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Tecnologias de gênero e

as lógicas de aprisionamento
Gender technology and the imprisonment logics
Tânia Pinafi
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Faculdade de Ciências e Letras de Assis
tania.pinafi@gmail.com

Lívia Gonsalves Toledo


Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Faculdade de Ciências e Letras de Assis
liviagtoledo@gmail.com

Cíntia Helena dos Santos


Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Faculdade de Ciências e Letras de Assis
cintiasantos@depen.pr.gov.br

Wiliam Siqueira Peres


Professor do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho – Faculdade de Ciências e Letras de Assis
Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
pereswiliam@gmail.com
Resumo
Neste artigo procuramos fazer uma analogia entre as tecnologias de gênero e o binário
preso/livre, ilustrando as lógicas de aprisionamento de subjetividades e o quanto a
sociedade moderna se pauta em normas e binarismos para a produção do saber-poder
sobre si mesma. Assim, propomos articular as reflexões de Foucault sobre o
funcionamento do poder com as normativas de gênero estruturadas em modos de
existências com características coercitivas, moralizantes e valorativas das relações
sociais nas quais vivemos nossas existências particulares. Exploraremos o
aprisionamento, tanto pela subversão à norma, no caso da instituição física da prisão,
quanto na norma, questionando a ilusão daqueles que se acreditam livres. A mais
hermética das prisões e a vigilância mais eficaz são aquelas que cada um exerce sobre si
mesmo: quanto mais subjetivados nas normativas de gênero, mais prejudicada estará a
heteronomia.
Palavras-chave: Gênero. Sexualidade. Aprisionamento. Binarismo.

Abstract
That article tries to make an analogy between the technologies of gender and the binary
prisoner/free, illustrating the logics of subjectivities imprisonment and how the modern
society is ruled in norms and binarisms for the production of the know-power on itself.
This way, we intend to articulate the Foucault's reflections about the operation of the
power with the gender's normatives, which are structured in manners of existences of
coercive, moralized and valued characteristics. That normatives are produced in the
social relationships in which we lived our private existences. We will explore the
imprisonment, first, through the subversion of the norm, in the case of the physical
institution of the prison, and, second, in the norm, questioning the illusion of those that
are believed free. The most hermetic of the prisons and the most effective surveillance is
the one that each person exercises on him/herself; the more subjectivated in the
gender's normative, more prejudiced will be the heteronomy.
Keywords: Gender. Sexualities. Imprisonment. Binarism.

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Introdução
Este artigo propõe fazer uma analogia entre a forma como as pessoas
são marcadas pelos gêneros e as lógicas de funcionamento da prisão. Para tal,
articularemos as formas de funcionamento do binário preso/livre às práticas
relacionadas às amarras de gênero e sexualidade.
E por que fazer uma analogia da prisão com o gênero? Porque
propomos o questionamento das normas de gênero a que todos são, logo na
infância, enquadrados. Com isso, dizemos dos modos de existência rígidos,
ortopédicos, que delimitam as existências humanas nos classificando e
qualificando como melhores ou piores com base na capacidade mimética da
assunção das expressões de gênero instituídas a cada um dos sexos. Dessa
forma, qualquer proposta de câmbio na escala do gênero é mal vista. No caso
das mulheres, elas devem corresponder aos padrões instituídos de feminilidade
de seu contexto sócio-histórico-cultural, assim, quanto mais se afastarem
desses papéis e expressões de gênero, maior será a discriminação, o controle, a
estigmatização, a violência e a tentativa de reenquadramento que recairão
sobre ela. Da mesma forma, são instituídas a todas as pessoas as normativas
de sexualidade. Sobre isso, Rubin (1989) compõe uma escala hierárquica da
sexualidade com base nos padrões de sexo/gênero instituídos, no quais os
casais heterossexuais, ligados pelo casamento, estariam sozinhos no topo do
que a autora chama de “pirâmide erótica”. Abaixo deles, estariam os casais
heterossexuais monogâmicos não casados, seguidos pelos/as heterossexuais
solteiros, mas de vida sexual ativa. Mais embaixo viria o sexo solitário, que se
situaria acima de casais estáveis de lésbicas e de gays, os quais estariam mais
“próximos da respeitabilidade”. Debaixo destes, viriam as lésbicas de bares e
homossexuais “promíscuos”. Os que se situam na parte mais baixa, as
categorias sexuais mais desprezadas, seriam: os/as transexuais, os/as travestis,
os/as fetichistas, os/as sadomasoquistas, os/as trabalhadores/as do sexo e,
abaixo de todos os outros, os/as pedófilos/as.
Desse modo, no caso das mulheres, corresponder às normativas de
gênero e de sexualidade seria: 1) obedecer aos padrões de feminilidade de seu
contexto sócio-histórico-cultural e 2) serem heterossexuais, monogâmicas,
especialmente dentro da instituição do casamento. Estariam assim no topo da
hierarquia dos corpos generificados e sexuados.
Ainda, dilatando o pensamento de Rubin, para pensar nessas
hierarquias que estão no modo de organização de nossa sociedade, é
importante levar em conta os marcadores sociais da diferença, como: classe
socioeconômica, nível de escolaridade, raça/etnia, orientação sexual, geração,

