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O aporte da Toxicologia na

avaliação das doenças causadas


por situações de risco presentes no
ambiente de trabalho
Saúde do Trabalhador

 Campo de atuação que visa compreender as relações entre o


trabalho e o processo saúde/doença. Considera a saúde e a
doença como processos dinâmicos, estreitamente articulados
com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade
em determinado momento histórico. O fundamento de suas
ações é a articulação multiprofissional, interdisciplinar e
intersetorial.

 Primeiros relatos de desordem clínica descritos como


ocupacional (Paracelsus):
 Silicose dos mineiros
 Intoxicação por mercúrio
Perfil de morbi-mortalidade da população trabalhadora
(Brasil, 2001b)

Trabalhadores
compartilham

perfil de adoecimento e
morte associados
ao tipo de atividade
perfil de adoecimento desenvolvida
e morte da
população geral
Panorama da Saúde do
Trabalhador no Brasil
(Brasil, 2001 a)

 Atenção integral à saúde dos trabalhadores: promoção de ambientes e


processos de trabalho saudáveis; fortalecimento da vigilância de
ambientes, processos e agravos relacionados ao trabalho; assistência
integral à saúde dos trabalhadores; adequação e ampliação da capacidade
institucional;

 Articulação intra e intersetorial;

 Estruturação de rede de informações em Saúde do Trabalhador;


Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador

 Ferramentas para a investigação da relação saúde-


trabalho:
 Anamnese Ocupacional;
 Árvore de Causas;
 Epidemiologia;
 Eventos Sentinela;
 Monitoramento Ambiental e Biológico;
 Avaliação Ergonômica
Toxicologia
Toxicologia

 Estudo da interação entre agentes químicos e sistemas


biológicos.

 Início na medicina forense, e em seguida na farmacologia;

 Independência no século XX – segurança alimentar,


substâncias químicas em armas de guerra, agrotóxicos e de
uso industrial, cosméticos, etc.
Toxicologia
(Casarett & Doull, 2001)

Determinar os efeitos adversos dos


Foco primário
químicos nos sistemas biológicos.

Clínica
Disciplinas
Veterinária
Forense

Subdisciplinas
Ocupacional
Farmacologia
Biologia
Ambiental
Química
Ciências ambientais
Ecotoxicologia Aquática
Toxicologia
Regulatoria
Laboratorial
Analítica
Toxicologia – Agentes Químicos

 Programa internacional segurança química (OMS/IPCS):

• 800.000 substâncias conhecidas;

• 80.000 substâncias utilizadas dia-a-dia;

• 40.000 uso comercial (grandes quantidades)

• 8.000 avaliação adequada quanto ao risco

• 2.000 novas descobertas / ano


Análise de implicações para a saúde

1. Potencial de acúmulo da substância química pela exposição por


diferentes vias ;

2. Exposição simultânea a compostos múltiplos ;

3. Impacto sobre a saúde X fatores específicos do indivíduo;

4. Informação toxicológica;

5. Grupos de vulnerabilidade diferenciada; crianças, idosos,


trabalhadores.
Toxicologia

 Finalidade: prevenção, diagnóstico e tratamento

agente organismo
tóxico

intoxicação
 Objeto: a manifestação dos efeitos adversos decorrentes
da interação agente tóxico e organismo
Conceitos

 1. Agente Tóxico (xenobiótico): agente químico exógeno absorvido pelo


organismo que provoca efeitos considerados nocivos.

 2. Efeito Tóxico: distúrbio reversível ou irreversível no bioquímico.

 3. Intoxicação: conjunto de sinais e sintomas que expressam o desequilíbrio


orgânico produzido pela interação entre um xenobiótico e um organismo a
partir de uma exposição

 4. Exposições: Agudas: < = 24 horas


 Sub-agudas: 1 - 30 dias
 Sub-crônicas: 1 - 3 meses
 Crônicas: > 3 meses
Fases da Toxicologia

FASE TOXICOCINÉTICA FASE TOXICODINÂMICA

Comportamento do agente tóxico após Mecanismo de ação das substâncias


seu contato com o organismo: químicas e seus efeitos bioquímicos e
Absorção, Transporte, Distribuição, fisiológicos nocivos.
Transformação, Acumulação e Excreção.
Intoxicação
Intoxicação
(Mendes, 2005)

Conjunto de sinais e sintomas que demonstra o desequilíbrio


orgânico promovido pela ação de uma substância tóxica.

