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Engrenagens – Aula 02

Introdução
As rodas de atrito, como o nome diz, transmitem movimento através do atrito gerado pelo
contato entre duas superfícies. No caso de transmissão entre duas rodas com eixos paralelos,
a razão de velocidades angulares será igual à razão dos seus diâmetros.

Esta razão de velocidades será constante, independentemente da posição angular das rodas,
o que garantirá uma transmissão suave. Contudo, as rodas de atrito podem apresentar
escorregamento, principalmente se o atrito entre as superfícies não for suficientemente alto
para transmitir o torque desejado.

As correias são outra forma de transmissão de movimento que apresenta razão de velocidades
constante. Elas permitem uma transmissão de torques mais elevados do que as rodas de
atrito. Contudo também podem apresentar escorregamento.

No caso de engrenagens, o escorregamento é inexistente devido à presença dos dentes, mas


não nem sempre atendem ao requisito transmissão suave. Para haja uma transmissão suave,
as engrenagens devem atender a Lei Fundamental do Engrenamento que afirma: “a razão de
velocidade angular das engrenagens de um par de engrenagens deve manter-se constante
durante o engrenamento”.
Para que haja uma transmissão suave que atenda aos requisitos de qualidade exigidos pelos
processos em que serão as engrenagens aplicadas, os dentes devem apresentar perfis
específicos que garantam à chamada ação conjugada.

O objetivo é que as engrenagens incorporem a característica de transmissão suave presente


nas rodas de atrito e correias, mantendo sua propriedade de não apresentar escorregamento.

Teoria do engrenamento
Ação conjugada
Quando uma superfície curva empurra outra superfície, o ponto de contato ocorre onde as
duas superfícies são tangentes entre si (ponto c), e as forças em qualquer instante têm a
direção normal comum às duas curvas.

A linha ab, representando a direção de ação de forças, é chamada de linha de ação. A linha de
ação interceptará a linha de centros O-O em um ponto P, chamado de ponto primitivo ou de
referência.

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Círculos traçados pelo ponto P a partir de cada centro são chamados de círculos primitivos, e o
raio de cada círculo é chamado de raio primitivo. A razão de velocidade de engrenamento será
então definida pela razão destes raios primitivos. Se os perfis das curvas são projetados para
produzir uma razão de velocidade angular constante durante o engrenamento, diz-se que eles
possuem ação conjugada.

Do exposto, pode-se então concluir que para que ocorra a ação conjugada, a normal comum
do perfil de dentes, em todos os pontos de contato durante o engrenamento, deve sempre
passar por um ponto fixo na linha de centro das engrenagens, chamado de ponto de referência
ou ponto primitivo. Há um número infinito de perfis que poderiam ser usados, mas a maioria
absoluta das engrenagens usa a envolvente de um círculo.

Curva envolvente
A envolvente de um círculo é a curva que pode ser gerada desenrolando-se uma linha esticada
de um cilindro, que será uma circunferência de base. Observe que:

• A linha está sempre tangente ao círculo de base.


• O centro de curvatura da envolvente está sempre em um ponto de tangência da linha
com o círculo de base.
• Uma tangente à envolvente é sempre normal à linha, que é o raio instantâneo de
curvatura da curva envolvente.

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Na figura acima, as linhas pontilhadas mostram como a evolvente poderia corresponder às
partes mais externas do lado direito dos dentes adjacentes de uma engrenagem. De forma
análoga, as evolventes geradas quando se desenrola uma linha enrolada no sentido anti-
horário no entorno da circunferência de base poderiam formar a parte mais externa do lado
esquerdo dos dentes.

Os cilindros, de onde as linhas são desenroladas, são chamados de circunferência de base


das engrenagens respectivas. Uma evolvente pode ser desenvolvida tão distante quanto
desejável para fora da circunferência de base, porém não pode existir uma evolvente do lado
interno de sua circunferência de base.

Circunferências de base e primitivas


A compreensão do acoplamento de um par de dentes evolventes de engrenagens pode ser
obtida a partir do estudo (1) do acionamento por atrito, (2) do acionamento por correia e,
finalmente, (3) do acionamento através de dentes evolventes de engrenagem.