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dentre outros. Ou seja, pensar que a vivência dos gêneros e das sexualidades
não se dá da mesma maneira, pois depende dos marcadores sociais de
diferença que nos identificam. Esses marcadores são como referentes que
articulam agenciamentos específicos, particulares, tendo efeitos nos processos
de subjetivação dos sujeitos. Por exemplo, em relação à geração, podemos
explorar o quanto a faixa etária determina condutas específicas que se não
seguidas determinarão a estigmatização. Assim, uma mulher mais velha que se
vista femininamente com minissaia e blusa decotada será chamada de gagá,
ridícula, inadequada, “biscate” etc., e isso ocorre porque o gênero representa
uma relação social com representações culturais. Tal leitura alude ao conceito
de tecnologias de gênero cunhado por Lauretis (1994, p. 228), que afirma:
A constelação ou configuração de efeitos de significados
que denomino experiência se altera e é continuamente
reformada, para cada sujeito, através de seu contínuo
engajamento na realidade social, uma realidade que inclui
– e, para as mulheres, de forma capital – as relações sociais
de gênero. [...] a subjetividade e a experiência femininas
residem necessariamente numa relação específica com a
sexualidade.

Se por um lado propomos reflexionar sobre as tecnologias de gênero


em seus aspectos simbólicos de captura e aprisionamento subjetivos; por
outro, faremos referência às relações entre gênero e identidade, porque o
gênero é a nossa identidade primeira, é aquilo que atribui existência significável
para os sujeitos, qualificando-os para a vida no interior da inteligibilidade
cultural (BUTLER, 2003).
Lauretis (1994) fala que é preciso separar gênero da diferença sexual e
passar a conceber o gênero como produto de várias tecnologias (efeito da
linguagem, do imaginário, do desenvolvimento complexo de várias tecnologias
políticas produzidas nos corpos). Para ela, os gêneros são então produzidos por
uma tecnologia, uma maquinaria de produção (que formam discursos que se
apoiam nas instituições do Estado – como a família, a escola etc.), criando as
categorias homem e mulher para todas as pessoas. O gênero é produto de
várias tecnologias sexuais, uma maquinaria de produção que vem de discursos
e práticas discursivas das autoridades religiosas, legais ou científicas, da
medicina, da mídia, da família, da religião, da pedagogia, da cultura popular,
dos sistemas educacionais, da psicologia, da arte, da literatura, da economia,
da demografia etc., que se apoiam nas instituições do Estado. Somos todos
interpelados pelo gênero, lembrando que a interpelação é “o processo pelo qual
uma representação social é aceita e absorvida por uma pessoa como sua

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própria representação, e assim se torna real para ela, embora seja de fato
imaginária” (LAURETIS, 1994, p. 220).

