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ERLO STEGEN
INTRODUÇÃO
A minha história de vida começou em tempos muito distantes.
Começou numa pequena vila no norte da Alemanha entre 1840-1850
onde vivia um pastor Luterano, Louis Harms. Através das suas
pregações Deus trouxe um avivamento na região de Lunenburg. Mais e
mais pessoas vinham à igreja assistir aos cultos, ao ponto de não haver
lugar para acomodar toda a gente. Um culto já não era suficiente e
Louis Harms necessitava de fazer cultos pela tarde também. Mas, logo
se viu que também isso não bastava. Havia, no povo, uma fome enorme
pela Palavra de Deus. No final, decidiu-se fazer três cultos ao Domingo
e algumas pessoas chegavam a caminhar 80 km para assistirem aos
cultos.
Naquele tempo, as pessoas eram maioritariamente pobres. Os filhos
dos agricultores não viviam bem. Bebiam muito e entregavam-se ao
mundo e aos seus pecados. Mas, sob as pregações de Lous Harms, os
jovens começaram a converter-se. Pararam com suas vidas inúteis,
pararam de beber e com suas vidas de mentiras e de falsa moralidade.
Um dia, chegaram a Louis Harms e disseram-lhe: “Pastor, queremos
contar-lhe uma coisa. Temos uma enorme vontade de pregar o
evangelho aos pagãos. Eles também precisam de ouvir esta
mensagem”.
Louis Harms concordou com aquele desejo. Mas, a pergunta surgiu em
seu coração sobre onde seriam formados estes jovens para que
pudessem empreender tal responsabilidade. Então, enviou-os para a
Universidade de Hamburgo. Contudo, duas semanas mais tarde,
estavam de volta a casa muito tristes e desapontados com tudo. Qual
seria a razão? Os professores acharam-nos pouco inteligentes para
pregarem o evangelho. Porém, os jovens não estavam na disposição de
aceitar tal desfecho para as suas pretensões e desejos de pregar o
evangelho de Jesus. Então, Louis resolveu enviá-los para a
Universidade de Bremem, mas, aconteceu a mesma coisa por lá e
foram devolvidos a casa uma vez mais. Mas, nem mesmo este segundo
rude golpe conseguiu demovê-los de pregarem o evangelho. No final,
Louis Harms não viu outra saída para a questão senão criar uma
escola onde formar os jovens como missionários.
Após haver resolvido este problema da formação, apareceu o segundo
problema. Como fazê-los chegar a África? Era o desejo intenso de
Louis conseguir fazer chegar estes missionários à África Oriental, para
a tribo dos Gala, na Etiópia. Era um povo valente, mas, cheios de fome
por honra e conquistas. A vida desta tribo consistia em conquistas e
guerras. Louis estava convencido que conseguiria trazer esta tribo a
Deus e que eles, por sua vez, iriam fazer chegar o evangelho ao resto de
África. Com esse propósito, um navio foi construído. Foi um ato audaz
de pura fé porque a congregação não era propriamente rica. Contudo,
confiaram no Senhor e perguntaram-lhe em oração se Ele iria
providenciar tudo que necessitavam para o efeito. Pouco tempo depois,
um empresário de Hamburgo ofereceu todo o metal e outro material
necessário para a construção do navio. Um outro comerciante
providenciou a madeira e assim construíram aquele pequeno navio que
passou a chamar-se Kandace.
Em 1854, Louis Harms enviou os seus primeiros missionários para
África. Despediu-se deles com estas palavras: “Nunca mais nos
veremos. Despedimo-nos aqui até ao dia que nos veremos no céu”. (De
fato, os missionários nunca mais voltaram para a sua terra natal. Eles
faleceram longe de seu país no meio dos povos pagãos de África. Não
havia sido fácil, mas, eles ofertaram suas vidas para a propagação do
evangelho de Cristo).
Assim, o navio partiu em direcção a África Oriental. Os missionários
aproximaram-se de seu destino e atracaram, cremos, na região de
Mombaça. Mas, logo se aperceberam que as portas da Etiópia não se
iriam abrir para eles. Ficaram profundamente desapontados e não
teriam outra alternativa senão voltarem para a Alemanha. Podemos
apenas imaginar o tamanho do seu desapontamento. A caminho de
casa, o navio atracou em Durban. Ali, os missionários começaram a
tocar as suas trompetes na proa do navio. Merensky trabalhava, na
altura, em Durban. Ele havia sido enviado por uma organização
missionária de Berlim. Assim que ouviu as trompetes, deduziu
imediatamente que se tratava de alemães. Subiu a bordo para conhecer
os missionários de Hermannsburg. Quando terminaram de relatar
toda a sua história de desapontamentos, Merensky confortou aqueles
jovens com as seguintes palavras: “Fiquem aqui no meio da tribo Zulu!
Os Zulus são tão guerreiros quantos os Galas. Tragam o evangelho a
eles porque eles também não sabem nada sobre Jesus”.
Os missionários resolveram aceitar o conselho e ficaram na África do
Sul. Foi o início da obra missionária Alemã entre os Zulus e, desde
então, os Alemães tornaram-se muito familiares para os Zulus.
Depois disso, levou mais dez anos até que a minha família, os Stegens,
embarcassem no Kandace e viessem parar em Durban. Chegaram
para permanecer para sempre na África do Sul. Não chegaram como
missionários, mas, como fazendeiros que desejavam prosperar para
suportarem os missionários na obra de Deus. Houve outras famílias
que chegaram antes e depois deles, mas, foi assim que os alemães
começaram a povoar aquela zona da África do Sul. Não demorou
muito até que houvesse uma comunidade alemã vasta e igrejas deles
por todo lado.
INFÂNCIA E CONVERSÃO
Os meus antepassados que chegaram em 1869 eram de parte de minha
mãe. Da parte de meu pai, chegaram apenas entre os anos 1881-1883.
Na nossa história familiar nunca houve um pregador. Também, já no
ano 1900 toda a família havia perdido contato com os familiares que
permaneceram na Europa. Nunca mais ouvimos falar deles. Alguns de
nós, daqueles que vieram viver na África do Sul, acabaram virando as
costas para Deus com o decorrer dos anos. Meu pai e minha mãe
permaneceram, contudo, dentro de uma disciplina evangélica rígida.
Todos os domingos éramos obrigados a ir à igreja, frequentar os cultos
e não era nada agradável. Por essa razão, eu já havia determinado em
meu coração que, assim que me tornasse adulto, jogaria toda a religião
para o alto e não iria querer saber mais nada de Deus. Claro que era
de esperar que não usássemos o tempo que nos resta para aprofundar
a nossa fé cristã. Muitas vezes, mentíamos para nossos pais para
arranjarmos maneira de escaparmos aos cultos. Recordo-me que, por
vezes, fazíamos planos para jogarmos à bola e inventávamos uma dor
muito grande para podermos ficar em casa na hora do culto. Assim
que os nossos pais saiam para o culto, vestíamos calções e íamos chutar
a bola na rua. Com certeza que já não nos queixávamos de dor!
