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eISSN 2177-4307
DOI: 10.5654/actageo2012.0002.0005 ACTA Geográfica, Boa Vista, Ed. Esp. Climatologia Geográfica, 2012. pp.77-86
Abstract
This paper presents an experience of teaching practice in Climatology with students from fourth grade of elementary
school. The result showed that the study of the everyday life, working with images and representation of the places
are educational resources that can promote more significant learning about the concepts of weather and climate on
students on this level.
Keywords: weather; climate; teaching.
Resumen
Este artículo presenta una experiencia de la práctica docente en la climatología con estudiantes de cuarto grado de la
escuela primaria. El resultado mostró que el estudio de la vida cotidiana, trabajar con imágenes y la representación de
los lugares son los recursos educativos que pueden promover un aprendizaje más significativo de los conceptos de
tiempo y el clima de los estudiantes en este nivel.
Palabras clave: tiempo; clima; enseñanza.
ACTA Geográfica, Boa Vista, Ed. Esp. Climatologia Geográfica, 2012. pp.77-86
Prática pedagógica em climatologia no Ensino Fundamental: sensações e representações do cotidiano
Ercília Torres Steinke
ACTA Geográfica, Boa Vista, Ed. Esp. Climatologia Geográfica, 2012. pp.77-86
Prática pedagógica em climatologia no Ensino Fundamental: sensações e representações do cotidiano
Ercília Torres Steinke
construção, esse conhecimento é volátil e Leite (2002) apontam como causa básica da
rapidamente desaparece da estrutura permanência dessa postura, o distanciamento
cognitiva do aluno. entre a geografia acadêmica/científica e a
geografia desenvolvida nos espaços escolares.
CONTEÚDO DE CLIMATOLOGIA NO 4º
ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA
Nessa etapa de ensino, de acordo com os PROPOSTA
PCNs, o estudo da Geografia deve abordar Para essa experiência inicial, o projeto
principalmente as diferentes relações entre as previu, como primeira estratégia de ação,
cidades e o campo em suas diversas realizar atividades de sondagem entre os
dimensões, objetivando a construção de alunos, procurando perceber qual era a
conhecimentos a respeito das categorias de compreensão a respeito dos conceitos de
paisagem urbana e paisagem rural, como tempo e clima. Nessa etapa, os alunos foram
foram constituídas ao longo do tempo e ainda o levados ao pátio descoberto da escola para a
são, e como sintetizam múltiplos espaços observação do céu e para uma conversa
geográficos (BRASIL, 1998). informal a respeito da percepção de cada um
Para que os alunos observem, comparem sobre o clima do Distrito Federal. As
e compreendam essas relações é utilizada, observações de cada aluno foram anotadas.
normalmente a paisagem local/regional, por Como era de se esperar, os alunos não
isso, os livros didáticos desse nível de ensino tinham noção da diferença entre tempo e clima,
80 são de abordagem regional. O conteúdo de porém, possuíam forte percepção do fato de o
Climatologia está inserido, de forma geral, na verão ser chuvoso e o inverno, seco
parte em que é descrita a paisagem regional, (características do clima do Distrito Federal).
nesse caso específico, do Distrito Federal. Muitos questionaram esse fato e alegaram
Esse conteúdo restringe-se à serem as férias de janeiro uma época muito
diferenciação entre tempo e clima e da ruim, pois sempre chove muito na cidade e não
caracterização do clima da região, o que é é possível brincar na rua nem ir ao clube.
perfeitamente adequado ao nível cognitivo em Outros chamaram atenção para o fato de não
que se encontram os alunos dessa etapa. O que haver nuvens no céu nas férias de julho. A
se questiona é a forma como essas crianças seguir transcreve-se um trecho da conversa
estão recebendo esse conteúdo, como entre a professora e os alunos:
mencionado anteriormente, dissociado dos - Não gosto de passar as férias aqui em
conceitos geográficos básicos, Brasília porque só chove e minha mãe não me
descontextualizado, estático, desarticulado e deixa brincar na chuva! – afirmou uma aluna.
privilegiando a memorização. O professor, - Mas, nas férias de julho eu posso descer
por sua vez, reproduzindo o que se apresenta todos os dias, não chove nada! – comentou
no livro didático, deixa de utilizar práticas que outra criança.
propiciem a internalização do que o aluno Nesse momento as crianças começaram
aprendeu e leva a uma mera memorização da a descrever o que cada uma fazia nas férias até
definição de tempo e de clima. Diniz (2001) e que um aluno fez a seguinte pergunta:
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- Professora, para onde vão as nuvens nas agora”. Além disso, foi utilizada a sugestão de
férias de julho? Perguntou um aluno Rossato (2009) para explicar o tema fazendo
reportando-se ao fato de não haver formação de uma comparação com o humor. Com isso, às
nuvens na época seca no Distrito Federal. informações fornecidas aos alunos foram
Foi com base nessa sondagem, e incorporadas situações rotineiras e conhecidas
especificamente na pergunta do aluno sobre a pelas crianças. Assim, aos alunos foi explicado,
ausência de nuvens, que foi elaborada uma de forma mais lúdica, que o tempo indica o
prática pedagógica diferenciada com estado da atmosfera em um determinado
atividades que objetivassem o aprendizado dos momento e lugar e que o estado atmosférico é o
conceitos de tempo e clima. Essa atividade conjunto de qualidades momentâneas tais
levou em conta, também, o que Rossato (2009) como, temperatura do ar, chuva, nebulosidade,
acredita ser fundamental para o aprendizado, pressão atmosférica e ventos, por exemplo.
