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DA PRECARIZAÇÃO À ESCRAVIDÃO:
os reflexos da terceirização no combate ao trabalho em condições análogas a
de escravo no Brasil contemporâneo
VIÇOSA (MG)
2017
TERESA CHAVES SILVA
DA PRECARIZAÇÃO À ESCRAVIDÃO:
os reflexos da terceirização no combate ao trabalho em condições análogas a
de escravo no Brasil contemporâneo
VIÇOSA (MG)
2017
AGRADECIMENTOS
À 1ª Vara Criminal de Ponte Nova, por todo o aprendizado, mesmo no curto período
de tempo em que laborei.
Aos amigos e família, por não me deixarem esquecer que “é preciso ter força, é
preciso ter raça, é preciso ter gana, SEMPRE!”
Falar em trabalho escravo no Brasil em pleno século XXI pode soar a algumas
pessoas como uma realidade distante ou como um episódio de nossa história que já
ficou no passado. Entretanto, não é o que acusam os dados e denúncias de
organizações não governamentais (ONG’s), e até mesmo de entidades do governo,
como o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho (MPT), referentes
ao trabalho escravo contemporâneo em território brasileiro. Diante de uma
conjuntura política em que o Congresso Nacional, com respaldo do Poder Executivo,
vem aprovando reformas na legislação trabalhista, dentre outras leis pertinentes aos
direitos sociais de sua população, é prudente que sejam analisados os possíveis
reflexos dessas mudanças no enfrentamento ao crime de trabalho em condições
análogas à de escravo no Brasil. O presente trabalho busca investigar o fenômeno
da terceirização bem como o trabalho escravo contemporâneo no Brasil, com vistas
a delinear a relação existente entre os mesmos e, ainda, comprovar a hipótese de
que o fenômeno terceirizante dificulta o combate ao crime previsto no artigo 149 do
Código Penal Brasileiro. Para tanto, foi feita pesquisa bibliográfica e documental
acerca dos temas, com análise de livros, artigos, leis e imagens que ilustrem o
passado e a atualidade brasileiros referentes à terceirização e ao trabalho escravo.
Utilizou-se o método sistêmico e histórico, por serem os institutos estudados
elementos de um sistema econômico e jurídico complexos. Para entender os
possíveis reflexos da ampliação da terceirização no combate à forma mais vil de
exploração da mão-de-obra humana, foram analisadas as condições análogas à
escravidão no setor têxtil brasileiro, cuja cadeia produtiva comumente faz uso da
terceirização, concluindo-se que a mesma precariza os direitos trabalhistas, além de
ser um instrumento para as empresas desviarem-se da responsabilidade de arcar
com as ilegalidades.
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 47
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49
7
1 INTRODUÇÃO
O Brasil possui uma dívida histórica com sua população indígena e negra,
cuja mão-de-obra foi legalmente escravizada em diferentes épocas e proporções,
sendo os negros traficados do continente africano e escravizados durante quase 4
séculos em território brasileiro. A escravidão era o alicerce das relações de trabalho
no Brasil Colônia e Império, e a liberdade daqueles que eram escravizados era
suprimida para servir de instrumento de lucro do mercantilismo, principalmente
através da extração de riquezas naturais.
Em 13 de maio de 1888, após a decretação de várias medidas e leis
antiescravistas anteriores, que compuseram o processo de abolição formal – e tardia
– da escravidão no Brasil, como a Lei Eusébio de Queirós (1850), a Lei do Ventre
Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885), foi promulgada a Lei Áurea 1, que
declarou extinta a utilização do trabalho escravo em todo o território brasileiro. No
entanto, apesar do governo brasileiro abolir formalmente a escravidão, o trabalho de
muitos permaneceu após 1888 em condições semelhantes, quiçá piores, àquelas
anteriores à Lei Áurea, apesar desses trabalhadores não possuírem mais o status de
escravos.
Aproximadamente 100 anos após a abolição da escravatura, a existência de
trabalho análogo ao de escravo foi reconhecida no Brasil, no governo de Fernando
Henrique Cardoso (1995), após pressão internacional em decorrência do caso Zé
Pereira2, revelando o paradoxo entre a construção do direito ao trabalho digno pela
ordem jurídica brasileira e a realidade cruel de muitos trabalhadores.
