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Svapna-Vásavadattam

Sonho com Vásavadattá


Autor: Bhása [viveu por volta dos anos 300]

Toda peça em sânscrito começa com um verso para a ishta-devatá, a deidade


preferida, do dramaturgo, que aqui é Bhása. O verso é cantado pelo sútra-dhára, o
gerente do palco, para a remoção dos obstáculos de forma que a encenação consiga
chegar ao fim, que seja finalizada. Algumas vezes este também sugere o assunto da
peça. O verso reverencia a plateia e faz uma conexão com o texto. No final da peça, é
cantado um verso de bênção desejando felicidade e prosperidade para todos.

No teatro indiano sempre foi considerado importante que estivessem presentes nove
emoções básicas, chamadas de Nava-rasa. Somente com as nove expressões, a peça
teatral e a dança estariam completas. Essas nove emoções podem ser encontradas
nessa peça de Bhása.
São elas:
1- shrngára: paixão; encantamento amoroso
2- bhayanka: medo
3- bibhatsá: revolta; nojo; desapontamento
4- adbhuta: surpresa; encantamento
5- víra: coragem
6- hásya: gargalhada
7- karuna: compaixão
8- raudra: raiva
9- shánta: paz

Localização:
Dizem ter existido, no passado, 16 grandes reinos no norte da India, chamados de
Mahaa-jana-pada (grandes reinos).
Vatsa era um deles, ficava na área da atual Prayag/Allahabad, em Uttar Pradesh. A
capital do reino era Kaushambi.
Avanti era outro reino; a capital Ujjain ficava em Madhya Pradesh, na linha da atual
cidade de Prayag. O povo desse reino era chamado de “os avantis”.
Mágadha era outro grande reino que ficava ao sul do rio Ganges, no estado de Bihar
até a Bengala. A capital era Rájagrha.
Pancála era outro reino, cujo rei era Áruni. Este cercou Kaushambí quando Udayana só
tinha olhos para a rainha Vásavadattá.
Áruni é um rei que invade o reino dos Vatsas. O rei de Mágadha ajuda na luta para
derrotar Áruni, o usurpador.

Reinos, capitais e seus reis:


Reino Vatsa – capital: Kaushambí – rei Udayana
Reino Avanti – capital: Ujjain – rei Pradyota Mahasena
Reino Mágadha – capital: Rájagrha – rei Darshaka
Reino Pancála – capital: Ahicchatra – rei Áruni

O ministro Rumanván (que significa possuidor de sal) ataca Áruni, que era inimigo de
Darshaka, com a ajuda de Darshaka, para conquistar o reino antes perdido para Áruni.
Por fim, o rei Udayana vence, após o casamento com Padmávatí. O plano dos seus
ministros é sucesso.

Bhása mostra o equilíbrio entre o mundo das emoções, do amor, e o mundo das
obrigações, da política e obrigações com o reino.
No início, o rei Udayana não estava fazendo seu dever de rei, perdido como estava
pelo desejo e amor pela rainha. Quando o rei não faz seu dever, o povo sofre.
Vásavadattá é a mulher que se sacrifica por algo maior, pelo reino, por seu amor, o rei.
Seu sacrifício é por amor.
Por fim, os dois mundos se equilibram na aceitação das duas rainhas por parte do rei
Udayana.
Personagens:
- Rei Udayana – do reino Vatsa, reinou por volta de 600 AC e era descendente dos
Pandavas
- Yaugandharáyana – ministro do rei Udayana
- Pradyota Mahásena – o rei de Ujjain. Era um rei muito poderoso que inclui em seu
próprio reino o reino Vatsa. Ele tinha uma filha chamada Vásavadattá
- Darshaka – rei de Mágadha. Sua irmã era Padmávatí
- Sútradhára – gerente de palco
- Vásavadattá – princesa de Ujjain, filha do rei Pradyota Mahásena. Primeira esposa do
rei Udayana. Ela fica um tempo no reino de Mágadha, conhecida como a Dama de
Avanti ou Avantiká, sob a guarda da princesa Padmávatí.
- Padmávatí – princesa do reino de Mágadha; irmã do rei Darshaka. Torna-se a segunda
esposa do rei Udayana
- Estudante
- Bobo da corte – um brahmana, chamado Vasantaka, da corte do rei Udayana

Introdução:
O rei Pradyota Mahásena, do reino de Avanti, anexa o reino Vatsa, mas acolhe o rei
Udayana, que se torna professor de vína de sua filha Vásavadattá.
Udayana, que era da família dos Bharatas, se apaixona por Vásavadattá e um dia foge
com ela, imaginando que o rei Pradyota Mahásena não concordaria com o casamento.
Assim, Udayana acha que tem um inimigo em Mahásena, sem saber que na verdade
Mahásena desejava esse casamento. Quando Udayana foge com Vásavadattá, ele
consegue recuperar parte de seu reino.
Mas Udayana em pouco tempo começa a negligenciar seus deveres para com o reino
devido a seu encantamento por Vásavadattá. Ele só conseguia pensar em Vásavadattá.
Nessa ocasião, Áruni, rei de Pancála, usurpa parte do reino Vatsa, do rei Udayana.
Os ministros preocupados consideram que Udayana deveria fazer uma aliança com o
poderoso reino de Mágadha, para enfrentar o rei Mahásena, se fosse necessário.
Consideraram que a melhor maneira de fazer essa aliança seria com o casamento do
rei Udayana com a irmã do rei Darshaka de Mágadha, chamada de Padmávatí.
Então, para isso, o ministro Yaugandharáyana elabora um plano com o apoio da
própria rainha Vásavadattá.
Um dia, quando o rei estava fora numa expedição de caça, o pavilhão real em
Lávánaka, uma vila próxima à capital, é destruído por um incêndio. Correm as notícias
de que Vásavadattá e o ministro morreram no incêndio. Na verdade, os dois fugiram
para Mágadha como peregrinos viajantes.
Ato 1
A rainha e o ministro estão a caminho de Mágadha e, em um ashram na floresta,
encontram o cortejo da princesa Padmávatí, de Mágadha. A princesa estava de visita à
sua mãe, a rainha-mãe Mahádeví, que morava no ashram.
A princesa iria passar somente uma noite no ashram e proclama que neste dia
qualquer um poderia fazer-lhe um pedido. O ministro vê aí uma boa oportunidade
para entregar Vásavadattá à proteção do reino de Mágadha, como parte do plano
deles. O ministro diz que ela era sua irmã e pede à princesa Padmávattí que a receba
como sua protegida, o que a princesa concorda prontamente.
Então, um estudante passa por ali e conta a notícia do incêndio em Lávánaka e a
grande tristeza do rei. Quando o estudante se vai, todos do ashram se recolhem.
Ato 2
Vásavadattá está em Mágadha. A princesa Padmávatí e suas companheiras brincam de
bola no jardim interno do palácio e conversam sobre o rei Udayana. Vásavadattá
ouvindo a conversa quase se faz reconhecer. Logo entra uma dama de companhia que
diz à princesa que ela foi dada em casamento para o rei Udayana e que o casamento
tem que ocorrer naquele mesmo dia.
Vásavadattá diz para si mesmo: Quanto mais elas se apressam, maior é a tristeza em
meu coração.
Ato 3
Estão acontecendo as preparações para o casamento do rei Udayana e a princesa
Padmávatí. Vásavadattá vai sozinha para o jardim interno do palácio. Vêm correndo
algumas damas de companhia da princesa pedindo a Vásavadattá que faça as
guirlandas para o casamento.
Ato 4
Já casada, a nova rainha anda pelo jardim com suas acompanhantes, inclusive
Vásavadattá. O rei Udayana com seu bobo da corte entra no mesmo jardim. Por causa
de Vásavadattá, que não deve aparecer para outros homens, todas se escondem atrás
de umas plantas.
Os dois se sentam num banco, na entrada do jardim, e ficam a conversar. Elas
inevitavelmente escutam o que eles falam. O rei admite que seu coração ainda é de
Vásavadattá e começa a chorar. Padmávatí vai até o rei para confortá-lo, mas ele logo
tem que sair para um compromisso na corte.
Ato 5
Um dia após o casamento, a jovem rainha Padmávatí sente uma forte dor de cabeça. O
rei Udayana vai vê-la no “quarto-do-mar” (samudra-grha, um quarto onde tem jatos de
água refrescando o ambiente). Ele encontra a cama vazia, onde Padmávatí deveria
estar. Ele se senta na cama para esperar por ela. Pensando em Vásavadattá, ele cai no
sono.
Vásavadattá entra no quarto na penumbra para cuidar da jovem rainha; ao ver um
corpo deitado na cama, considera ser da rainha. Deitando-se ao lado da “rainha”, ela
descobre ser seu marido que está ali e falando durante o sono enquanto sonha com
ela. Ela então se levanta para ir embora, mas ele acorda e chega a vê-la de relance. Ele
corre atrás dela, mas bate na porta que estava fechada. O bobo da corte chega e tenta
convencê-lo de que foi somente um sonho.
Chegam as notícias de que o ministro Rumanván teria trazido um grande exército para
derrotar Áruni. Este havia invadido o reino de Udayana, e era também inimigo de
Darshaka. Com a ajuda de Darshaka, Udayana reconquista seu reino usurpado por
Áruni.
Ato 6
De volta ao reino dos Vatsas, na cidade de Kaushambi, todos estão felizes com a
recuperação do reino.
O sofrimento pela perda de Vásavadattá renasce no rei Udayana quando aparece a
vína que era de Vásavadattá no período em que ele ensinava música para ela.
Enquanto o rei sofre pela morte de sua querida Vásavadattá, chegam os mensageiros
de Ujjain, da parte dos pais de Vásavadattá, anunciando que eles perdoavam o rei
Udayana por ter fugido com sua filha. Informam também que, desde o início, o rei
pretendia dar sua filha em casamento para Udayana. O rei e a rainha mandam de
presente para Udayana os quadros com as pinturas de ambos feitos para o ritual de
casamento realizado no reino deles. Padmávatí percebe a semelhança entre
Vásavadattá e a moça de Avanti, Avantiká, que estava sob seus cuidados.
Ao mesmo tempo, o ministro Augandharáyana, ainda disfarçado, vem pegar sua irmã e
toda a verdade vem à tona.
Os ministros são perdoados. O rei decide ir em visita a Ujjain, levando as duas rainhas.

