Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Análise da Proposição – O poeta define o tema: "Eu canto o peito ilustre Lusitano..."
VOCABULÁRIO:
- As armas – as hostes; aqueles que contribuíram para o esforço da descoberta e conquista mas
cujo nome não ficou na História.
- Os barões (varões) assinalados – os homens ilustres, aqueles cuja fama ficou registada.
- A expressão inicial pode ser entendida como “Os feitos e os homens ilustres”. É um decalque do
1º verso da Eneida: Arma virumque cano.
- ocidental praia Lusitana – Portugal.
- Taprobana – nome clássico da ilha de Ceilão; ao sul da Índia.
- em perigos e guerras esforçados - ultrapassando perigos e vencendo combates com esforço
perseverante.
- gente remota - povos distantes.
- Novo Reino – império português no Oriente.
- sublimaram - tornaram sublime, engrandeceram.
- dilatando – aumentando.
- a Fé - a religião católica.
- terras viciosas – terras não cristãs, onde não se pratica a religião católica, terras pagãs.
- devastando – percorrendo, descobrindo.
- valerosas – valorosas.
- lei da Morte – esquecimento.
- se vão da lei da morte libertando - vão ganhando fama que lhes sobreviverá, serão lembrados
pelas gerações futuras.
- engenho – talento.
- arte – eloquência, a arte de dizer.
- Cessem – deixe de se falar.
- sábio Grego – Ulisses, herói da Odisseia. Ao voltar a casa, depois da guerra de Tróia, navegou
durante dez anos pelo mar Mediterrâneo.
- Troiano – Eneias, herói da Eneida. Camões chama-lhe “troiano”, porque era filho do rei de Tróia,
Príamo. Após a destruição de Tróia, navegou com os companheiros pelo Mediterrâneo,
procurando um lugar para fundar uma nova cidade (Roma).
- Alexandro – Alexandre Magno, cujo império ia da Grécia às proximidades do rio Indo.
- Trajano – imperador romano, conhecido pelas suas campanhas militares na Ásia.
- peito ilustre Lusitano – povo português.
- Neptuno e Marte – Respectivamente, deus do mar e da guerra, para os romanos.
- Musa antiga – poesia antiga (da Antiguidade greco-romana).
Que o herói desta epopeia é colectivo, é um facto incontestável. Quanto a isso, o próprio
título é inequívoco: os “lusíadas” são, afinal, os portugueses — todos, não apenas os passados,
mas até os presentes e futuros, na medida em que assumam as virtudes que caracterizam, no
entendimento do poeta, o povo português e que ele sintetiza, na dedicatória a D. Sebastião, desta
forma:
amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno
O facto de o seu herói ser colectivo e a sua acção se estender por um intervalo de tempo
muito vasto permite-lhe desdobrá-lo em subgrupos, conforme verificaremos a seguir. O plural
utilizado para designar cada um deles confirma o carácter colectivo do herói: “barões
assinalados”, “Reis”, “aqueles”.
A inversão da ordem sintáctica nessa primeira frase, que engloba as duas estâncias iniciais,
pode tornar difícil, à primeira leitura, a compreensão do texto. A ordem normal seria esta:
Cantando, espalharei por toda a parte as armas e os barões...
Pode esquematizar-se o conteúdo dessas duas estrofes da seguinte maneira:
Através da poesia,
se tiver talento para isso,
tornarei conhecidos em todo o mundo
↓
os homens ilustres
que fundaram o império português do Oriente
↓
Pelo esquema, vemos que Camões apresenta três grupos de agentes (“agentes” e não
heróis, porque herói é “o peito ilustre lusitano”).
O primeiro é constituído pelos “barões assinalados”, responsáveis pela criação do império
português na Ásia. É evidente que o poeta destaca principalmente a actividade marítima, a gesta
dos descobrimentos (“Por mares nunca dantes navegados, / Passaram ainda além da Taprobana”).
O segundo grupo inclui os reis que contribuíram directamente para a expansão do
cristianismo e do império português (“foram dilatando / A Fé o Império”). Aqui é sobretudo o
esforço militar que se evidencia (“andaram devastando”).
No terceiro grupo incluem-se todos os demais, todos os que se tornaram dignos de
admiração pelos seus feitos, quaisquer que eles sejam.
