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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E


TECNOLOGIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMAÇÃO DE
AGENTES DE INOVAÇÃO E DIFUSÃO TECNOLÓGICA

Inovação e Tecnologia Social – o caso da


Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai
André e Bom Sucesso – COORIMBATÁ.

MARCIO GONÇALO DE LIMA

ORIENTADOR: PROF. ADNAUER TARQUÍNIO DALTRO

Cuiabá, MT, maio/2008


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E
TECNOLOGIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMAÇÃO DE
AGENTES DE INOVAÇÃO E DIFUSÃO TECNOLÓGICA

Inovação e Tecnologia Social – o caso da


Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai
André e Bom Sucesso – COORIMBATÁ.

MARCIO GONÇALO DE LIMA

Monografia submetida à Universidade


Federal de Mato Grosso para obtenção
do grau de Especialista em Agente de
Inovação e Difusão Tecnológica -
AGINTEC.

ORIENTADOR: PROF. ADNAUER TARQUÍNIO DALTRO

Cuiabá, MT, maio/2008


ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E
TECNOLOGIA
Curso de Especialização em Formação de Agentes de
Inovação e Difusão Tecnológica

FOLHA DE APROVAÇÃO

INOVAÇÃO E TECNOLOGIA SOCIAL – O CASO DA COOPERATIVA


DE PESCADORES E ARTESÃOS DE PAI ANDRÉ E BOM SUCESSO –
COORIMBATÁ.

MARCIO GONÇALO DE LIMA

Monografia defendida e aprovada em 14 de maio de 2008, pela


comissão julgadora:

_______________________________
Orientador
Prof. Dr. Adnauer Tarquínio Daltro
UFMT

______________________________
Examinador Interno
Prof. Dr. José Manoel Henriques de Jesus
UFMT

____________________________
Examinadora Externo
Profª. MS. Luciane Cleonice Durante
UFMT
iii
DEDICATÓRIA

A Deus, fonte de Luz e Sabedoria,


dedico este trabalho.
iv
AGRADECIMENTOS

• Aos cooperados da Coorimbatá pela licença para efetivação deste


trabalho acadêmico.

• Ao Professor Dr. Adnauer Tarquínio Daltro pela disposição em


orientar este trabalho.

• Ao Serviço Brasileiro de Apoio a Pequena e Micro Empresa -


SEBRAE – e à Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia
da UFMT pela oportunidade de realização deste Curso de
Especialização.
v

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS................................................................ vi
RESUMO................................................................................. vii
ABSTRACT..............................................................................viii
1 INTRODUÇÃO....................................................................... 1
Objetivo geral............................................................................ 3
Objetivos específicos................................................................ 3
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................5
2.1 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA...............................................5
2.2 TECNOLOGIA SOCIAL.......................................................7
3 MATERIAL E MÉTODOS.....................................................10
3.1 MATERIAL.........................................................................10
3.1.1 Caracterização da Amostra.............................................10
3.2 MÉTODOS.........................................................................10
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................12
4.1 PRODUTOS E PROCESSOS............................................12
4.2 ORGANIZAÇÃO.................................................................32
5 CONCLUSÕES.....................................................................37
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................... 38
Anexo .....................................................................................40
vi
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estrutura lógica do questionário da PINTEC..............................7


Figura 2: Organograma funcional da Coorimbatá.....................................11
Figura 3: Frigorífico de peixes da Coorimbatá, Várzea Grande - MT........16
Figura 4: Doce da banana em barras........................................................18
Figura 5: Bananas chips............................................................................19
Figura 6: Processamento industrial de pescados......................................19
Figura 7: Húmus de minhoca embalado....................................................19
Figura 8: Reunião dos cooperados do frigorífico.......................................22
Figura 9: Discentes pesquisadoras do curso de Nutrição da UFMT.........26
Figura 10: Atores de cooperação da Rede de Colaboração Solidária – MT.....29
vii
RESUMO

A inovação é um conceito que vem adquirindo grande espaço nas


Tecnologias Sociais, uma vez que pequenos empreendimentos, por vezes
chamados de Solidários, necessitam de caminhos alternativos para
alcance de novos processos e padrões tecnológicos, que caracterizem
seus produtos como aptos para o consumo. A Cooperativa
COORIMBATÁ, sediada em Várzea Grande - MT, foi criada em 1997 com
o objetivo de fazer o processamento de peixes e derivados e húmus de
minhoca, e hoje também processa frutas. A partir do ano de 2000, a
Cooperativa juntamente com pesquisadores da UFMT, estabeleceu uma
forma ágil de garantir o sucesso de ações articuladas com comunidades
de baixa renda, formalizando a pesquisa científica como um dos objetivos
da cooperativa, promovendo mais envolvimento de parcerias e benefícios
para diversos projetos, visando atender os anseios da população mais
pobre. Sendo assim, este trabalho investigou os fatores que contribuíram
e contribuem para as inovações da Cooperativa de Pescadores e
Artesãos de Bom Sucesso e Pai André, que buscou alternativas
científicas e organizacionais para garantir a continuidade da produção na
organização associativa, conforme evidenciaram os resultados da
pesquisa.

Palavras chaves: Inovação; Tecnologia Social; Cooperativa de


Pescadores e Artesãos.
viii
ABSTRACT

The innovation is a concept that comes acquiring great space in the Social
Technologies, a time that small enterprises, for times called Solidary, need
alternative ways for reach new processes and technological standards,
that characterize its products as apt for the consumption. Cooperative
COORIMBATÁ, headquartered in Várzea Grande - MT, was created in
1997 with the objective to make the processing of fish and derivatives and
húmus of earthworm, and today also it processes fruits. From the year of
2000, the Cooperative together with researchers of the UFMT, established
an agile form to guarantee the success of actions articulated with low
income communities, legalizing the scientific research as one of the
objectives of the cooperative, promoting more envolvement of partnerships
and benefits for diverse projects, aiming at to take care of the yearnings of
the population poor. Being thus, this work investigated factors that had
contributed and contributes for the innovations of the Fishing Cooperative
and Craftsmen of Bom Sucesso and Pai André, who searched scientific
and organizacionais alternatives to guarantee the continuity of the
production in the associative organization, as had evidenced the results of
the research.

Words keys: Innovation; Social Technology; Fishing cooperative


and Craftsmen.
1

1. INTRODUÇÃO

Apesar das recentes diretrizes das políticas sociais, o Brasil ainda é um


país que possui uma dívida social que impressiona: são milhões de
brasileiros abaixo do nível de pobreza, problemas com educação de jovens e
adultos, baixa capacidade de absorção de pessoas (desemprego),
sucateamento do estado, discriminações, fome e miséria localizadas. A
necessidade de se resolverem tais problemas são proporcionais ao tamanho
dos mesmos, e certamente não são eficientes se tratados como problema
único de Governo, de empresas ou de organizações da sociedade civil
isoladamente.
Uma das ferramentas utilizadas para a diminuição dessa dívida é a
Tecnologia Social, que perdeu espaço no início dos anos 80 em função da
expansão do pensamento neoliberal no mundo; mas que, recentemente,
volta a ter importância devido ao conceito abrangente de produção contínua
e qualificada, executada por atores antes excluídos dos processos
produtivos regionais (Lassance Jr et all, 2004).
A inovação é resultante de qualquer combinação de necessidade social e
demanda de mercado com os ambientes científicos e tecnológicos criados
para resolver tais necessidades. Assim sendo, é fundamental a
acessibilidade de organizações sociais aos centros de organização técnicos
e científicos, para que os fluxogramas de gerenciamento e de produção
possam ser melhor confeccionados e adaptados às diferenças que
permeiam a organização e a produção por pequenos, micros, cooperados ou
assentados; formas de organização estas pouco pesquisadas sobre a
utilização da inovação.
As formas de produção têm sido temas de inúmeros fóruns, onde se
discutem assuntos ligados à sustentabilidade e às implicações da
globalização na concentração de riquezas e de poder nos países
considerados desenvolvidos. Nas últimas décadas um grande número de
2

instituições e de organizações não governamentais dedica-se ao apoio e


divulgação dos resultados de pesquisas envolvendo métodos alternativos de
produção para o desenvolvimento sustentável, ressaltando a importância do
resgate de formas de processamento artesanal, objetivando adequá-los ao
atendimento das crescentes exigências do mercado globalizado.
Atualmente, enfatiza-se a importância da implementação de
políticas públicas voltadas para o avanço da produção limpa. Outro aspecto
considerado é o estímulo à produção e ao consumo de produtos locais e
regionais ecológicos. Tão importante quanto o investimento no
desenvolvimento de produtos competitivos é a busca de formas de produção
e administração sócia e ecologicamente corretas. Na área da gestão social,
vem ganhando espaço as parcerias entre empresas que detêm recursos
para investir e os governos que conhecem as necessidades de suas regiões.
A Universidade Federal de Mato Grosso vem desenvolvendo
projetos de pesquisa, juntamente com a Cooperativa de Pescadores e
Artesãos de Pai André e Bom Sucesso (COORIMBATÁ) que culminaram
inicialmente, com a montagem e a operacionalização de uma unidade
experimental de processamento de frutas passas, que está em laboração
desde agosto de 1999 e cujos produtos vêem sendo comercializados numa
grande rede de supermercados de Mato Grosso.
A COORIMBATÁ é participante da Rede de Colaboração Solidária,
que atua em toda a baixada cuiabana, isto é, uma região do Estado de Mato
Grosso que engloba 10 municípios – Acorizal, Barão de Melgaço, Cuiabá,
Chapada dos Guimarães, Jangada, Nossa Senhora do Livramento, Poconé,
Rosário Oeste, Santo Antonio do Leverger e Várzea Grande. Pelo seu
envolvimento em ações de governo, seja na esfera estadual ou federal os
resultados já alcançados na primeira etapa do projeto tem tido influência em
todo estado do Mato Grosso, assim como em outras zonas do Brasil, com
maior força na área amazônica.
Essa iniciativa de caráter inclusiva se apresenta como uma alternativa
eficaz para a solução dos problemas sociais relacionados a essa dimensão e
como vetor para a adoção de políticas públicas que abordem a relação
3

