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EDUCAÇÃO 509

na Internet, para uma rede global de estudantes. E m


Fevereiro de 2 0 0 0 , o ministro britânico do Emprego
e da Educação - David Blunkett - anunciou medidas
para a criação de uma universidade baseada na Web,
que reuniria os aspectos mais eficazes do sistema
educativo britânico, e cujo acesso seria facultado a
estudantes de todo o mundo.

A educação e as novas tecnologias


da comunicação

A expansão da tecnologia de informação parece


influenciar a educação de várias formas. A economia
' M a n t e n h a m os olhos no vosso ecrã. 1 L<

do conhecimento procura uma força de trabalho com


competências e conhecimentos informáticos, sendo <S> Direitos exclusivos reservados a The New Vúrker Collectíon
cada vez mais evidente que a educação pode, e deve, 1999 Barbara Smailer retirado de cartoonbank.com.

desempenhar um papel crítico na satisfação desta


necessidade. Apesar de a posse de computadores no
lar ter aumentado abruptamente nos últimos anos, partilhar os métodos de ensino bem sucedidos com os
muitas crianças ainda não têm acesso a um computa- seus homólogos noutras escolas. Os estudantes
dor em casa. Por esta razão, as escolas constituem um podem aceder à rede mesmo a partir de casa, para
fórum crucial para os jovens aprenderem a adaptar-se obterem materiais adicionais com vista ao desenvol-
às potencialidades dos computadores e da tecnologia vimento da literacia e aritmética. As escolas em
online. regiões isoladas poderão estabelecer ligações com
N a última década, a utilização de tecnologia nas instituições de outras zonas do país, partilhando acti-
escolas foi totalmente transformada com a introdução vidades de aprendizagem. Os estudantes de línguas
de várias iniciativas nacionais orientadas para moder- estrangeiras poderão contactar com falantes nativos
nizar e informatizar as escolas britânicas. O número para praticar e obter assistência.
médio de computadores por escola tem aumentado de
forma exponencial. Cerca de 96 por cento das crian-
A t e c n o l o g i a n a sala d e a u l a
ças entre os cinco e os quinze anos tem acesso a com-
putadores na escola. E m 1998, cada escola secundá- O desenvolvimento da educação, na sua forma
ria britânica possuía, em média, 101 computadores, moderna, estava associado a um certo número de
enquanto a média nas escolas primárias era de 16 outras mudanças significativas que ocorreram no
( H M S O 2000). século X I X . U m a delas consistiu no desenvolvimen-
E m 1998-9, 93 por cento das escolas secundárias to da imprensa e na chegada da «cultura livresca».
britânicas e 62 por cento das escolas primárias tinha A distribuição em massa de livros, jomais e outros
acesso à Internet. A National Grid for Learning media impressos constituiu um traço distintivo do
( N G L ) - Rede Nacional para a Aprendizagem lan- desenvolvimento da sociedade industrial, como as
çada em 1998, foi concebida para ligar, em 2 0 0 2 , máquinas e as fábricas. A educação de sen volveu-se
todas as escolas, institutos, universidades e bibliote- para proporcionar capacidades de literacia e de com-
cas do país. D e acordo com o relatório de 1997, putação, proporcionando o acesso ao mundo dos
"Connecting the Learning Society*1 - Ligando a media impressos. Não há nada mais característico da
Sociedade do Conhecimento a rede permitirá a escola do que o livro ou o manual escolar.
recolha e a troca de informação entre as várias insti- Aos olhos de muitos, tudo isto está destinado a
tuições de ensino de todo o país. Os professores mudar com o uso crescente dos computadores e das
poderão discutir o desenvolvimento do currículo e tecnologias multimédia na educação. Irão a Internet,
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o cd-rom e o vídeo substituir crescentemente o livro A e d u c a ç ã o e o fosso t e c n o l ó g i c o