SONHO COM VÁSAVADATTÁ


Prólogo
[entra o gerente de palco]
Gerente de palco: “Que os braços do poderoso Udayana protejam vocês, braços que
são claros como a Lua quando se eleva e cuja força e beleza são Vásavadattá; (braços)
que ficam satisfeitos com o casamento com Padmávatí e são atraentes na companhia
de Vasantaka (que é o bobo-da-corte de Udayana).”
[Bala = poderoso braço é uma referência a Baladeva ou Balaráma, irmão de Krshna,
que era muito claro, que é Vishnu]
[Udayana = Lua que se eleva]
[Vásavadattá = dada por Indra]
[Padmávatí = repleta de flores]
[Vasantaka = primavera]
Com essas palavras nobres senhores e senhoras, eu anuncio .......Mas o que é isso?
Parece um barulho, na hora em que me dirijo à plateia. Bem, verei o que é.
[vozes atrás da cena] : Saiam da frente! Saiam da frente!
Gerente de palco: Que assim seja! Compreendo.
Os devotados servos do rei de Mágadha, que acompanham a princesa, estão afastando
todos que estão no caminho do ashram.
[Todos saem de cena]

Ato 1
[Estrada na floresta, perto do ashram]
[Entram 2 guardas]
Guardas: Saiam do caminho! Fora do caminho, senhores, fora do caminho!
[Entram Yaugandharáyana, disfarçado em renunciante, e Vásavadattá, com roupas de
uma senhora de Avanti]
Yaugandharáyana [Prestando atenção nos ruídos ao redor]: O que? Até aqui as pessoas
são enxotadas? Pois, essas pessoas mais velhas, residentes do ashram, satisfeitas com
frutas e sementes da floresta, vestidas com casca de árvore, merecedoras de todo
respeito, estão sendo apavoradas.
Quem é o insolente, a quem falta cortesia, que tornou-se arrogante com a fortuna
instável, que faz com que, com sua conduta grosseira, um ashram pacífico pareça uma
rua de cidade?
Vásavadattá: Quem é, meu senhor, que nos afasta?
Yaugandharáyana: Aquele que afasta a si mesmo do que é correto, do dharma.
Vásavadattá: Ah, senhor, não é isso que quis dizer. Será que devo ser afastada?
Yaugandharáyana: Até mesmo os deuses, minha senhora, são rejeitados
descuidadamente.
Vásavadattá: Ah, senhor, a fadiga não é tão angustiante quanto essa humilhação.
Yaugandharáyana: Isto é algo que Vossa Majestade já teve e depois abandonou. Não
lhe deve ser fonte de perturbação. Pois, no tempo passado, a senhora concordou, não
havendo outra opção no campo da ação. Com a vitória de vosso senhor, Vossa
Majestade mais uma vez alcançará um estado elevado. A variedade de riquezas
mundanas dá voltas com o marchar do tempo, assim como os raios de uma roda.
Guardas: Saiam do caminho, senhores, saiam do caminho!
[Entra um camareiro]
Camareiro: Não, Sambhashaka, você não deve afastar essas pessoas.
Veja, não traga repulsa ao nosso rei. Não seja rude com os habitantes do ashram. Essas
pessoas elevadas de espírito fizeram da floresta o seu lar para fugir das brutalidades da
cidade.
Guardas: Muito bem, senhor.
Yaugandharáyana: Vejam só, ele parece ser uma pessoa iluminada.
[Para Vásavadattá]: Venha, jovem, vamos nos aproximar dele.
Vásavadattá: Como o senhor quiser.
Yaugandharáyana [se aproximando]: Ó, senhor, qual a razão para essa pressa?
Camareiro: Ah, bom renunciante!
Yaugandharáyana [à parte]: Renunciante, evidentemente, é uma forma honrosa de
endereçamento, mas como não estou acostumado com ela, ela não me agrada.
Camareiro: Escute, bom senhor. Padmávatí, irmã de nosso grande rei, denominado por
seus pais de Darshaka, está aqui. Ela veio visitar a rainha-mãe, Mahádeví, que fez do
ashram o seu lugar de permanência. Tendo se despedido dessa nobre senhora, está no
caminho de volta a Rájagrha. Hoje ela permanecerá neste ashram. Então, o senhor
poderá pegar na floresta, à sua vontade, água sagrada, fogo, flores e grama sagrada. A
irmã de nosso rei aprecia um ato de piedade; ela não gosta de ver um ato piedoso
alcançar obstáculos. Esta é a tradição da família.
Yaugandharáyana [à parte]: Ah, esta é Padmávatí, a princesa de Mágadha, quem os
advinhos Pushpaka, Bhadraka e outros profetizaram que está destinada a ser esposa
de meu senhor real.
A aversão ou respeito nascem do desejo. Porque estou tão ansioso para vê-la casada
com meu senhor, sinto-me inspirado com grande devoção.
Vásavadattá [à parte]: Ao saber que ela é uma princesa, eu também sinto por ela um
afeto de irmã.
[Entram Padmávatí com seu séquito e sua camareira]
Camareira: Venha por aqui, por favor, princesa. Aqui é o ashram, entre, por favor.
[Aparece uma senhora do ashram sentada]
Senhora do ashram: Princesa, a senhora é muito bem-vinda.
Vásavadattá [à parte]: Esta é a princesa. Sua beleza proclama seu nascimento nobre.
Padmávatí: Respeitosa senhora, minhas saudações.
Senhora do ashram: Longa seja a sua vida! Entre, minha filha, entre. Um ashram é o
próprio lar de uma visita.
Padmávatí: Com certeza, Vossa Santidade. Sinto-me em casa e agradecida por vossas
palavras bondosas.
Vásavadattá [à parte]: As palavras dela são tão doces quanto sua aparência.
Senhora do ashram [para a camareira]: Minha boa moça, nenhum rei pediu a irmã de
seu rei em casamento?
Camareira: Sim, sua majestade o rei Pradyota de Ujjain. Ele mandou um embaixador
em nome de seu filho.
Vásavadattá [à parte]: Fico satisfeita com essa notícia. E agora ela se torna uma pessoa
do meu povo.
Senhora do ashram: Tal encanto merece esta honra. Ouvimos dizer que ambos são de
poderosas famílias reais.
Padmávatí [para o camareiro]: Senhor, encontrou algum habitante do ashram que nos
fará o favor de aceitar nossos presentes? Distribua à vontade deles e pergunte, por
proclamação, o que alguém poderá querer.
Camareiro: Conforme o desejo de sua alteza. Escutem com atenção, homens e
mulheres santos que habitam esse ashram, escutem minhas palavras. Sua Majestade,
a princesa de Mágadha, está agradecida por vossas cordiais boas-vindas e convida a
todos a aceitar seus presentes de forma que ela seja merecedora de punyam, de
méritos religiosos.
Quem precisa de um pote para pedir comida, quem precisa de roupa? Haverá alguém
que terminou os estudos e precise de riqueza a ser dada ao professor?
A princesa, devotada àqueles que seguem o dharma, faz um pedido a todos por ela
mesma – que seja declarado o que quer que alguém deseje. O que pode ser dado hoje
e a quem?
Yaugandharáyana [à parte]: Ah, minha oportunidade!
[Em voz alta]: Senhor, eu gostaria de fazer um pedido.
Padmávatí: Alegremente vejo que minha visita a este ashram será frutífero.
Senhora do ashram: Todos neste ashram estão satisfeitos. Este deve ser um estranho.
Camareiro: Bem, senhor, o que podemos fazer pelo senhor?
Yaugandharáyana: Esta é minha irmã. O marido dela viajou para fora do país. Meu
desejo é que Sua Alteza recebesse minha irmã sob seus cuidados e proteção por algum
tempo. Pois, não preciso de riquezas, nem de alegrias mundanas, nem de roupa fina,
tampouco visto as roupas laranjas para ganhar um sustento. A jovem real é sábia e
conhece bem o caminho do dharma. Ela poderá proteger as virtudes de minha irmã.
Vásavadattá [à parte]: Então, o nobre Yaugandharáyana está determinado a me deixar
aqui. Que assim seja. Ele não age sem ponderação.
Camareiro: Vossa Alteza! A expectativa dele é grande. Como poderemos consentir?
Pois, é fácil dar riquezas, proteger a vida. Qualquer coisa poderia ser fácil, mas difícil é
guardar uma promessa.
Padmávatí: Meu senhor, tendo feita a proclamação: “o que alguém deseja?”, é
inadequado hesitar. O que quer que ele tenha pedido, terá que ser dado.
Camareiro: Essas palavras são merecedoras de Vossa Alteza.
Camareira: Vida longa para a princesa que cumpre com suas palavras!
Senhora do ashram: Vida longa, abençoada senhora!
Camareiro: Muito bem, minha senhora!
[Dirigindo-se a Yaugandharáyana]: Respeitado, senhor. Sua Majestade aceita a guarda
de sua irmã.
Yagandharáyana: Estou endividado com Sua Alteza.
