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PROCESSO PENAL I

1. O Direito de Punir (jus puniendi):

- É genérico e impessoal
- Surge com a necessidade de regular a vida do cidadão (é uma das atividades
essenciais do estado) em sociedade por meio de normas objetivas sem as quais a
vida em comunidade seria impossível.

 Direito objetivo: conjunto de normas que exterioriza a vontade do estado


quanto à regulamentação das relações sociais, entre indivíduos, entre
organismos do estado ou entre uns e outros.

 Direito subjetivo: é a possibilidade de comportamento autorizado ou não


vedado pela norma objetiva.

Toda violação às normas objetivas constitui um ilícito jurídico, variando a sanção


de acordo com o bem jurídico tutelado ou no grau em que se lesa ou põe em
perigo a paz social.

O direito de punir nasce a partir da necessidade da retribuição, evitando a


iniciativa da vingança privada.

Conceito: Segundo José Frederico Marques: O Jus puniendi pode ser definido
como “o direito que tem o estado de aplicar a pena cominada no preceito
secundário da norma penal incriminadora, contra quem praticou a ação ou
omissão descrita no preceito primário, causando um dano ou lesão jurídica”.

Obs.: o direito de punir só pode realizar-se, através do processo penal (due


process of law).

Devído Processo Legal (Due Process of Law) é um princípio fundamental da


legislação brasileira, estando previsto no Art. 5º, LIV, o qual afirma: "ninguem será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal".
Em outras palavras, Devído Processo Legal é o princípio de que é o obrigação
que o Estado tem de respeitar todos os direitos legais atribuídos ao ser humano,
assegurando que todos seram julgados através de um processo previsto em lei,
seguindo devidamente todas as etapas e todas as garantias constitucionais
concedidas ao indivíduo. Ou seja, o Devído Processo Legal serve como agente
limitador do Poder Punitivo do Estado, defendendo os direitos do indivíduo

2. Pretensão punitiva e lide penal:

Pretensão - (Capez): É a exigência de subordinação de um interesse alheio a um


interesse próprio. Em outras palavras, é o desejo de afastar o interessa alheio em
beneficio do próprio.
Pretensão corre quando confere-se ao titular o direito que é devido pelo Estado ou
até mesmo por outro particular, os quais devem agir no sentido de realizar uma
conduta para conferir esse Direito. A Pretensão Punitiva é o Direito do Estado ou
do indivíduo ofendido de solicitar a prestação jurisdicional.

Lide – (Carnelutti): É o conflito de interesses qualificado por uma pretensão


resistida.

Diz-se, então, que na lide há um interesse subordinante e um subordinado. Um


que deve prevalecer, por ser protegido pelo Direito, e outro que deve ser
subordinado, por lhe faltar a tutela jurídica.

Na esfera penal, da exigência de subordinação do interesse do autor do fato ou


infração penal ao interesse do estado, resulta a pretensão punitiva.

É com o direito de ação (jus persequendi), consistente em obter do juiz a sentença


sobre a lide deduzida no processo, que o estado demonstra a existência do jus
puniendi no caso concreto a fim de ser aplicada a sanção penal adequada sem a
violação do jus libertatis.

É POSSIVEL NO PROCESSO PENAL A INEXISTÊNCIA DE LIDE?

R.: Afrânio Silva Jardim afirma que sim nos casos de confissão onde o autor do
fato submete-se à pena máxima da norma secundária.

3. O processo penal

- Tem caráter instrumental – aplicação do direito material;


- Regulamenta a atividade dos envolvidos na persecução penal (MP, Delegado,
Juiz etc);
- Sistematiza procedimentos.

Conceito: Segundo José Frederico Marques: é o conjunto de normas e princípios


que regulam a aplicação jurisdicional do direito penal objetivo, a sistematização
dos órgãos de jurisdição e respectivos auxiliares, bem como da persecução penal.

Para NUCCI, G.S. há ainda o processo penal democrático, onde cuida da


visualização do processo penal a partir dos postulados estabelecidos pela CF, no
contexto dos direitos e garantias humanas fundamentais, adaptando o CPP a essa
realidade, ainda que, se preciso for, deixe-se de aplicar legislação
infraconstitucional defasada.

Autodefesa ou autotutela: é o emprego da força e, portanto, a negação do


próprio direito com a prevalência do mais forte sobre o mais fraco;
 é a forma mais primitiva de retribuição tendo suas prováveis origens legais
no Código de Hamurabi – século XVIII a.C.
 o direito moderno não mais a admite, salvo em algumas exceções: legítima
defesa, estado de necessidade; legítima defesa da posse e desforço
imediato (direito das coisas).
 fora disso é crime – art. 345 CP (particular) e 350 (agente público).

