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SIMPLESCIDADE

Edição Única - 2016

C I
R F E
E
Sumário
CRÔNICA
PARA LER EM VOZ ALTA - 5

ENSAIO
DE COMER COM OS OLHOS - 6

REPORTAGEM
“VAMO PRA MOEDA HOJE?“ - 15

ENSAIO
PELAS ÁGUAS DO CAPIBARIBE... - 20

REPORTAGEM
O RITMO QUE ENCONTROU
O RECIFE - 25

ENTREVISTA
O MESMO RECIFE,
NOVAS DINÂMICAS - 29

ENSAIO
CORDEL DO RECIFENSE - 31

CONHEÇA NOSSA EQUIPE - 40

F
EDITORIAL

Recife respira simplicidade

Diante de prédios enormes, da correria, do trânsito caótico,


como não se render a simplicidade do Recife? Das pessoas,
dos detalhes, dos lugares, da vivência e das expressões? Do
dia a dia, do calor humano, das vontades e desejos, dos ce-
nários, da história, dos costumes e do que é mais peculiar da
cidade e de quem faz parte dela? É nesse desejo de mergu-
lhar ainda mais no cotidiano da capital pernambucana que
a SimplesCidade decidiu registrar em suas páginas aquilo
que é espontâneo do recifense.

Apesar de propor o comum, não é tão fácil enxergar aqui-


lo que está a nossa volta. E é por ser tão simples que nos
sugere o precioso valor desta característica. Observar a
manifestação do corriqueiro, do que passa muitas vezes des-
percebido ao olhos e que parece homogêneo, é na verdade
o mais interessante e revela traços tão individuais do que é
ser Recife.

Recife é ser mistura e ao mesmo tempo tradição; é ser


banhado pelo Capibaribe e ver as histórias ao redor do rio;
é assistir da rua muitas vidas todos os dias; é mais do que
ocupar um território geográfico. É defender os sabores, a
cidade, as cores, os ritmos. É mais que frevo, forró, brega. É
na verdade tudo junto.

Marília Rêgo
Editora
Foto: FreeImages.com/Afonso Lima

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Hei! Vem cá que eu quero te mostrar

Hei! A minha cidade, o meu lugar

Hei! Recife tem um coração

Hei! Tem muito calor, muita emoção

( Reginaldo Rossi em “Recife, Minha cidade”)


Fotos: Camila de Paula

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CRÔNICA Pesquisar

Cabra Arretado ▶ Abestalhado

PARA LER EM VOZ ALTA


Texto: Ícaro Ferreira
Ilustração: Pedro de Souza

O
xe, rapaix! Tu taix falando mal do Re- música altamente elaborada e genuinamente recifense.
cife, é, caba? Olhe, num fulere não que Só que tão elaborada quanto a música recifense é o
essa cidade é rocheda, visse? Deixa eu nosso cinema, tu sabia? Aqui a gente não faix aquele
explicar pra tu. Se o Nordexte fosse um país in- roliúde mal feito da patotinha da globo filmex nãão,
dependente, a Veneza Brasileira seria a capital. visse? Aqui é tudo altamente artíxtico porque ox di-
Tu já ouvisse falar no Shopping Recife? Apois retorex daqui são tudo o cão chupando manga. É o
ele era o maior da América da Latina, mas aí veio melhor cinema do paíx. Tem tropicalixmo moderno,
o Riomar e tomou o lugar dele. Tudo lá é nox trin- brega, tem herança do cinema novo, tem engajamento
quex, visse? E tem shopping em São Paulo que social, tem hixtória e tem ox melhorex atores do Brasil,
é um cotoco perto dele. O bicho é fera mermo! na minha humilde opinião. Um delex é Irandhir San-
O Recife também tem a maior avenida em li- tox. O bicho é fera. Olhe, de Triunfo a Gramado, de
nha reta do mundo, que é a Caxangá. Não é que Havana a Lox Angelex, de Cannex a Roterdã, ox nos-
nem aquelas avenida peba que tem no teu inte- sox filmex rodam o mundo com indicaçõex e prêmios.
rior não. O segundo maior pólo médico do Bra- Mas olhe, é verdade que Recife fede um pouqui-
sil fica em Recife. É hospital que só a gota serena! nho às vezes também… Mas a catinga é catinga de
Eita, já ia me esqueceno! Recife também é o tercei- mangue, então pense numa inhaca boa! Você anda
ro maior polo gastronômico do Brasil, só perdeno pela cidade sentindo aquele cheirinho, ouvindo Chi-
de Rio e São Paulo, visse? Mas tu taix achano que co Science e Nação Zumbi e chega bate aquele or-
isso tudo é bexteira? Taix achano que eu tô seno me- gulho cultural! Ah, por falar em mangue, aqui tem
tido a cavalo do cão? Apois, viu? Tô de gréia não! a maior reserva de mangue em área urbana em to-
Tu sabia que Recife também é uma cidade alta- das as américas. É o Parque dos Manguezais. E eu
mente cultural? Já ouvi dizer que o museu de Ricar- vou te dizer: é preservado, visse? Mas acho que é
do Brennand é arretado. Dizem que é um dox me- porque ninguém aguenta entrar lá também... O
lhorex do Brasil. Lá é cheio de caxtelo. Parece que ecossixtema se preserva pelo cheiro. É… a praia de
a gente tá na Europa! Aqui também é a terra que Boa Viagem é onde mais tem ataque de tubarão
melhor cria música no Nordexte. Chico Science e no Brasil… Maix… Isso a gente não comenta, né?
Nação Zumbi fizeram uma mistura arretada e to- E olha, o trânsito do Recife já é maior que o de
talmente nova que ninguém no mundo fez igual até São Paulo. Pense num orgulho que me dá do desen-
hoje. O brega do Rei Reginaldo Rossi também é da- volvimento dessa minha cidade... A Capital do Nor-
qui. E que me perdoem os cantores do Brasil, mas, dexte também é a terceira cidade mais vertical do
como todo mundo sabe, só Reginaldo e Roberto são Brasil. Nenhuma cidade na região tem tanto prédio
reis, e olhe que do segundo tem gente que duvida! quanto a nossa, e muito menos Salvador e Fortale-
E o carnaval daqui… Menino, o carnaval do Recife za... Nosso povo é trabalhador, num é que nem aque-
é altamente democrático! Não é que eu seja piranguei- les baiano não, visse? Já ouvi dizer também que o
ro não, mas aqui não tem aquele aperreiro de cordão sonho de todo cearense é ser pernambucano. Maix
de isolamento que tem lá na Bahia não, visse? Da alta à claro! Meu extado é o Leão do Norte, a Terra dos
baixa, todo mundo participa. É a maior fexta popular Altos Coqueiros, a Nova Roma de Bravos Guerrei-
do mundo! Até O Galo da Madrugada é reconhecido ros, a única Capitania que prosperou, é imortal!
pelo Guinex Buque como o maior bloco do mundo. E Se tu não se convenceu ainda, então deixa de ser taba-
rapax, vou te dizer uma coisa. Galeguinho da Europa cudo e aceite logo a grandeza de Recife, seu caba de peia!
quando chega aqui endoida com o frevo, que é uma