Diário de bordo de uma viagem da cosmovisão medieval ao gênero atual


Quase tudo o que nós, cidadãos pertencentes às altas
classes da sociedade capitalista industrial, costumamos
representar como oposições apresentava-se ao homem da
cultura cotidiana da Idade Média como interpenetração ou
equivalência (RODRIGUES, 1999, p. 41).

O pensamento binário, que combina e coloca em oposição e


complementaridade dois elementos antagônicos, que hoje nos é tão caro, foi se
formando gradualmente ao longo de vários séculos, sendo que esse modo de
pensar o mundo não existia de forma muito clara antes da instauração do
Iluminismo. De acordo com Rodrigues (1999), a cosmovisão medieval teve
suas estruturas abaladas com o estabelecimento do dualismo cartesiano.
Apesar de não ser o único responsável, tem maior interesse para as análises que
aqui traçaremos. Quando Descartes fixou fronteiras distintas entre corpo e
alma, com a exaltação da razão e consequente anatomização dos cadáveres,
propiciou o fortalecimento das investigações científicas emergentes. De acordo
com França (2004, p. 9),
a partir do século XVII, a emergência da ciência, o
desenvolvimento tecnológico das forças produtivas e do
conhecimento laico do mundo e do homem produzem
transformações nas regras e nos procedimentos que
sustentam os enunciados no plano social: um mundo e um
homem não mais teológicos, mas materialidades abertas à
indagação humana. Esse acontecimento exige diferentes
concepções de matéria, de sujeito, de objeto e de
conhecimento que implicam outros modos de relação do
homem com o mundo, consigo próprio e com a vida. Não há
mais interditos ao olhar humano, ele está livre para
interrogar.

O positivismo lógico definido nos pressupostos filosóficos do método


científico, o qual se pautava pela observação, pelo método indutivo, estabelecia
os fundamentos do conhecimento empírico. Descartado todo o misticismo
sobre o homem, seu corpo e sua mente passam a ser objeto de observação e
investigação especial a partir desse momento histórico. Para Santos (1988, p.
22, grifos do autor),

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o positivismo lógico representa, assim, o apogeu da
dogmatização da ciência, isto é, de uma concepção de
ciência que vê nesta o aparelho privilegiado da
representação do mundo, sem outros fundamentos que não
as proposições básicas sobre a coincidência entre a
linguagem unívoca da ciência e a experiência ou
observação imediatas, sem outros limites que não os que
resultam do estágio do desenvolvimento dos instrumentos
experimentais ou lógico-dedutivos.

Foucault (1985), em seus escritos, diz de uma ciência que


inicialmente estava centrada no estudo de objetos que eram exteriores aos
sujeitos e explica como mais tarde esse mesmo sujeito foi credenciado
enquanto passível de ser explorado como objeto de conhecimento. Em suma,
ele se debruça sobre o estudo das ciências empíricas nos séculos XVII e XVIII,
Época Clássica, e caminha até a Modernidade (FOUCAULT, 2008) com a
emergência das ciências humanas (FOUCAULT, 1978, 1980). Nessas
análises, explora os novos horizontes de investigação que foram aceitos como
objetos de conhecimento, com status científico, o que demandou novas
reflexões acerca de quais procedimentos seguir para se chegar a “verdade”
sobre os sujeitos, com interesses políticos específicos. A emergência do
conhecimento científico nunca foi desinteressada, pois “a verdade não existe
fora do poder ou sem poder” (FOUCAULT, 1979, p. 12). Para o autor,
a verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a
múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de
poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua
“política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que
ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os
mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os
enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se
sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que
são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto
daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como
verdadeiro (FOUCAULT, 1979, p. 12).

