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TST
Horas "in itinere" podem ser limitadas em acordo coletivo
A limitação do pagamento das horas "in itinere" é válida quando prevista em acordo coletivo. Segundo a
jurisprudência do TST, após o advento da lei 10.243/01 (clique aqui), que assegurou aos trabalhadores o
direito às horas "in itinere", é possível estabelecer, por meio de negociação coletiva, um valor fixo a ser
pago como parcela de horas "in itinere".
Essa interpretação foi utilizada em julgamento recente na SDI-1 do TST, em processo relatado pela
ministra Rosa Maria Weber. Como explicou a relatora, a supressão das horas "in itinere", ainda que por
instrumento coletivo de trabalho, em relação ao período posterior à edição da lei 10.243/01 (clique aqui),
é inviável.
Mas, tendo em vista o artigo 7º, XXVI, da Constituição (clique aqui), que assegura o reconhecimento das
convenções e acordos coletivos de trabalho, admite-se a quantificação do período de trajeto, porque
muitas vezes há dificuldades de provar o tempo exato gasto pelo empregado até o local de trabalho e
retorno quando é de difícil acesso ou não contemplado por transporte público.
Nessas condições, afirmou a ministra Rosa Weber, pode-se estipular um montante estimativo de horas
diárias, semanais ou mensais a ser pago pelo empregador como horas "in itinere". Por conseqüência,
em decisão unânime, a SDI-1 deu provimento a recurso de embargos de empresas que pretendiam o
reconhecimento da validade de acordo que estipulara um valor determinado para pagamento de horas
"in itinere". Durante o julgamento, os ministros Lelio Bentes Corrêa e José Roberto Pimenta
apresentaram ressalvas de entendimento.
O caso já tinha sido julgado pelo TRT da 9ª região. O TRT concluiu que a cláusula de acordo prevendo o
pagamento de período determinado era nula, pois prejudicial a alguns trabalhadores. Os instrumentos
normativos fixaram o tempo "in itinere" em 1 hora diária (30 minutos para ida e 30 para retorno), no
entanto, o tempo médio despendido pelos empregados em transporte era de 56 minutos em cada um
dos trajetos.
Na 1ª turma do TST, os ministros não chegaram a analisar o mérito do recurso de revista por
entenderem que a decisão do Regional estava de acordo com a jurisprudência aplicável a casos
semelhantes. O colegiado chamou a atenção para o fato de que o período relativo às horas itinerantes
passou a constituir norma mínima de proteção ao trabalhador depois da vigência da lei 10.243/01 (clique
aqui), e, desse modo, só poderia ser modificado por negociação coletiva se resultasse em norma mais
benéfica para os empregados.
______________
ACÓRDÃO
Esta Corte Superior firmou sua jurisprudência no sentido de ser válida cláusula normativa que delimita
o tempo do percurso, independentemente do despendido na realidade, a limitar o pagamento das horas
in itinere, em nome do princípio da liberdade de negociação, consagrado no art. 7º, XXVI, da Lei
Maior, que assegura o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho.
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Inconformado, o primeiro reclamado interpõe recurso de embargos, às fls. 268-81 (fax) e 282-95
(originais).
Não há impugnação.
É o relatório.
VOTO
I CONHECIMENTO
1. PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
“A Corte Regional negou provimento ao recurso ordinário dos reclamados, mediante os seguintes
fundamentos, fls. 231-232:
................................................................................................................
Os instrumentos normativos aplicáveis à categoria do autor fixaram o tempo in itinere em 1 hora diária,
sendo 30 minutos para ida e mais 30 minutos para o retorno (fl. 84), enquanto o tempo médio
despendido em transporte revelado pela prova oral era de 56 minutos em cada um dos trajetos (...) No
caso em tela, é nula a cláusula que prevê o pagamento de Período determinado, pois, embora se refira a
toda a categoria, é prejudicial, ante à comprovação de que o autor despendia mais tempo do que aquele
fixado no instrumento normativo, conforme fundamentos já exarados pelo MM. Juízo de origem.