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ENSAIO

DE COMER COM OS
OLHOS
Texto e foto: Camila de Paula

B
olo de rolo, macaxeira com charque, cocada,
cuscuz com manteiga, bolo pé-de-moleque, ta-
pioca, bolo Souza Leão e nego bom são apenas
alguns dos sabores que mostram o quanto a cultura
gastronômica do Recife é diversificada. Com grande
influência africana, indígena e portuguesa, essa diversi-
ficação se mostra evidente na própria característica dos
alimentos, nas suas cores e texturas.

A conservação da tradição é outra característica da


culinária recifense. O bolo de rolo e o bolo Souza
Leão são tipos clássicos dessa valorização. Reconhe-
cidos como patrimônio cultural e imaterial do estado
de Pernambuco, eles estão presentes nos lanches mais
simples, até os grandes buffets. O cuscuz com manteiga
e a macaxeira com charque também conquistaram o
paladar dos recifenses há muitos anos.

Além dos pratos tradicionais, novidades são incorpora-


das às receitas originais a todo momento. É o caso da
tapioca com calda de caramelo, cocada com recheio
de leite condensado e etc. O ensaio “De comer com os
olhos” tem o objetivo de mostrar esses pratos, que tão
comuns no cotidiano do recifense, e provocar sensações
através do olhar.

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MACAXEIRA COM CHARQUE

COCADA

7
BOLO DE ROLO
8
9
CUSCUZ COM MANTEIGA

10
BOLO PÉ-DE-MOLEQUE
11
TAPIOCA

12
13
BOLO SOUZA LEÃO

NEGO BOM
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REPORTAGEM

“Vamo pra
Moeda hoje?”
Uma rua regada à
música e mesa de bar
Texto: Renata de Oliveira
Fotos: Amanda Rocha e
Marcio Teixeira

Na Rua da Moeda está a estátua de Chico Science,


uma homenagem a um dos maiores ícones da mú-
sica pernambucana.