ciência-tecnologia-sociedade num sentido mais coerente com a nossa


realidade e com o futuro que a sociedade deseja construir.
A geração, a exploração e a difusão do conhecimento são
fundamentais para o crescimento, o desenvolvimento e o bem-estar das
comunidades. Assim, é fundamental dispor de melhores medidas de
inovação.
Na COORIMBATÁ o papel da Inovação é evidenciado pelos
resultados obtidos por seus cooperados. Estes dados necessitam serem
analisados desde a sua origem, para que a sistemática de obtenção possa
ser perpetuada e adotada por grupos de pessoas que necessitam de tais
idéias para seu desenvolvimento social.
Nesse tocante, as informações sobre a atividade de Inovação são
úteis por várias razões. Elas podem nos fornecer dados sobre os tipos de
inovações implementadas pelas empresas que conduziram ao crescimento
da mesma e de seus partícipes.
Sendo assim, este trabalho estudou as atividades inovadoras que
permitiram o crescimento e o desenvolvimento da COORIMBATÁ, no
período de 1999 até hoje, para que possamos confirmar tais atividades como
passíveis de adoção por outros sistemas de organização ligados ao terceiro
setor da economia brasileira.

Objetivo Geral

O objetivo deste trabalho é reconhecer as atividades inovadoras de


produtos, processos e de organização ocorrentes na Cooperativa de
Pescadores e Artesãos de Pai André e Bom Sucesso - COORIMBATÁ.
4

Objetivos específicos

• Caracterizar a estrutura da cooperativa;


• Identificar o modelo organizacional, os produtos e os processos
inovadores;
• Caracterizar as atividades inovadoras, as fontes de financiamento,
as atividades internas de P&D, as fontes de informações, as
relações de cooperação para inovações e apoio do governo ;
• Identificar os impactos das inovações;
• Identificar patentes e outros métodos de proteção.
5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Inovação tecnológica:

Para Sáenz (2002), Tecnologia é o conjunto de conhecimentos


científicos e empíricos, de habilidades, experiências e organização
requeridos para produzir, distribuir, comercializar e utilizar bens e serviços.
Inclui tanto conhecimentos teóricos como práticos, meios físicos, know how,
métodos e procedimentos produtivos, gerenciais e organizacionais, entre
outros.
Inovação tecnológica é o processo pelo qual as empresas dominam e
implementam o desenho e a produção de bens e serviços que são novos
para elas, independentemente de serem novos para seus competidores,
nacionais ou estrangeiros (SAÉNZ, 2002).
Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço)
novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método
de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios,
na organização do local de trabalho ou nas relações exterrnas (OECD,
1997).
Inovação é uma combinação de necessidades sociais e de demandas
do mercado com os meios científicos e tecnológicos para resolvê-las. Aqui
entendida como a transformação do conhecimento em produtos, processos
e serviços que possam ser colocados no mercado (Caron, 2004).
Entende-se que a inovação representa sempre uma ameaça de risco
e a criação de uma situação de incompletude; por isso, não é possível
estimar com certezas estatísticas os seus riscos de fracasso ou de sucesso.
Entretanto, deve-se reconhecer que a inovação representa uma exigência
quando se reconhece a importância, em termos de participação das
unidades produtivas, no aumento da riqueza social (Silva et all, 2006).
Segundo Neto (2003), o conceito de inovação teve origem na
economia, pois refere-se à apropriação comercial/social/uso das “novidades”
6

– descobertas, invenções e conhecimentos – ou à introdução de


aperfeiçoamentos nos bens e serviços utilizados pela sociedade.
A OECD (1997) cita que são quatro os tipos de inovação: de produto,
de processo, de marketing, e organizacional. Essa classificação possui o
maior grau de continuidade possível com a definição precedente de
inovação de produto e de processo utilizada na segunda edição do Manual
de Oslo.
Em relação à tipologia, Sáenz (2002) classifica como básicas ou
radicais aquelas que constituem uma mudança histórica na maneira de fazer
as coisas; geralmente se baseiam em novos conhecimentos científicos ou de
engenharia; abrem novos mercados, novas indústrias ou novos campos de
atividade nas esferas de produção, dos serviços, da cultura e da sociedade.
Já as incrementais ou de melhoria são aquelas que produzem melhorias nas
tecnologias existentes, mas sem alterar suas características fundamentais.
A inovação radical rompe ou encerra um paradigma para dar início a
outro. Já a inovação incremental acresce novos pontos ao padrão anterior,
sendo capaz de diferenciar e melhorar um paradigma existente (Oliveira.
2001).
Segundo Cassiolato (2005), incrementar o processo de inovação
requer o acesso a conhecimentos e a capacidade de apreendê-los, acumulá-
los e usá-los, se fazendo papel estratégico de sobrevivência e
competitividade para empresas e demais organizações.
Mais de 50% dos gastos em inovação das empresas brasileiras
refere-se à aquisição de ativos tangíveis (principalmente máquinas e
equipamentos). Nos países da União Européia, tal percentual situa-se entre
10% e 20%. Naqueles países, a concentração dos gastos em atividades
inovativas se dá em P&D interno (30% a 60% dos gastos totais), enquanto
no Brasil, esse percentual não alcança 20%. Apenas 3,4% das empresas
inovadoras brasileiras cooperaram com outras empresas e institutos de
pesquisa e universidades no período 2001-2003 (Cassiolato, 2005).
Tironi (2005) cita que no Brasil há consenso de que a atividade
inovativa da indústria é insuficiente como elemento propulsor do crescimento
7

econômico, da geração de emprego, da renda e do bem-estar da população.


Indicadores de C,T&I respaldam esse conceito e oferece uma referência
para formulações de políticas voltadas a elevação de investimentos em P&D,
de um modo geral, mas especialmente os realizados pelos setores
produtivos.
Para a inovação se fortalecer enquanto prática tecnológica, ela
precisa apresentar sua positividade, seu potencial de articulação entre as
máquinas e as instituições sociais. E nesse sentido, a indeterminação e
insegurança garantem a originalidade e o sucesso dos procedimentos
inovativos (Andrade, 2006).
Conforme os objetivos e o escopo da pesquisa, a coleta de dados
sobre inovação pode assumir várias abordagens. Uma abordagem cobriria
todos os tipos de inovação da mesma forma. Alternativamente, inovações de
produto e de processos podem ser mantidas como os tipos centrais de
inovação, mas as inovações de marketing e organizacionais podem ser
parcialmente cobertas, ou as inovações de produtos e processos podem ser
o foco exclusivo (OECD, 1997).

2.2 Tecnologia social:

A Rede de Tecnologia Social (RTS) tem duas características que a


diferenciam de outras iniciativas em curso no Brasil, orientadas à dimensão
científico-tecnológica. A primeira é o marco analítico-conceitual que
conforma o que se denomina “tecnologia social” (TS). A segunda é
justamente seu caráter de rede. Sem ser excludente àquelas iniciativas, a
RTS se articula, em função dessas características, como uma alternativa
mais eficaz para a solução dos problemas sociais relacionados a essa
dimensão e como um vetor para a adoção de políticas públicas que abordem
a relação ciência-tecnologia-sociedade (CTS) num sentido mais coerente
com nossa realidade e com o futuro que a sociedade deseja construir
(Lassance Jr et all, 2004).
8

A partir dos anos 80, os cientistas sociais têm debatido os problemas


da visão econômica sobre o processo inovativo e uma das questões centrais
repousa nas relações que se estabelecem entre desenvolvimento e
inovação. E questionam se toda inovação implica necessariamente em
desenvolvimento ou a concepção de desenvolvimento econômico e social
pode servir de parâmetro para se avaliar processos inovadores. A busca
pela inovação tecnológica, assentada no alcance de resultados incertos e
instáveis, representa a materialização do risco social e o desafio para a
construção de uma sociedade democrática e sustentável (Andrade, 2006).
Para o estudo e administração desses conceitos Sáenz et al. (2002)
define como Gestão Tecnológica a gerência sistemática de todas as
atividades no interior da empresa com relação à geração, aquisição, início
da produção, aperfeiçoamento, assimilação e comercialização das
tecnologias requeridas pela empresa, incluindo a cooperação e alianças com
outras instituições; abrange também o desenho, promoção e administração
de políticas e ferramentas para a captação e/ou produção de informação que
permita a melhoria continuada e sistemática da qualidade e da
produtividade.
Lassance Jr et al. (2004) define Tecnologia Social como um conjunto
de técnicas e procedimentos, associados a formas de organização coletiva,
que representam soluções para a inclusão social e melhoria da qualidade de
vida.
A aplicação de conhecimentos científicos de vetor social-
transformador na construção de políticas públicas democráticas,
participativas e voltadas para a inclusão social é preocupação internacional.
A erradicação da pobreza extrema é uma das metas da Organização das
Nações Unidas (ONU) para o novo milênio. Desde 1994, um programa
voltado para a Gestão das Transformações Sociais foi criado pela UNESCO
– organismo voltado para a educação, a ciência e a cultura. A meta é
promover investigações internacionais comparadas e relacioná-las à
formulação de políticas sobre as transformações sociais contemporâneas e
sobre temas de importância mundial (Singer et al., 2004).
9