Apesar dessas coisas, a nossa família tinha fama e nome de quem era
fiel à igreja e de quem frequentava os cultos assiduamente. Mas, a
verdade era que éramos pessoas completamente mundanas. A sala de
dança estava no nosso terreno. O chão era devidamente preparado
durante dias para que as nossas danças corressem bem. Havia
casamentos, noivados e outras coisas que serviam de desculpa para
termos nossas festanças e danças. As pessoas de todo o condado e
arredores frequentavam o nosso salão de bailes particular. Ali bebiam
e dançavam. E esse tipo de vida persistiu até ao dia em que algo
aconteceu em nossa igreja que marcou definitivamente a minha
própria vida e a de outros.
O nosso pastor foi chamado para outro lugar e chegou um outro.
Tínhamos o hábito de levar rebuçados para o culto. Assim, não
adormecíamos nos cultos. Os bombons ajudavam a manter-nos
acordados. Mas, com o novo pastor, as coisas mudaram. Os seus
sermões pegavam em nós e faziam a diferença. Era algo que nos
chamava a atenção naturalmente. E, ainda por cima, ele tinha uma
mão segura sobre nós, as crianças. Lembro que quando havia corridas
de carros em Pietermaritzburg por altura da Páscoa, pediamos que
seus sermões fossem mais curtos para podermos ir assistir a elas.
Então, ele fazia o sermão durar apenas uns dez ou quinze minutos.
Para nós, era uma coisa muito linda e todos afirmavam que aquele era,
realmente, o melhor pastor que alguém podia desejar. “É o melhor
pastor do mundo! É o homem mais certo para nós! Não poderíamos
desejar melhor!” Era o que todos diziam.
Mas, na verdade, o nosso pastor era a pessoa mais infeliz do mundo.
Ele apercebia-se que faltava algo muito importante em sua vida. Nunca
teve paz em seu coração desde a sua meninice. Pensou que alcançaria
essa paz tornando-se pregador da Palavra. Foi assim que saiu para a
Europa para estudar teologia durante um ano. Como era uma pessoa
muito talentosa e inteligente, teve a melhor prestação nos estudos. No
final dos seus estudos, os seus professores não o queriam deixar voltar
para África. Desejavam que se tornasse pregador na Europa e
tentaram de tudo para convencê-lo que toda aquela inteligência nunca
seria prestável ou apreciada em África. A isso respondeu da seguinte
forma: “Sabem, na minha terra (África do Sul) as bananas são todas
tortas e preciso ir lá endireitá-las!”
Os professores concordaram com ele rindo, pois, viram que seria inútil
persistirem contra seu desejo. Deixaram-no voltar a África. Tornou-se
missionário e, com o decorrer do tempo, tornou-se o pastor de nossa
congregação.
Contudo, ficou claro para ele que os seus sermões e obra não
conseguiam preencher as suas necessidades espirituais mais básicas.
Por vezes, ficava com a impressão que deveria trabalhar mais e até
começou a ter mais cultos durante a semana. Como consequência
disso, esgotou-se completamente e já não conseguia terminar a obra de
abrir mais congregações aqui e ali. Toda a situação levou-o a um
esgotamento, o que o levou a consultar um médico Judeu. Após a
consulta, o médico disse-lhe isto: “Eu admiro-me muito que vocês,
crentes, tenham tanto medo da morte. Vejo que os meus pacientes
cristãos dizem que crêem no Messias e são os que mais têm medo de
morrer!”
Para o nosso pastor, aquelas palavras foram como um murro no
estômago. O médico aconselhou-o a parar por três meses se quisesse
evitar um colapso nervoso e esclareceu que, caso isso acontecesse, iria
acabar internado em algum hospital. O nosso pastor não acatou as
palavras do seu médico e foi para casa, desmotivado e triste. Mas, as
palavras do médico sobre os crentes tiraram-lhe a paz que ainda lhe
restava. Depois de pensar lucidamente durante um tempo nelas,
chegou e disse à sua esposa: “Eu não consigo acreditar que não haja
uma pessoa neste mundo que não me consiga ajudar. Tenho
consciência de uma grande falta em minha vida, mas, não consigo
colocar meu dedo no problema. Não consigo ver qual é o problema.
Tenho a certeza que em algum canto deste mundo deve existir uma
pessoa capaz de ajudar-me”.
Partiu em viajem decidido a encontrar alguma pessoa que soubesse
ajudá-lo. Estava decidido a não regressar enquanto não obtivesse todas
as respostas para todas as suas questões, ainda que tivesse de viajar
pelo mundo todo. Foi assim que chegou a Pretória onde encontrou um
evangelista. Era de se saber que havia muita gente que não gostava
nada do evangelista em questão e muitos até falavam mal dele e o
desprezavam. Mesmo tendo conhecimento de tudo que acontecia à
volta desse evangelista desprezado, nosso pastor resolveu, ainda assim,
ir conversar com ele sobre as suas necessidades espirituais. Tinha
esperança de encontrar as respostas naquele homem.
Ao entrar, o nosso pastor teve um grande desapontamento. O
evangelista mal conhecia o Grego arcaico e o seu Hebraico também
não era lá grande coisa. Perguntou-se: “Como é que este homem me
pode ajudar? Ele sabe menos que eu! Se nem conhece os idiomas nos
quais a Bíblia foi escrita, como poderá este homem ajudar-me?”
Contudo, o evangelista conhecia o Senhor Jesus e sabia orar de forma
a ser atendido. Enquanto escutava o seu visitante, clamava a Deus
secretamente: “Senhor, suplico-te que anules as coisas que impedem
este homem de Te ver. Brilha com Tua luz n’Ele porque ele precisa de
Ti”. No fim da visita, o evangelista propôs que orassem juntos. Assim
que se ajoelharam, o pastor entendeu pela primeira vez as palavras de
Jesus: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e
abrir, entrarei e cearei com ele e ele Comigo”, Apoc.3:20.
Foi somente naquele preciso momento que se apercebeu que Deus
sempre esteve fora de sua vida. Não vivia em seu coração – só na sua
cabeça. Com uma fé de criança confiante pediu ao Senhor para entrar
em seu coração. Foi uma experiência maravilhosa para o nosso pastor,
pois, todo seu interior mudou e quando se levantou de seus joelhos
tinha uma paz que nunca havia experimentado. Foi o dia mais
importante de toda a sua existência. Voltou logo para a sua
congregação e no domingo seguinte estava de volta ao púlpito. A sua
pregação havia mudado radicalmente. Era como se o estivéssemos
ouvindo pela primeira vez. Ouvindo todas as suas palavras, dava para
perceber que algo muito significativo havia acontecido com ele. Diante
de nós estava um novo homem, uma criatura completamente nova.
Tudo que lhe aconteceu teve a capacidade de impressionar-nos a todos.
Eu sabia que também precisava de tudo aquilo que meu pastor havia
achado porque eu não conseguia vitória sobre nenhum dos meus
pecados e de minhas tentações. Era uma guerra constante a que se
dava dentro de mim. Éramos seis filhos, cinco rapazes e uma menina.