15
B
anhado pelos rios Beberibe e Capibaribe, o torno, a Rua da Moeda andou na contramão, com as
Bairro do Recife é uma ilha que se encontra mesmas formas com sobrados e edificações antigas.
na parte leste do território de Pernambuco. O A via é formada a maior parte por bares e restau-
bairro é considerado um dos principais redutos cultu- rantes frequentados por diferentes pessoas que faz o
rais do Estado, ganhando destaque, principalmente, ponto central da cidade vivo durante o dia e princi-
durante o carnaval com seus polos espalhados pelo palmente à noite. Lá podemos encontrar o chamado
Marco Zero, Praça do Arsenal e Paço Alfândega. “público alternativo”, formado basicamente por jo-
Além disso, também contribui com o desenvolvi- vens em sua maioria universitários que se reúnem nos
mento da economia do Estado. Abriga o Porto digital bares ou se acomodam no chão para beber cerveja,
– um dos principais parques tecnológicos do país, ins- fumar um cigarro e jogar conversa fora. A apropria-
talado no Recife Antigo – e a atividade portuária da ção do espaço por esse tipo de pessoas ajuda a criar
cidade, que até hoje impacta na economia da capital. uma espécie de identidade da rua com seu público,
A localidade também se destaca pela realização de o qual coloca as suas características e ajudar a criar
grandes eventos no Marco Zero da cidade, como o na moeda a imagem de um espaço mais libertário.
carnaval, projetos culturais e os museus Cais do Ser- Por carregar consigo a marca de ser um lugar
tão e Paço do Frevo que garantem à região um cená- transgressor por acolher diversas tribos e funcionar
rio forte para a atração de turistas. Além de funcionar como um reduto mais liberal, a Moeda quase sempre
como uma potência cultural e econômica, o Recife não é bem vista por grande parte da sociedade, as-
Antigo desempenha outras atividades não menos im- sociando-a a um lugar de “desocupados”. Longe dos
portantes como o uso residencial, comercial, serviço olhos de quem a enxerga desta forma, a rua é um es-
de bancos, polos jurídicos e a força pulsante das suas paço que à noite ganha uma vida pulsante. Lá é pos-
ruas, que individualmente compõem uma das suas sível em uma noite ter a vivência de boas lembranças
principais atrações, como é o caso da Rua da Moeda. A Rua da Moeda é um importante ponto
Um dos principais endereços do Recife Antigo, de efervescência cultural e boemia na
a Moeda se localiza nas proximidades do Shopping
Paço Alfândega e da Igreja Madre de Deus. Diferen-
cidade. Localizada atrás do Paço Alfân-
temente da enorme revitalização que alguns pontos dega, seu arredor está cheio de bares e
do Bairro do Recife receberam como o Marco Zero locais de ensaio de grupos de Maracatu
com a instalação de restaurantes e museus em seu en- e Frevo

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A Rua da Moeda, desde a década de 90,
vem sendo o ponto de concentração do
público jovem considerado undergrou-
nd. A rua já nesta época possuia bares,
restaurantes e boates que funcionavam
prizncipalmente à noite. Em meados
de 2003, com a revitalização do Polo
Alfândega e com o funcionamento do
Shopping Alfândega, além do público
noturno, a Rua da Moeda passou a pos-
suir atividades durante o dia e assim
atraindo uma diversidade maior de fre-
quentadores que visitam a localidade.

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regadas a litros e mais litro seja de uma cerveja bem quando dá vou à Moeda depois da aula com a ga-
gelada ou de uma garrafa – ou várias – de carreteiro. lera, e sempre acabo fazendo fotos da rua. Uma vez
o dono de um dos bares me viu com a câmera e na
Uma noite na moeda... hora me pediu pra fazer o registro de um pedido de
casamento que ia rolar por lá. Comecei a tirar fo-
Sem os seus frequentadores noturnos, duran- tos do próprio bar e logo após um cara pegou o mi-
te o dia, a Rua da Moeda se resume a um es- crofone e começou a cantar uma música pra moça
paço público comum, sem a presença dos seus da mesa, na hora o dono do bar pediu pra eu não
elementos vibrantes que a caracterizam: ro- parar de tirar as fotos. No final de tudo ganhei um
das de amigos, música e muita bebida barata. trocado pelo trabalho que eu nem esperava, só por
À noite, momento que aqueles três elemen- estar ali com a minha câmera, e ainda acompanhei
tos se juntam, a interação social da rua se de- um pedido de casamento numa mesa de bar!”, relata
senvolve, ganha vida e passa a cumprir seu pa- com grande empolgação a sua inesperada história.
pel de principal ponto de encontro do recifense Acompanhar uma história de amor, tentar con-
boêmio. Assim, deixa de ser apenas uma via públi- quistar ou reconquistar alguém pela Rua da Moeda
ca e passa a se transformar em um lugar pulsante e não é tão difícil, principalmente quando você traba-
acolhedor, servindo de reduto de bons momentos. lha nela. O músico, Rafael Ricardo, formado pela
“A Inglaterra tem seus pubs, a França seus cafés Universidade Federal de Pernambuco, diz que nem
e o Recife tem a Rua da Moeda”, levando à máxi- sempre as histórias têm finais felizes, e que chegam
ma a megalomania recifense, é assim que fala o es- a ser até engraçadas por isso. “Quem toca em barzi-
tudante de fotografia Márcio Teixeira. Como futu- nho tá acostumado a receber aqueles bilhetinhos com
ro fotógrafo, o estudante passa boa parte do tempo pedidos de músicas e a gente sempre tenta atender
fazendo registros pelo Centro da cidade, e confessa a todos”. Certa vez, de bilhete em bilhete, o músi-
que a sua área preferida é o Recife Antigo. “O Antigo co não contava com uma pequena surpresa. “Uma
tem muita história e só pela fotografia a gente pode vez eu recebi o pedido, toquei e no final sempre digo
não só contar, mas mostrar cada uma delas”, diz. Durante à noite a rua ganha vida com as
Márcio ainda conta que de tanto fotografar o bair- músicas e os barulhos do copo de cerve-
ro, e principalmente a Rua da Moeda, já se depa-
ja embalando as conversas
rou com muitas histórias. “Como eu estudo à noite,