Conforme destaca Silva et all (2006) a tendência atual de se


organizarem atividades inovadoras nos projetos de assentamentos, tais
como a produção integrada, biossustentável, cooperativa agroindustrial etc.,
decorre de um longo período de aprendizagem de todos os agentes
envolvidos no movimento pela reforma social.
Segundo Pena et al. (2004), com um conjunto de programas próprios
e estruturados, nas áreas de educação, geração de trabalho e renda,
cultura, saúde e meio ambiente, a Fundação Banco do Brasil instituiu, em
2001, o Programa Banco de Tecnologias Sociais com o objetivo de dar voz
social para experiências desenvolvidas por outras instituições que, muitas
vezes isoladas, não teriam a possibilidade de ampliação de suas
experiências. Com o Banco de Tecnologia Social, a Fundação promove a
aproximação de soluções concretas aos problemas sociais brasileiros.
10

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Material

3.1.1 Caracterização da amostra


As atividades de pesquisa em inovação tecnológica deste trabalho foram
realizadas junto à Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e
Bom Sucesso, comunidades estas localizadas no município de Várzea
Grande – MT. Fundada em 1997, atualmente a Cooperativa operacionaliza o
processamento de frutas em unidade localizada no Bairro Ribeirão do Lipa,
em Cuiabá - MT, e os processamentos de Pescados e Húmus de minhoca
no Distrito Varzegrandense de Pai André, onde conta com um adequado
prédio frigorífico.
Mais informações sobre a Cooperativa serão citadas em sua caracterização,
descrita nos resultados desta pesquisa.

3.1.2 Métodos

A pesquisa sobre inovações na Coorimbatá foi realizada nos meses de


Fevereiro de Março de 2008.
O instrumento de investigação utilizado foi o questionário do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), PINTEC – Pesquisa Industrial
de Inovação Tecnológica. Segundo a Nota Técnica do órgão de estatística,
esta metodologia é aceita e aplicada internacionalmente, e objetiva
assegurar a qualidade e comparabilidade das informações. Sua referência
conceitual e metodológica é o Manual de Oslo e, mais especificamente, o
modelo proposto pela Oficina Estatística da Comunidade Européia –
EUROSTAT, a terceira versão da Community Inovattion Survey (CISIII) 1998
– 2000, da qual participaram os 15 países-membros da comunidade
européia.
Para levantamento dos dados da Cooperativa adotou-se os seguintes
procedimentos:
11

1) A primeira etapa consistiu em confecção de um roteiro (Anexo 1) para


facilitar a compreensão das perguntas do questionário e compilação
do organograma de entrada das informações.
2) A segunda etapa foi a comunicação verbal com os entrevistados,
sobre o trabalho que estava sendo realizado, expondo os objetivos do
mesmo.
3) A terceira etapa consistiu na análise visual do mapeamento de
processos da Cooperativa.
4) A quarta etapa foi o envio do questionário, por meio eletrônico, ao
Gestor de Tecnologia Social da Cooperativa.
5) A quinta etapa foi o recebimento das informações dadas pelo
entrevistado.
A estrutura lógica do conteúdo do questionário da PINTEC segue uma
divisão por blocos, nos quais os temas da pesquisa estão organizados, e as
condições de habilitação dos 13 blocos do questionário podem ser
representadas pelo fluxo apresentado abaixo (Figura 1).

Figura 1: Estrutura lógica do questionário da PINTEC (IBGE, 2003).


12

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados apresentados neste trabalho são as respostas fiéis obtidas


do entrevistado, através do questionamento orientado, realizado
eletronicamente, e através da observação visual do documento da
Cooperativa denominado de Mapeamento de Processos da Cooperativa.
As linhas “Técnicas avançadas de gestão” e “Fontes de informação” não
foram respondidas.

Respostas dos blocos:

4.1. PRODUTOS E PROCESSOS:

Linha 1: CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA

“A Cooperativa COORIMBATÁ, criada em 1997, sofreu, até 1999 com os


problemas que têm sido as causas de insucessos de diversas cooperativas e
associações de pessoas de baixa renda no País. Seus fundadores foram
pescadores e artesãos de uma comunidade ribeirinha do município de
Várzea Grande -MT. Em 2000, a Cooperativa COORIMBATÁ, juntamente
com pesquisadores da UFMT, estabeleceu uma forma ágil de garantir o
sucesso de ações articuladas com comunidades de baixa renda,
formalizando a pesquisa científica como um dos objetivos da cooperativa. A
pesquisa científica na Universidade é assim coordenada por um
pesquisador cooperado, formalmente associado à Cooperativa; este
pesquisador direciona as suas pesquisas para a solução de problemas
tecnológicos da COORIMBATÁ e as executa conjuntamente com outros
cooperados que se apropriam dos resultados obtidos antes de serem
publicados.”
13

Além desta resposta, através da análise dos documentos da Cooperativa,


relacionamos outras características:

Nome da Empresa: Coorimbatá


Razão Social: Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e Bom
Sucesso.
Presidente atual: José Rodrigues de Amorim
Endereço: Av. Principal s/nº, Bairro Pai André
Cidade: Várzea Grande
UF: MT
Fone/Fax: Peixe (65) 3686-7718 - Frutas (65) 3626-4844 - Passas (65)
3661-5030.

Definição do Negócio:
O negócio da Cooperativa é:
I) Gerar emprego e renda para seus cooperados apresentando soluções
alternativas para agregar valor a produtos tipicamente regionais e
comercializá-los;
II) Ofertar produtos com qualidade e valor agregado aos seus clientes.

A Cooperativa atua com quatro (quatro) Núcleos Produtivos – NP, sendo:


1. Processamento de Peixes: neste núcleo são eviscerados peixes do rio e a
espécie Tambacú de criações particulares “tanques”.
2. Produção de Húmus: produção de Húmus de minhoca. Este produto é
embalado em pacotes plásticos de 2kg.
3. Banana: Este NP industrializa a banana (qualidades: Da terra, Prata e
Nanica), transformando essa fruta em dois produtos principais: Banana
chips, e doce de banana.
4. Frutas passas: produz banana, abacaxi e manga passas.
14

Missão :

“Promover o empreendedorismo, a inclusão social e geração de renda para


seus cooperados através da industrialização e comercialização de produtos
de qualidades que utilizem produtos regionais como matéria-prima oriunda
da agricultura familiar e da pesca artesanal.

A figura 2 mostra a estrutura administrativa da Coorimbatá:

A S S E M B L É IA G E R A L

C O N SELH O
F ISC A L

C O N S EL H O DE
A D M IN IS TR A ÇÃ O

P R E S ID Ê N CIA

A S S E S S O R IA
C O N T Á B IL

A S S E S S O R IA
J U R ÍD IC A

N Ú C L E O G E S TO R

SETOR SET OR D E C O O R D EN AÇÃO


A D M .-F IN A N C E I R O C O M E R C I A L IZ A Ç AO I N D U S T R IA L

C A IX A V E N D A IN T E R N A

CO NT AS A
VENDA EXT ERNA
PAGAR

CO NT AS A
RECEBER

EST O Q UE
M A T É R IA P R IM A

E S T O Q UE DE
P RO DUT O A CA B A DO

CO MPRAS

A D M N IS T R A Ç Ã O D E
CO O PERADO S U N I D A D ES
I N D U S T R IA I S
(P e ix e s - H ú m u s- F ru t a s)

Figura 2: Organograma funcional da Coorimbatá.


