Você está na página 1de 32

REDAÇÃO 1

O TEXTO E SUAS
ESPECIFICIDADES
APRESEN TAÇÃO
O homem é um ser social. Ele não vive isoladamente no mundo, relaciona-
se com outros e interage com os ambientes em que se insere. Tais relações
se efetivam por meio de textos, os quais se valem quer da linguagem verbal,
quer da linguagem não verbal, ou seja, constantemente somos intimados a
produzir, analisar e interpretar os mais variados gêneros de textos, com os
quais efetivamos nossos discursos e nos inserimos nos contextos sociais e
comunicativos de que fazemos parte.

Na sociedade em que vivemos estamos rodeados de textos na modalidade


escrita. Esses textos vão desde os panfletos entregues no semáforo, passando
pelos outdoors, rótulos de comidas, bulas de remédios, e-mails, WhatsApp,
pichações nos muros até chegarmos aos textos profissionais e acadêmicos.
Esses últimos sempre nos parecem mais “difíceis”, de elaboração e interpretação
mais complexa, exigindo mais conhecimento.

C o m o i n t u i to d e a p ro f u n d a r o s c o n h e c i m e n to s , h a b i l i d a d e s e
competências que permitem a elaboração, a leitura e a interpretação de
textos escritos, surge este Curso de Redação. Nele, apresentamos questões
que facilitam a compreensão do que é esse objeto (o texto) com o qual
lidamos diariamente, bem como elementos que nos possibilitam elaborá-los
e interpretá-los de forma adequada.

Desse modo, este curso se divide em cinco unidades. A primeira dedica-


se ao estudo do objeto texto. São discutidas questões referentes ao conceito
de texto, a diferença entre texto e discurso e as especificidades do texto
escrito. Além das questões teóricas, há exemplos que ilustram os conceitos
e exercícios que promovem uma fixação dos conhecimentos construídos.

A segunda unidade aborda a textualidade, elemento responsável por


tornar um objeto escrito em texto. Nela, estudaremos os fatores de textualidade,
tanto os que se relacionam diretamente com o texto como os que envolvem
o seu contexto e o seu “recebedor”. Aqui, enfatizaremos a coesão e coerência,
mas também veremos a intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade,
a informatividade e a intertextualidade.

Já na Unidade 3, nos dedicaremos aos gêneros textuais e aos níveis de


linguagem. No que se refere aos gêneros, procuraremos estabelecer a diferença
entre tipo textual e gênero discursivo, enfatizando os gêneros notícia, artigo
de opinião, crônica e editorial. Sobre os níveis de linguagem, destacaremos
os níveis adequados para a produção de textos escritos, principalmente os
profissionais e acadêmicos.

A Unidade 4, por sua vez, focaliza a leitura e a interpretação de textos,


tanto verbais quanto não verbais. Além disso, apresentará as habilidades e
competências necessárias para uma compreensão adequada dos textos que
lemos, principalmente aqueles que dizem respeito ao nosso ambiente de
estudo e ao nosso ambiente profissional. Assim, questões como a observação,
análise, identificação, inferência, dedução, contextualização e interpretação
serão trabalhadas, contribuindo para a construção de conhecimentos que
aprimorem nosso ato de ler e interpretar.

A última unidade aborda as especificidades do texto acadêmico. Nela,


veremos as características deste gênero do discurso, ou seja, quais são os
elementos que o constituem como tal. Procuremos nos deter em alguns
gêneros mais comuns em nossas disciplinas, como o fichamento, o resumo, a
resenha e o paper. Igualmente, como nas demais unidades, haverá exemplos
e atividades para facilitar o processo de assimilação.

Por fim, desejamos que este curso seja um instrumento valioso para sua
produção textual, trazendo-lhe informações e conhecimentos necessários
para auxiliá-lo nos atos de escrever, ler e interpretar, os quais são frequentes
em nossas práticas sociais diárias. Bom trabalho e bom proveito!!

Organização Reitor da Pró-Reitora do EAD Edição Gráfica


Autora
UNIASSELVI e Revisão
Elisabeth Penzlien Prof.ª Francieli Stano
Tafner Prof. Hermínio Kloch Torres Iara de Oliveira
UNIASSELVI
.01
O TEXTO E SUAS
ESPECIFICIDADES
1 INTRODUÇÃO
Para que possamos, acadêmico, atingir o objetivo de reconhecer as
especificidades do texto para melhor analisá-lo e interpretá-lo, iniciaremos
nossos estudos buscando entender o que é o texto. Por isso, deteremo-nos,
neste primeiro capítulo, no conceito de texto, uma vez que o entendimento
de suas dimensões é fundamental para uma prática textual adequada. Veremos
também a diferença entre texto e discurso, bem como o que caracteriza um
texto escrito. Vamos, lá?

1.1 O TEXTO
Imagine a seguinte situação:

Pedro e Paulo são amigos que acabaram de se encontrar. Estão colocando


a conversa em dia, falando de amigos que não veem há bastante tempo e,
em um determinado momento, Pedro diz:
- Nossa! Faz tempo que não vejo o Antônio. Tem o número dele?
- Anota aí: 55328952

Na situação que acabamos de retratar, temos: Pedro, produtor da fala,


por isso chamado de enunciador; Paulo, aquele que está ouvindo e, portanto,
considerado o enunciatário; e o que foi dito, chamado de texto. Observe que
a fala de Pedro está inserida em um contexto de comunicação: uma conversa
entre amigos, a lembrança de um amigo que não é visto com frequência, a
solicitação de um meio para reestabelecer o contato. No entanto, se lermos
novamente o texto de Pedro com atenção, perceberemos que há algo além
das palavras “ditas/escritas”, permitindo o entendimento de toda a situação
comunicativa. Se nos fixarmos exclusivamente no que está “dito/escrito”, sem
considerarmos o que está nas “entrelinhas”, Paulo poderia apenas dizer “Tenho”
e não passar o número do telefone, afinal, a pergunta foi “Tem o número

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


dele?”. No entanto, dentro deste contexto comunicacional, de acordo com
os conhecimentos prévios que cada um dos participantes tem, percebe-se a
intenção clara do enunciador: obter o número do amigo distante.

A intenção com que o texto é produzido (solicitar, ordenar, afirmar,


interrogar etc.), o contexto que envolve a produção e recepção desse texto
é o que chamamos de enunciação. “A situação comunicativa como um todo,
que envolve interlocutores, o assunto, o espaço e o tempo da comunicação,
é chamada de enunciação e se relaciona com o discurso, que é a faceta
dinâmica, viva do ato comunicativo” (SANTOS, 2010, p. 13).

No exemplo, a enunciação fica entendida na pergunta, mas ela poderia


estar claramente expressa na fala se ele dissesse:

- Nossa! Faz tempo que não vejo o Antônio. Quero que, por favor, você
me forneça o número de telefone dele. Quem sabe ligo ou mando uma
mensagem para ele.

Todos nós, usuários da comunicação verbal, temos um conjunto de


conhecimentos prévios, os quais são chamados por alguns autores de
repertório, acumulados ao longo de nossa trajetória como falantes de uma
língua, que nos permite compreender as intenções dos textos. Entendemos
que, muitas vezes, uma pergunta significa indiretamente um pedido: “Você
tem algum dinheiro?”, “Tem horas?”. Em outras, é de fato uma indagação: “Ela
sabia?”, “A que horas ela chega?” Ou há casos em que a pergunta é um auxiliar
na comunicação, uma forma de reforçar o que está sendo dito e permitir que
se siga adiante: “Sério?”, “Não é?”.

