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Universidade Anhanguera-Uniderp

Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes – REDE LFG


Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP

Curso de Pós-Graduação TeleVirtual em


Direito Eleitoral

Disciplina

Princípios de Direito Eleitoral. Teoria Geral do Direito


Administrativo e do Direito Constitucional

Aula 2

LEITURA OBRIGATÓRIA 1

Marcos Ramayana Blum de Moraes


Membro do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

PRINCÍPIO DA MORALIDADE ELEITORAL

Como citar este artigo:

MORAES, Marcos Ramayana Blum de. Princípio da


Moralidade Eleitoral. Disponível em:
http://www.amperj.org.br/artigos/view.asp?ID=92.
Material da 2ª aula da Disciplina Princípios de Direito
Eleitoral. Teoria Geral do Direito Administrativo e do
Direito Constitucional, ministrada no Curso de Pós-
Graduação TeleVirtual em Direito Eleitoral – Anhanguera-
Uniderp|REDE LFG - IDP.

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Sobre o tema, a posição sumulada do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral no verbete de
número 13, in verbis: é no sentido da não aplicabilidade do princípio da moralidade eleitoral
para fins de exame de candidaturas. Neste sentido: "Não é auto-aplicável o § 9° art. 14, da
Constituição, com a redação da Emenda Constitucional de Revisão 4/94".
Como se verifica, o Tribunal Superior Eleitoral entendeu que se faz necessária a produção
de norma legal (Lei de natureza complementar) para fins de explicitar quais os casos que
ensejam a imoralidade eleitoral para fins de inelegibilidade nos termos da Constituição da
República Federativa do Brasil, artigo 14, §9°.
Em todas as eleições nacionais, estaduais ou municipais aparecem candidatos que de uma
certa forma apresentam uma vida pregressa repleta de imoralidades públicas e anotações
criminais em suas folhas de antecedentes criminais.
A Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990, no artigo 1°, I, letra e, trata de uma
especial inelegibilidade por prática de infrações penais. É a inelegibilidade superveniente à
suspensão dos direitos políticos, após sentença penal condenatória transitada em julgada com
pena já cumprida e extinta na forma legal. Trata-se de uma especial inelegibilidade
criminal. Se um cidadão praticou crime eleitoral e já cumpriu pena, ainda ficará inelegível
por três anos supervenientemente à pena cumprida.
Primeiramente, cumpre afastarmos qualquer argüição de inconstitucionalidade do aludido
dispositivo legal da lei das inelegibilidades, pois a jurisprudência pacífica do Egrégio Tribunal
Superior Eleitoral corretamente entendeu que a Carta Constitucional no artigo 15, III,
disciplinou o instituto da suspensão dos direitos políticos, enquanto que a Lei Complementar
64/90, tratou de outro instituto, ou seja, o da inelegibilidade. A suspensão e a inelegibilidade
integram os direitos políticos negativos e são exceções a plena capacidade eleitoral passiva,
no entanto, a suspensão impede o direito de votar, a capacidade ativa, e a inelegibilidade
fulmina por lapso temporal previsto em lei, a capacidade eleitoral passiva, ou seja, o direito
de ser votado. Assim sendo, a suspensão dos direitos políticos é hipótese mais drástica ao
cidadão-candidato, na medida que lhe impede de votar e ser votado durante determinado
período de tempo.
Impende frisar o verbete sumular número 09 do Tribunal Superior Eleitoral, que assim
dispõe: "A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada
em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de
reabilitação ou de prova de reparação dos danos". Vê-se que, uma vez declarada extinta a
pena pelo seu cumprimento, o apenado poderá restabelecer os seus direitos políticos
regularizando sua situação eleitoral com a comprovação da cessação da causa de suspensão
dos direitos políticos.
O interessado deverá preencher documento ou fazer uma petição ao juiz eleitoral de sua
zona eleitoral (local em que está inscrito como eleitor), seguindo o disposto no artigo 52 da
Resolução 21.538/03 do TSE, quando após a tramitação legal e parecer do Promotor Eleitoral,
o Juiz Eleitoral comandará o código FASE, invalidando o registro cerceativo dos direitos
políticos (suspensão). A petição para restabelecimento deve ser instruída com cópia da
decisão de extinção da pena, certidão ou documento idôneo.
Nesta seqüência, com a obtenção do restabelecimento, o interessado volta a ser cidadão
para fins eleitorais e políticos, mas se tiver praticado determinados crimes, conforme a letra
e, do inciso I, do artigo 1° da Lei Complementar 64/90, ainda ficará inelegível por três
anos, após a data de cumprimento da pena, e não do restabelecimento, este último, sujeito a
processo administrativo de natureza voluntária perante o órgão de jurisdição eleitoral (juiz
eleitoral) e, portanto, presumivelmente mais demorado.
De uma certa forma, a legislação eleitoral já disciplina a imoralidade eleitoral considerada
a vida pregressa, quando o infrator se sujeita ao que denominados de inelegibilidade
criminal. Todavia, a incidência da letra e, do inciso I, do art. 1°, da LC 64/90, é ainda
insuficiente e não colmata o campo legislativo próprio do comando constitucional do artigo
14, §9°, da CRFB. A realidade eleitoral e os princípios da cidadania, normalidade e