15

O Núcleo Gestor da COORIMBATÁ está instalado na sala 3 do prédio


da ARCA Multincubadora, da Universidade Federal de Mato Grosso, onde
estão arquivados todos os contratos, convênios, fichas cadastrais e
documentos contábeis da Cooperativa. A Cooperativa COORIMBATÁ tem
representação no Conselho de Segurança Alimentar e de Desenvolvimento
Local (CONSAD) da Baixada Cuiabana, no Conselho Nacional de Economia
Solidária, no Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de
Mato Grosso (CONSEA-MT) e no Núcleo Técnico do Conselho Territorial da
Agricultura Familiar da Baixada Cuiabana (CONTAF-BC). É empresa âncora
do programa DRS do Banco do Brasil na cadeia produtiva do peixe. A
Cooperativa COORIMBATÁ também faz parte do Conselho diretivo do
Centro de Pesquisa do Pantanal e é membro efetivo da ARCA
Multincubadora.
Em Mato Grosso, não há tradição em associativismo e
cooperativismo entre pessoas de baixa renda. Mais recentemente, ações de
gestão pública, da iniciativa privada, de fóruns (Economia Solidária,
CONSAD, Conselho Territorial da Agricultura Familiar, etc.) e de
pesquisadores acadêmicos, iniciam-se de forma pouco articulada e tendem
a ser conflitantes, impedindo a implementação de ações integradas para a
solução de problemas de geração de trabalho e renda ou mesmo de uso
sustentável de recursos naturais. Normalmente, como em todo País, havia
um histórico de insucessos em iniciativas governamentais ou de entidades
de apoio, tais como universidades e ONGs, na estruturação de cooperativas
ou associações autogestionárias.
Com essa nova forma de gerir uma cooperativa, que reúne pessoas
de diferentes segmentos sociais, foi possível estabelecer inovadoras e
complexas relações de confiança entre pesquisadores, gestores públicos
estaduais, municipais, grandes empresas de comercialização e pescadores
profissionais, artesãos, quilombolas, agricultores familiares e moradores da
periferia urbana da região metropolitana de Cuiabá, cooperados ou não.
16

Estes têm habilitado a COORIMBATÁ a representá-los e atendê-los em


diversos projetos.
Um fator a ser destacado na caracterização da COORIMBATÁ é a
abertura que a mesma tem possibilitado para as atividades de P&D em sua
estrutura operacional. Dessa forma, projetos de pesquisa e de extensão da
Universidade Federal de Mato Grosso foram e continuam sendo
desenvolvidos como forma de conciliação entre a academia e a necessidade
social da presença desta nas regiões extra-muros da mesma. Essa
articulação culminou com a figura do Diretor de Tecnologia Social, que
possui a função de exercer a gerência dos serviços relacionados à
informação, comunicação, planejando, organizando e controlando os
programas sociais da Cooperativa e sua execução, avaliando resultados
para assegurar tramitações rápidas de informação entre as diversas
Unidades, e utilização adequada do material e processamento das demais
atividades dentro da respectiva Política de Ação, caracterizando o processo
de Difusão Tecnológica na mesma.

Figura 3: Frigorífico de peixes da Coorimbatá, Várzea Grande – MT.


17

Linha 2: PRODUTOS

“- MANGA, BANANA, ABACAXI e MAÇÃ PASSAS;


- DOCES DE BANANA E CAJU EM PASTA;
- BANANAS CHIPS;
- BANANA CHIPS COM CANELA E AÇÚCAR;
- BANANA CHIPS COM CANELA;
- PESCADOS CONGELADOS E SUBPRODUTOS DE PESCADOS;
- HÚMUS DE MINHOCA.”

Analisando os documentos, no protocolo de Produtos da Cooperativa, foram


encontradas as seguintes características dos produtos alimentícios:

Amplitude Extensão Profundidade


Banalícia – Banana 1. Banalícia: Sabor Canela 110g e 55g
Verde Chips 2. Banalícia : Com sal 130g e 60g
Linha frutas passas 1. Banana Passas 200g e 70g
2. Abacaxi Passas 50g
3. Manga Passas 50g
Doce 1. Doce banana barra 30g e 180g
2. Doce Manga barra 180g
3. Doce Caju barra 150g
Húmus de Minhoca 1. Húmus de Minhoca Coorimbatá 2kg e 20kg
Peixe 1. Tambacu eviscerado Venda por Kg
2. Pintado eviscerado Venda por Kg
3. Dourado eviscerado Venda por Kg
4. Pacu eviscerado Venda por Kg
5. Coorimbatá Venda por Kg
6. Juripecem Venda por Kg
7. Jiripoca Venda por Kg
8. Piauaçu Venda por Kg
9. Peraputanga Venda por Kg
10. Piranha Venda por Kg
11. Linguiça de peixe Venda por Kg
Quadro 1: Produtos alimentícios produzidos pela Coorimbatá.

A secagem de frutas, realizada na Unidade Piloto no Jardim das


Palmeiras, ou produção de passas, além de agregar valor ao produto,
18

prolonga a sua vida útil podendo ser armazenada e comercializada fora da


época da safra. Neste método diminui-se a umidade do produto através de
aquecimento à temperatura média de 60 centígrados. O aquecimento do ar
de secagem é feito com briquetes feitos com resíduo de madeira prensado,
produzido pela Indústria de Reciclados Energéticos, instalada no município
de Várzea Grande.
Os doces e fritas são produzidas na Unidade do bairro Ribeirão do
Lipa, em Cuiabá – MT, aproveitando-se de frutas típicas e atípicas
produzidas e comercializadas durante o ano; sendo processadas manga,
banana, caju, abacaxi e maçã.
O processamento artesanal de frutas passas é uma atividade que
exige bastante mão de obra, sendo porém importantíssimo para o sucesso
de atividades cooperativas de pessoas de baixa renda.
Com a atuação dos pesquisadores da UFMT, envolvendo várias áreas
de conhecimento, direcionando suas pesquisas para a solução de diversos
problemas, típico de uma cooperativa de pessoas de baixa renda, foi
possível se obter o registro dos produtos, junto ao Serviço de Inspeção
Municipal de Cuiabá (S.I.M.).

Figura 4: Doce da banana em barras.


19

Figura 5: Bananas chips

Além das frutas, a Cooperativa COORIMBATÁ também processa


produtos alimentícios de origem animal, derivados de Peixes. Estes são
coletados no Rio Cuiabá, por pescadores cooperados, ou ocasionalmente,
principalmente durante a piracema, é adquirida em fazendas criatórios de
peixes em tanques. O frigorífico, autorizado pelo Sistema Estadual de
Inspeção Sanitária, fica localizado em Pai André – Várzea Grande.

Figura 6: Processamento industrial de pescados.

Seguindo os princípios do total aproveitamento de produtos agrícolas,


a COORIMBATÁ aproveita as partes descartadas das frutas, principalmente
cascas, além dos resíduos da atividade frigorífica, que incorporados a outros
ingredientes de decomposição, produzem húmus de minhoca.
20

Figura 7: Húmus de minhoca embalado.

Em 2006 a COORIMBATÁ ganhou dois Pregões Eletrônicos e entregou em


torno de 250.000 barras de 15g de doce de banana para Merenda Escolar no
município de Cuiabá. Esta capacidade da COORIMBATÁ de produzir e de honrar
os compromissos em processo de autogestão, em uma região sem tradição de
participação em empreendimentos coletivos, tem sido fundamental para a
sensibilização de outras entidades para o apoio aos empreendimentos da
Economia Solidária.
Em 2007 a unidade de processamento de peixe da COORIMBATÁ foi
registrada no Serviço de Inspeção Sanitária Estadual de Mato Grosso (SISE). Em
funcionamento, a partir de fevereiro de 2007, foram processados e comercializados
peixes de piscicultura, envolvendo diretamente 10 pescadores cooperados que
atuam na despesca, processamento e comercialização do peixe adquirido de
pequenos piscicultores da região. A COORIMBATÁ atua no apoio à
comercialização do peixe de rio, de modo articulado com a Colônia de Pescadores
Z-5 de Barão de Melgaço.

Linha 3: INOVADOR

“SIM”

Segundo a OCDE – Manual de Oslo - uma inovação é a


implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de
marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios,
na organização do local de trabalho ou nas relações externas. A
organização também define inovação de produto como sendo a
introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado
no que concerne a suas características ou usos previstos. Inclui-se
melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e
materiais, softwares incorporados, facilidade de uso dos bens e serviços
existentes.
21

Analisamos que, em se comparando com as atividades de


processamento de alimentos exercidas pelos cooperados à época da
fundação da Cooperativa, todos os produtos hoje processados são
inovadores para a mesma. E mais, houve um incremento gradual no
número de produtos alimentícios fabricados, à medida que a Pesquisa e
o Desenvolvimento (P&D) foram sendo aceitas pelos cooperados.

Linha 4: ATIVIDADES INOVADORAS

“- Tipo de secador utilizado;


- Forma de gestão – auto-gestão;
- Planilhas de produção cooperada;
- Articulação com UFMT;
- Parceria com Rede Supermercados MODELO;
- Articulação c/ CONSAD, CONTAF, QUILOMBOLAS.”

A unidade de produção de frutas “passas” conta com dois fornos


desidratadores de frutas de autoria do Núcleo de Tecnologia de
Armazenamento – FAMEV – UFMT, cujo calor se movimenta por convecção
natural, com chaminé em ziguezague, operando com a utilização de
serragem prensada (bricket) como combustível. Alguns aspectos ligados à
eficiência dos secadores de frutas e da qualidade das passas produzidas no
secador baseadas em técnicas de análise sensorial, foram estudados e
publicados por em pesquisas científicas pela UFMT.
Na Coorimbatá, o regime de organização empresarial é de
democracia direta (Autogestão), isto é, a cooperativa pratica a administração
pelos participantes, e as decisões são tomadas em assembléia geral. Este
sistema elimina a hierarquia e os mecanismos capitalistas da organização
dos envolvidos.
22

Figura 8: Reunião dos cooperados do frigorífico.