FORMAS DE INTOXICAÇÃO FORMAS DE INTOXICAÇÃO

AGUDA
período menor ou igual
à 24 horas
LETAL
Qto. à intensidade SUBAGUDA Qto. à duração
GRAVE dias a semanas
dos efeitos da exposição
MODERADA
LEVE CRÔNICA
Exposição repetida por
um longo período de tempo
Intoxicação aguda

 Se caracteriza por exposições de curta duração, absorção


rápida do agente químico, uma dose única ou várias doses,
em um período não maior que 24 horas.
Os efeitos aparecem, em geral, rapidamente e a morte ou a
cura são o resultado imediato.
Intoxicação subaguda

 Se carateriza por exposições freqüentes ou repetidas,


durante um período de vários dias ou semanas, ao fim do
qual aparecem os efeitos
Intoxicação crônica

 Se caracteriza por exposições repetidas


durante períodos longos de tempo
Os efeitos se manifestam porque:
 o agente tóxico se acumula no organismo, seja dito
que a quantidade absorvida é maior que a
eliminada, ou
 os efeitos produzidos pelas exposições repetidas se
somam sem acumulação do agente tóxico
Exposição a longo prazo

Toxicocinética:
Agente Absorção Toxicodinâmica:
químico Exposição Distribuição Interação do
Ingresso no Biotransformação agente químico-receptor, Efeito
organismo Eliminação no órgão alvo

Dose
Exposição a longo prazo

 Exposição a quantidades pequenas,


 durante períodos longos,
 os efeitos podem aparecer de imediato, depois de cada
exposição ou produzir efeitos crônicos
Exposição ambiental X Exposição ocupacional
(Rigotto, 2003)

Exposição Exposição ocupacional


ambiental
População Crianças, adultos. idosos, Adultos sadios
enfermos, hipersuceitiveis

Tempo 24 horas 8 h/ 5 dias, semana


Agente Mistura, Agente químico único
químico baixas concentrações Misturas conhecidas
Agentes desconhecidos, Concentrações altas
Concentrações baixas (diferenciadas da
população”normal”)
Efeitos
Nocivos
Fatores que determinam o efeito
tóxico

 Propriedades físico-químicas das substâncias

 Condições de exposições
 via
 doses
 freqüência
Fatores que determinam o efeito
tóxico (2)

 Fatores biológicos
 absorção, distribuição, biotransformação
 idade, sexo, peso, diferença genética, estado de
saúde
 condições metabólicas (repouso, trabalho)
 exposição a outras substâncias químicas
 Ambiente
 temperatura, umidade, hora do dia, estresse
Efeitos nocivos

 Sistema respiratório
 dano nas células do trato respiratório
 enfisema
 irritação
 constrição dos brônquios
 dispnéia
 alergia
Efeitos nocivos

 Trato gastrintestinal
 alteração das membranas celulares (NaOH)
 Pele
 vermelhidão
 inchaço
 coceira
 alergia
Efeitos nocivos
 Fígado
 Acumulação excessiva de Lipídeos
Lipídeos são gorduras, são moléculas orgânicas geradas a partir da associação entre ácidos
graxos e um álcool.

 Necrose
 Colestase
 Colestase ou doença colestática é qualquer doença que leve a interrupção do
fluxo da bile
do fígado ao duodeno (primeiro segmento do intestino delgado). Essa interrupção pode
ocorrer dentro do fígado ou fora dele por obstrução dos ductos biliares.

