerada ou a partir
aqueles que efetivamente in- start-up. do qual atua.
teressam e, desse modo, a criarem valor Com efeito, quando se diz marca, estamos Tudo o que for feito para valorizar a marca
de forma sustentável. Para isso há que a referir-nos a todos os ativos intangíveis neste sentido mais amplo é um passo na
analisar o mercado, formular propostas com impacto no posicionamento da start- direção do sucesso. A começar no bran-
de valor atrativas para os clientes e dife- -up no mercado. O que significa que se ding pessoal do empreendedor e a aca-
renciadas da concorrência, e desenvolver está também incluir o nome do empreen- bar na agregação ao projeto de stakehol-
políticas de marketing que as operacio- dedor ou de algum investidor de refe- ders que acrescentem valor reputacional:
nalizem através de produtos e formas de clientes de renome que ajudem a desen-
comunicar e distribuir bem, assim como volver o produto ou serviço, investidores
preços que sejam consistentes com o po- que aportem smart money e não apenas
sicionamento pretendido.
Quer isto dizer que o dinheiro, bem como universidades e cen-
Sendo esta, em traços gerais, a abordagem sucesso da estratégia tros tecnológicos que, além de capacida-
a adotar, como é que se faz a sua aplicação de marketing de de I&D+i, tragam prestígio. O próprio
a uma start-up? Por outras palavras, qual de uma start-up ecossistema onde nasce não “amarra” a
a especificidade do marketing de uma em- depende muito da start-up para o resto da sua vida. É sempre
presa ainda numa fase emergente que, ex- reputação de quem possível criar facilities e, no limite, trans-
plorando um produto, serviço ou modelo ferir a própria sede para hubs de inovação
de negócio inovador, enfrenta um elevado
está no “barco” – os de topo a nível mundial que atraiam talen-
grau de incerteza, apesar do não menos empreendedores, to, negócio e capital.
elevado potencial de ganhos decorrente os investidores ou Daí a importância de Portugal ser visto
da possível escalabilidade do projeto? outros parceiros de na cena global como um ecossistema di-
Em geral, um negócio com estas carac- referência –, assim nâmico de empreendedorismo. Eventos
terísticas exige uma estratégia que é um como do “mar” em como a Web Summit ou estruturas como
misto de marketing pessoal (do próprio o UPTEC são fatores críticos de sucesso
empreendedor ou equipa fundadora) com
que navega – ou seja, que contribuem não só para a retenção do
marketing internacional (para escalar o o ecossistema onde talento criado no país mas também para
projeto) e ainda de marketing business-to- foi gerada ou a partir atrair o que vem de fora, dando assim ori-
-business e de serviços (caso a atividade do qual atua gem a verdadeiros melting pots geradores
se centre nessas áreas, o que acontece na de riqueza e emprego qualificado.
maioria dos casos). Em suma, gerir o marketing de uma start-
Dado tratar-se de um negócio com ca- -up passa pela utilização de um conjunto
racterísticas muitas vezes não testadas, rência que já tenha aplicado dinheiro na de técnicas que exige conhecimentos e
o grande desafio é criar nos stakeholders start-up, bem como o da universidade ou competências sofisticadas. Mas envolve
uma imagem que os leve a acreditar na ecossistema a partir do qual ela emergiu. também a “arte de navegar” em “ocea-
start-up. Sem essa necessária credibilida- Concretamente, se alguém disser que se nos” que não se restrinjam ao “mar”
de, dificilmente os clientes irão comprar trata de um projeto criado por Mark Zu- onde o negócio emergiu, agregando
produtos e serviços que com toda a cer- ckerberg, só isso é passível de gerar con- nessa aventura clientes, investidores e
teza ainda se encontram numa fase em- fiança por mais desconhecida que a start- centros de saber que aportem não só ne-
brionária de desenvolvimento e os investi- -up seja. Da mesma forma que se se disser gócio, capital e conhecimento mas tam-
dores aplicar o seu capital numa empresa que foi criada em Silicon Valley ou que é bém o prestígio necessário para o próprio
que mal gerou receitas e, muito menos, uma spin-off do MIT, só isso lhe traz um “barco” crescer e se transformar num
lucros. acréscimo de reputação face a outra nas- “navio de cruzeiro”.

21 | START&GO | novembro/dezembro 2018


GESTÃO DE QUALIDADE

Os vizinhos de cima e o seu umbigo…


André Pinheiro
Direção de Qualidade (a frequência não é obrigatória), e, para assim. O gestor preocupa-se com aspectos
afpinheiro75@gmail.com além da análise dos indicadores, repre- gerais, com a estratégia e/ou as vendas,
senta também uma oportunidade para os delegando tudo para quem está abaixo de
gestores comunicarem directamente com si na hierarquia da empresa. E os que es-
quem está no terreno, os operadores, os tão abaixo poderão, por sua vez, delegar
chefes de linha, os supervisores, os téc- em chefes de linha, técnicos, etc. E isso
nicos. No meu entender, esta “volta pela não é necessariamente errado, principal-

E
sta noite tive algumas dificuldades produção” deve ocorrer sempre que pos- mente em empresas de grande dimensão.
em adormecer. Infelizmente, os vi- sível, não numa lógica de análise de indi- Mas se algo nesta engrenagem falhar, as
zinhos do andar acima do meu têm cadores, mas de ver como estão a correr “peças” vão sentir-se não só desapoiadas
horários claramente diferentes dos da as coisas, cumprimentar as pessoas, ouvir mas também desanimadas, e muitas vezes
maioria das pessoas, e isto leva a que oca- uma ou outra e, se houver essa possibili- os efeitos disso só se sentem quando a en-
sionalmente tenham a tv demasiado alta, dade, torná-la num hábito diário. grenagem já está com problemas sérios.
ou estejam a ouvir música a horas que a Isto permite aproximar a gestão dos ope- E entretanto… alguém menciona que a
maior parte das pessoas considera impró- radores, e se os primeiros manobram a empresa é boa porque tem certificação de
prias para tal. E, naturalmente, o fraco iso- estratégia da empresa, os segundos pro- qualidade, o que para muitos significa que
lamento acústico do prédio não ajuda. duzem com as próprias mãos aquilo que “faz as coisas bem feitas”. Para o operador
Ainda assim, é de certa forma estranho da linha, isso pode soar a hipocrisia, au-
que não tenham consciência das conse- mentando ainda mais o seu desânimo e a
quências de ter a tv ou a aparelhagem descrença no papel da gestão.
com um volume demasiado alto. Ou então
A micro-gestão é A versão actual da norma de Gestão de
até terão a dita consciência, mas não lhe altamente negativa. Sistemas Qualidade, a ISO9001:2015, tor-
darão grande valor. Não é suposto nou o requisito de definição das “partes
Isto fez-me pensar numa situação a que um gestor saber interessadas” em algo mais abrangente
tenho assistido recentemente, em vá- quantos panos de do que já existia. Agora não basta apenas
rias empresas, de áreas distintas: muitos limpeza se utilizam responder aos accionistas ou donos da
trabalhadores optam por procurar novas empresa, sendo necessário também olhar
oportunidades fora da empresa em que
por mês… mas ao não apenas para a envolvente da organi-
estão, com a justificação de que “os que mesmo tempo, ele zação, mas também para quem a compõe,
estão lá em cima (os gestores) não fazem não se deve alhear no seu interior. E isso inclui os operadores.
ideia do volume de trabalho a que esta- do que se passa A empresa deve demonstrar que acompa-
mos sujeitos!”. Não é raro ouvir pessoas na produção, e nha a motivação dos seus trabalhadores,
que se demitem com justificações como das pessoas que a seja com inquéritos (anónimos ou não),
“não querem saber”, ou “dão-nos traba- entrevistas espontâneas, ideias de melho-
lho sem saberem se conseguimos fazê-
compõem! ria ou qualquer outro tipo de indicador,
-lo!”. reagindo quando (ou se) surgem situa-
Eu sou o primeiro a reconhecer que a ções claras de descontentamento. A in-
microgestão é altamente negativa. Não é a empresa vai vender aos seus clientes, tenção da norma é que a gestão se mostre
suposto um gestor saber quantos panos logo são interdependentes. Já pude assis- mais próxima do que ocorre no interior da
de limpeza se utilizam por mês… mas, ao tir de forma muito clara a exemplos que empresa, com um nível mais elevado não
mesmo tempo, ele não se deve alhear do demonstram como esta aproximação dá apenas de conhecimento, mas essencial-
que se passa na produção, e das pessoas mais confiança aos operadores no papel mente de comprometimento.
que a compõem! da gestão, pois assim pressentem que esta Para as empresas em que isto já ocorre na-
A recente “moda” do Lean Kaizen trouxe é acessível. E, por outro lado, proporciona turalmente, trata-se apenas de demons-
para o terreno a ferramenta do Gemba também aos gestores uma maior facilida- trar algo que já existe. Para as outras,
Walk (em que “Gemba” vem do japonês de na compreensão das necessidades dos trata-se olhar para o seu próprio umbigo
“Genbutsu”, que significa “o lugar real”, diferentes níveis da organização. E isto, e perceber se a Qualidade é algo que real-
ou seja: a produção), que consiste numa não raras vezes, é o suficiente para detec- mente se sente no “vestir da camisola”, ou
caminhada percorrendo as áreas da em- tar e combater uma falta de motivação do que apenas serve para ter a bandeira da
presa, analisando os indicadores dos qua- colaborador A, ou uma incompatibilidade certificação à porta. E perceber que talvez
dros das equipas. Isto ocorre, em grande entre o colaborador B e o C. seja necessário baixarmos o som da TV
parte das empresas, uma vez por mês Mas há muitos locais em que isto não é para escutar quem está abaixo de nós.

22 | START&GO | novembro/dezembro 2018


GESTÃO DE QUALIDADE

“World State of Quality”


– perfil de Portugal!
Paulo Sampaio
Founding Partner Q4E
www.q4e.pt
geral@q4e.pt

A
utilização de indicadores é uma
prática muito comum nos mais
diversos setores e âmbitos de ati-
vidade, nomeadamente com vista à priori-
zação de projetos e das melhorias a intro-
duzir numa determinada organização ou áreas de melhoria, sendo para esse efeito e agir localmente”, mas também “a pensar
território. crucial a escolha dos dados, dimensões e local e agir globalmente” (Saraiva, 2015;
Já Lord Kelvin o dizia em pleno século XIX, fontes de informação a ter em conta para Saraiva & Sampaio, 2016).
ao afirmar que “Apenas quando consegui- esse mesmo fim (Hollanders, Es-Sadki, Foi este o contexto em que se desenvolveu
mos medir aquilo de que falamos, através & Kanerva, 2015; Kelley & Hurst, 2006; o projeto “World State of Quality” , posi-
de um número, estamos em condições de Mainz, 2003). cionado na esfera da macroqualidade, que
saber verdadeiramente alguma coisa sobre Atualmente, são vários os relatórios pu- visa igualmente suprir a lacuna identificada
o assunto”. blicados em áreas como Inovação, Saúde, de ausência de abordagens capazes de po-
Sustentabilidade, Felicidade, Educação, sicionar as diferentes nações no universo
Empreendedorismo. da qualidade.
Já Lord Kelvin o dizia Porém, uma pesquisa relativamente exaus- A macroqualidade tem que ver com a qua-
em pleno século tiva veio mostrar que não foram produzi- lidade e a forma como um país ou um con-
XIX, ao afirmar que dos até ao momento estudos semelhantes junto de países olham para esta em termos
"Apenas quando para a área da qualidade, que permitam de estratégias e políticas, incluindo as orga-
confrontar diferentes países em termos nizações, mas também as entidades públi-
conseguimos medir dos meios e resultados alcançados neste cas e governamentais, além dos cidadãos
aquilo de que mesmo universo. (Robert et al., 2011; World Health Organi-
falamos, através Ora, dentro de um entendimento multies- zation, 2002).
de um número, cala da qualidade, esta pode e deve ser Numa primeira fase, por facilidade de aces-
estamos em medida de acordo com várias escalas, que so a indicadores, estudaram-se os desem-
condições de saber abrangem diferentes dimensões no tempo penhos dos 28 países da União Europeia
e espaço (UE), refletidos nos valores de 2016 obtidos
verdadeiramente para o European Quality Scoreboard (EQS).
alguma coisa sobre o Para uma análise mais detalhada da totali-
assunto" dade dos resultados alcançados, remete-se
o leitor para a versão integral do relatório
(http://wsq.dps.uminho.pt/) apresentan-
Do mesmo modo que as organizações do-se de seguida algumas das principais
precisam crescentemente de conhecer o constatações das posições alcançadas por
estado em que se encontram, com os cor- Portugal .
respondentes níveis de desempenho devi-
damente quantificados, torna-se cada vez O perfil de Portugal
mais claro que também os territórios e paí-
ses precisam de conhecer os resultados al- (Figura 1 - Qualidade multinível). A observação das posições relativas alcan-
cançados, incluindo um confronto adequa- çadas pelo nosso país, quer para cada um
do entre as suas posições e as que são al- Torna-se importante pensar a qualidade dos 21 indicadores (R01 a R21 na Figura),
cançadas por outros territórios ou nações. segundo uma abordagem de “Qualidade quer de forma agregada, permitem retirar
Podem assim ficar a perceber melhor quais Glocal”, combinando aspetos locais e glo- o seguinte conjunto de constatações essen-
as suas forças, mas também identificar bais, de modo a não apenas “pensar global ciais :