................................................................................................................
Os reclamados, no recurso de revista, insistem na validade do instrumento coletivo a que alude a Corte
Regional. Apontam violação do art. 7º, XXVI, da Constituição Federal. Indicam arestos para o
confronto de teses.
Com efeito, o campo de negociação coletiva não é ilimitado, devendo visar à melhoria da condição
social do trabalhador, além de observar as normas mínimas de proteção ao trabalho (arts. 7º, caput, e
114, §2º, da Constituição da República, respectivamente).
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Registre-se que, até o advento da Lei nº 10.243/2001, era possível pactuação coletiva em torno das
horas de percurso. Isso porque se tratava de construção jurisprudencial sem previsão expressa em lei.
Assim, a partir da edição da referida lei, o período relativo às horas itinerantes passou a constituir
norma mínima de proteção ao trabalhador e, como tal, somente poderá ser alvo de negociação coletiva
se dela resultar norma mais benéfica.
Em reforço a essa compreensão, releva notar que a Lei Complementar nº 123, de 14/12/2006, tratou da
possibilidade de flexibilização das horas de percurso unicamente para as microempresas e empresas de
pequeno porte.
Com efeito, a referida lei introduziu o §3º no art. 58 da CLT, permitindo a negociação coletiva nesses
casos para se fixar o tempo médio do percurso, a forma e a natureza da remuneração. Disso resulta que,
em regra, ou seja, na hipótese cogitada no §2º do art. 58 da CLT, não será permitida flexibilização
coletiva da duração e da remuneração das horas in itinere.
Conclui-se, assim, que a decisão recorrida encontra-se em consonância com o direito aplicável à
espécie. Nesse sentido caminha a jurisprudência:
Até o advento da Lei nº 10.243/2001, era possível pactuação coletiva em torno das horas de percurso,
porque se tratava de construção jurisprudencial sem previsão expressa em lei. Assim, a partir da edição
da referida lei, o período relativo às horas itinerantes passou a constituir norma mínima de proteção ao
trabalhador e, como tal, somente poderá ser alvo de negociação coletiva se dela resultar norma mais
benéfica. Em reforço a esse entendimento a Lei Complementar nº 123/2006 introduziu o §3º ao art. 58
da CLT, permitindo a flexibilização coletiva desse direito apenas na hipótese de microempresas e
empresas de pequeno porte.
A partir da edição da Lei nº 10.243/2001, que acrescentou o §2º ao art. 58 da CLT, definiu-se que seria
computado na jornada o tempo despendido no trajeto para o local da prestação de serviços, quando de
difícil acesso ou não servido por transporte público, em condução fornecida pelo empregador (§2º). Em
reforço a esse entendimento, a Lei Complementar nº 123/2006 introduziu o §3º ao art. 58 da CLT,
permitindo a flexibilização coletiva desse direito apenas na hipótese de microempresas e empresas de
pequeno porte. Inválida, portanto, cláusula de acordo coletivo que prevê o pagamento apenas do
período excedente a duas horas diárias (uma hora no percurso de ida e uma hora no percurso de volta).
Dessa forma, não se vislumbra ofensa ao art. 7º, XXVI, da Constituição Federal na hipótese de as
instâncias recorridas reputarem sem validade instrumentos coletivos juntados aos autos, ao fundamento
de que fixa norma menos favorável ao trabalhador sem a devida contrapartida. Agravo de instrumento
desprovido. (RR-500/2007-271-06-40-1, DJ de 6/2/2009, Rel: Min. Vieira de Mello Filho)
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pública e cogente que regula a matéria (art. 58, §2º, da CLT), encontra-se em sintonia com a
jurisprudência iterativa, notória e atual deste Tribunal Superior. Agravo de instrumento a que se nega
provimento. (AIRR-903/2005-271-06-40-PUB: DJ-21/11/2008. 1ª Turma - Rel: Min. Walmir Oliveira
da Costa).
