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Texto Design Constitucional e Política Econômica OK
Texto Design Constitucional e Política Econômica OK
2 Tais como as que constam especialmente dos Regimentos Internos da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal e do Regimento Comum do Congresso Nacional.
3 São exemplos o arranjo legislativo bicameral, o sistema de separação de Poderes, e a
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prospectividade – os agentes de decisão criam regras legais sem saber a
identidade de quem irá infringí-las (o que, por certo, mina a formação de
alianças de legisladores, de vez que torna difícil identificar potenciais
ganhadores e perdedores).
A auto restrição deve ser tal que empreender uma dada decisão em t(1) aumenta a
probabilidade de que se vá empreender uma outra decisão em t(2). Basta que o leitor
acompanhe a trajetória da proposta de reforma da previdência social no Governo
Temer que foi sucessivamente sendo reescrita em contextos mais limitados, para
entender a fugacidade dessa provisão em seu horizonte de validade e propósito
fundamental5.
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Outro exemplo mencionado em MONTEIRO, 2004 é a trajetória do FSE, Fundo Social de Estabilização
Fiscal, em 1993-1995, que deu lugar ao FEF, Fundo de Estabilização Fiscal, em 1996-1999, e em DRU,
Desvinculação dos Recursos da União (MONTEIRO em REZENDE & CUNHA, 2002: 74-75).
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Uma variedade desses comprometimentos define limites ao exercício do poder de
governar. No entanto, tem sido possível expandir tais limites, segundo caminhos
bastante sutis, tais como a opção por viciar a tramitação legislativa de uma proposta
de emenda constitucional, como se tem assistido com a já mencionada PEC 287-2016
no Governo Temer. Desse modo, o significado da Constituição fica abalado em seu
âmago: as regras ficam subjugadas aos resultados politico-eleitorais almejados.
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A frequente reação negativa do Executivo e de lideranças no Congresso Nacional a decisões judiciais
adversas aos interesses majoritários – como observado ao longo de 2017 – indica quão precária tem
sido a observância desse pilar constitucional.
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O que a teoria de escolhas públicas caracteriza de modos alternativos. A Constituição coordena
expectativas e assim criam instituições que estabelecem regras legais em pról da vantagem coletiva;
limita a margem de manobra das maiorias protegendo-as de seus próprios excessos e patologias;
promove os direitos de minorias discretas e insularesndando-lhes condições efetivas de participarem do
processo político representativo; avançam os princípios de igualdade, liberdade e dignidade humana; e,
enfim “configuram a democracia” (VERMEULE, 2014: 1).
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Já escreví extensamente sobre o tema das MP em seu uso e abuso na fundamentação da política
econômica no Brasil. Ver especialmente MONTEIRO, 2004 e MONTEIRO, 2000, 2002 – 3ª. edição, e
minha coluna aqui no Portal “Uma Outra Face do “Déficit de Democracia” na Economia Brasileira”,
27.10.2018.
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preferências da alta gerência econômica do Executivo Federal ´MONTEIRO, 2004;
2000. O mecanismo básico da viabilização de emendas constitucionais – expresso
pelo Artigo 60 – pode, assim, ser amplamente contornado ou mesmo desativado.
IV.Conclusão
O debate econômico brasileiro é ambientado no pressuposto de que as instituições
ou são estáveis ou são determinadas por fora do raciocínio analítico em que as
políticas públicas são engendradas. Os modelos macroeconômicos em geral
incorporam a moldura institucional-constitucional de economias do Primeiro Mundo em
que o grau de estabilidade dessa moldura é muito elevado, diferentemente de
economias como a nossa. Por outro lado, o tratamento exógeno dessa moldura
impede que se possa inverter a causação analítica: qual o arranjo constitucional que
pode ser configurado para um dado conjunto de resultados macroeconômicos pré-
estabelecido? – o que, certamente, amplia significativamente o papel do economista
como designer constitucional.
A política econômica no Brasil ocorre em um ambiente de grande instabilidade
constitucional9 e, assim, o arranjo institucional-constitucional “pode ser robusto em
relação a lapsos e transgressões ocasionais, porém não a desregramentos em larga
escala” (CAIN, 2003:963), como se observa especialmente na atualidade de 2017-
2018. Desse modo, os bons resultados macroeonômicos que vêm sendo obtidos têm
sujacentes uma baixa precisão institucional.
Nesse campo analítico tudo é incerto e, pior, pouco estudado.
9 Uma métrica dessa instabilidade (MONTEIRO, 2007, 2009 – 2ª. reimpressão: 176) é que
cerca de 1/3 das emendas constitucionais aprovadas em 1992-2017 são de grande espectro,
ou seja, repercutem amplamente por todo o texto constitucional.