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quem mandou e o nome da pessoa “homenagea- Em 1998, o Bairro do Recife foi tombado
da”. Na hora a moça que recebeu a música disse pra pelo IPHAN como patrimônio nacional,
mim que não ia voltar mais pro seu ex namorado e
graças ao seu plano arquitetônico, paisa-
que ele desistisse. Na hora fiquei sem saber o que fa-
zer, sorri pra moça e comecei a tocar outra música gístico e urbanístico diversificado.
mais “feliz” pra acalmar os ânimos”, conta aos risos. quer bebida barata, sentar pra fumar um cigarro e
Mas não só de amores e desamores vive a vida no- começar a falar sobre qualquer coisa da vida. Além
turna da Rua da Moeda. A via se incorpora no carnaval de sofrer por um amor não correspondido com as
de gente comemorando a chegada de mais um ano de músicas dor de cotovelo que rolam por lá”, lembra.
folia. Grupos de maracatu desfilam na rua enquanto
grupos de amigos aproveitam para jogar conversa fora E é quando o sol se põe que a famosa rua mostra a
ao som de música e bebida. Esses fatores e muitos ou- que veio, seja pra tomar uma cerveja, reunir os ami-
tros contribuem ainda mais para aquela famosa frase, gos ou sofrer por um amor que foi e não volta mais,
que todo bom frequentador do Recife Antigo já deve a Rua da Moeda sempre vai ser uma boa pedida.
ter dito pelo menos uma vez na vida: “bora se encon-
trar hoje na Moeda, ali na frente do Paço Alfândega”?
E como boa recifense, a estudante de Jornalismo
Paula Santose como ela mesma se intitula boêmia
de carteirinha, já cansou de repetir a frase, que já
virou jargão, “vamo pra moeda hoje?”. “Sou estu-
dante de jornalismo, todo mundo sabe que a gente é
liso, na Moeda consigo comprar cerveja e carreteiro
por um preço acessível, e quando me reúno com os
amigos é que fica barato mesmo!”, fala a estudante.
Além do custo-benefício, Paula se diz apaixona-
da pelo Recife, e confessa que sua maior relação de
afeto com a cidade se encontra na Moeda. “Como
não se sentir bem e acolhido numa das poucas partes
libertárias do Recife? Lá a gente pode tomar qual-
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ENSAIO

Pelas águas
do Capibaribe...
Texto e foto: Camila de Paula e Renata de Oliveira

Originário da língua tupi e com o significado de “na


água da capivara” ou dos “porcos selvagens”, atra-
vés da junção dos termos kapibara (“capivara”), y
(“água”) e pe (“em”), o rio Capibaribe é um dos mais
famosos do Recife, funcionando como local de lazer,
fonte de renda e inspirando vários projetos de preser-
vação do meio ambiente.
Cartão postal da cidade, o rio banha 42 municípios
pernambucanos, entre Toritama, Santa Cruz do
Capibaribe, Salgadinho, Limoeiro, Paudalho, São
Lourenço da Mata, antes de desaguar no Oceano
Atlântico, passa pelo Centro da cidade de Recife. Por
toda essa sua imensidão e ser verdadeiramente um
dos pontos altos da capital Pernambucana, foi alvo
de versos do poeta João Cabral de Melo Neto no seu
poema “o cão sem plumas”:

“A cidade é passada pelo rio


como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta Garça branca em meio à poluição.
por uma espada”.

Mas não só de flores vive o Capibaribe, não é mes-


mo? A poluição gerada por anos de agressão vai
desde uma garrafa jogada pelas pessoas até dejetos
que saem dos apartamentos e são despejados direta-
mente no rio. Esses fatores contribuem ainda mais
para dificultar o trabalho dos pescadores da região
que ainda vivem do que o rio oferece.

Apesar de toda agressão as suas águas, o Capibaribe
ainda mostra sua capacidade de resistir, trazendo be-
leza, sustento, história e elevando o Recife à catego-
ria de Veneza Brasileira. O seguinte ensaio procura
mostrar as duas faces do Capibaribe. Com imagens
coloridas, buscamos dar vida à resistência do rio,
com suas práticas de pesca, lazer ou o rio por si só.
Em preto e branco há o retrato da degradação que
suas águas vem passando ao decorrer de décadas.

Agora vamos navegar pelas águas do Rio Capibari-


be...
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Barqueiro fazendo a travessia.

Garrafa de vidro
jogada no mangue.

21
Pedra recostada na beira do rio.

Botijão de gás boiando na água.

22
Material reciclado trans-
formado em iluminação
pendurado na árvore.

Sacolas de plástico no mangue.

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Pessoas praticando stand up.