[Para Vásavadattá]: Minha jovem, aproxime-se de Sua Alteza.
Vásavadattá [à parte]: Não há como escapar. Irei; infeliz que sou.
Padmávatí: Venha mais perto. Agora pertences a mim.
Senhora do ashram: Ela me parece a filha de um rei.
Camareira: A senhora está certa, respeitosa senhora. Eu também vejo que ela já viveu
dias melhores.
Yaugandharáyana [à parte]: Ah, metade de minha tarefa termina. As coisas estão
acontecendo como planejado com os outros ministros. Quando meu senhor for
reempossado e Vásavadattá for devolvida a ele, sua majestade a princesa de Mágadha
será minha garantia para isso. Pois, aqueles que primeiro previram nossos problemas
predisseram que Padmávattí estava destinada a torna-se consorte de nosso rei.
Confiando nesta profecia, eu agi dessa forma, pois o destino não desobedece às
palavras de oráculos bem aprovados.
[Entra um estudante dos Vedas]
Estudante: [Olhando para cima] Já é meio-dia e eu estou exausto. Onde poderei
descansar? [Olhando ao redor] Ótimo! Deve haver um ashram por aqui, pois os veados
estão pastando tranquilamente, livres de medo, onde eles se sentem seguros. Todas as
árvores, cuidadas com amorosidade, têm seus galhos cheios de fruta e flores. Existem
muitas flores, mas os campos não são lavrados. Sem dúvida é um ashram, pois essa
fumaça vem de altares de fogo.
Vou entrar. [Entrando] Namaste. [Olhando em outra direção] Lá estão uns eremitas.
Não tem porque não prosseguir. Ó, senhoras!
Camareiro: Pode entrar, senhor, à vontade, senhor. O ashram é aberto a todos.
Vásavadattá: Vejam isso! [Ela está preocupada com o estudante que ela não conhece]
Padmávatí: Esta senhora evita estranhos. Terei que cuidar muito bem de minha
protegida.
Camareiro: Senhor, chegamos aqui primeiro, aceite nossa hospitalidade para com uma
visita.
Estudante: [Bebe água] Obrigado. Agora estou refrescado.
Yaugandharáyana: Senhor, de onde o senhor vem, para onde o senhor vai? Onde é o
vosso lugar de permanência?
Estudante: Eu direi ao senhor. Sou de Rájagrha. Para me especializar no conhecimento
dos Vedas, fui morar em Lávánaka que é uma aldeia no reino Vatsa.
Vásavadattá: [À parte] Ah! Lávánaka! Ao escutar esse nome, minha ansiedade se
renova.
Yaugandharáyana: E o senhor completou seus estudos?
Estudante: Não, ainda não.
Yaugandharáyana: Se os estudos não foram completados, por que o senhor saiu de lá?
Estudante: Uma catástrofe imensa ocorreu por lá.
Yaugandharáyana: E o que foi isso?
Estudante: Lá existe um rei chamado de Udayana.
Yagandharáyana: Já escutei falar de Sua Alteza. O que ocorreu com ele?
Estudante: Ele estava imensamente apaixonado por sua rainha, Vásavadattá, a
princesa de Avanti.
Yaugandharáyana: Isso é bem possível. E o que ocorreu?
Estudante: Enquanto o rei estava fora caçando, a vila pegou fogo e ela morreu
queimada.
Vásavadattá: [À parte] Não é verdade! Não é verdade! Ainda estou viva, pobre coitado!
Yaugandharáyana: Bem, continue, por favor.
Estudante: E, tentando salvar a rainha, um ministro, chamado de Yaugandharáyana,
morreu também nas chamas.
Yaugandharáyana: Morreu mesmo? E, então, o que ocorreu?
Estudante: Então, o rei voltou, e quando ele escutou essas notícias, ele ficou perdido
de tanta tristeza pela separação dela e tentou acabar com sua vida no mesmo fogo. Os
ministros lutaram para manter o rei longe do fogo.
Vásavadattá: [À parte] Sim, eu sei dos sentimentos afetuosos de meu senhor para
comigo
Yaugandharáyana: E depois?
Estudante: O rei abraçou em seu peito as joias meio-queimadas que haviam adornado
a rainha e caiu inconsciente no chão.
Todos: Oh!!!!!
Vásavadattá: [À parte] E agora espero que o nobre Yaugandharáyana esteja satisfeito.
Camareira: Princesa, esta nobre senhora está chorando.
Padmávatí: Ela deve ser muito sensível.
Yaugandharáyana: Muito! Muito! Minha irmã é muito sensível por natureza. O que
aconteceu depois?
Estudante: Então, aos poucos, ele ficou consciente.
Padmávatí: Ainda bem que ele está vivo! As palavras “caiu inconsciente no chão” me
fizeram perder a respiração.
Yaugandharáyana: Bem, prossiga, por favor.
Estudante: Então, o rei subitamente levantou-se, tendo seu corpo cheio de terra por
ter rolado no chão, e irrompeu em lamúrias e mais lamúrias: “Ó, Vásavadattá, princesa
de Avantí! Ó, minha muito querida! Minha aluna querida! Ó!!!!” E assim repetiu-se.
Em resumo, nenhum pássaro do amor lamenta tanto a perda do outro, nem aqueles
que perdem suas amantes divinas encantadoras. Feliz é a mulher assim amada por seu
senhor: consumida pelo fogo, mas devido ao amor de seu marido não é consumida
pela tristeza.
Yaugandharáyana: Mas, diga-me, cavalheiro, nenhum de seus ministros se esforçou
para confortá-lo?
Estudante: Sim, havia ali um ministro, chamado Rumanván, que fez tudo que pode
para confortá-lo.
Assim como o rei, ele nada comeu, sua face gasta de tanto chorar. Deprimido pela
tristeza como seu senhor, ele se descuidou do trato consigo mesmo. Dia e noite ele
está ao lado do rei. Se o rei subitamente abandonar este mundo, ele também o fará.
Vásavadattá: [À parte] Que alívio saber que meu senhor está em boas mãos.
Yaugandharáyana: [À parte] Que grande responsabilidade a de Rumanván! Pois, meu
fardo é agora leve, a labuta dele é constante. Tudo depende dele, até mesmo o rei
agora. [Em voz alta] Bem, cavalheiro, será que o rei está consolado?
Estudante: Isto não sei dizer. Os ministros saíram da aldeia, levando, com grande
dificuldade, o rei que foi cantando uma canção de amor: “Foi aqui que nós rimos
juntos, foi aqui que conversei com ela, aqui sentei ao lado dela, aqui nós caímos e aqui
passamos a noite juntos.” Com a partida do rei, a aldeia ficou desolada, como o céu
quando a lua e as estelas desaparecem. Então, eu também parti.
Senhora do ashram: Ele deve ser um rei muito nobre, sendo elogiado assim até mesmo
por um estranho.
Camareira: Ó, Princesa! O que Vossa Alteza acha, o rei se casará com outra mulher?
Padmávatí: [À parte] Meu coração faz esta mesma pergunta.
Estudante: Me dá licença, tenho que ir embora.
Todos: Vá e fique bem.
Estudante: Obrigado! Namaste. [E sai]
Yaugandharáyana: Bom, eu também preciso ir, se Sua Alteza me permite.
Camareiro: O santo renunciante deseja partir com a permissão de Vossa Alteza.
Padmávatí: A irmã desse senhor se sentirá só na ausência dele.
Yaugandharáyana: Ela está em boas mãos, não irá lamentar-se. [Para o camareiro]:
Por favor, me permita ir embora.
Camareiro: Muito bem, nos reencontraremos.
Yaugandharáyana: Espero que sim. [E sai]
Camareiro: Está na hora de entrar.
Padmávatí: Venerável senhora, minhas saudações.
Senhora do ashram: Minha jovem, que você tenha um marido tão bom quanto você.
Vásavadattá: Venerável senhora, ofereço minhas saudações também.
Senhora do ashram: E você também, que em breve encontre seu marido.
Vásavadattá: Obrigada, senhora.
Camareiro: Venham, por favor, por aqui. Por aqui, minha senhora. Pois, agora os
pássaros retornaram para seus ninhos. Os renunciantes mergulharam no rio. Fogos
foram acesos e estão brilhando, a fumaça está se espalhando pelo ashram. O sol já
baixou, carregando seus raios; ele vira sua carruagem e, devagar, desce do cume das
montanhas do oeste.
[Saem todos]
[Fim do primeiro ato]
Ato 2
Entreato
[Jardim do palácio em Mágadha]
[Entra uma camareira]
Camareira: Kunjariká! Kunjariká! Onde está a Princesa Padmávatí?
O que dizes? [Ela escuta uma voz ao longe:] “A princesa está brincando com uma bola
perto da planta de jasmim.” Está bem, irei até lá. [Se virando e olhando ao redor]
Ah! Lá vem a princesa a brincar com uma bola. Os brincos em suas orelhas estão
virados; o esforço umedeceu suas sobrancelhas com pequenas gotas de suor; a fadiga
empresta um charme à sua face. Vou ao encontro dela. [Ela sai]
[Fim do entreato]