A atividade inovadora Planilhas de produção cooperada foi idealizada
pelos pesquisadores cooperados, e tem como objetivo principal a divisão
das receitas entre os cooperados de uma maneira que cada um receba o
equivalente ao esforço praticado para obtenção daquela receita. As
atividades são listadas, desde a aquisição da matéria-prima animal ou
vegetal até a produção final, e cada uma dessas atividades recebe um peso
(matemático) indicado pelos próprios cooperados. Dessa forma, as
atividades de maior peso conferem a quem a praticou, maior renda após a
divisão do lucro de cada atividade comercial.
A articulação UFMT-COORIMBATÁ contradiz dados estatísticos que
mostram o distanciamento das Universidades com empresas. Á partir de
experimentos acadêmicos aplicáveis às necessidades da Cooperativa, torna-
se verdadeira a afirmação de que a articulação existe e é passível de
multiplicação.
Esta articulação, dentre outros resultados, resultou na obtenção do Prêmio
FINEP de Inovação Tecnológica 2004, com a figura do Pesquisador
Cooperado, na categoria Processo (2º colocado na região Centro Oeste).
Em junho de 2006, através da inovadora atuação da UFMT, o Banco da
Amazônia (BASA) agraciou o projeto Rede de Colaboração Solidária com
R$168.070,00 para custeio, pela primeira colocação na categoria social no
Prêmio Professor Samuel Benchimol.
Atualmente, um grupo de pesquisadores da UFMT dedica-se a pesquisas
buscando alternativas para pessoas de baixa renda, sem, no entanto,
23

conseguir encontrar caminhos que considerassem aspectos culturais e


operacionais que possibilitassem o empoderamento dos resultados dessas
pesquisas e de processos produtivos aos associados de cooperativas e
outros empreendimentos econômico-solidários da região.
Em relação aos Supermercados Modelo, é fundamental a participação
da Rede, que garante a comercialização dos produtos oriundos das
diferentes unidades produtivas seguindo princípios do Comércio Justo. Os
resultados financeiros destas operações garantem a renda das pessoas
envolvidas nos processos produtivos, seja o produtor primário (agricultor ou
pescador) ou o cooperado que atua nas unidades produtivas em qualquer
uma de suas etapas.
Nas unidades produtivas do pescado, frutas e húmus têm se
priorizado a inserção da própria comunidade local onde a unidade está
inserida. Graças à parceria com a Universidade Popular Comunitária – UPC,
os seus co-articentes (estudantes) também têm se inserido nos processos
produtivos da COORIMBATÁ, seguindo os princípios do cooperativismo de
autogestão e livre adesão. Com o desenvolvimento do Projeto Rede de
Colaboração Solidária, patrocinado pela PETROBRAS, foi possível implantar
as quatro unidades produtivas da COORIMBATÀ (pescado, húmus de
minhoca, doces/chips e passas), criar cinco módulos de plantios
comunitários no Quilombo de Mata Cavalo, no município de Nossa Senhora
do Livramento - MT, e principalmente fazer a integração de diversas ações
de diferentes esferas governamentais (municipal, estadual e federal),
interligando projetos de inclusão social e geração de renda no Estado de
Mato Grosso, ampliando consideravelmente a abrangência do Projeto Rede
de Colaboração Solidária e potencializando os resultados dessas diversas
ações, além da consolidação da Cooperativa COORIMBATÁ como um
modelo a ser reaplicado em nosso Estado.
Sendo a COORIMBATÁ entidade fundadora e com representação na
Associação Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local da
Baixada Cuiabana – CONSAD BC, esses objetivos foram então incluídos no
projeto Agregação de Valor à Produção Através da Agroindustrialização, do
24

CONSAD BC. Foram firmados convênios entre o Governo do Estado de


Mato Grosso, a COORIMBATÁ e as Prefeituras Municipais de Cuiabá e de
Várzea Grande para a execução desse Projeto. Esse projeto do CONSAD
BC está em execução e propicia a viabilização de outros empreendimentos
solidários a partir da experiência da Cooperativa COORIMBATÁ. Graças a
esta estratégia de atuação, foi possível consolidar o CONSAD BC. Este
Consórcio se destaca em nível nacional por ser o primeiro CONSAD a ter
personalidade jurídica, inclusive com CNPJ. Foram aprovados outros
projetos (“Abatedouro de Frangos Colonial”, “Bacia Leiteira – Aquisição de
Resfriadores; Capacitação de Agricultores Familiares e Técnicos” e
“Produção, Processamento e Comercialização da Mandioca”) junto ao MDS
cabendo a COORIMBATÁ papel de fundamental importância na articulação
e elaboração dos referidos projetos.
A COORIMBATÁ teve importante atuação na integração das ações do
Conselho Territorial da Agricultura Familiar da Baixada Cuiabana (CONTAF-
BC) com as ações do CONSAD BC. Assim, os projetos da ação territorial
ligados ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) passaram a ser
feitos de forma a potencializar os projetos do CONSAD BC.

Linha 5: FONTES DE FINANCIAMENTO

“- PETROBRAS;
- BASA;
- MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL;
- GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO/FUPIS;
- PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ;
- PREFEITURA MUNICIPAL DE V. GRANDE;
- FAPEMAT;
- CNPq.”

As fontes de financiamentos que a Coorimbatá vem utilizando


retratam os esforços para a construção de ambientes institucionais
favoráveis, isto é, novas linhas de financiamentos, enfim, novos arcabouços
25

institucionais que envolvem não só o governo local, como as demais


instâncias políticas da Federação.
No Brasil, através da realização de editais e de concursos, os Governos vêm
procurando desenvolver uma estratégia que articule atores sociais capazes
de mudar a lógica perversa da desigualdade a que ainda são submetidos
trabalhadores e pequenos produtores. A Coorimbatá tem alcançado
resultados brilhantes em relação à participação em editais e concursos,
tendo destaque nacional na aplicação de Tecnologia Social. É vencedora de
Prêmio PETROBRAS, prêmio FINEP, financiamentos sociais, editais de
governo (MDS, MEC, etc) e recentemente do vencedor do Prêmio ODM –
Objetivos do Milênio - 2007.

Linha 6: ATIVIDADES INTERNAS DE P&D

“- Criação e otimização de secador de frutas com chaminé em ziguezague;


- Análise da qualidade de frutas passas produzidas pela cooperativa e
comparação com produtos já comercializados em grandes redes de
supermercados;
- Análises de perigos e pontos críticos de controle no processamento
artesanal de frutas desidratadas;
- Características do óleo da semente de manga através de ressonância
nuclear magnética (RNM), em parceria com UFRJ;
- Estudo de ponto de maturação do abacaxi para produção de passas.”

A formalização da pesquisa científica como um dos objetivos da


cooperativa tem permitido que as atividades produtivas da mesma sejam
referências na utilização da C, T & I em empreendimentos sociais. No
Brasil, há consenso de que a atividade inovativa brasileira é insuficiente
como elemento propulsor do crescimento econômico, da geração de
26

emprego , da renda e do bem estar da população (TIRONI, 2005). Essa


articulação entre a academia e as comunidades evidenciada no caso
Coorimbatá demonstra claramente de que é possível que as instituições
de pesquisas não fiquem isoladas e possam tratar de se vincular mais
fortemente ao setor produtivo, tornando-se mais relevantes e
conseguindo, ao mesmo tempo, mais apoio e recursos necessários à
resolução de necessidades de cunho sociais.

Figura 9: Discentes pesquisadoras do curso de Nutrição da UFMT.

Linha 7: IMPACTOS DAS INOVAÇÕES

“- Foi efetuado um depósito de patente do secador de frutas com chaminé


em ziguezague;
- Foram produzidas 5 dissertações de mestrado e 1 monografia de
conclusão de curso sobre temas ligados ao setor produtivo da
COORIMBATA;
- Foi reativada a Cooperativa COORIMBATÁ, a partir de um processo
inovador de autogestão de um empreendimento, envolvendo acadêmicos e
comunidades tradicionais;
- A COORIMBATÁ passa a atuar como promotora de ações articuladas entre
universidades, comunidades tradicionais, empresas de comercialização,
setor público federal, estadual e municipais.”
27

O número de patentes é uma medida que auxilia a avaliação da


capacidade de inovação de um País e expressa a o potencial de
transformação dos avanços científicos em aplicações comerciais ou
inovações. No Brasil, esses valores ainda estão aquém dos valores obtidos
por países como a Espanha, China e Índia, reconhecidos como recém
emergentes em equilíbrio científico e econômico.
O depósito de patente efetuado pela Coorimbatá indica a potencialidade que
os pequenos empreendimentos econômico-sociais possuem para contribuir
com o aumento no nível de desenvolvimento da Ciência e Tecnologia no
Brasil, possibilitando, inclusive, impactos muito significativos em termos de
números de marcas, registros e de patentes.
Caron (2004) diz que falta, no Brasil, uma ação pró-ativa das
universidades, dos centros de pesquisas e das entidades públicas no apoio
e extensão tecnológica às pequenas e médias empresas; e continua,
afirmando que os beneficiados são somente as grandes empresas e
raramente as pequenas e médias. Os impactos científicos conseguidos pela
ação da academia no trabalho da Coorimbatá, onde foram produzidas 5
dissertações de mestrado e 1 monografia de conclusão de curso, indicam
uma forma de aliança das Universidades com Empresas, na busca pela
inovação através da C&T, contrariando dados nacionais que indica a pouca
interação Universidade-Empresa. Este resultado somente foi alcançado
através do envolvimento fiel e responsável entre os acadêmicos e as
pessoas da Comunidade que acreditaram nesse relacionamento em forma
de parceria, onde o principal objetivo é a sustentabilidade econômica de
famílias através de seus esforços, baseado em aplicações científicas e ao
mesmo tempo de senso comum comunitário.
Somente a forma de organização da Coorimbatá já a credencia
atualmente como promotora de ações articuladas entre universidades,
comunidades tradicionais, empresas de comercialização, setor público
federal, estadual e municipais; mesmo que os indicadores econômicos ainda
não estejam definidos em função das variações decorrentes das dificuldades
28

