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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S
TCSD
Nº 70039004213
2010/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


QUEDA DE TRANSFORMADOR DE ENERGIA
ELÉTRICA DE POSTE. EXPLOSÃO. DANOS
MORAIS E MATERIAIS.
Nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a
concessionária de energia elétrica responde
objetivamente pela reparação de danos causados
em acidente em rede pública de sua
responsabilidade, em vista do risco administrativo
assumido.
Hipótese dos autos em que o transformador de
energia se desprendeu do posto e caiu ao chão,
provocando incêndio parcial do veículo em que
estavam as demandantes.
Dano material comprovado. Dano moral verificado.
Valor da condenação mantido na forma arbitrada
pela sentença.
APELO DESPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL NONA CÂMARA CÍVEL

Nº 70039004213 COMARCA DE PORTO ALEGRE

COMPANHIA ESTADUAL DE APELANTE


DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA CEEE D

SANDRA ELIZABETH DE OLIVEIRA APELADO


ROCHA

CAMILA DE OLIVEIRA ROCHA APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Nona Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento
ao apelo.
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes


Senhores DESA. MARILENE BONZANINI (PRESIDENTE) E DES. LEONEL
PIRES OHLWEILER.
Porto Alegre, 27 de abril de 2011.

DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY,


Relator.

RELATÓRIO
DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY (RELATOR)

Cuida-se de apreciar recurso de apelação interposto pela


COMPANHIA ESTADUAL DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA –
CEEE-D em face da sentença de parcial procedência lançada nos autos da
ação indenizatória ajuizada por SANDRA ELIZABETH DE OLIVEIRA
ROCHA e CAMILA DE OLIVEIRA ROCHA.
A decisão atacada, em síntese, reconheceu a responsabilidade
da CEEE-D pela queda do transformador de um poste que acabou
incendiando o veículo ocupado pelas autoras quando passavam pelo local.
O julgador singular reconheceu os danos morais da demandante Sandra,
mas rejeitou a pretensão de Camila, dispondo da seguinte forma:

Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido


inicial para condenar a ré a indenizar a autora Sandra Elizabeth
de Oliveira Rocha no pagamento de indenização, que pelos
materiais fixo nos valores desembolsados por ela, comprovados
às fls. 32 e 33, atualizados pelo IGPM nas respectivas datas, e
pelos morais, fixados em R$ 10.000,00, atualizada pelo mesmo
índice a partir da sentença, ambas acrescidas de juros legais
contados da citação. Face a sucumbência recíproca, condeno a
ré no pagamento de 70% das despesas processuais e dos
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honorários advocatícios, fixados em 15% do valor da


condenação. E as autoras no pagamento de 30% das custas e
honorários advocatícios, que fixo em R$ 500,00 suspensa a
exigibilidade pela gratuidade mas autorizada a compensação.

Nas razões de apelação a COMPANHIA ESTADUAL DE


DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – CEEE-D sustentou não haver
provas de sua responsabilidade pelo evento narrado na inicial. Salientou que
sequer há fotos do veículo alegadamente incendiado e que não há provas
dos prejuízos materiais ou morais sofridos. Sucessivamente, combateu o
quantum indenizatório fixado a título de danos morais e, por fim, pugnou pela
reforma da sentença.
Apresentadas contrarrazões, vieram os autos a esta Corte a
mim distribuídos por sorteio.
É o relatório.

VOTOS
DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY (RELATOR)

Ilustres Colegas.
Conheço do apelo, pois preenchidos os pressupostos de
admissibilidade.
Quanto ao mérito, ao que se verifica da prova produzida nos
autos, diversamente do sustentado nas razões recursais, existem fartos
elementos para concluir que, efetivamente, o veículo em que estavam as
autoras foi atingido por um transformador que se desprendeu de um poste e
pegou fogo, incendiando parte do carro.
A este respeito constam duas matérias de jornal da época (fls.
26/27), a ficha de vistoria realizada no veículo pela empresta que prestar

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serviço de guincho (fl. 25) e o boletim de ocorrência dando ciência do fato à


