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A ação humana e os valores

4.1 O que são valores?


 São guias da ação humana;
 Orientam as nossas escolhas e representam o que é preferível.

A relação dos seres humanos com o Mundo não é uma relação de indiferença, pois o Homem aprecia, mede e avalia
a importância que a realidade tem para si.

4.2 Características dos valores


Os valores têm 3 características principais:
a) São bipolares, ou seja têm dois pólos, um positivo que atrai e um negativo que repele. Isto é, todo o valor
tem o seu contra valor.
Ex. Riqueza, saúde, conhecimento, beleza são valores que preferimos à pobreza, doença, ignorância,
fealdade.

b) São hierarquizáveis, ou seja é possível estabelecer uma ordem crescente ou decrescente de valores de
acordo com aqueles que consideramos mais estimáveis e aqueles que damos menos atenção.
Ex.
-3 -2 -1 0 1 2 3

Decrescente de não Crescente de


preferência preferência

c) Valores meio e valores fim: há valores que são fins em si mesmo, ou seja valem por si, não precisando de
outros para ter valor.
Ex. A felicidade é um valor fim, enquanto a riqueza é um valor meio para atingir a felicidade. A liberdade
é também um valor fim.

4.3 Juízos de facto e juízos de valor


Os juízos de facto distinguem-se claramente dos juízos de valor.
Os juízos de facto:
 São descritivos pois descrevem um facto ou situação tal qual ela é;
 São verificáveis porque aquilo que se afirma ou nega neles pode ser comprovado:
 São unânimes/consensuais uma vez que não são objeto de discussão;
 São objetivos porque não dependem da avaliação do sujeito.
Os juízos de valor:
 São opinativos porque exprimem uma apreciação de um facto ou situação:
 Não são verificáveis porque não se pode comprovar se o que neles se afirma ou nega é verdade ou mentira;
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 São polémicos porque é impossível obter um consenso ou unanimidade. No entanto através do diálogo
podemos atingir um acordo;
 São subjetivos pois variam de acordo com a apreciação de cada sujeito.

4.4 A natureza dos valores

Há 3 grandes teorias em relação à natureza dos valores:

O objetivismo axiológico:
Afirma que o valor existe independentemente de cada pessoa e para reconhecer e aceitar determinado valor apenas
temos de considerar valiosas as coisas que o incorporam.
Assim os valores são objetivos, dotados de universalidade e de intemporalidade. Os críticos desta teoria contestam a
legitimidade da separação do valor, não só do bem que o corporiza, mas também do sujeito que valoriza.

Subjetivismo axiológico:
Para esta teoria, o valor depende dos sentimentos de agrado ou desagrado, do facto de serem ou não desejados,
isto é da subjetividade humana individual ou coletiva.
Assim defendem o caráter subjetivo dos valores e reconhecem que estes são mutáveis e temporais ou transitivos. Os
críticos desta teoria, contestam que se esqueça completamente as propriedades do objeto que o tornam valioso.

Teoria conciliadora:
Esta teoria procura conciliar quer as propriedades do objeto que o tornam valioso quer os sentimentos de agrado ou
desagrado que cada sujeito reconhece no objeto, retirando 3 conclusões:
 Não há valores fora da apreciação humana, pois é o ser humano que reconhece os valores incorporados nos
objetos;
 Há valores em que o elemento subjetivo é fundamental dependendo dos gostos, desejos ou interesses
pessoais;
 Há valores éticos e políticos como a igualdade, a liberdade, a tolerância, a solidariedade e a paz que são
valores básicos consagrados na declaração dos Direitos Humanos que não podem depender da
subjetividade. São princípios orientadores da ação, universais e absolutos que temos obrigação de
reconhecer e defender.
4.5 A questão dos critérios valorativos

O que dá valor ao valor?

Um critério valorativo é um princípio geral que, quando aplicado a uma situação prática e particular, permite
identificar e justificar algo como valioso.
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Assim, se considerarmos que os valores são impensáveis sem o sujeito humano e que as propriedades do objeto só
são valiosas em função dele, podemos dizer que as “coisas” são valiosas porque vão ao encontro das necessidades
do sujeito.

Mas as necessidades que o ser humano experimenta não se encontram todas ao mesmo nível. Abraham Maslow
(1908-1970), psicólogo norte-americano, propôs uma escala hierárquica das necessidades humanas que apresentou
sob a forma de uma pirâmide, que ficou conhecida por “pirâmide de Maslow”.

Na base encontram-se as necessidades físicas e mentais de cuja satisfação depende a sobrevivência do ser humano.
No nível intermédio estão as necessidades de relações pessoais e sociais. E no vértice da pirâmide surgem as
necessidades de desenvolvimento pessoal.

