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 1ª Opção Cursos Técnicos – Português Instrumental

O que é ler?

Ler não é só codificar e decodificar palavras.É, antes de tudo construir sentidos para o que se lê.
É por isto, que muitas vezes o "leitor" não consegue obter informações num texto lido. Para obter estas informações e,
consequentemente, construir sentidos, é preciso considerar os conhecimentos prévios que o leitor possui sobre o
assunto e a interação com o suporte de leitura.
Além disto, as influências cognitivas, tais como as crenças, as opiniões ou atitudes e até mesmo a motivação ou
objetivos diferentes, atuam na construção da representação sobre o evento ou o enunciado, o que faz com que ao ler
um mesmo texto, diferentes leitores construam significados diferenciados, produzindo diferentes tipos de inferências

O que é leitura

A leitura é um ato de conhecimento, pois ler significa perceber e compreender as relações existentes no mundo. Nesse
sentido podemos definir leitura como um ato individual, voluntário e interior que se inicia com a decodificação dos
signos lingüísticos que compõem a linguagem escrita convencional, mas que não se restringe à mera decodificação
desses signos, pois, a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interação com o mundo que o cerca. Ler é atribuir
sentido ao texto, relacionando-o com o contexto e com as experiências previas do leitor. A leitura é um processo que se
evidencia através da interação entre os diversos níveis de conhecimento do leitor: o conhecimento lingüístico; o
conhecimento textual e o conhecimento de mundo. Sendo assim, o ato de ler caracteriza-se como um processo
interativo. Apesar de hoje já ter se tornado evidente a importância da leitura enquanto prática social, ainda é bem
comum observarmos crianças que freqüentam classes regulares de escolas públicas de ensino fundamental afirmarem
não gostar de ler. Isso se torna algo ainda mais evidente na medida em que procuramos fazer uma análise reflexiva
acerca do ensino de leitura no Brasil desde o século XIX até os dias atuais.

O aprendizado da leitura

Interessa a todos saber que procedimento se deve adotar para tirar o maior rendimento possível da leitura de um
texto. Mas não se pode responder a essa pergunta sem antes destacar que não existe para ela uma solução mágica, o
que não quer dizer que não exista solução alguma. Genericamente, pode-se afirmar que uma leitura proveitosa
pressupõe, além do conhecimento lingüístico propriamente dito, um repertório de informações exteriores ao texto, o
que se costuma chamar de conhecimento de mundo. A título e ilustração, observe a questão seguinte, extraída de um
vestibular da UNICAMP:
Às vezes, quando um texto é ambígüo, é o conhecimento de mundo que o leitor tem dos fatos que lhe permite fazer
uma interpretação adequada do que se lê. Um bom exemplo é o texto que segue:
As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de
dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas
pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a
companhia ou autorização dos pais. (Folha Sudeste, 6/6/92)
É o conhecimento lingüístico que nos permite reconhecer a ambigüidade do texto em questão (pela posição em que se
situa, a expressão sem a companhia ou autorização dos pais permite a interpretação de que com a companhia ou
autorização dos pais os menores podem ir a rodeios ou motéis). Mas o nosso conhecimento de mundo nos adverte de
que essa interpretação é estranha e só pode ter sido produzida por engano do redator. É muito provável que ele tenha
tido a intenção de dizer que os menores estão proibidos de ir a rodeios sem a companhia ou autorização dos pais e de
freqüentarem motéis.
Como se vê, a compreensão do texto depende também do conhecimento de mundo, o que nos leva à conclusão de que
o aprendizado da leitura depende muito das aulas de Português, mas também de todas as outras disciplinas sem
exceção.

- Três questões básicas


Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três questões básicas:
I - Qual é a questão de que o texto está tratando? Ao tentar responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a
distinguir as questões secundárias da principal, isto e, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não
sabe dizer do que o texto está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de que ele precisa ser
lido com mais atenção ou de que o leitor não tem repertório suficiente para compreender o que está diante de seus
olhos.
II - Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados pelo texto, aparecem vários
indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma leitura competente não terá dificuldade em identificá-la. Não
saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva.
III - Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião dada? Deve-se entender por
argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que ele está falando a verdade. Saber
reconhecer os argumentos do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor
acompanhou o desenvolvimento das idéias. Na verdade, entender um texto significa acompanhar com atenção o seu
percurso argumentativo.
Francisco Platão Savioli é Professor e Autor de Português do Anglo Vestibulares e também Professor Assistente Doutor
de Língua Portuguesa, Redação e Expressão Oral do Departamento de Comunicações e Artes da ECA-USP.