Autoridade Policial.
Não bastasse isso, a única testemunha ouvida na instrução,
funcionário da própria requerida, confirmou a ocorrência dos fatos e a
explosão do transformador que atingiu o veículo da autora:

J: O senhor participou do fato que originou essa


demanda, a explosão de um transformador na rua
Lima e Silva: T: Sim. Fiz o atendimento lá – primeiro
atendimento emergencial eu fiz lá.
J: O senhor chegou lá quanto tempo depois do
ocorrido? T: Não sei o tempo que já tinha acontecido.
Quando eu cheguei lá o carro já estava lá queimado lá
– creio que 20 minutos.
J: Em que altura da Lima e Silva foi isso? T: Acho que
entre a República e ....
J: Que horário o senhor chegou lá? T: Entre 21h30 e
22h.
J: Isso foi à noite? T: Sim.
J: Qual o carro que estava queimado que o senhor
refere? T: Tinha um pálio e um Peugeot 206.
J: O Pálio foi atingido onde? T: Ele tinha manchas de
queimadura por todo carro – tinha respingado óleo.

Prova em sentido contrário, que desconstituísse os elementos


de cognição trazidos com a inicial, a requerida não se desincumbiu, nos
termos do artigo 333, II, do Código de Processo Civil.
Ademais disso, a requerida responde de forma objetiva pelos
danos, por ser concessionária de serviço público, na forma do artigo 37, §
6º, do CPC, ou seja, independentemente de culpa.
Neste sentido já se posicionou o STJ e esta Corte, a exemplo
dos julgados abaixo:
RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCESSIONÁRIA DE
SERVIÇO PÚBLICO. ELETROCUSSÃO. MORTE DE
MENOR. (...). TEORIA DO RISCO OBJETIVO.
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APLICABILIDADE. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.


INADMISSIBILIDADE. DESPESAS DE LUTO E
FUNERAL. FATO CERTO. PENSIONAMENTO DOS
PAIS. POSSIBILIDADE. CONSTITUIÇÃO DE
CAPITAL. PRECEDENTES. DANOS MORAIS.
VALOR RAZOÁVEL. (...). II - A obrigação das
empresas concessionárias de serviços públicos de
indenizar os danos causados à esfera juridicamente
protegida dos particulares, a despeito de ser
governada pela teoria do risco administrativo, de modo
a dispensar a comprovação da culpa, origina-se da
responsabilidade civil contratual. III - Consoante deflui
do disposto no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal,
basta ao autor demonstrar a existência do dano para
haver a indenização pleiteada, ficando a cargo da ré o
ônus de provar a causa excludente alegada, o que,
segundo as instâncias ordinárias, não logrou fazer.
(...). (REsp 506.099/MT, Rel. Ministro CASTRO
FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/12/2003,
DJ 10/02/2004 p. 249)

RESPONSABILIDADE CIVIL. CEEE. ACIDENTE POR


ELETROCUSSÃO. Responde a concessionária pelo
descumprimento de seu dever de fiscalização, ao não
constatar a existência de fio elétrico situado à altura
insuficiente, em estrada pública, na qual circulavam
diversos tipos de veículos. Obrigação de zelo e
manutenção que independe de ter sido a rede
encampada pela CEEE, visto que as financiadas por
particulares também se destinam, com exclusividade,
à passagem de energia fornecida pela apelante.
Incidência dos arts. 159 do Código Civil e 37, § 6º da
Constituição Federal. Inexistência de culpa
concorrente de terceiro. Valor indenizatório que
atende às peculiaridades do caso em comento. Apelo
improvido. (Apelação e Reexame Necessário Nº
70000129379, Décima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Luiz Ary Vessini de Lima,
Julgado em 13/09/2001)

Igualmente, não se culpa exclusiva/concorrente das autoras,


pois estavam trafegando de carro quando foram surpreendidas pela queda
do transformador e as chamas.

