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Aprendendo a desaprender

Passamos a vida inteira ouvindo os sábios conselhos dos outros. Tens que
aprender a ser mais flexível, tens que aprender a ser menos dramática,
tens que aprender a ser mais discreta, tens que aprender...
praticamente tudo.

Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso aprender a fazê-


las melhor, mais rápido, mais vezes. Vida é constante aprendizado. A
gente lê, a gente conversa, a gente faz terapia, a gente se puxa pra
tirar nota dez no quesito "sabe-tudo". Pois é. E o que a gente faz com
aquilo que a gente pensava que sabia?

As crianças têm facilidade para aprender porque estão com a cabeça


virgem de informações, há muito espaço para ser preenchido, muitos
dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá-los: tudo é bem-
vindo na infância. Mas nós já temos arquivos demais no nosso winchester
cerebral. Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos
antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de
aprender, é preciso dominar a arte de desaprender. Desaprender a ser
tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que
encontramos no caminho. Desaprender a ser tão exigente consigo
mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser
tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa
saber lidar com o inusitado. Desaprender a esperar que os outros leiam
nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia, é melhor acreditar
no poder da nossa voz. Desaprender a autocomiseração: enquanto
perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os dias passam cheios de
oportunidades.

A solução é voltar ao marco zero. Desaprender para aprender. Deletar


para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para
isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer
várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar.

Martha Medeiros

Escola Estadual Dona Guiomar Barreto Meira

Prof.ª Janaina Cordeiro

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