A menina era a mais nova. Quando íamos para a Santa Ceia, íamos
muito pesados porque as nossas consciências pesavam bastante e
acusavam-nos. Estávamos sempre conscientes da nossa natureza
pecadora nessas ocasiões. Após confessarmos certos pecados e depois
de havermos participado na Ceia, voltávamos para casa mais leves, isto
é, menos pesados. Mas, a caminho de casa, já os meus irmãos
começavam a brigar e tudo voltava ao usual. A verdade é que o
arrependimento chega sempre tarde. Quando chegávamos a casa, já
não tínhamos a paz que havíamos obtido durante o culto da Ceia por
havermos brigado muito no caminho. Isso preocupava-me bastante e
eu sabia que já estava contaminado com pecado novamente. Sentia-me
sujo. Então, percebia que teria de esperar mais três meses para a
próxima Ceia para tornar a confessar os meus pecados. Essa ideia
perturbava-me bastante. Quando chegava a hora que era pronunciado
o perdão de nossos pecados novamente, sentia-me deveras feliz.
Contudo, nada mudava. Continuava sendo desobediente a meus pais,
respondia e falava alto; não honrava meus pais; dava sempre a minha
opinião e fazia aquilo que me apetecia. Variadíssimas vezes, apercebia-
me que agia mais como um filho do diabo que um filho de Deus. A
minha consciência perturbava-me continuamente e tinha plena
consciência que desprezava o mandamento de Deus, o qual diz-nos
para honrarmos nosso pai e nossa mãe. Sabia que pecava contra Deus,
principalmente nesse aspecto. Tudo isso fazia-me muito infeliz e dizia:
Senhor, eu nunca mais farei tal coisa, nunca mais cometerei tal pecado.
Não quero mais ser assim”. Mas, não demorava muito e voltava tudo
ao mesmo.
O nosso pastor exteriorizava a sua nova relação com Jesus. Ele vivia
um momento lindo. Pregava que precisamos de Jesus
incondicionalmente em nossas vidas e que não teríamos como nos
libertar de nós mesmos de outra maneira, porque somente Ele pode
libertar-nos de todos os nossos pecados. Somente Ele poderia
fortificar-nos ao ponto de obtermos êxito total lutando contra os nossos
pecados. Isso causou uma transformação em minha própria vida. Eu
orava com lágrimas: “Senhor Jesus, preciso muito de Ti! Liberta-me
da minha desobediência, da minha vontade de brigar e da minha boca
grande!” E tudo mudou. Já não era preciso que alguém me dissesse
para ir à igreja e sentia-me muito mal quando não podia ir. O Senhor
Jesus também começou a operar em nossa casa. Não demorou muito
até que o salão de danças e de bailes fosse transformado em um lugar
onde a Palavra de Deus era pregada e ensinada. Aos poucos, chegava
mais e mais gente para ouvir o evangelho em nossa casa.
Após a minha conversão, a Bíblia tornou-se o livro mais amado e mais
querido. Nunca fui amigo de leitura e até mesmo na escola a leitura
era, para mim, um castigo enorme. Mas, assim que Jesus entrou em
meu coração, tudo mudou e eu podia ficar horas e horas, noite e dia,
lendo a Bíblia e lendo todos os livros sobre avivamento. O meu coração
ficava cheio de alegria lendo como as pessoas vinham a Jesus e
verificando como os seus corações eram profundamente tocados pelo
Deus vivo. A Bíblia tornou-se o livro mais importante da minha vida e
perdi a vontade de fazer qualquer outra coisa. Não havia nada mais
com valor para mim.
Quando a minha família saia para visitar alguém, eu tratava sempre
de arranjar uma desculpa para ficar em casa. Nunca lhes contava que
desejava ficar em casa para ler a Bíblia e cantar do hinário de Salmos
que tinha. Antes disso, nunca alguém me via cantar. Mas, Jesus mudou
tudo em mim, pois, eu já não conseguia ficar sem cantar. Sempre que
ficava sozinho em casa, pegava em minha Bíblia e lia-a de joelhos.
Quando a família estava em casa, eu pegava na Bíblia e dizia-lhes que
ia caminhar um pouco. Desaparecia entre as plantações de árvores e
passava ali horas muito agradáveis e produtivas. Jesus falava mesmo
comigo. Onde fosse ou onde estivesse, no campo ou em cima do trator,
meu Novo Testamento estava sempre comigo. Lia um capítulo atrás do
outro e até os memorizava. Ninguém me obrigava a fazer isso, mas, a
própria Palavra criava um desejo enorme e ela vivia dentro de mim.
Era, para mim, mais doce que o mel.
Os meus colegas de escola vivam uma vida superficial e inútil.
Passavam seus dias com as moças. Não conseguiam entender por que
razão eu era diferente e que proveito eu tirava de tudo aquilo. Não
entendiam como é que eu podia passar horas lendo minha Bíblia. Mas,
a verdade é que Jesus significava muito para mim. Ele era grandioso a
meus olhos. Tornou-se o meu primeiro amor. Experimentava uma
alegria muito profunda e inexplicável. Sentia um grande
encorajamento através das promessas que o Senhor fazia na Bíblia.
Por exemplo, João 15:7: “Se vós estiverdes em mim e as minhas
palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será
feito”. E eu pensava para mim que, nem que fosse a única promessa
existente na Bíblia, ainda assim seria a pérola mais preciosa na face da
terra. Contudo, não era a única promessa. Li mais adiante: “Até agora
nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo
se cumpra”, João 16:24. Estas palavras enchiam-me de um gozo
inexplicável. Se era verdade aquilo que lia, podia pedir qualquer coisa
para que a Sua alegria em nós transbordasse e fosse plenamente
aperfeiçoada. Outra promessa que causou uma grande impressão em
meu espírito: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em
mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas,
porque eu vou para meu Pai”, João 14:12.
Todas estas coisas aconteceram entre os anos 1949 e 1951. Ainda era
muito jovem e tudo era aceite e crido com uma fé espontânea de
criança. Sempre que lia as palavras de Jesus que diziam “Na verdade,
na verdade, vos digo…” eu cria nelas como se da verdade se tratasse e
nem questionava nada. Jesus não era mentiroso! Em Mateus, Marcos,
Lucas e João eu lia sobre as obras de Jesus e dizia para mim que, se
deveras crêssemos em Jesus e a Sua palavra fosse viva em nós, de
acordo com aquela promessa, faríamos qualquer obra que Ele fez e até
mesmo obras ainda maiores que aquelas. Não consigo achar palavras
para explicar tudo o que aquilo significava para mim na altura. Era
como se o Céu se tivesse aberto! Jesus e a Sua Palavra eram tudo para
mim. Não tinha tempo para moças e para qualquer outra coisa do
mundo.
O CHAMADO DE DEUS
O pensamento de alguma vez tornar-me Pastor nunca me cruzara a
cabeça. Eu sempre dizia: “A coisa mais ruim é alguém ser professor.