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legitimidade das eleições obrigam ao legislador infraconstitucional dotar a Justiça Eleitoral e
o Ministério Público com atribuições para os feitos eleitorais de instrumentos eficientes e
moralizadores das eleições.
O Tribunal Superior Eleitoral e todos os órgãos da Justiça Eleitoral contando com a ampla
fiscalização dos Partidos Políticos, Ministério Público, candidatos e eleitores estão incumbidos
da defesa do regime democrático e autorizados por normas constitucionais a resguardar este
regime contra abusos, fraudes, corrupções e imoralidades públicas e decorrentes de uma vida
pregressa maculada de anotações criminais, cuja subjetividade do exame possas causar lesão
ao sublime exercício dos mandatos eletivos.
A produção da norma relativa a moralidade eleitoral imbricada com a vida pregressa de
determinado candidato eleito e que esteja no exercício do mandato eletivo não está imune ao
exame do seu decoro parlamentar como causa de previsão nos regimentos internos da
Câmara, Senado, Assembléias Legislativas e Leis Orgânicas Municipais, nem tampouco se
escusa a análise do decoro dos servidores públicos em geral em razão das leis próprias de
regência da matéria.
A própria Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990, declara que é causa de
inelegibilidade, após o término do mandato, o fato de um senador, deputado, Governador e
Prefeito, violarem o decorro parlamentar (moralidade pública e de comportamento social).
Nesse sentido, rezam as alíneas a e b do inciso I, do artigo 1° da Lei das Inelegibilidades.
A improbidade administrativa eleitoral como imoralidade qualificada ou duplicada é
punida pelas normas do artigo 73, §§4° até 7°, da Lei 9.504/97. São as condutas vedadas aos
agentes públicos nas campanhas eleitorais.
A vida de um servidor público deve ser moralmente aceita pela sociedade, e esta situação
de subjugação aos deveres com a ordem democrática defluem da natural posição do homem
representativo dentro do contexto de comunidades simplesmente primitivas e das altamente
organizadas.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 2004 (eleições
municipais) praticou a fiscalização do regime democrático por intermédio de diversos
Promotores Eleitorais que se deparam com esta questão e apresentaram impugnações ao
pedido de registro de candidatos que tinham anotações em suas certidões criminais.
No pedido de registro de candidaturas, devem ser apresentadas as certidões criminais,
conforme disciplina o artigo 11, §1°, VII, da Lei 9.504/97 e Resolução eleitoral específica
sobre o registro. Não sendo exigível a folha de antecedentes criminais, o que dificulta
extremamente o controle do artigo 1°, I, letra e, da Lei Complementar 64/90, pois não se
sabe, exceto por investigação no âmbito próprio do Parquet ou da Justiça Eleitoral, que um
determinado candidato já cumpriu pena por crimes ali especificados. Este tema, também está
a exigir pronta modificação legal para viabilizar o controle da inelegibilidade nos pedidos de
registro de candidatos.
Neste procedimento registral, os Promotores Eleitorais apresentaram diversas
impugnações cuja valiosa contribuição no texto redacional se deu por espírito de grandeza de
Rogério Gomes Avelato, à época Subcoordenador das Promotorias Eleitorais no Estado do Rio
de Janeiro, in expressi verbis:

"EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ___ª ZONA ELEITORAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO - RESPONSÁVEL PELO REGISTRO DAS CANDIDATURAS.
Procedimento n.º
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, através do seu Promotor
Eleitoral, no uso de suas atribuições legais, vem, oferecer tempestivamente, com fulcro
nos artigos 97 do Código Eleitoral, , 3º da Lei Complementar n.º 64/90, e artigo 30 da
Resolução n.º 21608/04 (Instrução n.º 73 - Classe 12-DF),
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO DE REGISTRO DE CANDIDATURA
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em face de
JOSÉ DAS COUVES, PRÉ-CANDIDATO, BRASILEIRO, CASADO, FILIADO AO PARTIDO X,
RESIDENTE E DOMICILIADO À RUA DIREITA NO. 15 - BAIRRO ONDE O VENTO FAZ A CURVA,
PELOS FATOS E FUNDAMENTOS QUE ABAIXO PASSA A EXPOR:
DOS FATOS
O referido candidato efetuou o pedido de registro visando adquirir a condição de
candidato ao cargo de vereador do município de vento faz a curva.
Contudo, por ocasião da apresentação dos documentos necessários ao deferimento do
registro de sua candidatura à vereança, constatou-se que, nas certidões expedidas pelos
cartórios distribuidores cíveis e criminais, constavam várias anotações referentes a
processos penais relativos à prática de crimes contra a administração pública, bem como à
prática de tráfico de entorpecentes.
Em tais anotações noticiava-se que o mesmo já havia sido condenado pelo juízo
criminal monocrático, mas ainda não constava o trânsito em julgado das referidas
condenações.
Deste modo, instado a se manifestar sobre as referidas anotações, o mencionado
candidato se manifestou no sentido de que só o trânsito em julgado das ações penais
movidas em face dele teria o condão de impedir o deferimento de seu registro de
candidatura, o que não ocorreu até a presente data.
Porém, não assiste razão ao mesmo. Senão vejamos:
DO DIREITO
Ao contrário da tese defendida pelo candidato, o deferimento de sua candidatura
constituiria grave ofensa ao princípio da moralidade administrativa.
Com efeito, se, com base no princípio mencionado é vedado o ingresso de pessoas com
anotações em suas folhas penais aos cargos no âmbito da administração pública, com
razões muito mais ponderadas deve ser vedado tal acesso aos cargos de natureza política,
dentre os quais o pretendido pelo réu.
É tal premissa a consagração da máxima de "quem pode o mais, pode o menos".
Isto porque, a se entender de modo oposto, estar-se-ia possibilitando o acesso à
câmara municipal de pessoa cuja vida pessoal pregressa se apresenta incompatível com os
poderes e deveres que o cargo de vereador encerra.
Cada vez mais se exige transparência na conduta pública e privada dos agentes
públicos, não possuindo o réu os requisitos subjetivos necessários ao desempenho de
mandato público pretendido.
Nesta linha de raciocínio, cumpre salientar que a moralidade adminstrativa deve ser
tutelada através das ações eleitorais, constituindo óbice ao exercício do mandato
eleitoral, posto que, a se entender de modo oposto, estar-se-ia consagrando hipótese de
improbidade administrativa.
Neste sentido, vejamos a lição da doutrina:
Ensina ALEXANDRE DE MORAES:
"...A Constituição Federal, ao consagrar o princípio da moralidade administrativa como
vetor da administração Pública, igualmente consagrou a necessidade de proteção à
moralidade e responsabilização do administrador público amoral ou imoral. Anota Manoel
de Oliveira Franco Sobrinho:
"Difícil de saber por que o princípio da moralidade no direito encontra tantos
adversários. A teoria moral não é nenhum problema especial para a teoria legal. As
concepções na base natural são analógicas. Por que somente a proteção da legalidade e
não da moralidade também? A resposta negativa só pode interessar aos administradores
ímprobos. Não à Administração, nem à ordem jurídica. O contrário seria negar aquele
mínimo ético mesmo para os atos juridicamente lícitos. Ou negar a exação do dever
funcional"

