Você está na página 1de 5

OBTENÇÃO DE PECTINA DE SUBPRODUTO

AGROINDUSTRIAL

RESUMO - Extração enzimática de pectina de bagaço de laranja residual da indústria de


suco utilizando poligalacturonase de Kluyveromyces marxianus foi estudada com base na
Metodologia de Superfície de Resposta (MSR) e delineamento fatorial completo 3 2,
variando a concentração de bagaço de laranja (6-10%) e a proporção enzima/substrato
(10-50 µL.g-1). Quando utilizados 6% de bagaço de laranja e 30 µL.g-1 de
enzima/substrato, obteve-se 16,72% como o maior rendimento de extração de pectina
com as características: 72,45% de ácido galacturônico e 20,9 Cp de viscosidade do gel.

ABSTRACT - Enzymatic extraction of pectin from orange bagasse residual from juice
industry using polygalacturonase of Kluyveromyces marxianus was studied based on
Response Surface Methodology (RSM) and 3 2 full factorial design, varying the
concentration of orange bagasse (6-10%) and the ratio enzyme/substrate (10-50 µL.g-1).
When using 6% orange bagasse and 30 µL.g-1 enzyme/substrate, it was obtained 16.72%
as the highest extraction yield of pectin with the following characteristics: 72.45%
galacturonic acid and 20.9 Cp gel viscosity.

PALAVRAS-CHAVE: Bagaço de laranja. Poligalacturonase. Ácido galacturônico. Gel.

KEYWORDS: Orange bagasse. Polygalacturonase. Galacturonic acid. Gel.

1. INTRODUÇÃO

Das 19,4 milhões de toneladas de laranja que o Brasil produz (MAPA, 2011) 70% são
destinadas a extração de suco (Neves et al., 2012), o que gera quantidade expressiva de resíduo sólido,
já que 50% da fruta que entra na planta processadora sai como bagaço (Oreopoulou e Russ, 2007),
formado por casca (flavedo), albedo, membranas e sementes. No albedo, porção branca e fibrosa
aderida internamente à casca da laranja, está a maior concentração de pectina, uma fibra alimentar
amplamente utilizada como agente estabilizante e espessante na indústria de alimentos, farmacêutica e
de cosméticos (Min et al., 2011). Industrialmente a pectina é extraída por processos com ácidos fortes
como clorídrico e sulfúrico, entre outros (Yapo et al. 2009), os quais geram resíduos que necessitam de
tratamento complexo (Min et al., 2011). De modo alternativo, é possível obter pectina por extração
com enzimas como a poligalacturonase (Alimardani-Theuil et al., 2011; Contreras-Esquivel et al.,
2006). O objetivo do presente estudo foi avaliar a extração enzimática de pectina de bagaço de laranja
gerado durante a produção industrial de suco utilizando poligalacturonase de K. marxianus e
caracterizar a pectina obtida.
2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Bagaço de laranja

Para a extração da pectina foi utilizado bagaço de laranja, variedades Valência, Pêra e Folha
Murcha fornecido pela Indústria de suco concentrado Paraná Citrus (Paranavaí – PR - Brasil). Após
lavagem com água fria, o bagaço foi prensado, triturado em multiprocessador, lavado com água a
100°C, prensado novamente, desidratado a 50ºC por 40 h em estufa e triturado em moinho de bancada.
O pó resultante foi armazenado a 4ºC até o uso. A umidade do bagaço foi determinada por
desidratação em estufa a 105ºC por 2 horas (AOAC, 1995). Para a determinação de pectina, a extração
foi realizada conforme McCready e McComb (1952) e a quantificação de ácido galacturônico (padrão:
10-70 µg) de acordo com Kintner e Van Buren (1982).

2.2 Produção de poligalacturonase por Kluyveromyces marxianus

A cepa de K. marxianus (fragilis) (CCT 3172), pertencente a coleção de microrganismos do


Laboratório de Ciência de Alimentos da Universidade Estadual de Londrina, Paraná, foi utilizada para
a produção da enzima poligalacturonase. O caldo composto de melaço (12ºBRIX), sulfato de amônio
(5 g.L-1) e pectina (7 g.L-1), com inóculo de 2% (v/v) foi incubado a 28 ºC durante 24 h a 150 rpm
(Bravo et al., 2000).