Mas, alguém ser pastor ainda é pior que isso!” Meus pais e avós
desejavam muito que me tornasse fazendeiro. Mas, o meu alvo era
fazer dinheiro e ser rico. O dinheiro era o meu deus. Já quando era
criança desejava ser rico e até cheguei a fazer uma plantação de tabaco
para vendê-lo. Enquanto os meus amigos queriam andar com as
moças, eu fazia tudo para andar atrás de dinheiro. O meu pensamento
era: “Primeiro o dinheiro. Depois, as outras coisas”.
Eu não pensava sequer na obra missionária. Após haver completado a
escola, prontifiquei-me logo para ir ajudar o meu pai em sua fazenda,
onde morávamos e trabalhávamos felizes. Foi ali que, pela primeira
vez, ouvi o chamado de Deus de forma inesperada. Chamava-me para
ir trabalhar na Sua vinha. Minha mãe havia oferecido um livro a cada
um de nós pouco tempo antes disso. O livro que me calhou foi um de
Werner Heukelbach. Era a história de um homem que experimentara
uma transformação em toda a sua existência e vida. Antes havia sido
um homem iníquo e pecador e, mais tarde, um evangelista. Aquele
livro chegou a mim no momento mais apropriado. Não poderia ter
chegado em melhor altura. Foi, então, que senti que Deus me queria na
Sua obra. Disse de pronto: “Senhor, se me pedires isso, estou pronto e
disposto para ir”. Naturalmente que naquela fase de primeiro amor e
de grande entusiasmo pessoal, eu não havia feito as contas sobre tudo o
que me iria custar. Dirigi-me de imediato aos meus pais, irmãos, irmã
e, também, ao meu pastor, dizendo que eu estava seguro que Deus me
estava chamando para a a obra missionária. O nosso pastor ficou
muito entusiasmado e convidou-me para ir com ele para Transvaal-
Este. Havia ali uma conferência onde iriam estar os melhores e mais
conhecidos evangelistas do mundo. Concordei e tinha a convicção de
que aquela conferência seria uma enorme bênção para mim.
Era a primeira vez que me afastava da minha família e da fazenda. Lá
no Transvaal tive muito tempo para pensar e repensar na decisão
sobre o meu futuro. Foi então que me apercebi que seria o fim do
trabalho na fazenda que muito amava. Iria deixar os meus pais e
irmãos. E também não conseguia aceitar ser um pastor pobre e viver
como um pobre coitado. O dinheiro ainda significava muito para mim.
Os meus pensamentos começaram a ver a vida que o nosso pastor
levava e muitos outros iguais a ele. Via como eles apenas sobreviviam
na pobreza e não faziam mais nada senão pregar, batizar e enterrar
pessoas nos funerais. Eu reconheci que eu não desejava ser assim.
Definitivamente, aquilo não era obra para mim!
Assim, estava disposto a recuar na minha decisão porque eu
simplesmente não estava na disposição de seguir por aquele caminho.
Naquela conferência havia, de fato, bons pregadores. Quando assistia o
culto da noite o meu coração clamava alto e dizia: “Senhor, estou
disposto a seguir-te, quero seguir Teu caminho”. Mas, na manhã
seguinte, o meu coração estava novamente endurecido e decidi que ia
voltar para casa. Escutava mais um culto à noite e desejava seguir ao
Senhor. O meu coração derretia-se a favor do Senhor e de Sua causa e
estava disposto a atender o Seu chamado. Mas, no dia seguinte,
repetia-se aquela dureza novamente. E assim continuava até que uma
manhã decidi mesmo voltar para casa e tornar-me fazendeiro. Mas,
havia um problema que eu não sabia como resolver: havia afirmado ao
meu pastor que ouvira a voz de Deus e que Ele me chamara. O que
responderia se ele me perguntasse qual a razão por que mudara de
ideia? Antes, havia dito claramente que Deus me havia chamado para
a Sua obra e até convenci todos que estava firme na minha convicção.
E agora precisava arranjar maneira de sair daquela enrascada.
Estava, deveras, desolado.
Mas, um outro problema surgiu. O que responderia à minha mãe
quando ela perguntasse como é que a minha volta para casa rimava
com o tal chamado que eu afirmei vir de Deus? Aquelas questões
perturbavam meus pensamentos. Até que cheguei a uma ideia
brilhante: na conferência falara-se de como algumas pessoas
afirmavam haver tido uma palavra de Deus quando abriam as
Escrituras. A ideia surgiu e vi nela uma maneira de sair daquela
situação complicada onde me metera. Diria ao meu pastor que havia
ouvido mal ou que, talvez, Deus me tivesse colocado à prova como
colocou Abraão quando lhe pediu para sacrificar seu filho, Isaque.
Deus só desejava colocar à prova a capacidade de Abraão obedecer-
Lhe. Deus somente quis provar a sua fidelidade a Ele. Tal como Deus
permitiu que Isaque ganhasse sua vida de volta, desse mesmo jeito
Deus permitia que eu voltasse para a minha. Ganhava minha vida de
volta como Isaque e ia trabalhar na fazenda completamente dedicado a
Ele. Mas, precisava confirmar isso com uma palavra abrindo as
Escrituras em qualquer lugar.
Também poderia usar o mesmo argumento com minha mãe. Fazendo
isso, tudo se encaixaria dentro da verdade que eu supunha. Ninguém
iria discutir mais comigo e todos concordariam com os argumentos
apresentados. Resolvi afastar-me dali um pouco sentei-me em cima
duma rocha. Só precisava pedir a Deus uma palavra na Bíblia, onde
ela se abrisse. Peguei em minha Bíblia e expliquei ao Senhor como Ele
havia de proceder comigo, e como devia dar-me uma palavra que
revertesse toda a minha decisão. Expliquei-Lhe o queria de minha
vida. Eu iria trabalhar numa fazenda minha e usaria o meu dinheiro
para suportar a igreja e os missionários. A minha casa estaria à
disposição de Deus para estudos bíblicos, reuniões de oração e
quaisquer cultos. Expliquei a Deus tudo que sentia nos mínimos
detalhes. Era isso que desejava para a minha vida. Então, orei:
“Senhor, não desejo fazer todas estas coisas sem Ti. Preciso da Tua
bênção sobre a minha decisão e sobre tudo que irei fazer por Ti.
Agora, preciso que me dês uma palavra para confirmar todos estes
planos que tenho e os quais compartilhei contigo”. Atrevi-me a abrir a
Bíblia na esperança que algum versículo se destacasse e estivesse em
negrito. Mas, foi um desapontamento total. Os meus olhos caíram
sobre um versículo de letras normais no lado direito da Bíblia. Como
isso aconteceu não sei dizer, mas, vi aquele versículo: “Vinde após mim
e eu vos farei pescadores de homens”, Mat.4:19.
Fiquei zangado e fechei a minha Bíblia com estrondo como se tal coisa
fosse capaz de tirar de mim aquelas palavras que não desejei ver ao
abrir a Bíblia daquela maneira. Eu estava a ferver por dentro e na
minha raiva disse: “Senhor, vou-Te mostrar que eu não farei isso! Eu
não me tornarei pescador de homens nenhum! Eu não quero isso para
a minha vida e prefiro passar pela vida sem Ti do que fazer isso!”