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Desta forma, deve o Poder Judiciário, ao exercer o controle jurisdicional, não se
restringir ao exame estrito da legalidade do ato administrativo, mas, sim, entender por
legalidade ou legitimidade não só a conformação do ato com a lei, como também com a
moral administrativa e com o interesse coletivo."(Direito Constitucional, ed. Atlas, 10ª
edição, pág. 308).
No mesmo sentido, é o entendimento de MARCOS RAMAYANA BLUM DE MORAES:
"As hipóteses de improbidades eleitorais típicas estão descritas no art. 73 da Lei
9504/97(Lei das Eleições). Vejam que o legislador tratou da remissão expressa no § 7º do
art. 73;
As condutas enumeradas no caput caracterizam ainda, atos de improbidade
administrativa, a que se refere o art. 11 inciso I, da Lei 8429, de 2 de junho de 1992, e
sujeitam-se às disposições daquele diploma legal, em especial às cominações doa rt. 12,
inciso III.
Outrossim, o art. 74 da Lei 9504/97 caracteriza como abuso de autoridade a violação
ao disposto no art. 37 § 1º da Carta Magna. O art. 37, § 1º trata da publicidade dos atos,
programas, obras e serviços que não podem veicular nomes, símbolos ou imagens de
promoção pessoal1 . O caso também é de improbidade administrativa.
Em síntese: as enumerações caracterizadoras de abuso d e autoridade ou econômico-
eleitoral também podem ser casos de típicos de improbidade administrativa e as ações
civis podem ser propostas, independentemente do momento do processo eleitoral. No
entanto, os efeitos do trânsito em julgado, nestas ações, repercutem na candidatura e no
mandato eletivo.
Se o Ministério Público, v.g., vislumbrar um caso de improbidade administrativa
eleitoral, poderá fazer uso de suas atribuições eleitorais para impugnar o registro ou o
mandato eletivo, mas também poderá, através do membro do Parquet com atribuições,
propor a ação civil pública por improbidade (a competência não é eleitoral).(Direito
eleitoral, ed. impetus, pag 156).
Desta forma, cumpre salientar que a ausência dos requisitos subjetivos do pretendente
ao cargo eletivo constitui hipótese de ausência de moralidade administrativa, atuando o
artigo 59 do Código Penal como norma de integração de natureza heterogênea, eis que os
antecedentes do pré-candidato não autorizam o deferimento de sua pretensão.
Ao contrário do que se possa pensar, não se está presumindo o réu culpado antes do
trânsito em julgado da sentença condenatória, mas sim exigindo os requisitos
constitucionais, inclusive, para o provimento em cargo deste naipe.
A concessão do ius honorum exige um plus do cidadão, que não se exaure apenas na
presunção de inocência, mas sim de requisitos subjetivos a serem examinados com rigor,
eis que se trata de órgão de natureza política.
Na hipótese em questão, depreende-se que o réu encontra-se envolvido em vários
processos penais e civis, dos quais ainda não resultou condenação com trânsito em julgado,
mas que indicam que o mesmo não reúne as condições necessárias para exercer o mandato
de vereador.
Assim sendo, urge concluir que a vida pregressa do candidato fere o princípio da
moralidade adminstrativa e política, constituindo obstáculo para o deferimento de seu
registro de candidatura.
É importante considerar ainda que a improbidade administrativa que é uma forma de
imoralidade pública qualificada acarreta a suspensão dos direitos políticos, na forma do
artigo 15, III, da Carta Magna e do artigo 10 da Lei 8.429/92; portanto, a moralidade é
requisito de essencial avaliação para os atos de improbidade.
A moralidade para o acesso ao mandato eletivo é inerente ao princípio da segurança
jurídica e estabilidade das relações entre os eleitores e os candidatos. Neste sentido,
"Esta 'segurança jurídica' coincide com uma das mais profundas aspirações do Homem: a
da segurança em si mesma, a certeza possível em relação ao que o cerca, sendo esta uma
busca permanente do ser humano. É a insopitável necessidade de poder assentar-se sobre