Como fica evidente no que vimos anteriormente, de que um texto não


pode ser entendido apenas como um conjunto de palavras, temos que o
texto (escrito ou oral) se concretiza como parte de um processo maior que é
a própria comunicação. Ele precisa de um enunciador, um enunciatário, uma
intenção, um contexto (elemento primordial para sua significação) etc., para
ganhar sentido, ter significação.

Vamos imaginar outra cena:

Pedro está em um ônibus, não há nenhum conhecido, senta ao seu


lado um senhor e se estabelece a seguinte conversação:
- Está quente hoje! – diz o senhor.
- Sim, está e faz tempo que não vejo o Antônio. Tem o número dele?

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


Parece conversa de malucos, não é? Então, vamos analisá-la mais
detidamente. Há o enunciador, Pedro; há o enunciatário, senhor; mas qual
é a intenção? Qual contexto gerou esta produção? Esses elementos não
estão presentes, não existe um contexto enunciativo que possamos regatar,
reconstruir. A que conclusão chegamos, considerando o que mencionamos
no início deste tópico? Não temos um texto no que lemos acima.

É importante enfatizar que o texto se concretiza com base em um


conjunto de fatores. Reunir palavras não é o suficiente. “A criação de um texto
envolve uma intenção, e seu entendimento envolve não apenas o conteúdo
semântico – aquilo que o texto diz – mas a interpretação da intenção de
quem o produziu” (ABREU, 2008, p. 11).

Tudo o que vimos até agora deixa clara a perspectiva de que o texto é
um ato comunicativo, não uma produção descontextualizada. Entendendo
esta primeira dimensão, podemos aprofundar um pouquinho mais o seu
conceito. Sigamos em frente!

1.1.1 O CONCEITO DE TEXTO E SUAS IMPLICAÇÕES


Os estudos sobre o texto avançaram significativamente nas últimas
décadas. Com eles, o texto deixou de ser visto como um elemento escrito
composto por palavras e frases inter-relacionadas e passou a ser compreendido
como algo mais amplo, dinâmico e como parte integrante de nosso dia a dia,
de nosso processo de comunicação, de nossa inserção na sociedade.

A palavra texto vem de textum (latim) e significa tecido. Como qualquer


tecido no qual os fios são tramados para constituí-lo, também o texto é
entrelaçamento de fios (palavras e orações) que formam o tecido (texto).

Para entender melhor a ideia de que os textos são parte integrante de


nosso cotidiano, observe os elementos a seguir:

FIGURA 1 – PROIBIDO FUMAR

FONTE: Disponível em: <http://www.portugues.seed.pr.gov.


br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=719>. Acesso
em: 29 mar. 2016.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


FIGURA 2 – CARTAZ SOBRE DENGUE E CHIKUNGUNYA

FONTE: Disponível em: <http://www.todamateria.com.br/texto-de-campanha-


comunitaria/>. Acesso em: 29 mar. 2016.

FIGURA 3 – GRÁFICO SOBRE A PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA PORTUGUESA DOS


ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO, NA CIDADE DE SÃO PAULO

FONTE: Disponível em: <http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/veja-os-graficos-


de-comparacao-da-distribuicao-dos-alunos-nos-niveis-de-proficiencia>. Acesso em:
29 mar. 2016.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


FIGURA 4 – CHARGE SOBRE A ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA

FONTE: Disponível em: <http://morfossintaxeaps.blogspot.com.


br/2012/11/sugestoes-de-textos-humoristicos.html>. Acesso em: 29
mar. 2016.

FIGURA 5 – EMOTICON DE MEDO

FONTE: Disponível em: <http://br.depositphotos.com/63462997/stock-


illustration-scared-emoticon-smiley-cartoon.html>. Acesso em: 29 mar.
2016.

Responda rapidamente: quais das figuras expostas anteriormente você


classificaria como um texto? Acertou quem afirmou TODAS. Veja que na
figura 1, mesmo não havendo “palavras” todos conseguimos perfeitamente
interpretá-la: no ambiente em que esta imagem se localiza é expressamente
proibido fumar. Ela foi colocada lá pelas pessoas que trabalham, que vivem
naquele ambiente, portanto, os enunciadores do texto, sendo direcionada para
todos os que circulam por aquele local, os enunciatários. O mesmo acontece
com a figura 5, há uma carinha expressando medo, utilizada para representar
este sentimento nas conversações pela internet. Quando a colocamos em
algum lugar, estamos dizendo a alguém: “estou com medo”. Nos dois exemplos
não foram utilizadas palavras, apenas imagens, temos, dessa forma, um texto
não verbal.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


As figuras 2, 3 e 4 misturam imagens e palavras que se associam para
criar o sentido do texto. Na figura 2, temos as informações fornecidas pelas
autoridades competentes de como evitar a proliferação dos mosquitos
transmissores da Dengue da Chikungunya. Seu enunciatário é a população
brasileira. Todos aqueles que se deparam com o cartaz e convivem com a
questão entendem o que significa e qual sua intenção. Na figura 3, temos
os dados de uma pesquisa e que são destinados a conhecer melhor um
determinado objeto de estudo, neste caso, a proficiência em língua portuguesa
dos alunos do final do ensino médio em São Paulo. Já a figura 4 ironiza
o emprego de palavras escritas de forma inadequada nos textos em geral
e que vêm levantando polêmicas e discussões principalmente nos meios
acadêmicos.

Note que, ao obser vamos qualquer uma das figuras anteriores,


conseguimos construir seu significado e nos apropriarmos das informações
nelas contidas. Todas apontam para uma situação comunicativa, ou seja,
fazem sentido e estabelecem comunicação dentro de um determinado
contexto, recuperado facilmente pelo enunciatário. Por isso, esses objetos
são claramente reconhecidos como textos.

Se ampliarmos essa dimensão, diremos que as interações humanas


ocorrem por meio de textos dos mais variados gêneros. Como afirma Antunes
(2010, p. 30, grifo do autor): “Por mais que esteja fora dos padrões considerados
cultos, eruditos ou edificantes, o que falamos ou escrevemos, em situações
de comunicação, são sempre textos”. Assim, podemos entender o texto como:

[...] uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que
é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma
situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido
e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida,
independentemente de sua extensão (KOCH; TRAVAGLIA, 1992, p. 8-9).

Resumindo o que estudamos até o momento, o texto se define como


qualquer produção (oral ou escrita) com uma finalidade, que estabeleça
comunicação em um determinado contexto, envolvendo um enunciador e
um enunciatário. Tratemos, agora, de estabelecer as diferenças entre texto e
discurso.

Neste curso, por questões didáticas e em virtude de sua finalidade (auxiliar


acadêmicos em suas produções textuais escritas), nos concentraremos
nos textos escritos.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


Para aprofundar seus conhecimentos sobre texto, recomendamos o livro:
ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo:
Parábola, 2010. (Série estratégias de ensino, 21).

Assista ao vídeo do professor: José Luiz Fiorin sobre a enunciação.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RQzJaFYiqhc>.
Acesso em: 29 mar. 2016.

1.2 O TEXTO E O DISCURSO


Uma questão de suma importância para entendermos melhor o texto
e, desse modo, aprimorarmos nossa produção e interpretação de textos, é
distinguir texto e discurso. Há autores que afirmam serem ambos iguais, têm
o mesmo significado. No entanto, preferimos a linha de pensamento que vê
o texto como a “materialidade” do discurso. Vejamos o que isto quer dizer.

Você certamente já ouviu ou leu a frase “O ser humano não é uma ilha”.
Ela serve para mostrar que o sujeito não vive isolado, ele vive em sociedade
e nas relações que estabelece com os demais sujeitos. Cada sociedade, por
sua vez, apresenta ideais, ideologias, aspectos culturais, normas, princípios
que são seus, que a marcam como tal. Assim, as sociedades são diferentes,
mas inter-relacionam-se. Elas representam o contexto em que a comunicação
se estabelece, afinal, como você já sabe, a comunicação é um ato social.
Ninguém vive em sociedade sem estabelecer comunicação, por isso utilizamos
os textos, como vimos no tópico anterior.