 Rim
 Efeitos sobre o túbulo renal (Hg, Cd, Cr)
 Morte celular
 Alteração da função renal
Efeitos nocivos

 Sistema nervoso
 falta de oxigênio no cérebro (CO)
 perda de mielina (hexaclorobenzeno)
 efeitos nos neurônios periféricos (Hg)
 Sistema reprodutivo
 redução na produção de esperma (DBCP)
 redução da fertilidade
 toxicidade reprodutiva
Efeitos nocivos

 Teratogênico
 Efeitos na descendência que não se herdam (talidomida)
A talidomida (C13H10N2O4) é uma substância usualmente utilizada como medicamento
sedativo, anti-inflamatório e hipnótico. Devido a seus efeitos teratogênicos, tal substância
deve ser evitada durante a gravidez e em mulheres que podem engravidar, pois pode
causar má-formação ou ausência de membros no feto.

Agente teratogênico é definido como qualquer substância, organismo, agente físico ou
estado de deficiência que, estando presente durante a vida embrionária ou fetal, produz
alteração na estrutura ou função da descendência

 Carcinogênico
 tumor maligno, câncer
Avaliação da
Saúde dos
Trabalhadores e
dos Ambientes de
Trabalho
Programas de Avaliação dos Ambientes de
Trabalho e da Saúde do Trabalhador
(Kato, Garcia & Wünsch Filho , 2007)

 Monitoramento Ambiental;

 Monitoramento Biológico;

 Vigilância da Saúde
Monitoramento Ambiental

 Para a monitorização ambiental é necessário o conhecimento prévio de


diversar condições relacionadas aos trabalhadores e ao ambiente de
trabalho

 Área a ser avaliada;


 Número de trabalhadores expostos;
 Movimentação dos trabalhadores (processo produtivo);
 Movimentação de materiais (processo produtivo);
 Condições de ventilação;
 Ritmo de produção;
 Agentes possivelmente presentes que possam interferir nas medições;
 Atividades ou funções.
Monitoramento biológico

 Fornece melhor avaliação do risco para saúde dos


trabalhadores.

 Biomarcadores:
 De Exposição (dose interna); Prevenção Primária
 De Efeito. Prevenção Secundária

Interpretação dos resultados de acordo com valores


de referência e os limites biológicos de exposição
A quantificação
do indicador deve:
 refletir a interação (qualitativa ou quantitativa) do sistema biológico
com a substância química;

 ter conhecida e apropriada sensibilidade e especificidade para a


interação;

 ser reprodutível qualitativamente e quantitativamente.


A quantificação
do indicador deve:
 estar contido em um meio biológico acessível de análise,
considerando a necessidade de manutenção da integridade da
amostra entre a coleta e o procedimento analítico, e de preferência
não ser invasivo;

 a medição analítica tem que apresentar exatidão e precisão


adequadas;

 conhecer os valores normais do indicador em populações não


expostas ao agente químico de interesse, assim como as variações
intra e interindividuais.
Os Biomarcadores podem ser
utilizados no diagnóstico clínico para

 confirmar diagnóstico de intoxicação agudo ou crônico;

 avaliação da efetividade de tratamento;

 avaliar o prognóstico de casos individuais.


Qual vigilância?

 Vigilância do Risco;
Prevenção
Primária
 Vigilância da exposição dos
trabalhadores aos contaminantes;

 Vigilância sobre os efeitos à saúde Prevenção


Secundária
dos trabalhadores.
Biomarcadores (Amorim, 2003)

“ Todo e qualquer agente químico ou seu produto de biotransformação, assim como


qualquer alteração bioquímica precoce, cuja determinação nos fluidos biológicos,
tecidos ou ar exalado, avalie a intensidade da exposição ocupacional ”.
podem ser usados para confirmar e avaliar a exposição
podem ser usados para documentar as alterações pré-
individual ou de um grupo, para uma substância em
clínicas ou efeitos adversos à saúde decorrentes da
particular, estabelecendo uma ligação entre a exposição
exposição e absorção da substância química.
externa e a quantificação da exposição interna.