[Entra Padmávatí, a brincar com a bola, acompanhada de seu séquito e de


Vásavadattá]
Vásavadattá: Aqui está sua bola, querida.
Padmávatí: Querida dama! Já é suficiente.
Vásavadattá: Já brincou bastante com sua bola, minha querida. Suas mãos estão
vermelhas. Parecem até que já pertencem a outro através do casamento.
Camareira: Brinque, princesa! Aproveite os dias agradáveis da juventude enquanto é
possível.
Padmávatí: Quais são seus pensamentos, querida senhora? Parece que está rindo de
mim.
Vásavadattá: Não, não, minha querida. Está ainda mais linda hoje. Parece que vejo
hoje a sua face completa, unida ao marido através do casamento.
Padmávatí: Pare com isso! Não se ria de mim.
Vásavadattá: Estou muda! Oh, nora eleita de Mahásena!
Padmávatí: Quem é este Mahásena?
Vásavadattá: Existe um rei da cidade de Ujjain chamado Pradyota que é chamado de
Mahásena devido ao grande tamanho de seu exército.
Camareira: Não é com este rei que a princesa deseja estar relacionada.
Vásavadattá: Quem ela deseja então?
Camareira: Existe um rei, dos Vatsas, chamado Udayana. A princesa está apaixonada
por suas virtudes.
Vásavadattá: [À parte] Ela deseja meu nobre senhor como marido. [Em voz alta] Por
que razão?
Camareira: Ele é tão afetuoso; é por isso.
Vásavadattá: [À parte] Eu sei. Eu sei. Eu também me apaixonei pela mesma razão.
Camareira: Mas, Princesa, e se o rei for feio?
Vásavadattá: Não, não! Ele é muito bonito.
Padmávatí: Como você sabe disso, querida senhora?
Vásavadattá: [À parte] Parcialidade por meu senhor fez com que eu transgredisse os
limites do apropriado. O que devo fazer agora? Sim, compreendo. [Em voz alta] É o
que todos dizem em Ujjain, minha querida.
Padmávatí: É verdade. Ele não é, logicamente, inacessível para as pessoas de Ujjain e
beleza encanta o coração de todos.
[Entra uma aia]
Aia: Que a princesa seja vitoriosa! Princesa, Vossa Alteza foi prometida em casamento.
Vásavadattá: Para quem, boa senhora?
Aia: Para o rei dos Vatsas, rei Udayana.
Vásavadattá: O rei está em boa saúde?
Aia: Ele chegou aqui muito bem e nossa princesa foi prometida em casamento a ele.
Vásavadattá: Infelizmente!
Aia: “Infelizmente”? Por que, qual o problema?
Vásavadattá: Oh, nada! A tristeza dele era tão imensa e agora ele está indiferente.
Aia: Senhora, o coração de grandes homens é governado pelas sagradas escrituras e é
então fácil de ser aquietado.
Vásavadattá: Boa senhora. Diga-me, ele mesmo escolheu a princesa?
Aia: Oh, não. Ele veio aqui por outra razão, mas nosso rei observou a nobreza,
sabedoria, vitalidade e beleza do rei, e lhe ofereceu a mão da princesa por decisão
própria.
Vásavadattá: [À parte] Que assim seja. Dessa maneira, meu senhor está além da
censura.
[Entra outra camareira]
Camareira: Venha rápido, minha senhora. Nossa rainha (esposa do rei, cunhada de
Padmávatí) declara que hoje é um dia auspicioso de acordo com os planetas e que o
casamento tem que acontecer hoje mesmo.
Vásavadattá: [À parte] Quanto mais eles se apressam, maior é a tristeza em meu
coração.
Aia: Venha, Vossa Alteza, venha.
[Saem todos]
Fim do segundo ato.

Ato 3
[Jardim do palácio, no reino de Mágadha]
[Entra Vásavadattá distraída com seus pensamentos]

Vásavadattá: Deixei Padmávatí na corte das mulheres, com o grupo festivo de


mulheres preparando o casamento, e vim sozinha para este jardim agradável. Aqui
posso dar vazão à tristeza que o destino depositou em mim. [Andando ao redor] Ai
de mim! Não sei o que será de mim! Até meu nobre senhor pertence agora a outra
mulher. Deixe-me sentar. [Senta-se] Abençoada é a ave fêmea do amor. Quando
separada de seu companheiro, ela deixa de viver. Mas eu não consigo fugir da vida!
Miserável que sou, vivo na esperança de vê-lo novamente.
[Entra a camareira carregando flores]
Camareira: Para onde foi a nobre senhora de Avanti? [Virando-se e olhando ao redor]
Ah, lá está ela, sentada no banco de pedra debaixo da trepadeira de priyanku. Lá está
ela sentada, usando uma roupa graciosa não-adornada, sua mente em pensamentos
longínquos, parecendo a lua quase nova escondida pela nuvem. Irei até ela. [Se
aproximando] Nobre senhora de Avanti, estava procurando a senhora há tanto
tempo!
Vásavadattá: Para que?
Camareira: Nossa rainha diz: “A dama vem de nobre família, ela é bondosa e
habilidosa. Que ela prepare então esta guirlanda para o casamento.”
Vásavadattá: E para quem será a guirlanda?
Camareira: Para nossa princesa.
Vásavadattá: [À parte] Até isso tenho que fazer?! Os deuses são mesmo cruéis.
Camareira: Senhora, não há tempo agora para pensar em outras coisas. O noivo está
tomando seu banho na casa de banho de pedras preciosas, então, faça logo essa
guirlanda, por favor.
Vásavadattá: [À parte] Não consigo pensar em nada mais. [Em voz alta] Gentil moça,
você já viu o noivo?
Camareira: Sim, já o vi. Devido a minha afeição pela princesa e devido à minha
curiosidade.
Vásavadattá: Como ele é?
Camareira: Oh, senhora, eu lhe digo: nunca vi alguém como ele.
Vásavadattá: Bem, diga-me, diga-me, ele é bem-apessoado?
Camareira: Pode-se dizer que é o próprio deus do amor, sem o arco e as flechas.
Vásavadattá: Obrigada, é suficiente.
Camareira: Por que a senhora me faz calar?
Vásavadattá: É impróprio escutar alguém cantando elogios do marido de outra mulher.
Camareira: Então, termine a guirlanda o mais rápido possível.
Vásavadattá: Farei isso imediatamente. Dê-me as flores.
Camareira: Aqui estão. Por favor, pegue-as.
Vásavadattá: [Pega a cesta e examina as flores] Qual o nome desta planta?
Camareira: É chamada de “senhores e senhoras”, conhecidas como antídoto à viuvez.
Vásavadattá: [À parte] Tenho que usar muito dessas flores por mim e por Padmávatí.
[Em voz alta] Como se chama essa flor?
Camareira: Oh, essa chama-se: o ostracismo da co-esposa.
Vásavadattá: Não precisamos dessa.
Camareira: Por que não?
Vásavadattá: A esposa dele está morta, não há necessidade.
[Entra outra camareira]
Camareira: Por favor, seja rápida. As moças cujos maridos estão vivos estão
conduzindo o noivo para a corte das mulheres.
Vásavadattá: Pronto! Está pronta a guirlanda. Pode levar.
Camareira: Que linda! Senhora, tenho que ir. [As duas camareiras se vão]
Vásavadattá: Ela se foi. Por fim, tudo terminou. Meu nobre senhor agora pertence a
outra. Céus, me ajudem! Vou para cama; poderá tranquilizar minha dor, se eu
conseguir dormir. [Ela sai]
Fim do terceiro ato
Ato 4
Entreato
[Palácio em Mágadha]
[Entra o bobo da corte do rei Udayana]

Bobo da corte: [Alegremente] Ha! Ha! Que bom ver a hora encantadora do auspicioso
e bem-vindo casamento de Sua Alteza o rei dos Vatsas. Quem imaginaria que depois
de ser jogado dentro de um turbilhão de má sorte, nós subiríamos novamente à
superfície. Agora vivemos em palácios, nos banhamos nos tanques do pátio interno,
nós comemos diversos doces deliciosos, em resumo, me sinto no paraíso, se não fosse
pela ausência das ninfas me fazendo companhia. Mas existe um grande obstáculo. Eu
não consigo digerir bem minha comida! Até mesmo nos sofás mais confortáveis, eu
não consigo dormir, pois a doença está ao meu redor. Bah! Não há felicidade na vida,
se a pessoa tem doenças, ou se fica sem um bom café da manhã.
[Entra a camareira]
Camareira: Para onde foi o digno Vasantaka? [Virando-se e olhando ao redor] Mas
vejam só, aqui está ele! [Indo em sua direção] Oh, senhor Vasantaka, como lhe
procurei!
Bobo da corte: [Com um olhar malicioso] E por que você estava procurando por mim,
minha querida?
Camareira: Nossa rainha disse: “o noivo já acabou seu banho?”
Bobo da corte: E por que ela quer saber?
Camareira: Para que eu possa levar para ele uma guirlanda e óleos perfumados,
naturalmente.
Bobo da corte: Sua Alteza banhou-se. Você pode trazer tudo, menos comida.
Camareira: Por que o senhor proíbe comida?
Bobo da corte: Pois, infeliz como sou, meu estômago é assim, como o girar dos olhos
do cucu.
Camareira: Que o senhor seja sempre assim!
Bobo da corte: Saia daqui! Vou ajudar Sua Alteza!
[Todos saem]
Fim do entreato.
[Jardim do palácio]
[Entra Padmávatí com seu séquito e Vásavadattá vestida como a Dama de Avanti]

Camareira: O que trouxe Vossa Alteza para esse jardim de prazeres?