Toda vez que nos comunicamos, ou seja, que produzimos um texto,


nele se inserem todos os elementos que marcam uma determinada sociedade
(formas de pensar, aspectos culturais, ideologias, marcas etnográficas,
históricas, espaciais etc.). Para que o enunciatário possa compreender o
texto e concretizar a situação comunicativa, fará uso dos conhecimentos
que construiu nessa sociedade em que se insere, conhecimentos prévios e
de mundo.

Observemos o exemplo que segue:

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


FIGURA 6 – MAFALDA E MANOLITO

FONTE: Disponível em: <http://portugues.uol.com.br/redacao/texto-discurso.html>. Acesso


em: 2 abr. 2016.

Os quadrinhos 1 e 2 da tirinha mostram o contexto: dois personagens,


Mafalda e Manolito, encontram-se no bairro onde vivem e estudam, e começam
uma conversação acerca do fragmento de jornal que Manolito tem nas mãos.
Temos dois indivíduos que desempenham papéis sociais, inseridos em uma
sociedade em um determinado tempo e espaço, procurando interagir. Ainda
no quadrinho 2, aparece a informação sobre mercado de valores, o que gera as
perguntas do quadrinho 3, demonstrando que Mafalda está preocupada com as
questões éticas, morais, sociais, para as quais dá o devido valor. No entanto, o
quadrinho 4, ao trazer a afirmação “dos que servem para alguma coisa”, revela
a crítica de que em um mundo capitalista, voltado para o mercado e o lucro
imediato, valores éticos, morais ou humanos não são apreciados e, portanto,
são descartados. A tirinha é um texto que materializa, em palavras e imagens,
o contexto sócio-cultural-ideológico (sociedade ocidental, capitalista, do
século XX) em que foi produzido, ou seja, transforma em um objeto concreto
o discurso que o gerou. Nessa concretude (texto) estão as marcas do que o
locutor pensa sobre o mundo em que vive, as características da sociedade
em que se insere e suas posições político-ideológicas sobre este seu “estar
em sociedade”.

Vejamos um outro texto. Ele foi publicado na revista Housekeeping


Monthly, em 1955.

O guia da boa esposa

1. Tenha o jantar sempre pronto. Planeje com antecedência. Esta é uma


maneira de deixá-lo saber que se importa com ele e com suas necessidades.
2. A maioria dos homens estão com fome quando chegam em casa, e esperam
por uma boa refeição (especialmente se for seu prato favorito), faz parte
da recepção calorosa.
3. Separe 15 minutos para descansar, assim você estará revigorada quando ele
chegar. Retoque a maquiagem, ponha uma fita no cabelo e pareça animada.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


4. Seja amável e interessante para ele. Seu dia foi chato e pode precisar que
o anime e é uma das suas funções fazer isso.
5. Coloque tudo em ordem. Dê uma volta pela parte principal da casa antes
do seu marido chegar. Junte os livros escolares, brinquedos, papel, e em
seguida, passe um pano sobre as mesas.
6. Durante os meses mais frios você deve preparar e acender uma fogueira
para ele relaxar. Seu marido vai sentir que chegou a um lugar de descanso
e refúgio. Afinal, providenciando seu conforto, você terá satisfação pessoal.
7. Dedique alguns minutos para lavar as mãos e os rostos das crianças (se eles
forem pequenos), pentear os cabelos e, se necessário, trocar de roupa. As
crianças são pequenos tesouros e ele gostaria de vê-los assim.
8. Minimize os ruídos. Quando ele chegar desligue a máquina de lavar,
secadora ou vácuo. Incentive as crianças a ficarem quietas.
9. Seja feliz em vê-lo. O receba com um sorriso caloroso, mostre sinceridade
e desejo em agradá-lo. Ouça-o.
10. Você pode ter uma dúzia de coisas a dizer para ele, mas sua chegada não
é o momento. Deixe-o falar primeiro, lembre-se, os temas de conversa dele
são mais importantes que os seus.
11. Nunca reclame se ele chegar tarde, sair para jantar ou outros locais de
entretenimento sem você. Em vez disso, tente compreender o seu mundo
de tensão e pressão, e a necessidade de estar em casa e relaxar.
12. Seu objetivo: certificar-se de que sua casa é um lugar de paz, ordem e
tranquilidade, onde seu marido pode se renovar em corpo e espírito.
13. Não o cumprimente com queixas e problemas.
15. Deixe-o confortável. Faça com que ele se incline para trás numa cadeira
agradável ou deitar-se no quarto. Dê uma bebida fria ou quente pronta
para ele.
16. Arrume o travesseiro e se ofereça para tirar os sapatos dele. Fale em voz
baixa, suave e agradável.
17. Não faça-lhe perguntas sobre suas ações ou que questionem sua integridade.
Lembre-se, ele é o dono da casa e, como tal, irá sempre exercer sua vontade
com imparcialidade e veracidade. Você não tem o direito de questioná-lo.
18. Uma boa esposa sabe o seu lugar.

FONTE: GUIA da boa esposa. Housekeeping Monthly, 1955. Disponível em: <http://awebic.com/cultura/
guia-boa-esposa-1950/>. Acesso em: 2 abr. 2016

O texto, como você pode notar durante a leitura, reflete a forma de


pensar de uma sociedade (Estados Unidos, década de 50, do século XX, mas
aplicável às sociedades ocidentais da época) sobre a mulher. Fica evidente
que a proposta deste escrito é mostrar às mulheres que elas devem ocupar-
se da casa, dos filhos e do marido, não se envolvendo com qualquer outra
atividade ou pensamento que as afastem disso, ou seja, os redatores da
revista defendem a visão de que o lugar da mulher é em casa, submissa ao
CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES
marido e a transmitem em seu “guia”. Não se esqueça de que na década de
50 do século XX, já havia movimentos buscando igualdade entre homens e
mulheres, equidade de direitos e deveres, uma maior atuação da mulher nos
postos de trabalho e nas questões sociais. O texto, então, traz o discurso de
uma parcela da sociedade (ainda maioria naquele momento) que, contrária
às mudanças, segue vendo a mulher como uma espécie de “organizadora” da
casa, responsável pela harmonia doméstica e totalmente alheia ao que ocorre
além dos portões de seu quintal. Uma verdadeira “Rainha do Lar” como foi
“carinhosamente” denominada por tanto tempo.

Se fossemos adiante nesta ilustração, poderíamos verificar como essa


visão foi se modificando nos textos das décadas seguintes, chegando às
perspectivas que hoje circulam em nossas sociedades. No entanto, nosso
foco aqui não é discutir a visão da mulher e sua emancipação (embora este
seja um tema tão relevante quanto tantos outros em nossa esfera social),
mas mostrar como os discursos se materializam nos textos que produzimos.

Desse modo, podemos conceber discurso como a produção e as trocas


de efeitos de sentido, ocorridas em um dado contexto social, orientadas
para uma determinada intenção comunicativa. Isso significa dizer que o
discurso é dinâmico, pois é interativo e dialógico, estabelece vínculo com
outros discursos; estabelece-se dentro de uma esfera social (familiar, de
trabalho, jornalística, publicitária etc.); envolve sujeitos que desempenham
papéis sociais; é constituído histórica e geograficamente, traz as marcas da
época e do lugar em que é/foi produzido; é regulamentado pelas normas
sociais de conduta; orienta-se para um determinado objetivo comunicacional.
Questões que pudemos verificar na tirinha e no texto que trouxemos como
exemplos.