23 | START&GO | novembro/dezembro 2018


GESTÃO DE QUALIDADE

- De modo agregado, em função dos valo- e Taxa de Mortalidade Infantil (10º lugar);
res de OEQS, o resultado de Portugal cor- - Por sua vez, do lado menos positivo, com
responde a 14,4, naquilo que corresponde valores de ranking igual ou abaixo do 20º
ao 15º lugar no contexto dos 28 Estados- lugar, encontramos os indicadores Índice
-membros da UE , querendo isto dizer que de Gini (20º lugar), Satisfação com o Em-
nos situamos na liderança da terceira cate- prego (21º lugar), Qualidade de Vida e Taxa
goria de países (Moderate); de Desemprego (24º lugar).
- Trata-se de um resultado apesar de tudo Do estudo detalhado dos resultados na-
interessante, mostrando que, aparente- cionais, bem como para os demais países
mente, em termos de macroqualidade, ao de UE, pode emergir uma visão bastante
ocupar a 15ª posição, Portugal se encontra lúcida daquilo que temos sido capazes de
mais bem posicionado na UE do que em alcançar mas igualmente das prioridades
muitos outros domínios de análise (e.g. subjacentes a uma agenda nacional de con-
PIB, inovação, propriedade industrial), solidação da qualidade, capaz de ambicio-
onde tipicamente nos situamos alguns lu- nar fazer-nos subir futuramente algumas
gares abaixo, várias vezes na proximidade posições neste “Campeonato Europeu da
do 20º lugar; Qualidade”, incluindo a legítima tentativa
- Pela positiva, com valores dentro do top de subir à “segunda divisão” deste mesmo
10, encontramos os indicadores Número campeonato, com ascensão ao grupo dos
de Membros da International Academy for países “Follower”. Depende também de
Quality (4º lugar), Bem-estar e Sustentabi- todo e cada um de nós lutar para que assim
lidade Ambiental (5º lugar), Número de En- aconteça efetivamente! Saiba mais sobre
tidades Certificadas pela Norma ISO 9001 este tema. (http://wsq.dps.uminho.pt/)

JOGOS E APOSTAS ONLINE EM PORTUGAL


Regime Jurídico e Fiscal

Uma coletânea, até agora inédita em Portugal, dos aspetos mais


relevantes sobre o regime jurídico e fiscal dos jogos e apostas
online.
Nela poderá ser encontrada uma panorâmica do enquadramen-
to jurídico e fiscal dos jogos e das apostas online, a legislação
aplicável, bem como a regulamentação, as instruções adminis-
trativas e as referências doutrinárias e jurisprudenciais.

Público Alvo:
A obra, em português e inglês, pretende ser um guião e uma
ferramenta útil para investidores, nacionais e internacionais, que
ponderam introduzir-se neste mercado.

Autores Rui Soares Pereira, Filipe Abreu e Raquel Dias


PVP €16.90

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24 | START&GO | novembro/dezembro 2018


EMPRESAS FAMILIARES

Empreendedorismo e cooperação
deviam ser indissociáveis
António Nogueira da Costa • não contabilizar gastos: energia, água, crucial para se arriscar na arte de em-
Consultor Empresas Familiares
antonio.costa@efconsulting.pt deslocações, … preender, em especial na fase de imple-
mentação de uma ideia.
• considerar somente gastos diretos:
aquisição de material ou serviços indis- O meu versus o nosso
pensáveis, que consideramos ser amor- Nestas etapas iniciais e mais arriscadas do

A
maioria dos negócios começa tizados nas futuras vendas, … negócio, os empreendedores deviam ser
numa forma micro que é carate- compelidos a praticar o exercício da coo-
rizada por: • otimismo comercial: vendas iniciais peração.
• não se olhar a custos: de tempo nosso e (reduzidas) que crescerão exponencial- Esta prática pode ser ilustrada numa per-
dos nossos familiares, do espaço de nos- mente com o decorrer do tempo. gunta repetitiva: tenho de ter ou posso
sa casa e outros de amigos, … Esta envolvente positivista é necessária e recorrer a uma colaboração?

2. Possuem uma paixão pelos produtos que criam, transfor-


mam e comercializam;
3. Apresentam-se em três grandes tipologias de empreende-
dores:
a. De complementaridade: pessoas aposentadas ou
que trabalham por contém de outrem e que nas ho-
ras e dias livres se dedicam à produção de produtos
locais;
b. De subsistência: pessoas que arriscam e dedicam
todo o seu tempo, e por vezes de mais um ou dois
familiares, à produção, à transformação e à comercia-
lização de produtos ou pequeno comércio de apoio
às comunidades locais ou aos visitantes pontuais ou
movimentos turísticos;
c. Empregadores: empreendedores, normalmente uma
evolução das tipologias anteriores, que alcançaram
CAIXA DE EXEMPLO uma dimensão que levou à transformação do negó-
cio em empresa, necessitando contratar empregados
O projeto Revitagri é coordenado pelo Instituto Politécnico de que vão mais além que a própria família.
Viana, através das Escolas Superiores Agrária e de Ciências Em- 4. Possuem dois perfis de atuação contrastantes, indepen-
presariais, e dos cinco municípios integrantes do Parque Nacio- dentes da dimensão do negócio e muito mais associados à
nal Peneda Gerês (PNPG), assumindo como principais objetivos mentalidade e culturas locais:
a transferência de conhecimento para os atores locais do par- a. Os autónomos (possuem tudo): possuem as suas
que, em especial as empresas ligadas ao agronegócio, no sen- próprias colmeias, produzem e comercializam indivi-
tido de os capacitar a valorizar os seus recursos e a assegurar a dualmente o seu mel, certificam-se e compram isola-
continuidade geracional das suas empresas. damente tudo o que necessitam, …
O programa considera a realização de diversos workshops em b. Os colaborativos: possuem pequenas quantidades de
diversas áreas do Parque, o que permite um contacto diretos, recursos, matérias-primas ou produtos, pelo que se
com as pessoas e os negócios que desenvolvem. juntam para auxiliar nas distintas tarefas de produção,
certificação, aquisição de produtos ou serviços neces-
O que se verificou terem em comum os empreendedores e em- sários incorporar, comercialização, etc.
presários ligados a negócios familiares que passaram pelas Por- Nas localidades mais distantes, com menor número de pessoas
tas do Mezio, Terras do Bouro, Covide, Soajo, Lindoso e Castro ou visitantes, com recursos menores e custos de contexto mui-
Laboreiro? to superiores, é necessário abrir-se aos vizinhos e colaborar,
1. São pessoas orgulhosas da sua terra, tradições e produtos; colaborar, colaborar … para se singrar no mundo dos negócios.

25 | START&GO | novembro/dezembro 2018


EMPRESAS FAMILIARES

próximas, e integrar com uma multiplicidade de variedades


e origens distintas, para disponibilizar um leque alargado de
opções de qualidade e preço aos diferenciados segmentos de
clientes que frequentam o supermercado ou que vão especifi-
camente à procura dos seus produtos.

Comprar nas proximidades,


empregar moradores locais
e ajustar a oferta aos usos
e costumes são alguns dos
exemplos que ilustram o forte
empenho e preocupação das
empresas familiares

D
iogo e Marta Batalha, jovens regressados dos EUA,
conceberam e desejam transformar a loja numa porta
de entrada para os sabores e saberes de Soajo.
“Trata-se de um espaço para venda de produtos artesanais e
regionais, sejam estes meus ou de outros produtores locais que
queiram escoar o que têm de melhor. Posso garantir que tudo o
que entrar aqui será de produção 100% artesanal”. A loja esta-
va recheada de mel, compotas, licores, vinho a granel, sabone-
tes naturais, bálsamos, bonecas, pinturas e os visitantes ainda
obtêm informação para um roteiro de vários dias pelo Soajo
(https://www.facebook.com/iheartsoajo)

A
Conceição Gomes estava habituada a vender produtos
tradicionais na sua loja. Num determinado momento
da sua vida, decidiu enfrentar um desafio e explorar a
venda de carnes, em especial as frescas, dentro de um super-
mercado de uma das marcas estabelecidas em Arcos de Val-
devez.
Transformar-se de forma célere em empresária, passar a as-
segurar a abertura de um talho todos os dias da semana, no
horário alargado do supermercado, foi uma mudança radical.
Do trabalho por conta de outrem, passa a assumir a responsa-

bilidade de diversos funcionários e consequentes custos fixos
com toda estrutura necessária ao empreendimento. Participar no tradicional Desfile dos Bois da Páscoa, com-
Para que o negócio se desenvolvesse e compensasse todos os prar nas proximidades, empregar moradores locais e ajustar
esforços desenvolvidos (e que se manterão ao longo do tem- a oferta aos usos e costumes são alguns dos exemplos que
po), teve de adequar a oferta à realidade do meio envolvente: ilustram o forte empenho e preocupação das empresas fa-
possuir carne fresca de marcas autóctones e produtos de fu- miliares na sua interligação com o meio onde se encontra
meiro locais, que adquire a produtores de zonas geográficas inserida.

Os principais objetivos da adoção deste efetuar permutas pelo meu produto ou sos e os custos, potenciar ideias, reduzir os
prisma podem ser extraídos de exemplos serviços? riscos e consequências em caso de insucesso
como: • Tenho de fazer tudo sozinho ou posso ou, muitas das vezes, ser o fator diferenciador
• Tenho de alugar um espaço e comprar convidar outros elementos para se asso- ou vantagem comparativa do negócio.
equipamentos ou posso partilhar com ciarem, partilharem ideias e beneficiar- Se já é ou está em vias de se tornar em-
outras pessoas? mos de economias de escala?, preendedor, incremente a sua probabi-
• Tenho de adquirir matérias-primas e que rapidamente induzem que estas práticas lidade de sucesso aderindo à prática das
produtos e serviços acessórios ou posso permitem diminuir as necessidades de recur- redes de cooperação.

26 | START&GO | novembro/dezembro 2018


GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

"Não criámos uma geração de robôs"


Os membros da Gen Zers têm
tecnologias inovadoras; desses, 38% à Gen Z tenham confiança nas suas com-
conhecimentos tecnológicos, estão interessados em carreiras no petências técnicas, também se revelam
mas temem não ter os "soft setor de TI, preocupados com a hipótese de não con-
skills" necessários e procuram • 39% querem trabalhar em cibersegu- tarem com os "soft skills" e experiência
maior interação humana. rança e 46% aspiram a fazer pesquisa que os empregadores procuram. 73% por
Ainda assim, os profissionais e desenvolvimento na área tecnológi- cento classificam a sua literacia tecnológi-
mais velhos têm medo de ca ca como boa ou excelente, e 68% referem
• 80% acreditam que a tecnologia e au- que contam com competências de criação
serem substituídos por jovens tomação irão criar um ambiente de de código acima da média. 77% estão dis-
nativos da era digital trabalho mais equitativo, impedindo postos a servir de mentores a um colega
  os desequilíbrios e a discriminação mais velho que possa ter menos experiên-

A
geração Z está a entrar no mer-
cado de trabalho, e traz consigo
uma mentalidade que coloca a
tecnologia em primeiro lugar que irá ala-
vancar os negócios e transportá-los mais
rapidamente para a era digital, aprofun-
dando ainda mais a divisão entre cinco
gerações no local de trabalho. De acordo
com um estudo encomendado pela Dell
Technologies, os pós-millennials – nasci-
dos após 1996 e conhecidos como a Gen Z
– têm um conhecimento profundo da tec-
nologia e do seu potencial transformador
da forma como trabalhamos e vivemos.
“É quase um dado adquirido que estas
pessoas nativas do digital têm competên-
cias avançadas em tecnologia e ciência
de dados, mas o que é surpreendente
é o nível de maturidade digital que dis-
ponibilizam no local de trabalho”, disse
Jenn Saavedra, senior vice-presidente Nativos da era digital renovam a força de
de recursos humanos na Dell Technolo- trabalho: 80% dos membros da Gen Z desejam
gies. “Eles veem a tecnologia não ape- trabalhar com tecnologias inovadoras e mais de
nas como uma ferramenta que permite o um terço está interessada em carreiras nas TI
progresso humano, mas ainda uma forma
de equilibrar o terreno de jogo. E isso é
incrivelmente visionário da sua parte”.
O estudo incidiu em mais de 12.000 alu- Uns incríveis 89% reconhecem que esta- cia com tecnologia. Ainda assim, quase to-
nos do secundário ou do ensino superior mos a entrar numa era de parcerias entre dos os recém-formados (94%) têm preo-
em 17 países e revela as perspetivas dos humanos e máquinas: 51% dos inquiridos cupações sobre os seus futuros empregos.
mais jovens sobre tecnologia e sobre os acreditam que os humanos e as máquinas • Apenas cerca de metade (57%) classifi-
seus futuros empregos. Entre outras con- vão trabalhar em conjunto como equipas cam a sua educação como boa ou exce-
clusões: integradas, enquanto 38% olham para as lente na preparação para as suas futuras
• 98% já utilizaram a tecnologia como máquinas como ferramentas para que os carreiras
parte da sua educação formal humanos possam utilizar à medida que • 52% acreditam ter as competências
• 91% referem que a tecnologia disponi- são necessárias. cénicas que os empregadores procu-
bilizada por um colaborador seria um ram, mas não os "skills" não técnicos
fator na escolha de diferentes oportu- Pouca experiência, potenciais Ao mesmo tempo, os profissionais senio-
nidades de emprego fissuras geracionais res estão preocupados em serem ultra-
• 80% querem trabalhar com acesso a Muito embora a maioria dos pertencentes passados e com a hipótese de ver que a