O trabalho escravo contemporâneo tem relação direta com a ideologia
neoliberalista e com o chamado Estado Poiético, que sobrepõe o “fazer econômico”
em detrimento do direito fundamental ao trabalho digno, dentre outros direitos
sociais, propondo novas práticas para o capitalismo contemporâneo, com destaque
para a flexibilização das normas jurídicas e desregulamentação das relações de
trabalho.
1Lei Imperial n° 3.353, de 13 de maio de 1888, cujo texto possui apenas 2 artigos. (BRASIL, 1888)
2
José Pereira Ferreira nasceu em Goiás e, aos 08 anos foi com o pai para o Pará, onde trabalhou
em uma fazenda em condições semelhantes às de escravidão. Em 1989, ao tentar fugir, foi baleado e
quase morto, mas conseguiu sobreviver e denunciou suas condições de trabalho na fazenda à Polícia
Federal. Não obtendo respostas, Zé Pereira apresentou seu caso às ONG’s, que, por sua vez,
apresentaram denúncia à OEA (Organização dos Estados Americanos). Em 2003, 14 anos após fugir,
o ex-escravo recebeu do Estado Brasileiro uma indenização no valor de R$ 52.000,00. (BRASIL, 20-)
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Quem governa o nosso país é quem tem dinheiro, quem não sabe o que é
fome, a dor, a aflição do pobre. Se a maioria revoltar-se, o que pode fazer a
minoria? Eu estou do lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido.
Precisamos livrar o país dos políticos açambarcadores.
Trecho de "Quarto de Despejo: diário de uma favelada", de Carolina Maria
de Jesus
3 Importante ressaltar que, embora exista a divisão em “interna” e “externa”, nem sempre os
trabalhadores terceirizados de uma empresa que faz uso da terceirização de serviços trabalham em
seu interior, e da mesma forma, não é incomum que as parceiras de empresas que descartam etapas
de sua produção se encontrem na mesma planta que a principal. ( VIANA,2017)
4 O Estado Poiético, em contraposição ao Estado Ético, valoriza o “fazer econômico” em detrimento
do político, jurídico e social, deixando-se guiar pelos ideais neoliberais. (SALGADO, 1998, p.56)
10
Diante disso e das reformas pelas quais a legislação brasileira tem passado
no ano de 2017 no que tange à terceirização, no sentido de ampliar sua utilização,
faz-se necessário analisar o contexto de surgimento do instituto no Brasil e sua
evolução até os dias atuais.
5 Esse modelo de produção recebeu o nome de toyotismo devido ao sistema propagado pelas
empresas japonesas, tal como a Toyota, a partir da década de 1980, em contraposição ao
taylorismo/fordismo, que se ocupavam da produção em série e em massa. O toyotismo, por sua vez,
se preocupa com a comercialização de produtos restritos e elaborados em pequenas séries, para
atender aos diversos tipos de consumidores. (NEVES DELGADO, 2006, p.178).
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6
O fenômeno não foi abordado na CLT, apesar de alguns autores indicarem os arts. 455 e 652, III,
que tratam da subempreitada e da pequena empreitada, como um prenúncio da terceirização.
(MIRAGLIA, 2008, p.143).
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7
Súmula nº 256 do TST
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (cancelada) - Res. 121/2003, DJ 19,
20 e 21.11.2003
Salvo os casos de trabalho temporário e de serviço de vigilância, previstos nas Leis nºs 6.019, de
03.01.1974, e 7.102, de 20.06.1983, é ilegal a contratação de trabalhadores por empresa interposta,
formando-se o vínculo empregatício diretamente com o tomador dos serviços.
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O andamento completo do PL 4.302/98 pode ser acompanhado no site da Câmara dos Deputados.
(BRASIL, 2017a)
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O prazo de 180 dias foi uma das alterações provocadas pela Lei 13.429/2017. Anteriormente a essa
lei, o prazo era de 3 meses, apenas podendo ser prorrogado com autorização do Ministério do
Trabalho e Previdência Social.