Voltei para o lugar das conferências, arrumei as minhas coisas e disse
ao meu pastor de forma grossa e curta que estava voltando para os
meus pais na província do Natal. Ele ficou tranquilo e não me disse
nada. Mas, passado um pouco de tempo acabou por me dizer:
“Erlo, tens a certeza que essa é a vontade de Deus para ti?”
“Sim, claro que tenho!” disse-lhe e tornei a confirmar-lhe uma
vez mais.
“Então, não desejo tornar a falar sobre este assunto contigo.
Quero que seja a última vez”.
INVESTIGA-TE A TI MESMO
No inicio do avivamento, havia entre nós um Cristão muito sóbrio e
cheio de boa vontade. O seu coração estava em fogo para Deus. Nunca
o vimos fora de si e estava sempre calmo e na maior paz de espírito.
Uns dois ou três dias depois de nos havermos começado a reunir no
estábulo, o irmão perguntou-me:
“Erlo, onde, na Bíblia, vêm aquelas palavras que estavam
ontem ali na parede?”
Olhei admirado para ele. Disse-lhe que não havia nada escrito na
parede e nunca houve. Mas, ele insistiu dizendo que estava algo escrito
na parede no dia anterior. Dizia que na primeira linha a frase tinha
escrita a palavra “test” em inglês e na linha de baixo estava a palavra
correspondente para “provai” em Zulu. Tentei convencê-lo que não
havia nada escrito na parede no dia anterior. Contudo, ele abanou a
cabeça e assegurou-me que vira aquelas palavras escritas na parede,
acima da porta e eram muito claras. Explicava com muita precisão o
que havia visto. Eu fui olhar para o lugar onde ele apontou, cheio de
dúvidas e não conseguia ver nada. Não via nenhum vestígio de cola ou
algo ali que houvesse segurado as letras que ele afirmava ter visto. Não
havia nenhum buraco de prego e nenhum vestígio de qualquer pedaço
de papel que pudesse ter estado colado ali com letras.
Quando cheguei em casa, peguei na minha Bíblia inglesa e pedi ao
Senhor para me falar através da Sua Palavra. Abri-a e os meus olhos
caíram sobre 2 Cor.13:5: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis
na fé; provai-vos a vós mesmos”. Eram as palavras que o irmão havia
visto. Eram as palavras “Examinai” e “provai”. Fiquei de boca aberta,
olhando aquelas palavras. Fiquei admirado de nunca me ter
apercebido daquele mandamento colocado daquela maneira. E, a
partir de então, aquelas palavras foram de extrema importância para
nós. Foram uma enorme bênção. Tornaram-se como que a nossa
bandeira, o nosso estandarte. E desejamos muito ser obedientes a esta
palavra até ao fim. Devemos investigar tudo e, depois, colocar à prova.
Mas, acima de colocarmos algo ou alguém à prova, devemos, em
primeira mão analisarmos a nós próprios e colocar-nos a nós mesmos à
prova. Podemos, por exemplo, perguntar a nós mesmos as seguintes
perguntas: como está a minha vida neste momento? Ainda caminho
conforme a verdade? Ou será que já me desviei? Sobre essas
perguntas, a Palavra de Deus dá-nos respostas concretas e com ela nos
devemos comparar ou julgar. Infelizmente, as coisas acontecem entre
os Cristãos de maneira muito diferente. Eles antes comparam-se uns
com os outros e medem-se pelas pessoas. Depois dizem como crianças:
“Eles fazem isto ou aquilo! Por que razão não podemos nós fazer o
mesmo? Por que razão não posso estar satisfeito com a minha vida
Cristã se as pessoas não apontam erro em mim e se me sinto como
sendo melhor que a maioria dos Cristãos da minha congregação?”
Quantos pensam assim e agem em conformidade! A bíblia, contudo,
ensina-nos a colocar-nos à prova sob a luz da Palavra de Deus e não
sob a luz dos demais, comparando-nos uns com os outros. Devemos
olhar e julgar as nossas vidas e corações somente à luz das Escrituras,
pois, é através dessa luz que temos de viver cada dia de toda a nossa
existência. Se nós próprios nos colocássemos sempre à prova para ver
se a nossa fé ainda está de acordo com aquilo que as Escrituras dizem e
afirmam, vendo se cremos conforme a Bíblia, seguramente que os rios
de água viva que a Bíblia promete nunca deixariam de fluir. Seríamos
rios enormes repletos de água viva pura. Contudo, se não nos
julgarmos, o Senhor irá fazê-lo e irá medir-nos à luz das Escrituras
muito em breve. Ele mesmo o fará, mais tarde ou mais cedo.
Provavelmente irá acontecer numa altura que menos esperamos que
aconteça.
Aprendemos isso, também, através de algo que aconteceu na Bíblia.
Belsazar, filho de Nabucodonosor, rei da Babilônia, sabia muito bem
tudo que havia acontecido com seu pai e que ele perdera a inteligência
de pessoa e ficou comendo erva como animal durante sete anos. Mesmo
tendo pleno conhecimento e consciência disso, Belsazar não se
humilhou diante de Deus para que pudesse continuar numa vida que
agradava à carne. Um belo dia, fez uma grande festa para alegrar-se e
folgar. Comia e bebia vinho juntamente com as muitas mulheres que lá
se encontravam. Muito animado, mandou buscar os utensílios que
haviam sido tirados do templo de Deus em Jerusalém e que haviam
sido trazidos para a Babilônia. Trouxeram e eles, juntamente com os
seus convidados, bebiam vinho usando esses utensílios consagrados a
Deus. Mas, de repente, viu uma mão a escrever na parede: “MENE,
MENE, TEQUEL, UFARSIM”. Um enorme temor apoderou-se dele
logo ali, ainda que era um rei muito poderoso e destemido. Gritou e
perguntou a todos ali presentes se havia alguém capaz de interpretar
aquelas palavras. Ninguém apareceu capaz de fazê-lo nem mesmo
havendo prometido um galardão grandioso a quem conseguisse fazê-lo.
A rainha, contudo, sabia de alguém que poderia facilmente interpretar
aquelas palavras porque servia o Deus vivo. Era Daniel. Ele já havia
feito interpretações corretas e maravilhosas no reinado do seu sogro.
Daniel foi convocado para comparecer diante do rei da Babilônia.
Quando compareceu, lembrou-se de tudo aquilo que acontecera com
Nabucodonosor e disse: “E tu, Belsazar, que és seu filho, não
humilhaste o teu coração, ainda que soubesses tudo isto. E te levantaste
contra o Senhor do céu (…) em cuja mão está a tua vida”, Dan.5:22,23.