Se a verdade nunca teve uma forma única e acabada, sendo variável ao


longo do tempo, o que dizer do pensamento não relativista que se pauta nas
diferenças entre certo/errado, verdadeiro/falso, homem/mulher, preso/livre,
indivíduo/sociedade, bom/mau, santificado/pecador, racional/natural etc.?
Essas separações encerram os comportamentos, as estéticas, as expressões,
os sentimentos, os modos de pensar, existir e viver dos sujeitos em fronteiras
distintas que passam a exigir que se contenha qualquer indício que possa

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oferecer algum perigo de transbordar a categoria na qual se encerra. Nessa
sociedade capitalista erigida sob o modelo do contrato social, em que todos são
livres e iguais, seríamos realmente todos livres e iguais? Ou viveríamos falácias
tão reiteradamente repetidas que por fim vieram a adquirir estatuto de
verdades? E por quais vias fomos levados a comprar essas ideias, sem
questionar, e que hoje nos soam tão familiares?
No binarismo das categorias homem/mulher, uma construção sócio-
histórica androcêntrica produziu o primeiro termo carregado de positividade e
edificou seu significado a partir de um procedimento de desqualificação do
segundo termo, produzindo uma hierarquia entre eles. Assim, sobre essa
desqualificação erige-se uma suposta inferioridade e objetificação da mulher,
de tal modo que algumas teóricas, como Irigaray e Lauretis1, chegam a
questionar a categoria mulher por sua construção a partir de um referencial
androcêntrico. Isto é, elas partem da postura objetificante com que a ciência
tem tratado as mulheres em suas análises, tentando privá-las de sua categoria
de sujeito.
O sistema binário não só recusa o entre como também é resistente a
pensar que o polo negativo desse modelo possa ter sua valência alterada em
qualquer situação. Aceitar de pronto o binarismo homem/mulher remete a
aceitar sem questionar a sexualização discursiva dos corpos pelas tecnologias e
instituições.
Ainda nesse sentido, Preciado (2008, p. 262) aponta que quando se
leva em conta que não somos naturalmente homens ou mulheres, masculinos
ou femininos, passamos a nos perceber e perceber os outros como
efeitos mais ou menos realistas de repetições performativas
decodificáveis como masculinas ou femininas. Ao
caminhar por entre os corpos anônimos, suas
masculinidades e suas feminilidades [...] aparecem [...]
como caricaturas daquelas que, sozinhas, graças a uma
convenção tacitamente pactuada, parecem não ser
conscientes2.

A partir disso, homens e mulheres passam a ser nada mais que


“eficientes ficções performativas e somáticas convencidas de sua realidade

1
Para Irigaray, o discurso é falogocêntrico e somente podem emergir sujeitos homens; enquanto Lauretis pontua
que o lugar ocupado pela mulher é no silêncio. Sobre essa questão, ver Irigaray (1976, 1974) e Lauretis (2000).
2
Tradução livre: “efectos más o menos realistas de repeticiones performativas descodificables como masculinas o
femeninas. Al caminar entre sus cuerpos anónimos, sus masculinidades y feminidades [...] aparecen […] como
caricaturas de las que, ellos solos, gracias una convención tácitamente pactada parecen no ser conscientes”.

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natural”3 (PRECIADO, 2008, p. 262); por isso podemos dizer que homens e
mulheres são produzidos por uma complexa tecnologia de gênero – uma
cadeia de produção do conhecimento sobre si generificado.

Subjetivando-se no gênero: aspectos simbólicos de captura e aprisionamento


subjetivos
Assim, o gênero é o conjunto dos efeitos produzidos em corpos,
comportamentos e relações sociais, como disse Foucault (1988) a respeito do
sexo, devido a um desenvolvimento de uma complexa tecnologia política.
Lauretis, (1994, p. 208-209), que se preocupa em pensar a produção
tecnológica do gênero, diz que
ao pensar o gênero como produto e processo de um certo
número de tecnologias sociais ou aparatos biomédicos, já está
indo além de Foucault, cuja compreensão crítica da
tecnologia sexual não levou em consideração os apelos
diferenciados de sujeitos masculinos e femininos, e cuja
teoria, ao ignorar os investimentos conflitantes de homens e
mulheres nos discursos e nas práticas da sexualidade, de fato
exclui, embora não inviabilize, a consideração sobre o gênero.