Ao contrário das epopeias primitivas, aqui o herói é colectivo, o que o próprio título logo
indica — Os Lusíadas. Por outro lado, na proposição, como vimos, a indicação dos heróis além de
ser desdobrada em grupos diferenciados, é utilizado em cada um deles o plural.
A proposição não é uma simples indicação dos seus heróis, mas obedece já a uma
estratégia de engrandecimento dos portugueses. A expressão “por mares nunca dantes
navegados” evidencia o carácter inédito das navegações portuguesas; observe-se o destaque dado
à palavra “nunca”. A exaltação continua com a referência ao esforço desenvolvido, considerado
sobre-humano (“esforçados / Mais do que prometia a força humana”).
29- "E porque, como vistes, têm passados e o outro, pelas honras que pretende,
na viagem tão ásperos perigos, debatem, e na porfia permanecem;
tantos climas e céus exprimentados, a qualquer seus amigos favorecem.
tanto furor de ventos inimigos,
que sejam, determino, agasalhados 35- Qual Austro fero ou Bóreas na espessura
nesta costa africana como amigos; de silvestre arvoredo abastecida,
e, tendo guarnecido a lassa frota, rompendo os ramos vão da mata escura
tornarão a seguir sua longa rota." com impeto e braveza desmedida,
brama toda montanha, o som murmura,
30- Estas palavras Júpiter dizia, rompem-se as folhas, ferve a serra erguida:
quando os Deuses, por ordem respondendo, tal andava o tumulto, levantado
na sentença um do outro diferia, entre os Deuses, no Olimpo Consagrado.
razões diversas dando e recebendo.
O padre Baco ali não consentia 36- Mas Marte, que da Deusa sustentava
no que Júpiter disse, conhecendo entre todas as partes em porfia,
que esquecerão seus feitos no Oriente ou porque o amor antigo o obrigava,
se lá passar a Lusitana gente. ou porque a gente forte o merecia,
de entre os Deuses em pé se levantava
31- Ouvido tinha aos Fados que viria (merencório no gesto parecia)
ua gente fortíssima de Espanha o forte escudo, ao colo pendurado,
pelo mar alto, a qual sujeitaria deitando para trás, medonho e irado.
da Índia tudo quanto Dóris banha,
e com novas vitórias venceria 37- A viseira do elmo de diamante
a fama antiga, ou sua ou fosse estranha. alevantando um pouco, mui seguro,
Altamente lhe dói perder a glória por dar seu parecer se pôs diante
de que Nisa celebra inda a memória. de Júpiter, armado, forte e duro.
E dando ua pancada penetrante
32- Vê que já teve o Indo sojugado co conto do bastão no sólio puro,
e nunca lhe tirou Fortuna ou caso o Céu tremeu, e Apolo, de torvado,
por vencedor da Índia ser cantado um pouco a luz perdeu, como enfiado.
de quantos bebem a água de Parnaso.
Teme agora que seja sepultado 38- E disse assi: –"Ó Padre, a cujo império
seu tão célebre nome em negro vaso tudo aquilo obedece que criaste:
d'água do esquecimento, se lá chegam se esta gente que busca outro hemisfério,
os fortes Portugueses que navegam. cuja valia e obras tanto amaste,
não queres que padeçam vitupério,
33- Sustentava contra ele Vénus bela, como há já tanto tempo que ordenaste,
afeiçoada à gente Lusitana não ouças mais, pois és juiz direito,
por quantas qualidades via nela razões de quem parece que é suspeito."
da antiga, tão amada, sua Romana;
nos fortes corações, na grande estrela 39- "Que, se aqui a razão se não mostrasse
que mostraram na terra Tingitana, vencida do temor demasiado,
e na língua, na qual quando imagina, bem fora que aqui Baco os sustentasse,
com pouca corrupção crê que é a Latina. pois que de Luso vêm, seu tão privado.
Mas esta tenção sua agora passe,
34- Estas causas moviam Citereia, porque enfim vem de estâmago danado
e mais, porque das Parcas claro entende (que nunca tirará alheia inveja
que há-de ser celebrada a clara Deia o bem que outrem merece e o Céu deseja)."
onde a gente belígera se estende.