10 É o que se pode concluir da leitura do Art. 4°-A, §2°, da Lei 6019/74, incluído pela Lei 13.429/17,
que, apesar de não ser claro, dispõe: “§ 2o Não se configura vínculo empregatício entre os
trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a
empresa contratante.” (BRASIL, 2017b)
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Tal ponto da referida lei tem sido duramente criticado por poder “levar à
fragmentação excessiva dos processos produtivos, dificultando a fiscalização, pelos
11 Segundo Delgado (2013, p. 453), o trabalho temporário consiste na única situação de terceirização
lícita em que se permite a pessoalidade e subordinação do trabalhador perante o tomador de
serviços.
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Houve, ainda, o acréscimo dos artigos 4°-C, 5°-C e 5°-D à Lei 6.019/74,
igualando os empregados terceirizados aos efetivamente contratados quanto às
condições sanitárias e relativas à alimentação, atendimento médico e treinamento
adequado, quando a atividade for executada nas dependências da tomadora.
(BRASIL, 2017b)
Ressalta-se que o artigo 5°-C busca evitar a prática da “pejotização”,
estabelecendo que uma empresa não pode contratar outra pessoa jurídica cujos
titulares ou sócios tenham trabalhado para a contratante nos dezoito meses
anteriores, exceto se estes estiverem aposentados:
Art. 5º-C. Não pode figurar como contratada, nos termos do art. 4º-A desta
Lei, a pessoa jurídica cujos titulares ou sócios tenham, nos últimos dezoito
meses, prestado serviços à contratante na qualidade de empregado ou
trabalhador sem vínculo empregatício, exceto se os referidos titulares ou
sócios forem aposentados. (BRASIL, 2017)
Da mesma forma, o artigo 5°-D impede que o empregado que for demitido
seja contratado como terceirizado pelo prazo de dezoito meses a contar da
demissão, já que isso gera fraude ao vínculo de emprego, o que não se admite,
conforme artigo 9°, da CLT: “Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o
objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na
presente Consolidação.” (BRASIL, 1943)
A análise pormenorizada e contextualizada da Leis 13.429/17 e 13.467/17 no
que tange à terceirização, portanto, remete à reflexão acerca da necessidade já
mencionada de se regulamentar o fenômeno terceirizante, de forma a se respeitar
os princípios basilares do Direito do Trabalho:
A terceirização, per si, não cria nenhum emprego. Se fosse extinta hoje, a
única consequência em termos de emprego seria a formalização de todos
os contratos com os tomadores de serviço. Ocorre que, na verdade, a
20
[...] esse fenômeno trouxe de volta um passado que parecia, realmente, ter-
se passado – pelo menos em grande escala e nos países centrais – como é
o caso do trabalho escravo ou infantil; e pôs em contato, em relação de
simbiose, empresas de ponta com fazendas ou oficinas clandestinas.
(VIANA, 2017, p.53)
Custo de aquisição de Alto. A riqueza de uma pessoa Muito baixo. Não há compra e, muitas vezes,
mão-de-obra podia ser medida pela gasta-se apenas o transporte
quantidade de escravos
Lucros Baixos. Havia custos com a Altos. Se alguém fica doente pode ser
manutenção dos escravos mandado embora, sem nenhum direito
Relacionamento Longo período. A vida inteira do Curto período. Terminado o serviço, não é
escravo e até de seus mais necessário prover o sustento
descendentes
Diferenças étnicas Relevantes para a escravização Pouco relevantes. Qualquer pessoa pobre e
miserável são os que se tornam escravos,
independentemente da cor da pele
13
Art. 149 - Reduzir alguém a condição análoga à de escravo:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. (BRASIL, 1940)
14
Considera-se que os artigos 132, 203, 206 e 207, do CPB, incluídos e/ou alterados pela Lei
9.777/98 são acessórios no combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas. (FINELLI, 2016)
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I.4) Assim, o trabalho forçado, em seu conceito mais amplo, deve ser
entendido como aquele que contempla, dentre outras, as seguintes
situações:
•Utilização de trabalhadores, através de intermediação de mão-de-obra
pelos chamados “gatos” e pelas Cooperativas fraudulentas;
•Utilização de trabalhadores aliciados em outros Municípios ou Estados,
pelos próprios tomadores de serviços ou através de interposta pessoa, com