Sendo o discurso o processo mencionado anteriormente: uma atividade


social, histórica e geográfica de produção de enunciados; precisa materializar-
se em um instrumento que concebemos como texto. Por isso, a importância
de estudarmos o texto e suas relações.

Resumindo o que vimos neste item, trazemos as afirmações de Abreu


(2008, p. 11):

[...] podemos dizer que o texto é um produto de enunciação, estático, definido


e, muitas vezes, com algumas marcas da enunciação que nos ajudarão na
tarefa de decodificá-lo.
O discurso, entretanto, é dinâmico: principia quando o emissor realiza o
processo de textualização e só termina quando o destinatário cumpre sua
tarefa de interpretação. Nesse sentido, podemos dizer, também, que o discurso
é histórico. Ele é feito, em princípio, para uma ocasião e público determinado.

Como neste curso nos preocupamos um pouco mais com a escrita,


passaremos, a seguir, a estudar o texto escrito e seus componentes.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


1.3 O TEXTO ESCRITO
Os textos podem ser produzidos tanto de forma oral quanto de forma
escrita. No entanto, cada um deles possui dimensões que lhes são próprias
e as distinguem uns dos outros. Ao dizer isso, não estamos de modo algum
afirmando que os textos escritos são melhores que os orais ou vice-versa,
estamos única e exclusivamente expondo que são duas modalidades diferentes
de produção textual. Em virtude dessa perspectiva, comecemos por estudar
as diferenças entre eles.

1.3.1 O texto oral e o texto escrito


Já vimos que nos comunicamos por meio de textos. Esses textos
podem ser falados ou escritos, dependendo das situações comunicativas
das quais participamos. Se, por exemplo, estamos caminhando em um lugar
desconhecido, estamos um pouco perdidos e precisamos chegar a um local
específico, paramos alguém e lhe pedimos informação. Esse é um texto
falado, pois no contexto exposto não vamos escrever e entregar o papel para
a pessoa esperando que ela escreva a resposta, não é mesmo? Da mesma
forma, quando em sala de aula o professor nos pede para que façamos uma
redação, mesmo que depois a leiamos em voz alta, ela está na modalidade
escrita.

É conveniente que saibamos as diferenças entre essas duas modalidades


de produção textual, porque cada uma delas tem características que lhes são
próprias e por mais que tentemos aproximar uma da outra, não podemos
confundi-las ou misturá-las. Quando um de nossos professores nos pede
algum tipo de produção escrita, ele não espera encontrar elementos como:
“né?”, “tipo”, “então..., então..., então...”, “daí...” porque eles são típicos de
produções orais. Nossos professores esperam um texto planejado, com um
vocabulário adequado para o contexto acadêmico, com uma linguagem mais
formal e uma correção textual.

Vale destacar que textos orais e textos escritos não são opostos, como
já mencionamos anteriormente, não estão em polos diferentes. Lembre-
se de que existem níveis de linguagem e gêneros discursivos para cada
situação comunicativa, questões que veremos mais adiante neste curso. Há
os textos orais, produzidos “face a face”, que ocorrem em uma interação entre
enunciador e enunciatário, os quais trazem repetições, fragmentações etc.,
mas há textos orais, como os que ocorrem em palestras, conferências, em
que o texto oral se aproxima da escrita. Igualmente, há textos escritos que se
aproximam da oralidade, como os que vemos em alguns blogs ou em seções
específicas de jornais e revistas, ou seja, em conformidade com o contexto,
os textos, quer orais, quer escritos, sofrem adequações.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


Veja como Marcuschi aborda a questão dos textos orais e escritos na
figura a seguir:

FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DO CONTÍNUO DOS GÊNEROS TEXTUAIS NA FALA E NA ESCRITA

FONTE: Marcuschi (2003, p. 41).

1.3.1.1 O texto oral


Koch e Elias (2009) afirmam que durante bastante tempo esteve vigente
a ideia de que linguagem oral e linguagem escrita (estendendo a perspectiva
para textos orais e escritos) eram opostas, surgindo, inclusive, uma espécie
de quadro de diferenças que as autoras reproduziram em seu livro e que
mostraremos a seguir:

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


QUADRO 1 – DIFERENÇA ENTRE FALA E ESCRITA

Fala Escrita
Contextualizada Descontextualizada
Implícita Explícita
Redundante Condensada
Não planejada Planejada
Predominância do modus Predominância do modus sintático
pragmático
Fragmentada Não fragmentada
Incompleta Completa
Pouco elaborada Elaborada
Pouca densidade informacional Densidade informacional
Predominância de frases curtas, Predominância de frases complexas,
simples e coordenadas com subordinação abundante
Pequena frequência de passivas Emprego frequente de passivas
Poucas nominalizações Abundância de nominalizações
Menor densidade lexical Maior densidade lexical
FONTE: Koch; Elias (2009, p. 16).

Observando o quadro mais detidamente, notamos que as características


de cada uma das modalidades se apoia em opostos: maior/menor; pouco/
muito; pequena/grande; completa/incompleta. Já sabemos, pelo que vimos
nos tópicos anteriores e por nossos conhecimentos prévios, que essa
dicotomia/oposição não procede. As próprias autoras afirmam que o quadro
não representa a realidade porque algumas das características apresentadas
são aplicáveis às duas modalidades e porque tais atributos foram estabelecidos,
tendo os textos escritos como referência, considerados durante um longo
tempo nos estudos gramaticais e linguísticos, como ideais, como “corretos”
(KOCH; ELIAS, 2009).

Para elucidar a questão, as mesmas autoras apresentam as características


próprias da oralidade, visíveis nos textos orais:

• [...] é relativamente não planejável de antemão, o que decorre de sua


natureza altamente interacional; isto é, ela necessita ser localmente planejada,
ou seja, planejada e replanejada a cada novo lance do jogo da linguagem;
• o texto falado apresenta-se em se fazendo, isto é, em sua própria gênese,
tendendo, pois, a por a nu o próprio processo da sua construção. Em outras
palavras, ao contrário do que acontece com o texto escrito, em cuja elaboração
o produtor tem maior tempo de planejamento, podendo fazer rascunhos,
proceder revisões e correções, modificar o plano previamente traçado, no
texto falado planejamento e verbalização ocorrem simultaneamente, porque
ele emerge no próprio momento da interação;
• o fluxo discursivo apresenta descontinuidades frequentes, determinadas por
uma série de fatores de ordem cognitivo-interacional, as quais têm, portanto,
justificativas pragmáticas de relevância;

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


• o texto falado apresenta uma sintaxe característica, sem, contudo, deixar
de termo como pano de fundo a sintaxe geral da língua;
• a escrita é resultado de um processo, portanto, estática, ao passo que a fala
é processo, portanto, dinâmica. (KOCH; ELIAS, 2009, p. 16-17).

Desse modo, considerando as afirmações de Koch e Elias (2009), o texto


oral se concretiza de imediato, seu sentido é verificado concomitantemente a
sua produção. Já está inserido em um contexto e o interlocutor, enunciatário
da mensagem ou da informação está presente, é participante, ajuda a construí-
lo. Sua interpretação ocorre quase ao mesmo tempo em que sua produção.
Inclusive, as repetições, correções, hesitações que ocorrem ao longo de uma
conversação são recursos próprios desta modalidade e responsáveis por
parte de sua estruturação. Em virtude disso, devem ser considerados quando
analisamos um texto oral.