1. Inadmissível transação de direito previsto em norma de caráter cogente, máxime com prejuízo para o
empregado.
2. O pagamento de horas in itinere está assegurado pelo artigo 58, §2º, da CLT, que constitui norma de
ordem pública. Norma coletiva que suprima tal obrigação afronta diretamente referido dispositivo e,
portanto, sua validade não tem suporte no artigo 7º, XXVI, da Constituição da República. 3. Agravo de
instrumento a que se nega provimento. (AIRR - 313/2006-271-06-40- DJ - 05/12/2008 - Rel: Min.
Lélio Bentes).
Não conheço do recurso de revista, por força do art. 896, §4º, da CLT”. Nas razões do presente apelo
(fls. 282-95), os embargantes alegam que não foram respeitadas as disposições coletivas relativas à
limitação do tempo de deslocamento. Indigita violação do art. 7º, XXVI, da Carta Política e colaciona
arestos.
A autonomia da vontade coletiva, consagrada no art. 7º, XXVI, da Lei Maior, há de se exercer no
âmbito que lhe é próprio, com observância, portanto, no expressivo dizer de Carmen Camino, do
chamado núcleo duro do Direito do Trabalho, formado por normas de fonte estatal, imperativas e de
ordem pública, informadas pelos princípios da proteção e da irrenunciabilidade, com ressalva das
hipóteses de abertura, pela própria lei, à autonomia coletiva - a que Oscar Ermida Uriarte chama de
válvulas de escape -, e que dizem, no direito posto, com salário e jornada de trabalho (art. 7º, VI, XIII e
XIV, da Constituição da República).
A Lei 10.243/01 acrescentou o §2º ao artigo 58 da CLT, tendo passado, as horas in itinere conceito
fruto de construção jurisprudencial -, a direito legalmente assegurado aos trabalhadores. Nessa linha, a
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jurisprudência desta Corte firmou entendimento de que inviável a supressão das horas in itinere, ainda
que avençada em instrumento coletivo de trabalho, em relação ao período posterior à edição da referida
lei, admitindo, de outro turno, com respaldo no art. 7º, XXVI, da Carta Política, a quantificação do
período de trajeto, inclusive pelas dificuldades óbvias da prova a respeito, e inevitáveis variações, a
justificarem o arbitramento via negociação coletiva, consoante demonstram os seguintes precedentes:
In casu, não havendo, na cláusula 2ª, a supressão do pagamento das horas in itinere, as restrições nela
estabelecidas podem significar que o empregador igualmente fez concessões, garantindo outras
vantagens coletivas aos trabalhadores. Nesse sentido, o pactuado, desde que não se refira a direitos
indisponíveis do trabalhador, não pode ser avaliado apenas pelo seu contexto, desconsiderando-se a
totalidade do conjunto, o que significaria desprestigiar o processo de negociação autônoma insculpido
nos arts. 7º, XXVI, e 114, § 2º, da Lei Maior. Mantém-se, portanto, a decisão regional quanto à
manutenção da proposta. Recursos ordinários não providos” (TST- ROAA - 27600-42.2006.5.08.0000,
SDC, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT 30.4.2009).
“HORAS -IN ITINERE-. PERÍODO POSTERIOR À EDIÇÃO DA LEI Nº 10.243/2001. ART. 58, §2º,
DA CLT. POSSIBILIDADE DE DEFINIÇÃO DA DURAÇÃO DO TRAJETO EM NORMA
COLETIVA. 1. Não há dúvidas de que o art. 7º, inciso XXVI, da Constituição Federal chancela a
relevância que o Direito do Trabalho empresta à negociação coletiva.
Até a edição da Lei nº 10.243/2001, o conceito de horas -in itinere- decorria de construção
jurisprudencial, extraí da do art. 4º da CLT, não havendo, à época, preceito legal que, expressamente,
normatizasse o instituto. Estavam os atores sociais, em tal conjuntura, livres para a negociação coletiva.