Assi que, um, pela infâmia que arreceia,
40- "E tu, Padre de grande fortaleza, 41- Como isto disse, o Padre poderoso,
da determinação que tens tomada a cabeça inclinando, consentiu
não tornes por detrás, pois é fraqueza no que disse Mavorte valeroso
desistir-se da cousa começada. e néctar sobre todos espargiu.
Mercúrio, pois excede em ligeireza Pelo caminho Lácteo glorioso
ao vento leve e à seta bem talhada, logo cada um dos Deuses se partiu,
lhe vá mostrar a terra onde se informe fazendo seus reais acatamentos,
da Índia, e onde a gente se reforme." para os determinados aposentos.
um por seu capitão que, peregrino - referência a Sertório que também comandou os Lusitanos e,
sendo romano, estava longe da Pátria;
fingiu na cerva espírito divino - Sertório tinha uma gazela que dizia ter sido presente dos deuses e
possuir dons sobrenaturais;
27)
cometendo - acometendo, enfrentando;
duvidoso - incerto, perigoso;
lenho leve - pequeno navio;
Áfrico e Noto – nomes de ventos;
partes vendo onde o dia é comprido e onde breve - refere-se à extensão, em latitude, da viagem.
28)
do mar que vê do Sol a roxa entrada - do mar oriental, do Oceano Índico (roxa- rubra, vermelha);
perdida e trabalhada - sem ter encontrado o destino e extenuada pelas canseiras.
29)
inimigos – contrários, adversos;
lassa – cansada;
30)
sentença - opinião;
padre Baco - deus Baco, mítico introdutor da técnica de preparação do vinho;
31)
Ouvido tinha aos Fados – estava destinado;
Espanha – Península Ibérica;
tudo quanto Dóris banha - tudo o que o mar banha (Dóris era uma divindade associada com o
mar);
ou sua, ou fosse estranha - a fama dele, Baco, ou doutro qualquer (toda a fama antiga);
Nisa – lugar mítico onde Baco teria crescido;
32)
de quantos bebem a água de Parnaso - dos poetas (o Parnaso é um monte na Grécia cujas fontes
eram supostas inspirar os poetas);
água do esquecimento - água do mítico rio Letes que era suposta provocar amnésia nos que a
bebessem;
33)
estrela - predestinação;
terra Tingitana - Norte de África (de Tânger);
língua (...) que com pouca corrupção crê que é a latina - a língua portuguesa (que, diga-se em
abono da verdade, apesar de semelhante a um dialecto latino que se falava na Península Ibérica
no tempo dos romanos, é muito diferente do Latim puro);
34)
Citereia – Vénus;
Parcas – divindades do destino dos homens;
há-de ser celebrada a clara deia onde a gente belígera se estende - há-de ser cultivado o amor
(Vénus é a deusa do amor) onde chegarem os portugueses;
um... e o outro – Baco e Vénus;
35)
Austro e Bóreas – nomes de dois ventos (o Vento Sul e o Vento Norte) que, na Mitologia Clássica,
correspondiam a duas divindades menores;
36)
que da deusa sustentava - que a deusa apoiava;
partes em porfia - opiniões em disputa;
porque o amor antigo o obrigava - referência à antiga paixão de Marte por Vénus;
ANÁLISE DA ESTRUTURA:
O consílio dos Deuses no Olimpo é um modo de interligar os deuses com a viagem. Será no
Olimpo que se decidirá “sobre as cousas futuras do Oriente”. Este concílio foi convocado por
Júpiter, o pai dos deuses, que se serve de Mercúrio, o deus mensageiro, para convocar todos os
deuses que vão chegando de todas as partes do planeta. Os deuses sentam-se segundo a
hierarquia que dá mais importância aos deuses mais antigos.
Quando todos os deuses estão sentados nos seus "luzentes assentos", Júpiter inicia o seu
discurso dizendo que está decidido pelos Fados que o povo lusitano fará esquecer através dos
seus feitos os Assírios, os Persas, os Gregos e os Romanos.
Júpiter começa por lembrar a todos os deuses que os portugueses eram um povo guerreiro
e corajoso que já tinham conquistado o país aos mouros e vencido por diversas vezes os temidos
castelhanos.