Padmávatí: Minha querida, quero ver se as delicadas flores floresceram ou não.
Camareira: Sim, princesa, elas floresceram em flores pendentes que parecem pérolas
intercaladas com corais.
Padmávatí: Se é assim, minha querida, por que você se demora?
Camareira: Vossa Alteza poderia sentar-se neste banco de pedra por um instante,
enquanto eu colho algumas flores?
Padmávatí: Sentamo-nos aqui, querida senhora?
Vásavadattá: Sim, vamos sentar.
[As duas se sentam]
Camareira: [Depois de colher algumas flores] Oh, veja, Princesa, veja! Minhas mãos
estão cheias de flores com o pedúnculo laranja.
Padmávatí: [Olhando para as flores] Veja, senhora, como são brilhantes as cores
dessas flores!
Vásavadattá: Sim, como são lindas!
Camareira: Princesa, devo colher mais?
Padmávatí: Não, minha querida, não precisa.
Vásavadattá: Por que você a detém, minha querida?
Padmávatí: Se meu nobre senhor chegar aqui e vir essa abundância de flores, eu ficaria
honrada.
Vásavadattá: Por que, minha querida, você está tão apaixonada por seu marido?
Padmávatí: Não sei dizer, senhora, mas quando ele está longe de mim, sinto-me infeliz.
Vásavadattá: [À parte] Como é difícil para mim. Até mesmo ela fala nesse estilo.
Camareira: Que forma delicada a princesa usou para dizer que ama seu marido.
Padmávatí: Tenho somente uma dúvida.
Vásavadattá: O que é?
Padmávatí: Meu marido significava tanto para Vásavadattá quanto ele significa para
mim?
Vásavadattá: Não, muito mais.
Padmávatí: Como você sabe?
Vásavadattá: [À parte] Oh, parcialidade por meu nobre senhor me fez transgredir os
limites do apropriado. Já sei o que direi. [Em voz alta] Se o amor dela fosse menor, ela
não teria abandonado o povo dela. (= ela não teria saído de seu reino)
Padmávatí: Possivelmente não.
Camareira: Princesa, a senhora poderia gentilmente sugerir a vosso marido que a
senhora também gostaria de aprender a tocar a vína.
Padmávatí: Eu já falei com ele sobre isso.
Vásavadattá: E o que ele disse?
Padmávatí: Ele nada disse. Ele inspirou profundamente e permaneceu em silêncio.
Vásavadattá: E o que você acha que isso significa?
Padmávatí: Eu acho que a memória das virtudes da nobre Vásavadattá tomou conta do
rei, mas que, devido à cortesia, ele segurou suas lágrimas em minha presença.
Vásavadattá: [À parte] Como eu seria feliz se isso fosse verdade.
[Entram o rei e o bobo da corte]
Bobo da corte: Ahhh! Como o jardim fica lindo com a chuva de flores bandhu-jiva
quando elas estavam sendo colhidas. Por aqui, meu senhor.
Rei: Muito bem, meu querido Vasantaka, aqui vou eu.
Quando em Ujjain, ao ver constantemente a princesa de Avanti, fui levado àquele
estado que você bem sabe, o deus do Amor me acertou suas cinco flechas. Dessas
ainda sofro a dor em meu coração e agora estou ferido novamente. Se o deus do Amor
só possui cinco flechas, o que é esta sexta flecha com a qual ele me acertou?
Bobo da corte: Para onde foi a dama Padmávatí? Será que ela foi para debaixo da
trepadeira? Ou talvez para o banco de pedra chamado de “coroa da montanha” que é
cheio de flores e parece estar coberto com uma pele de tigre. Ou será que ela entrou
no bosque das árvores de sete folhas com seu forte perfume amargo? Ou será que ela
foi para o pavilhão de madeira com grupos de pássaros e animais pintados nas
paredes? [Olhando para cima] Oh, veja, Vossa Alteza, o senhor está vendo esta
fileira de garças voando no céu azul de outono, tão lindo como os braços longos do
amado Baladeva (nome de Balarama, irmão de Krshna, e de Vishnu)?
Rei: Sim, companheiro, eu vejo.
Em linha reta, depois bem separados; se elevando nos ares, depois mergulhando bem
profundo; tortuosos em suas viradas e rodadas, como a constelação dos 7 rishis
(constelação Ursa Maior). Brilhante como a barriga da cobra que acabou de se despir
de sua pele velha; como uma linha de fronteira, corta o céu em dois.
Camareira: Veja, princesa, veja o grupo de garças voando em linha reta, tão
delicadamente colorido como uma guirlanda de lotus rosas. Oh, o rei!
Padmávatí: Ah, meu nobre senhor. Senhora, pela senhora evitarei encontrar-me com
meu marido. Então, vamos para baixo da trepadeira de mádhaví.
Vásavadattá: Sim.
[Elas assim fazem]
Bobo da corte: A Dama Padmávatí veio e foi embora novamente.
Rei: Como você sabe disso?
Bobo da corte: Veja esses cachos de flores parijata (seouli) de onde as flores foram
colhidas.
Rei: Oh, Vasantaka, que flor maravilhosa!
Vásavadattá: [À parte] Aquele nome “Vasantaka” me faz sentir em Ujjain novamente.
Rei: Vamos nos sentar, Vasantaka, neste banco de pedra, e esperar por Padmávatí.
Bobo da corte: Vamos sim, senhor. [Senta-se e se levanta em seguida] O calor do sol
escaldante de outono é intolerável. Vamos para baixo da trepadeira de flores mádhaví.
Rei: Sim, me mostre o caminho.
Bobo da corte: Sim. [Ambos dão uma volta]
Padmávatí: O digno Vasantaka está decidido a estragar tudo. O que faremos agora?
Camareira: Princesa, devo manter Sua Majestade longe sacodindo essa trepadeira
fervilhando de abelhas negras?
Padmávatí: Sim, faça isso.
[A camareira assim faz]
Bobo da corte: Socorro! Socorro! Mantenha-se distante, Vossa Alteza, mantenha-se
distante.
Rei: O que aconteceu?
Bobo da corte: Estou sendo picado por essas abelhas danadas.
Rei: Não, não, não faça isso. Não se deve assustar as abelhas. Veja, -- sonolentas com
os projetos de mel, as abelhas estão sussurrando suavemente no abraço de suas
rainhas apaixonadas. Se nosso passo as assustar, elas irão se separar de seus amores,
assim como nós.
Então, ficaremos aqui mesmo.
Bobo da corte: Sim.
[Os dois se sentam]
Camareira: Princesa, nós verdadeiramente nos tornamos prisioneiras.
Padmávatí: Que bom que é meu nobre senhor que ali se senta.
Vásavadattá: [À parte] Estou muito feliz em ver meu senhor tão bem.
Camareira: Princesa, os olhos da dama estão cheios de lágrimas.
Vásavadattá: O pólen da moringa caiu nos meus olhos por causa das abelhas agitadas e
os fez aguar.
Padmávatí: Evidentemente.

Bobo da corte: Bem, não há ninguém neste jardim dos prazeres. Há uma coisa que
gostaria de perguntar. Posso fazer uma pergunta ao rei?
Rei: Sim, se quiser.
Bobo da corte: Qual delas o rei ama mais, a dama Vásavadattá que é do passado, ou a
dama Padmávatí do presente?
Rei: Mas por que me colocas em posição tão difícil?

Padmávatí: Oh, que coisa! Que posição difícil para meu nobre senhor!
Vásavadattá: [À parte] E para mim também, infeliz que sou.

Bobo da corte: O rei deve falar francamente. Uma está morta e a outra está bem longe
daqui.
Rei: Não, meu caro, nada direi. Você é um tagarela.

Padmávatí: Só com isso ele já disse o suficiente.

Bobo da corte: Eu juro solenemente. Não contarei a ninguém. Veja, eu nada poderei
dizer pois mordo minha língua (i.e., minha boca está trancada).
Rei: Não, meu amigo, nada direi.

Padmávatí: Como ele é exageradamente indiscreto. Mesmo depois de tudo isso, ele
não consegue ler o coração do rei.

Bobo da corte: O quê! Não me dirá? Se nada disser, não poderá sair deste banco de
pedra. Sua Alteza é agora um prisioneiro.
Rei: O quê? À força?
Bobo da corte: Sim, à força.
Rei: Veremos.
Bobo da corte: Perdoe-me, Vossa Majestade. Eu lhe imploro, em nome de nossa
amizade, a me falar a verdade.
Rei: Não tenho como escapar. Bem, escute – Padmávatí eu muito admiro, por sua
beleza, charme e virtudes, mas ela ainda não ganhou meu coração que ainda está
atado a Vásavadattá.

Vásavadattá: [À parte] Que assim seja sempre. Esta é minha recompensa por todo meu
sofrimento. Estar aqui sem ser reconhecida começa a ser encantador.
Camareira: Oh, princesa, Sua Majestade é muito descortês.
Padmávatí: Minha querida, não diga isso. Meu nobre senhor é verdadeiramente
cortês, pois até agora ele se lembra das virtudes da nobre Vásavadattá.
Vásavadattá: Minha querida, suas palavras são dignas de seu nascimento.
Rei: Bem, eu falei. Agora, diga-me você: qual é sua favorita: a Vásavadattá que é do
passado, ou a Padmávatí do presente?
Padmávatí: Meu nobre senhor está imitando Vasantaka.
Bobo da corte: Qual a utilidade de meu tagarelar? Tenho grande admiração pelas duas
damas.
Rei: Idiota! Você me fez falar e agora está com medo de falar.
Bobo da corte: E aí, o rei vai me forçar a falar?
Rei: Sim, com certeza!
Bobo da corte: Então, jamais escutará de mim.
Rei: Perdoe-me, grandioso brâmane, fale por livre vontade.
Bobo da corte: Agora, escutará de mim. A dama Vásavadattá, eu admirava
grandemente. A dama Padmávatí é jovem, bela, gentil, livre de orgulho, de fala gentil e
muito amável. Mas há outra grande virtude. Vásavadattá sempre me oferecia
deliciosos pratos, a dizer: “Para onde foi o bom Vasantaka”.
Vásavadattá: [À parte] Bravo, Vasantaka. Você lembrou disso.
Rei: Muito bem, Vasantaka. Eu direi tudo isso à rainha Vasavadattá.
Bobo da corte: Mas como! Onde está Vásavadattá? Ela está morta há muito tempo.
Rei: [Tristemente] É verdade. Não há mais Vásavadattá.
Sua brincadeira confundiu minha mente e pela força do hábito essas palavras saíram
de minha boca.

Padmávatí: Esta foi uma conversa muito agradável, mas agora o infeliz estragou tudo.
Vásavadattá: [À parte] Bem, estou consolada. Como é doce escutar essas palavras sem
ser vista.

Bobo da corte: Fique com bom ânimo, Vossa Majestade. O destino não pode ser
negado. É assim, e isto é tudo que se pode dizer.
Rei: Meu querido camarada, você não compreende minha condição. Pois uma paixão
profundamente enraizada é difícil de ser abandonada; pela lembrança constante, a dor
é renovada. Assim é o mundo. As dívidas devem ser pagas com lágrimas para que a
mente tenha tranquilidade.
Bobo da corte: A face de Vossa Majestade está úmida de lágrimas. Pegarei água para
lavá-la.