algo reconhecido como estável, ou relativamente estável, o que permite vislumbrar com
alguma previsibilidade o futuro; é ela, pois, que enseja projetar e iniciar,
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conseqüentemente - e não aleatoriamente, ao mero sabor do acaso -, comportamentos
cujos frutos são esperáveis a médio e longo prazo. Dita previsibilidade é, portanto, o que
condiciona a ação humana. Esta é a normalidade das coisas" (Curso de Direito
Administrativo, Celso Antônio Bandeira de Mello, editora Malheiros, 14 edição, página
106, São Paulo).
Vê-se que, o agente que não é possuidor de moralidade para o exercício do mandato
eletivo é inelegível, ou seja, não possui o ius honorum, a capacidade eleitoral passiva ou
os direitos públicos políticos subjetivos passivos.
De certo que a Carta Magna não fixou o prazo de inelegibilidade e o Egrégio Tribunal
Superior Eleitoral ao expedir o verbete sumular n.º 13 entendeu que " Não é auto-
aplicável o §9º, art. 14, da Constituição, com a redação da Emenda Constitucional de
Revisão 4/94". No entanto, a Lei das Inelegibilidades, Lei Complementar 64, de 18 de maio
de 1990 embora não tenha sido alterada neste aspecto ( artigo 1º, I, alíneas a usque i),
pode ser o paradigma da aplicação pelo órgão jurisdicional da inelegibilidade
constitucional.
A alínea "b" do artigo 1º, I, da Lei das Inelegibilidades diz que são inelegíveis para
qualquer cargo por 8 ( oito) anos, após o término da legislatura, os que hajam perdido os
respectivos mandatos por infringência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Carta
Magna ( dispositivo que também é, por simetria, repetido nas Cartas Estaduais).
O artigo 55, II, da CRFB trata da perda do mandato do Deputado ou Senador que tiver
declarado incompatível o seu mandato com o decoro parlamentar.
O artigo 244,§2º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados diz que,
"Art. 244. O Deputado que descumprir os deveres inerentes a seu mandato, ou praticar
ato que afete a sua dignidade, estará sujeito ao processo e à medidas disciplinares
previstas neste regimento e no Código de Ética e Decoro Parlamentar, que poderá definir
outras infrações e penalidades, além das seguintes:
I - censura;
II - perda temporária do exercício do mandato, não excedente de trinta dias;
III - perda do mandato.
§ 1º Considera-se atentatório do decoro parlamentar usar, em discurso ou proposição,
de expressões que configurem crimes contra a honra ou contenham incitamento à prática
de crimes.
§2º É incompatível com o decoro parlamentar:
I - o abuso das prerrogativas constitucionais asseguradas a membro do Congresso
Nacional;
II - a percepção de vantagens indevidas;
III - a prática de irregularidades graves no desempenho do mandato ou de encargos
dele decorrentes".
Diante das normas exemplificadamente aqui destacadas podemos alinhar uma
interpretação sistêmica , adequada e razoável com a norma do §9º, do artigo 14 da Carta
Magna, pois, ao contrário do teor da súmula 13 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, a
falta de reconhecimento a aplicação da norma constitucional pelo órgão jurisdicional
eleitoral importa em flagrante violação ao princípio da moralidade e aos artigos acima
aviventados.
Percebe-se que a prática de irregularidades graves é matéria fática capaz de ensejar a
perda do mandato, assim como, o abuso das prerrogativas ou a prática de crimes contra a
honra ou incitamentos à prática de crimes. A norma regimental não está à exigir o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória, pois, se assim o fosse, a hipótese estaria
subsumida no artigo 15, III, da CRFB ( causa de suspensão dos direitos políticos).
Trata-se, na verdade, da análise política de causa de cassação do mandato eletivo por
maioria absoluta de votos da Câmara dos Deputados, mediante provocação da Mesa ou de
Partido com representação no Congresso Nacional, assegurada a ampla defesa.