 Base: sobrevivência:
 Nível intermédio: relações pessoais e sociais:
 Topo: desenvolvimento pessoal.

Neces
Segundo Maslow, só procuraremos satisfazer as sidade
s
necessidades do nível médio depois de termos
de
assegurado a satisfação das necessidades básicas, e as auto-
Necessidades
realiza
do vértice da pirâmide só se fazem sentir quando se ção
de auto-estima
encontram satisfeitas as da base e as do nível
Necessidades
intermédio. de afeto e de presença

Em conclusão pode dizer-se que terá valor tudo o que Necessidades de segurança

contribuir para a sustentação da vida e


Necessidades fisiológicas
desenvolvimento harmonioso do ser humano que,
enquanto pessoa criadora de valores, é ele próprio um
valor em si mesmo. A vida e a pessoa humana são
valores máximos e tudo o que os conserva, estimula e desenvolve é considerado valioso.

4.6 O problema da universalização dos valores

 Valores e cultura

As nossas ações são condicionadas pela cultura.


Ora, cada cultura tem uma identidade própria, ou seja uma maneira de interpretar e dar sentido à vida, que resulta
dos diferentes padrões de comportamento, de crenças, dos critérios de atribuição de riqueza, dos direitos e dos
papéis sociais.

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Cada individuo, durante o processo de socialização, interioriza os padrões de comportamento, as crenças e os
valores próprios da cultura a que pertence, transmitindo-as á geração futura.
Como todas as atividades humanas, a cultura também vai sofrendo alterações. Estas resultam da própria evolução
social e de um processo de aculturação, isto é da influência de outras culturas.
Ex. fast-food, coca-cola, telenovelas, eletricidade etc.

Embora a aculturação sempre tenha existido, foi-se acentuando a partir de meados do século XX, graças à facilidade
de comunicação e de contacto entre as diferentes culturas:
 Movimentos migratórios;
 Viagens;
 Trocas comerciais;
 Televisão;
 Internet.

Na história há inúmeros casos de aculturações, uns violentos (implicando por vezes destruição de indivíduos ou raças
e seus elementos culturais) outros naturais (a partir dos quais surgiram novas criações culturais).
Ex1 A palavra sacana vem do japonês sacana, que significa peixe. Quando os portugueses chegaram ao Japão os seus
olhos redondos contrastavam com os olhos em bico dos japoneses. Daí o nome dado aos portugueses.
Ex2 A worldfood está a impor-se por todo o lado, substituindo algumas identidades gastronómicas locais e regionais.

 A diversidade e o diálogo de culturas

Cada ser humano é único. O respeito pela diversidade individual significa que devemos estar abertos, abertura
nascida do conhecimento, da compreensão e do espírito crítico às múltiplas diferenças.

Face à diversidade cultural frequentemente manifestam-se atitudes que não desenvolvem esse sentimento de
justiça e compreensão. São os casos do etnocentrismo e relativismo cultural.

O que é? Como se manifesta?

Xenofobia: ódio pelos estrangeiros;


Incompreensão face a outras culturas,
Etnocentrismo Chauvinismo: nacionalismo fanático;
nascida de um sentimento de
Racismo: rejeição violenta de um ou mais
superioridade da sua própria cultura.
grupos étnicos.

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Isolamento: cada ser humano deve viver no


Atitude que sob a capa do respeito e seu país segundo a sua cultura;
Relativismo cultural tolerância pelas outras culturas, dificulta Estagnação: cada cultura deve promover os
o diálogo entre culturas. seus valores evitando o contacto com
outras culturas.

Uma tentativa para lidar de forma mais eficaz com a diversidade cultural e criar condições para a conivência
saudável das várias culturas é o interculturalismo. O qual aposta no diálogo entre as culturas e exige:
 A criação de mecanismos de integração e não de exclusão de minorias culturais;
 Encontrar um número mínimo de direitos reconhecidos por todos que favoreça o diálogo em vez da
confrontação;
Ex. Quando compramos umas sapatilhas fabricadas na China ou na Indonésia estamos a comprar a
exploração da mão de obra infantil.
 Reconhecer que a ideia estática de cultura ligada ao relativismo cultural é não só falsa, mas sobretudo
perigosa. As culturas são realidades dinâmicas e podem enriquecer-se e aperfeiçoar-se se mantiverem
relações recíprocas e intercambiais.
Ex1 Sem outras culturas a nossa seria mais pobre.
Ex2 Um português que só é português não é português.
 Procurar um fundamento dos direitos humanos e o seu enraizamento na natureza humana, pois esta é
igual em dignidade e direitos para além da diversidade de raças, cores, etnias e culturas.
Nesta procura de fundamentos devemos destacar o papel da filosofia na definição de conceitos como
liberdade, igualdade, fraternidade, tolerância e dignidade da pessoa humana.

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