1. Realizing 2030, Dell Technologies, Janeiro de 2018

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GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

maioria de papéis de liderança no futuro • Comunicação interpessoal (43%) é o analyst e strategic advisor na Lopez Re-
ocupados por nativos digitais. De acordo método preferido de comunicação search. “Apesar de a comunicação pessoal
com anteriores estudos da Dell Technolo- com os colegas, seguido de telefone não ser sempre possível nos locais de tra-
gies, 87% dos líderes de negócios temem (21%), apps de mensagens e serviços balho de hoje, as tecnologias imersivas es-
que as suas organizações enfrentem o de- de mensagens escritas tão a permitir que as pessoas colaborem
safio de oferecer oportunidades igualitá- • 75% esperam aprender mais no em- tanto no mundo físico como virtual”.
rias entre todas as gerações. prego com ajuda dos colegas e outras Para Added Saavedra, “No fundo, estas or-
Com até cinco gerações em coexistência
no local de trabalho, as empresas devem
ajudar os trabalhadores a encontrarem Apresentam conhecimentos avançados em
um espaço comum numa altura em que se
esforçam por criar uma cultura de “digital
tecnologia, mas estão preocupados com os
em primeiro lugar”. As equipas interfun- seus "soft skills": 77% dos membros da Gen
cionais com "skillsets" complementares Z estão dispostos a servirem de mentores
podem encorajar a troca de conhecimen- tecnológicos no trabalho, mas 94%
to e proporcionar uma nova abordagem à preocupam-se com a hipótese de não
resolução de problemas. Os estágios, os terem as competências e experiência certos
programas de rotação e outras oportu-
nidades de desenvolvimento de carreira
podem ajudar os jovens profissionais a
angariarem a experiência necessária e a pessoas – ao invés de através do online ganizações que criam uma força de traba-
desenvolverem os "soft skills" no empre- • 82% referem que as redes sociais po- lho onde todas as gerações são apoiadas
go. Além disso, os programas de mentores dem ser uma valiosa ferramenta no vão beneficiar de uma era de parcerias
inversos podem melhorar as competên- local de trabalho entre humanos e máquinas. Uma força de
cias técnicas a organização, com a Gen Z • Mais de metade (53%) preferem tra- trabalho integrada tem mais força e pode
na dianteira.
“Na Draper, somos bem-sucedidos com
a colaboração interdisciplinar. Já recorre-
mos a especialistas militares, cientistas de
foguetões e estudantes de universidades
mais próximas para nos ajudarem a resol-
ver alguns dos problemas mais comple-
xos do mundo”, disse Mike Crones, CIO
da Draper. “Nestes cenários, o estudante

Cinco gerações no local de trabalho: as


empresas devem ajudar os trabalhadores a ajudar na transformação das organizações
encontrarem terreno comum e no seu sucesso no futuro digital”.

Sobre o estudo
O estudo foi pedido pela Dell Technolo-
faculta uma perspetiva única para o de- balhar na empresa e não em casa e gies e levado a cabo por uma empresa
senvolvimento de soluções. Muitas destas 58% preferem trabalhar como parte independente de estudos. De agosto a se-
tecnologias em que trabalhamos são mui- de uma equipa, e não isoladamente tembro de 2018, a Dimensional Research
to interativas e a Gen Z disponibiliza uma “As boas notícias é que não criámos uma elaborou um inquérito online a alunos de
abordagem curiosa, centrada no cliente, geração de robôs. Estes jovens profissio- escolas secundárias e pós-secundárias em
que de outra forma poderíamos nem se- nais são inteligentes, curiosos e estão an- 17 países de todo o mundo. O estudo foi
quer considerar”. siosos por se ligar e aprender com outras traduzido para 12 línguas e contou com
pessoas. Esta geração cresceu num am- mais de 12.000 indivíduos com idades en-
O elemento humano biente colaborativo, com uma educação tre os 16 e os 23 anos. O estudo é um dos
Muito embora tenham já interagido com que recorre aos alunos como elementos maiores do seu género a recolher dados
dispositivos eletrónicos praticamente des- do processo formativo, e é uma geração sobre as atuais atitudes e opiniões acerca
de o nascimento e crescido com as redes que consegue transportar as mesmas ex- de tecnologia e do local de trabalho entre
sociais, os membros da Gen Z querem mais pectativas para o local de trabalho”, dis- os estudantes da Gen Z que irão entrar no
interação humana no local de trabalho. se Maribel Lopez, technology industry mercado de trabalho nos próximos anos.

28 | START&GO | novembro/dezembro 2018


FINANCIAMENTOS

Financiar a adaptação
às alterações climáticas
PEDRO FONSECA SANTOS possível ao financiamento ocorrido no pe- teção dos recursos hídricos [www.fun-
Diretor de inovação da 2go out
consulting ríodo 2014-2020. doambiental.pt]
pedro.santos@2goout-consulting. Destacam-se quatro instrumentos finan-
com
ceiros principais, incluindo financiamento 372 milhões de euros
comunitário e componente nacional, de disponíveis até 2020
apoio a ações de adaptação às alterações Feito o balanço do que foram os financia-
climáticas que até 15 de outubro de 2018 mentos no período entre 2014 e 2018, im-
Novo Programa de Ação terão consignado 813,11 milhões de eu- porta perceber como serão distribuídos os
para a Adaptação ros, assim distribuídos: 372 milhões de euros que o documento
às Alterações Climáticas • EEA Grants: 3,5 milhões de euros atra- P-3AC indica irão ser mobilizados para fi-
(P-3AC) vés do Programa AdaPT, em ações de nanciar ações de adaptação. Não há dúvi-
O novo Programa de Ação para a Adapta- capacitação, sensibilização e demons- da que o POSEUR, com 160,6 milhões de
ção às Alterações Climáticas (P-3AC), que tração [http://www.eeagrants.gov.pt]; euros, e o PDR 2020, com 191,3 milhões
se encontra em consulta pública até 28 de • PDR 2020: 538,19 milhões de euros, em de euros, continuarão a ser os principais
novembro, tal como anunciado no Portal ações como a prevenção de incêndios instrumentos de financiamento da adap-
da Agência Portuguesa para o Ambiente rurais, conservação e melhoria da ferti- tação às alterações climáticas, sendo com-
(www.apambiente.pt), tem a ambição de lidade do solo, boas práticas de gestão plementados pelo Fundo Ambiental e o
“constituir-se como um guia orientador no da água na agricultura, conservação da EEA Grants, com 14 e 5,8 milhões de eu-
sentido de mobilizar os instrumentos de natureza, prevenção de doenças e pra- ros, respetivamente.
financiamento no curso prazo e orientar a gas, redução e minimização de cheias e De referir que o P-3AC define 9 linhas de
implementação de ações de caráter mais ação prioritárias em matéria de adapta-
estrutural que contribuam para reduzir a ção às alterações climáticas, e os respe-
vulnerabilidade do território e da econo- tivos os instrumentos de financiamento
mia aos impactes das alterações climáti- que estarão disponíveis até 2020. Nestas
cas”. 9 linhas de ação estão incluídas questões
Para tal, o P-3AC identifica as ações prio- como: (1) a prevenção de incêndios rurais;
ritárias na adaptação às alterações climá- (2) conservação e melhoria da fertilidade
ticas, com o objetivo de reduzir as vulne- do solo; (3) boas práticas na gestão da
rabilidades principais de Portugal, aumen- água; (4) resiliência de ecossistemas, es-
tando a resiliência do território nacional pécies e habitats; (5) resiliência face às
face a eventos climáticos como a preci- ondas de calor; (6) prevenção de espécies
pitação excessiva (causadora de cheias e exóticas invasoras, doenças e pragas; (7)
inundações), a temperatura elevada e as redução de riscos associados a cheias e
ondas de calor, as tempestades e tornados inundações em áreas agrícolas. [http:// inundações; (8) resiliência e proteção cos-
ou os ventos fortes. Um dos principais ob- www.pdr-2020.pt/]; teira e (9) ferramentas de suporte e ações
jetivos do P-3AC será assim contribuir para • POSEUR: 207,14 milhões de euros, de ações de capacitação e sensibilização.
a manutenção do bem-estar da população em ações de conservação da natureza, Este documento é assim leitura obrigatória
portuguesa face aos enormes desafios combate à erosão costeira, prevenção e para todas as entidades com responsabili-
que irá enfrentar. gestão de riscos de cheias e inundações, dades em matéria de gestão do território
ações inovadoras para a prevenção e e de implementação de políticas públicas
Balanço do financiamento gestão de riscos, ferramentas de apoio e a nível municipal e intermunicipal, assim
da adaptação às alterações instrumentos de planeamento, monito- como para as empresas, que devem cada
climáticas no período rização e comunicação [https://poseur. vez mais integrar as questões relativas à
2014-2018 portugal2020.pt]; prevenção e gestão de riscos associados às
Pelos motivos acima indicados, revela-se • Fundo Ambiental: 10,25 milhões de alterações climáticas no seu processo de
urgente perspetivar qual será o novo qua- euros, em projetos municipais e inter- decisão, de forma a garantirem modelos de
dro de financiamento das inúmeras ações municipais de adaptação às alterações negócios verdadeiramente sustentáveis!
de adaptação às alterações climáticas que climáticas (ondas de calor, incêndios Mais informações disponíveis em
terão de ser implementadas em Portugal, rurais e recursos hídricos), minimização http://www.participa.pt/consulta.
tendo como ponto de partida o balanço dos efeitos da seca (2016/2017) e pro- jsp?loadP=2352.

