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SOLITUDE EM QUARENTENA

18 de Outubro, 2020
PROGRAMA:
Eu, Igor Viriato, planejo realizar uma performance
artística em minha casa no dia 18 e 19 de Outubro de 2020.
Eu, nesta performance, irei permanecer por 24 horas dentro
do meu próprio quarto, partindo das 10 horas da manhã do
dia 18 até as 10 horas da manhã do dia seguinte.
Eu poderei me ausentar do quarto apenas para urinar,
defecar e escovar os dentes após as refeições, contanto que
sejam ações breves e pontuais.
Eu me abdicarei de utilizar a minha própria voz, de ler, de
escrever, de mexer em armários, gavetas e caixas do quarto,
de praticar exercícios físicos, de dormir/cochilar antes da
meia-noite e de usufruir quaisquer tecnologias eletrônicas,
exceto o ventilador e o interruptor da luz.
Eu permanecerei com a mesma roupa que acordar no dia 18 até
o fim da performance.
Eu receberei garrafas d’água, café da manhã, almoço, lanche
e janta dentro do quarto, com auxílio dos meus pais
Fernando e Christine.
Só será permitida a livre entrada do meu irmão Yuri no
quarto.
Todas as vezes que os meus pais entrarem no quarto para me
servir irão registrar minha pessoa com uma foto através de
um celular qualquer.
Eu, às 6 horas da noite do dia 19, iniciarei uma escrita
contínua em uma folha em branco por 30 minutos sobre a
experiência performativa vivida no dia anterior.