Reproduzimos, a seguir, um fragmento de fala, transcrito apenas para


ilustrar o que acabamos de estudar sobre os textos orais:

[...] como no texto anterior...se bem que vocabulário deve ser trabalhado da
mesma forma...não se esqueçam de trabalhar o vocabulário sempre dentro
do contexto... pra que seja escolhida a acepção que mais couber dentro do
contexto..outros aspectos que a gente poderia pensar em...em destacar aqui
nesse texto...seriam aqueles aspectos de linguagem...que saltam diretamente
aos olhos desde que a gente analisa... (SANTOS; CABRERA; GÓES, 2008, p. 7).

Note que o texto citado traz repetições, lacunas, marcadores de oralidade


como “se bem que”, “a gente”, “saltam...aos olhos”, os quais são adequados ao
texto oral, porque, como vimos, esta modalidade apresenta uma estrutura
que permite tais recursos. O que não ocorre na modalidade escrita, como
veremos a seguir.

Para saber mais sobre a diferença entre a escrita e a fala, assista ao vídeo
do professor Marcuschi. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=XOzoVHyiDew&nohtml5=False>.

1.3.1.2 O texto escrito


Houve um tempo em que a escrita era para poucos. Somente um pequeno
grupo da sociedade detinha o conhecimento da escrita e, portanto, era-lhe
conferido o poder. Hoje, todos temos acesso à escrita e somos diariamente
convocados a praticá-la. Pense em quanto tempo por dia você leva lendo
e respondendo e-mails, conversas pelo WhatsApp, Skype ou qualquer outro
comunicador instantâneo, atualizando suas redes sociais, alimentando-as com
novos textos, lendo e interpretando placas, cartazes, anúncios publicitários
on-line etc.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


Por conta dessa “socialização” da escrita ao longo dos tempos, a
forma de concebê-la também passou por transformações. Uma corrente
de pensamento, normativa e tradicionalista, concebia a escrita com foco
na língua. Para escrever bem, dominar a escrita, era necessário conhecer as
normas gramaticais e ter um amplo vocabulário. Essa visão continha uma
perspectiva de linguagem como um sistema fechado, pronto e acabado. O
texto, portanto, era tido como o produto de uma codificação. Outra corrente
concebia a escrita com foco no escritor. Nela, a escrita é a expressão do
pensamento. O texto é visto como fruto do pensamento, como resultado de
uma atividade “por meio da qual aquele que escreve expressa seu pensamento,
suas intenções, sem levar em conta as experiências e os conhecimentos
do leitor ou a interação que envolve esse processo” (KOCH; ELIAS, 2009, p.
33). Por fim, a corrente que vigora hoje, a qual nos parece mais adequada a
concepção de texto mantida na atualidade, é a escrita com foco na interação.

[...] a escrita é vista como produção textual, cuja realização exige do produtor a
ativação de conhecimentos e a mobilização de várias estratégias. Isso significa
dizer que o produtor, de forma não linear, “pensa” no que vai escrever e em
seu leitor, depois escreve, lê o que escreveu, revê e reescreve o que julga
necessário em um movimento constante e on-line guiado pelo princípio
interacional (KOCH; ELIAS, 2009, p. 34).

Desse modo, a escrita é entendida como não apenas o domínio das


regras gramaticais e vocabulário, ou dos pensamentos do escritor, mas fruto
da interação entre enunciador-contexto-enunciatário-intenção comunicativa.

Todo texto é relacional e coletivo. É produzido num determinado tempo


histórico por um enunciador para um enunciatário real ou virtual com base
em toda a experiência textual que aquele tem na projeção que faz de seu
interlocutor. Por outro lado, a interpretação do texto depende também do
cálculo de sentido feito pelo enunciatário a partir de sua experiência de leitor
e de produtor de textos (SANTOS, 2010, p. 14).

Como fica evidente nas palavras de Santos (2010), o texto escrito também
se insere em um contexto específico, articula-se com um propósito e dirige-
se a um público, o qual, por sua vez, faz um esforço de interpretação. Sobre
este último elemento (público/leitor), destacamos que há uma dinâmica
diferenciada da escrita em relação à fala: “escrever quer prever o outro, isto é,
prever um leitor. O texto está sendo produzido para alguém lê-lo, seu amigo,
seu professor ou o cliente da empresa para a qual você trabalha” (TAFNER,
2009, p. 12). Nosso enunciatário não está presente no momento em que
escrevemos, ele não interage no exato momento da produção. É apenas uma
imagem, uma projeção de quem imaginamos que lerá o que escrevemos. Sob
certos aspectos, construímos, idealizamos o leitor de nosso texto, definimos
que conhecimentos ele deve ter para compreender o que tentamos transmitir.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


Dito isso, podemos mencionar uma outra dimensão importante do texto
escrito: a autonomia. Um texto escrito pode chegar onde a fala não alcança e
ultrapassar as barreiras de tempo e espaço. Portanto, nele deverá existir uma
amplitude de marcas e pistas que permitam ao enunciatário reestabelecer
o contexto comunicacional e, desse modo, depreender a mensagem nele
contida. O texto escrito, uma vez enviado a seu destino não pode mais ser
“corrigido”, não haverá a possibilidade do “o que eu quis dizer...”. Ele deve ser
claro e estruturado de tal forma que diga o que deve dizer e chegue a quem
se destina.

Perceba que nas interações orais sempre há a possibilidade de “dizer


novamente”, explicar, dizer com outras palavras. Podemos utilizar os recursos
que estão disponíveis, gestos, expressões faciais e corporais, aumentar ou
diminuir a velocidade da fala. Na escrita, no entanto, esses recursos não estão
disponíveis. É preciso dispor exclusivamente dos recursos linguísticos para
que o texto de fato cumpra seu objetivo e se faça inteligível.

Segundo Koch e Elias (2009, p. 43), ao escrevermos precisamos fazer


uso de algumas estratégias:

• [...] ativação de conhecimentos sobre os componentes da situação


comunicativa (interlocutores, tópico a ser desenvolvido e configuração textual
adequada à interação em foco);
• seleção, organização e desenvolvimento das ideias, de modo a garantir a
continuidade do tema e sua progressão;
• “balanceamento” entre informações explícitas e implícitas; entre informações
“novas” e “dadas”, levando em conta o compartilhamento de informações
como o leitor e o objetivo da escrita;
• revisão da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da
produção e pela interação que o escritor pretende estabelecer com o leitor.

Em termos práticos, quando produzimos textos escritos, devemos


considerar:
a) I ntenção ou finalidade: o que queremos com este escrito? Com que intenção
produzimos este texto? Queremos informar? Questionar algo? Defender
um ponto de vista? Anunciar um produto? Reclamar de algo? Apresentar
os resultados de alguma pesquisa? Relatar um feito? Elogiar alguém?
b) G ênero discursivo: qual o gênero de texto melhor se enquadra ao propósito
do texto? Um anúncio? Uma charge? Um e-mail? Uma carta do leitor?
c) I nterlocutores: para quem estamos dirigindo nosso texto? Quem será o leitor
deste texto? Está dirigido para um leitor específico? Que características ou
conhecimentos prévios supomos que este leitor deve ter?
d) L ugar de circulação: em que lugar o texto estará? Em uma revista? Jornal?
Panfleto? Nas redes sociais? Nos comunicadores instantâneos?