O discurso científico produziu o que se pode chamar de “sujeito


psicológico” (PRADO FILHO; MARTINS, 2007), ou o que Elsirik e Trevisan
(2008, p. 9) denominam de “sujeito interiorizado e consciencioso” de suas
ações, analisador e responsável sobre o que se chamou de “si”. Os autores
pontuam:
A prática do escrever sobre si (a partir das várias páginas de
diários) ganha intensidade no século XIX. Entre outras
funções, ela permite que o autor possa pensar sobre si,
sobre suas ações e seus comportamentos, como forma de
confissão e penitência (ELSIRIK; TREVISAN, 2008, p. 12).

Desse modo, em combinação com o modo binário positivista e


normativo de olhar para o mundo e habitar, em realidade, em um mundo de
verdades variáveis e realidades múltiplas, “o indivíduo acaba por sentir em si o
mal-estar silencioso, derivado da talvez mais hermética das prisões, aquela que
se constitui quando o homem passa a ser um carcereiro de si próprio, vivendo
na ilusão de ser livre” (RODRIGUES, 1999, p. 178-179).

3
Tradução livre: “eficientes ficciones performativas y somáticas convencidas de su realidad natural”.

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Foucault (1979, 1995) demonstra que as relações de poder
implicam, de modo produtivo e/ou coercitivo, modos de subjetivação. Nesse
sentido, encontramos autores que consideram que a subjetividade “é
essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências
particulares” (GUATTARI; ROLNIK, 1996, p. 33). Em outras palavras, é
produzida por uma maquinaria das autoridades religiosas, legais ou científicas,
da medicina, da mídia, da família, da religião, da pedagogia, da cultura
popular, dos sistemas educacionais, da psicologia, da arte, da literatura, da
economia, da demografia etc. É através dessa maquinaria produtiva que os
sujeitos se formam e podem ocupar o lugar de sujeitos de conhecimento e,
consequentemente, estabelecer relações de verdade. Tais modos de
subjetivação são produzidos por discursos e práticas discursivas
normatizadores de lógica binária e de características coercitivas, moralizantes
e/ou valorativas do poder.
Então é aí que entramos na especificidade das relações de poder,
quando pensamos a ideia binária de prisão/liberdade. Não há poder sem a
insubmissão da liberdade a resistir-lhe. Sem se antagonizar, posto que são
constitutivos, poder e liberdade provocam-se mutuamente. É preciso que os
indivíduos se acreditem livres, existindo, assim, também os presos, para que
essa forma de existência livre se faça inteligível. É necessário que os sujeitos se
pressuponham livres para confrontar-se, para disputar, para resistir ao poder.
Porém, diferente das relações preso/livre dos sistemas penitenciários,
pois nesse caso o que se diz “bem (ou bom)” é o livre, no caso das amarras de
gênero, quem está “bem” ou é “bom” é quem está dentro das normativas
hegemônicas e binárias do sistema sexo/gênero/desejo/práticas sexuais, ou
seja, aquele que é considerado normal, saudável, é quem está preso.
Foucault (2000) faz menção a duas tecnologias de poder que incidem
nos corpos. Uma ele nomeia de “anátomo-política do corpo humano”, e a
outra, de “biopolítica”. Ambas atuariam justapostas e estabeleceriam
processos de disciplinarização dos corpos e de regulação dos prazeres. A partir
dessas tecnologias são produzidos corpos úteis e dóceis que são servis aos
interesses políticos e econômicos. A importância capital dada à sexualidade se
deve ao fato de ela estar localizada “exatamente na encruzilhada do corpo e da
população. Portanto, ela depende da disciplina, mas depende também da
regulamentação” (FOUCAULT, 2000, p. 300). Essa forma de atuação difusa e
autorregulatória do poder, uma vez que cada um é seu próprio carrasco (pois
interioriza as disciplinas e as regulamentações ditadas pelas normas
hegemônicas), Foucault chamará de “biopoder” – por se centrar na gestão