Deus pesou a Belsazar no momento que ele menos esperava, mais
precisamente no momento que estava bêbado. Deus pesou-o e achou-o
em falta. A verdade é que Deus sempre usou a mesma medida, seja
para quem for e em que ocasião for. Quando coloca o peso da Palavra
do outro lado da balança, a pessoa não pode estar mais leve, seja ela
quem for. Qualquer pessoa precisa equilibrar a balança e não ser mais
leve que o peso da Palavra de Deus. Ele não esperava ser pesado pela
balança de Deus naquele momento. Então, nós devemos pesar-nos
nessa balança diariamente para ver se ainda permanecemos na fé.
Alguém pode perguntar como se faz isso. Basta abrir a Palavra de
Deus! Ela mesma nos julgará. Por exemplo, o Velho Testamento diz:
“Não matarás”; mas, o Novo Testamento chama alguém de assassino
quando se zanga com seu irmão e grita com ele. É somente um exemplo
dessa medida pela qual todos nós seremos medidos. Lemos, por
exemplo, em Mat.5:23-24 o seguinte: “Portanto, se trouxeres a tua
oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa
contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta e vai reconciliar-te
primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta”.
Vejam bem como a Palavra de Deus coloca esta questão e não tirem e
nem acrescentem nada dela. Ali, não diz apenas que devemos fazer isso
quando temos algo contra o nosso irmão, mas, quando nosso irmão tem
alguma coisa contra nós. Não deve pedir que seja o irmão a vir falar
consigo, mas, você é quem deves ir falar com ele. Só depois disso é que
qualquer tipo de oferta será aceitável para Deus. É essa a medida da
balança de Deus. Se você pesar-se a si mesmo dessa maneira enquanto
há tempo, da maneira que a Bíblia diz para fazê-lo, não verá se está
abaixo do peso que Deus coloca no outro lado da Sua balança ou se
você equilibra o Seu peso? Nabucodonosor e seu filho foram colocados
na balança e foram achados mais leves que o peso de Deus. A balança
tombou. Como estamos nós? A nossa balança está equilibrada ou
tomba para o lado do peso de Deus? A Palavra é mais pesada que as
nossas vidas?
Toda a Palavra de Deus é um espelho no qual nos devemos olhar.
Devemos colocar-nos perante a luz da eternidade. Você sabe que o
espelho somente reflete aquilo que é colocado diante dele. O espelho
nunca mente acerca do que revela. E se não for colocado, não reflete
nada. Devemos colocar-nos a nós mesmos diante desse espelho
diariamente para vermos se está tudo em ordem. Se, realmente,
desejamos pesar a nossa espiritualidade, devemos colocar-nos à luz da
Palavra de Deus. Devemos ser colocados perante ela. Só através dela
devem ser medidas e pesadas todas as nossas obras, palavras e
pensamentos. Quando digo isto, não significa que devemos tirar os
nossos olhos de Jesus e antes precisamente o contrário. É precisamente
por Jesus (que também é a própria Palavra) que nos devemos pesar,
colocando-nos diante do espelho. Se colocarmos os nossos olhos
somente n’Ele, na Sua Palavra, no Seu amor, na Sua santidade e
misericórdia para transformar, a Sua vida deixará as Suas marcas em
nós. É isso o avivamento. O avivamento que recebemos de Deus não é
nada mais que isso. É algo nascido da própria Palavra de Deus. Este
avivamento entre nós aconteceu precisamente porque alguns poucos
Cristãos reuniram-se diante da Palavra de Deus e pesaram-se através
dela. A Palavra teve a oportunidade e a capacidade de falar com eles e
de os colocar na balança de Deus. Quando, em 1966, decidiram
investigar a Palavra de Deus minuciosamente e espelharem-se nela, o
avivamento começou.
Os crentes ali diziam que, se houve alguma era na história deste mundo
onde os Cristãos mais precisaram da Palavra de Deus, essa era é
aquela em que vivemos. Os apóstolos só tinham parte das Escrituras
completas, mas, nós que temos toda a Escritura, não temos como nos
desculpar! Quando Jesus caminhava com Seus pés nesta terra, Ele
mesmo disse que não estava ali para julgar o mundo, mas, que a Sua
Palavra o faria. Seria a Palavra a julgar. É por essa razão que devemos
prestar a maior atenção à Palavra de Deus. A Palavra de Deus deve ser
a nossa medida, a nossa orientação. É por ela que nos devemos testar e
provar diariamente. Se não o fizermos, iremos seguir com a corrente e
iremos parar no inferno, como a maioria dos crentes. Não podemos
seguir o caminho da maioria e nem os caminhos das pessoas e dos
pregadores, mas, das palavras de Jesus. É por ela que nos devemos
medir. Não podemos seguir atrás dos costumes e das lendas tal e qual a
maioria dos Cristãos faz hoje em dia. Não nos podemos habituar,
também, às coisas que a maioria dos Cristãos se apegou com o decorrer
dos séculos e que as igrejas defendem. Não são esses costumes que nos
irão julgar um dia.
Sabia que se lançarmos uma rã na água quente ela morre logo e que, se
a colocarmos na água fria e começarmos a aquecer a água
gradualmente ela aguenta-se muito mais tempo com vida? A rã
aguenta-se com vida até temperaturas muito altas se formos aquecendo
a água gradualmente porque o seu organismo começa a adaptar-se à
temperatura conforme ela vai subindo. Da mesma maneira, as pessoas
podem acostumar-se a muitas coisas se forem colocadas nelas
gradualmente. As coisas do mundo que estão em direta oposição e
inimizade à Palavra de Deus começam a entrar em nossas casas
gradualmente e acabam em nossos corações sem que nos façam sentir
mal. Essas coisas foram entrando na igreja sutilmente e foram
moldando e adaptando o corpo e o organismo para não se sentirem mal
com as coisas do mundo. Hoje, o mundo reina em paz dentro das
igrejas de todo mundo e, quem se opuser a isso, é prontamente
excluído! Os corações e as almas dos Cristãos estão sendo governados
pelas coisas do mundo e assim desejam permanecer. Essas coisas
acontecem de forma tão gradual e tão sutil que poucos se dão conta
desse esquema sábio do diabo. Devemos levar isso em conta. Se não o
fizermos, podemos habituar-nos ao mundo e ao mundanismo de tal
maneira que acabamos por ser arrastados e arrastar muitos conosco
para o abismo.
No Oceano Índico existem correntes fortes abaixo da superfície da
água. Em cima, a água está parada, mas, na parte de baixo existem
muitas correntes poderosas capazes de arrastar muita gente para as
profundezas. Também existem correntes na superfície, as quais não
arrastam para as profundezas, mas são capazes de arrastar para
dentro do mar sem que alguém se dê conta. E, de repente, a pessoa é
lançada contra rochas por haver-se afastado da praia. E porque
acontece isso? Porque as pessoas desatentas são levadas por não
prestarem atenção e pagam essa falha com a sua vida. Espiritualmente
falando, aprendemos uma grande lição com este Oceano. Devemos
prestar a maior atenção às Escrituras e colocar-nos constantemente à
prova perante elas. Ainda sou um Cristão na verdadeira essência da
Palavra? Ainda me baseio e me firmo somente na Palavra de Deus?