Padmávatí: Senhora, a face de meu senhor está escondida por um véu de lágrimas.
Vamos embora.
Vásavadattá: Sim, vamos embora. Mas não, a senhora fica. Não é certo que a senhora
saia e deixe seu marido infeliz. Irei sozinha.
Camareira: A dama está certa. A princesa deve ir até seu marido.
Padmávatí: O que diz? Devo ir?
Vásavadattá: Sim, querida, vá. [Ela sai]
[Entra o bobo da corte]
Bobo da corte: [Segurando a água numa folha de lótus] Vejam só! Aqui está a Senhora
Padmávatí.
Padmávatí: O que está a acontecer, meu bom Vasantaka?
Bobo da corte: Isto é aquilo, aquilo é isto.
Padmávatí: Diga logo, senhor!
Bobo da corte: Senhora, o pólen das flores da moringa, que foi carregado pelo vento,
caiu nos olhos de Sua Majestade e sua face está molhada de lágrimas. Leve, por favor,
esta água para lavar sua face.
Padmávatí: [À parte] Ahã! Assim como o chefe, é seu assistente; como ele é cortês.
[Aproximando-se do rei] Saudações, meu senhor. Aqui está um pouco de água para
sua face.
Rei: Ê! Padmávatí!!! [À parte para o bobo da corte] O que aconteceu, Vasantaka?
Bobo da corte: É assim. [Cochicha em seu ouvido]
Rei: Bravo, Vasantaka, bravo! [Bebericando água] Padmávatí, por favor, sente-se.
Padmávatí: Como meu senhor quiser. [Senta-se]
Rei: Padmávatí, o pólen da flor da moringa que foi agitada pela brisa banhou minha
face em lágrimas, bela dama. [À parte] Ela é muito jovem e recém-casada, se ela
souber a verdade pode entristecer. Coragem ela tem, é verdade, mas as mulheres, por
natureza, ficam facilmente preocupadas.
Bobo da corte: Esta tarde, Sua majestade o rei de Mágadha receberá, como é de
costume, seus amigos, dando ao senhor o lugar de honra. A gentileza ao retribuir
gentileza gera afeto. Então, está na hora de Vossa Majestade pôr-se em movimento.
Rei: Sim, certamente. É uma ótima sugestão. [Levanta-se] Homens de nobres
virtudes podem ser facilmente encontrados no mundo, assim como aqueles cujo
tratamento hospitaleiro é indefectível, mas é difícil encontrar pessoas que
devidamente apreciam essas qualidades.

[Saem todos]
Fim do quarto ato

Ato 5
[Em Mágadha]
Entreato
[Entra Padminiká]
Padminiká: Madhukariká, oh, Madhukariká, venha rapidamente aqui.
[Entra Madhukariká]
Madhukariká: Aqui estou eu, minha querida, o que deseja que eu faça?
Padminiká: Você não sabe, minha querida, que a princesa Padmávatí está doente com
uma forte dor de cabeça?
Madhukariká: Oh!!!
Padminiká: Vá rápido, minha querida, e chame a senhora Avantiká. Somente diga a ela
que a princesa tem uma forte dor de cabeça e ela virá imediatamente.
Madhukariká: Mas, minha querida, o que ela poderá fazer de bom?
Padminiká: Ela contará histórias agradáveis à princesa que afastará a dor.
Madhukariká: Certamente. Onde você fez a cama da princesa?
Padminiká: Foi preparada no samudra-grha, o quarto do mar que é muito fresco.
Agora vá. Vou procurar o bom Vasantaka para que ele informe Sua Alteza.
Madhukariká: Muito bem. [Ela sai]
Padminiká: Agora vou procurar o bom Vasantaka.
[Entra o bobo da corte]
Bobo da corte: O coração do ilustre rei dos Vatsas estava deprimido por causa da
separação de sua rainha, mas agora, nesta ocasião auspiciosa e extremamente alegre,
como que alimentado por seu casamento com Padmávatí, ele queima ferozmente com
as chamas do fogo do amor. [Observando Padminiká] Olá! Lá está Padminiká.
Bem, Padminiká, quais são as novidades?
Padminiká: Meu bom Vasantaka, você sabe que a princesa Padmávatí está com uma
forte dor de cabeça?
Bobo da corte: É verdade, senhora? Eu não sabia.
Padminiká: Faça com que Vossa Alteza saiba sobre isso. Enquanto isso, vou pegar o
óleo para sua testa.
Bobo da corte: Onde fizeram a cama de Padmávatí?
Padminiká: Foi preparada no quarto do mar.
Bobo da corte: É melhor você ir logo. Informarei Sua Alteza.
[Saem todos]
Fim do entreato

[Entra o rei]
Rei: Uma vez mais, com o passar do tempo, tomei a responsabilidade do casamento,
mas meus pensamentos voam até a filha de Avanti, a nobre filha de um nobre senhor.
Meus pensamentos correm para ela, cuja forma delicada foi consumida pelo fogo em
Lávánaka, como um lótus é destruído pelo gelo.
[Entra o bobo da corte]
Bobo da corte: Venha rápido, Sua Alteza, rápido!
Rei: Qual o problema?
Bobo da corte: A dama Padmávatí está com uma forte dor de cabeça.
Rei: Quem lhe informou?
Bobo da corte: Fui informado por Padminiká.
Rei: Oh! Agora que conquistei outra esposa que possui graça, beleza e todas as
virtudes, minha tristeza foi atenuada, porém, depois de minha experiência de dor,
ainda adoentado com a dor anterior, antecipo o mesmo sofrimento por Padmávatí.
Onde está Padmávatí?
Bobo da corte: Fizeram a cama dela no quarto do mar.
Rei: Então me mostre o caminho.
Bobo da corte: Venha por aqui, Sua Alteza. [Os dois andam ao redor] Este é o quarto
do mar. Entre, por gentileza.
Rei: Você entra primeiro.
Bobo da corte: Que assim seja, senhor. [Entra] Socorro. Socorro. Para trás, Sua
Majestade, fique para atrás.
Rei: Qual o problema?
Bobo da corte: Aqui está uma cobra se contorcendo no chão. Seu corpo é visível à luz
da lamparina.
Rei: [Entra. Olha ao redor. E sorri] Há! O idiota pensa que viu uma cobra. Devido à
guirlanda balançando que caiu do arco do portal, e que está esticada no chão, você
supõe, ó, tolo, que seja uma cobra. Virada pelo leve vento do anoitecer, ela de fato se
mexe como uma cobra.
Bobo da corte: [Olhando mais de perto] Vossa Alteza está certo. Não é uma cobra.
[Entrando e olhando ao redor] A dama Padmávatí deve ter estado aqui e saído.
Rei: Ela não pode ter vindo, meu camarada.
Bobo da corte: Como o senhor sabe?
Rei: Qual a necessidade de saber? Veja – a cama não foi mexida, está esticada como
quando foi preparada. Não há amassado na coberta, o travesseiro não está enrugado
nem manchado com os óleos para dor de cabeça. Não há decoração para distrair o
olhar de um paciente. E aqueles que são trazidos para a cama devido a alguma doença
não sairão dela tão rapidamente.
Bobo da corte: Então, o senhor pode se sentar na cama por algum tempo e esperá-la.
Rei: Está certo. [Senta-se] Eu me sinto muito sonolento, companheiro. Conte-me
uma história.
Bobo da corte: Eu lhe contarei uma história, mas Vossa Alteza deve dizer: Oh, ou algo
semelhante, para mostrar que está escutando.
Rei: Está certo.
Bobo da corte: Era uma vez uma cidade chamada Ujjain. Lá existem os mais agradáveis
poços de banho.
Rei: O quê? Você disse Ujjain?
Bobo da corte: Se esta história não for de seu agrado, posso contar outra.
Rei: Amigo, não que eu não goste, mas me faz lembrar a filha do rei de Avanti. Na hora
de partir de Ujjain, ela pensou em seu povo e, devido à afeição, uma lágrima apareceu
e, depois de prender-se no canto de seu olho, caiu em meu peito. E ainda, muitas
vezes, durante as aulas, ela fixava seu olhar em mim e, deixando de lado o
instrumento, sua mão continuava a se mexer sozinha no ar.
Bobo da corte: Está bem. Contarei outra. Havia uma cidade chamada Brahmadatta
onde havia um rei chamado Kámpilya.
Rei: O quê??? O que você disse???
[O bobo da corte repete o que acabou de dizer]
Rei: Idiota! Você deveria dizer: rei Brahmadatta e a cidade de Kámpilya.
Bobo da corte: O rei é Brahmadatta e a cidade é Kámpilya?
Rei: Sim! É isso!
Bobo da corte: Bem, então espere um pouco até que eu memorize. [Repete
algumas vezes:] Rei Brahmadatta, cidade Kámpilya. Agora escute. Mas, Vossa
Alteza está a dormir. Está muito frio a esta hora. Eu vou pegar uma coberta. [Sai]
[Entra Vásavadattá em roupas de Avanti e a camareira]
Camareira: Venha por aqui, senhora. A princesa está sofrendo de forte dor de cabeça.
Vásavadattá: Sinto muito. Onde foi feita a sua cama?
Camareira: Foi preparada no quarto do mar.
Vásavadattá: Bem, conduza-me até lá.
[As duas dão voltas]
Camareira: Este é o quarto do mar. Entre, senhora. Eu trarei os óleos para a testa.
[Sai]
Vásavadattá: Oh, como são cruéis os deuses para comigo. Padmávatí, que era a fonte
de conforto para meu senhor na agonia de seu luto, agora está doente. Entrarei.
[Entra e olha ao redor] Oh, como são descuidados estes empregados. Padmávatí
está doente e deixaram ela só, acompanhada somente de uma lâmpada. Ela está
dormindo. Eu me sentarei. Se me sentar longe dela, parecerá que tenho pouco amor
por ela. Então, me sentarei nesta mesma cama. [Senta-se] [Ela encosta levemente no
corpo do rei] Por que será que, agora que me sento perto dela, meu coração parece
tremer de alegria? Alegremente sua respiração é leve e regular. A dor de cabeça deve
ter passado. E, ao deixar um lado da cama livre, ela parece me convidar a abraçá-la. Eu
me deitarei a seu lado. [Deita-se]
Rei: [Falando em seus sonhos] Oh, Vásavadattá!
Vásavadattá: [Levanta-se] Ah, é meu senhor e não, Padmávatí. Será que ele me viu?
Caso tenha me visto, o plano elaborado do nobre Yaugandharáyana irá por água
abaixo.
Rei: Oh, filha do rei de Avanti.
Vásavadattá: Ele está somente sonhando. Não há ninguém por aqui. Ficarei um pouco
mais para alegrar meus olhos e meu coração.
Rei: Querida, minha amada aluna, fale comigo.
Vásavadattá: Estou falando, meu senhor. Estou falando.
Rei: Você está insatisfeita?
Vásavadattá: Oh, não! Oh, não! Somente infeliz.
Rei: Se você não está insatisfeita, por que não usa joias?
Vásavadattá: O que poderia ser melhor do que isso?
Rei: Você está pensando em Viraciká?
Vásavadattá: [Zangada] Ora, até aqui Viraciká?!
Rei: Então, eu rogo perdão a Viraciká. [Ele estica as mãos]
Vásavadattá: Eu já fiquei aqui tempo demais. Alguém pode me ver. Vou embora. Mas
primeiro colocarei na cama a mão dele que está caída para fora da cama.
[Ela assim faz e sai]
Rei: [Levantando-se rapidamente] Fique! Vásavadattá, fique! Saindo assim
confuso, dei de encontro à porta e agora não consigo dizer se tudo foi ou não o desejo
de meu coração.
[Entra o bobo da corte]
Bobo da corte: Ah, Sua Alteza está acordado.
Rei: Notícia maravilhosa! Vásavadattá está viva!
Bobo da corte: Oh, nos ajude! Que notícia é essa sobre Vásavadattá?! Mas ela morreu
há muito tempo.
Rei: Não diga isso, meu amigo. Enquanto eu estava deitado nesta cama, ela me
acordou e desapareceu. Rumanván me enganou quando disse que ela morreu no fogo.
Bobo da corte: Oh, céus! Mas é impossível, pois não? Eu falava sobre os tanques de
banho e o rei pensava em Sua Alteza Vásavadattá e deve tê-la visto em seus sonhos.
Rei: Então, era somente um sonho..... Se aquilo foi um sonho, glorioso seria não
acordar novamente; se é uma ilusão, que a ilusão seja demorada.
Bobo da corte: Há uma moça graciosa, chamada Avantí-sundarí, morando nesta
cidade. Isto é o que você deve ter visto, estimado companheiro.
Rei: Não, não. No final de meu sonho, eu acordei e vi a face dela. Nos olhos não
havia kajal e as madeixas longas e não trançadas eram de uma dama recatada.
Além disso, veja, camarada, veja – este meu braço estava estreitamente abraçado na
rainha que estava agitada. Até agora, ele não parou de tremer de alegria, apesar do
toque ter sido somente num sonho.
Bobo da corte: Ora, nada de fantasias inúteis. Venha; vamos para a área das mulheres.
[Entra o camareiro]
Camareiro: Saudações ao nobre senhor. O rei Darshaka [rei de Mágadha, irmão
de Padmávatí], nosso senhor soberano, manda essas notícias: Rumanván, o ministro
de Vossa Majestade, chegou à redondeza com um grande exército para atacar Áruni
[rei de Pancála que cercou Kaushambí]. Então, o meu próprio exército vitorioso,
juntamente com elefantes, cavalaria, carros de guerra e infantarias, está equipado e
preparado. Então, esteja pronto.
E ainda: Seus inimigos estão divididos. Seus súditos, devotados a você por causa de
suas virtudes, ganharam confiança. Preparativos foram feitos para protegê-lo por
detrás, quando você avançar. Tudo o que é necessário para esmagar o inimigo, eu já
providenciei. Os exércitos atravessaram o rio Ganges, o reino Vatsa está em suas mãos.
Rei: [Erguendo-se] Muito bem. Agora verei Áruni – adepto a atos terríveis e que, no
campo de batalha, explode como um poderoso oceano com imensos elefantes e
cavalos e raios estrondosos de flechas – eu o destruirei.