29 | START&GO | novembro/dezembro 2018


FINANCIAMENTOS

Estão abertas as candidaturas à 2ª edição


da CALL FOR MVP para projetos nas áreas
de digital e engineering&manufacturing

E
stão abertas até ao dia 20 de de-
zembro as candidaturas à 2ª Edi-
ção da Call for MVP;
Nesta 2ª Edição, a Portugal Ventures volta
a chamar os empreendedores para apre-
sentarem tecnologias, produtos e serviços
inovadores, que tenham desenvolvido um
protótipo funcional e apresentem evidên-
cias de feedback de mercado;
Os projetos selecionados beneficiarão de
um investimento que pode ascender a 1
“O MVP permite
milhão de euros, com um montante míni- confirmar ou “A criação de um MVP permitiu uma
mo de 300 mil euros. rejeitar hipóteses, aprendizagem mais rápida ao nível do pro-
Está aberto o novo período de análise de por isso, é o passo duto baseado no feedback dos clientes ini-
candidaturas à 2ª Edição Call For MVP para mais importante de ciais, que por sua vez geraram as primeiras
projetos nas áreas de Digital (Enterprise, validação e redução métricas de aceitação, fundamentais para
Cibersecurity, Networks, Artificial Intelli- captar investimento para o nosso projeto”,
gence, AR/VR, Marketplaces, Blockchain
de risco de um refere João Ferro Rodrigues, CEO da Bugle.
e IoT) e de Engineering & Manufacturing novo investimento”, “O MVP foi a forma que encontrámos para
(New Materials, Electronics, Robotics, testemunha Rui entregar o máximo de valor ao cliente,
Cleantech, Agrotech, SeaTech). Ribeiro, CEO da parceiro, investidor e equipa, com os re-
Serão elegíveis projetos que já tenham Jscrambler cursos que tínhamos disponíveis. No início
desenvolvido um protótipo funcional e de 2014, o nosso MVP começou por um
que apresentem evidências de feedback painel fotovoltaico a alimentar um frigorí-
do mercado. Poderão ser promovidos por projetos e na preparação e qualificação fico na bagageira de um automóvel. Hoje,
empresas já constituídas ou a constituir. das respetivas candidaturas. é um produto certificado e aplicado em
No caso das empresas já constituídas, de- Para que esta ação de qualificação e apoio camiões pela Europa. Claramente diferen-
vem encontrar-se em fase seed, startup dos IPNs aos empreendedores seja efi- tes, mas alinhados na mesma proposta de
ou early stage, não tendo mais do que 3 ciente, a Portugal Ventures vai realizar, valor: aumentar a eficiência do transporte
exercícios completos à data do investi- em exclusivo para os seus parceiros, uma de mercadorias com o uso de energia elé-
mento da Portugal Ventures. As empre- sessão de capacitação via webinar, no dia trica e renovável”, descreve Bruno Azeve-
sas devem estar localizadas nas regiões 4 de dezembro, pelas 17h00, onde serão do, CEO da Addvolt.
do Norte, Centro e Alentejo, excluindo-se abordados temas relacionados com os
empresas com sede em Lisboa, Vale do princípios da estratégia de investimento Na 1ª edição da Call for MVP
Tejo, Algarve e Regiões Autónomas dos de um investidor de capital de risco e os foram registados 245 projetos
Açores e da Madeira. Todas as candida- critérios de elegibilidade para a submissão
turas devem ser submetidas através do de projetos à 2ª Edição da Call for MVP. A Portugal Ventures tem também aberta,
website da Portugal Ventures, em www. Para a campanha de promoção desta 2ª até ao dia 20 de dezembro, a iniciativa Call
portugalventures.pt, via formulário sim- Edição da Call for MVP, a Portugal Ventu- for Tourism para projetos turísticos tech
plificado. res conta também com alguns CEO do seu e non-tech, que tragam para o mercado,
Para a receção de projetos com maturida- portfólio, que começaram o seu negócio produtos e serviços inovadores, que me-
de, aptos para o investimento de capital com um MVP e que, através dos seus tes- lhorem a experiência do turista, aprovei-
de risco por parte da Portugal Ventures temunhos, pretendem inspirar empreen- tando aspetos como a história, a arte, a ar-
e de outros eventuais co-investidores, a dedores e motivar novos projetos: quitetura, o património cultural e natural,
Portugal Ventures vai contar com a im- “O MVP permite confirmar ou rejeitar hi- entre outros recursos.
prescindível colaboração da sua rede de póteses, por isso, é o passo mais impor-
parceiros – a Ignition Partner Network – tante de validação e redução de risco de
cujo papel é o de orientar os empreende- um novo investimento”, testemunha Rui
dores na análise da viabilidade dos seus Ribeiro, CEO da Jscrambler.

30 | START&GO | novembro/dezembro 2018


Criar uma cultura de otimização de custos

Em qualquer organização, independentemente do sector, normalmente há um denominador comum: a


mudança.
À medida que tecnologias como a inteligência artificial, os transportes autónomos e as aplicações de
GESTÃO DE CUSTOS realidade virtual continuam a evoluir e a fazer incursões no sector comercial, a forma como a sua empresa faz
negócios irá provavelmente alterar-se nos próximos anos.
Quer as mudanças sejam causadas por tecnologias emergentes, protecção de dados ou nova legislação, a sua
empresa terá de desenvolver a agilidade para dinamizar as operações em conformidade.
No entanto, as tecnologias e as mudanças emergentes não representam apenas potenciais desafios, também
podem significar oportunidades para impulsionar a sua empresa.

Criar uma cultura de otimização de custos

E
m qualquer organização, indepen-
dentemente do setor, normalmen-
te há um denominador comum: a
mudança.
À medida que tecnologias como a inteli-
gência artificial, os transportes autóno-
mos e as aplicações de realidade virtual
continuam a evoluir e a fazer incursões
no setor comercial, a forma como a sua
empresa faz negócios irá provavelmente
alterar-se nos próximos anos.
Quer as mudanças sejam causadas por
tecnologias emergentes, proteção de da-
dos ou nova legislação, a sua empresa terá
de desenvolver a agilidade para dinamizar
as operações em conformidade.
No entanto, as tecnologias e as mudanças
emergentes não representam apenas po-
tenciais desafios, também podem signifi- Incorporar a otimização de custos no seu planeamento estrat
car oportunidades para impulsionar a sua Encontrar formas de capitalizar as transformações do sector e as oportunidades que elas represe
ser incorporado nos esforços de planeamento estratégico da sua empresa. Um processo de pla
empresa. estratégico não ajuda apenas a sua empresa a definir iniciativas mais gerais, como também pod
responder à pergunta: “Como planeamos o financiamento dos nossos objectivos de maior dimensã
Não é invulgar que as empresas dêem prioridade à obtenção de poupanças a partir dos gastos d
Incorporar a otimização de custos no seu planeamento estrat
Incorporar a otimização este método normalmente só se foca nos resultados a curto prazo. Por exemplo, reduzir os cu
numa determinada percentagem relativamente ao ano anterior ou “congelar” as compras em det
Encontrar formas de capitalizar as transformações do sector e as oportunidades que elas represe
de custos no seu planeamento áreas de despesas podem fazer piorar as coisas, em vez de as melhorar. As potenciais poupanç
ser incorporado
através nos esforços
desta abordagem de planeamento
podem estratégico
ser insustentáveis da resistência
e gerar sua empresa.
dos Um processo de e pla
departamentos fu
estratégico
afectados. não ajuda apenas a sua empresa a definir iniciativas mais gerais, como também pod
estratégico responder à pergunta: “Como planeamos o financiamento dos nossos objectivos de maior dimensã
Pode obter-se uma abordagem mais sustentável e a longo prazo para financiar as iniciativas ao
Não é invulgar que as empresas dêem prioridade à obtenção de poupanças a partir dos gastos d
Encontrar formas de capitalizar as trans- activamente fluxo de caixa adicional através de esforços estratégicos de optimização d
este método normalmente só se foca nos resultados a curto prazo. Por exemplo, reduzir os cu
impulsionados por uma filosofia de gestão de custos incorporada na cultura de uma empresa.
numa determinada percentagem relativamente ao ano anterior ou “congelar” as compras em det
formações do setor e as oportunidades de caixa adicional através de esforços preender o significado geral por trás das
A chave
áreas para descobrir
de despesas
fornecedores
podem oportunidades
fazer piorar as sustentáveis de de
coisas, em vez poupança de custos
as melhorar. a partir poupanç
As potenciais da sua
através desta é dupla. A sua
abordagem empresa
podem deve não só criar
ser insustentáveis uma resistência
e gerar cultura de dos
redução de custos ao
departamentos de
e fu
que elas representam deve ser incorpo- estratégicos de otimização de custos, im- medidas de poupança. Os funcionários
esforços de gestão de despesas em todos os departamentos, como incentivar uma maior familiari
afectados.
os fornecedores incumbentes, os potenciais novos fornecedores e as suas indústrias de modo a
rado nos esforços de planeamento es- pulsionados por uma filosofia de gestão devem entender que nenhuma área de
Pode obter-se uma abordagem mais sustentável e a longo prazo para financiar as iniciativas ao
oportunidades para obter maior valor para os produtos e serviços que eles fornecem.
activamente fluxo de caixa adicional através de esforços estratégicos de optimização d

tratégico da sua empresa. Um processo de custos incorporada na cultura de uma despesas deve ser considerada “sagrada”
impulsionados por uma filosofia de gestão de custos incorporada na cultura de uma empresa.
Articular o impacto das poupanças de custos
A chave para descobrir oportunidades sustentáveis de poupança de custos a partir da sua
de planeamento estratégico não ajuda empresa. ouAlém de comunicar os motivos pelos quais a empresa está a adoptar estratégias de optimização
ficar sem
fornecedores é dupla. resposta.
A sua empresa deve não só criar uma cultura de redução de custos ao de
esforços de gestão de despesas em todos os departamentos, como incentivar uma maior familiari
apenas a sua empresa a definir iniciativas A chave para descobrir oportunidades explicar o valor da poupança de custos em termos equivalentes à receita e o que ela faz com o resu
os fornecedores incumbentes, os potenciais novos fornecedores e as suas indústrias de modo a
pode ajudar os funcionários a compreender o significado geral por trás das medidas de pou
oportunidades para obter maior valor para os produtos e serviços que eles fornecem.
mais gerais, como também pode ajudar a sustentáveis de poupança de custos a par- Por exemplo...resposta.
funcionários devem entender que nenhuma área de despesas deve ser considerada “sagrada” ou

responder à pergunta: “Como planeamos tir da sua base de fornecedores é dupla. A Se os funcionários
Articular o impacto das poupanças de custos per-
o financiamento dos nossos objectivos de sua empresa deve não só criar uma cultu- ceberem que 100 mil
Além de comunicar os motivos pelos quais a empresa está a adoptar estratégias de optimização
Por exemplo...
explicar o valor da poupança de custos em termos equivalentes à receita e o que ela faz com o resu
maior dimensão?” ra de redução de custos, ao defender os euros em poupanças da
pode ajudar os funcionários a compreender o significado
Se os funcionários geral por
perceberem que trás
100 das
mil medidas
funcionários devem entender que nenhuma área de despesas deve ser considerada “sagrada” ou
de pou
euros em
empresa equivalem a 1 milhão em vendas, podem ficar mais in
pou

Não é invulgar que as empresas deem esforços de gestão de despesas em todos empresa equivalem a resposta.
encontrar áreas dentro do seu departamento onde os custos p

prioridade à obtenção de poupanças a os departamentos, como incentivar uma um milhão em vendas,


partir dos gastos diários, mas este método maior familiarização com os fornecedo- podem
Por exemplo...
Se
ficar
mais incli-
os funcionários perceberem que 100 mil euros em pou
reduzidos ou simplificados.
normalmente só se foca nos resultados a res incumbentes, os potenciais novos for- nados a encontrar áreas
empresa equivalem a 1 milhão em vendas, podem ficar mais in
encontrar áreas dentro do seu departamento onde os custos p
curto prazo. Por exemplo, reduzir os cus- necedores e as suas indústrias, de modo dentro do seu departamento onde os cus-
tos gerais numa determinada percenta- a encontrar oportunidades para obter tos podem ser reduzidos ou simplificados.
gem relativamente ao ano anterior ou maior valor para os produtos e serviços reduzidos ou simplificados.

“congelar” as compras em determinadas que eles fornecem. Por exemplo... Por exemplo...
Se os documentos forem sempre enviados aos clientes a
áreas de despesas podem fazer piorar Se os documentos fo-
transporte aéreo no próprio dia, considerar a entrega aérea o

as coisas, em vez de as melhorar. As po- Articular o impacto rem sempre enviados


tenciais poupanças obtidas através desta das poupanças de custos aos clientes através do
Por exemplo...
abordagem podem ser insustentáveis e Além de comunicar os motivos pelos quais transporte aéreo
Se os documentos forem no aos clientes a
sempre enviados
transporte aéreo no próprio dia, considerar a entrega aérea o
gerar resistência dos departamentos e a empresa está a adotar estratégias de oti- próprio dia, considerar
funcionários afetados. mização de custos, explicar o valor da pou- a entrega aérea ou ter-
Pode obter-se uma abordagem mais sus- pança de custos em termos equivalentes restre ao segundo dia
tentável e a longo prazo para financiar as à receita e o que ela faz com o resultado em artigos não sensíveis ao tempo pode
iniciativas ao procurar ativamente fluxo final pode ajudar os funcionários a com- levar a poupanças.

31 | START&GO | novembro/dezembro 2018


• De que forma a empresa beneficiará de tais iniciativas?
ao segundo dia em artigos não sensíveis ao tempo pode levar a poupanças.
• Existem oportunidades acessíveis e onde é que podemos encontrar mais oportunidades?
A fim de promover o desenvolvimento de uma cultura de otimização de cust
Fazer da redução de custos uma iniciativa organizacio
administração deve definir uma iniciativa estratégica e os fatores de motivação
ao segundo dia em artigos não sensíveis ao tempo pode levar a poupanças.
movimento da empresa nesta direção devem ser bem compreendidos por todas as par
GESTÃO DE CUSTOS
Fazer da redução de custos uma iniciativa organizacional
Para garantir a adesão máxima do pessoal, a administração da empresa deve ser capaz
razão a iniciativa de redução de custos é necessária e como é que a empresa irá benefic
A fim de promover o desenvolvimento de uma cultura de otimização de cust
A administração deve ser capaz de articular:
administração deve definir uma iniciativa estratégica e os fatores de motivação
•movimento da empresa nesta direção devem ser bem compreendidos por todas as par
Em que é utilizado o dinheiro adicional?
A fim de promover o desenvolvimento de uma cultura de otimização de custos numa empresa, a
•Para garantir a adesão máxima do pessoal, a administração da empresa deve ser capaz
Quanto é necessário ou desejado?
administração deve definir uma iniciativa estratégica e 3.6os
fatores de motivação que impulsionam o
ão sensíveis ao tempo pode levar a poupanças. razão a iniciativa de redução de custos é necessária e como é que a empresa irá benefi
movimento da empresa nesta direção devem ser bem compreendidos por todas as partes interessadas.
• De que forma a empresa beneficiará de tais iniciativas?

de custos uma iniciativa organizacional •A administração deve ser capaz de articular:


Para garantir a adesão máxima do pessoal, a administração da empresa deve ser capaz de responder por que
Existem oportunidades acessíveis e onde é que podemos encontrar mais oportunid
razão a iniciativa de redução de custos é necessária e como é que a empresa irá beneficiar.
• Em que é utilizado o dinheiro adicional?
A administração deve ser capaz de articular:
• Quanto é necessário ou desejado?
• Em que é utilizado o dinheiro adicional?
• De que forma a empresa beneficiará de tais iniciativas?
senvolvimento de uma cultura de otimização de custos numa empresa, a
• Quanto é necessário ou desejado?
uma iniciativa e os fatores de •motivação
estratégica 3.6 Existem oportunidades acessíveis e onde é que podemos encontrar mais oportunid
que impulsionam o
ta direção devem ser bem compreendidos por todas as partes interessadas.
• De que forma a empresa beneficiará de tais iniciativas?
ma do pessoal, a administração da empresa deve ser capaz de responder por que
• Existem oportunidades acessíveis e onde é que podemos encontrar mais oportunidades?
de custos é necessária e como é que a empresa irá beneficiar.
paz de articular:
heiro adicional?
desejado?
Fazer da redução de custos Pontuação média da capacidade numa es-
uma iniciativa organizacional
a beneficiará de tais iniciativas? cala de 1 a 4

acessíveis e onde é que podemos encontrar mais oportunidades?