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REPORTAGEM

O ritmo que
encontrou o Recife
O brega ganhou representatividade, força e entrou de vez
na identidade do povo recifense
Texto: Ícaro Ferreira

MC Japão, um dos nomes da nova geração


de MCs, representando a estética do brega
ostentação
Foto: Facebook/Divulgação

25
E
ra noite de sexta-feira, o horário da boemia. As bandas tratavam de temas próximos, reunindo
Num cantinho da Rua Sete de Setembro, na re- pessoas desses locais e mudando a vida delas, como
gião central do Recife, estava na hora de come- explica Thiago César Melo, proprietário do blog Sou
çar o vaivém dos corpos no salão. Os shorts, as ber- Brega, que analisa a cena local desde 2013. “O bre-
mudas, as roupas despojadas, até mesmo o cheiro de ga é um fator de transformação social. É um negócio
perfume barato no ar: tudo não deixava mentir que que começa, geralmente, com família e amigos: a filha
era mais uma noite de brega na casa de shows 100% que canta, o primo que dança, a mãe que costura a
Brasil. O ritmo representa, para a capital pernambu- roupa dos dançarinos, o tio que vira o empresário…
cana, o comum. É impossível sair às ruas da Veneza Todos vindos da periferia. Daqui a um tempo, já po-
Brasileira sem ser intimado, em algum momento, a dem comprar uma geladeira nova, fazer uma reforma
ouvir as músicas da musicalidade mais recifense de na casa, tudo isso com o dinheiro que vem do brega”,
todas. A relação é tão intrínseca, que a identidade do avalia.
Recife é compartilhada e amplificada com o brega. Nos anos 2000, as bandas saíram das periferias e ga-
Ambos são quase faces de uma mesma moeda. nharam espaço nas televisões locais. Com isso, en-
Essa relação tem início ainda nas décadas de 50 a 60, traram nas residências e bairros da classe média, me-
com a chamada música cafona. Figuras como Regi- diando gostos, quebrando preconceitos e moldando
naldo Rossi - recifense autointitulado Rei do Brega formas de agir. Para o pesquisador de estéticas da ima-
-, Carlos Alexandre Waldick Soriano e Odair José gem e som Thiago Soares, dois fatores são importan-
emergiram nas regiões Nordeste e Sudeste como con- tes nesse processo. “A gente tem que pensar primeiro
trapontos a nomes pomposos como Roberto Carlos num conceito de Bakhtin (filósofo e linguista russo),
e Erasmo Carlos, que faziam músicas para a classe a carnavalização. No carnaval, a gente tem uma inver-
média e a elite. O povo das periferias começou a se são das lógicas. O pobre vira artista, o rico vira pobre,
ver dentro desse novo ritmo de grande apelo popular, os papeis de gênero se invertem, tudo se mistura. A
com letras e melodias simples que falavam de amo- nossa cultura local é carnavalizada. O segundo fator é
res, sentimentalismos exacerbados, traições e outras a geografia. O Recife é uma cidade pequena em exten-
temáticas comuns no dia a dia dos brasileiros. Na são. A periferia está muito próxima dos bairros ricos.
década de 90, o Recife se transformou num ponto de Então, mesmo que você não queira, ao circular pela
interseção entre essa música cafona e a musicalidade cidade, você é agenciado pelo brega”, explica.
da região Norte, fortemente influenciada pelos ritmos
latinos. Com a inserção de elementos presentes no O brega do Recife
então emergente forró eletrônico, surge o brega como O crescimento do mercado desse gênero musical na
conhecemos hoje. capital pernambucana trouxe com ele uma diversida-
As bandas começaram nas periferias, com o auxílio de de ritmos e grupos e públicos. A década de 2000
das rádios comunitárias e das casas de show nas zonas lançou tendências como o suingue e o calypso, que
periféricas da Região Metropolitana do Recife (RMR). possuem raízes paraenses; o brega romântico, com
Foi quando cresceu a identificação do recifense, espe- melodias mais lentas, que dialoga com a música ca-
cialmente o dos subúrbios, com esse gênero musical. fona; e, por último, o brega funk ou brega ostentação,