Observemos o que foi mencionado em um exemplo:

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


STEPHEN KING VOLTA À VELHA BOA FORMA COM “MR. MERCEDES”

O primeiro capítulo de "Mr. Mercedes" reúne as melhores páginas que o


americano Stephen King, 68, escreveu nos últimos 20 anos. Flagra um grupo
de pessoas passando uma madrugada muito fria numa calçada. É uma fila
para novas vagas de emprego.
Essa introdução chega a lembrar "filmes-catástrofe" dos anos 1970,
como "Terremoto" ou "Inferno na Torre", que dedicavam sua parte inicial a
apresentar os personagens que, em seguida, lutariam pela vida diante de
terríveis infortúnios.
Mas aqui King prega uma peça. Os tipos interessantes que ele esboça
nas conversas da madrugada vão desaparecer de cena no capítulo seguinte.
Morrem ali, atropelados por um Mercedes. O carro, roubado de uma viúva
rica, é largado perto dali. Nada se sabe de seu motorista.
Não, King não fez mais um "Christine - O Carro Assassino", um de seus
clássicos do terror dos anos 1980 adaptados para o cinema. O motorista existe,
é um sociopata e vai guiar a história que se segue.
Mas, apesar de o sr. Mercedes ser tão ignóbil, as atenções do leitor vão
se desviar para seu antagonista, o policial aposentado Bill Hodges.
Depois de vender mais de 300 milhões de livros e deixar seus seguidores
arrepiados, King finalmente preenche uma lacuna em sua extensa galeria de
tipos. Para quem já criou cachorros e outros animais possuídos pelo demônio,
máquinas com desejos assassinos, bonecos vingativos e outras entidades
bizarras, faltava a ele o personagem mais comum e reverenciado da literatura
de suspense e mistério: o detetive. Bill Hodges é tratado com muito carinho
por seu criador.
"Mr. Mercedes" foi anunciado como o primeiro livro de uma trilogia de
aventuras com o ex-policial. E King já manifestou o desejo de produzir uma
série de TV para ele.
O escritor é venerado por muitos fãs por sua criatividade. Com justiça,
embora sua produção prolixa e irregular dos últimos anos às vezes comprometa
a percepção de sua obra extraordinária na literatura de terror e suspense do
século passado.
Por isso, muitos fãs devem estar esperando para ver quais as características
que vão marcar o detetive de King. E aí vem a surpresa.
No lugar do recurso habitual de criar alguma bossa para um herói
detetive – traumas familiares, alcoolismo, sede de vingança, hobbies esquisitos,
coisas assim –, King rascunhou Hodges como um tipo bem comum. Bebe,
sim, mas pouco, apenas para atenuar o tédio da aposentadoria. Tem lá seus
probleminhas com o passado, mas nada que interfira na ação.
Hodges é apenas um veterano de investigações, um cara que conhece
bem as ruas de sua cidadezinha no meio-oeste americano. Quando o sr.
Mercedes envia ao ex-policial uma carta na qual assume a autoria dos
atropelamentos e promete matar novamente, Hodges vai atrás dele porque
é só isso que sabe fazer na vida: caçar e prender os caras maus.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


"Mr. Mercedes" não é uma história de mistério. Sabemos quem é o
assassino, o que ele fez e como fez logo no primeiro terço da narrativa. O
que vale mesmo é a maneira tensa como King vai estabelecendo o confronto
entre mocinho e bandido. O mestre do terror ainda sabe contar muito bem
uma história.

FONTE: Thales de Menezes, Folha Ilustrada, Folha de São Paulo, 2 abr. 2016. Disponível em: <http://www1.
folha.uol.com.br/ilustrada/2016/04/1756627-stephen-king-volta-a-velha-boa-forma-com-mr-mercedes.
shtml>. Acesso em: 2 abr. 2016.

No texto é possível verificar que a intenção do escritor é apresentar


o novo livro de Stephen King. Para alcançar tal propósito, utilizou o gênero
artigo de opinião, uma vez que mostra a opinião que o crítico tem sobre a
nova obra do autor mencionado; está dirigido para todos aqueles que leem
o jornal Folha de São Paulo e são conhecedores e apreciadores das obras de
Stephen King, bem como foi produzido para circular em um jornal. Perceba
que o escritor se dirige a um público que já conhece a obra de King porque,
ao longo do texto, faz referência a outras obras do autor e aspectos de suas
produções, as quais, supõe, sejam do conhecimento de seus já leitores. Ao
mesmo tempo, emite sua avaliação sobre a obra, apresentando os argumentos
que consolidam seu julgamento.

Quando lemos o texto, fazemos um esforço de interpretação: buscamos


reconstruir o contexto comunicacional, retomamos os conhecimentos que já
temos sobre o assunto (neste caso específico, o que sabemos sobre Stephen
King e sua produção), confrontamos as opiniões do autor do artigo com as
nossas, analisamos seus argumentos etc., ou seja, interagimos com o texto,
fazemos parte do processo, não apenas decodificamos o que está escrito,
também nos apropriamos das informações ali contidas e as somamos aos
conhecimentos que já construímos ao longo de nossa trajetória de leitores.

Além das questões levantadas até o momento, também é importante


destacar que para cumprir os propósitos do texto, seu escritor precisará de
um bom conhecimento da ortografia, da gramática e do léxico de sua língua.
Dominar esses recursos permite uma escolha de vocabulários adequados à
finalidade do texto, a dar transparência ao texto.

Sob uma perspectiva interacional, obedecer às normas ortográficas é um


recurso que contribui para a construção de uma imagem positiva daquele que
escreve, porque, dentre outros motivos, demonstra: i) atitude colaborativa do
escritor no sentido de evitar problemas no plano da comunicação; ii) atenção
e consideração dispensadas ao leitor (KOCH; ELIAS, 2009, p. 37).

Ainda, finalizando as questões sobre o texto escrito, é importante


destacar algumas características que todo texto escrito deve apresentar para
que alcance seu leitor e seja devidamente compreendido por ele.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


a) C lareza: apresentação das informações de modo fácil, simples, em uma
ordem que facilite a compreensão. Muitas vezes, a clareza do texto se perde
porque o autor tem muita familiaridade com o tema e, em virtude disso,
deixa de mencionar dados importantes para a reconstrução de sentido,
realizada por um leitor que não tem o mesmo domínio do assunto. Há,
ainda, situações em que o escritor não tem dados suficientes sobre o
tema, deixando em sua escrita lacunas que dificultam a compreensão da
mensagem. Também o uso excessivo de termos técnicos pode comprometer
sua clareza, bem como alguns termos que podem gerar ambiguidade.

Gold (2002 apud TAFNER, 2009) destaca que para a obtenção da clareza
em nossos escritos, faz-se necessário: a) organizar a forma como o assunto
será apresentado, estabelecendo uma lógica em sua sequencialização; b)
empregar parágrafos de extensão curta, na qual se perceba a ideia central e
as ideias secundárias; c) utilizar as frases em sua ordem direta; d) empregar
uma linguagem simples, respeitando, entretanto, a formalidade e as normas
gramaticais aplicáveis àquela produção específica; e) observar a relação que se
estabelece entre as informações, evitando ambiguidades ou mal-entendidos.

Para ilustrar o que acabamos de expor, leia o fragmento que segue:

Por tudo o que restou até aqui exposto, considerada a legislação tributária
de regência, e tendo em vista o atual panorama da jurisprudência aplicável
à hipótese em foco, fica claro que a embargante realmente merece ver
inteiramente cancelada, nesses autos de embargos contra execução fiscal, a
insustentável e inaceitável exigência de ICMS objeto da malsinada CDA aqui
guerreada pela empresa.

FONTE: FONSECA, Pedro Leal. Fim do juridiquês: Falta de clareza em textos faz juiz pular parágrafos.
Consultor Jurídico. 2010. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2010-mar-31/falta-clareza-textos-
juridicos-faz-juiz-estafado-pular-paragrafos>. Acesso em: 2 abr. 2016.