2. Modificou-se a situação com o diploma legal referido, quando acresceu ao art. 58 da CLT o § 2º: a
matéria alcançou tessitura legal, incluindo-se a remuneração das horas -in itinere- entre as garantias
mínimas asseguradas aos trabalhadores. 3. Não se poderá, de um lado, ajustar a ausência de
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remuneração do período de trajeto. Não há como se chancelar a supressão de direito definido em Lei,
pela via da negociação coletiva.
Além de, em tal caso, estar-se negando a vigência, eficácia e efetividade de norma instituída pelo Poder
Legislativo, competente para tanto, ofender-se-ia o limite constitucionalmente oferecido pelo art. 7º,
VI, da Carta Magna, que, admitindo a redução de salário, no tolerará a sua supressão. 4. Por outro
ângulo, será razoável a definição da duração do percurso, em acordo ou convenção coletiva de
trabalho. Em regra, a definição da duração do tempo gasto em trajeto exige nem sempre tranquilas
provas e pesquisas. Por outro lado, também não serão uniformes os valores devidos a todos os
trabalhadores que se desloquem em tais circunstâncias. Estes aspectos criam incerteza hábil a autorizar
a transação, nos termos do art. 840 do Código Civil. O § 2º do art. 58 da CLT, ao contrário do quanto
definido no §1º, não estabeleceu mínimos ou máximos. Assim, convindo às categorias interessadas,
dentro da dialética inerente ao conglobamento, estabelecer duração única para a apuração de horas -in
itinere-, desta forma devidas a todo o universo de trabalhadores alcançados, nenhum ilícito
remanescerá, resguardado que permanece o direito à percepção da parcela. Recurso de revista
conhecido e provido” (TST-RR-9600-56.2008.5.09.0562, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Luiz
Bresciani de Fontan Pereira, DEJT 18.6.2010).
É válido o acordo coletivo de trabalho prefixando o pagamento de uma hora in itinere por dia, porque
firmado pela entidade sindical representativa da categoria dos trabalhadores, tendo como base a livre
estipulação entre as partes, desde que respeitados os princípios de proteção ao trabalho. A norma
constante no art. 58, § 2º, da CLT não se classifica como norma de ordem pública, nem envolve direito
indisponível dos empregados. Recurso de revista a que se dá provimento” (TST-RR-
124500-95.2004.5.15.0054, 5ª Turma, Relatora Ministra Kátia Magalhães Arruda, DEJT 21.5.2010).
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do art. 58 da CLT, acrescido pela LC 123/2006). De todo modo, não é viável à negociação coletiva
suprimir o direito, porém, apenas, fixar-lhe o montante numérico. Recursos de revista conhecidos e
providos” (TST-RR-217100-06.2007.5.08.0126, 6ª Turma, Relator Ministro Maurício Godinho
Delgado, DEJT 11.6.2010).
Ante o alinhado, dou provimento ao recurso de embargos para limitar a condenação em horas in itinere
a uma hora por dia, no período abrangido pelas normas coletivas que contenham tal previsão.
ISTO POSTO
Ministra Relatora
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29/9/10 - Horas "in itinere" não podem ser suprimidas por negociação coletiva - clique aqui.
18/6/10 - TST - Tempo de espera em aeroportos e voos se reverte em horas extras - clique aqui.
6/4/10 - TST - Se devidas, horas "in itinere" também são pagas a quem recebe por produção -
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19/5/10 - TST - Ex-empregado ganha horas "in itinere" em trajeto interno da empresa - clique aqui.
4/5/10 - 2ª turma do TST - Andar 2 km a pé para o trabalho não viabiliza pagamento de horas in
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18/2/10 - TST - Transporte público inadequado faz empresa pagar horas "in itinere" - clique aqui.
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