Refere, ainda, as antigas vitórias de Viriato, chefe lusitano, frente aos romanos e termina o
seu discurso chamando a atenção dos deuses para os feitos presentes dos portugueses que
corajosamente, lutando contra tantas adversidades, empreendiam importantes viagens pelo
mundo e que, por isso, mereceriam ser ajudados na passagem pela costa africana.
Júpiter anuncia assim a sua boa vontade em relação ao prosseguimento da viagem dos
lusitanos e que estes fossem recebidos como bons amigos na costa africana.
Após este discurso, são consideradas outras posições em que se destaca a oposição de
Baco, pois este receia vir a perder toda a fama que havia adquirido no Oriente caso os
portugueses atinjam o objectivo. Baco, o deus do vinho, insurge-se de imediato contra os
portugueses, pois sentia uma enorme inveja pela imensa glória que o destino lhes reservava. Na
Índia prestava-se culto a Baco, e o invejoso deus temia que os seus seguidores rapidamente o
esquecessem com a chegada dos portugueses.
Uma outra posição de destaque é a de Vénus que defende os portugueses, não só por se
tratar de uma gente muito semelhante à do seu amado povo latino e com uma língua derivada do
Latim, como também por terem demonstrado grande valentia no norte de África.
portugueses por serem um povo guerreiro e também para agradar a Vénus com quem tinha tido
no passado uma relação amorosa.
No seu discurso, Marte pretende que Júpiter não volte atrás com a sua palavra e pede a
Mercúrio – o Deus mensageiro – que colha informações sobre a Índia, pois começa a desconfiar da
posição tomada por Baco.
Assim, em relação a Júpiter, o poeta diz: o Tonante, o Padre sublime e digno, com gesto
alto, severo e soberano, do rosto respirava um ar divino, Júpiter alto, grave e horrendo.
Mercúrio, o mensageiro dos deuses, é caracterizado, salientando-se a sua simpática
presteza e resistente velocidade: o neto gentil do velho Atlante.
Os deuses são ainda caracterizados pelos ricos ambientes onde se movem, pela maneira
de vestir e pela grandeza das regiões que dominam ou governam: Vêm pisando o cristalino céu
formoso; deixam dos sete céus o regimento que do poder mais alto lhes foi dado; num assento de
estrelas cristalino; com uma coroa e um ceptro rutilante, /de outra pedra mais clara que diamante;
Em luzentes assentos, marchetados de ouro e de perlas, os outros deuses todos assentados;
eternos moradores do luzente, estelífero polo e clar assento (magnificência do Olimpo).
Todas estas expressões nos revelam os deuses como seres superiores aos homens,
imponentes no aspecto e nos ambientes que frequentam. Esta imponência está de acordo com a
função do maravilhoso n' Os Lusíadas: uma alegoria de enaltecimento dos feitos portugueses, que,
por acção dos deuses, adquiriram uma grandeza transcendente. A sublime majestade dos deuses
reflecte-se na sublimidade dos feitos lusos.
Segundo Júpiter, deve-se não só permitir a viagem dos portugueses, mas até ajudá-los a
alcançar o seu objectivo, pelas seguintes razões:
- o seu grande valor e forte coragem já revelados em tão grandes vitórias contra os
mouros, castelhanos e romanos;
- os Fados (o destino) já tinham determinado que o povo luso ultrapassasse a glória dos
assírios, gregos e romanos (os povos greco-romanos acreditavam que o Fado (Destino)
era mais poderoso do que os próprios deuses);
Caracterização de Marte
A gravidade, a força, a majestade de Marte são bem visíveis, no seu aspecto, nas suas
atitudes e no efeito que estas atitudes tiveram na natureza e nos próprios deuses: " Marte se
levantava de entre os deuses, merencório no gesto, o forte escudo, ao colo pendurado,... medonho
e irado... pôs-se diante de Júpiter, armado, forte e duro; e dando uma pancada penetrante com o
bastão... o céu tremeu, e Apolo, de torvado, um pouco a luz perdeu, como enfiado".
O poeta faz surgir, diante de Júpiter, o deus Marte com uma força e autoridade, quase
igual à do pai dos deuses. Não era apenas por se tratar do deus da guerra; a intenção do poeta era
mostrar o deus Marte como o símbolo da força, da coragem, da vitória. Marte aparece aqui como
que para personificar a força dos portugueses (povo que a Marte tanto ajuda), o seu amor à luta,
as suas vitórias passadas e futuras.