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Todavia, a análise política fomentada pela Câmara dos Deputados, no exemplo acima
proposto, não impede o prévio exame pelo Poder Judiciário com competência Eleitoral (
Tribunal Superior Eleitoral - eleições de Presidente, Vice- Presidente; Tribunais Regionais
Eleitorais - eleições de Governador, Vice- Governador, Senador, Deputado Federal,
Distrital e Estadual, e juízes eleitorais nas eleições de Prefeito, Vice- Prefeito e
Vereador), a consentânea análise d a moralidade no pedido de registro de candidaturas,
considerada a vida pregressa do candidato, pois, se assim não for, estar-se-ia
irremediavelmente afastando o controle judicial sobre a legalidade e moralidade dos atos
com frontal violação ao artigo 5º, XXXV, da CRFB, " a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito".
Impende ainda frisar que, a Carta Magna prevê que a Justiça Eleitoral possa decretar a
perda do mandato, nos casos previstos na própria constituição; portanto, o controle
preventivo do requisito da moralidade para o acesso ao exercício do mandato eletivo deve
ser aferido pelo órgão jurisdicional eleitoral. Na verdade, p.ex., cabe ao juiz eleitoral
designado pelo Tribunal Regional Eleitoral verificar nos pedidos de registro de
candidaturas se o pleiteante registra antecedentes criminais capazes de infirmar o
princípio da moralidade constitucional.
Negar ao órgão jurisdicional a tutela preventiva no exame das candidaturas, é
postergar ao plano puramente político e interna corporis das Câmaras Municipais, Câmara
de Deputados e Senador Federal a exclusividade absoluta da higidez e lisura do processo
eleitoral diminuindo a importância efetiva do Poder Judiciário com competência eleitoral,
além de atentar para o princípio da cidadania insculpido como princípio fundamental (
artigo 1º da CRFB), na medida em que o eleitor - cidadão não terá a segurança jurídica em
eleger outro cidadão igualmente apto à luz da Constituição Federal e da legislação
eleitoral, ou seja, na plenitude dos seus direitos políticos, até porque o cidadão- eleitor
não é devidamente informado durante a fase de propaganda política eleitoral sobre a vida
pregressa do candidato, subtraindo-se de igual forma a incidência de princípio assegurado
no artigo 5º, XIV, da CRFB ' acesso à informação', garantia fundamental de todo o eleitor e
de toda a sociedade.
Sobre o direito fundamental de informações ainda podemos trazer os incisos XXXIII e
XXXIV, do artigo 5º da Carta Magna que revestem de indeclinável valor a análise formal
das candidaturas por órgão jurisdicional eleitoral dotado de capacitação técnica.
Desta forma, a inelegibilidade do pré- candidato deflui do artigo 1º,I, alínea "b", da
Lei das Inelegibilidades ( Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990), até contenção
futura de norma complementar que possa delimitar o âmbito de incidência do § 9º, do
artigo 14 da Constituição Federal, considerando que a norma é do tipo de eficácia contida,
segundo nos ensina José Afonso da Silva na clássica divisão tricotômica da eficácia das
normas.
Diante do comportamento ofensivo da moralidade para o exercício do mandato eletivo,
o Ministério Público Eleitoral, no cumprimento do seu mister, , requer seja julgado
procedente o pedido de impugnação ao presente registro de candidatura, considerando a
inelegibilidade absoluta do pré-candidato nos termos dos artigos 14,§ 9º, da CF e 1º,I, "b",
da Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990.
A inelegibilidade por 8(oito) anos, na hipótese vertente, deverá ter por termo a quo o
dia do pedido de registro.
Por derradeiro, requer o "Parquet" a juntada de documentos em anexo, protestando
pela ulterior juntada de outros documento.
Requer, ainda, a oitiva das testemunhas abaixo arroladas.
Rio de Janeiro,
Promotor Eleitoral
Rol de Testemunhas"