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Relativamente à prova dos danos materiais, a inicial veio


instruída com prova de despesas com o tratamento da autora (fls. 32/33),
razão porque vai mantida a condenação neste aspecto.
Com relação aos danos morais, afora os transtornos
presumidos e os abalos sofridos pelo risco a que foi exposta a autora, o
laudo do perito médico psiquiatra evidenciou diagnosticou um quadro
depressivo moderado a grave (CID 10 F32.2 – fl. 136) da demandante
Sandra em razão do acidente.
No que tange ao quantum indenizatório, tenho que os R$
10.000,00 (dez mil reais) arbitrados na origem não merecem qualquer
reparo.
À vista da inexistência de parâmetros legais para fixação do
valor do dano extrapatrimonial, o julgador deve observar os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade1. Outrossim, deve atentar para a natureza
jurídica da indenização2, que deve constituir uma pena ao causador do dano
e, concomitantemente, compensação ao lesado, além de cumprir seu cunho
pedagógico sem caracterizar enriquecimento ilícito.
Nesse sentido é a lição de Caio Mário da Silva Pereira (in
Responsabilidade Civil, 4ª ed., 1993, p. 60), nos seguintes termos:
A vítima de uma lesão a algum daqueles direitos sem
cunho patrimonial efetivo, mas ofendida em um bem
jurídico que em certos casos pode ser mesmo mais
valioso do que os integrantes de seu patrimônio, deve

1
REsp 797.836/MG, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, j. 02.05.2006.
2
“A reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e satisfação compensatória. (...). Penal,
constituindo uma sanção imposta ao ofensor. (...). Satisfatória ou compensatória, (...) a reparação
pecuniária visa proporcionar ao prejudicado uma satisfação que atenue a ofensa causada.” (DINIZ,
Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 16ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 94, V. 7)
"Segundo nosso entendimento a indenização da dor moral, sem descurar desses critérios e
circunstâncias que o caso concreto exigir, há de buscar, como regra, duplo objetivo: caráter
compensatório e função punitiva da sanção (prevenção e repressão), ou seja: a) condenar o agente
causador do dano ao pagamento de certa importância em dinheiro, de modo a puni-lo e desestimulá-
lo da prática futura de atos semelhantes; b) compensar a vítima com uma importância mais ou menos
aleatória, em valor fixo e pago de uma só vez, pela perda que se mostrar irreparável, ou pela dor e
humilhação impostas." (STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, 6ª ed., São Paulo: RT, 2004,
p. 1709.)
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receber uma soma que lhe compense a dor ou o


sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo às
circunstâncias de cada caso, e tendo em vista as
posses do ofensor e a situação pessoal do ofendido.
Nem tão grande que se converta em fonte de
enriquecimento, nem tão pequena que se torne
inexpressiva.

Sergio Cavalieri Filho (na obra Programa de Responsabilidade


Civil, 8ª ed., Editora Atlas S/A, 2009, p. 93), ao tratar do arbitramento do
dano moral, assim se manifestou:
Creio, também, que este é outro ponto onde o
princípio da lógica do razoável deve ser a bússola
norteadora do julgador. Razoável é aquilo que é
sensato, comedido, moderado; que guarda uma certa
proporcionalidade. A razoabilidade é o critério que
permite cotejar meios e fins, causas e conseqüências,
de modo a aferir a lógica da decisão. Para que a
decisão seja razoável é necessário que a conclusão
nela estabelecida seja adequada aos motivos que a
determinaram; que os meios escolhidos sejam
compatíveis com os fins visados; que a sanção seja
proporcional ao dano. Importa dizer que o juiz, ao
valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que,
de acordo com o seu prudente arbítrio, seja
compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a
intensidade e duração do sofrimento experimentado
pela vítima, a capacidade econômica do causador do
dano, as condições sociais do ofendido, e outras
circunstâncias mais que se fizerem presentes.

Afora isso, no caso específico dos autos, não se pode


desconsiderar o risco em potencial à integridade física da autora cujo carro
foi atingido pelas chamas de transformador que caiu do poste explodiu.
Sendo assim, mantenho o valor arbitrado na origem.

Do exposto, nego provimento ao apelo.

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DES. LEONEL PIRES OHLWEILER (REVISOR) - De acordo com o(a)


Relator(a).
DESA. MARILENE BONZANINI (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)
Relator(a).

DESA. MARILENE BONZANINI - Presidente - Apelação Cível nº


70039004213, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AO
APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: MURILO MAGALHAES CASTRO FILHO

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