Reparem que, após o discurso de Marte, favorável aos portugueses, nenhum deus se
atreveu a contrariá-lo, e o próprio Júpiter, o Padre poderoso, a cabeça inclinando, consentiu no
que disse Mavorte valeroso.
NOTAS:
1. O episódio do Consílio dos Deuses insere-se na mais longa parte da estrutura interna da
obra: a Narração (Canto I).
2. A primeira estrofe deste episódio indica que a narração da viagem se inicia quando Vasco
da Gama já vai no Oceano Índico, processo narrativo chamado in media res (a meio da
história), típico das epopeias clássicas e aqui usado por Camões.
3. A introdução de um episódio repleto de deuses pagãos faz com que a verdadeira história
(viagem à Índia) se anime e se torne mais interessante e viva, existindo, assim, duas
histórias paralelas: a da viagem e a dos deuses.
4. Face à Santa Inquisição, a introdução de deuses pagãos nesta obra serve, apenas, de
ornamento, devendo o leitor ter em conta que eles são falsos e que só o Deus cristão deve
ser venerado.
5. O uso dos deuses romanos é também uma regra das epopeias clássicas cumprida por
Camões.
6. Este episódio é do tipo mitológico, uma vez que recorre à mitologia como fonte de
inspiração.
7. Pela razão anterior, o episódio é baseado, apenas, no Maravilhoso Pagão, uma vez que o
Deus Cristão (Maravilhoso Cristão) não é nele invocado.
8. A introdução deste episódio no início da Narração, faz com que os humanos sejam
valorizados, no sentido em que todos os deuses se reúnem para decidirem o seu destino e,
mais do que isso, a reunião acaba a favor dos valentes mortais. Neste sentido, reforça-se a
ideia de Humanismo (valorização do ser humano) e de Antropocentrismo (os humanos são
o centro das preocupações e das atenções dos deuses).
ANÁLISE DA ESTRUTURA:
Est. Análise
118-119 Introdução: localização temporal da acção e apresentação do caso da morte de
Inês de Castro. Vasco da Gama relata ao rei de Melinde o episódio trágico de
Inês de Castro, cujo responsável é o amor, o causador da sua morte.
120-121 Situação inicial de felicidade, ainda que a estrutura trágica se anuncie desde o
início. Inês vivia tranquilamente nos campos do Mondego, rodeada por uma
natureza alegre e amena, recordando a felicidade vivida com D. Pedro o seu
amor. O narrador vai introduzindo indícios de que essa felicidade não será
duradoira e terá um fim cruel:
“Naquele engano da alma, ledo e cego”;
“Que a fortuna não deixa durar muito”;
“De noite, em doces sonhos que mentiam”.
122-125: Razões que levam D. Afonso IV à decisão de mandar matar Inês: D. Pedro
recusa-se a casar de novo e o murmurar do povo. Em conformidade com as
necessidades do Reino, a morte de Inês é para o rei a única forma de terminar
com o amor que a unia a D. Pedro. Inês é trazida diante do rei e prepara-se para
suplicar ao rei que lhe poupe a vida.
126-129 Discurso de Inês de Castro: compara a crueldade dos seres humanos a animais
selvagens capazes de maior piedade. Baseia a sua argumentação na
humanidade do rei (perante os netos); refere não ter cometido qualquer crime;
pede a substituição do castigo da morte pelo castigo do desterro, teme deixar
os filhos órfãos.
130-132: O rei é apresentado como estando comovido com as palavras de Inês, disposto
a perdoá-la. O rei vacila, com piedade, mas as razões do Reino levam-no a
prosseguir. O povo e o destino são apresentados como culpados da decisão
final.
Inês é comparada a Polycena (filha de Príamo, rei de Tróia, que foi sacrificada
sobre o túmulo de Aquiles). A estrofe 132 descreve o culminar da tragédia: a
morte de Inês de Castro.
133-135 Consequências da morte de Inês de Castro na natureza. Reflexões do narrador.
O narrador repudia a morte de Inês que compara à da própria natureza. As
lágrimas das ninfas do Mondego fazem nascer a fonte dos amores, eternizando
esta tragédia.
136-137 Vingança de D. Pedro. Quando sobe ao trono, vinga-se mandando matar os
carrascos de Inês.