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FACULDADE INPG – INSTITUTO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CHINA – ANÁLISE DE POLÍTICA EXTERNA

Isabele Leal e Priscyla Maia

São José dos Campos, São Paulo - Brasil


2021
1. SOBRE A REPÚBLICA POPULAR DA CHINA

A China é atualmente o país com maior população no mundo e mais extenso território
no sudeste asiático. Existem 34 subdivisões no país, sendo 23 províncias, incluindo a Província
de Taiwan (território contestado), 4 municipalidad es, 5 regiões autônomas e 2 regiões
administrativas especiais compondo uma república popular socialista uni partidária.

Com mais de 90% dos habitantes pertencentes a etnia han, sua língua oficial inclui o
mandarim, cantonês e outros idiomas regionais, porém com forte unidade étnica. Sua área
central é o núcleo de gravidade político, cultural, demográfico e agrário do país. Historicamente,
a China escolheu uma estratégia política semelhante à da Rússia: ataque como defesa,
promovendo seu poderio. Sempre houve um sentimento forte de identidade na China e diferença
para com seus vizinhos, algo que perdura ainda hoje em relação ao Ocidente.

Alguns analistas esperavam que os anos pós-guerra levariam a democracia liberal para
a China, porém isso reflete uma falta de compreensão da dinâmica interna do povo, política e
geografia da região. A China foi palco de disputas por supremacia até 1949, quando Mao Tse
Tung emergiu vitorioso com os comunistas, expulsando os nacionalistas para Taiwan. Mao
centralizou o poder radicalmente, bloqueando influências externas e se expandindo à Mongólia
e Tibete e reconstruindo o país. A marcha econômica que se sucedeu levou a China a um tipo
próprio de socialismo, que alçou a China à posição de potência comercial e militar sob um
governo de partido único e centralizado, presente em todas as facetas da sociedade.

2. POLÍTICA EXTERNA CHINESA E SUA ESTRUTURA

Os órgãos e instituições mais importantes no processo de formulação, execução e


decisão de Política Externa são:

Ministério de Relações Exteriores: Conduz a política externa para o Estado. É o órgão


mais proeminente da política externa chinesa, encarregado de pôr em prática a diplomacia de
Estado para Estado. Ele fornece a estrutura logística para a implementação e comunicação da
política externa. Porém, o diplomata mais graduado da China é o presidente da Comissão
Central de Relações Exteriores do PCC.

Comissão Central de Relações Exteriores: Principal órgão de formulação de política


externa, onde os interesses do Partido são debatidos e priorizados. O MRE continua a
desempenhar um papel integral na política externa chinesa, uma vez que executa as prioridades
de Xi Jinping.
Como a maioria das outras nações, a política externa da China é conduzida pelo MRE
chinês. No entanto, o MRE está subordinado ao Grupo Líder de Negócios Estrangeiros, parte
integrante do PCC que decide sobre a formulação de políticas públicas. Grande parte da política
externa chinesa é formulada em grupos de pensadores formalmente fora do governo. A
China também se distingue por ter um corpo separado estratégico e de teoria das relações
internacionais, que é distinta da teoria ocidental.

O poder do partido chinês é primordial, de maneira que, quase todos os membros dos
órgãos encarregados fazem parte do PCC. O órgão mais alto do partido ocupa a posição mais
elevada do que o órgão mais alto do Estado, de maneira que o partido ultrapasse todos os setores
do Estado. Dentro do sistema de tomada de decisão, há a implementação de uma estrutura
devidamente formalizada. Todo e qualquer pedido é passado de nível para nível, e mesmo que
um indivíduo possa tomar uma decisão, antes de agir ele deve recorrer a uma ordem de um
nível superior, para garantir que sua ação possa ser executada.

O principal órgão de coordenação é o Comitê Central do PCC, sendo o mais


importante órgão do sistema chinês, onde seus membros são designados a realizar as funções
mais importantes para o governo. Em seguida, temos o Conselho de Estado, o qual é concedido
a administração cotidiana do país, sendo considerado o ‘gabinete’ da China, chefiado por um
primeiro-ministro estadual, que desempenha um papel semelhante ao de um primeiro-ministro
e que, com vários vice premiês e conselheiros, supervisiona um sistema de governo (órgãos
centrais de escalão inferior, incluindo comissões, ministérios, órgãos de administração e
organizações centrais). Por fim, o terceiro órgão é o Congresso Nacional do Povo, responsável
por supervisionar o Conselho de Estado.