Indicadores de exposição
Indicadores de efeito
(Absorção)

Ex. Fenol urinário EX. ÁCIDO DELTA – AMINOLEVULÍNICO – ALA-U


( benzeno) (CHUMBO)
Monitoramento e Avaliação
(Amorim, 2003)
Biomarcadores de exposição Biomarcadores de efeito

Dose Dose Função/


Exposição Doença
absorvida alvo estrutura
alterada

Biomarcadores de susceptibilidade
(permitem elucidar o grau de resposta da exposição provocada nos
indivíduos).
Biomarcadores de Exposição
(Amorim, 2003)
Biomarcadores de Efeito
(exemplos)

 Carboxiemoglobina (COHb): A COHb, apesar de ser um biomarcador


de efeito, apresenta uma correlação muito significativa com a exposição
ambiental ao monóxido de carbono, e reflete a dose interna deste
toxicante ligado ao tecido alvo;

 Colinesterases: A determinação da atividade das enzimas colinesterase


eritrocitária e colinesterase plasmática em indivíduos expostos aos
inseticidas organofosforados e/ou carbamatos é utilizada também para o
diagnóstico e o tratamento das intoxicações. Entretanto, não apresenta
correlação muito significativa em exposições ambientais e/ou ocupacionais
leves ou moderadas a estes inseticidas. Ainda assim, é considerado o
indicador biológico de escolha.
Biomarcadores de Efeito
(exemplos)

 Enzima ácido delta amino-levulínico (ALA-D) nos eritrócitos: esta enzima é


altamente sensível à inibição pelo chumbo. Em uma concentração de
chumbo na faixa de 5 a 40 mg/dL já é possível observar uma correlação
negativa entre a ALA-D e o Pb/sg. Por isso, representa um adequado
indicador de efeito para exposição ambiental ao chumbo.

 Ácido delta amino-levulínico (ALA) na urina: devido à inibição da ALA-D pelo


chumbo, o ALA se acumula nos tecidos e é excretado em grande
quantidade na urina. No entanto, este biomarcador apresenta correlação
com concentrações de Pb/sg acima de 40ug/dL, mostrando uma
sensibilidade diferente da enzima. Por isso, é considerado mais adequado
para avaliar a exposição ocupacional a este metal.
Biomarcadores de
Nefrotoxicidade (exemplo)

 marcadores funcionais (por exemplo, creatinina sérica e b2


— microglobulina);
 proteínas de baixo ou alto peso molecular (por exemplo,
albumina, transferina, globulina ligada ao retinol);
 marcadores de citotoxicidade (por exemplo, antígenos
tubulares);
 enzimas urinárias (por exemplo, N-acetilglicosaminidade,
b-galactosidade).
Biomarcadores de
Hepatotoxicidade (exemplo)

 A hepatotoxicidade é causada por várias substâncias que são


metabolizadas pelo Sistema Citocromo P-450 a intermediários
reativos. Por exemplo, para o tetracloreto de carbono, tem sido
extensivamente estudada e bem documentada a sua ação
hepatotóxica. O metabólito reativo do tetracloreto de carbono
inicialmente reduz a glutationa peroxidade (GPX) intracelular a um
nível que predispõe a reação do metabólito com macromoléculas
críticas, levando à morte celular e à hepatoxicidade. Neste caso, os
biomarcadores de efeito poderiam incluir níveis de glutationa,
peroxidação lipídica ou número de células necrosada
Vigilância da Saúde

 Determinação da magnitude da associação entre as


exposições químicas e a ocorrência das principais doenças
causadas ou relacionadas ao trabalho.
Fases
Agente químico
Ar, Água, Alimentos
Avaliação
Fase de exposição
Ambiental
Vias de introdução

Absorção
Fase
Toxicocinética
Distribuição
Eliminação Avaliação
Biotransformação
Biológica
Fase
Toxicodinâmica Ligação em moléculas Ligação em moléculas
Críticas Não-críticas

Efeitos adversos Efeitos não adversos

Fase clínica
Lesões pré-clinica Vigilância da
Saúde
Lesões clinica

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