Cabe ao órgão jurisdicional competente para o deferimento do pedido de registro de


candidatos (TSE, TREs e Juizes Eleitorais) perscrutarem se o interessado é possuidor de vida
pregressa ilibada aplicando a norma dos artigos 1°, II, e 14,§9°, da CRFB. Se concluir que as
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anotações criminais são decorrentes de fatores graves, tais como: processos criminais
hediondos ou assemelhados aos mesmos; crimes de roubo, extorsão, estelionato,
defraudações, seqüestros, latrocínios e outros deverão fiscalizar a ordem constitucional e
indeferir os respectivos pedidos, cabendo as instâncias superiores à análise da razoabilidade
destas decisões. As normas são de eficácia contida e não limitada: o que neste ponto, data
venia, ousamos discordar da posição sumulada no verbete 13 do Egrégio Tribunal Superior
Eleitoral, conforme acima já destacada.
Na Bélgica, o Código Eleitoral no artigo 6°, com a alteração da Lei de 5 de julho de 1976 (
art. 3°), assim dispõe: "Ficarão definitivamente privados da capacidade eleitoral, não
podendo ser admitidos à votação, os que tenham sido condenados a uma pena criminal". A lei
não especifica se deve haver o trânsito em julgado. Vê-se, portanto, que na legislação pátria
deveria existir um dispositivo legal que não permitisse o deferimento de pedidos de
candidaturas cujos interessados já estivessem condenados, sem trânsito em julgado. Nestes
casos, poder-se-ia constituir uma espécie de inelegibilidade criminal.
A Lei Eleitoral da Dinamarca de 31 de maio de 1987, no artigo 4°, item I- assim expressa:"
A elegibilidade para o Parlamento é atribuída a todo o indivíduo que gozar do direito de
voto, nos termos dos artigos 1° e 2°, salvo se tiver condenado por um acto que, aos olhos
da opinião pública, o torne indigno de ser membro do Parlamento".
Outrossim, a Lei Orgânica 5/1985, de 19 de junho do Regime Eleitoral Espanhol, no artigo
6°, item 2, disciplina: "Não poderão ser eleitos: a) os condenados por sentença transitada
em julgado, a pena privativa de liberdade, durante o período de duração da mesma; b)
ainda que a sentença não seja transitada em julgado, os condenados por crime de
rebelião ou os membros de organizações terroristas condenados por crime contra a vida, a
integridade física ou liberdade das pessoas".
É interessante observar que na Lei Eleitoral de 31 de julho de 1924 (texto refundido), de
Luxemburgo, o eleitor perde a capacidade ativa e, por via de conseqüência, a capacidade
passiva, quando: " Art.4°: 2°- os que tiverem sido objeto de condenação penal; 3°- os que
tiverem sido condenados, bem como seus cúmplices, a pena de prisão por furto,
receptação, fraude ou abuso de confiança, contrafacção, emprego de falsificações, falso
testemunho, falso juramento, suborno de testemunhas, peritos ou intérpretes ..."
Como se nota, as aludidas legislações dos Países da União Européia procuram adotar
mecanismos impeditivos de candidaturas revestidas de imoralidade pela vida pregressa,
quando já existe uma condenação, mesmo sem que haja o trânsito em julgado.
É importante destacar que surgirão nas eleições vindouras candidatos que praticaram o sui
generis instituto da autocassação, visando exculpar-se de conduta criminosa e imoral
perante toda a sociedade brasileira, pois envoltos com o famoso e notório escândalo do
MENSALÃO (compra de votos para aprovação de projetos de lei), conforme farta matéria
jornalística e probatória, inclusive objeto de investigação parlamentar de inquérito, cujos
reflexos abalaram a nação brasileira no ano de 2005.
A corrupção ativa e passiva são crimes inseridos no âmbito do direito penal comum e
eleitoral, além de caracterizarem fatos inequivocamente imorais aos olhos da sociedade de
eleitores que votaram nos renunciáveis.
A renúncia é um ato unilateral, mas quando decorre de mandato eletivo não deixa de
sofrer o controle vindouro da imoralidade como requisito jurídico-constitucional de perfeição
do ato de investidura em mandatos eletivos, sob pena de ferimento direto ao PRINCÍPIO DA
DIGNIDADE DO ELEITOR OU DA PESSOA HUMANA, inserido em âmbito constitucional, artigo
1°, III, da Constituição de República Federativa do Brasil. Na verdade existe verdadeira
imbricação entre o princípio da cidadania e da dignidade do eleitor como pessoa humana que
merecem respeito e prestação de contas dos atos dos seus representantes políticos.
Assim sendo, urge concluir que, a vida pregressa do candidato fere o princípio da
moralidade administrativa e política, constituindo obstáculo para o deferimento de registro
de candidaturas, mesmo que no Brasil ainda não tenha sido regulamentado o parágrafo novo
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do artigo 14 da Constituição da República, no que tange especificamente ao princípio da
moralidade em relação à vida pregressa (de anotações penais do interessado candidato).
Outrossim, o princípio da moralidade administrativa é previsto no artigo 37 da CRFB e está
em consonância com os princípios da lealdade e boa fé. Em igual sentido são os artigos 5°
LXXIII e 85,V, da Constituição Federal. Os acessos ao poder público em geral, inclusive aos
cargos decorrentes de mandatos eletivos se pautam pelas normas constitucionais. Todavia, o
conceito subjetivo de moralidade é superlativo e toca ao direito natural de convivência
social, ensejando uma sinergia de proteção pelas autoridades responsáveis pela defesa do
regime democrático brasileiro.
A adoção da norma do princípio da moralidade eleitoral amplia a jurisdição constitucional
em homenagem ao estabelecimento do regime democrático, buscando uma solução capaz de
atender ao ativismo judicial, sem conduzir as seguintes ponderações de Eduardo Cambi, a
saber: "Contra o ativismo judicial, pesa em desfavor do Poder Judiciário brasileiro: i) a falta
de representatividade, na medida em que os juízes não possuem mandato, não tendo sido
escolhidos pela vontade popular; ii) a visão estrita do princípio da separação dos poderes,
pelo qual o Judiciário não poderia servir de "legislador positivo"; iii) na complexidade de
decidir o caso concreto com critérios tão amplos; iv) no receio de a decisão judicial não vir a
ser cumprida, desgastando o órgão julgador; v) na irresponsabilidade ( eleitoral) dos juízes
que decidem questões políticas; vi) na falta de transparência do Poder Judiciário fomentando
corporativismos e sendo refratário ao controle da sociedade civil" ( Reforma do Poder
Judiciário, primeira reflexões sobre a emenda constitucional n° 45/2004, página 163, editora
Revista dos Tribunais, São Paulo).
Em contrapartida, não podemos nos ater ao denominado imobilismo judicial,
especialmente como sustenta o renomado autor Eduardo Cambi, quando estamos diante de
direitos fundamentais de segunda dimensão, ou seja, o sufrágio universal.
Ressaltamos que o Supremo Tribunal Federal ao examinar a Resolução 21.702/2004 do
Tribunal Superior Eleitoral, que tratou do número de vereadores a eleger na proporção da
população de cada município, já implementou na realidade concreta uma forma exemplar de
ativismo judicial.
O princípio da moralidade eleitoral foi examinado pelo Egrégio Tribunal Superior Eleitoral,
nas decisões abaixo destacadas:

RECURSO ESPECIAL ELEITORAL No 24.028/RJ. RELATOR:


MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS O Tribunal Regional
Eleitoral/RJ manteve o indeferimento do pedido de registro de
candidatura de Adilmar Arcênio dos Santos em acórdão assim
ementado: "Recurso eleitoral. Registro de candidatura.
Indeferimento. Máculas na vida pregressa. Art. 14, § 9o,da
Constituição da República. O dispositivo da Carta Federal, bem
como o princípio da moralidade não permitem o deferimento de
registro de candidato com vida pregressa não condizente com o
exercício do mandato. Recurso desprovido".
RECURSO ESPECIAL ELEITORAL Nº 22.058/RO. RELATOR:
MINISTRO LUIZ CARLOS MADEIRA .DESPACHO: Trata-se de
recurso especial interposto por Irandir Oliveira Souza contra
acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE/RO), o
qual manteve sentença (fls. 134-135) que indeferiu o pedido de
registro do recorrente, ao cargo de prefeito do Município de Ouro
Preto do Oeste/RO. Recolho no voto condutor do acórdão
recorrido: (...) verifica-se uma extensa lista de processos
envolvendo o recorrente (...) Os processos encontram-se em
andamento, portanto não ocorreu trânsito em julgado em
nenhum deles ainda. O recorrente argumenta que, por isto, não é
infrator e, portanto, tem o direito de se eleger. (...) Para o
Direito Eleitoral, um cidadão deve se sujeitar ao julgamento de
9
sua vida pregressa e ter uma moralidade compatível com o
exercício de um cargo público, a fim de se proteger a probidade
administrativa. (...) (...) um candidato que responde a inúmeros
processos criminais, inclusive já tendo sido condenado e
cumprido a pena e ainda continua a se envolver com situações
repudiadas pela sociedade, tem a presunção de inocência
sensivelmente limitada. (...) Ante o exposto, julgo improcedente
o recurso e mantenho a decisão para indeferir o pedido de
registro (...). (Fls. 158-159.) Aponta ofensa ao art. 5o11, LVII, da
Constituição Federal, e divergência jurisprudencial com julgados
desta Corte. Sustenta que "(...) não tendo o apelante nenhum
processo criminal transitado em julgado não poderá o mesmo ser
considerado inelegível (...)" (fl. 172). Requer o conhecimento e
provimento do recurso especial, para que, reformando a decisão,
seja deferido o pedido de registro. Contra-razões às fls. 206-210.
A Procuradoria-Geral Eleitoral opina pelo não-provimento do
recurso (fls. 219-221). É o relatório. Decido. Esta Corte já
decidiu12: Recurso especial recebido como ordinário. Registro de
candidatura. Deferimento. Inelegibilidade. Não-ocorrência.
Condenação criminal sem trânsito em julgado não é apta a
ensejar inelegibilidade (...). (...). Recurso não provido. (REspe no
20.247/RO, rel. Min. Sepúlveda Pertence, sessão de 19.9.2002.)
No precedente citado, REspe no 20.247/RO, que
coincidentemente envolve o mesmo candidato, porém em eleição
pretérita, o e. Min. Sepúlveda Pertence consignou em seu voto:
Transcrevo trecho nuclear, do parecer da Procuradoria sobre a
matéria (fls. 215-216): (...) A Constituição Federal traz,
efetivamente, uma série de regras destinadas a prestigiar a
moralidade pública. Todavia, no que toca especificamente ao
exercício de mandato eletivo, prevê o tratamento exauriente da
matéria em lei complementar, que ainda não foi elaborada. 10. A
eficácia limitada da norma prevista no art. 14,§ 9o, da Lei
Fundamental, não foi desenvolvida, até o momento, por norma
posterior. Não há, sob essa expressão, como se apontar a falta de
moralidade de particular que se sujeita ao processo eletivo,
impedindo-o de participar do certame. Tal procedimento
importaria em inconstitucional conduta, significando inclusive a
invasão de seara própria do Poder Legislativo - a quem cabe
tratar do tema - pelo Poder Judiciário.(...) Prosseguiu Sua
Excelência: (...) Não é (...) incumbência da Justiça Eleitoral
emitir juízos sobre a probidade dos candidatos a mandatos
eletivos, mas unicamente aplicar a Lei de Inelegibilidade que se
edite com base nas diretivas do art. 14, § 9o, da Constituição. Se
a omissão da lei propicia a elegibilidade de "candidatos não muito
responsáveis", sua eventual investidura nos mandatos eletivos
não é imputável à Justiça Eleitoral, mas sim ao partido que os
indicar ao sufrágio popular.11 "Art. 5o (...) (...) LVII - ninguém
será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;"12Acórdão no 20.115/RO Ementa: "Registro
de candidato. Ações criminais. Ausência de condenação com
trânsito em julgado. Inelegibilidade. Vida pregressa. Necessidade
de norma que regulamente o art. 14, § 9o, da Constituição
Federal. Aplicação da Súmula no 13 do TSE. Recurso improvido.
1. O art. 14, § 9o, da Constituição limita-se a ensejar que, por
meio de lei complementar, sejam estabelecidos outros casos de
inelegibilidade, além dos que ela própria previu. A
impossibilidade de candidatar-se poderá decorrer da incidência
da lei assim elaborada; não diretamente do texto constitucional".
(REspe no 20.115/RO, rel. Min. Fernando Neves, sessão de
11.9.2002.) A esses fundamentos, dou provimento ao recurso,
para, reformando a decisão regional, deferir o registro de Irandir
Oliveira Souza ao cargo de prefeito e, conseqüentemente, o
10
registro da chapa majoritária, com base no art. 36, § 7o, do
Regimento Interno do TSE. Publique-se.Brasília, 31 de agosto de
2004.Publicado na sessão de 31.8.2004".
"ACÓRDÃO No 19.959, DE 3.9.2002. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL
No 19.959/RO RELATOR: MINISTRO SEPÚLVEDA. PERTENCE
EMENTA: Inelegibilidade. Indeferimento de registro de
candidatura. Antecedente criminal atentatório ao princípio da
moralidade (art. 14, § 9o da CF/88). I Alegação de ofensa à
Súmula-TSE no 13 e art. 14, § 9o da CF: procedência. II A
suspensão condicional do processo não implica aceitação dos
termos da denúncia, nem afasta a presunção de inocência:
hipótese em que o cumprimento das condições acarreta a
extinção da punibilidade e não elide a primariedade do réu (Lei
no 9.099/95, art. 89). III Somente a sentença penal condenatória
com trânsito em julgado pode induzir à inelegibilidade prevista
no art. 1o, I, e, da LC no 64/90. IV O art. 14, § 9o da CF não é
auto-aplicável: depende de lei complementar que tipifique os
casos de inelegibilidade decorrentes das diretivas ali
estabelecidas. Recurso provido para deferir a candidatura.
Publicado na sessão de 3.9.2002".

Cumpre destacar que, hodiernamente tramita na Câmara dos Deputados o projeto de Lei
Complementar de 15 de setembro de 2004, da autoria dos Exmºs Deputados Federais Chico
Alencar e Antonio Carlos Biscaia, tratando do princípio da moralidade eleitoral considerada a
vida pregressa do candidato, in verbis:

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº, DE 2004.