Autocomposição: reporta-se ao fato de que ambas as partes, de comum


acordo, colocam fim ao litígio, onde uma afasta em certo grau sua pretensão
original e a outra alivia ou reduz a sua resistência.

Temos a chamada transação que no direito civil, atualmente, é uma forma de


contrato e no direito processual penal esbarra no princípio da obrigatoriedade
da ação penal e da indisponibilidade da ação penal, onde o MP não pode
deixar de oferecer denúncia (havendo materialidade de indícios de autoria) ou
desistir da ação penal, tendo sido recebida a denúncia ou queixa crime
subsidiária.

Exceção: há no direito processual penal a possibilidade da transação permitida


pela lei 9.099/95 e, atualmente, o acordo de não persecução penal (ANPP – art.
28-A, do CPP - Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019), sendo estas as únicas
formas de composição do litígio derivadas da autocomposição.

Obs.: Como regra o processo depende da jurisdição penal para por fim ao
litígio, limitando o jus libertatis e infligindo a pena.

4. Autonomia do direito processual penal:


O Direito Processual Penal consiste em ciência autônoma no campo da
dogmática jurídica, uma vez que tem objeto e princípios que lhe são próprios.
Comungam desta vertente Tourinho Filho e Frederico Marques.

Pelo estudo específico nas universidades (Direito Processual Penal como matéria
específica, separada do Direito Geral) sua autonomia ganha cada vez mais
adeptos.

5. Relações do direito processual penal:

O Direito Processual Penal possui relações com todos os outros ramos do direito:

Direito Constitucional: dependência – supremacia da constituição (A


Constituição é a lei suprema na legislação brasileira, e todas as leis menores
estão submissas a ela)

art.5°, XXXVIII, XLII, XLIII, XLI, LXVI, XLVIII, XXXVII, LII, LIV, LVII, LV, LVI, LIX,
LXVIII, XI, LXI, LXII,LXIV, LXV, LXVI, LXVII
Direito Penal: Atrelado ao caráter instrumental – razão de ser do processo (O
Direito Processual Penal existe para definir e legislar o processo pelo qual o
Direito Penal é executado).

Direito Processual Civil: São dois ramos do mesmo tronco – teoria geral do
processo

indenização como efeitos da condenação:


art. 91, I CP
art. 63 do CPP e art. 515, VI, do NCPC (antigo 475-N, II)
art. 65 do CPP – 92 e 94, do CPP

questões prejudiciais: posse de coisas ou bens


arts. 120, 122, 125 e 134, do CPP

Direito Administrativo: Se relacionam através da organização judiciária/código


de normas (rol de culpados)
autoridade penitenciária – execução de pena

Direito Civil:
prova do estado das pessoas – art. 155, p.ú. (Lei 11.690/08)
prova do estado de documentos – art. 231 e 238
impedimentos no direito de família – art. 252, 253, 254, 255 e 448 (Lei 11.689/08)
Testemunho – art. 206
(todos do CPP)

Direito Comercial: Se relacionam através do procedimento falimentar – lei


11.101/05 – art. 183

Direito Internacional público:


art. 88 do CPP – competência
art. prevalência dos tratados sobre a lei processual art. 1°, I CPP
relações com autoridades estrangeiras – art. 780 a 782 CPP
cartas rogatórias – art. 783 a 786 CPP
homologação de sentença penal estrangeira art. 787 a 790 CPP (ver EC 45/04 –
STJ)

Relações com as ciências auxiliares: O Direito Processual Penal também se


relaciona com ciências alheias ao Direito em si, as quais são necessárias como
como complemento.

Medicina Legal: conceitos médicos ão necessários para a criação de leis penais:


Conceito de homicídio
Lesões corporais
Estupro, etc.
Em outras palavras, disciplina a realização do exame de corpo de delito – art. 158
e ss. CPP
(cadeia de custódia – art. 158-A, CPP - (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Psiquiatria Forense: Se relacionam através da verificação de distúrbios mentais.


- influência na verificação das hipóteses de inimputabilidade – art. 149 a 154 CPP

Psicologia judiciária: Exame criminológico (progressão de regime – art. 114, II da


LEP)
- estudos sobre o comportamento de testemunhas, etc.

Criminalística ou Polícia científica: aplicação de várias ciências na investigação


criminal;
colabora na descoberta de crimes e seus autores;
identificação de pessoas (odontoscopia).

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