Exercícios:

Retrocesso

O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não havia uma professora-
robô, mas duas. A única diferença entre as duas era que uma era feita totalmente de plástico e fibra de vidro — fora,
claro, a tela do seu visor e seus componentes eletrônicos —, e a outra era acolchoada. Uma falava com as crianças
com sua voz metálica e mostrava figuras, números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto.
Uma comandava a sala, tinha resposta para tudo e centralizava toda a atenção dos alunos, que pareciam conviver
muito bem com a sua presença dinâmica, a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma experiência
errada.
O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador tivesse substituído o
professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A máquina falava com clareza e estava
programada de acordo com métodos pedagógicos cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam
qualquer coisa as crianças sabiam exatamente que botões apertar para que a professora-robô repetisse a lição ou,
em rápidos segundos, a reformulasse, para melhor compreensão. (As crianças do futuro já nascerão sabendo que
botões apertar.)
— Fantástico! — comentou o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, sorrindo com satisfação.
Foi quando uma das crianças, errando o botão, prendeu o dedo no teclado da professora-robô. Nada grave. O
teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualquer risco aos dedos infantis. Mesmo assim,
doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus sensores, a professora-robô desligou-se
automaticamente. Exatamente ao mesmo tempo, o outro robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a
criança que chorava e a pegou no colo com os braços de imitação, embalando-a no seu colo acolchoado e dizendo
palavras de carinho e conforto numa voz parecida com a do outro robô, só que bem menos metálica. Passada a
crise, a criança, consolada e restabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda
professora-robô voltou para o seu canto e se desligou enquanto a primeira voltou à vida e à aula.
— Fantástico! — repetiu o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, ainda mais satisfeito.
— Mas me diga uma coisa... — começou a dizer o visitante.
— Sim?
— Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais, digamos, maternal do trabalho pedagógico,
enquanto o primeiro faz a parte técnica.
— Exatamente.
— Não seria mais prático — sugeriu o visitante — reunir as duas funções num mesmo robô?
Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com condescendência.
— Isso — explicou — seria um retrocesso.
— Por quê?
— Estaríamos de volta ao ser humano.
E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado. Decididamente, o visitante não entendia de futuro.

Luís Fernando Veríssirno. In Nova Escola. São Paulo. Abril, out. 1990. p. 19.

Explorando o texto:
Responda de acordo com o texto:
a. Quais as características das professoras descritas no texto?
b. Segundo o autor do texto, como seria a aula do futuro?
c. Na aula do futuro, como agiriam os alunos quando tivessem alguma dúvida?
d. O que aconteceu quando a criança machucou-se no teclado?
e. Na sua opinião, qual a razão de ter duas professoras-robô para atender aos alunos?
f. A professora de plástico e fibra de vidro satisfazia que tipo de necessidade das crianças? Por quê?
g. Qual era a função da professora acolchoada?
h. Na sua opinião, por que seria um retrocesso reunir todas as funções da professora numa máquina apenas?
1. Na sua opinião, a professora-robô é diferente das professoras que você conhece? Por quê?
2. Numere as frases de acordo com a ordem de acontecimentos do texto:
( ) Uma das crianças prendeu o dedo no teclado.
( ) O visitante estranhou, quando o levaram para conhecer a sala de aula, havia duas professoras.
( ) O aluno que machucou o dedo começou a chorar.
( ) O técnico sacudiu a cabeça desanimado.
( ) A segunda professora voltou para o seu canto e se desligou, enquanto a primeira voltou a dar aula.
( ) O visitante viu que dito uma bobagem.
( ) O visitante acompanhou uma aula do futuro.

3. Marque com X as palavras que você usaria para caracterizar a “professora_robô”, que explicava a matéria para
as crianças.
( ) impaciente ( ) simpática ( ) carinhosa ( ) eficiente
( ) gentil ( ) impessoal ( ) objetiva

4. Marque com X a resposta correta:


O significado de retroceder é:
( ) realizar alguma coisa
( ) melhorar o ensino.
( ) voltar para trás
( ) nenhuma das respostas.

“Como as máquinas vão interagir com a gente?

Fazemos vários experimentos no computador para que ele saiba para onde você está olhando. A utilidade? Você
faz uma pesquisa num site de busca e encontra 35.000 referências. Olha só as dez primeiras. Se o computador
monitorar a sua pupila e souber quais delas chamaram sua atenção, ele conhecerá o tipo de informação que você
procura. Aí filtrará os dados nos outros 34.990 links. E vai trazer as que mais lhe interessam com o ‘as próximas dez
referências’ (...)

E o que a tecnologia não pode fazer?

