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KOLLONTAI, Alexandra. A Família e o Estado Socialista
KOLLONTAI, Alexandra. A Família e o Estado Socialista
Alexandra Kollontai
Sumário
1. A família e o trabalho assalariado da mulher...........................................................3
A família no passado......................................................................................................3
A atual forma da família.................................................................................................4
A decadência da família atual........................................................................................5
No capitalismo, um verdadeiro presídio........................................................................6
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1. A família e o trabalho assalariado da mulher
A família no passado
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estamos habituados a ver hoje. Houve um tempo em que se conhecia somente uma
forma de família: a família genética, quer dizer, aquela que tinha como chefe uma velha
mãe, à volta da qual se agrupavam os filhos, os netos, os bisnetos para trabalharem
juntos. Noutra época conheceu-se a família patriarcal, presidida pelo pai-patrono, cuja
vontade era lei para os demais membros da família. Todavia, também nos nossos dias se
podem ver em algumas aldeias estas famílias camponesas. Com efeito, ali os costumes e
as leis da família não são os mesmos que os do operário da cidade; nas aldeias afastadas
dos grandes centros ainda se encontram muitos costumes que já desapareceram nas
famílias do proletariado urbano. A forma da família e seus usos variam segundo os
povos. Há povos (por exemplo os turcos, os árabes, os persas, etc.) onde a lei admite
que um só marido tenha várias mulheres. Houve, e há ainda, povos onde o uso tolera
absolutamente o contrário, quer dizer, que uma mulher tenha vários maridos. E, ao
contrário do costume habitual do homem dos nossos dias, que exige que a jovem
permaneça virgem até o seu matrimônio legítimo, havia povos em que a mulher se
vangloriava de ter muitos amantes e usava nos braços e nas pernas tantos anéis quantos
amantes possuía...
Certos costumes que nos admirariam e que consideraríamos como imorais estão
consagrados noutros países, que, pelo contrário, consideram como pecado as leis e os
costumes que regem o nosso país. Por isso, não nos devemos espantar com a idéia de
que a família está se modificando, ao vermos que desaparecem pouco a pouco os
vestígios do passado, que já se tornam inúteis, e finalmente, porque entre o homem e a
mulher se estabelecem novas relações. Só devemos perguntar: o que acabou nos
costumes da nossa família e quais são, nas relações entre o operário e a operária, entre o
camponês e a camponesa, os direitos e os deveres respectivos, que se harmonizariam
melhor com as condições de existência da Rússia nova, da Rússia trabalhadora, isto é,
da nossa atual Rússia soviética? Só se conservará o que convier; todo o resto, todas as
coisas velhas e inúteis legadas pela maldita época da escravatura e dominação, que foi a
dos latifundiários e dos capitalistas, tudo isto será varrido, junto com a classe dos
proprietários, com esses inimigos declarados do proletariado e até dos pobres...
A família, na sua forma atual, não é outra coisa senão uma das ruínas do passado.
Sólida, encerrada em si mesma e indissolúvel, já que se considera como tal o
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matrimônio abençoado pelo pope, era também necessário que assim fosse para todos os
membros. Se a família não tivesse existido, quem teria alimentado, vestido e educado as
crianças e quem as teria guiado através da vida? A sorte do órfão era no passado a pior
de todas as sortes. Na família a que estamos acostumados, o marido trabalha e mantém a
mulher e os filhos, enquanto a mulher se ocupa da casa e educa os filhos, de acordo com
o que pensa desta missão.
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No capitalismo, um verdadeiro presídio
A mulher, a mãe operária, sua sangue para cumprir três tarefas ao mesmo tempo:
trabalhar durante oito horas num estabelecimento, o mesmo que seu marido; depois,
ocupar-se da casa e, finalmente, tratar dos filhos. O capitalismo pôs nos ombros da
mulher uma carga que a esmaga; fez dela uma assalariada, sem ter diminuído o seu
trabalho de dona de casa e de mãe. Assim, a mulher dobra-se sob o triplo peso
insuportável, que lhe arranca amiúde um grito de dor e que, às vezes, também lhe faz
verter lágrimas. O afã foi sempre a sorte da mulher, mas nunca houve sorte de mulher
mais terrível e desesperada que a de milhões de operárias sob o julgo capitalista durante
o florescimento da grande indústria...
Que fazia tão forte a família no passado? Em primeiro lugar, o fato de que o
marido-pai mantinha a família; em segundo lugar, que o lar comum era necessário para
todos os membros da família, e finalmente, a educação dos filhos por parte dos pais.
Que fica hoje de tudo isto? Dissemos já que o marido deixou de ser o único amparo da
família. Neste sentido, a operária é igual ao homem; aprendeu a ganhar a vida para si
mesma e até, às vezes, para o marido e filhos. Fica a casa e a educação, assim como a
criação dos filhos de tenra idade.