(Dos Srs. Chico Alencar e Antonio Carlos Biscaia)
Altera o art. 1º da Lei complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que estabelece, de
acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de
cessação, e determina outras providências.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º - A alínea "e", do inciso I, do art. 1º, da Lei Complementar nº 64, passa a vigorar
com a seguinte redação:
"Art. 1º - .............................................................................................
I - .............................................................................................
a) .............................................................................................
e) os que estiverem respondendo a processo judicial pela prática de crime descrito no
art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, ou na Lei nº 8072, de 25 de julho de 1990, e os que
tenham sido condenados em primeira instância pela Justiça Estadual, Distrital, Federal ou
Militar pela prática de crime contra a economia popular, a fé pública, a administração
pública, o patrimônio público, o mercado financeiro, por crimes eleitorais, pela exploração
sexual de crianças e adolescentes e utilização de mão-de-obra escrava, ampliando-se a
inelegibilidade pelo prazo de 3 (três) anos, após o cumprimento de pena."
Art. 2o. - Acrescente-se o § 4º, ao inciso VII, do art. 1º:
"VII - .............................................................................................
§ 1º - .............................................................................................
§ 4º - A inelegibilidade prevista na alínea e, do inciso I, cessará se o postulante a
registro de candidatura for considerado inocente após o trânsito em julgado do processo".
Art. 3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.

11
JUSTIFICAÇÃO
Levantamento do jornal O GLOBO de 5/9/2004, dando conta de que 20% dos candidatos às
eleições municipais do Rio de Janeiro (40% na Baixada Fluminense!) respondem a processos,
alguns por crimes graves, como homicídio e tráfico de drogas, sensibilizou a opinião pública,
que passou a exigir uma tomada de posição, do Judiciário e do Legislativo, no sentido de pôr
termo a essa situação esdrúxula. Ante o fato, o Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do
Estado do Rio de Janeiro (TRE-RJ), Desembargador Marcus Faver, alegando que a Constituição
estabelecia o princípio da moralidade como requisito à candidatura, anunciou que impugnaria
todos os candidatos que estivessem respondendo a processos criminais e que divulgaria a lista
com os seus nomes.
Como o Direito brasileiro, corretamente, consagra a presunção de inocência até prova em
contrário, ou seja, até que o indiciado seja declarado definitivamente culpado, anunciou-se
que os candidatos, valendo-se do fato de que sobre eles não pesava sentença transitada em
julgado, recorreriam ao aos Tribunais superiores para revogarem a hipotética decisão do TRE-
RJ. Com isso, poderiam permanecer na disputa e, pior, vitoriosos no pleito, ganhariam
imunidade e foro privilegiado, já que a Lei garante esse benefício aos que têm mandato.
A polêmica surgida não produziu unanimidade nem consenso entre os juízes do TRE-RJ
sobre a tese defendida pelo Presidente daquela corte. Por outro lado, ministros do Tribunal
Superior Eleitoral também levantaram óbices à anunciada iniciativa do Desembargador Marcus
Faver, o que provocou um recuo, tendo o Presidente do TRE fluminense divulgado uma lista
com somente três candidatos impugnados por processos criminais. E desistiu de divulgar os
demais nomes, responsabilizando os partidos políticos pelo lançamento de candidatos
processados criminalmente. E exortando o Legislativo a estabelecer novas e necessárias
vedações, que, obviamente, não são penas criminais.
De nossa parte, respeitando o princípio da presunção da inocência, mas entendendo que o
candidato a mandato eletivo e a cargos da maior importância na hierarquia dos Municípios,
dos Estados e da União não podem simplesmente se escudar nesse princípio e em mandatos -
para se isentarem da apreciação dos tribunais, como o comum dos cidadãos, a respeito de
atos delituosos praticados -, optamos por apresentar o presente Projeto de Lei Complementar
que outro propósito não tem senão contribuir, na forma como prega o art. 37 da Constituição
da República, para a moralidade e a probidade na administração pública.E barrar o perigoso e
anti-democrático processo de captura das instituições oriundas do voto popular pelo
banditismo".
Por fim, em recente decisão, o Supremo Tribunal Federal está firmando uma nova posição
e considerando as anotações criminais relativas a inquéritos policiais como sendo maus
antecedentes, a saber:

Princípio da Não-Culpabilidade e Maus Antecedentes - 2


Concluído julgamento de habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ que indeferira
igual medida ao fundamento de que o paciente, condenado por porte ilegal de arma (Lei
9.437/97, art. 10, §§ 2º e 4º) à pena de 3 anos de reclusão e 15 dias-multa, em regime semi-
aberto, não preenche os requisitos subjetivos exigidos pelo art. 44, III, do CP, na redação
dada pela Lei 9.714/98, para a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos, haja vista a sua folha de antecedentes penais - v. Informativo 390. Alegava-se, na
espécie, constrangimento ilegal consistente na fixação de regime inicial mais gravoso, bem
como na negativa de substituição da pena aplicada. A Turma, por maioria, indeferiu o writ
por reconhecer que, no caso, inquéritos e ações penais em curso podem ser considerados
maus antecedentes, para todos os efeitos legais. Vencido o Min. Gilmar Mendes, relator,
que, tendo em conta que a fixação da pena e do regime do ora paciente se lastreara única e
exclusivamente na existência de dois inquéritos policiais e uma ação penal, concedia o habeas
corpus. HC 84088/MS, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, rel. p/ o acórdão Min. Joaquim
Barbosa, 29.11.2005. (HC-84088)

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Em conclusão: O Ministério Público como órgão dignificador e protetor da tutela atinente
a soberania do sufrágio universal (art. 127 da Carta Magna), está legitimado para deflagrar
ações impugnativas aos pedidos de registros de candidaturas com arrimo no texto
constitucional do §9° do artigo 14, resguardando o princípio da moralidade eleitoral em
função da análise individual de cada candidato aos pleitos eleitorais, tomando parte ativa na
formação dos poderes públicos com dimensão jurídica-institucional de sinergia entre o
princípio da dignidade do sistema eletivo nas democracias contemporâneas e da higidez dos
Poderes Executivo e Legislativo como nortes de amplitude dos direitos fundamentais da
pessoa humana.

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