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Atualização sobre Benzeno

Prof. Dr. José Knoplich

Ação do benzeno nos escriturários

        A intoxicação pelo benzeno ou benzenismo é o conjunto de manifestações clínicas


/ou sinais laboratoriais compatíveis com os efeitos da exposição ao benzeno em
trabalhadores de empresas que o produzem, transformam, distribuam, manuseiem ou
consumam.

        C.R. Miranda e colaboradores (1) fizeram um estudo de prevalência, realizado a


partir de dados hematimétricos referentes a 7.356 trabalhadores de nove empresas do
Complexo Petroquímico de Camaçari, Bahia. Do total de trabalhadores avaliados, 216
deles (2,9%) apresentaram valores leucocitários abaixo de 4.000 e/ou número de
neutrófilos abaixo de 2.000. Para estes últimos, caracterizou-se evidente exposição
ocupacional ao benzeno, sendo que todos foram afastados da exposição e encaminhados
para investigação hematológica mais aprofundada. O presente estudo permitiu
evidenciar o valor do método de vigilância epidemiológica na inspeção trabalhista dos
ambientes de trabalho.

        P.Carrer e colaboradores, do Departamento de Saúde Ocupacional, Istituti Clinici


di Perfezionamento, de Milão, Itália(2) estudaram a exposição de 100 trabalhadores de
escritório ao total de compostos orgânicos voláteis (benzeno e tolueno), durante o
trabalho, no ambiente da cidade e na residência. [Em inglês -total volatile organic
compounds (TVOCs)]. Os autores fizeram um monitoramento biológico, através da
medida da concentração de benzeno e tolueno, no sangue, junto com a dosagem urinária
do ácido trans-trans-mucônico (t,t-MA em inglês) e de cotinina, ao final do período do
monitoramento.

        A média geométrica do total de 24-h de exposição aos TVOCs foi de 514
microgramas/m3, 21.2 microgramas/m3 para o benzeno e 35.2 microgramas/m3 para o
tolueno. A exposição diária aos compostos orgânicos voláteis (benzeno e tolueno) foi
maior no ambiente de trabalho e na residência e menor no transporte e no ambiente, ao
ar livre. O fator mais importante no aumento da exposição a esses compostos voláteis,
principalmente ao benzeno foi a fumaça do cigarro, tanto para fumantes ativos como
passivos.
        Todos os indicadores biológicos eram mais altos nos fumantes do que nos fumantes
passivos e nos não fumantes.

        A intoxicação humana pelo benzeno pode ocorrer por três vias de absorção:
respiratória (aspiração por vapores), cutânea e digestiva. A via respiratória é a principal,
do ponto de vista toxicológico, sendo retido 46% do benzeno inalado. Uma vez absorvido,
quase imediatamente é eliminado, em 50%, pelos pulmões. O benzeno que permanece no
corpo, distribui-se por vários tecidos. Na intoxicação aguda, a maior parte é retida no
sistema nervoso central, enquanto que na intoxicação crônica permanece na medula
óssea (40%), no fígado (43%) e nos tecidos gordurosos (10%). Após sua absorção, parte
do benzeno distribuído pelo organismo é metabolizado pelos microssomas do fígado e
cerca de 30% é transformado em fenol e em derivados como pirocatecol, hidroquinona e
hidroxiquinona, os quais são eliminados pela urina nas primeiras horas até 24 horas
após cessada a exposição.

        A exposição prolongada ao benzeno provoca diversos efeitos no organismo humano,


destacando-se entre eles, a mielotoxidade, a genotoxidade e a sua ação carcinogênica.
São conhecidos, ainda, efeitos sobre diversos órgãos como sistema nervoso central, e os
sistemas endócrino e imunológico. No entanto, não existem sinais ou sintomas típicos da
intoxicação crônica pelo benzeno. O efeito mais grave do benzeno sobre a medula óssea é
a sua depressão generalizada que se manifesta como redução de eritrócitos, granulócitos,
trombócitos, linfócitos e monócitos. A neutropenia e a leucopenia têm sido os sinais de
efeito observados com mais freqüência entre os trabalhadores expostos ao benzeno.

        É importante assinalar, ainda, que há relação causal, comprovada, entre a


exposição ao benzeno e a ocorrência de leucemia, especialmente a leucemia mielóide
aguda e suas variações, entre elas a eritroleucemia e a leucemia mielomonocítica.

        Takahashi e colaboradores, do Institute of Molecular and Cellular Biosciences, da


Universidade de Tokyo, confirmaram que os derivados azo ou azoxi-benzeno têm
atividades anti-androgênicas inibindo o crescimento da linhagem de células andrógeno-
dependentes e ligando-se ao núcleo dos receptores de andrógenos.(3)

Referências Bibliográficas

(1) Miranda C.R, DiasC.R, Oliveira L.C.C. Pena P.G.L - Exposição ocupacional ao
benzeno em trabalhadores do complexo petroquímico de Camaçari, Bahia .Re v.Bras,
Saúde Ocupacional dez 1997:24, (89/90): 87-91,

(2) Carrer P, Maroni M, Alcini D, Cavallo D, Fustinoni S, Lovato L, Visigalli F


Assessment through environmental and biological measurements of total daily exposure
to volatile organic compounds of office workers in Milan, Italy. Indoor Air Dez
2000 ;10(4):258-68

(3) Takahashi H, Ishioka T, Koiso Y, Sodeoka M, Hashimoto Y-Anti-androgenic activity


of substituted azo- and azoxy-benzene derivatives. Biol Pharm Bull Nov
2000 ;23(11):1387-90

José Knoplich - doutor em Saude Publica pela USP, editor médico da Intramed e da
Viaseg. Colaborador do tratado de Medicina do Trabalho do prof. René Mendes. Autor
do livro Enfermidades da coluna Vertebral, que é referencia nas pericias da coluna e de
LER/Dort no INSS

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