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NOVAS INFECÇÕES 663 ÓBITOS 3 VACINAÇÃO 5.8% MUNDO 605501 (NOVAS INFECÇÕES)
EXCLUSIVO
CORONAVÍRUS
Enquanto vários países decidiam suspender a administração da vacina da AstraZeneca abaixo de determinadas idades, e quando
faltam dois dias para a maior operação de vacinação em massa com este fármaco em Portugal (200 mil docentes e não docentes),
as autoridades de saúde nacionais não esclareceram o que tencionam fazer, depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA,
na sigla em inglês) ter concluído que os casos de trombose com redução acentuada do número de plaquetas verificados em
pessoas que tomaram este fármaco podem ser considerados efeitos secundários raros desta vacina
(https://www.publico.pt/2021/04/07/ciencia/noticia/agencia-europeia-medicamento-confirma-tromboses-sao-efeitos-secundarios-
vacina-astrazeneca-1957575). Ainda assim, a EMA sublinhou que os benefícios do seu uso ultrapassam os riscos.
O Ministério da Saúde limitou-se a remeter para o comunicado emitido no final de uma reunião informal dos ministros da Saúde
dos 27 países da União Europeia, que foi convocada pela presidência portuguesa do Conselho para discutir o relatório da EMA e
tentar chegar a uma posição concertada sobre o que fazer com a vacina da AstraZeneca. Mas não houve acordo e os países
continuaram a anunciar decisões desgarradamente.
A Bélgica vai deixar de vacinar pessoas com menos de 56 anos com a AstraZeneca — a decisão será revista pelos ministros da
Saúde regionais e nacional daqui a quatro semanas, noticiou o Politico. Em Espanha, o Ministério da Saúde e as Autonomias
concordaram em suspender temporariamente a imunização com esta vacina de quem tiver menos de 60 anos. E a vacinação dos
maiores de 65 com este fármaco será discutida na Comissão de Saúde Pública. Em Itália, a AstraZeneca está igualmente
restringida aos maiores de 60 anos e em França aos maiores de 55 anos.
As pessoas que morreram no Reino Unido tinham idades entre os 18 e os 79 anos, e só três delas tinham menos de 30 anos,
anunciou ontem a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde. “O equilíbrio dos riscos e benefícios ainda é
favorável para a maioria das pessoas”, sublinhou June Raine, directora executiva desta agência. “Mas para os grupos etários mais
jovens o equilíbrio é mais delicado.”
“É mais um episódio da AstraZeneca, espero que agora [a polémica] acabe”, reagiu Hélder Mota-Filipe, ex-presidente do Infarmed
e professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Desdramatizando a situação, enfatiza que este é “o ciclo de vida
normal” dos medicamentos. “Quando são expostos a milhões de pessoas, surgem efeitos adversos que não tinham sido
identificados nos ensaios clínicos. Mas estes efeitos agora identificados são muito raros. Proponho um exercício: em milhões de
infectados [com o novo coronavírus] quantos vão morrer de covid-19?”
Em Portugal, os profissionais do pré-escolar e 1º ciclo começaram a ser vacinados a 27 de Março NELSON GARRIDO
Mota-Filipe dá um exemplo: “O risco de efeitos secundários do anti-hipertensor que tomo todos os dias é muito mais elevado do
que o da vacina da AstraZeneca. (https://www.publico.pt/2021/04/04/ciencia/noticia/efeitos-secundarios-vacina-sentir-bem-
significa-vacina-nao-funcionar-vacina-astrazeneca-segura-1957080)” O problema tem muito a ver com “o dramatismo” com que
têm sido comunicados os vários episódios que envolvem esta vacina, a qual tem estado “debaixo dos holofotes”. “O benefício
compensa largamente o risco de ser infectado, desenvolver doença, morrer ou ficar com sequelas”, remata.
Até à data, não há registo em Portugal de nenhum caso de trombose com redução
acentuada do número de plaquetas, segundo o Infarmed
“Compete às autoridades de saúde nacionais tomar decisões sobre a forma como querem usar as suas vacinas”, sublinhou a
responsável pelo comité de farmacovigilância da EMA, passando de forma clara a responsabilidade sobre o que fazer agora com a
vacina da AstraZeneca para os Estados-membros da União Europeia.
Marta Temido: "Não existe evidência que justi ique limitar a administração da vacina a grupos etários
especí icos”
“Esta é uma decisão técnica, não uma decisão política”, resumiu a ministra da Saúde, Marta Temido, que esta quarta-feira convocou e dirigiu
uma reunião virtual do Conselho da União Europeia para tentar fixar critérios comuns para a administração da vacina da AstraZeneca, pouco
depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) ter voltado a recomendar a sua utilização no combate à covid-19, uma vez que os
benefícios da sua toma ultrapassam largamente os riscos.
Depois de horas de reunião, os 27 ministros da Saúde comprometeram-se a “continuar a seguir melhor a informação científica disponibilizada
pela EMA nos seus pareceres” sobre a segurança e eficácia das vacinas contra a covid-19. Mas não conseguiram acertar agulhas relativamente a
critérios comuns para a administração da vacina da AstraZeneca — apesar dos apelos do primeiro-ministro, António Costa, e da comissária
europeia da Saúde, Stella Kyriakides, para que “sigam uma abordagem coordenada em toda a Europa”.