Reginaldo Rossi, cantor recifense representante da chamada música cafona e autointitulado Rei do Brega.
Foto: Patrick Silva / CC BY-SA (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/)
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que traz conotações sexuais mais evidentes e elemen- O cantor MC Sheldon, há 10 anos no mercado do ritmo,
tos do funk carioca. De acordo a estudante Tamires é um grande e polêmico representante do brega funk
Santos, 28, frequentadora de casas de show focadas local. Foto: Blog Sou Brega
no ritmo, essa diversidade é um dos fatores positivos
do gênero. “O brega é completo. Tem horas em que a
gente quer relaxar e viaja na música, tem horas em que
a gente quer dançar despojado... Em todos os casos, o
brega é o ritmo perfeito”, argumenta.
Em suas diversas vertentes, o ritmo da periferia che-
gou ao resto da cidade, se adaptou e atingiu novos
públicos. Hoje, os MC’s do brega funk/ostentação
tocam em casas de shows nos bairros de elite e exis-
tem novas festas, realizadas em locais mais elitizados,
que ganham a alcunha de “brega cult”. Também não
é difícil encontrar bandas que tocam o brega a par-
tir de uma perspectiva jovem e de classe média. Para
Thiago César Melo, já não é possível pensar, no Recife,
a musicalidade brega unicamente como a expressão tação de apologia à cultura do estupro. Outras, como
da cultura das periferias. “O brega é produzido pela “piriguete” e “coroa”, que também são comuns em al-
periferia, mas todo mundo ouve. As pessoas, quando gumas músicas do brega pernambucano, objetificam
estão numa festa brega, se esquecem do dinheiro, das a mulher.
classes sociais e dos status”, afirma. No ano de 2011, o Polícia Civil de Pernambuco, a pe-
Porém, é nos subúrbios da região metropolitana onde dido do Ministério Público, abriu investigação para
o ritmo se revela, de fato, mais forte, como conta Ta- questionar letras das músicas do cantor MC Sheldon.
mires Santos. “Onde a gente vai na periferia, ‘rola’ o Os versos como “se eu mato, eu vou preso / se eu rou-
brega. Se a gente vai numa casa de show pra assistir bo, eu vou preso / mas se é pra pegar novinha, eu vou
um samba, em algum momento vai ter brega, show de preso satisfeito” e “As de 14, eu tô fora / as de 15 é mui-
forró tem brega. Até se você está na sua casa, termina to nova (sic) / a 16 já tá na hora / 17 eu vou agora” são
escutando o brega que toca na casa do vizinho”, expõe. alguns exemplos socialmente criticados que foram in-
Tamires diz que existem várias casas espalhadas pelas vestigados pela polícia. Para Thiago Soares, é necessá-
periferias da cidade. Entre as que ela mais frequenta, rio observar o fenômeno da sexualização nas músicas
estão o Esquenta Show e o Pagode da Pressão, ambos do brega como uma expressão típica da performance
no Arruda; o Treze, no Vasco da Gama; e o Acadêmi- do gênero, que traz à tona aspectos que existem, mas
co, no Morro da Conceição. que nem sempre encaramos. “São músicas do corpo.
Mas o Centro do Recife, na visão do pesquisador Thia- É um gênero musical que aciona na gente uma perfor-
go Soares, é o local onde o brega toma forma e mos- mance de sexualidade. É como se fosse uma pedago-
tra a sua cara na cidade. Das janelas dos ônibus, nas gia da sexualidade que por um lado é problemática,
calçadas, nas ruas de comércio, no alto falante local, mas ao mesmo tempo extravasa e é libertadora quan-
nas caixas de som nas portas das lojas, ou ao escutar do entramos em contato com ela”, comenta.
o som de um vendedor de CDs piratas, sempre somos Essa tensão entre o brega e a identidade recifense tam-
abordados por alguma música desse ritmo. Às sextas, bém se manifesta como um problema de identidade
sábados e domingos, ou simplesmente durante as noi- cultural. A estética brega é, em sua raiz, a reiteração
tes, é possível encontrar dezenas de bares pelas ruas do estilo de vida das periferias e dos seus habitantes,
da região central com pessoas conversando e bebendo seja nos aspectos do sentimentalismo, das sexualida-
ao som de um brega. Além disso, também existem ca- des corporais e insubmissas, do humor ou da irreve-
sas de show e boates especializadas no gênero, como o rência das populações periféricas. É composta de ele-
100% Brasil e a boate focada no público LGBT MKB. mentos contra-hegemônicos que incomodam setores
Apesar de ser uma espécie de capital do brega, apenas conservadores e contrastam com a erudição e tradi-
concorrendo com Belém-PA, o Recife ainda vive uma cionalidade do frevo, da cultura armorial e do ma-
relação paradoxal com o ritmo. Parte da população racatu. Contudo, são justamente essas temáticas tão
atribui características negativas a essa musicalidade, presentes na música brega que criam a identificação e
especialmente pelo viés sexual que algumas composi- agenciam o ritmo como uma das máximas expressões
ções evidenciam. Palavras como “novinha” têm cono- do ser recifense.

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Recife, Cidade Lendária
Eu ando pelo recife, noites sem fim
Percorro bairros distantes sempre a escutar
Luanda, luanda, onde está?
É alma de preto a penar
Recife, cidade lendária
De pretas de engenho cheirando a banguê
Recife de velhos sobrados, compridos, escuros
Faz gosto se ver
Recife teus lindos jardins
Recebem a brisa que vem do alto mar
Recife teu céu tão bonito

Tem noites de lua pra gente cantar


Recife de cantadores
Vivendo da glória, em pleno terreiro
Recife dos maracatus
Dos tempos distantes de pedro primeiro
Responde ao que eu vou perguntar:
Que é feito dos teus lampiões?
Onde outrora os boêmios cantavam
Suas lindas canções

Letra: Capiba
Foto: André Occenstein / CC BY-NC-ND
(https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/
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ENTREVISTA

O mesmo Recife,
novas dinâmicas
As transformações culturais e comportamentais do recifense
Texto: Douglas Nascimento

H
á mudanças em curso na cidade do Recife
que precisam ser avaliadas e esgotadas com
pesquisas, entrevistas e debates. Valores,
comportamentos, movimentos sociais, entre outros,
fazem parte dessa dinâmica e desempenham um pa-
pel fundamental no reconhecimento/redescoberta
da identidade dos recifenses. Ao contrário do que
ocorre em outras cidades, o Recife vive um momen-
to de forte engajamento político e cultural de parcela
da população, no sentido de reafirmar um passado
histórico e garantir um presente e um futuro com o
mesmo jeito recifense de ser. As gerações Y e Z estão
inseridas nesse contexto e contribuem para essa pre-
servação das práticas culturais, além de garantirem a
construção de um lugar plural e igualitário. Em en-
trevista para esta edição, a pernambucana e douto-
ra em Ciências Sociais pela Universidade Fernando
Pessoa de Portugal, Fabiana Lima, explica essa rela-
ção dinâmica do Recife com seu povo e sua história.