Como você notou durante sua leitura, o fragmento não apresenta


clareza. A utilização de termos técnicos, a extensão excessiva das frases, bem
como a distribuição das informações dificultam a compreensão. Agora, leia
o fragmento reescrito:

Pelo que foi exposto, considerada a legislação tributária, e tendo em vista


a jurisprudência aplicável à hipótese, fica claro que a embargante merece ver
cancelada a exigência de ICMS objeto da CDA aqui combatida.

FONTE: FONSECA, Pedro Leal. Fim do juridiquês: Falta de clareza em textos faz juiz pular parágrafos.
Consultor Jurídico. 2010. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2010-mar-31/falta-clareza-textos-
juridicos-faz-juiz-estafado-pular-paragrafos>. Acesso em: 2 abr. 2016.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


Respeitando as especificidades deste que é um texto jurídico (com termos
que são próprios à área), percebemos que a reescrita deixou-o mais claro. A
utilização de frases mais curtas, permitiu que houvesse maior transparência
e, com isso, a informação é mais facilmente compreendida.

b) Concisão: qualidade de expressar a informação, fazendo uso de um número


mínimo de vocabulários. É a famosa perspectiva do “dizer muito em poucas
palavras”. Lembre-se, porém, que ser conciso não significa tirar a riqueza do
texto, significa fazer uso de vocabulários que permitam passar a mensagem
de forma condensada.

Voltemos aos fragmentos acima. No primeiro fragmento foram utilizadas


60 palavras, no segundo 35 palavras. Toda a informação contida, de forma
pouco clara, no primeiro fragmento, foi mantida e tornada mais transparente
no segundo, com praticamente metade dos vocabulários.

Para dar concisão ao texto evite a utilização de expressões desnecessárias


como “hoje em dia”; uso excessivo de adjetivos; repetição de ideias; uso
de clichês.

Observe, ainda, este outro texto:

É proibida a entrada, circulação, permanência, uso dos aparelhos e


recursos da instituição por pessoas que não foram autorizadas pela direção.

A mesma mensagem pode ser passada assim:

É proibida a entrada de pessoas não autorizadas.

Note que não houve perda de informação, apenas uma escolha vocabular
que permitiu dizer tudo que era necessário em poucos termos.

Em textos profissionais e acadêmicos, a concisão é um fator de suma


importância para a garantia de um texto adequado à situação comunicativa.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


c) Objetividade: “[...] relaciona-se a identificar que ideias são relevantes ao
expressarmos nosso pensamento. Se conseguimos diferenciar as ideias
principais das secundárias, não distraímos nosso leitor” (TAFNER, 2009, p.
54). Para atingirmos a objetividade, precisamos identificar qual é a ideia
principal, quais são as ideias secundárias e dentre estas quais as que podem
ser dispensadas ou devem ser mantidas.

Vejamos na prática:

Prezados Senhores,

É com imensa satisfação que entramos em contato para comunicar que,


em virtude da qualidade de seus serviços, devidamente confirmada por seus
usuários, bem como do ótimo atendimento, também positivamente avaliado
pelos clientes, conferimos a esta tão bem conceituada empresa o prêmio
Empresa TOP10.
Entraremos novamente em contato para confirmar a presença de um
de seus representantes no local e hora a serem ainda definidos.
Parabenizando-os por esta conquista e certos de que manterão seu alto
índice de aproveitamento e satisfação, despedimo-nos.

Atenciosamente,

Na correria de nosso dia a dia também os textos precisam ser de fácil


depreensão. Não cabem mais textos escritos como o que lemos acima. Sua
falta de objetividade faz com que tenhamos a tendência de fazer saltos na
leitura, procurando identificar a ideias mais importantes. Observemos, agora,
como é possível com objetividade, transformar o texto:

Prezados Senhores,

Informamos que sua empresa recebeu o Prêmio TOP10 pela qualidade


nos serviços e no atendimento.
Assim que a data e local do evento de premiação sejam definidos,
entraremos em contato.

Atenciosamente,

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


Temos, no exemplo, um texto objetivo, direto, elegante, sem supérfluos.
Ele não apenas é objetivo, mas também claro e conciso.

Por fim, não nos esqueçamos de que a correção gramatical também


é importante para garantir que o texto escrito esteja adequado à situação
comunicativa da qual é representante. Questão que já mencionamos antes.
Escrever corretamente as palavras, fazer uso adequado das estruturas sintáticas
e lexicais garante as relações necessárias para a constituição e a recepção
do texto.

Como vimos ao longo de todo este capítulo, nos comunicamos por


meio de textos, orais ou escritos, verbais ou não verbais. Eles concretizam os
discursos e apresentam características que os tornam modalidades diferentes,
mas com um mesmo propósito: estabelecer comunicação nas mais variadas
situações. No próximo capítulo, nos dedicaremos a estudar a textualidade,
elemento fundamental para a constituição do texto.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


RESUMO
Neste capítulo vimos:

• Enunciador: produtor do texto.


• Enunciatário: recebedor do texto.
• Enunciação: interação entre intenção do texto, contexto comunicacional,
enunciador e enunciatário.
• Texto é uma unidade de sentido que estabelece comunicação em uma
determinada situação, envolvendo enunciador e enunciatário.
• O texto materializa/concretiza o discurso.
• Discurso é a produção e a troca de sentido ocorridas em um contexto social
e orientadas para uma determinada situação comunicativa.
• Textos orais e textos escritos constituem duas modalidades diferentes.
ᵒ Textos orais configuram-se como produções não planejáveis que ocorrem
durante as interações entre falante e ouvinte.
 Sua interpretação acontece quase ao mesmo tempo em que sua
produção.
ᵒ Textos escritos são produções planejáveis nas quais se evidenciam o
contexto de produção, a finalidade, o público a quem se destina.
 O leitor não está fisicamente presente no ato da produção.
 O leitor precisa reconstruir o sentido do texto a partir das pistas nele
presentes.
 O texto escrito é autônomo e deve apresentar clareza, concisão,
objetividade e correção gramatical.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


AUTOATIVIDADE
1 Leia a tirinha que segue:

FONTE: Disponível em: <http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/32/htm/comunica/ci144_


arquivos/image002.jp>. Acesso em: 2 abr. 2016.

Da leitura é possível afirmar:


I- A pergunta de Helga tem o próposito de saber se Hagar quer que lhe sirva
um pouco de café.
II- Hagar compreende perfeitamente a intenção da pergunta e a responde
de maneira adequada.
III- Hagar interpreta a pergunta de maneira diferente do que espera Helga,
causando o efeito de humor na tirinha.

Levando em consideração o que estudamos no tópico 1 deste capítulo,


está(ão) CORRETA(S):
a) ( ) I e II.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I e III.
d) ( ) I, II e III.
e) ( ) Somente I.

2 L eia as afirmativas que seguem, julgando-as falsas ou verdadeiras de acordo


com o que foi estudado no tópico 1 do Capítulo.

( ) O texto pode ser definido como uma reunião de palavras ou frases,


desvinculadas do contexto comunicacional.
( ) A interação entre os seres sociais pode ocorrer de diversas formas, uma
delas é por meio de textos.
( ) O texto é um ato social, comunicativo e, portanto, totalmente relacionado
à situação comunicativa em que foi gerado.
( ) C abe ao enunciador interpretar o texto, atribuindo-lhe o significado
adequado ao contexto em que foi produzido.

A sequência que CORRETA é:


a) ( ) F, F, V, F.
b) ( ) V, F, V, F.
c) ( ) V, V, F, V.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


d) ( ) F, V, V, F.
e) ( ) F, F, V, V.