Fim do quinto ato

Ato 6
Entreato
[O palácio de Kaushambí]

[Entra um camareiro]
Camareiro: Quem está lá? Quem está em serviço no portão do arco dourado?
[Entra a guardiã do portão]
Guardiã do portão: Senhor, sou eu, Vijayá. O que deseja que eu faça?
Camareiro: Gentil mulher, leve uma mensagem ao rei Udayana cuja glória foi
aumentada pela captura do reino Vatsa. Diga a ele que um camareiro do clã Raibhya
chegou aqui da corte de Mahásena. Veio acompanhado da aia de Vásavadattá,
chamada de Vasundhará, que foi mandada pela rainha Angáravatí. Eles estão
esperando no portão.
Guardiã do portão: Senhor, este não é o momento, nem o lugar, para uma mensagem
de um porteiro.
Camareira: Não é a hora nem o lugar, como é isso?
Guardiã do portão: Escute, senhor. Hoje, alguém no palácio de frente para o Sol estava
tocando a vína. Quando meu senhor a escutou, ele disse: Parece que estou a ouvir as
notas da Ghoshavatí (“aquela que é sonora”; o nome da vína do rei).
Camareira: E o que aconteceu então?
Guardiã do portão: Então, alguém foi até lá e perguntou à pessoa onde ela tinha
encontrado aquela vína. O rapaz respondeu que ele a encontrou num matagal de
junco na margem do rio Narmadá. E que, se quisessem, poderiam levar a vína para o
rei.
Assim eles fizeram, e o nosso rei a abraçou e desmaiou. Quando o rei voltou a si, com
lágrimas correndo por sua face, ele disse: Você foi encontrada, Ghoshavatí; mas não
podemos vê-la.
É por isso, senhor, que a ocasião é imprópria. Como posso levar sua mensagem?
Camareiro: Minha boa senhora, você deveria informá-lo sobre isso, pois isto está
relacionado a aquilo.
Guardiã do portão: Eu farei com que ele fique informado, senhor. Mas vejam! Aqui
está o meu senhor saindo do palácio virado para o Sol. Eu o informarei aqui mesmo.
Camareira: Sim, faça isso, boa senhora.

[Saem todos]
Fim do entreato

[Entram o rei e o bobo da corte]


