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Wagner Carvalho Santiago (1); Henrique Machado Kroetz (2); André Teófilo Beck (3)
(1) Professor Assistente, Colegiado de Engenharia Civil, Universidade Federal do Vale do São
Francisco / Doutorando, Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo – wagner.santiago@univasf.edu.br / wagnersantiago@usp.br
(2) Doutorando, Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo – henrique.kroetz@usp.br
(3) Professor Doutor, Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo – atbeck@sc.usp.br
Resumo
Este artigo apresenta uma calibração baseada em confiabilidade dos coeficientes parciais de segurança das
normas brasileiras utilizadas no dimensionamento de estruturas de concreto, a NBR 6118:2014 (projeto de
estruturas de concreto - procedimentos) e a NBR 8681:2003 (ação e segurança nas estruturas). O trabalho
está fundamentado na teoria de confiabilidade, que permite uma representação explícita das incertezas
envolvidas em termos das resistências e ações. No tocante às resistências, são consideradas vigas
projetadas para resistir esforços de flexão com concretos de cinco classes (C20, C30, C40, C50 e C60), três
razões entre base e altura útil (0,25, 0,50 e 0,75) e três taxas geométricas de armaduras (ρ min, 0,5% e ρmax).
No que tange às ações, são considera sete razões entre os carregamentos acidental e permanente (q n/gn),
e sete razões entre os carregamentos do vento e permanente (w n/gn). No trabalho ainda é fixado um único
valor para o índice de confiabilidade alvo (β alvo = 3,0). Os resultados mostram que o conjunto otimizado dos
coeficientes parciais de segurança conduzem a uma confiabilidade mais uniforme para diferentes situações
de projeto e combinações de carregamentos.
Palavra-Chave: calibração de normas, estruturas de concreto, confiabilidade, segurança.
Abstract
This paper presents a reliability-based calibration of partial safety factors for Brazilian design codes used to
concrete structures, NBR 6118: 2014 (concrete structures design - procedures) and NBR 8681: 2003 (action
and safety in structures). The work is based on reliability theory, which allows an explicit representation of
the uncertainties involved in terms of resistances and actions. In terms of resistance, this study considers
beams with concrete of five classes (C20, C30, C40, C50 and C60), three ratios between base and effective
depth (0.25, 0.50 and 0.75) and three reinforcement ratios (ρmin, 0.5% and ρmax). Regarding the actions, this
work considers seven ratios between accidental and permanent loads (qn/gn), and seven ratios between wind
and permanent loads (wn/gn). Finally, the study adopts a single value for the target reliability index
(βtarget = 3.0). Results show that the optimized set of partial factors leads to more uniform reliability for
different design situations and load combinations.
Keywords: codes calibration, concrete structures, reliability, safety.
2 Objetivos
Este trabalho objetivou a realização de um estudo preliminar acerca dos coeficientes
parciais de segurança utilizados nas principais normas brasileiras empregadas na
elaboração de projetos estruturais em concreto, a NBR 8681 (2003) Ação e segurança
nas estruturas e a NBR 6118 (2014) Projeto de estruturas de concreto.
O estudo foi fundamentado na teoria de confiabilidade estrutural, que permite
uma representação explícita das incertezas através das variáveis aleatórias de
resistências e solicitações, resultando em uma estimativa quantitativa da segurança: o
índice de confiabilidade (β).
O trabalho envolveu uma metodologia de calibração orientada para a obtenção de um
conjunto de coeficientes parciais de segurança que minimiza as variações dos índices de
confiabilidade das mais diversas vigas fletidas de concreto armado projetadas segundo as
normas de interesse, em relação ao índice de confiabilidade alvo adotado (βalvo).
Este estudo se mostra importante justamente por apontar um primeiro conjunto de
coeficientes parciais de segurança que melhor reflete a realidade das estruturas de
concreto brasileiras, de modo a revelar a importância da realização de uma calibração
mais extensa que contemple outros tipos de elementos estruturais.
5 Estatísticas brasileiras
5.1 Estatísticas de resistência
Foram coletados dados para a reconstrução estatística das seguintes variáveis aleatórias
relacionadas com a resistência das estruturas de concreto construídas no
Brasil: resistência à compressão do concreto (fc), resistência ao escoamento de barras de
aço (fy), base da seção transversal da viga (b), altura útil da peça (d) e erro de modelo de
resistência ( ). Um resumo dos resultados referentes a tais variáveis está apresentado
na Tabela 1, sendo que as médias estão escritas em função dos respectivos valores
característicos ou nominais.
A variável g foi construída com base em resultados enviados por diferentes engenheiros
calculistas que determinaram o peso próprio de uma mesma edificação com base no
retorno dado pelo mercado para o qual eles desenvolvem projetos estruturais. A
edificação em questão corresponde a um prédio residencial de múltiplos pavimentos e
representa uma generalização dos edifícios mais comumente construídos no país, tanto
no que tange ao partido arquitetônico quanto aos acabamentos e materiais de
revestimentos.
6 Calibração
6.1 Procedimentos
A calibração dos coeficientes parciais de segurança utilizados nas normas
NBR 8681 (2003) e NBR 6118 (2014) foi feita resolvendo o problema de otimização
expresso na Equação 1.