Como circunscrever os limites entre


Foto: Acervo pessoal
um Recife do passado e do presente? dições de vida da maioria de sua população e a sua
produção artística tão aclamada no seu seio e fora
Curiosamente, embora também tenha vivido um dele. Mas, destaco que desde meados dos anos 1960
impulso de modernização nos anos 1950, o Reci- inciou-se um processo profundo de negação dos pro-
fe continuava uma capital um tanto conservadora. blemas sociais que culminaram numa capital extre-
Como se, seu trânsito sempre estivesse entre o tradi- mamente problemática, entre os anos 1980 e 1990. 
cional e a vanguarda. Apesar de sua expressividade
econômica nas décadas de 20, principalmente 30, Como você avalia os vínculos afeti-
40, a cidade sempre conseguiu reunir defensores ar- vos e identitários do povo recifense? 
dentes da sua tradição. Quando lemos Flávio Weis-
man, José Teles, que falam da produção cultural do O povo recifense acompanha a diversidade dos rit-
Recife ao longo do tempo, mais especificamente a mos e classes sociais da cidade. Esses grupos não se
partir dos anos 1950, podemos perceber um Recife encontram aproximados ou mesmo dialogam quan-
que sempre transitou muito bem entre o passado e to a visão política, gostos culturais, práticas de lazer,
o presente, apontando ares de avanço no tempo, de com raras exceções. É como se cada um produzisse
conquistas extemporâneas tão importantes que não dentro de seu espaço delimitado e cada grupo vi-
deveria nada a nenhuma outra grande metrópole. venciasse partes da cidade, uma cidade diversa. Por
Compreendo que o Recife, por ser muitas cidades outro lado, a identidade recifense é muito bem per-
em uma só, de fato flutua entre abismos temporais cebida e definida, os ícones com os quais nos iden-
no que concerne ao desenvolvimento social, as con- tificamos, as nossas representações culturais, por
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venciamos. Posso estar sendo generalista, mas nos-
sos jovens, de ambas as gerações, vivenciam menos
Desde meados dos anos o movimento orgânico e mais o movimento online.
É uma questão bem complexa, pois envolve inclusive
1960 inciou-se um proces- as condições de violência que vivenciamos e o cerce-
amento da expressão própria, pois temos que estar
so profundo de negação dos associados a grupos para expressarmos uma opinião.
A vigilância é em tempo real também e muito presen-
problemas sociais que cul- te, todos se sentem vigilados e são vigilantes. Por isso,
não identifico muita espontaneidade em tal atuação. 
minaram numa capital ex-
O que você acha da movimenta-
tremamente problemática ção em defesa da cidade e do patri-
exemplo, desde o Brega até o Côco, o Manguebeat, mônio histórico por essa geração?
são reconhecidas como partes genuínas do recifen-  
se de todas as classes sociais. Mas não podemos es- Tais movimentações são válidas. O movimento
quecer que o modo de consumo e apreciação dessas Ocupe Estelita, por exemplo, embora interpretado
representações é interpretada e vivenciada de modo como um movimento de desocupados da classe mé-
diferente por cada grupo. Definitivamente, não dia, tem grande importância para a discussão do que
vejo os vínculos afetivos como se estivéssemos num estamos fazendo com nosso patrimônio e as consequ-
grande carnaval (festa onde todos se encontram).   ências disso. Não costumamos discutir a utilização de
espaços comuns a toda população recifense. Isso falta
Podemos considerar o Recife como uma ci- muito. Patrimônio histórico é referência do percurso
dade que valoriza a unidade da diversidade? que determinada sociedade seguiu ao longo do tempo.
É um eixo de reconhecimento: um indicador do traje-
Sim. A diversidade nas mais distintas áreas pro- to percorrido. Muitas vezes, o que temos preservado é
dutivas é uma bandeira. Nossa identidade é marcada parte da história de um grupo privilegiado, fato. Con-
por essa confluência de diversos, que demonstram a tudo, não deixa de contar a história do lugar, onde
nossa capacidade dinâmica de acessar um todo, reco- uma diversidade de classes viveu. Porém, não vejo
nhecendo todas as suas partes e utilizando-as. Essa foi a geração defendendo o patrimônio cultural no seu
a grande “sacada” do Manguebeat, por exemplo. A todo, material e imaterial, do rebuscado das constru-
tal “caldeirada” de representações culturais/ritmos.  ções arquitetônicas até as produções e manifestações
populares. Há uma tendência a enxergarmos pouco
Como você avalia a atuação das ge- do patrimônio e ainda de maneira muito tacanha. A
rações Y e Z - nascidos nas déca- defesa do patrimônio deve ser independente da nos-
das de 80 e 90 - na cidade do Recife? sa vontade de modernização, da nossa formação (não
tem que ser historiador para entender a relevância), do
Desde a geração Y aumentamos a rede e diminu- nosso poder aquisitivo. Mas estamos bem longe disso. 
ímos o contato presencial. Há características dessa
geração que estão fatalmente presentes nos jovens re-
cifenses que tenham até 35 anos, em média. Embora
a geração Z seja mais nova, também reforça cada vez
mais a atuação através de redes sociais, recursos de
mídia online. Para a geração Y a grande volta que
demos foi com a Internet 2.0, a possibilidade de in-
teração em tempo real, de criar perfis, definir o que
apresentar de si. Na geração Z isso se consolida na
criação de personagens, memes, etc. Daqueles que
tenham acesso a rede, que hoje já é grande parte da
população recifense, utilizam as redes como forma de
atuação e expressão. As diferenças políticas e sociais
são abordadas online, com certa superficialidade e
um distanciamento cada vez maior daquilo que vi-