Igor Viriato
Igor de Oliveira Azevedo
- ESCRITA CONTÍNUA (30 MIN) -
I. Este texto abaixo foi escrito à mão em uma folha em
branco, porém teve que ser redigido neste documento
devido à ilegibilidade da escrita.
II. As reticências no final da escrita representam a
interrupção do pensamento quando o cronômetro de 30
minutos tocou.
III. Eu me abdicarei de utilizar a minha própria
voz, de ler, de escrever, de mexer em armários,
gavetas e caixas do quarto, de praticar exercícios
físicos, de dormir/cochilar antes da meia-noite e de
usufruir quaisquer tecnologias eletrônicas, exceto o
ventilador e o interruptor da luz.
IV. Eu permanecerei com a mesma roupa que acordar no
dia 18 até o fim da performance.
Eu queria que tudo aquilo encerrasse, mas sabia que faltava
muito para poder dormir (de acordo com o programa). Percebi
que nesse estado de não fazer nada, de não pensar tanto nas
coisas que eu vou fazer, me trouxe um estado de presença
extremante forte. Todos os meus sentidos ficaram aflorados:
paladar, olfato, tato, audição e visão. Eu começava a ver
coisas que eu nunca tinha visto no meu quarto: os detalhes
dos móveis, o tamanho da minha cortina e da janela,
observei as cores, a luz do dia e por aí vai. Eu tive uma
relação muito curiosa também com o paladar. Todas as vezes
que eu me alimentava, os gostos pareciam ser mais fortes
que o normal. Eu os apreciava como nunca tinha feito antes.
O toque não foi diferente, pois tudo o que eu tocava, a
textura das coisas parecia ser outraqueria que tudo aquilo
encerrasse, mas sabia que faltava muito para poder dormir
(de acordo com o programa). Percebi que nesse estado de não
fazer nada, de não pensar tanto nas coisas que eu vou
fazer, me trouxe um estado de presença extremante forte.
Todos os meus sentidos ficaram aflorados: paladar, olfato,
tato, audição e visão. Eu começava a ver coisas que eu
nunca tinha visto no meu quarto: os detalhes dos móveis, o
tamanho da minha cortina e da janela, observei as cores, a
luz do dia e por aí vai. Eu tive uma relação muito curiosa
também com o paladar. Todas as vezes que eu me alimentava,
os gostos pareciam ser mais fortes que o normal. Eu os
apreciava como nunca tinha feito antes. O toque não foi
diferente, pois tudo o que eu tocava, a textura das coisas
parecia ser outraqueria que tudo aquilo encerrasse, mas
sabia que faltava muito para poder dormir (de acordo com o
programa). Percebi que nesse estado de não fazer nada, de
não pensar tanto nas coisas que eu vou fazer, me trouxe um
estado de presença extremante forte. Todos os meus sentidos
ficaram aflorados: paladar, olfato, tato, audição e visão.
Eu começava a ver coisas que eu nunca tinha visto no meu
quarto: os detalhes dos móveis, o tamanho da minha cortina
e da janela, observei as cores, a luz do dia e por aí vai.
Eu tive uma relação muito curiosa também com o paladar.
Todas as vezes que eu me alimentava, os gostos pareciam ser
mais fortes que o normal. Eu os apreciava como nunca tinha
feito antes. O toque não foi diferente, pois tudo o que eu
tocava, a textura das coisas parecia ser outraqueria que
tudo aquilo encerrasse, mas sabia que faltava muito para
poder dormir (de acordo com o programa). Percebi que nesse
estado de não fazer nada, de não pensar tanto nas coisas
que eu vou fazer, me trouxe um estado de presença
extremante forte. Todos os meus sentidos ficaram aflorados:
paladar, olfato, tato, audição e visão. Eu começava a ver
coisas que eu nunca tinha visto no meu quarto: os detalhes
dos móveis, o tamanho da minha cortina e da janela,
observei as cores, a luz do dia e por aí vai. Eu tive uma
relação muito curiosa também com o paladar. Todas as vezes
que eu me alimentava, os gostos pareciam ser mais fortes
que o normal. Eu os apreciava como nunca tinha feito antes.
O toque não foi diferente, pois tudo o que eu tocava, a
textura das coisas parecia ser outraqueria que tudo aquilo
encerrasse, mas sabia que faltava muito para poder dormir
(de acordo com o programa). Percebi que nesse estado de não
fazer nada, de não pensar tanto nas coisas que eu vou
fazer, me trouxe um estado de presença extremante forte.
Todos os meus sentidos ficaram aflorados: paladar, olfato,
tato, audição e visão. Eu começava a ver coisas que eu
nunca tinha visto no meu quarto: os detalhes dos móveis, o
tamanho da minha cortina e da janela, observei as cores, a
luz do dia e por aí vai. Eu tive uma relação muito curiosa
também com o paladar. Todas as vezes que eu me alimentava,
os gostos pareciam ser mais fortes que o normal. Eu os
apreciava como nunca tinha feito antes. O toque não foi
diferente, pois tudo o que eu tocava, a textura das coisas
parecia ser outra.
O olfato foi uma coisa engra Eu me abdicarei de utilizar a
minha própria voz, de ler, de escrever, de mexer em
armários, gavetas e caixas do quarto, de praticar exercícios
físicos, de dormir/cochilar antes da meia-noite e de
usufruir quaisquer tecnologias eletrônicas, exceto o
ventilador e o interruptor da luz.
Eu permanecerei com a mesma roupa que acordar no dia 18 até
o fim da performance.
çada, porque eu conseguia sentir à distância que comidas
minha mãe ou meu pai estariam preparando para mim, isso foi
bastante divertido. E claro, não podia faltar a audição de