promessas enganosas e não cumpridas;
•Servidão de trabalhadores por dívida, com o cerceamento de sua liberdade
de ir e vir e o uso de coação moral ou física, para mantê-los no trabalho;
•Submissão de trabalhadores a condições precárias de trabalho, pela falta
ou inadequado fornecimento de alimentação sadia e farta e de água
potável; •Fornecimento aos trabalhadores de alojamentos sem condição de
habitabilidade e sem instalações sanitárias adequadas;
•Falta de fornecimento gratuito aos trabalhadores de instrumentos para
prestação de serviços, de equipamentos de proteção individual e de
materiais de primeiros socorros;
•Não utilização de transporte seguro e adequado aos trabalhadores;
•Não cumprimento da legislação trabalhista, desde o registro do contrato na
carteira de trabalho, passando pela falta de cumprimento das normas de
proteção à saúde e segurança dos trabalhadores, até a ausência de
pagamento da remuneração a eles devida;
•Coagir ou induzir trabalhador a se utilizar de armazéns ou serviços
mantidos pelos empregadores ou seus prepostos. (FINELLI, 2016, p. 46/47)
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A Convenção n. 29 da OIT, de 1930, reconheceu a existência de trabalho forçado no mundo e
determinou a adoção de medidas para a extinção dessa prática. Tal Convenção foi ratificada pelo
Brasil em 1957, mesmo ano em que a Convenção n. 29 foi complementada pela Convenção n. 105,
esta última ratificada pelo Brasil em 1965. (MIRAGLIA; ARRUDA, 2016, p. 38)
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conhece tais condições mas as aceita, pois sua liberdade de escolha é condicionada
a uma situação de grande vulnerabilidade e miserabilidade sociais.
Pode-se considerar, ainda, que o §1º do artigo 149 do Código Penal abrange
outras maneiras de se manter o trabalho forçado, restringindo o direito de ir e vir do
trabalhador. Nesses casos, a retenção no local de trabalho ocorre pelo cerceamento
dos meios de transporte, pela vigilância ostensiva do local ou ainda pelo
apoderamento de documentos e objetos pessoais do trabalhador, com o fim de
mantê-lo forçadamente no local de trabalho.
Outra maneira de restringir a liberdade de locomoção do trabalhador ocorre
através de dívida contraída com o empregador ou com o preposto, o que é chamado
de servidão por dívida, que será tratada a seguir.
16
Art. 462 - Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo
quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo.
§ 2º - É vedado à empresa que mantiver armazém para venda de mercadorias aos empregados ou
serviços estimados a proporcionar-lhes prestações " in natura " exercer qualquer coação ou
induzimento no sentido de que os empregados se utilizem do armazém ou dos serviços. (BRASIL,
1943)
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Além do trabalho forçado e da servidão por dívida, o artigo 149 do CPB prevê
outras espécies de trabalho em condições análogas à de escravo, com o objetivo de
tutelar a dignidade da pessoa humana e o direito ao trabalho digno, “seja em sua
intensidade e duração – jornada exaustiva –, seja em termos mais abrangentes,
como as condições do local de trabalho, o trato e o descumprimento de normas
básicas de saúde e higiene – condições degradantes.” (FINELLI, 2016, p. 79)
Essas outras formas de escravidão contemporânea serão tratadas nos
próximos itens.
A jornada de trabalho considerada normal tanto pela CLT (art. 58) quanto pela
Constituição de 1988 (art. 7º, XIII, CR/88) tem como limite máximo a duração de oito
horas diárias e quarenta e quatro semanais, com a possibilidade de prestar horas
extras mediante um adicional no valor de, no mínimo 50% do que é pago pelo
trabalho em hora normal. A CLT estabelece ainda os períodos de descanso, que
devem ser respeitados, tanto dentro da mesma jornada (intervalos intrajornadas de
no mínimo uma hora), quanto entre uma jornada e outra (intervalos interjornadas de
29
Mão de trabalhador machucada pelo trabalho e a água que ele consumia. Fonte: ONG, [201-]
30
Figura 2
17
Tal Projeto de Lei visa à regulamentação da EC 81/2014 na tentativa de reduzir as figuras típicas
do crime de “trabalho em condições análogas à escravidão”, previstas no artigo 149 do CPB,
excluindo a jornada exaustiva e as condições degradantes de trabalho do conceito. A tramitação atual
do referido PL será tratada posteriormente.