2.3 Extração de pectina

No processo de extração estudado foram avaliadas 2 variáveis independentes em três níveis de


variação conforme delineamento fatorial completo 3 2, totalizando 9 ensaios. Os níveis de variação da
concentração de bagaço de laranja foram 6% (-1), 8% (0) e 10% (+1) e as proporções enzima/substrato
foram 10 µL.g-1 (-1), 30 µL.g-1 (0) e 50 µL.g-1 (+1), definidos com base em experimentos prévios.
Como variável dependente considerou-se o rendimento de extração (%), dado pela razão entre o teor
de pectina obtida em cada ensaio e o total de pectina no bagaço de laranja utilizado
experimentalmente. A extração foi realizada a 50ºC e pH 5,0 (Alimardani-Theuil et al., 2011) em
incubadora com agitação a 100 rpm durante 60 minutos e a reação interrompida em banho-de-gelo.
Após a extração, a pectina foi recuperada segundo descrito por Donaghy e Mckay (1994): o sistema de
extração foi centrifugado, filtrado a vácuo e ao filtrado foram adicionados 2 volumes de etanol 95%
gelado para a precipitação da pectina, que foi separada por centrifugação a 2250g durante 15 min
seguida de filtração à vácuo, utilizando pano de viscose (Perfex) como filtro (Calliari et al., 2011).
Após sucessivas lavagens com etanol, a pectina obtida foi desidratada a 40ºC overnight e triturada até
60 mesh. O etanol utilizado foi recuperado em evaporador rotativo a 50°C.
2.4 Caracterização da pectina

A concentração de ácido galacturônico da pectina foi determinada utilizando método descrito


por Kintner e Van Buren (1982). Para avaliar a capacidade geleificante da pectina obtida na extração
enzimática, uma solução aquosa contendo 1% de pectina (p/v) e 67,5% sacarose (p/v), foi mantida a
100°C sob agitação, durante cinco minutos. Após cinco minutos a temperatura ambiente, o pH da
solução foi ajustado a 3,5 com ácido cítrico 0,5% e esta foi envasada a 85ºC e mantida em repouso a
25ºC por 24 h. A viscosidade do gel foi medida em viscosímetro Brookfield com spindle n° 18, a 20
rpm e 25ºC. Para fins de comparação, um gel de pectina cítrica Sigma  foi preparado nas mesmas
condições.

2.5 Análises estatísticas

O delineamento experimental e a análise dos resultados foram obtidos pelo software Statistica
7.1, com significância a p ≤ 0,05. Os resultados são expressos como médias +/- o desvio padrão de
triplicatas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O bagaço de laranja em pó utilizado nos experimentos apresentou 5,07±0,11% de umidade e


29,30±1,70% (b.s.) de pectina total, resultado similar ao reportado por El Nawawi e Shehata (1987).
Quando utilizado 6% (nível -1) deste material como substrato para a extração enzimática da pectina
com 30 µL (nível 0) de poligalacturonase por grama de bagaço, obteve-se 16,72% como o maior
rendimento experimental. Entre as variáveis testadas, somente a concentração de bagaço de laranja
teve efeito significativo sobre a resposta, sendo linear e negativo. O processo enzimático utilizado
neste trabalho é um potencial modo de produção sustentável de pectina como alternativa aos processos
químicos industrialmente praticados, considerando que o resíduo sólido da extração enzimática pode
ser utilizado como fertilizante e ingrediente para a alimentação animal e o resíduo líquido (etanol)
recuperado e reutilizado. Observou-se que o processo é brando para a pectina extraída, que apresentou
concentração de ácido galacturônico de 72,45±3,87%, o que indica pureza superior a requerida para as
pectinas cítricas comerciais (FAO, 2009). A viscosidade do gel preparado utilizando a pectina obtida
no processo enzimático foi de 20,9±0,8 Cp, resultado semelhante ao obtido para o gel de pectina
cítrica Sigma (20,9±0,6 Cp) preparado nas mesmas condições.
4. CONCLUSÃO

As características de concentração de ácido galacturônico e viscosidade do gel apresentadas


pela pectina extraída por poligalacturonase de Kluyveromyces marxianus, indicam que o ingrediente
obtido apresenta pureza superior ao padrão comercial, portanto o processo estudado não implicou em
despolimerização do produto, sendo sugerido como alternativa aos processos químicos industriais.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq) pelo apoio financeiro.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALIMARDANI-THEUIL, P.; GAINVORS-CLAISSE, A.; DUCHIRON, F. Yeasts: An attractive


source of pectinases—From gene expression to potential applications: A review. Process Biochem., v.
46, p. 1525–1537, 2011.