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ENSAIO

CORDEL DO RECIFENSE
Um mói de foto do povo que faz o nosso Recife

Texto e foto: Douglas Nascimento e Marília Rêgo

Debaixo de sol
O sol é forte e queima a cuca
E é debaixo dessa quentura
que a nossa gente segue.
O suor escorre no rosto marcado
da caminhada do calvário
e de resistência e bravura.
De andar pelas ruas
atrás do sustento
pra dá de cumê com fartura.

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Solo Ardente
O solo esturricado de sol
nós nele lutamos
dele colhemos e plantamos
a nossa vida e a nossa sina
de esperar a colheita e a justiça divina.
Gari é gente do bem que vive a caminhar
Limpa o lixo da gente sem vacilar
Uns dizem: - joga que ele limpa
Outros: - não fale tolice
- Pelo trabalho que faz, mereceria uma suíte

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Autônomo
Buscando mudar seu destino
Ele se torna trabalhador independente
Toma de vez a frente
Como um retirante em busca de mudança.
O recifense se vira por conta própria
Pois esse é o único caminho
Pra mudar sua história

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Pescadores da ponte
No sábado de manhã, dois ‘bebuns’ a pescar
Da ponte as redes são jogadas
lançadas ao rio que se encontra com o mar
- Tarrafa, balde e força é o que vão precisar
- “Carangueijo se vende vivo?”
- “Vivo eu vou ficar quando em casa chegar
com meu siri para uma tomar”

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Chapéu de couro e baião
Lá vem o trio de nordestinos
Traje a rigor, imponentes vaqueiros
Sertanejos e seguidores do mestre Gonzaga.
Cada som da flauta assoprada
revela o suor da caminhada
de estar tocando nas ruas para se sustentar.
A zabumba afinada trás a batida do coração
A platéia são os andantes que sentem a emo-
ção
De ver a dedicação desta riqueza popular.

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E é na trilha da despedida
Que encerramos essa prosa recifense
De um ensaio cheio de gente
Com forma destemida.
Repare bem ,seu Zé
Quem faz nossa cidade
É que merece prestígio
Por estar todo dia fazendo seu ofício
E buscando ser feliz como é.

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CONHEÇA NOSSA
EQUIPE Camila de Paula
Marília Rêgo Estudante do 7º pe-
Estudante do 7º pe- ríodo de jornalismo
ríodo de jornalismo pela Universidade
pela Universidade Federal de Pernam-
Federal de Pernam- buco. Possui grande
buco. Aventurou-se interesse pela arte
como editora e de fotografar. Na Re-
fotógrafa na Revista, vista foi responsável
mas deseja seguir a pelo ensaio fotográ-
carreira acadêmica. fico das comidas tí-
Gosta de bons livros picas e também pelo
e informação, reli- ensaio sobre o Rio
gião e série de TV. Capibaribe. Gosta
de viajar e conhecer
outras culturas.

Ícaro Ferreira
Estudante de jor-
Renata de nalismo da UFPE
Oliveira e quase jornalista,
Estudante de jor- é fascinado pela
nalismo da UFPE cultura de massa
e amante de muita e pelos diferentes
cerveja barata. Fre- traços culturais em
quentadora assídua casa sociedade.
de festas e encanta- Gosta do doce, do
da pela história do frio e do escuro. Na
Recife. Na Revista Revista ficou respon-
ficou responsável sável pela crônica
pela matéria sobre a sobre o sotaque e a
Rua da Moeda e o megalomania e pela
ensaio sobre o Rio reportagem sobre
Capibaribe. a relação do Recife
com o brega.
Douglas
Nascimento Pedro de Souza
Estudante do 7º Estudante de sétimo
período de jorna- período de Jorna-
lismo da Univer- lismo pela UFPE.
sidade Federal de Canceriano legítimo,
Pernambuco. Desde apaixonado por
sempre interessado histórias e culturas.
em viagens. mídia e Assumiu o desafio de
religião. Encarou a trabalhar na diagra-
entrevista e o ensaio mação da Revista.
fotográfico do co-
mum no Recife.

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