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[...] não é à toa que o art. 149 do Código Penal traz hoje uma
impossibilidade, uma identificação como verdadeiro abuso de se manterem
trabalhadores em condições degradantes. Não é possível que se admita
uma resistência em relação a essa situação. É como se observássemos o
crime previsto no art. 149, apenas e tão-somente, pelo viés da liberdade.
Ora, é claro que a liberdade é importante. Mas, ainda sobre esse viés, é
importante dizer. Não é só a liberdade de ir e vir. É a liberdade de contratar.
Em determinados momentos, o trabalhador pode sair do local onde está
prestando serviços. Pode sair andando. Nem sempre há corrente, nem
sempre há capangas armados. Mas, na maior parte das vezes, há uma
dívida. Na maior parte das vezes, há uma humilhação a que é submetido o
trabalhador, e essa situação faz com que ele, trabalhador honesto,
trabalhador orgulhoso, permaneça para pagar a dívida e não saia. E se ele
não consegue sair, vai permanecer submetido a essas condições. Então, é
preciso observar a liberdade sim. Mas não é só aquela liberdade de ir e vir,
aquela liberdade de ambular porque, em determinados momentos isso pode
ser observado. Mas, principalmente, não deixem de pensar nisso, a
liberdade de contratar, a liberdade de assumir uma obrigação de prestar
serviços, mas a liberdade também de abandonar aquele local em todos os
momentos, em todas as situações em que o trabalhador estiver sendo
absurdamente explorado. (MELO, 2009, p. 98)
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O Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (PNETE) foi lançado em 11 de março de
2003, no início do governo Lula, com medidas a serem implementadas pelos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, além do Ministério Público e entidades da sociedade civil, para o combate às
formas contemporâneas de escravidão. Em 2008, foi aprovado um 2° PNETE. (ONG, 2008)
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22Tanto o Protocolo quanto a Recomendação 203 ratificam a Convenção n°29 da OIT, com enfoque
nas formas de enfrentamento do trabalho escravo contemporâneo. Dentre as recomendações está a
imposição de outras sanções, além das sanções penais, “como o confisco dos benefícios derivados
do trabalho forçado ou obrigatório e outros ativos, em conformidade com a legislação nacional;” (OIT,
2014)
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conjunta do Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 169, de 200923, com o PLS nº 432,
de 2013. (BRASIL, 2017)
Fato é que tal tentativa de remover do artigo 149 do CPB as modalidades de
condições análogas à de escravo que afetem principalmente a dignidade do trabalho
humano representa um verdadeiro retrocesso social diante de toda a retrospectiva
histórica e jurídica de combate ao trabalho escravo contemporâneo, combate esse
que tem o dia 13 de maio de 1888 apenas como um marco inicial, ainda havendo
muito no que se avançar. (FINELLI, 2016, p. 135)
23O PLC 169, de 2009, dispõe sobre a proibição de entidades ou empresas brasileiras ou sediadas
em território nacional estabelecerem contratos com empresas que explorem trabalho degradante em
outros países. (BRASIL, 2017)
38
O governo está de mãos dadas com quem escraviza. Não bastasse a não
publicação da lista suja, a falta de recursos para as fiscalizações, a
demissão do chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do
Trabalho Escravo (Detrae), agora o ministério edita uma portaria que afronta
a legislação vigente e as convenções da OIT. (CAVALCANTI, 2017 apud
MPT, 2017)
Para corroborar tal relação, a tabela a seguir apresenta dados relativos aos
10 maiores resgates de trabalhadores em condições análogas à de escravo no país
nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, revelando que quase 90% desses
trabalhadores compunham uma relação de emprego terceirizada:
Figura 3
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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ao trabalho escravo. Câmara dos Deputados Website, 26 nov. 2014. Disponível
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2017.
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53
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