Permaneço igual à Palavra e ao que ela diz? Faço somente e
integralmente aquilo que vem na Palavra tal e qual ela diz? Faço tudo
quanto Deus me manda e tudo aquilo que Ele espera que eu faça logo e
da maneira que Ele exige? Estou ao nível espiritual que devia estar?
Ou será que me deixei levar pelas correntezas sutis do mundo sem
aperceber-me disso?
Pouco tempo atrás aconteceu uma coisa entre nós, em Kwasizabantu,
que foi uma grande lição para todos. Um homem de origem alemã,
cujos pais vieram há muitos anos para a África do Sul, ocupava um
excelente cargo em seu emprego. Era um especialista em sua área e
todos os Cristãos da sua congregação consideravam-no um excelente
exemplo. De repente, adoeceu. Foi a médico e, depois de consulta
minuciosa, ficou a saber que os médicos nada mais podiam fazer por
ele. Estava com câncer em um estado muito avançado. Não havia
qualquer esperança para ele. Podemos somente imaginar o grande
choque que a notícia causou nele. Foi um grande impacto. Um dos
nossos cooperadores foi visitá-lo e ele contou-lhe:
“Desde que tomei consciência da minha doença, começou a
acontecer uma coisa muito estranha comigo. Dia e noite toda
a minha vida passa diante de mim, desde os tempos de
criança. Lembrei-me de uma coisa que prometi a alguém, a
qual nunca cheguei a cumprir. Liguei, de seguida, ao meu
filho pedindo-lhe para levar-me à pessoa em questão. Quando
cheguei lá, expliquei que já não me restava muito tempo de
vida e que Jesus estava colocando todo o meu passado diante
dos meus olhos. Fez-me lembrar das minhas culpas
misericordiosamente e mostrou a minha falta de fidelidade.
Fiquei convencido que sou um grande mentiroso. Para
compensar o incumprimento da minha promessa, passei um
cheque com uma quantia enorme.
Olhou para os olhos do missionário que o visitava e disse ainda:
“Meu querido irmão, preciso preparar-me para entrar na
eternidade! O passado está encerrado e tudo acaba aqui. Não
quero mais saber de política, não tenho mais tempo para esse
tipo de coisas. Não me interessa saber de nada do que se
passa neste mundo. Anteriormente, era algo importante em
minha vida. Mas, agora, nada disso conta mais e nada disso
me interessa. Os meus pensamentos não conseguem digerir
nada que pertença a este mundo. Todas as minhas obras,
palavras e ações são nitidamente colocadas diante de mim.
Peço perdão por ter vivido assim, interessando-me por muitas
coisas deste mundo e ter vivido da maneira dele por longo
tempo”.
Foi assim que aquele irmão partiu para a eternidade. Encontrou o seu
fim inesperadamente. Ainda bem que, para ele, ainda houve um
tempinho para achar misericórdia.
Nos Estados Unidos vivia uma moça muito linda. Era a menina do olho
dos seus pais orgulhosos. Ela destacava-se muito das outras moças e
sabia-o. Já na escola, todas as pessoas seleccionaram-na como a mais
bela. Quando estava na Universidade, foi escolhida como a mais bela
de todas. Quando olhavam para ela, não conseguiam parar olhar. Os
seus pais orgulhavam-se muito disso e sentiam-se vaidosos por
haverem sido eles a trazerem tanta beleza para este mundo. Foi eleita
como a rainha da beleza e uma grande festa foi programada para a
ocasião. Os próprios pais recolocaram a coroa dela sobre a sua cabeça.
Estavam muito felizes e muito orgulhosos de sua filha. Quando
terminou a festa, os pais despediram-se da filha e foram para casa.
Assim que chegaram a casa, o telefone tocou. A mãe atendeu e ouviu a
voz de um médico muito preocupado:
“Venham imediatamente para o hospital. Houve um acidente
e a vossa filha encontra-se em estado muito grave. Encontra-
se na unidade de cuidados intensivos”.
Quando os pais chegaram ao hospital e entraram na unidade de
cuidados intensivos, não conseguiam reconhecer a filha. Tinha o rosto
completamente inchado e destorcido. Estava deitada numa cama
especial porque tinha o pescoço quebrado e os seus pés estavam
desfeitos. Estava toda entubada e havia muitos aparelhos à volta da
cama. A mãe ficou calada, em estado de choque e sem expressão.
Sentou-se ao lado da filha. A moça estava consciente de tudo e
apercebeu-se da proximidade da sua mãe. Abriu os olhos e sussurrou:
“Mãezinha, chegou a minha hora. Estou às portas da morte.
A senhora ensinou-se sempre como uma menina deve
arranjar-se e maquiar-se, como devia acender um cigarro e
como devia segurar um copo de vinho e beber com etiqueta.
Mas, a senhora não me ensinou como devo morrer. Estou
falecendo e entrando na eternidade sem preparo. Mãe, o que
devo fazer agora? Tem alguma coisa para ensinar-me?”
A mãe ficou sem palavras, não sabia explicar para a filha o que devia
fazer para entrar na eternidade em paz. Começou a chorar.
“Mãezinha, por favor, apresse-se a explicar-me o que devo
fazer! O meu tempo está esgotado! Estou morrendo! Que
devo fazer?
Mas, não veio resposta nenhuma da boca da mãe. E foi assim que a
vida da moça acabou. Faleceu logo de seguida. Acham que ela colocou-
se na balança enquanto vivia? Estava na luz? Diga-me, se você
morresse agora, em que situação se encontraria? Estaria pronto para
morrer? Estaria alegre no leito da sua própria morte? Ou estaria leve
demais se o peso de Deus fosse colocado no outro lado da balança? Já
entendeu a verdadeira mensagem do Evangelho? Vive de acordo com
ela? Pode ser julgado de acordo com tudo que vem nas Escrituras? O
Senhor Jesus poderá dizer para si: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o
pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor”,
Mat.25:21. Estamos todos prontos para morrer? Você está pronto?
Pense bem nisso e responda! Olhe para si mesmo e coloque-se à luz das
Escrituras e da eternidade. Como estaremos diante daquela luz que
ninguém consegue abafar ou atenuar? Devemos arranjar as nossas
vidas imediatamente sem mais perdas de tempo e sem mais desculpas e
evasivas. As nossas vidas devem ser um espelho fiel das Escrituras se
quisermos passar o teste da luz de Deus. Qual é o verdadeiro estado da
sua vida? Em que estado se encontra precisamente neste momento?