, , , , ,
(Equação 1)
Sendo o e p os números de razões de carregamento considerados, k a equação de
estado limite (combinação) crítica, o índice de confiabilidade para as razões de
carregamentos , o peso para cada razão de carregamento utilizado na combinação
de acordo com a importância relativa daquela situação de projeto (Tabela 3).
Tabela 3 – Pesos para diferentes razões wn/gn (adaptado de ELLINGWOOD et al, 1980).
qn/gn
0 0,10
0,5 0,45
1,0 0,30
1,5 0,10
2,0 0,05
3,0 0
5,0 0
(Equação 2)
(Equação 3)
6.2 Problema
Foram consideradas vigas de concreto armado projetadas para resistir esforços de flexão
com concretos de cinco classes de resistência (C20, C30, C40, C50 e C60), três razões
entre base e altura útil (0,25, 0,50 e 0,75) e três taxas geométricas de
armaduras (ρmin, 0,5% e ρmax) usadas para determinar diferentes áreas de aço (As).
Cabe esclarecer que a NBR 6118:2014 estabelece que ρmin é função da resistência
característica à compressão do concreto (f ck) e ρmax é função do limite da altura da linha
neutra na seção da viga (x/d ≤ 0,45 para concretos com fck ≤ 50 MPa e x/d ≤ 0,35 para
concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa).
As Equações 4 e 5 apresentam as parcelas da função de resistência e de solicitações das
equações de estado limite (Equação 2) referentes ao problema empregado na calibração
dos coeficientes de ponderação indicados nas normas brasileiras NBR 8681 (2003) e
NBR 6118 (2014) para projetos de estruturas de concreto.
(Equação 4)
(Equação 5)
A Figura 2 mostra que, tanto para o conjunto sem e com calibração, há uma maior
diferença entre os resultados no limite superior. Se por um lado as vigas com maior taxa
longitudinal de armadura apresentam maior confiabilidade, por outro elas apresentam
maior dispersão entre os resultados de diferentes classes de resistência do concreto.
Esse comportamento decorre do aumento da altura da linha neutra que é acompanhado
pelo aumento da altura do bloco de tensões de compressão do concreto, o que eleva a
importância relativa da variável fc no problema e potencializa as diferenças existentes nos
seus parâmetros em cada uma das classes de resistência do material.
8 Conclusões
Este trabalho apresentou uma calibração com base em confiabilidade estrutural dos
coeficientes parciais de segurança utilizados nas principais normas brasileiras
empregadas no desenvolvimento de projetos de estruturas de concreto.
O estudo considerou vigas fletidas de concreto armado projetadas com concretos de
cinco classes de resistência (C20, C30, C40, C50 e C60), três razões entre base e altura
útil (0,25, 0,50 e 0,75) e três taxas geométricas de armaduras (ρmin, 0,5% e ρmax).
No trabalho ainda foi fixado um único valor para o índice de confiabilidade alvo
(βalvo = 3,0), embora tenham sido apresentados de maneira abreviada os coeficientes
calibrados para outros valores de índices de confiabilidade.
O trabalho mostrou que os coeficientes calibrados tendem a majorar as ações
consideradas principais, e em contrapartida tendem a minorar as ações consideradas
secundárias nas diferentes combinações de projeto.
O estudo revelou que os coeficientes calibrados conduzem a uma confiabilidade mais
uniforme para as diferentes combinações de carregamentos e situações de projeto, vide a
redução na dispersão dos resultados e a elevação do índice de confiabilidade
médio do problema.
O trabalho também evidenciou que, a depender da condição do projeto, os novos
coeficientes podem implicar no aumento ou na redução do carregamento e da área
necessária da armadura longitudinal das vigas.
De forma geral, os coeficientes calibrados se mostraram interessantes tanto do ponto de
vista técnico quanto do econômico, reforçando a importância da calibração completa que
está sendo feita pelos autores deste trabalho.
10 Referências
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Structural Concrete. Farmington Hills, 2014.
BECK, A. T.; SOUZA JR, A. C.. A First attempt towards reliability-based calibration of
Brasilian structural design codes. J. of the Braz. Soc. of Mech. Sci. & Eng. v. 32,
p. 119-127, 2010.
JCSS - Joint Committee on Structural Safety, 2001: Probabilistic Model Code, disponível
online http://www.jcss.byg.dtu.dk/Publications/Probabilistic_ Model_Code.aspx, acessado
em 13/04/2017.
MELCHERS, R.E., 1999. Structural Reliability Analysis and Prediction, second edition,
John Wiley and Sons. New York, 1999.
NOWAK, A. S.; SZERSZEN, M. M.. Calibration of design codes for buildings (ACI
318): Part 1 – Statistical model for resistance. ACI Structural Journal, v.100, n.3,
p.377-382. New York, 2003.
NOWAK, A. S.; SZERSZEN, M. M.. Calibration of design codes for buildings (ACI
318): Part 2 – Reliability analysis and resistance factors. ACI Structural Journal,
v.100, n.3, p.383-391. New York, 2003.
NOWAK, A. S., RAKOCZY, A. M., SZELIGA, E., Revised Statistical Resistance Models
for R/C Structural Components, ACI SP honoring Andy Scanlon, 2011