para inovar (organização e realização), comuns em qualquer esfera de


empreendimento. A Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e
Bonsucesso (COORIMBATÁ) continua compatibilizando as necessidades
mais urgentes das comunidades atendidas pelo Projeto “REDE DE
COLABORAÇÃO SOLIDÁRIA PARA INDUSTRIALIZAÇÃO E
COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORIUNDOS DA PESCA
ARTESANAL E DA FRUTICULTURA EXTRATIVISTA E FAMILIAR”
(identificado como Rede de Colaboração Solidária) com outras iniciativas e
oportunidades de outras entidades governamentais ou não, que atuam na
inclusão social. Para estabelecer e consolidar a Rede de Colaboração
Solidária no Estado de Mato Grosso, a COORIMBATÁ adequou as
atividades do Projeto durante o primeiro ano de execução (de fevereiro de
2005 a fevereiro de 2006) de forma a integrá-las com as atividades de outros
projetos e ações de inclusão social desenvolvidas no Estado, na busca de
formalização de novas parcerias para potencializar as referidas ações. A
disseminação das experiências e possibilidades da Coorimbatá a outras
comunidades é talvez o mais importante impacto das inovações, em função
do alcance de um maior número de pessoas atingidas e satisfeitas pelos
projetos da Cooperativa.

Linha 9: RELAÇÕES DE COOPERAÇÃO PARA INOVAÇÕES

Não respondido.
Apesar de não respondido, é muito visível e destacado as relações de
cooperação para inovações da Coorimbatá ao analisarmos os caminhos e
atores participantes desse importante sistema de organização, que é a
REDE DE COLABORAÇÃO SOLIDÁRIA PARA INDUSTRIALIZAÇÃO E
COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORIUNDOS DA PESCA
ARTESANAL E DA FRUTICULTURA EXTRATIVISTA E FAMILIAR.
29

A próxima figura mostra a articulação entre os atores que se relacionam para


a cooperação neste estudo de caso.

Figura 10: Atores de cooperação da Rede de Colaboração Solidária – MT.

Ela demonstra muito claramente como a administração da


Cooperativa imaginou que devesse funcionar a relação de cooperação entre
os diversos atores do tripé helicoidal Empresa – Universidades – Governos,
e continua buscando a interação verdadeira entre os participantes desse
sistema. Com algum esforço organizacional os resultados dessa busca tem
sido positivos em relação à participação de todos nos projetos da
Coorimbatá.
30

Linha 10: APOIO DO GOVERNO

“- Petrobras FOME ZERO;


- Ministério do Desenvolvimento Social, através do projeto “AGREGAÇÃO
DE VALOR A PRODUÇÃO ATRAVÉS DA AGROINDUSTRIALIZAÇÃO”, do
Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local – CONSAD
BC;
- Através da COORIMBATÁ e da ARCA Multincubadora, que são projetos
institucionais de pesquisa ou de extensão da UFMT, a Universidade Federal
de Mato Grosso disponibiliza seus laboratórios, recursos materiais e
humanos, para o apoio às atividades dos projetos da cooperativa e de seus
parceiros. Há atualmente uma grande articulação para a elaboração de
novos projetos de pesquisa e extensão que atendam, de forma articulada, as
demandas de comunidades tradicionais, de empreendimentos econômico-
solidários de gestores públicos e os interesses da academia;
- Projeto de Promoção do Desenvolvimento Local e Economia Solidária
(PPDLES) – TEM;
- Governo do Estado – FUPIS”

Segundo Marques (1999), a aplicação de mérito social na avaliação


da C&T era operada mais na defesa de interesses específicos de cientistas
do que como critério de escolha de prioridades sociais para o financiamento
público; mas que atualmente existe uma tendência ao reconhecimento de
que a pesquisa financiada com recursos públicos tem por obrigação originar
contribuições imediatas e substantivas não apenas para a riqueza nacional,
como para a qualidade de vida e o ambiente.
A Coorimbatá tem se utilizado da participação em Editais de Projetos nas
áreas sociais dos Governos Estadual e Federal para obtenção de recursos
financeiros que apóiem a implementação das ações produtivas de seus
cooperados. Dessa forma é criado o ambiente favorável à Inovação na
31

Cooperativa com a participação do Governo através do financiamento de


projetos sociais.

Linha 11: PATENTES E OUTROS MÉTODOS DE PROTEÇÃO

“- Secador de Produtos Agrícolas com chaminé em ziguezague. 1998.


Patente: Modelo de Utilidade. n. MU7801340-2, "Secador de Produtos
Agrícolas com chaminé em ziguezague".

Patente é um direito exclusivo, concedido ao autor de uma invenção


para a exploração desta; o reconhecimento da patente impede, durante um
período determinado, que a invenção seja utilizada, sob qualquer forma, por
parte de uma terceira pessoa. Consequentemente, é um objeto de
comercialização sujeito a princípios jurídicos nacionais e internacionais
(SAENZ et al., 2002).
O número de patentes é uma medida de avaliação da capacidade de
inovação de um país. No Brasil avalia-se que um dos grandes desafios a
serem enfrentados é aumentar a capacidade de transformar os notáveis
avanços científicos que vem conquistando em aplicações comerciais ou
inovações, aumentando o número de pedido de patentes.
O Núcleo de Tecnologia em Armazenamento da Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária da UFMT em parceria com o Departamento de Física
da mesma Universidade, desenvolveu e patenteou o Secador com chaminé
em ziguzague, para desidratação de frutas. A patente foi concedida em
1998.
Este fato também mostra a potencialidade que pequenos empreendimentos
sociais possuem para o aumento da demanda em C&T e concretização de
inovações, sejam elas incrementais ou radicais.
Além dessa Patente, a Coorimbatá conseguiu registrar sua Marca. A
concessão foi dada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI -
em 26/12/2007, com validade até 26/12/2017. Isso significa que seus
32

produtos agora possuem identidade própria, sendo que esta marca pode se
tornar fator decisivo na escolha pelo consumidor.

4.2. ORGANIZAÇÃO:

MUDANÇAS ESTRATÉGICAS E ORGANIZACIONAIS:

“A COORIMBATÁ participa voluntariamente no apoio e na elaboração dos


projetos de geração de renda e de inclusão social de diversas entidades
governamentais ou não, sempre visando a articulação entre os projetos.
Esta participação de COORIMBATÁ é feita com o máximo de transparência
possível, através da troca de informações por internet e mesmo participando
de diversos fóruns.”

INOVADOR:

“SIM”

Essa articulação entre projetos que a Coorimbatá busca para a


solução de seus problemas e de outras comunidades é o objeto da RTS –
Rede de Tecnologia Social.

MUDANÇAS NA ESTRATÉGIA CORPORATIVA:

“O processo de comercialização dos produtos e as demandas das


comunidades envolvidas, graças a existência de vínculos estatutários entre
pesquisadores e a Cooperativa, fortaleceram vínculos perenes entre as
33

entidades envolvidas. A superação das dificuldades surgidas devido à


deficiência na logística, à falta de perfil empresarial das comunidades
beneficiárias e ao grande contraste entre os estágios organizacionais das
entidades envolvidas, foi feita coletivamente e com grande transparência, em
inúmeras reuniões de planejamento estratégico.”

A estratégia corporativa da Coorimbatá parte da associação de


pessoas que desejam obter algum meio de vida ou de renda por intermédio
do trabalho. Segundo Lassance Jr et all, (2004) tais experiências se
apresentam como alternativa de geração de trabalho e renda para milhares
de pessoas, que devido à reestruturação produtiva impulsionada sobretudo
pela globalização e pela “revolução digital”, vêem-se fora do mercado de
trabalho. Isso porque, se tais pessoas se apresentam como desqualificadas
e incapazes de atender às exigências cada vez maiores de capacitação,
habilidades e competências apresentadas como pré-requisitos para a
obtenção de um posto de trabalho no mercado formal, muitas vezes têm
competências únicas, como a capacidade de elaborar produtos artesanais,
ou podem facilmente desenvolver outras competências, relativamente
simples, que lhes permitam prover renda e dessa forma sobreviver.