Apesar de ter reforçado que “não existe actualmente evidência que justifique limitar a administração da vacina [da AstraZeneca] a grupos
etários específicos”, e não ter emitido qualquer recomendação no sentido de condicionar ou restringir o seu uso em determinadas idades, a
EMA admitiu que os Estados-membros pudessem decidir fazê-lo. Por enquanto, cada país continuará a decidir autonomamente a quem vai
administrar as doses da AstraZeneca disponíveis, tendo em conta as prioridades e a estratégia dos respectivos planos de vacinação.
Num comunicado divulgado pela presidência portuguesa do Conselho da UE no final da reunião, lê-se que “os Estados membros partilharam
diferentes interpretações sobre as conclusões do relatório do Comité de Avaliação do Risco em Farmacovigilância da EMA”, e “concordaram
com a necessidade de mais estudos para grupos específicos”. “Estando os planos de vacinação numa fase crucial da sua concretização, os
ministros assumiram o compromisso de prosseguir com prioridade a discussão de matérias relacionadas com todo o processo europeu e o seu
planeamento futuro”, diz o mesmo comunicado, no qual Marta Temido é citada a deixar um alerta: “Não devemos esquecer que as decisões
individuais afectam todos”.
Estes efeitos também foram relatados com outras vacinas contra a covid-19, embora numa proporção muito mais reduzida.
Peter Arlett, responsável pela task force de Análise e Métodos da EMA, avançou que até agora foram relatados três casos
de tromboses venosas no seio cavernoso cerebral em 4,5 milhões de doses administradas da vacina da Janssen ( Johnson &
Johnson) administradas no Espaço Económico Europeu, 35 em 54 milhões de doses da Pfizer-BioNtech e cinco casos em quatro
milhões de doses da vacina da Moderna.
O folheto da vacina da AstraZeneca vai, no entanto, ser alterado mais uma vez, recomendando às pessoas que a tomarem que
fiquem atentas a sinais de alerta como: falta de ar; dor no peito; inchaço nas pernas; dor abdominal persistente; sintomas
neurológicos, incluindo dores de cabeça graves e persistentes ou visão turva; pequenas manchas de sangue sob a pele, para lá do
local da injecção.
“Para além disto, são pedidos mais estudos à empresa AstraZeneca, que incluem revisão de trabalhos em laboratório e dos ensaios
clínicos, e também estudos epidemiológicos”, salientou Peter Arlett. Duas universidades dos Países Baixos, a Erasmus (Roterdão) e
a de Utrecht, vão também iniciar estudos sobre factores de risco deste tipo de tromboses, em pessoas vacinadas contra a covid-19 e
pessoas não vacinadas, adiantou.
O folheto da vacina da AstraZeneca vai ser alterado mais uma vez, recomendando
às pessoas que a tomarem que fiquem atentas a sinais de alerta como: falta de ar;
dor no peito; inchaço nas pernas; dor abdominal persistente
A empresa diz que está já a trabalhar para “tentar compreender “os casos individuais, a epidemiologia e os possíveis mecanismos
que poderão explicar estes eventos extremamente raros”. Comprometeu-se também a mudar a informação nos folhetos das
embalagens.
Possíveis tratamentos
Embora não haja ainda certezas sobre o que causa estes fenómenos tromboembólicos, “uma possível explicação é que estas
combinações de formação de coágulos sanguíneos e diminuição do nível de plaquetas seja uma resposta imunitária, que produz
um problema semelhante ao que acontece por vezes em doentes tratados com heparina (trombocitopenia induzida por heparina,
HIT na sigla em inglês)”, refere a EMA.
Esta situação tem tratamento, explicou Sabine Straus, que enunciou algumas possibilidades: “Plasmaférese [um tratamento que
usa uma máquina para remover elementos do plasma sanguíneo que possam ser responsáveis por algumas doenças, como
anticorpos], imunoglobulinas ou esteróides. Mas nunca heparina para tratar os coágulos.” E recomendou aos profissionais de
saúde a consulta das indicações para tratar a HIT na Sociedade de Hematologia britânica, ou outras associações nacionais da
especialidade.
Quanto a uma questão que está a ser discutida neste momento, a possibilidade de se misturar vacinas — de dar uma segunda dose
de uma vacina de outro fabricante a quem tomou a primeira da AstraZeneca, como foi recomendado na Alemanha —, a EMA não se
pronunciou. Emer Cooke, a directora da agência, garantiu apenas que o assunto seria apreciado com celeridade se a EMA fosse
interpelada para dar a sua opinião sobre o assunto.
A Organização Mundial de Saúde, que tem na vacina da AstraZeneca a base da iniciativa Covax
(https://www.publico.pt/2020/11/30/mundo/noticia/covid19-covax-ideia-busca-apoio-1941212), para fazer chegar vacinas contra a
covid-19 aos países mais pobres, sublinha que a “relação causal entre a vacina e a ocorrência de coágulos de sangue com plaquetas
baixas é considerada plausível, mas não é confirmada”. Um comunicado do Comité Consultivo Sobre a segurança das Vacinas
salienta que “são ainda necessários mais estudos especializados para compreender plenamente a potencial relação entre a
vacinação e os possíveis factores de risco”.