3 Leia o texto a seguir:

Como ter uma boa noite de sono

O sono é o período de descanso do corpo e da mente. É o momento


de relaxar nossos músculos e memorizar tudo o que aprendemos durante
o dia. Além disso, várias funções biológicas são realizadas durante a noite.
Nosso sistema imunológico produz substâncias fundamentais para o bom
funcionamento do nosso organismo, além do hormônio do crescimento e
do hormônio leptina (que causa sensação de saciedade), que também são
secretados durante a noite.
Algumas pessoas não conseguem ter uma boa noite de sono, e isso afeta
diretamente na qualidade de suas vidas. Por isso listaremos aqui algumas
dicas básicas para uma boa noite de sono, que resultará em corpo e mente
descansados.
• Refrigerantes, café e chá-preto são bebidas que devem ser evitadas antes do
sono, pois contêm cafeína e xantina em sua composição e essas substâncias
estimulam o sistema nervoso central, podendo atrapalhar o sono.
• Evite o consumo de frituras e comidas gordurosas que possam provocar
má digestão e azia, prejudicando o sono.
• Não se deite logo após as refeições.
• Não pratique atividades físicas até 4 horas antes de dormir.
• Recomenda-se tomar uma xícara de leite morno com mel antes de dormir,
pois o leite contém triptofano, um aminoácido essencial, que aumenta o
nível de serotonina, um calmante natural do cérebro. E o mel, por ser um
carboidrato, facilita a entrada de triptofano no cérebro.
• Manter um ritmo de sono é importante. Tente se deitar e acordar no mesmo
horário todos os dias, mesmo em finais de semana.
• Evite fazer anotações, ler, estudar, trabalhar e assistir TV na cama.
• Durma em um local onde esteja tudo calmo e escuro.
• Nunca se deite com fome. Uma fruta é uma boa opção para enganar a fome
e não dormir de barriga vazia.
• Um banho morno relaxa o corpo e ajuda a prepará-lo para uma boa noite
de sono.
• Se tiver muita dificuldade para dormir à noite, é bom evitar dormir durante
o dia.
• Esqueça todos os problemas na hora de dormir.
• Evite dormir com a TV ligada, pois isso impede que a pessoa chegue à fase
do sono profundo.
• O tabaco é estimulante, por isso evite fumar horas antes de se deitar.
• Se você se deitar e não conseguir dormir, levante-se e faça alguma atividade
relaxante, como ouvir músicas calmas.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


• Manter uma rotina de atividades físicas colabora para boas noites de sono.
• Tenha colchão e travesseiros confortáveis.

Essas são algumas dicas que resultarão em uma excelente noite de sono.
Basta segui-las para melhorar seu sono e sua qualidade de vida. Bons sonhos!
FONTE: MORAES, Paula Louredo. Como ter uma boa noite de sono. Disponível em: <http://
mundoeducacao.bol.uol.com.br/saude-bem-estar/como-ter-uma-boa-noite-sono.htm>. Acesso em: 2
abr. 2016.

Os textos possuem um contexto de uso, uma função social e um objetivo


comunicativo. Após a leitura do texto, podemos concluir que sua função é:
a) ( ) Expor a opinião da autora sobre o ato de dormir bem.
b) ( ) Orientar os leitores sobre os cuidados que devem ter para que consigam
dormir bem.
c) ( ) Criticar os leitores que não conseguem ter uma boa noite de sono.
d) ( ) Divulgar um produto que promete ajudar pessoas que não conseguem
dormir bem.
e) ( ) Apresentar como funciona o sono do ponto de vista biológico.

4 A nalise as seguintes afirmações:

I- O texto escrito é uma modalidade de produção textual superior ao texto


oral, por isso, deve ser utilizado de forma prioritária.
II- Os textos orais são considerados não planejáveis porque ocorrem durante
as situações comunicativas, na interação direta entre falantes e ouvintes.
III- Os textos escritos utilizam-se do aparato linguístico, ao contrário dos
textos orais que podem fazer uso também de gestos, expressões faciais etc.
IV- Os enunciatários dos textos escritos não precisam fazer um esforço de
interpretação porque essa função cabe exclusivamente ao enunciador.

Estão CORRETAS:
a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) II e IV.
e) ( ) I e IV.

5 A nalise os seguintes textos:

Texto 1

“Eles acham que não chateia, mas machuca de verdade“, disse, “Vim


representar as pessoas que não têm dinheiro para pagar um advogado (…)
Esse ódio gratuito das pessoas, de não pensar no próximo… E eu falei: “cara,

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


eu não posso deixar isso passar impune”. (Depoimento da cantora Ludmilla à
revista Todateen sobre o racismo que sofreu nas redes sociais).

FONTE: Disponível em: <http://todateen.com.br/souassimtt/ludmilla-sofre-com-racismo-desabafa-


machuca-de-verdade/>. Acesso em: 10 jun. 2016.

Texto 2

“BF: E o que deu o start para colocar o livro em andamento? Houve um


episódio, um fato curioso?

​R Q: Na época, eu trabalhava numa revista feminina e pintou uma


reportagem sobre o tema. Sou apaixonada por música, toco piano e adoro
cantar MPB, Bossa Nova etc. A pauta caiu para mim e eu pirei... fiquei um
mês atrás das histórias, e me encantei muito especialmente com a Lígia do
Tom. Tom Jobim é um ícone para mim. Desde a publicação dessa matéria,
já imaginei que daria um livro, e nunca mais abandonei o assunto. Só que,
nesse meio tempo, o mundo roda, a vida também, trabalho pela sobrevivência,
então não podia parar para fazer um projeto independente. Nos últimos três
anos, contudo, coloquei como prioridade, me virei nos 30 e fiz, de maneira
independente, mas já com uma editora interessada na publicação”. (Entrevista
com a jornalista Rosane Queiroz sobre seu livro Musas e música – a mulher
por trás da canção para a revista Bons Fluídos).

FONTE: Disponível em: <http://bonsfluidos.uol.com.br/noticias/entrevista/livro-reune-depoimentos-de-


mulheres-que-inspiraram-as-mais-belas-cancoes-da-mpb.phtml#.V11ZCLsrLMx>. Acesso em: 10 jun.
2016.

Sobre os textos é correto afirmar:


a) ( ) Ambos são textos representantes da modalidade escrita, evidenciada
pelo uso de pontuação e vocabulário simples, mas formal.
b) ( ) O primeiro é um texto representante da modalidade oral, e o segundo
é um texto representante da modalidade escrita, dada sua extensão.
c) ( ) Ambos os textos são representantes da modalidade oral, verificável pelo
uso de expressões como “cara”, “pintou”, “pirei”.
d) ( ) Os dois não podem ser definidos como textos, pois não apresentam
sentido no contexto comunicativo em que se apresentam.
e) ( ) Apenas o segundo texto é representante da modalidade escrita porque
é dotado de clareza, objetividade, concisão e correção gramatical.

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


REFERÊNCIAS
ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2008.

ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo:


Parábola, 2010. (Série estratégias de ensino, 21).

KOCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez,


1992.

______; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de produção textual.


São Paulo: Contexto, 2009.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de


retextualização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

SANTOS, Gerson Tenório dos. Texto e textualidade. São Paulo: Unicastelo,


2010.

SANTOS, Flávia Andreia dos; CABRERA, Lúcia Gandarillas; GÓES, Vera Lúcia.
Retextualização do texto oral. Revista Anagrama, São Paulo, ano 1, ed. 4, p.
1-14, junho/agosto 2008. Disponível em: <http://www.revistas.univerciencia.
org/index.php/anagrama/article/viewFile/6278/5696>. Acesso em: 7 abr.
2016.

TAFNER, Elisabeth Penzlien. Redação na vida acadêmica e profissional.


Blumenau: Nova Letra, 2009. (Coleção Estudos Independentes).

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES


GABARITO
1C

2 A (F, F, V, F)

3B

4C

5C

CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES

Você também pode gostar