A fim de promover o desenvolvimento
de uma cultura de otimização de custos 3.6
numa empresa, a administração deve de-
finir uma iniciativa estratégica e os fatores Planeamento a partir do 1º dia para a sus-
de motivação que impulsionam o movi- tentabilidade a longo prazo das alterações
mento da empresa nesta direção devem Propriedade e compromisso claros em
ser bem compreendidos por todas as par- toda a empresa para mudar em todos os
tes interessadas. níveis da empresa 3.6
Para garantir a adesão máxima do pessoal,
a administração da empresa deve ser ca-
paz de responder por que 3.6 razão a inicia-
tiva de redução de custos é necessária e
como é que a empresa irá beneficiar. Melhorias contínuas durante a implemen-
A administração deve ser capaz de articular: tação e ação rápida para definir planos al-
• Em que é utilizado o dinheiro adicio- Capacidade de focar a empresa num con- ternativos, se necessário
nal? junto de alterações estabelecidas por
• Quanto é necessário ou desejado? prioridades
• De que forma a empresa beneficiará
de tais iniciativas?
• Existem oportunidades acessíveis e
onde é que podemos encontrar mais
oportunidades?
A comunicação clara em todos os níveis Recursos e capacidades suficientes para
da empresa levará a uma mentalidade de Responsabilidade clara por ações específi- executar alterações.
consciencialização de custos entre os de- cas durantes a implementação Recursos e capacidades suficientes
partamentos. Os administradores devem Foi solicitado aos entrevistados que ava-
para executar alterações.
inspirar a propriedade da nova cultura de liassem as declarações sobre as suas
gastos, ao levar a sério a iniciativa e ao melhores práticas e capacidades organi-
estabelecer um exemplo para os outros zacionais numa escala de 1 (“discordo to-
seguirem através das suas próprias ações. talmente”) a 4 (“concordo totalmente”).
As empresas que melhor executam as mu- Dados retirados do White Paper da McKin-
danças organizacionais possuem os recursos Gestão eficaz do programa e utilização de sey Global Survey Results - ‘Implementing
centrais mais fortes para implementação processos de mudança padrão Change with Impact’.
Foi solicitado aos entrevistados que avalias
organizacionais numa escala de 1 (“discord
32 | START&GO | novembro/dezembro 2018 McKinsey Global Survey Results - ‘Impleme
GAMMING

Gamification: nem novidade nem


moda. Uma ferramenta de gestão!
Helder Barbosa
Licenciado em Gestão e Mestre em
Marketing

A
Gamification(1), enquanto concei-
to estratégico, é uma área em de-
senvolvimento que tem suscitado
interesse a académicos e a profissionais.
No contexto organizacional, o conceito de
gamification tem vindo a progredir signifi-
cativamente tornando-se uma ‘intrigante
aventura’ para empresas e gestores que a
utilizam (ou ainda não!) como uma ferra-
menta de gestão estratégica. Por um lado, questionam-se os motivos figura 1) que a mesma pode aportar para
Transversal a vários setores e contextos para adotar uma ferramenta como a ga- os corpos de gestão das organizações.
(por exemplo, saúde e bem-estar, educa- mification, por exemplo, em detrimento
ção, sustentabilidade, redes sociais e ma- de outras ferramentas. Por outro lado, Agora que tem ‘o mote’, i.e., excelentes
rketing, entre outros), o conceito de ga- reflete-se em como desenhar, arquitetar, motivos para usar uma ferramenta como
mification tem revelado ser um mercado adaptar, customizar, implementar, gerir e a Gamification comece por refletir nas se-
promissor para negócios e investimentos. otimizar estratégias de gamification. guintes interrogações.
Passível de ser utilizado de variadas for- Posto isto, as questões anteriores fundem- (1) Qual o problema que quer resolver?
mas, pauta-se, também, por uma ampla
aplicação, por exemplo, promovendo a
competição social, incentivando à mudan-
ça ou à cooperação.
Contudo, sendo uma área recente, não
existe um corpo teórico ‘robusto’ ou um
número significativo e consistente de casos
que descrevam os métodos, os processos,
as métricas e os resultados da prática de
experiências ‘gamificadas’. Em que circuns-
tâncias decorreram, ou, mesmo, se foram
efetuadas comparações entre experiências
"gamificadas" e não "gamificadas".
Na verdade, assiste-se a alguma confusão
e enviesamento sobre o conceito. Não se
trata da indústria de jogos, nem se limita à
utilização de pontos, tabelas de classifica-
Figura 1 – Benefícios da Gamification (autor)
ção e recompensas para comparar desem-
penhos dos colaboradores.
Neste sentido, quer os gestores ‘recetores -se num propósito único. Como utilizar a (2) Que benefícios espera obter?
de ferramentas de gestão’ quer os gesto- gamification no contexto organizacional (3) Fazer dentro ou fora da empresa? Qual
res ‘produtores de soluções e experiên- enquanto ferramenta de gestão estratégi- a relação custo-benefício?
cias ‘gamificadas’’ (i.e., ‘designers’; ‘engi- ca para resolver um ou mais problemas da Partilhe a sua opinião: gaming2managers@gmail.com
neers’) enfrentam enormes desafios. organização? Não perca o próximo artigo: “Gamification e gestão de
objetivos: que relação?”
Em primeiro, na formação, aprendizagem e É, portanto, expectável que a seleção e
apreensão global do conceito e em segun- adoção de uma ferramenta como a gami- 1. Conceito comummente definido como “utilização de
elementos de jogos em contexto de não jogo”.
do lugar na implementação estratégica. fication possa residir nos benefícios (ver

33 | START&GO | novembro/dezembro 2018


FORA DA CAIXA

ADN: da bioética a humanoides perfeitos


Rui Pedro Oliveira placenta, substituindo alguns genes “dani- Partisans ou os Sandinistas, Lobitos nos es-
Gestor
rpo@imaginew.pt
ficados” por outros saudáveis ou até per- cuteiros. Podem ser produzidos cientistas
feitos, para uma mudança plena de ADN. de um grau de maquiavelismo dantescos,
Intuito: criarem “super-humanos” que em que nada os pode assustar. Isto faz-me
naturalmente se destacariam dos outros lembrar quando questionei, no “boom”
pela perfeição, mediante o “budget” do das impressoras 3D, qual seria o perigo

H
á uns dias, uma senhora que mal progenitor. Uma “Ivy League” mundial de se um dia uma impressora 3D fizesse uma
conhecia, mas mais comecei a humanoides manipulados geneticamente, impressora 3D. Há menos de um ano,
considerar, numa carta enviada, naturalmente só ao alcance de alguns. duas linguagens de programação criaram
pediu para me dar uma palavra. Estava a Mas este género de transformação de ADN uma linguagem própria para começarem
um ano de se reformar, tinha pânico do não será só para colocar olhinhos azuis, a comunicar secretamente entre elas nos
que iria fazer no futuro e ficar inerte era corpos bem definidos ou somente qual- servidores do Facebook. Serão estas “má-
o medo maior dela. Se porventura teria quer cérebro que facilmente vencesse Kas- quinas” que irão andar nas guerras pelos
uma vaga para poder vir diariamente fazer parov, que escrevesse melhor que Andric nossos ares.
o nosso arquivo e agenda telefónica, pois e pintasse o “Jardim das Delicias” em se- A mim não me assusta este pensamento
tinha uma experiência enorme nessa área
desde há muitos anos no escritório da fá-
brica onde laborava.
Meteu-me muita pena explicar como hoje
em dia só com o smartphone de forma
gratuita, em nanossegundos, com uma
definição perfeita, comunicávamos por ví-
deo para qualquer parte do mundo. A par-
te de existir “arquivo” é logo uma palavra
fúnebre. Hoje, o “arquivo morto” é criado
no próprio dia e, além de ser assassinado
no momento, sobe logo ao céu para uma
“nuvem” a fim de poder ser ressuscitado
se necessário.
No que concerne à gestão das agendas te- Há menos de um
lefónicas, julgo que a parte que a senhora ano, duas linguagens
menos percebeu é que, se ela me desse o de programação
seu número de telefone para eu gravar no criaram uma futurista. E não me assusta, porque apren-
smartphone com o seu nome, mal fizesse di a não dar demasiada importância ao
“login” numa rede social, a mesma me iria
linguagem própria que sou impotente para resolver e por isso
propor uma ligação a pelo menos uma ho- para começarem “sofrer” por antecipação, isto são áreas
mónima dela. “Et voilá” não era a senhora, a comunicar com “direito próprio” onde a bioética é
mas da nova geração e ADN, a filha. secretamente entre uma palavra inexistente. Também não jul-
Fiquei por aqui. elas nos servidores go esta situação ser futurista de mais, há
Não me ocorreu dizer que foram descober- do Facebook com certeza umas “Áreas 51” ou outras do
tos uns escritos após a morte, este ano, do género que já trabalham isto seguramen-
génio da ciência, físico e cosmólogo mun- te. A “Dolly” não foi apresentada na Es-
dialmente apreciado Stephen Hawking, cócia a dizer que ir ser clonada. A “Dolly”
em que ele temia uma sociedade liderada gundos o que El Bosco fez em anos. Aliás, apareceu clonada aos 7 meses de vida e
pelos muitos ricos. Não estamos a falar de a mudança de algumas células nos tecidos existiu até ser abatida aos 6 anos. Não era
um “Nobel da Economia” a escrever sobre até é benéfica para a saúde humana em um holograma nem translúcida.
Soros, Gates, Buffet, Bezzos ou Ma, esta- tratamento de doenças há uns anos ditas Portanto, nada disto é ficção. E, conse-
mos mesmo a falar de “super-humanos” incuráveis. Mas, na leitura de Hawking, quentemente, aquela senhora parou no
que poderiam ser desenvolvidos enquanto aqui podem ser transformadas autênticos tempo e no pensamento, mas numa coi-
fetos para serem seres superiormente in- drones humanos para uso terrorista e bé- sa está muito à frente destas. É normal, e
teligentes e inatingíveis devido à mudança lico, para serem introduzidos em grandes uma pessoa normal pode tentar ser perfei-
genética que os pais poderiam fazer du- multidões e capazes de fazerem parecer as ta, uma pessoa perfeita jamais chegará à
rante a “gravidez”, pois nem será preciso claques de futebol da antiga Jugoslávia, os normalidade.

34 | START&GO | novembro/dezembro 2018


TI´S

RPA – Robotic Process Automation

A tecnologia RPA está pronta e disponível


para as empresas, grandes ou pequenas,
mas estarão as empresas prontas
para adoptar a tecnologia RPA?
pessoas: poderá haver uma dados – 50 por cento a mais a cada ano.
ligação entre a passagem Temos também o factor do aumento maci-
Adriano Ribeiro
CEO & partner bwd destas tarefas para robôs e a ço na regulação de auditoria e na burocra-
redução de emprego para os cia. Precisamos de automação para aliviar
humanos? o stress que estas atividades criam nas or-
A única relação direta que pode ser estabe- ganizações.
lecida é a passagem para os robôs de tarefas Por exemplo, as indústrias altamente re-
Rui Raposo repetitivas e que desperdiçam o potencial gulamentadas, tais como seguros e banca,
CCO & partner bwd
da intervenção humana. Com a utilização estão a descobrir que a automação é uma
de robôs, os “humanos” passam a poder ser maneira barata e rápida de aplicar capaci-
utilizados onde é necessário o pensamento dade superior na resposta ao problema de
humano, com todas as suas vertentes, como compliance.
por exemplo a criatividade. O RPA permite também um melhor servi-

R
PA é um tipo de software que imi-
ta a atividade de um ser humano
na realização de uma tarefa den-
tro de um processo e que pode realizar
tarefas repetitivas mais rapidamente, com
precisão e incansavelmente, libertando os
seres humanos para a realização de outras
tarefas que requerem capacidades huma-
nas, tais como inteligência emocional, ra-
ciocínio, e interação complexa com clien-
tes ou fornecedores.