Rei: Oh, minha vína, cujas notas são tão doces para os ouvidos, depois de repousar no
colo da rainha e descansar em seus peitos, como pode permanecer naquele matagal
horrível onde aquela passarada sujou suas cordas?
Como és desalmada, oh Goshavatí, sem memória de sua infeliz dona: Como ela a
abraçou enquanto a sustentava em seu colo; como, quando cansada, ela a manteve
entre seus peitos; como ela chorou a minha perda quando estávamos afastados; como
ela sorria e conversava nos intervalos de quando a tocava.
Bobo da corte: Basta, não se atormente além da medida.
Rei: Não diga isso, meu querido amigo. Minha paixão, adormecida por longo
tempo, foi acordada pela vína; mas a rainha, que amava esta vína, eu não posso ver.
Vasantaka, faça com que Goshavatí seja reaparelhada com novas cordas por algum
artista habilidoso e me traga imediatamente.
Bobo da corte: Conforme o comando de Vossa Majestade.
[Sai levando a vína]
[Entra a Guardiã do portão]
Guardiã do portão: Saudações, meu senhor. Chegou aqui, da corte de Mahásena, um
camareiro do clã Raibhya e a aia de Vásavadattá, a dama Vasundhará, mandada pela
rainha Angáravatí. Eles estão esperando na entrada.
Rei: Então vá e chame Padmávatí.
Guardiã do portão: Conforme o comando de meu senhor.
Rei: Será que Mahásena recebeu as notícias tão cedo?
[Entram Padmávatí e a Guardiã do portão]
Guardiã do portão: Por aqui, Princesa.
Padmávatí: Saudações, meu nobre senhor.
Rei: Padmávatí, já lhe disseram? Um camareiro chamado Raibhya veio a mando de
Mahásena com a Dama Vasundhará, aia de Vásavadattá, sob o comando da rainha
Angáravatí. Ambos esperam ao lado de fora.
Padmávatí: Meu nobre senhor, eu ficarei feliz de ter boas notícias da família de meus
parentes.
Rei: É muito nobre você falar dos parentes de Vásavadattá como seus parentes. Sente-
se, Padmávatí. Por que você não se senta?
Padmávatí: Meu nobre senhor gostaria que eu me sentasse ao seu lado para receber
essas pessoas?
Rei: E qual o problema?
Padmávatí: Que Vossa Alteza tenha se casado novamente pode parecer indiferença.
Rei: Esconder minha esposa da visão das pessoas que deveriam vê-la criaria um grande
escândalo. Portanto, sente-se, por favor.
Padmávatí: Como meu nobre senhor comandar. [Senta-se] Meu senhor, estou um
pouco incomodada quanto a que os queridos pais dirão.
Rei: É verdade, Padmávatí.
Meu coração está cheio de apreensão sobre o que eles dirão. Eu raptei a filha deles e,
ainda, não a mantive segura. Através de sorte inconstante, eu grandemente maculei
meu bom nome e estou com medo, como um filho que manifestou a fúria do pai.
Padmávatí: Nada pode ser preservado quando seu tempo chega.
Guardiã do portão: O camareiro e a aia esperam no portão.
Rei: Traga-os aqui imediatamente.
Guardiã do portão: Conforme o comando de meu senhor. [Sai]
[Entram o Camareiro, a Aia e a Guardiã do portão]
Camareiro: Visitar este reino, unido ao nosso por laços de casamento, é uma grande
alegria, mas quando me lembro da morte de nossa princesa sou tomado por grande
tristeza. Oh, Destino! Não seria o suficiente para vós que o reino fosse tomado por
inimigos, desde que o bem da rainha fosse preservado?
Guardiã do portão: Aqui está meu senhor. Aproxime-se, senhor.
Camareiro: [Aproximando-se do rei] Saudações a Vossa Majestade.
Aia: Saudações, Vossa Majestade.
Rei: [Respeitosamente] Senhor, aquele rei que regula a ascensão e a queda das
dinastias reais na Terra, aquele rei com quem desejei aliança, diga-me, ele está bem?
Camareiro: Oh, sim. Mahásena está muito bem e será informado do bem estar de
todos aqui.
Rei: [Levantando-se de seu assento] Quais são os comandos de Mahásena?
Camareiro: Isto é digno de um nobre. Por favor, sente-se e escute a mensagem de
Mahásena.
Rei: Conforme o comando de Mahásena. [Senta-se]
Camareiro: “Parabéns pela recuperação de seu reino tomado à força por inimigos,
pois, não há força naqueles que são fracos e covardes; a glória de um império é
desfrutada, como regra, somente por aqueles que têm força.”
Rei: Senhor, tudo é devido à grandeza de Mahásena. Pois, há tempos, quando ele me
subjulgou, ele me tratou com carinho como seu próprio filho. Sua filha eu raptei, mas
não a mantive em segurança. Agora, tomando conhecimento de sua morte, ele me
demonstra o mesmo afeto, pois o rei é o instrumento de minha recuperação da Terra
dos Vatsas, meus súditos de direito.
Camareiro: Aquela é a mensagem de Mahásena.
A mensagem da rainha será dada por esta senhora.
Rei: Diga-me, aia. A sagrada deusa da cidade, a primeira entre as dezesseis rainhas,
minha mãe, tão atormentada pelo sofrimento de minha partida, está em boa saúde?
Aia: A rainha está bem e pergunta sobre o bem-estar do nobre senhor e de todos os
vossos.
Rei: O bem-estar de todos os meus? Oh, aia, que tipo de saúde é essa?
Aia: Oh, meu senhor, não se atormente além da medida.
Camareiro: Componha-se, meu nobre senhor.
Apesar da filha de Mahásena ter morrido, ela não deixou de existir, pois ela é
lamentada por seu nobre senhor. Mas, verdadeiramente, quem se pode proteger na
hora da morte? Quando a corda parte, quem pode segurar a jarra? É a mesma lei para
homens e árvores: agora crescem, depois são derrubadas.
Rei: Não, senhor, não é assim.
A filha de Mahásena era minha aluna e minha querida rainha. Como poderia eu
esquecê-la, mesmo em nascimentos futuros?
Aia: Assim diz a rainha: “Vásavadattá morreu. Para mim e para Mahásena, você é tão
querido como Gopála e Pálaka, pois desde o início tínhamos a intenção de tê-lo como
genro. Foi por isso que você foi trazido para Ujjain. Sob o pretexto de aprender a tocar
a vína, nós a demos a você, sem o fogo ritualístico de testemunha. Em sua
impetuosidade, você a levou embora sem a celebração auspiciosa dos ritos nupciais.
Então, fizemos pinturas em painéis de você e Vásavadattá e assim celebramos o
casamento. Nós mandamos para você as pinturas e esperamos que a visão delas traga
satisfação a você.
Rei: Ah! Como é amorosa e como é nobre a mensagem de Sua majestade!
Essas palavras são guardadas por mim como mais preciosas do que a conquista de
centenas de reinos. Pois não sou esquecido no seu amor, apesar de todas as minhas
transgressões.
Padmávatí: Meu senhor, eu gostaria de ver o retrato de minha irmã mais velha e a
reverenciar.
Aia: Veja, princesa, veja! [Mostra a ela o retrato]
Padmávatí: [À parte] Ora! Parece muito com a Dama Avantiká. [Em voz alta] Meu
senhor, esse retrato tem grande semelhança com a senhora?
Rei: Semelhança? Não, parece ser ela mesma!
Oh! Como pode uma calamidade tão cruel recair sobre essa extraordinária formosura?
Como pode o fogo devastar a doçura dessa face?
Padmávatí: Olhando para o retrato de meu senhor, eu poderia dizer o quanto o retrato
da senhora mostra semelhança ou não.
Aia: Veja, aqui, princesa.
Padmávatí: [Olhando] O retrato de meu senhor é tão bom; tenho certeza que o da
dama é igualmente semelhante.
Rei: Minha rainha, desde que você olhou para o quadro, percebo que você está
encantada, mas também perplexa. O que isto significa?
Padmávatí: Meu nobre senhor, há uma dama que aqui vive que é exatamente igual a
este retrato.
Rei: Qual? De Vásavadattá?
Padmávatí: Sim.
Rei: Então, mande-a aqui imediatamente.
Padmávatí: Meu nobre senhor, um determinado bráhmana a deixou comigo, antes de
meu casamento, para que fosse protegida por mim. Ele me disse que ela era sua irmã.
Disse também que seu marido estava longe e que ela não queria a companhia de
outros homens. Então, quando ela for vista em minha companhia, o senhor saberá
quem ela é.
Rei: Se ela é a irmã de bráhmana, evidentemente ela é outra pessoa. A igualdade de
aparência ocorre na vida, assim como dublê.
[Entra a guardiã do portão]
Guardiã do portão: Saudações ao meu nobre senhor.
Aqui está um bráhmana de Ujjain que afirma ter deixado sua irmã aos cuidados da
princesa. Ele deseja pegá-la de volta e espera no portão.
Rei: Padmávatí, é este o bráhmana de quem você falou?
Padmávatí: Deve ser.
Rei: Que o bráhmana seja anunciado imediatamente com as formalidades próprias da
corte interna.
Guardiã do portão: Conforme o comando do meu senhor. [Sai]
Rei: Padmávatí, traga, por favor, a dama.
Padmávatí: Em conformidade com o comando do meu nobre senhor. [Sai]
[Entram Yaugandharáyana e a Guardiã do portão, mas ficam atrás de cortinas]
Yaugandharáyana: Ah! [À parte] Apesar de ter sido pelo interesse do rei que eu
escondi a Rainha Consorte, apesar de saber que o que fiz foi inteiramente para o bem
dele, ainda assim, mesmo quando meu serviço foi feito, meu coração me faz
apreensivo com relação ao que meu senhor real dirá.
Guardiã do portão: Aqui está o meu senhor. Aproxime-se, por favor.
Yaugandharáyana: Saudações a Vossa Majestade! Saudações!
Rei: Parece-me já ter escutado essa voz antes.
Senhor bráhmana, terá o senhor deixado sua irmã nas mãos de Padmávatí para ser
protegida?
Yaugandhatáyana: Certamente, assim fiz.
Rei: Então, que sua irmã venha cá imediatamente, sem qualquer demora.
Guardiã do portão: Conforme o mando de meu senhor. [Sai]
[Entram Padmávatí, Avantiká (Vásavadattá) e a Guardiã do portão] [Ficam atrás das
cortinas]
Padmávatí: Venha, senhora. Tenho agradáveis notícias.
Avantiká (Vásavadattá): Quais são elas?
Padmávatí: Seu irmão chegou.
Avantiká (Vásavadattá): Que felicidade que ele tenha se lembrado de mim.
Padmávatí: [Aproximando-se] Saudações, meu nobre senhor. Aqui está minha
protegida.
Rei: Faça uma restituição formal, Padmávatí. Um depósito deve ser devolvido na
presença de testemunhas. O valoroso Raibhya aqui presente e essa boa senhora
poderão agir como registros.
Padmávatí: Agora, senhor, reassuma o cuidado com esta dama.
Aia: [Olhando atentamente para Avantiká] Mas essa é a princesa Vásavadattá!
Rei: O quê? A filha de Mahásena? Oh, minha rainha, vá até a corte com Padmávatí.
Yaugandharáyana: Não, não. Ela não deve ir até lá. Esta dama, eu lhe digo que é minha
irmã.
Rei: O que você está a dizer? Esta é a filha de Mahásena.
Yaugandharáyana: Oh, rei, nascido na família do Bháratas, o senhor é controlado,
sábio e puro. Levá-la à força seria indigno de vossa parte, o senhor que é o modelo do
dever de um rei.
Rei: Muito bem, porém, vamos analisar essa semelhança de aparência. Que a cortina
que nos separa seja afastada.
[AS CORTINAS SÃO ABERTAS]
Yaugandharáyana: Saudações ao meu nobre senhor.
Vásavadattá: Saudações ao meu nobre senhor.
Rei: Céus! Este é Yaugandharáyana! E esta é a filha de Mahásena.
Dessa vez é a verdade, ou será um sonho novamente? Eu a vi assim antes, mas fui
enganado.
Yaugandharáyana: Senhor, por ter escondido a rainha, sou culpado de grande ofensa.
Por favor, me perdoe, meu senhor real.
[Cai aos pés do rei]
Rei: [Levantando-o] Você é certamente Yaugandharáyana.
Por loucura fingida, por batalhas e planos tramados dentro dos códigos da diplomacia,
você, com seus esforços, me ergueu quando eu estava afundando.
Yaugandharáyana: Eu somente sigo a boa sorte de meu senhor.
Padmávatí: E, então, esta é Sua Majestade a Rainha.
Senhora, ao tratá-la como uma acompanhante, eu, sem querer, transgredi os limites
do apropriado. Eu curvo minha cabeça e peço vosso perdão.
Vásavadattá: Eleve-se, eleve-se, dama feliz de senhor vivo, eleve-se, eu peço. Se algo
me ofende é sua maneira suplicante.
Padmávatí: Obrigada!
Rei: Diga-me, meu querido Yaugandharáyana, qual foi seu objetivo ao esconder a
rainha?
Yaugandharáyana: Minha única ideia foi salvar Kaushámbí (a capital do reino dos
Vatsas).
Rei: Qual foi sua razão para colocá-la nas mãos de Padmávatí como protegida?
Yaugandharáyana: Os astrólogos, Pushpaka e Bhadraka, haviam profetizado que ela
estava destina a ser vossa rainha.
Rei: Rumanván estava a par de tudo isso?
Yaugandharáyana: Senhor, todos sabiam.
Rei: Oh! Que patife é esse Rumanván!
Yaugandharáyana: Senhor, que este valoroso Raibhya e esta boa dama retornem, hoje
mesmo, para anunciar a notícia da seguridade da rainha.
Rei: Não, não! Nós todos iremos juntos, levando a Rainha Padmávatí
Yaugandharáyana: Conforme o comando de Vossa Majestade.

Epílogo e verso final de bênção: [Este verso é cantado por um ator]


Imaam saagara-paryantaam himavad-vindhya-kuNDalam.
Mahimekatapatraamkaam raajasimhah prashaastu nah.

Que nosso rei, como um leão, proteja toda essa terra única que se estende até o
oceano, em cuja face estão as montanhas Himalayas e as montanhas Vindhyas, como
se fossem dois brincos gigantes.

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