jeito nenhum. Foi o sentido mais bem aproveitado na
performance. Se não me engano, domingo foi dia de Flamengo X
Corinthians (não sei como se escreve esse nome). Eu com os
olhos fechados e com o corpo projetado para a janela comecei
a imaginar o jogo rolando na minha cabeça e sempre que eu
escutava a rua gritando ‘gol’, eu vibrava junto, sem nem ver
o jogo ou gostar de futebol. Ah, acabei de lembrar. A
principal coisa que percebi nessa performance é que esse
dizer de “o tempo passa rápido” é balela. Isso para mim já
não é uma verdade absoluta, agora passou a ser ponto de
vista. Porque quando não se faz nada, a gente percebe que
tem tempo à beça dentro de um dia. 24h é muito tempo e
fiquei muito abestado ao saber que a gente nem se dá conta
disso, a gente só vive com a mente e se dedica a fazer
coisas que não agregam nada e só tomam o nosso longo e
precioso tempo de vida. Cheguei até ter alguns momentos de
crise existencial pensando nisso, mas isso era super bem
vindo. Era esse corpo que eu queria criar com a performance.
Um Eu me abdicarei de utilizar a minha própria voz, de ler,
de escrever, de mexer em armários, gavetas e caixas do
quarto, de praticar exercícios físicos, de dormir/cochilar
antes da meia-noite e de usufruir quaisquer tecnologias
eletrônicas, exceto o ventilador e o interruptor da luz.
Eu permanecerei com a mesma roupa que acordar no dia 18 até
o fim da performance.
corpo presente e que vibra a própria vida, sem qualquer
coisa que a gente esteja acostumado a fazer no dia a dia
para fugirmos de nós mesmos. Pode até ter sido uma das mais
dolorosas escolhas eu ter feito esse trabalho, mas sei que
eu aprendi na experiência milhões de coisa sobre mim que
nem saberia se eu não tivesse me jogado. Todo mundo deveria
experimentar o nada...”
- COMENTÁRIOS & ANÁLISES -
Esta performance que escolhi fazer para o trabalho final da
disciplina foi inspirada na obra One Year Performance,
realizada pelo artista tailandês Tehching Hsieh. Quando me
foi apresentado pela professora esse trabalho mencionado,
eu fiquei extremamente intrigado com a escolha do performer
em “simplesmente” ter a experiência de ser aprisionar
dentro de uma jaula por um ano em função de uma arte.
Obviamente, essa proposta ousada nos leva a diversos tipos
de interpretações, mas todas elas se encontram em um ponto:
a criação de corpo atípico. Ele foi capaz de criar o corpo
de um prisioneiro e a partir disso, criou arte, criou
debate, criou política.
Além disso, não só fui movido pela a ação performática, mas
também fui arrebatado pelo verbo “aprisionar”. Pensando
atualmente no quadro de pandemia do Covid-19, a maioria das
pessoas no mundo foram “convidadas” a ficarem aprisionadas
em suas casas em prol da erradicação do vírus. Inúmeros
indivíduos desenvolveram graves problemas psicológicos nesse
período de isolamento social desde então, não só pelo fato
da existência de um ví Eu me abdicarei de utilizar a minha
própria voz, de ler, de escrever, de mexer em armários,
gavetas e caixas do quarto, de praticar exercícios físicos,
de dormir/cochilar antes da meia-noite e de usufruir
quaisquer tecnologias eletrônicas, exceto o ventilador e o
interruptor da luz.
Eu permanecerei com a mesma roupa que acordar no dia 18 até
o fim da performance.
rus mortal, mas também pelo fato de se aprisionarem e terem
que aprender na marra a lidarem consigo mesmos.
O que pode nos salvar dessa realidade cruel? Livros,
exercícios, falar, escrever, ver filmes e séries na
Netflix? Pra muitos, talvez. E a partir desses
questionamentos, me vieram outros: “Que eu corpo eu seria
capaz de criar me abdicando toda e qualquer distração?”,
“Que corpo eu seria capaz de criar ao apenas estar comigo
mesmo nesse mundo caótico?”. Tais indagações surtiram a
minha proposta performática: aprisiona-se vinte e quatro
hora dentro do meu quarto sem fazer nada.
Admito que realizar essa performance não foi nada fácil,
foi muito incômoda aliás. Contudo, felizmente, consegui
fazê-la acontecer e deu muito certo. Eu estava em um estado
de tão desconforto que dele eu aprendi a ver coisas em mim
que nunca teria visto se eu não tivesse experimentado essa
loucura. Com certeza foi a viagem profunda no meu interior
que já realizei. Descobri prazer em não fazer nada e
simplesmente estar presente sem expectativas de futuro ou
coisas que pudessem me fazer fugir de mim, meus sentidos
afloraram, percebi que o tempo é gigantesco e não passa tão
rápido como costumamos dizer, digeri situações do meu
passado que nunca dei bola ou me dei tempo para resolvê-las
e por aí vai.

O único erro que aconteceu durante a performance que eu não


tinha previsto acontecer foram as inúmeras aparições da
minha cachorrinha Kiara no meu quarto todas as vezes que
meus pais iam servir minha alimentação. Ela entrava
rapidinho no meu quarto para me dar uma lambida na perna
demonstrando afeto e saudade de me ver perambulando pela
sala. Não foi algo tão problemático até porque eram
momentos muito rápidos e logo minha mãe ou meu pai a
tiravam do quarto.
Me senti completamente satisfeito com o resultado e não
mudaria em nada os detalhes que aconteceram na performance.
Quem diria que um trabalho como esse seria tão
revolucionário na minha vida...

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