Na bwd costumamos dizer


que o RPA tira o robô do ser
humano.
Num processo de Back-Office, o colabo-
rador humano “normal” tem um número
elevado de tarefas repetitivas, rotineiras
que são tristes e desinteressantes. Em
função disso, esta nova onda de auto-
mação, via utilização de RPA, está a ser
impulsionada pelas mesmas razões que
trouxeram em primeiro lugar a robótica e
automação para o local de trabalho: liber-
tar os trabalhadores humanos de tarefas Mas afinal que aplicações ço e maior atenção ao cliente, dado que
sujas, chatas ou perigosas; para melhorar tem o RPA – porque a sua possibilita mais poder em todo o proces-
a qualidade, eliminar erros e reduzir a va- aplicação está a crescer so. Numa organização em que as consul-
riabilidade dos resultados. E ainda, claro, exponencialmente? tas de clientes são regulares, por exemplo,
reduzir os custos. As organizações estão a lidar com cargas pode libertar pessoal para lidar com as
de trabalho cada vez maiores. Haverá uma questões mais complexas. Os seus utili-
Surge, no entanto, uma quantidade exponencial de trabalho que zadores podem criar robôs inteligentes
preocupação na mente das coincide com o aumento exponencial de que imitam as ações humanas, enquanto

35 | START&GO | novembro/dezembro 2018


TI´S

impulsionam a melhoria contínua utilizan- que o RPA ajudará a medir a eficácia de negócio, devido aos ganhos de celerida-
do inteligência artificial e tecnologias de novas estratégias; de que a solução permite obter;
machine learning. Estes robôs inteligentes • Planeamento da procura e oferta – uma Tudo isto sem qualquer utilização de códi-
interagem em harmonia com as aplica- tarefa complexa, que exige a pesquisa go, permitindo às equipas das várias áreas
ções, e com qualquer sistema legacy, por- e a recolha de dados, formatação dos de negócio a criação autónoma dos robôs
tal ou base de dados, agregando dados, mesmos e execução de simulações, des- para as tarefas que desejarem automati-
transformando-os em informações úteis, cobrir exceções, tarefas que podem ser zar, com a obtenção rápida de aumento da
acionando respostas e comunicando en- automatizadas e simplificadas empre- eficiência operacional.
tre sistemas organizacionais, sites da Web gando tecnologia RPA;
e aplicações de desktop. São por isso um • Logística e Gestão da Cadeia de Valor – A adoção destas soluções
excelente complemento ao trabalho hu- a automação de e-mails pelo RPA signifi- de RPA representa um
mano. ca a possibilidade de executar-se de for- investimento reduzido?
ma automática o envio de um email ou Sim, e sendo um investimento reduzido,
Então que tarefas pode o robô texto quando um pedido é reservado, embora variável, o seu retorno é sempre
fazer concretamente? enviado, atrasado ou entregue, sendo inferior a um ano. Então, se uma ferra-
Os robôs podem ser utilizados em múlti- este também muito útil na manutenção menta RPA é barata e adicionalmente não
plas atividades. Somente a título de exem- dos níveis de stocks e criação de noti- exige grandes competências de TI para
plo, podemos elencar algumas: ficações quando os produtos atingem implementar, a sua implementação acaba
• Processamento de devoluções no e- níveis extremamente baixos ou limiares. por ser um no-brainer.
-commerce – tarefa que é significativa- Depois de avaliar os pedidos anteriores, A implementação de soluções RPA é, de
mente consumidora de tempo quando a RPA pode ajudar a determinar os ní- facto, simples permitindo a obtenção de
executada de forma manual; veis ideais de pedidos para melhorar a resultados muito rápidos.
• Gestão de Workflows, englobando quer aquisição, reduzir custos e reduzir o des- Isto é particularmente importante quan-
a gestão de fluxos de trabalho, quer ou- perdício. do, como sabemos, nas nossas organiza-
tros processos de RH, tais como a atri- ções muitas vezes, o negócio quer algo
buição de turnos, gestão de mapas de As tarefas não estão relativamente pequeno, mas o departa-
pagamento e de licenças de colaborado- confinadas ao tratamento de mento de TI, tendo peixes maiores para
res, os quais podem ser executados de dados? fritar, coloca estas solicitações e matérias
forma mais produtiva pelo RPA; Recolha e tratamento de dados estão en- em último lugar.
• Gestão do apoio ao cliente, que com o tre as funcionalidades imediatas do RPA, Uma vez tomada consciência desta reali-
RPA é executada de forma ininterrupta, no entanto, as tarefas de análise e proces- dade, a única grande preocupação quanto
24h por dia, incluindo a automatização samento inteligente são ilimitadas. à implementação desta soluçoes RPA tem
de processos como a recolha de feed- a ver com os efeitos disruptivos. Por este
back; E que vantagens/benefícios motivo, é frequente encontrarmos equi-
• Gestão de ERP, executando integrações são gerados pela passagem pas de TI em negação sobre RPA e o que
de sistemas centrais com sistemas de destas tarefas humanas para ele pode fazer.
inventário e sistemas de front-office, o os robôs? A solução está na utilização de um parcei-
que garante uma gestão eficiente das Desde logo, as pessoas acolhem esta tec- ro competente na implementação destas
atividades de logística e da cadeia de nologia porque odeiam as tarefas que os soluções que consegue entender todos os
valor, bem como monitorização perma- sistemas passam a fazer, aliviando-as da impactos que estas abarcam para a estru-
nente do nível dos stocks; crescente pressão do trabalho. tura de TI, em total sintonia com as equi-
• Contabilidade e área financeira, incluin- Outra vantagem imediatamente reconhe- pas de TI e garantindo que a solução de
do processamento de pedidos e faturas, cida pelos utilizadores destas soluções RPA RPA desenhada está convenientemente
gestão de contas a pagar e contas a re- é o aumento significativo da produtivida- inserida na estratégia global de TI.
ceber, conciliação de contas, ordens de de da organização, dado que os colabora-
pagamento, reports, consolidação de dores são libertados de tarefas altamente Estas soluções integram
informações de contas entre inúmeras consumidoras de tempo para passarem a facilmente os sistemas de
outras tarefas, podem ser geridas pelo realizar tarefas mais estimulantes. informação das organizações?
RPA, como transações entre vários de- Adicionalmente, podemos acrescentar Esta é outra das vantagens na implemen-
partamentos e divisões que necessitem como vantagens das soluções RPA: tação destas soluções – a sua simples e
de registo e de estar atualizadas e con- • a elevada escalabilidade das operações fácil integrabilidade com qualquer arqui-
solidadas no ERP; sem necessidade de aumento da força tetura de sistemas legacy ou não legacy.
• Marketing e Análise do Comportamen- de trabalho; É muito interessante que a adoção pro-
to do Consumidor – campanhas podem • a eliminação de atividades relacionadas gramas de automação, por serem tecnolo-
ser repetidas sem esforço manual, o com recolha de dados manual e erro hu- gias neutras, permite que as organizações
que possibilita um ajuste nas estratégias mano; mantenham um elevado ritmo de moder-
com base na análise, ao mesmo tempo • o acompanhamento da velocidade do nização com a internalizaçao dos rápidos

36 | START&GO | novembro/dezembro 2018


TI´S

avanços que são concretizados nesta área, variar com diferentes tecnologias e abor- mento no esforço de automação é defi-
contrariamente a outros investimentos de dagens. O equilíbrio certo para qualquer nitivamente um diferencial no sucesso.
TI em que as organizações são obrigadas organização dependerá de sua estratégia
a repensar a sua abordagem cada vez que global e dos seus objetivos de negócio. Em conclusão, as evidências sugerem que
adotam uma nova tecnologia. Os programas de automação devem, por as soluções de Inteligência Artificial como a
Para além desta sintonia com a estratégia tudo isto, começar com uma clara articu- RPA entregam um valor real aos negócios e
de TI, a implementação de uma solução lação do problema. Cada projeto deve ser podem ser uma força poderosa para a dis-
de RPA, dentro de uma estratégia de auto- capaz de identificar onde e como a auto- rupção. Os primeiros a adotar soluções de
mação, por forma a ter sucesso, deve es- mação pode oferecer melhorias e mostrar IA e que combinam forte capacidade digital
tar totalmente alinhada com a estratégia como essas melhorias se vinculam à estra- resultante com estratégias pró-ativas têm
de negócios e operações. tégia global da empresa. maiores margens de lucro e destacam-se
Mais do que simplesmente automatizar Para a maximização do retorno sobre o em termos de desempenho das outras em-
uma atividade, os avanços na inteligência investimento, as empresas devem ter o presas. Os inúmeros casos de sucessos na
artificial, robótica em software, machi- cuidado de não especificar, exagerar, ou implementaçao em empresas de retalho,
ne learning e plataformas tecnológicas gastar demais nos investimentos em auto- utilities, manufatura, serviços de saúde e
inovadoras possibilitam que as empresas mação. A escolha do nível certo de com- educação destacam o potencial da IA para
redefinam os seus processos, evoluindo plexidade para atender às necessidades melhorar a previsão e sourcing, otimizar
consistentemente na modernizaçao da or- atuais e futuras previsíveis requer uma e automatizar as operações, desenvolver
ganização.
A automação do local de trabalho fornece
por isso uma oportunidade significativa A escolha do nível certo de complexidade
para melhorias no desempenho e na efi- para atender às necessidades atuais e futuras
ciência global das organizações.
previsíveis requer uma compreensão profunda
Os principais objetivos identificados na dos processos e sistemas da organização
adoção das tecnologias como RPA são:

• Redução de riscos - muitas empresas au- compreensão profunda dos processos e marketing direcionado, gestão de preços, e
tomatizam os processos de para reduzir sistemas da organização. melhorar a experiência do cliente.
os riscos de malware e outras ameaças. Parece claro, pela nossa experiência, que A importância da implementação das solu-
Os riscos inerentes às atualizações e mi- os mais bem sucedidos projetos de imple- ções de IA como RPA numa correta estra-
grações também impulsionam as orga- mentação de soluções de RPA têm como tégia digital para cada organização significa
nizações para o software como serviço características: que não há atalhos para as empresas nesta
(SaaS) e a computação em nuvem. Fi- 1. A descentralização em termos de go- matéria, caso contrário correm sérios ris-
nalmente, o risco de inatividade é outro vernance na gestão do projeto. A des- cos de insucesso na implementação.
driver para selecionar a nova geração de centralização nas funções ou unidades As empresas não podem mesmo atrasar
RPA, ITO, BPO e XaaS. de negócios como responsáveis pelas o início da sua jornada digital, incluindo
• Aumento da eficiência - as empresas iniciativas de automação, com ou sem IA. Os primeiros a adotar, criarão grandes
que abraçam a implementação de RPA apoio de uma equipa central. Inversa- vantagens competitivas.
costumam fazê-lo porque a automação mente, as experiências em organiza- Um programa bem-sucedido exige que
as leva a melhorias significativas de pro- ções menos bem-sucedidas são aquelas as empresas abordem muitos elementos
dutividade e aumento da flexibilidade em que uma equipa central é a única de uma transformação digital e analítica:
da organização responsável pela entrega de automação identifique o caso de negócio, configure
• Maior compliance - registando todas em toda a organização. o ecossistema de dados correto, construa
as ações e identificando e removendo 2. A expansão do Buy-in na automação ou compre ferramentas de IA apropriadas
lacunas de dados entre várias fontes, o por toda a organização. O incentivo de e adapte processos de fluxo de trabalho,
RPA auxilia na execução de revisões e no um programa verdadeiramente em toda recursos e cultura.
reconhecimento de problemas de con- a empresa e a prossecução da adoção A IA promete benefícios, mas também co-
formidade. de tecnologias de automação cognitiva loca desafios que atravessam empresas, e
• Maior qualidade na informação dispo- mais avançadas. trabalhadores e as equipas precisam estar
nível. 3. O envolvimento da função de TI. O preparadas para explorar o RPA e resistir a
sucesso dos programas de automação competir com ele.
A metodologia aplicada na implementa- também depende do envolvimento pre- Por isso questionamos: a tecnologia RPA
çao é também fundamental. Se correta- coce da função de TI. Em primeiro lugar, está pronta e disponível para as empresas,
mente implementada, a automação pode as equipas de TI dessas organizações grandes ou pequenas, mas estarão as em-
fornecer enormes melhorias em todas es- são mais propensas a ter automatizado presas prontas para adoptar a tecnologia
sas áreas. Mas o saldo de benefícios pode seus próprios processos. O seu envolvi- RPA?