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administrativa dos corpos, sujeitando-os a uma abordagem individualizante,
coletiva e anônima. Foucault (2008, p. 195) observa que “a forma geral de
uma aparelhagem para tornar os indivíduos dóceis e úteis, através de um
trabalho preciso sobre seu corpo, criou a instituição-prisão, antes que a lei a
definisse como pena por excelência”.
Diferentemente da forma como somos levados às penitenciárias, com
mandados, algemas, perseguições, e do modo como que somos tratados dentro
dos presídios, com segregação, submissões, agressões, rebeliões etc., o
aprisionamento aos gêneros é feito de forma sutil e invisível, visto que, em
geral, quase ninguém se percebe aprisionado e aspirando à liberdade. Isso
ocorre porque a solidez do concreto arquitetônico que simboliza a
prisão/penitência está descolada da prisão subjetiva (não menos dura que o aço
das grades carcerárias) que nos paralisa na interioridade de nós mesmos
quando nos fixamos às crenças absolutas de verdades universais que
atravessaram os corpos. Muitos discursos compõem os processos de
subjetivação do sujeito contemporâneo, mas um dos mais intensos e
determinantes que se apresenta, tal como Lauretis (1994) aponta, é o gênero.
Este nos marca, aprisionando-nos em uma forma imaginária de existência,
produções ideais do sistema sexo/gênero: as categorias mulher e homem, duas
ficções da existência (PRECIADO, 2008).
O que questionamos, entretanto, não é a existência dessas categorias,
mas a forma como são socioculturalmente concebidas, ou seja,
hierarquicamente. Na verdade, mais importante do que definir as categorias do
aprisionamento seria cartografar os modos como se processam e ganham
importância como funcionamento de subjetivação. De acordo com Meyer
(2005, p. 16), o gênero engloba
todas as formas de construção social, cultural e linguística
implicadas com processos que diferenciam homens e
mulheres, incluindo aqueles processos que produzem seus
corpos, distinguindo-os e separando-os como dotados de
sexo, gênero e sexualidade.

Assim, o conceito de gênero não é uma categoria analítica que coloca a


origem das desigualdades entre os sujeitos no corpo biológico universalizado,
mas privilegia a análise dos processos de produção dessas distinções em
sociedades atravessadas por pressupostos de masculinidade e feminilidade,
entendendo-os como atributos de homens e mulheres, respectivamente. Scott
(1995, p. 86) entende que o conceito de “gênero”

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tem duas partes e diversos subconjuntos, que estão
interrelacionados, mas devem ser analiticamente
diferenciados. O núcleo da definição repousa numa
conexão integral entre duas proposições: (1) o gênero é um
elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas
diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero é uma
forma primária de dar significado às relações de poder.

