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Sugestões de utilização

Esta apresentação permite uma análise coletiva dos poemas do


manual, pois poderá escrever sobre os diapositivos para, por exemplo,
destacar palavras ou partes dos poemas, salientar os recursos expressivos,
assinalar o esquema rimático...
Como? Muito simples: em modo de apresentação, selecione, no canto
inferior esquerdo do diapositivo, a caneta ou o marcador e escolha uma
cor. Poderá recorrer a cores diferentes para salientar aspetos distintos.
Basta clicar novamente na caneta ou no marcador e escolher uma nova cor
da tinta.
No final, pode guardar a apresentação com ou sem as anotações.
Descalça vai para a fonte

MOTE VOLTA
Descalça vai pera a fonte Leva na cabeça o pote,
Leanor, pela verdura; o testo nas mãos de prata,
vai fermosa e não segura. cinta de fina escarlata,
saínho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura;
vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,


cabelos de ouro o trançado,
fita de cor de encarnado...
Tão linda que o mundo espanta!
Chove nela graça tanta
que dá graça à fermosura;
vai fermosa, e não segura.

Luís de Camões, Lírica Completa I,


2.ª ed., Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986
Aquela cativa

Aquela cativa, Ũa graça viva, Presença serena


que me tem cativo, que neles lhe mora, que a tormenta amansa;
porque nela vivo, para ser senhora nela enfim descansa
já não quer que viva. de quem é cativa. toda a minha pena.
Eu nunca vi rosa Pretos os cabelos, Esta é a cativa
em suaves molhos, onde o povo vão que me tem cativo.
que para meus olhos perde opinião E pois nela vivo,
fosse mais fermosa. que os louros são belos. é força que viva.

Nem no campo flores, Pretidão de Amor,


nem no céu estrelas, tão doce a figura,
me parecem belas que a neve lhe jura
como os meus amores. que trocara a cor.
Rosto singular, Leda mansidão
olhos sossegados, que o siso acompanha;
pretos e cansados, bem parece estranha,
mas não de matar. mas bárbora não.
Luís de Camões, Lírica Completa I, 2.ª ed., Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986
Os bons vi sempre passar

Esparsa sua ao desconcerto do mundo.

Os bons vi sempre passar


no mundo graves tormentos;
e, para mais m’espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau; mas fui castigado.
Assim que só para mim
anda o mundo concertado.

Luís de Camões, Lírica Completa I,


2.ª ed., Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986
Alma minha gentil, que te partiste

Alma minha gentil, que te partiste


tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,


memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te


algũa cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,


que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
Luís de Camões, Lírica Completa II,
2.ª ed., Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994
Amor é um fogo que arde sem se ver

Amor é um fogo que arde sem se ver,


é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter, com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões, Lírica Completa II,
2.ª ed., Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994

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