37 | START&GO | novembro/dezembro 2018


TI’S

Como a tecnologia ajuda a


transformar dados em "insights"
José Oliveira
CEO Bi4all

A
tecnologia é, hoje em dia, de ele-
vada importância para o sucesso
de qualquer empresa, seja qual
for a sua área de atividade. Na verdade,
quase todos nós estamos absolutamente
dependentes da tecnologia, quer a nível
pessoal, quer profissional. Se nos focar-
mos no mundo profissional, rapidamente
percebemos que a tecnologia mudou a
forma como nos dias de hoje as empresas
atuam, criando novas oportunidades, mas
também apresentando muitos desafios. cliente, a redução de custos, aumento da
Com a tecnologia é gerado um sem-núme- rentabilidade e a identificação de novas
ro de dados oriundos das mais variadas Com a possibilidade oportunidades.
fontes. Transformar esses dados em infor- de armazenarem Com uma análise profunda dos dados pro-
mações significativas é crucial para o fu- e analisarem os venientes dos mais diversos processos,
turo de qualquer organização, seja ela de como campanhas, vendas ou "social me-
pequena, média ou grande dimensão. Até
dados gerados, dia", por exemplo, a empresa consegue
porque, para que os dados tenham valor, as empresas assim conhecer em profundidade os há-
é fundamental que sejam disponibilizados ganham assim bitos, as preferências e o histórico da re-
de forma correta, e no momento certo. mais capacidade lação das pessoas com a marca. Ao trans-
Com a possibilidade de armazenarem e de resposta e de formar esses dados em "insights" permite
analisarem os dados gerados, as empresas análise, tornando-as criar novos produtos e/ou serviços, me-
ganham assim mais capacidade de respos- lhorar processos, e, por exemplo, otimizar
ta e de análise, tornando-as cada vez mais
cada vez mais gastos. Assim, os dados transformam-se
competitivas, o que, num mundo global competitivas em informação valiosa para a empresa,
em constante mudança, se torna vital. sendo que a tecnologia pode ser aplicada
Segundo a Gartner, em 2020, o número em qualquer área de atividade e em qual-
de especialistas em dados e analytics nas a tomadas de decisão mais conscientes e quer departamento da empresa.
unidades de negócio terá crescido três ve- decisivas. Através de dados que são recolhidos
zes mais do que o número de especialistas Deste modo, surge um conjunto de con- numa "Data Warehouse" e que permitem
nos departamentos de TI. ceitos associado à recolha, armazenamen- gerar relatórios analíticos, estas ferramen-
Mas como se podem transformar os da- to e análise de dados. Mas igualmente tas fornecem uma visão do passado, do
dos que possuímos na nossa empresa em importante é a forma como cada gestor presente e do futuro das operações da sua
"insights"? Existem soluções que permi- ou cada líder analisa e as decisões que empresa.
tem transformar os dados em "insights" toma a partir daí. Chegamos assim ao As soluções de Analytics levam assim a
e que possibilitam assim que a sua em- Business Analytics, que permite que lí- decisões estratégicas dentro das empre-
presa se torne mais competitiva e eficaz deres e gestores tomem a decisão certa, sas. São gerados dados apresentados em
face à concorrência. Nesse sentido, e ao no momento certo. Através de soluções "dashboards", onde constam informações
contrário do que acontecia há uns anos, de Analytcs, todos os dados relevantes detalhadas, relevantes e em tempo real,
a intuição passa para segundo plano e as aparecem em "dashboards" permitindo que permitem prever a evolução, funda-
decisões são tomadas com base em dados assim, por exemplo, a monitorização dos mentar as tomadas de decisão, ter uma
reais que permitem uma visão alargada da indicadores de gestão, o cruzamento de visão profunda do seu negócio e definir
empresa, o que, consequentemente, leva informação, um maior conhecimento do uma estratégia de sucesso.

38 | START&GO | novembro/dezembro 2018


EXTERNIALIDADES

Vem aí o pior dos tempos


ou o melhor dos tempos
Pedro Amendoeira escassez de centrais nucleares em fun- permite investir em inovação interna,
Partner at Expense Reduction
Analysts cionamento e o aumento dos fósseis. em comprar uma startup promissora
Independentemente das causas, que pou- ou em imitar os seus modelos (as prá-
co interessam, dado que a generalidade ticas Lean Startup, por exemplo, estão
das empresas nada pode fazer para as mu- a ser implementadas por gigantes não-
dar, parece certo que alguns custos terão -tecnológicos).

V
ivemos tempos turbulentos. À aumentos significativos e que as receitas • Conhecimento e criatividade – a ado-
crise profunda seguiu-se uma re- podem não ser as esperadas, ao estarem ção de novas soluções pode ultrapas-
cuperação dolorosa mas relativa- expostas a um mercado global repleto de sar por completo a necessidade de
mente rápida, e quando a economia pa- incertezas. alguns custos, por exemplo: não há
rece alcançar a velocidade de cruzeiro, as Ao contrário do que possa parecer, estou eletricidade mais barata do que aque-
nuvens da incerteza adensam-se. optimista. Contacto diariamente com ex- la que não se consome ou sistemas de
As empresas vivem tempos de imensos ris- celentes empresas, que, além dos riscos, embalagem diferentes podem exigir
cos e de outras tantas oportunidades. veem oportunidades. Ainda sabendo que a menores quantidades para o mesmo
Quais os mais prementes? base da minha amostra é condicionada por nível de proteção dos produtos.
Vejamos alguns dos riscos a que as empre- empresas que trabalham continuamente
sas podem estar expostas nos próximos para melhorar (e também por isso nos con- Há mais de 150 anos, Charles Dickens es-
meses: tratam), parece claro que há aberturas: creveu, sobre o período da Revolução Fran-
• Políticos – guerras comerciais e gover- • Mercados globais – o mundo é vasto cesa, algo que pode bem refletir o que pas-
nos extremistas são alguns itens que e há alguns espaços, ainda que possa samos, ou o que nos espera, nesta época
constam diariamente no cardápio noti- ser crescentemente mais difícil e caro de revoluções contínuas:
cioso. Os efeitos podem ser enormes e lá chegar. Uma guerra comercial fe- “Foi o melhor dos tempos,
desencadear nova crise global.
• Fiscais – no nosso país todos os gover-
nos gostam de mexer na fiscalidade e
raras vezes é para baixar os custos das
empresas. O próximo orçamento não
promete benesses.
• Tecnologia – é disruptiva de setores e
elimina mesmo empresas bem estabe-
lecidas. Lembram-se da Nokia, Kodak
ou Blockbuster? O seu setor pode ser
o próximo? Eles também achavam que
não.
• Mercados – os transportes, os com-
bustíveis e a energia e são alguns dos
custos que têm subido ou estão a pon-
to de o fazer. Se nos transportes em
Portugal é o acordo de atualização sa- cha alguns mercados e torna outros foi o pior dos tempos,
larial com os motoristas, a par com o mais acessíveis, uma desvalorização de foi a idade da sabedoria,
aumento dos combustíveis, que pres- moeda no país do concorrente pode foi a idade da tolice,
siona os preços, a nível europeu acres- também tornar as matérias-primas (…)
cem nova legislação comunitária, taxas para o nosso processo lá produzidas foi a primavera da esperança,
à circulação de camiões nalguns paí- mais económicas. foi o inverno do desespero,
ses, escassez de motoristas noutros, • Tecnologia – é tanto risco como opor- tínhamos tudo diante de nós,
mais congestionamentos, etc. Quanto tunidade, pois pode ser a maior aliada. tínhamos nada diante de nós.”
à energia elétrica, o mercado está a A Netflix é muito maior do que a Bock-
um nível elevadíssimo, sendo este o buster alguma vez foi. Com nova tec- Que tempos queremos para as nossas em-
ano mais caro desde 2008. As razões nologia podemos chegar onde a atual presas, os melhores ou os piores? Os da sa-
prendem-se com as licenças de CO2, a não pode. Uma tesouraria saudável bedoria ou tolice? Tudo ou nada?

39 | START&GO | novembro/dezembro 2018


CONSULTÓRIO FISCAL

O residente não habitual


Fernando Belém
Contabilista Certificado
geral@numerosuperior.com

C
om o objetivo de atrair para Por-
tugal profissionais não residentes,
qualificados em atividades de ele-
vado valor acrescentado, bem como pen-
sionistas beneficiários de pensões obtidas
no estrangeiro, foi criado, no ano 2009,
através da publicação do Decreto-Lei n.º
249/2009, o regime fiscal para o residente
não habitual (RNH).
Este regime aplica-se aos sujeitos passivos
que, não tendo residido em Portugal, para
efeitos fiscais nos últimos 5 anos, passem so inicia-se com a obtenção de um número Conforme já referimos, a tributação à taxa
a ser considerados residentes em Portu- de identificação fiscal português, devendo especial de 20% dos rendimentos auferi-
gal e exerçam uma das atividades consi- este pedido ser efetuado nos serviços da dos em território português e enquadra-
deradas de elevado valor acrescentado, Autoridade Tributária e Aduaneira (AT). dos nas atividades de elevado valor acres-
as quais estão previstas na Portaria n.º Como passos seguintes, é necessário abrir centado é o grande incentivo fiscal que
12/2010, de 7 de janeiro, ou, em alterna- uma conta bancária em Portugal e efetuar este regime veio introduzir, no entanto
tiva, sejam beneficiários de pensões obti- nos serviços de segurança social o pedido não é o único. Outro benefício previsto é o
das no estrangeiro. Este regime também é de um número de identificação, isto para facto de os RNH serem equiparados a um
potencialmente aplicável (caso cumpram o caso de o RNH vir a auferir rendimentos residente fiscal em Portugal, sendo, por-
as condições de acesso) a emigrantes que
pretendam regressar a Portugal.
Uma das grandes vantagens deste regime Uma das grandes vantagens deste regime
consiste em tributar os rendimentos aufe- consiste em tributar os rendimentos auferidos
ridos em território português nas referi- em território português nas referidas atividades
das atividades de elevado valor acrescen- de elevado valor acrescentado à taxa única de
tado à taxa única de 20%, independente
do valor do rendimento obtido.
20%, independente do valor do rendimento
O cidadão que seja enquadrado como RNH obtido
adquire o direito de ser tributado como tal
por um período de 10 anos consecutivos
a partir do ano, inclusive, da sua inscrição da categoria A e B em Portugal. Refira-se tanto, tributados de modo idêntico em to-
como residente em território português, que, no caso dos RNH não se encontrarem dos os restantes rendimentos obtidos em
com a obrigatoriedade de em cada um inscritos na segurança social, devem ser território português a um residente fiscal
desses anos ser considerado residente em portadores de um seguro de saúde ou, em em Portugal. Anote-se que os não residen-
Portugal. Refira-se que este período de 10 alternativa, possuírem o cartão de saúde tes não têm esta possibilidade.
anos é improrrogável. europeu (para o caso de serem cidadãos Por último, pela sua importância, destaca-
A qualificação como residente fiscal em europeus). Posteriormente é necessário mos o facto dos rendimentos da categoria
Portugal adquire-se a quem permanece que o RNH solicite junto da AT a alteração H (rendimentos de pensões) obtidos por um
em território português, num dado ano da morada e do seu estatuto para residente RNH no estrangeiro poderem estar comple-
por mais de 183 dias (seguidos ou interpo- em território português. Após concluído o tamente isentos de tributação em território
lados), ou, quem tendo permanecido me- seu registo como residente em Portugal, o português caso tenham sido tributados no
nos tempo, aí disponha, em 31 de dezem- RNH deve solicitar o estatuto de RNH até estado da fonte ou caso não sejam de con-
bro desse ano, de habitação em condições dia 31 de março, inclusive, do ano seguinte siderar rendimentos obtidos em território
que faça supor a intenção de a ocupar àquele em que se torne residente fiscal em português. Trata-se, por isso, de um excelen-
como sua residência habitual. Portugal, devendo este pedido ser efetua- te benefício concedido a um cidadão pen-
Como obter o estatuto de RNH? O proces- do através do portal das finanças. sionista que pretenda residir em Portugal.