escolar? E continuarão as escolas a existir, de algu-
ma maneira, sob a forma em que existem hoje. se as E ainda uma questão em aberto saber se as novas tec-
crianças, em vez de se sentarem em filas a escutar o nologias terão as implicações radicais para a educa-
professor, ligarem os seus computadores para apren- ção que alguns reclamam. Os críticos das novas tec-
der? Diz-se que as novas tecnologias não se junta- nologias argumentam que, mesmo tendo grandes
rão apenas ao cunículo existente, mas que o irão efeitos, podem contribuir para o reforço das desi-
minar e transformar. Os jovens de hoje j á estão a gualdades educacionais. A «pobreza de i n f o r m a -
crescer numa sociedade de informação e mediática ção» poderia vir a somar-se às privações materiais
e estão muito mais familiarizados com estas tecno- que têm actualmente um grande efeito no ensino.
logias do que muitos adultos - incluindo os seus O acelerado ritmo de mudança tecnológica e a procu-
professores. ra da parte dos empregadores de trabalhadores com
Alguns falam numa «revolução na sala de aula»: a competências e conhecimentos informáticos pode
chegada da «realidade virtual» e da «sala de aula sem resultar num "avanço" dos detentores destas compe-
paredes». Restam poucas dúvidas de que os compu- tências em relação aqueles que possuem pouca expe-
tadores têm alargado as oportunidades a nível educa- riência nesta matéria.
tivo, oferecendo oportunidades às crianças para tra- Alguns receiam já o surgimento de uma "subclas-
balharem de forma autónoma, pesquisarem tópicos se de computadores" na esfera das sociedades oci-
com o auxílio de recursos online e beneficiarem de dentais. Embora os países desenvolvidos possuam os
software educacional que lhes permite progredirem níveis mais elevados de utilização de computadores e
ao seu próprio ritmo. N o entanto, a visão (ou pesade- Internet no mundo, existem desigualdades graves na
lo) de salas de aula com crianças a aprender exclusi- utilização do computador no âmbito destas socieda-
vamente através de computadores individuais não é, des. Entretanto, muitas escolas e faculdades sofrem
porém, uma realidade. De facto, a «sala de aula sem de carências de verbas e de negligência sistemática.
paredes» parece, de momento, fora de questão. Para Mesmo que estas instituições se tomem beneficiárias
j á , não existem simplesmente computadores suficien- de iniciativas de fornecimento de hardware em
tes para todos, na escola ou em casa! Mesmo as esco- segunda mão, as escolas têm de adquirir perícia téc-
las com bons recursos têm que estabelecer horários nica e capacidade para ensinar aos alunos as compe-
rotativos para que seja possível a cada estudante ter a tências necessárias para a utilização das tecnologias
sua vez nas oficinas de trabalho. Nas escolas com de informação. Face à forte procura de especialistas
poucos computadores, os estudantes poderão apenas informáticos, muitas escolas procuram afincadamen-
despender alguns minutos por semana no computa- te atrair e conservar professores de tecnologias de
dor ou ter aulas de tecnologias de informação em informação, que podem auferir rendimentos bem
pequenos grupos. Na maioria dos lares ainda não superiores no sector privado.
existe um computador.
Porém, o fosso tecnológico nas sociedades ociden-
E m segundo lugar, muitos professores encaram os tais parece menor quando comparado com a "divisão
computadores, não como um substituto, mas como d i g i t a r que separa as salas de aula ocidentais das
um complemento às aulas tradicionais. Os alunos suas homónimas no mundo subdesenvolvido (ver
podem utilizar os computadores para realizar activi- capítulo 15 - "Os meios de comunicação de massa e
dades no âmbito do programa oficial, como projectos a comunicação em geral"). À medida que a economia
de pesquisa ou investigações sobre questões actuais. global assenta progressivamente no conhecimento,
Mas poucos são os educadores que vêem a tecnologia há o real perigo de os países mais pobres virem a tor-
de informação como um meio que pode substituir a nar-se cada vez mais marginalizados em virtude da
aprendizagem e a interacção com professores em pes- disparidade entre a informação rica e a informação
soa. O desafio para os professores consiste em apren- pobre.
der a integrar a nova tecnologia de informação nas
De acordo com o Relatório de Desenvolvimento
aulas de forma significante e pertinente do ponto de
Humano do P N U D (1999), o acesso à Internet tor-
vista educacional.
nou-se a nova linha de demarcação entre ricos e