MUDANÇAS NOS CONCEITOS/ESTRATÉGIAS DE MARKETING:

“O processo de comercialização dos produtos e as demandas das


comunidades envolvidas fortaleceram vínculos perenes entre as entidades
envolvidas, graças à existência de vínculos estatutários entre pesquisadores
e a Cooperativa. A Rede de Supermercados MODELO, uma grande
empresa de comercialização, a UFMT, setores governamentais e
comunidades organizadas, passaram a ter vínculos institucionais que foram
sendo construídos coletivamente com base numa nova lógica de
sustentabilidade econômico-social e ambiental”
34

Segundo o documento Plano de Comercialização da Cooperativa “a


Cooperativa efetua suas vendas de forma direta (da indústria ao varejista), e
utiliza um vendedor cooperado. Todavia, o cooperado responsável pela
comercialização dos produtos não possui foco na comercialização e exerce
outras funções como entrega dos produtos vendidos, compra de matéria-
prima, recebimentos entre outras.”
Em relação aos métodos de comunicação o mesmo documento revela que
“a Cooperativa possui forte penetração na imprensa local e até mesmo
nacional, sua comunicação institucional é um grande ponto forte. Por outro
lado, a comunicação com o cliente é deficitária. Não é realizada nenhuma
ação ativa para divulgar os produtos da Cooperativa. A comunicação
concentra-se no ponto de venda por meio da embalagem do produto. Porém,
há deficiências na exposição de seus produtos e na divulgação para os
funcionários dos supermercados (MODELO).”
São fatores a serem aperfeiçoados nessa busca da consolidação da
estrutura cooperativa como modelo de inclusão social.

MUDANÇAS NA ESTÉTICA DE PRODUTOS:

“Layout das etiquetas e embalagens feitas pela GMA propaganda, empresa


de propaganda da Rede de Supermercados MODELO, sem custos para a
COORIMBATÁ. Layout e características das embalagens contam com a
orientação de pesquisadores do Depto. de Nutrição da UFMT.”

A adoção de etiquetas e embalagens preenchidas com cores e


desenhos objetivou adequar os produtos Coorimbatá às necessidades de
mercado, visto que tais produtos possuem concorrentes de renome em
esfera nacional. A parceria com uma empresa privada mostra a viabilidade
35

desse entrelaçamento, somados ao auxilio da academia, através da


Pesquisa e da Extensão universitária.

NOVOS MÉTODOS DE CONTROLE E GERENCIAMENTO:

“As deficiências nos controles de ingressos e dispêndios pelos cooperados,


foram superadas com a implantação de um software de gestão
administrativo financeira, pelo Núcleo Gestor do Setor produtivo da
Cooperativa, que funciona na ARCA Multincubadora, localizada no Campus
da UFMT. Cada unidade produtiva da COORIMBATÁ tem um computador,
operado pelos cooperados, interligado com um servidor localizado na ARCA
Multincubadora, onde são feitos os lançamentos.”

Em 29/09/2006 foi então criada a ARCA Multincubadora no Campus


da UFMT com o apoio de diversas entidades como a UFMT, a
COORIMBATÁ, a Rede de Supermercados MODELO, o Sistema de Crédito
Cooperativo (SICREDI), a Prefeitura Municipal de Várzea Grande, o MT
Fomento e a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (SECITEC),
tendo como destaque a Incubadora de Tecnologia Social, para incubação de
empreendimentos da Economia Solidária. A Cooperativa COORIMBATÁ
está sendo incubada pela ARCA Multincubadora. Criou-se assim um
processo contínuo de trocas de experiências e conhecimentos dos
cooperados coordenadores de projetos com os cooperados dos setores
produtivos e dos Conselhos Fiscal e de Administração habilitando-os a se
apoderarem do sistema de gestão da COORIMBATÁ, na lógica da auto-
gestão.
A decisão dos cooperados da COORIMBATÁ pela informatização da gestão
administrativo-financeira e, com destaque pelos pescadores profissionais
artesanais, representa uma das maiores inovações propiciadas pelo Projeto
Rede de Colaboração Solidária, sendo prova do avanço no que se refere à
36

inclusão digital das comunidades beneficiárias do Projeto. Isto certamente


propiciará uma mudança de paradigma que influenciará positivamente
muitos outros empreendimentos econômico-solidários de Mato Grosso.
37

5. CONCLUSÕES

1) Os resultados alcançados pela Coorimbatá têm como base a pesquisa


em Ciência e Tecnologia, o que reforça a necessidade da maior
aproximação da Universidade com Empresas que desejam a Inovação.

2) A gestão de projetos da Cooperativa tem permitido a realização de


diversas Inovações em sua estrutura, permitindo, inclusive, a
identificação dos fatores que levam a essas Inovações, tais como,
atividades inovadoras, fontes de financiamento, atividades de P&D, apoio
do Governo e métodos de proteção.

3) O modelo organizacional adotado pela COORIMBATÁ é passível de


ser usado como referência por outras comunidades e até mesmo na
formulação de políticas públicas que visem a minimização do déficit
social causado por modelos econômicos excludentes.
38

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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inovação. Revista Lua Nova, São Paulo, 86: 139-166, 2006.

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39

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baseadas na Pintec. Revista São Paulo em perspectiva, São Paulo, V. 19,
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40

ANEXO 1

ORIENTAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA ENTREVISTA


PARA IDENTIFICAÇÃO DAS INOVAÇÕES NA
COORIMBATÁ

Características das empresas

De acordo com a literatura econômica, algumas características das


empresas podem influenciar a escolha das estratégias e o seu desempenho
inovativo.
• a origem do capital controlador da empresa e sua localização, no caso de
estrangeiro; se a empresa é independente ou parte de um grupo e, neste
caso, a sua relação com o grupo; e
• a abrangência geográfica do principal mercado da empresa.

Produtos e processos tecnologicamente novos ou


substancialmente aprimorados

A PINTEC segue a recomendação do Manual Oslo, no qual a inovação


tecnológica é definida pela implementação de produtos (bens ou serviços)
ou processos tecnologicamente novos ou substancialmente aprimorados.
A implementação da inovação ocorre quando o produto é introduzido no
mercado ou quando o processo passa a ser operado pela empresa.
"Produto tecnologicamente novo" é aquele cujas características
fundamentais (especificações técnicas, usos pretendidos, software ou outro
41

componente imaterial incorporado) diferem significativamente de todos os


produtos previamente produzidos pela empresa. A inovação de produto
também pode ser progressiva, através de um significativo aperfeiçoamento
tecnológico de produto previamente existente, cujo desempenho foi
substancialmente aumentado ou aprimorado. Um produto simples pode ser
aperfeiçoado (no sentido de obter um melhor desempenho ou um menor
custo) através da utilização de matérias-primas ou componentes de maior
rendimento. Um produto complexo, com vários componentes ou subsistemas
integrados, pode ser aperfeiçoado via mudanças parciais em um dos seus
componentes ou subsistemas. Desta definição são excluídas: as mudanças
puramente estéticas ou de estilo e a comercialização de produtos novos
integralmente desenvolvidos e produzidos por outra empresa. "Inovação
tecnológica de processo" refere-se a processo tecnologicamente novo ou
substancialmente aprimorado, que envolve a introdução de tecnologia de
produção nova ou significativamente aperfeiçoada, assim como de métodos
novos ou substancialmente aprimorados para manuseio e entrega de
produtos (acondicionamento e preservação). Estes novos métodos podem
envolver mudanças nas máquinas e equipamentos e/ou na organização
produtiva (desde que acompanhadas de mudanças no processo técnico de
transformação do produto). O resultado da adoção de processo
tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado deve ser
significativo em termos do nível e da qualidade do produto ou dos custos de
produção e entrega. A introdução deste processo pode ter por objetivo a
produção ou entrega de produtos tecnologicamente novos ou
substancialmente aprimorados que não possam utilizar os processos
previamente existentes, ou, simplesmente aumentar a eficiência da
produção e da entrega de produtos já existentes, sendo excluídas as
mudanças: pequenas ou rotineiras nos processos produtivos existentes, e
aquelas puramente administrativas ou organizacionais; a criação de redes
de distribuição e os desenvolvimentos necessários para comércio eletrônico
de produtos. Nesta questão estão contidas as alterações tecnológicas
42

decorrentes de processos de verticalização (ou desverticalização) da


estrutura produtiva de cada firma.
A inovação tecnológica refere-se a produto e/ou processo novo (ou
substancialmente aprimorado) para a empresa, não sendo,
necessariamente, novo para o mercado/setor de atuação, podendo ter sido
desenvolvida pela empresa ou por outra empresa/instituição. A PINTEC
distingue também a inovação para o mercado/indústria nacional, tanto para a
inovação de produto como para a de processo.
As empresas que implementaram inovações de produto e de processo
informam, para cada uma destas duas categorias, o grau de novidade
(aprimoramento, novo para a empresa, novo para o mercado nacional e
novo para o mercado mundial), e quem desenvolveu a principal inovação: se
principalmente a empresa; se outra empresa do grupo; se a empresa em
cooperação com outras empresas ou institutos; ou se outras empresas ou
institutos.
Uma vez que nem todo esforço inovativo é bem-sucedido e que existem
projetos que ainda estão em andamento ao final do período analisado (por
terem iniciado próximo deste final ou por terem prazos de execução longos),
a PINTEC indaga sobre a existência de projetos de inovação abandonados
antes de sua implementação ou incompletos ao final do período em análise.