O gênero é imposto e sua construção “é o produto e o processo tanto da


representação quanto da autorrepresentação” (LAURETIS, 1994, p. 43). O
sujeito passa a sentir-se homem ou mulher, como se fosse uma essência de seu
“si” (ou seu self), sem questionamento e sem consciência de que essa forma de
existência é uma produção e, portanto, pode ser mutável. Esse processo é
gestionado, imposto, e aprisiona os sujeitos em duas únicas categorias de
existência.
Existe ainda uma instituição que é uma forte mantenedora desse
sistema de produção do gênero binário, a qual muitos não conseguem
questionar: a instituição da heterossexualidade ou a heteronormatividade. Rich
(1986) chama de heterossexualidade compulsória essa instituição, essa
produção compulsória de práticas e significados sociais que visam a
obrigatoriedade de uma pessoa se relacionar amorosa e sexualmente com outra
do sexo oposto. A heteronormatividade então será o enquadramento de todas
as relações (mesmo as homossexuais) em um binarismo sexual e de gênero que
organiza expressões, sentimentos, práticas e desejos a partir do modelo
heterossexual (por isso, há sempre presente a ideia de que existe um “macho” e
uma “fêmea” nas relações entre pessoas do mesmo sexo).
O que podemos observar é que o binarismo se instaura mesmo na
criação das categorias homossexual e heterossexual, sendo quase
incompreensível para a maioria das pessoas a bissexualidade, esse entre
intolerável. As identidades sexuais foram essencializadas, vistas como estáveis
no tempo e no espaço, conspirando em prol do sistema binário e dicotômico da
vivência da sexualidade. Como pontuam Sánchez e Galán (2006), em acordo
com essa lógica, o capitalismo possibilitou a existência de uma identidade e um
modo de vida gay distanciado do modelo tradicional de família – uma unidade
econômica e de produção com membros interdependentes. Esse sistema de
estruturação das sexualidades e identidades dissidentes está imbricado com o
questionamento da heterossexualidade compulsória, colocando-a em questão.
Porém, essas formas de sexualidade e de identidade não questionam o
binarismo de sexo e gênero, reificando-o, em muitos casos, por meio de
hierarquias de identidades e de modelos restritos de práticas sexuais.

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Apesar da estranheza que tal imbricação possa levantar, ela nada tem
de inédito a não ser, talvez, por estar tão arraigada em nós que sua percepção
nem seja notada, demarcada que está por processos de naturalização dos
corpos e seus prazeres. A inteligibilidade do gênero tomada em sua
historicidade permite olhar para os binarismos de modo crítico, evitando
respostas prontas que muitas vezes levam ao lugar comum, tantas vezes
explorado.

Conclusão
O que queremos apresentar com isso é que é possível localizar
resistências aos aprisionamentos dos gêneros e apreender o quanto as
tecnologias de gênero esquadrinham os corpos e as subjetividades para que
continuem a produzir a estabilidade instituída hierarquicamente no gênero.
Lauretis (1994) fala então do processo que ela chama de
“investimento”, aquele no qual se investe no que ela denomina de “posição de
sujeito”. A autora utiliza-se de Foucault para falar que é o poder que motiva os
investimentos dos sujeitos em uma posição discursiva concreta.
Se em um dado momento existem vários discursos sobre a
sexualidade competindo entre si e mesmo se contradizendo
– e não uma única, abrangente ou monolítica, ideologia –,
então o que faz alguém se posicionar num certo discurso e
não em outro é um “investimento” [...] algo entre um
comprometimento emocional e um interesse investido no
poder relativo (satisfação, recompensa, vantagem) que tal
posição promete (mas não necessariamente garante)
(LAURETIS, 1994, p. 225).

Desde pequenas insurreições cotidianas a rebeliões e organizações


criminosas, as resistências às estratégias de controle nada têm de sutis dentro
do sistema punitivo que engloba e privilegia o aprisionamento como pena,
castigo e correção. Mais ainda, essa funcional relação de poder explícito,
visibilizado, acaba por condicionar o pensamento sobre esse modelo como se
fosse o único, tornando-nos alheios a outras formas de prisões diferentes da
violência concreta. Isto é, em contraponto à sutileza do sistema
sexo/gênero/desejo/práticas sexuais (BUTLER, 2003) heteronormativo, tudo
ali é exposto e emblemático.
O sujeito “livre” é mais uma identidade construída e absolutamente
solidária à forma de exercer o poder e o controle sobre os corpos que prevalece