40 | START&GO | novembro/dezembro 2018


EMPREENDEDOR

Os nossos valores estão assentes


numa liderança sólida, uma cultura
única que se perpetua no tempo
Samuel Soares
Diretor Geral da Samsys
Samuel.soares@samsys.pt

E
star na vanguarda é, cada vez mais,
uma exigência. O conhecimento
tem um pilar fulcral, que é a curio-
sidade. Um tema que tenha particular in-
teresse desperta uma vontade maior de
buscar informação e, havendo esse estu-
do, feito de forma natural e não proposita-
damente incitada, muitas vezes é o mote
para se criar um especialista sobre deter-
minado tema. É desta forma que muitas
vezes se estimula a memória e quando
tudo isto é conjugado com a vontade de
gerar algo construtivo e que acrescente cair outras tantas vezes, mas aprendi uma sultadoria e Soluções Informáticas, onde
valor, então podemos trabalhar para fun- coisa fundamental na liderança: que so- se aprende diariamente e se contribui
dar um projeto nosso. mos todos diferentes, não há um ser hu- para um ambiente propício à produtivida-
Acredito que, para termos um futuro pro- mano igual a outro e que cada um deve de.
missor e de sucesso, a influência do pas- cumprir as suas tarefas de forma eficiente Acredito que existem pilares, princípios e
sado é fundamental. Passo a contar como e motivada. Tive de adaptar o discurso e valores essenciais para um líder de suces-
surge a decisão de fundar o meu próprio modelar a forma como o dirigia. so, designadamente:
negócio. Com essa experiência retirei muito co- 1. Integridade
A altura em que o sonho surgiu faz-me nhecimento e confiança, que mais tarde 2. Exemplo
recuar ao ano em que acumulava 20 anos viriam a fazer-me tomar a decisão de criar 3. Humildade
de idade e era responsável técnico numa um negócio. Assim surgiu a Samsys – Con- 4. Coragem
empresa de metalomecânica e serralharia 5. Resiliência
industrial. Coordenava o departamento 6. Autodisciplina
técnico, que incluía a área de desenho, Todos os dias e especialmente nas nossas
processo e produção. Tudo começa com O projeto Samsys é proveniente do reuniões mensais habituais, trabalhamos
um desafio. No dia em que o líder do de- espírito empreendedor do seu fun- estes pontos e reconhecemos quem é
partamento comercial foi embora da em- dador Samuel Soares, que, quando elogiado pelo bom trabalho realizado em
presa, o Diretor propôs-me esse cargo. De se apercebeu da paixão que tinha clientes e parceiros. Fazemos questão de
imediato, disse que não estava preparado, por tecnologia e do sucesso que compensar quem merece.
mas que, se fosse avante, não ia deixá-lo estava a ter a aconselhar e vender Este cuidado e esta visão levaram-nos a
ficar mal. todo o tipo de soluções tecnológi- atingir vários reconhecimentos, como Top
Foi assim que começou o percurso de lide- cas, decidiu abrir a sua própria em- 3 Heróis PME, estarmos presentes na lista
rança. Foi duro, desafiante, até porque a presa. Hoje, tem uma equipa de 57 das 100 Melhores Empresas para Traba-
equipa que liderava era muito mais velha, pessoas, sede no Porto e filial em lhar, sermos considerados PME Excelên-
alguns com idade para serem meus pais- Lisboa e a sua empresa é reconhe- cia, entre muitos outros que nos fazem
…e eu sem conhecimento de liderança. cida como uma das empresas mais acreditar e dão força de vontade para con-
Mas não tive medo, lancei-me. Caí imen- felizes em Portugal. tinuarmos a dedicarmo-nos e a inspirar
sas vezes, puxaram-me o tapete para eu quem nos rodeia.

41 | START&GO | novembro/dezembro 2018


PRODUTIVIDADE INDIVIDUAL

Como tornar a organização um hábito


Adriana Gonçalves Se acha bem e se deseja tornar a organiza- 4. Consistência, disciplina
Autora do blog Creative Focus -
Organização e Produtividade ção um novo hábito na sua vida, considere e determinação
as seguintes ações (pegue um caderno e Diria que talvez este seja um dos passos
anote para não esquecer): mais importantes. Quando procuramos
encontrar a “perfeição” que não existe na
1. Defina o seu propósito organização, por vezes ficamos frustrados.

C
riar um novo hábito nem sempre Nesta primeira fase, analise não o que o Gastamos tempo a procurar novos méto-
é fácil, principalmente quando fa- motiva a querer ser uma pessoa mais or- dos, ferramentas e acabamos por depois
lamos em organização. ganizada, mas sim qual o propósito. achar tudo muito complexo ou, simples-
Se o leitor pretende ser uma pessoa mais Qual é o seu objetivo? Porque é que de- mente, confuso e desistimos.
organizada, saiba que é possível, mas que seja ser mais organizado? Quer tornar a A disciplina é MUITO IMPORTANTE. Quan-
deve ser um processo gradual, feito com
disciplina.
Segundo Charles Duhigg, autor do livro "A
Força do Hábito", a chave para fazer exer-
Em vez de tentar mudar um hábito antigo,
cício diariamente, tornar-se uma pessoa precisamos de desenvolver um novo desejo
mais produtiva, criar empresas revolucio- que nos conduza a realizar uma rotina
nárias e alcançar o sucesso, é entender
como os hábitos funcionam.
Uma das dicas mais importante deste livro sua vida mais produtiva em casa? No tra- do estabelecer a sua meta, lembre-se de
é o ensinamento de como devemos criar balho? Quer ter mais tempo para a sua fa- que precisa de realmente ser feito! Man-
novas rotinas neurológicas, mais podero- mília? Defina agora o seu porquê, escreva tenha-se disciplinado e verá resultados.
sas para a nossa vida. no seu caderno. Não desanime!
Em vez de tentar mudar um hábito antigo,
precisamos de desenvolver um novo dese- 2. Escolha um gatilho 5. NÃO DESISTA
jo que nos conduza a realizar uma rotina, O gatilho serve para melhorar a fixação Não existe um método perfeito para a or-
para, assim, aproveitarmos algum tipo de do propósito na sua mente. Escreva qual ganização, porque somos todos diferentes
recompensa desejada. o gatilho que deseja implementar para e cada um tem os seus hábitos.
todas as suas áreas de foco (saúde, rela- Existem, sim, ferramentas disponíveis que
Equilíbrio ao criar um novo cionamentos, carreira, desenvolvimento ajudam a tornar a organização um proces-
hábito pessoal, etc.). so menos complexo, algo mais simples.
Nos anos 50, os japoneses retomaram as Exemplos: Acreditar é muito importante! Se não
ideias da administração clássica de Fayol • “Ir ao ginásio.” - Saúde e Bem-estar acreditar, nada acontece. É preciso existir
para renovar a indústria, tendo desenvol- • “Beber 1,5 L de água.” - Saúde e Bem- uma convicção dentro de nós, um desejo
vido o conceito de melhoria contínua, o -estar de mudança real, de determinação, para
chamado Kaizen. • “Quero passar mais tempo com a minha fazer acontecer.
Para o Kaizen, é sempre possível fazer família.” - Relacionamentos Existem várias fórmulas para mudar há-
melhor. As mudanças feitas devem ser • “Quero rever os meus orçamentos finan- bitos, mas isto continua a ser um assunto
graduais e nunca demasiado bruscas, ceiros.”- Finanças que exige esforço e que varia conforme o
para não perturbar o equilíbrio da estru- contexto, personalidade e aspectos indivi-
tura de qualquer indivíduo ou organiza- 3. "Baby steps" duais de cada um.
ção. Defina as suas metas mas comece deva- De acordo com pesquisadores da Univer-
Tornar-se uma pessoa mais organizada gar. Não procure mil informações e solu- sidade de Duke, os hábitos correspondem
pode ser algo difícil de alcançar. Talvez o ções de uma vez só. a pelo menos 40% dos nossos comporta-
leitor já tenha tentado algumas vezes, mas Tentar organizar a vida num dia é pratica- mentos.
sem sucesso. Faça uma pequena reflexão. mente impossível. Aliás, a organização é Sim! Os hábitos influenciam realmente as
E se conseguisse ser realmente mais orga- um hábito que deve ser constante e, como nossas ações.
nizado? já referi, algo gradual. Resumindo, como pode, então, tornar a
E se, com a organização, fosse mais pro- Se quer começar a ir ao ginásio, não defi- organização um hábito na sua vida? Pense
dutivo? na logo “todos os dias” e sim, talvez, duas no propósito que o leva a querer ser uma
E se desse uma nova oportunidade à or- vezes por semana. O seu cérebro vai adap- pessoa mais organizada, seja consistente,
ganização? tar-se à mudança e será mais fácil depois comece devagar e acredite para ver resul-
O que acha? aumentar. tados!

42 | START&GO | novembro/dezembro 2018


DICAS

Preocupado em gerir o tempo?


Faça menos gestão de tempo
e mais do trabalho a fazer.

A
sua cabeça foi criada para ter
ideias e não para as armazenar.
Crie sistemas que o ajudam a co-
locar as preocupações e aquilo que tem ‘A melhor maneira
de fazer fora da sua cabeça. Não seja mais de começar,
produtivo dormindo menos, esquecendo é parar de falar e
a vida pessoal ou a família. Procure solu- começar a fazer.’
ções que sejam sustentáveis. Não se isole Walt Disney
nas preocupações e responsabilidades.
Envolva os outros, delegue e responsabi-
lize. Anule tarefas que não vai conseguir
fazer. Mais vale abandoná-las e avisar os
outros que não vão ser feitas. Tenha em
atenção que a perfeição nem sempre aju-
da. Por vezes queremos ser muito eficien-
tes mas a eficácia é o que nos garante a – ou regista e fica fora da cabeça num sis- uma relação diferente e mais disciplinada
produtividade. Concretize, nem que seja tema em que confia e funciona (agenda, com o trabalho para entregar mais e dimi-
com pequenos passos e vai ganhar um telefone, computador) ou fica com tudo na nuir o stress. Tenha um processo em que
sentimento de progresso. sua mente. Opte por ‘limpar’ a sua cabe- acredita e faça revisões frequentes. Isso
Crie o hábito de registar tudo. Tarefas a ça. Não jante nem vá para a cama a pensar garante-lhe uma visão global sobre tudo
concretizar, telefonemas a fazer, emails a no trabalho. Faça rapidamente aquilo que e a necessidade de tomar decisões cons-
enviar, relatórios a entregar, ou propostas não gosta, assim sobra mais tempo para tantes sobre o trabalho – adiar, delegar,
que tem de desenhar. Tem duas hipóteses aquilo que gosta mais de fazer. Mantenha abandonar ou fazer já.

As emoções nem sempre o ajudam?


Quer aumentar o seu QE?

D
aniel Goleman refere que temos
de treinar aptidões básicas que
nos favorecem para aumentar
‘Num sentido prático, nós
esta capacidade. A primeira é melhorar
temos duas mentes.
o nosso autoconhecimento. Saber mais
Uma que pensa e outra que
sobre nós mesmos e os nossos sentimen-
sente.’
tos ajuda. Reconhecer até que ponto nos Daniel Goleman, Professor, Investigador e
podem influenciar e trair. A segunda é a Autor
capacidade de regularmos as emoções.
Não significa necessariamente ser cubo
de gelo, mas lidar melhor com as emo-
ções para as adaptar às situações. Princi-
palmente numa relação de equilíbrio com
as outras pessoas com que lidamos dia- Não se esqueça, o corpo transmite sinais ne a sua capacidade de observação dos
riamente. Na verdade, este trabalho não que dão voz às nossas emoções, mesmo outros, eles também transmitem sinais
está apenas centrado em nós. Por isso, te- sem falarmos. As outras pessoas con- que nos permitem identificar os mo-
mos de aumentar a nossa capacidade de seguem perceber isso. Tente conhecer mentos em que estão menos bem. Se o
empatia, colocando-nos no lugar do outro melhor a sua comunicação não verbal, fizer, multiplica as oportunidades para
para compreender os seus motivos e ‘ni- pois isso ajuda-o a evitar transmitir si- construir relações positivas e mais efica-
velarmos’ as nossas reações. nais que não quer. Por outro lado, trei- zes com eles.

43 | START&GO | novembro/dezembro 2018


UM CONJUNTO DE CONTRIBUTOS E REFLEXÕES ELABORADOS
POR ESPECIALISTAS NA MATÉRIA, SOBRE O COMPLEXO E INIGUALÁVEL MUNDO
DO DIREITO LABORAL DESPORTIVO.

Neste livro são tratadas as mais relevantes


temáticas no domínio do contrato de
trabalho desportivo:
– a questão dos limites salariais dos atletas;
a relação do jogador de futebol com o
poder instituído;
– os direitos, liberdades e garantias laborais
face a novos desafios do desporto
profissional;
– a cessação do contrato de trabalho
desportivo; a desvinculação laboral;
– os problemas implicados nas cláusulas
de rescisão; as consequências jurídicas
contratuais do match fixing;
– a cedência temporária do praticante
desportivo profissional;
– os poderes e funcionamento de Tribunais
Arbitrais de futebol;
– a formação desportiva e respetivos
direitos.

Título 1º Congresso internacional sobre o Regime


jurídico do contrato de trabalho desportivo.
Coordenação Lúcio Miguel Correia e Rosalía
Ortega Pradillo
Págs. 256 PVP €15

Compre já em http://livraria.vidaeconomica.pt
- R. Gonçalo Cristóvão, 14, r/c • 4000-263 PORTO
encomendas@vidaeconomica.pt 223 399 400

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