ou seja, o modo de abordagem sobre o assunto. Já para a explicação do conceito de clima,
A autora acredita ser importante que o foram utilizadas as tabelas com os meses do
professor aborde o tema a partir de situações ano. Observou-se que a maioria dos alunos
concretas, como situações vividas ou preencheu a tabela de forma praticamente
observadas pelas crianças. igual, com os registros de chuva no início e fim
O planejamento previu uma aula de 50 do ano e seca nos meses de inverno. A maior
minutos com a utilização de um equipamento discriminação ocorreu nos meses de transição.
de projeção multimídia. Os alunos foram Mesmo assim, as informações obtidas puderam
levados para uma sala especial, denominada de ser utilizadas para a explicação do conceito de 81
“sala de multimídia”, na qual é possível fazer clima. A professora explicou que preenchendo
projeções em uma grande tela. aquela tabela para uma grande quantidade de
A professora iniciou a aula perguntando anos era possível estabelecer um padrão de
aos alunos o que cada um estava comportamento do tempo. Assim, seria
observando/sentindo naquele exato momento, determinado o clima. Para melhor
frio, calor, etc.; e solicitou que cada um compreensão, a professora, como sugeriu
registrasse sua sensação em uma folha de papel Rossato (2009), comparou o clima com a
com o título “o que estou observando/sentindo personalidade, ou seja, os traços típicos, de
agora”. Em seguida, dividiu a turma em uma pessoa. Mesmo ela possuindo uma só
grupos, distribui para cada grupo uma tabela personalidade, pode mudar de humor de vez
com os meses do ano e solicitou que os alunos em quando.
conversassem entre si, recordassem suas As respostas dos alunos foram
vivências e registrassem, nessa tabela, o que sistematizadas por eles mesmos e construíram-
sentiam/observavam em cada mês do ano. se dois quadros-síntese que resumiram o que
Com as respostas dos alunos, a eles compreenderam a respeito do que seria
professora introduziu os conceitos de tempo e tempo e clima (FIGURA 1). Com essa atividade
clima. Para trabalhar com o conceito de tempo encerrou-se a primeira etapa da experiência.
foram utilizadas as respostas registradas nas Na segunda etapa da experiência, os
folhas “o que estou observando/sentindo alunos retornaram para a sala de multimídia. A
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Figura 1 – Quadros-síntese do que os alunos compreenderam a respeito do conceito de “tempo” (a) e de “clima” (b).
Fonte: Aula realizada na escola em setembro de 2011.
aula teve início com a retomada do quadro- de jeito nenhum, que os estudiosos chegaram a
síntese produzido por eles. A partir desse conclusão que o tipo de clima do Distrito
quadro trabalhou-se a caracterização do clima Federal é conhecido como tropical
do Distrito Federal com a seguinte pergunta: alternadamente úmido e seco.
“quais os tipos de tempo mais comuns podem Para o entendimento do termo tropical, a
ser observados em nossa região?” As crianças professora utilizou um globo terrestre.
82 prontamente responderam que os tipos de Delimitou a região tropical, e explicou que
tempo mais comuns eram o chuvoso e o seco, aquele pedaço do planeta era chamado de
sendo que o tempo chuvoso está associado com “tropical” por estar localizado entre as duas
muita nebulosidade com temperaturas mais linhas, chamadas de trópicos de Capricórnio e
amenas e o seco, por sua vez, com dias trópico de Câncer. Logo após, solicitou aos
ensolarados e temperaturas mais elevadas, alunos que localizassem o Brasil no globo. A
apesar de ser inverno. As observações dos professora continuou a explicação indicando
alunos foram anotadas para a realização da que, como a maior parte do Brasil fica
atividade de caracterização do clima do localizada na região tropical do planeta, a
Distrito Federal. maioria dos climas identificados no território
A atividade consistiu em solicitar aos recebe o nome de “tropicais”.
alunos que informassem qual ou quais os tipos O desafio que se seguiu foi tentar
de tempo observados no verão e aqueles responder ao questionamento feito na aula
observados no inverno. Com as respostas, as anterior a respeito da ausência de nuvens em
próprias crianças chegaram a conclusão que julho. A dinâmica das massas de ar atuantes foi
todos os anos, apesar de não serem exatamente generalizada para vento, como forma de tentar
iguais, chovia no verão e era seco no inverno. fazer os alunos compreenderem que há
Com isso, a professora explicou que, foi movimentação de ar e que essa movimentação
observando que no Distrito Federal há meses pode trazer para a região a chuva ou a seca.
em que chove mais, e meses em que não chove Assim, utilizando-se de uma projeção
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como aparece no desenho de letra (e). céu azul e vegetação desprovida de folhagem.
Representam, também, a ocorrência de chuva Os desenhos (a), (b) e (c) trazem a
associada à presença de árvores com folhagem representação de uma situação muito comum
verde. Chama atenção, a representação do experimentada pela população na época seca, o
gramado, bem verde, que aparece nos céu avermelhado nos fins de tarde. Notar que o
desenhos, tal como ocorre nos canteiros Sol, nesses desenhos, foram pintados de cores
gramados das cidades do Distrito Federal. mais aproximadas do vermelho. Como não
O período seco, por sua vez, foi houve nenhum questionamento com relação a
representado por ausência de nebulosidade, esse fenômeno, a professora não abordou o
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