Nenhuma máquina jamais conseguirá reconhecer integralmente a fala humana, com todas as suas nuanças.
Quando conversamos, você não entende exatamente o que eu estou dizendo, mas sim a sua interpretação sobre o
que eu digo. Cada um de nós interpreta um poema de forma diferente e sente emoções distintas. O reconhecimento
da fala depende do background cultural, das expectativas que você tem, do quanto conhece a pessoa com quem fala
e da capacidade de perceber as ambigüidades nas declarações. Se nem mesmo a gente entende totalmente a fala do
outro, por que a tecnologia compreenderia? A ambigüidade traz para você interpretações que dependem da sua
memória e do seu conhecimento anterior. Se tentarmos calcular o volume de informações comuns que nós temos,
esse número é tão grande que não existe banco de dados que possa armazená-lo. É impossível, então, fazer com
que um computador tenha os conhecimentos que você tem. Aliás, esse é um grande desafio. Também há coisas que
nem queremos que a tecnologia resolva. Não quero um programa que interprete poesia por mim.”

JACOB, Jean Paul. Um futuro muito louco. Super Interessante, São Paulo, n. 176, p. 80-81, maio 2002

a) Que características este texto possui que nos remete ao texto de opinião? Explique.

b) Que opinião o autor tem sobre as máquinas? Explique.

c) Que finalidade tem esse texto?

d) Qual é a sua opinião sobre as máquinas? Escreva.

e) Em que parte do texto o autor deixa claro a sua opinião? Copie.

f) Que idéias estão sendo exposta nos primeiro parágrafo? Escreva com as suas palavras.

g) Que outras idéias sobre as máquinas você acrescentaria ao texto lido? Escreva-as .

O texto abaixo servirá de base para as questões de 01 a 10. Leia-o atentamente antes de resolvê-las.
3. A transcrição que você vai ler a seguir foi retirada de uma aula de História Contemporânea ministrada no Rio de
Janeiro no final da década de 70. Como se trata de um texto falado, é bastante entrecortado e repetitivo, características
tidas como inapropriadas para a língua escrita. Leia o trecho como se você estivesse “ouvindo” a aula; em seguida,
a) responda com uma única frase: qual é o principal propósito da passagem transcrita?
b) elimine os traços de oralidade do texto e resuma a aula no máximo em 30 palavras.

... nós vimos que ela assinala...como disse o colega aí...a elevação da sociedade burguesa... e capitalista...ora...pode-
se já ver nisso...o que é uma revolução...uma revolução significa o quê? Uma mudança...de classe...em assumindo o
poder...você vê por exemplo...a Revolução Francesa...o que ela significa? Nós vimos...você tem uma classe que sobe...
e outra classe que desce...não é isso? A burguesia cresceu...ela ti/ a burguesia possuía...o poder...econômico...mas ela
não tem prestígio social...nem poder político...então...através desse poder econômico da burguesia...que controlava
o comércio...que tinha nas mãos a economia da França...tava nas mãos da classe burguesa...que crescera...desde o
século quinze...com a Revolução Comercial...nós temos o crescimento da burguesia...essa burguesia quer...quer...o
poder...ela quer o poder político... ela quer o prestígio social...ela quer entrar em Versalhes...então nós vamos ver
que através...de uma Revolução...ela vai...de forma violenta...ela vai conseguir o poder...isso é uma revolução
porque significa a ascensão de uma classe e a queda de outra...mas qual é a classe que cai? É a aristocracia...tanto
que... o Rei teve a cabeça cortada... não é isso? caiu... o poder das classes privilegiadas e uma nova classe subiu ao
poder...você diz...por exemplo...que a Revolução Russa de dezessete... é uma verdadeira revolução...por que? porque
significa... a ascensão duma classe nova...que tem o poder...ou melhor...que assume o poder...o proletariado (Dinah
Callou (org.) A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro - materiais para seu estudo: Elocuções
formais. Rio: Fujb, 1991 pp.104-105).

4. A Folha de São Paulo de 29 de abril de 1997 anunciou o funcionamento do comércio e de outros serviços na
cidade durante o feriado do Dia do Trabalho com a notícia abaixo:

 Lojas fecham 5a. e abrem domingo

O que abre e o que fecha no feriado prolongado

  Postos de gasolina: funcionamento facultativo na quinta-feira


  Correios: fecham quinta-feira
 Supermercados: fecham quinta-feira
 Mercado municipal: funciona quinta-feira das 7h às 12h
 Shopping centers: funcionam na quinta-feira apenas praças de alimentação e lazer, das 10h às 22h;
funcionam normalmente sexta-feira e sábado; todas as lojas funcionam no domingo das 10h às 22h

A leitura da manchete, se feita isoladamente, poderia levar a crer que as lojas ficariam fechadas por três dias. Escreva
uma nova manchete desfazendo a possibilidade dessa leitura.

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