Dentro de um avivamento genuíno, a Palavra de Deus é viva e muito
afiada. É mais afiada que uma espada de dois gumes, a qual corta pelos
dois lados. No Dia do Juízo será tudo igual, pois, ali, a Palavra de Deus
será o único fator determinante. Seremos julgados por essa Palavra e
as decisões do Juiz serão tomadas à luz daquilo que as Escrituras
dizem. Não podemos ser o nosso próprio espelho e não poderemos
contornar este fato. Não teremos como fugir da Palavra de Deus
naquele dia. A Palavra irá alcançar-nos sempre, seja hoje ou mais
tarde. A Bíblia será a medida que Deus usará nesse Tribunal. Agora,
entendem por que razão digo às pessoas para pensarem muito bem
antes de pedirem um avivamento? Já tomaram consciência do que
significa sermos julgados pela Palavra de Deus quando menos
esperamos? Já se perguntaram se conseguem aguentar uma situação
onde a Palavra de Deus começa a ser viva e começa a operar? Seremos
capazes de seguir em frente quando a Palavra começa a apontar tudo
de forma clara e a comparar-nos com ela, quando a Palavra é o sim e o
amém? Quando um avivamento chega, não podemos viver mais da
nossa maneira e as coisas nunca mais vão correr do jeito que
queremos. Ninguém mais poderá esconder pecado e ninguém
conseguirá abrigar um segredo em seu coração. Todos precisam passar
por uma transformação genuína e a conversão já não pode ser leviana.
Toda a nossa existência precisa ser colocada em ordem. Devemos saber
andar naquela luz onde tudo é claro e nada fica escondido. E é nessa
luz, substanciada pela própria Palavra de Deus, que devemos andar
continuamente. É precisamente nessa luz que devemos poder andar
sem hesitações ou impedimentos antes de sermos julgados.
Vamos colocar as nossas vidas à prova enquanto o futuro ainda nos
parece longe, diante de nós. Ninguém sabe quanto tempo de vida lhe
resta ainda. Será que Moisés afirmou em vão, “Ensina-nos a contar os
nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios”?
Sal.90:12. Um dia, muito em breve, estaremos diante de Deus, quer
tenhamos a certeza de estarmos salvos ou não. Tanto os que têm a
certeza da vida eterna e os que não têm, todos deverão comparecer
diante do Juízo Final. Devemos estar sempre alerta e andar no temor
do Senhor e da Sua vinda porque, lá, as certezas não contarão para
nada. Ele pode voltar a qualquer momento e virá no momento que
menos esperamos. Seremos todos colocados na sua balança e
precisamos equilibrar o nosso peso com a Sua Palavra. Ai de nós se
formos achados mais leves e a balança desequilibrar-se contra nós!
Saibamos que seremos todos pesados, sem exceção. É mais provável
que Deus nos vá chamar precisamente quando não estamos orando ou
de joelhos. Irá chamar-nos no momento menos oportuno. Seremos
chamados no momento em que estamos pecando e não no que estamos
orando. Deus também nos pode julgar naqueles momentos de
impaciência, mágoa ou irritabilidade. Virá quando estamos com maus
pensamentos e más conversas, quando estamos orgulhosos e pensando
sermos mais que os outros. A verdade é que não sabemos em que
circunstancias Deus virá e em que momento nos apanhará.
Já aconteceu muitas vezes comigo os Europeus dizerem-me: “Erlo, em
África podes falar dessa maneira, porque lá vivem de outra maneira.
As circunstâncias são diferentes. Lá vivem uma vida inocente e simples.
Mas, aqui na Europa é diferente. Temos lojas de objetos sexuais, a
televisão é imoral e cheia de coisas perversas. Aqui lidamos com
pornografia e idolatria de todo tipo e temos muitas imagens de moças
nuas e moços nus espalhadas por todo lado e em todas as ruas.
Diariamente ouvimos todo tipo de música mundana. Não temos opção
senão sermos envenenados por estes males. Então, não podes esperar
que vivamos nesta Europa moderna da maneira que explicas em teus
sermões. Podes pedir essas coisas a povos primitivos e inocentes, mas,
não a nós”. Que esperam que lhes responda? Tal como o fermento
incha a massa, assim faz o pecado com as vidas dos que se chamam
Cristãos por este mundo a fora. Mas, devemos saber já que somente
aquele espírito que é capaz de atestar na vida pessoal que Cristo
realmente veio na carne para vencer e derrotar todo tipo de pecado é
que, realmente, pertence a Deus. Examine-se a si próprio e coloque-se à
prova para ver se ainda está no caminho de Deus e na fé. Pergunte-se a
si mesmo que tipo de espírito está em si, se de Deus ou do mundo. Jesus
também deseja ter uma igreja pura, imaculada e resistente ao pecado
dentro do mundo moderno e industrializado. Sempre que os Cristãos
obtiverem vidas purificadas e santas, um avivamento começará em seu
meio que será operado pelo Espírito Santo de Jesus. Para que o
Espírito Santo possa operar em sua vida, precisa ter espaço livre em
todo o seu coração e vida. Ele chama-se Espírito Santo precisamente
porque não tolera qualquer tipo de sujidade ou de impureza no lugar
onde habita. Se o Espírito Santo conseguir uma oportunidade de
operar através de nós, toda a glória de Deus manifestar-se-á. E o
deserto será transformado num jardim de beleza incomparável. Então,
todos olharão para aquilo que antes era deserto para o verem florir de
beleza, cheio de vida. O mundo verá claramente, então, que Deus
realmente existe e que ainda é o mesmo Deus neste nosso século vinte.
EPÍLOGO
Este livro, O VERDADEIRO AVIVAMENTO COMEÇA POR TI, é
uma compilação de relatos feitos por Erlo Stegen ao vivo e, também, de
alguns sermões de há muito tempo. Desde então, a obra cresceu
fenomenalmente e ainda cresce sem parar.
Erlo é co-ajudado por mais de 200 outros missionários e por muitos
outros que se juntaram à obra voluntariamente. Recebem muitos
convites para pregar em todos os cantos do mundo e de congregações
na África do Sul. Existem várias missões na África do Sul,
Moçambique. Alemanha, Suiça, França, Holanda, Roménia, Rússia,
Bélgica e Austrália. Todas essas missões desenvolveram-se através de
uma estreita cooperação com a missão principal na África do Sul,
Kwasizabantu *(cuja tradução é: lugar onde se ajuda pessoas). A sua
missão principal é a pregação do Evangelho.
Nasceu uma escola dentro da missão, também, a qual tem os melhores
resultados de todo o continente africano. Em 1994, nasceu a faculdade
Cedar College of Education, a qual é credenciada e acreditada pela
Universidade do Noroeste da África do Sul. Nasceram e
desenvolveram-se, entretanto, outros estabelecimentos de ensino e de
apoio locais como a Escola Thabita para adultos e, também, escolinhas
e creches para criancinhas. Existem orfanatos para órfãos da Sida
(Aids), um hospital para pessoas em fase terminal, principalmente para
pessoas afetadas com Sida (Aids). Existem mais de vinte outros
projetos, os quais desenvolveram-se para providenciar tudo aquilo que
a missão precisa no seu dia-a-dia, como fábrica de iogurtes, reprodução
de trutas e exportação de água mineral (A’quelle).
A Obra de Deus cresce diariamente e multiplica-se de tal forma que
não é possível contabilizar os acontecimentos. Para mais informações,
pode contactar a missão em:
KWASIZABANTU MISSION
P.O.BOX 252
KRANSKOP
3268
South Africa
Tel.0027-324815700
Fax:0027-324815510
Email: mail@ksb.org.za
Ou pode visitar o sítio na
internet: http://www.kwasizabantu.org.za/