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pobres. O sul da Ásia, com 23 por cento da popula- força de trabalho capaz e de uma cidadania activa e
ção mundial, tem menos de 1 por cento dos utiliza- informada.
dores mundiais da Internet. Em África há apenas sete N o entanto, mesmo nos países mais ricos do
servidores de Internet por milhão de pessoas. U m a mundo, onde os recursos dedicados à educação são
elevada proporção destes servidores localiza-se na extensos, estes objectivos nem sempre são cumpri-
África do Sul, de longe a mais desenvolvida e prós- dos. Os exames nacionais revelam, de forma sur-
pera nação deste continente. preendente, baixos níveis de literacia funcional (ver
Os entusiastas das tecnologias de informação caixa p. 5 0 3 ) - competências de leitura e escrita
argumentam que os computadores não provocam necessárias no quotidiano existindo preocupação
necessariamente maiores desigualdades nacionais e pelo declínio dos padrões académicos globais. Na
globais, já que a sua própria força repousa na capaci- maior parte dos sistemas educativos, algumas escolas
dade para reunir as pessoas e abrir novas oportunida- obtêm resultados elevados enquanto outras ficam, de
des. Alega-se que na Ásia e na África, as escolas forma persistente, aquém. E m muitas áreas, os pais e
onde escasseiam livros de estudo e professores quali- os filhos expressam insatisfação com a qualidade da
ficados podem beneficiar da Internet. Os programas educação recebida através das escolas estatais, ao
de aprendizagem à distância e colaboração com cole- mesmo tempo que os professores e outros responsá-
gas do estrangeiro poderiam ser a chave para ultra- veis pela educação se deparam muitas vezes com
passar a pobreza e a desigualdade. Os entusiastas das classes alargadas, recursos limitados e condições de
tecnologias de informação argumentam ainda que trabalho difíceis. Enquanto alguns pais podem forne-
estas, quando colocadas nas mãos de pessoas inteli- cer educação privada aos seus filhos, a vasta maioria
gentes e criativas, têm um potencial ilimitado. de famílias contam com as escolas estatais e esperam
que o sistema educativo, financiado pelos seus
A tecnologia pode ser empolgante e abrir impor- impostos, forneça uma educação de qualidade aos
tantes portas, mas, reconheça-se, não existe uma seus filhos.
combinação tecnológica fácil. A s regiões subdesen-
volvidas lutam contra o analfabetismo de massa e, U m a das principais tarefas com que os reformado-
dada a ausência de linhas telefónicas e de electricida- res educativos se confrontam consiste em encontrar a
de, necessitam-de uma infraestrutura educativa sus- forma de reproduzir, com sucesso, os resultados das
tentada antes de poderem beneficiar de programas de melhores escolas em escolas que se debatem com o
aprendizagem à distância. Nestas circunstâncias, a problema do insucesso escolar. E m resposta a este
Internet não pode substituir o contacto directo entre o desafio, tem havido, na última década, uma vontade
professore o aluno. crescente no Reino Unido e nos Estados Unidos de
implementar novas formas de administração escolar
que combinem o financiamento público (Estado) de
A privatização da e d u c a ç ã o escolas com técnicas de gestão privada. Quando as
escolas se situam, persistentemente, abaixo dos resul-
Tal como já vimos, a educação é hoje um dos assun-
tados e se revelam incapazes de melhorá-los, as auto-
tos geradores de maior contestação política na Grã-
ridades educativas locais têm convidado privados a
-Bretanha. Governos sucessivos introduziram refor-
gerir e administrar os sistemas escolares estatais.
mas abrangentes numa tentativa de aumentar os
Perante o envolvimento de um número crescente de
resultados educativos e preparar melhor os jovens
companhias privadas e de "'organizações de gestão
para a entrada na vida adulta. O Reino Unido nâo está
educativa" na administração de actividades educati-
sozinho na elevada prioridade concedida ao sistema
vas, alguns observadores acreditam que estamos a
educativo estatal. Nos Estados Unidos e noutros paí-
caminhar para a "privatização da educação".
ses industrializados, a educação é um dos assuntos
que mais preocupa políticos e ciáadàos. U m a razão
para tal é o facto de serem elevadas as expectativas
depositadas no sistema educativo. As escolas desem-
Estados Unidos: os empresários da educação
penham um papel crítico na socialização das crian* Embora os Estados Unidos despendam uma maior
ças, na oferta de iguais oportunidades, na criação de percentagem do PIB no sector educativo do que

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