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contemporaneamente, tendo como contraponto a imagem do sujeito “preso”.
Como estamos em “liberdade”, não nos percebemos oferecidos aos controles e
coerções que delimitam nossa existência. Respaldados pela lógica binária
sustentada pelo preso/livre, os mecanismos de controle operam nas relações de
maneira a estabelecer como naturais os padrões hegemônicos. Tomamos como
mensagens de nossa consciência ou individualidade as construções binárias do
viver e consideramos que os presos estão submetidos ao poder, sem perceber
que existem milhares e sutis formas de aprisionamentos de nossas existências.
O que não paramos para pensar a partir dessa ótica binária é o entre:
nem em um polo, nem em seu oposto, mas o que circula, racha, bifurca,
atravessa e contradiz. Por que a nossa forma de pensar continua sendo binária?
Por que continuamos buscando a razão instrumental, a identidade pura, a
lógica dualista e o universalismo antirrelativista, se sabemos que nossa
realidade é tão mais múltipla? Será que nos permitimos saber realmente?
Butler (2003) fala de como estamos ainda aprisionados pelo sistema
sexo/gênero, que produz e separa o corpo dualmente, e pelo sistema
heteronormativo, que hierarquiza as relações. Ambos esses sistemas produzem
desigualdade e opressão entre as pessoas e, portanto, poder de uns sobre
outros. Butler (2003, p. 41) nos diz:
Para Wittig, a restrição binária que pesa sobre o sexo atende
aos objetivos reprodutivos de um sistema de
heterossexualidade compulsória; ela afirma,
ocasionalmente, que a derrubada da heterossexualidade
compulsória irá inaugurar um verdadeiro humanismo da
“pessoa”, livre dos grilhões do sexo.

“A primazia da diferença é tão constitutiva de nosso pensamento que o


impede de realizar esse giro sobre si mesmo, que seria necessário para se
questionar, para captar precisamente o fundamento constitutivo”4 (WITTIG,
2006, p. 22). Quando eu aponto o criminoso no outro, o criminoso também
está em mim, quando eu aponto a mulher no outro, a mulher também está em
mim, quando aponto o policial no outro, o homossexual, a puta, o promíscuo,
esses também estão em mim. Essa ótica binária parece ter sido estabelecida
para que o energúmeno eu kantiano, o eu narcísico, burguês, branco e normal
não precisasse olhar em si as existências que estão fora das linhas de
hegemonia.

4
Tradução livre: “La primacía de la diferencia es tan constitutiva de nuestro pensamiento que le impide realizar
ese giro sobre sí mismo que sería necesario para su puesta en cuestión, para captar precisamente el fundamento
constitutivo”.

Tânia Pinafi | Lívia Gonsalves Toledo


Cíntia Helena dos Santos | Wiliam Siqueira Peres 279
n. 06 | 2011 | p. 267-282
Quando o controle vem de fora, como é o caso das prisões, o sujeito
quer libertar-se. Contudo, quando as normas vêm de dentro, porque foram
interiorizadas (pela força dos discursos, pelas repetibilidades, pelas
performatizações normativas), já é o próprio sujeito que passa a governar a si
mesmo. O soberano, a polícia, a lei, a norma, já não está “fora” cuidando,
controlando, mas está “dentro”.
O poder existe porque existem resistências e multiplicidades em
nossos modos de subjetivação. Se todos fossem iguais não haveria necessidade
de o poder ser exercido, não haveria sobre o que o poder agir, não haveria o que
ser adequado às normas. A resistência está em todos os lugares, assim como o
poder, inclusive na “cabeça”/ “mente”/ “self”/ “imaginação”/ “psicológico” das
pessoas. Por isso, vemos que a “essência” humana nada tem de universal ou
binária, como se pensa o sexo e o gênero, mas é múltipla e de infinitas
potencialidades, pois os sujeitos estão sempre, todos, em trânsito. Assim, se
quisermos, não precisamos ser o homem e a mulher. E, em trânsito, podemos
estar livres ou presos em qualquer lugar ou discurso.

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