AOAC - ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMIST. Official methods of analysis. 16.


ed. Gaithersburg: AOAC International, v. 2, 1995.

BRAVO, C. E. C.; DE CARVALHO, E. P.; SCHWAN, R. F.; GÓMEZ, R. J. H. C.; PILON, L.


Determinação de condições ideais para produção de poligalacturonase por Kluyveromyces marxianus.
Ciênc. Agrotec., v. 24 (Edição Especial), p. 137-152, dez 2000.

CALLIARI, C. M.; MAGNANI, M.; CASTRO-GÓMEZ, R. J. H. Production, characterization, and


technological properties of a biopolymer produced by Agrobacterium radiobacter k84. Semina: Ciên-
cias Agrárias, v. 32, n. 2, p. 633-644, abr-jun 2011.

CONTRERAS-ESQUIVEL, J. C., VOGET, C. E., VITA, C. E., ESPINOZA-PEREZ, J. D., RENARD,


C. M. G. C. Enzymatic extraction of lemon pectin by endo-polygalacturonase from Aspergillus niger.
Food Sci. Biotech., v. 15, p. 163–167, 2006.

DONAGHY, J.; MCKAY, A. Pectin extraction from citrus peel by polygalacturonase produced on
whey. Biores. Tech., v. 47, n. 1, p. 25-28, 1994.

EL NAWAWI, S. A.; SHEHATA, F. R. Extraction of pectin of Egyptian orange peel: factors affecting
the extraction. Biol. Wastes, v. 20, n. 4, p. 281-290, 1987.
FAO – Food and Agriculture Organisation. Pectins – Monograph 7. 2009. Disponível em:
http://www.fao.org/ag/agn/jecfa-additives/specs/monograph7/additive-306-m7.pdf. Acesso
em: 14 jan. 2012.

KINTNER, K. P.; VAN BUREN, J. P. Carbohydrate interference and its correction in pectin analysis
using the m-hydroxydiphenil method. J. Food Sci., v. 47, p. 756-764, 1982.

MAPA - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Projeções do Agronegócio Brasil


2010/11 a 2020/21. 2011. Disponível em:
http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Ministerio/gestao/projecao/PROJECOES
%20DO%20A GRONEGOCIO%202010-11%20a%202020-21%20-%202_0.pdf. Acesso
em: 20 dez. 2011.

McCREADY, R. M.; McCOMB, E. A. Extraction and determination of total pectic materials in


fruits. Anal. Chem., v. 24, n. 12, p. 1586-1588, 1952.

MIN, B.; LIM, J.; KO, S.; LEE, K-G.; LEE, S. H.; LEE, S. Environmentally friendly preparation of
pectins from agricultural byproducts and their structural/rheological characterization. Biores. Tech., v.
102, p. 3855–3860, 2011.

NEVES, M. F. (coord.); TROMBIN, V. G.; MILAN, P.; LOPES, F. F.; CRESSONI, F.; KALAKI, R. O
retrato da citricultura brasileira. 137 p. Disponível em:
http://www.citrusbr.com.br/download/biblioteca/o_retrato_da_citricultura_brasileira_baixa.pd
f. Acesso em: 23 jan. 2012.

OREOPOULOU, V.; RUSS, W. Utilization of by-products and treatment of waste in the food industry.
New York: Springer, 2007.

YAPO, B. M. Lemon juice improves the extractability and quality characteristics of pectin from
yellow passion fruit by-product as compared with commercial citric acid extractant. Biores. Tech., v.
100, p. 3147–3151, 2009.

Você também pode gostar