Cada um desses órgãos de coordenação, delegam seus poderes de tomada de decisão a


sub comitês executivos que se reúnem com mais regularidade, já que se reúnem apenas
anualmente. Dentre esses subcomitês, o mais importante é o Comitê Permanente do Politburo
do PCC, cujos sete membros derivam dos 25 membros do Politburo, que por sua vez são os
membros mais poderosos do Comitê Central.

O Comitê Permanente do Politburo supervisiona as decisões consequentes que afetam


os principais relacionamentos da China, incluindo os Estados Unidos, Japão, Rússia e Coréia
do Norte, além de lidar com emergências ou crises internacionais. Embora se presuma que haja
uma série de chamados 'homens de ponta' no CPP cobrindo várias questões estratégicas - nas
relações sino-americanas, nas europeias e com a Coreia do Norte – poucos têm
responsabilidades específicas de política externa.
Já questões que envolvem mudanças na política e decisões de longo prazo, onde serão
necessárias discussões mais extensas, são tratadas no Politburo, que possui sessões de estudo
regulares para servir de base para a promoção de novas políticas e direções. O órgão realizou
22 sessões de estudo desde o final de 2012, das quais cinco tiveram relevância internacional.

Apesar de toda essa estrutura e tantos órgãos e burocracias para tomada de uma decisão,
essa permanece em segredo na China, especialmente as datas das reuniões e ordens do CPP
raramente são tornadas públicas. É importante ressaltar que os atores dentro do CPP e do
Politburo têm alguns poderes de vetos não oficiais, de maneira que decisões importantes podem
ser vetadas se conseguirem formar uma coalizão com poder suficiente para derrubar divergência,
já que a China o processo de “liderança coletiva”.

Ainda dentro desse processo de tomada de decisão temos os ‘Leading Small Groups’
(LSGs) ou comitês para aconselhar os líderes sobre como devem proceder ‘em questões de
interesse, além disso, os membros mais importantes estão vinculados ao Comitê Central, onde
reportam ao CPP. Esses grupos funcionam como mecanismos de coordenação para diferentes
províncias e interesses do partido, para examinar diversas questões e para implementar
diretrizes centrais.

Por fim, o principal tomador de decisões na questão de política externa é o presidente


Xi Jinping. Seu papel de liderança na política externa teve início antes de seu mandato, como
comandante de um novo LSG, com enfoque na segurança marítima. Poucos meses depois, foi
nomeado chefe do 'Escritório para Responder à Crise de Diaoyu'. Acabou também sendo eleito
como chefe do novo Comitê de Segurança do Estado em 2013. Deste modo, Xi Jinping
demonstrava forte interesse pelas questões de política externa, sendo hoje o único coordenador
da política externa e de segurança chinesa. Ao tomar frente das decisões referentes ao tema, o
presidente precisa conciliar todos os conflitos de interesses ao mesmo tempo, de ambos os
setores (política externa e segurança), além de aceitar que terá fontes de informação conflitantes
sobre qualquer decisão.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FIDDLER, Connor. The 3 Pillars of Chinese Foreign Policy: The State, the Party, the
People. The Diplomat. Disponível em: <https://thediplomat.com/2021/02/the-3-pillars-
of-chinese-foreign-policy-the-state-the-party-the-people/>. Acesso em 12 de abr. de 2021.

CHINA. Ministério das Relações Exteriores. Main Responsabilities of the Ministry of


Foreign Affairs of the People’s Republic of China. Disponível em:
<https://www.fmprc.gov.cn/mfa_eng/wjb_663304/zyzz_663306/>. Acesso em 12 de abr
de 2021.

CHINA. Ministério das Relações Exteriores. Departments. Disponível em:


<https://www.fmprc.gov.cn/mfa_eng/wjb_663304/zzjg_663340/>. Acesso em 12 de abr
de 2021.

JAKOBSON, Linda; MANUEL, Ryan. How are foreign policy decisions made in China?.
Asia & the Pacific Policy Studies, 2016, 3.1: 101-110. Disponível em: <
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/app5.121>. Acesso em 13 de abr. de
2021.

LU, Ning. The dynamics of foreign-policy decisionmaking in China. Routledge, 2018.


Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=8NFMDwAAQBAJ&lpg=PT9&ots=Vz8542rx-
g&dq=china%20foreign%20policy%20decisions&lr&hl=pt-
PT&pg=PT20#v=onepage&q=china%20foreign%20policy%20decisions&f=false>.
Acesso em 13 de abr. de 2021.

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