Atividades inovativas

As atividades que as empresas empreendem para inovar são de dois tipos:


pesquisa e desenvolvimento - P&D (pesquisa básica, aplicada ou
desenvolvimento experimental); e outras atividades não relacionadas com
P&D, envolvendo a aquisição de bens, serviços e conhecimentos externos.
A mensuração dos recursos alocados nestas atividades revela o esforço
empreendido para a inovação e é um dos principais objetivos das pesquisas
de inovação. Como os registros são feitos em valores monetários, é possível
43

a sua comparação entre setores e países, podendo ser confrontados com


outras variáveis econômicas (faturamento, custos, valor agregado etc.).
Seguindo a abordagem adotada pela PINTEC (do sujeito), são
contabilizados os gastos realizados nas inovações implementadas e nos
projetos em andamento e abandonados. Deve ser ressaltado que nem
sempre existe uma relação direta entre os projetos de inovação e as
inovações que estão sendo implementadas, uma vez que estas podem ser
resultado de vários projetos, e que um projeto pode ser a base de várias
inovações.
Além de registrar os dispêndios realizados no ano de 2003 em sete
categorias de atividades inovativas, a PINTEC solicita que a empresa
identifique a importância (alta, média, baixa e não relevante) das atividades
realizadas no triênio em foco. Deste modo, é possível não apenas conhecer
as atividades desenvolvidas durante todo o período de análise, como
também derivar a importância relativa das mesmas, ainda que utilizando
uma escala subjetiva.
As categorias de atividades levantadas na PINTEC são listadas a seguir e as
definições apresentadas são aquelas registradas no próprio questionário:8
1) Atividades internas de P&D — compreende o trabalho criativo,
empreendido de forma sistemática, com o objetivo de aumentar o acervo de
conhecimentos e o uso destes conhecimentos para desenvolver novas
aplicações, tais como produtos ou processos novos ou tecnologicamente
aprimorados. O desenho, a construção e o teste de protótipos e de
instalações piloto constituem, muitas vezes, a fase mais importante das
atividades de P&D. Inclui também o desenvolvimento de software, desde
que este envolva um avanço tecnológico ou científico;
2) Aquisição externa de P&D — compreende as atividades descritas acima,
realizadas por outra organização (empresas ou instituições tecnológicas) e
adquiridas pela empresa;
3) Aquisição de outros conhecimentos externos — compreende os acordos
de transferência de tecnologia originados da compra de licença de direitos
de exploração de patentes e uso de marcas, aquisição de knowhow,
44

software e outros tipos de conhecimentos técnico-científicos de terceiros,


para que a empresa desenvolva ou implemente inovações;
4) Aquisição de máquinas e equipamentos — compreende a aquisição de
máquinas, equipamentos, hardware, especificamente comprados para a
implementação de produtos ou processos novos ou tecnologicamente
aperfeiçoados;
5) Treinamento — compreende o treinamento orientado ao desenvolvimento
de produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente
aperfeiçoados e relacionados às atividades inovativas da empresa, podendo
incluir aquisição de serviços técnicos especializados externos;
6) Introdução das inovações tecnológicas no mercado — compreende as
atividades de comercialização, diretamente ligadas ao lançamento de
produto tecnologicamente novo ou aperfeiçoado, podendo incluir: pesquisa
de mercado, teste de mercado e publicidade para o lançamento. Exclui a
construção de redes de distribuição de mercado para as inovações; e
7) Projeto industrial e outras preparações técnicas para a produção e
distribuição — refere-se aos procedimentos e preparações técnicas para
efetivar a implementação de inovações de produto ou processo. Inclui
plantas e desenhos orientados para definir procedimentos, especificações
técnicas e características operacionais necessárias à implementação de
inovações de processo ou de produto. Inclui mudanças nos procedimentos
de produção e controle de qualidade, métodos e padrões de trabalho e
software requeridos para a implementação de produtos ou processos
tecnologicamente novos ou aperfeiçoados, assim como as atividades de
tecnologia industrial básica (metrologia, normalização e avaliação de
conformidade), os ensaios e testes (que não são incluídos em P&D, registro
final do produto e para o início efetivo da produção.

Fontes de financiamento

Neste bloco as empresas informam a estrutura de financiamento dos gastos


realizados nas atividades inovativas, distinguindo as fontes utilizadas no
45

financiamento das atividades de P&D (inclusive a aquisição externa) das


demais atividades. As fontes de financiamento são desagregadas em:
próprias e de terceiros (privado e público).

Atividades internas de P&D

Além dos dispêndios realizados em 2003, a PINTEC solicita algumas outras


informações sobre as atividades de P&D. As empresas informam:
• se estas atividades, no período de entre 2001 e 2003, foram contínuas ou
ocasionais; e
• a localização do departamento de P&D da empresa ou, no caso de não
haver uma unidade formal ou existir mais de uma, onde se concentram
predominantemente as atividades de P&D da empresa; Informam também o
número de pessoas do quadro da empresa normalmente ocupadas nas
atividades de P&D em 2003, segundo o nível de qualificação, ocupação
(compatível com a Classificação Brasileira de Ocupações) e o tempo de
dedicação a estas atividades. Na base de dados e na publicação da PINTEC
consta o número total de pessoas ocupadas nas atividades de P&D em
equivalência à dedicação plena. Esta variável é obtida pela soma do número
de pessoas em dedicação exclusiva e do número de pessoas dedicadas
parcialmente à atividade deP&D, ponderado pelo percentual médio de
dedicação.

Impactos das inovações

A PINTEC busca identificar os impactos associados ao produto (melhorar a


qualidade ou ampliar a gama de produtos ofertados), ao mercado (manter ou
ampliar a participação da empresa no mercado, abrir novos mercados), ao
processo (aumentar a flexibilidade ou a capacidade produtiva, reduzir
46

custos), aos aspectos relacionados ao meio ambiente, à saúde e à


segurança, e ao enquadramento em regulamentações e normas.
Outra medida do impacto das inovações é a proporção das vendas internas
e das exportações, de 2003, atribuídas aos produtos novos ou
significativamente aprimorados introduzidos no mercado durante o período
em análise.

Fontes de informação

As empresas podem obter inspiração e orientação para os seus projetos de


inovação de uma variedade de fontes de informação. No processo de
inovação tecnológica, as empresas podem desenvolver atividades que
produzam novos conhecimentos (P&D) ou utilizar conhecimentos científicos
e tecnológicos incorporados nas patentes, máquinas e equipamentos,
artigos especializados, softwares, etc. Neste processo, as empresas utilizam
informações de uma variedade de fontes e a sua habilidade para inovar,
certamente, é influenciada por sua capacidade de absorver e combinar tais
informações.
Deste modo, a identificação das fontes de idéias e de informações utilizadas
no processo inovativo pode ser um indicador do processo de criação,
disseminação e absorção de conhecimentos.
De um lado, as empresas que estão implementando inovações de produtos
e processos originais tendem a fazer um uso mais intenso das informações
geradas pelas instituições de produção de conhecimento tecnológico
(universidades e institutos de pesquisa, centros de capacitação profissional e
assistência técnica, instituições de testes, ensaios e certificações). Do outro
lado, empresas envolvidas no processo de incorporação e de adaptação de
tecnologias tendem a fazer uso dos conhecimentos obtidos através de
empresas com as quais se relacionam comercialmente (fornecedores de
máquinas, equipamentos, materiais, componentes ou softwares, clientes ou
consumidores, concorrentes) para implementarem mudanças tecnológicas.
47

A PINTEC identifica não apenas a importância destas fontes de informação


como também a sua localização (Brasil, exterior).

Relações de cooperação para inovação

Na PINTEC a cooperação para inovação é definida como a participação


ativa da empresa em projetos conjuntos de P&D e outros projetos de
inovação com outra organização (empresa ou instituição), o que não implica,
necessariamente, que as partes envolvidas obtenham benefícios comerciais
imediatos. A simples contratação de serviços de outra organização, sem a
sua colaboração ativa, não é considerada cooperação. As questões focando
a cooperação para inovação, presentes na PINTEC, buscam identificar as
relações entre um amplo conjunto de atores que, interligados por canais de
troca de conhecimento e/ou articulados em redes, formam o que se
denomina Sistema Nacional de Inovação. A pesquisa identifica os parceiros
das empresas nos projetos de cooperação, o objeto desta e a sua
localização (mesmo estado, outros estados, MERCOSUL, Estados Unidos,
Europa, outros países).

Apoio do governo

As informações obtidas pela PINTEC, referentes ao apoio do governo para


atividades inovativas, englobam financiamentos, incentivos fiscais,
subvenções, participação em programas públicos voltados para o
desenvolvimento tecnológico e científico, entre outras. Além das perguntas
qualitativas, que permitem conhecer o tipo de empresa (em termos de
tamanho e setor de atuação) e freqüência de uso de programas de apoio às
atividades inovativas das empresas industriais, disponibilizados pelas
instituições públicas9, existe uma variável de informação quantitativa do
percentual de financiamento concedido pelo governo para as atividades de
P&D e para o conjunto das demais atividades inovativas. Estas informações
48

se complementam e são relevantes para o desenho, implementação e


avaliação de política.

Patentes e outros métodos de proteção

Com vistas a conhecer os métodos de proteção utilizados pelas empresas


para garantir a apropriação dos resultados da inovação, a PINTEC pergunta
sobre os métodos formais (patentes, marca registrada, registro de design,
copyright) e estratégicos (segredo industrial, complexidade do desenho,
vantagens de tempo sobre os concorrentes, etc.) empregados pelas
empresas.
Elas também informam se solicitaram depósitos de patentes entre 2001 e
2003, seja no Brasil, seja no exterior, e se dispunham de patente em vigor,
no Brasil e no exterior, no final de 2003.
49

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