A figura à esquerda mostra duas circunferências primitivas. Imagine que elas representem dois
cilindros pressionados um contra o outro. Se não houver deslizamento, a rotação de um dos

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cilindros (circunferência primitiva) causará a rotação do outro a uma velocidade angular
inversamente proporcional à relação de seus diâmetros.

De modo a se transmitir mais torque do que é possível com as engrenagens de atrito apenas,
incorpora-se agora uma correia de acionamento operando entre polias, representadas pelas
circunferências de base, conforme ilustrado na figura central.

Se o pinhão girar no sentido anti-horário, a correia fará com que a engrenagem gire no sentido
horário, uma vez que está cruzada. A direção da correia define uma linha de ação em que os
esforços são aplicados. Ela faz um ângulo de pressão 𝜙 com a tangente comum às
circunferências primitivas.

A partir de uma semelhança de triângulos observa-se que as circunferências de base


apresentam a mesma relação que as circunferências primitivas; assim, as relações de
velocidades referentes aos acionamentos por atrito e por correia são idênticas.

Na figura à direita a correia é cortada em um ponto c, e as duas extremidades são utilizadas


para gerar os perfis envolventes de e fc para o pinhão e para a coroa, respectivamente. Fica,
assim, esclarecido por que 𝜙 é chamado de ângulo de pressão.

Desprezando-se o atrito por deslizamento, a força do dente de uma evolvente, empurrando o


outro, ocorre sempre a um ângulo igual ao ângulo de pressão. Uma comparação das figuras
acima mostra que o perfil evolvente de fato satisfaz à lei fundamental da ação conjugada dos
dentes de uma engrenagem.

O dente da engrenagem deve ser projetado abaixo e acima da superfície de rolamento dos
cilindros (circunferência de referência ou primitiva), e, como já foi observado, a envolvente
existe somente externamente à circunferência de base.

Observe que as circunferências de base são necessariamente menores que as circunferências


de referência. Sendo 𝑟 o raio da circunferência de referência e 𝑟_𝑏 o da circunferência de base,
tem-se:

𝑟 = 𝑟𝑏 ∙ cos 𝜙

A parte do dente acima da circunferência primitiva é chamada de adendo e a parte abaixo é


chamada de dedendo. Em engrenagens padronizadas, os adendos da engrenagem são iguais
aos adendos do pinhão, o mesmo ocorrendo com os dedendos.

Distância entre centros


Quando as engrenagens são produzidas, as circunferências que realmente existem são as
circunferências de base, uma vez que são onde começa a parte envolvente do dente. Os
diâmetros primitivos e o ângulo de pressão só existem após o acoplamento de duas

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engrenagens. Para que estes valores correspondam aos fornecidos pelos fabricantes, é
necessário que as engrenagens sejam colocadas com a distância entre centros correta. A
distância correta é a média aritmética dos diâmetros primitivos fornecidos pelo fabicante.

𝑑𝑝 + 𝑑𝑔
𝐶=
2

Se as engrenagens forem colocadas a uma distância entre centros incorreta, o ângulo de


pressão e os diâmetros primitivos (que são tangentes) das engrenagens aumentam se a
distância entre seus eixos for maior que a de projeto. Contudo, os diâmetros primitivos vão
aumentar na mesma proporção do aumento da distância entre centros, mantendo a razão de
engrenamento.

Além de manter a razão de engrenamento original, não haverá perda do efeito conjugado, por
ser algo característico do perfil dos dentes envolventes.

Conclui-se então que o uso do perfil envolvente nos dentes das engrenagens mantém uma
transmissão suave, mesmo que as engrenagens sejam colocadas a uma distância entre
centros incorreta. Esta é mais uma grande vantagem deste perfil.

Referências
NORTON, Robert L. Projeto de máquinas. bookman editora, 2013.

BUDYNAS, Richard G.; NISBETH, J. Keith. Elementos de Máquinas de Shigley-10ª Edição.


McGraw Hill Brasil, 2016.

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JUVINALL, Robert C.; MATSHEK, Kurt M. Fundamentos do projeto de componentes de
máquinas. Grupo Gen-LTC, 2016.

MOTT, Robert L. Elementos de maquinas em projetos mecânicos. São Paulo, 2015.

COLLINS, Jack A. Projeto Mecânico de Elementos de Máquinas. Grupo Gen-LTC, 2019.

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