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A (DES)CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA BRASILEIRA

THE (DES) CONSTRUCTION OF BRAZILIAN DEMOCRACY

RESUMO
O presente estudo tem por objetivo fazer uma reflexão e análise da democracia brasileira,
desde a sua formação do pós-ditadura de 1964, iniciando-se com a Assembleia Nacional
Constituinte, passando pela promulgação da Constituição Federal, os trinta anos de sua
promulgação, e a consolidação do Estado Democrático de Direito, com o exercício da democracia
dos governos eleitos. Aspira-se verificar se a sociedade participativa, esfera pública em que os
indivíduos assumem quotas de responsabilidades sociais como parte do processo governamental,
pode ser apresentada como alternativa no desenvolvimento de governos que respondam os anseios
sociais. Ambiciona-se averiguar se a aproximação promovida entre sociedade civil e poder público
nas decisões governamentais, com a efetiva atuação democrática dos elementos que compõem a
sociedade, destinatários finais dessas decisões, podem, via processo de participação ativa, auxiliar
na construção social de estruturas que satisfaçam a real democracia, que só se promove através
da paz democrática (homogeneidade e solidariedade do corpo político; sociedade atenta e
eleição livre), notadamente num contexto de polarização política. Conclui-se que se faz necessário
uma (des) construção da democracia participativa ou deliberativa, pressuposto para se alcançar um
bom governo, já que o controle social, a deliberação e o processo participativo são indispensáveis
ao entendimento do verdadeiro sentido da democracia como projeto coletivo de autogoverno. O
método usado foi o hipotético-dedutivo.

Palavras-chave: Democracia Brasileira. Assembleia Nacional Constituinte. Constituição Federal.


Estado Democrático de Direito. Autogoverno.

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ABSTRACT

The present study aims to reflect and analyze Brazilian democracy, since its formation after
the 1964 post-dictatorship, starting with the National Constituent Assembly, passing through the
promulgation of the Federal Constitution, thirty years after its promulgation, and the consolidation
of the Democratic Rule of Law, with the exercise of democracy by elected governments. The aim is
to verify whether the participatory society, a public sphere in which individuals assume quotas of
social responsibilities as part of the governmental process, can be presented as an alternative in the
development of governments that respond to social concerns. The aim is to ascertain whether the
approximation promoted between civil society and public power in government decisions, with the
effective democratic performance of the elements that make up society, the final recipients of these
decisions, can, through the process of active participation, assist in the social construction of
structures that they satisfy real democracy, which is only promoted through democratic peace
(homogeneity and solidarity of the political body; attentive society and free election), especially in
a context of political polarisation. It concludes that a participatory or deliberative (de) construction
of democracy is necessary, a prerequisite for achieving good government, since social control,
deliberation and the participatory process are indispensable for understanding the true meaning of
democracy as a collective project of self-government. The hypothetical-deductive method was used.

Key-words: Brazilian Democracy. National Constituent Assembly. Federal Constitution. Democratic


state. Self-government.

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Introdução

Em 05 de outubro de 2018 se comemorou trinta anos da promulgação da Constituição


Federal, um marco na história do Brasil, haja vista que após vinte anos de um período ditatorial,
houve o reestabelecimento da democracia e sua consolidação.
No entanto, o Brasil tem enfrentado períodos de instabilidade política, pois as decisões
políticas e jurídicas ainda permanecem quase que exclusivamente com os detentores do poder,
obstaculizando a concretização do almejado bom governo.
Nesse contexto, os cidadãos, legítimos titulares do poder político, acabam por não
participarem diretamente das escolhas administrativas e, consequentemente, não dispõem de
informações suficientes para estarem em condições de exercerem controle social sobre as políticas
públicas ante a falta de transparência ainda presente na gestão pública brasileira.
A ideia fundamental defendida no presente artigo é o direcionamento, tanto social quanto
econômico e político, pelos sujeitos que representam o povo, ou seja, de um povo pelo próprio
povo, haja vista que como a democracia representa o anseio do povo em busca de liberdade,
igualdade e justiça social, o princípio da soberania popular deve agasalhar a democracia
participativa, em que o cidadão exerce a soberania para além do voto.
É de suma importância, no atual cenário político-jurídico que o país vive, notadamente pelas
cobranças da sociedade civil pela ética no manejo da coisa pública, refletir sobre as diretrizes para
um bom governo, num contexto de sociedade polarizada.

Métodos
O artigo foi norteado por pesquisas bibliográficas, leituras e fichamentos, de doutrinas e
livros sobre o tema da Democracia, Constituição. Para alcançar os objetivos desejados, aplicam-se
os métodos indutivo e dedutivo, sem prejuízo de, às vezes, discurso dialético. A pesquisa é do tipo
aplicada, qualitativa, jurídico-exploratória e bibliográfica.

Da Assembleia Nacional Constituinte como exercício da participação popular


Quando emprestamos o conceito de “Estado Democrático de Direito”, entendido este como
o produto do movimento constitucional que consagrou e trouxe ao texto os direitos fundamentais,
ou seja, estamos a falar do constitucionalismo, a dignidade da pessoa humana ressurge como ponto
de partida e, ao mesmo tempo, ponto de chegada.
Isso porque foram as arbitrariedades, as violações pelo regime militar durante mais de 20
anos no Brasil que fizeram necessária a positivação dos direitos fundamentais, tendo como

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fundamento maior a dignidade da pessoa humana, alçando o rompimento com o regime de exceção
ao grau de bem jurídico maior.
Do contexto em que se arrastou o golpe de 1964, até o processo de redemocratização
brasileiro – do início ao fim, é que extraímos os motivos que ensejaram a elevação da dignidade da
pessoa humana à condição de fundamento do nosso ordenamento jurídico como um todo. Com o
início do regime ditatorial, fazem-se presentes as forças de resistência. Algumas delas em forma de
movimentos armados. Fato que, segundo Thomas Skidmore (1988, p. 23), seria angariado por
justificação pelos militares. Lança-se mão, então, do que viria a ser o Ato Institucional no 5, de 13
de dezembro de 1968. A ditadura militar sistematicamente passa a atuar em repressão aos tais
movimentos de resistência, como forma de terror institucionalizado. Iniciava a era da tortura, do
extermínio, do exílio de líderes políticos e de líderes sociais.
Prisões e demissões arbitrárias na esfera pública e privada passaram a ser rotina, assim como
a cassação de direitos políticos, a censura, as execuções sumárias e o desaparecimento (SKIDMORE,
1988, p. 15).
Somente quatorze anos mais tarde, a denominada Lei da Anistia (BRASIL, 1979) trouxe luz
ao processo deflagrador da tão sonhada redemocratização. Discutíamos, a partir de então, os
“acordos” que caminharam às Diretas Já e, mais adiante uma Assembleia Constituinte, com muito
custo originando a Constituição Federal de 1988. Consagrava-se o Estado de Direito Democrático
brasileiro. Uma revolução em seu bom aspecto traduzido por Paulo Bonavides, citando Marx
(BONAVIDES, 2015, p. 435), como a busca retroativa de um desenvolvimento obstaculizado, quando
a classe superior não pode e a classe inferior não quer prosseguir no velho sistema. Foi assim que
se deu sagração da luta democrática, extinguindo-se os meios arbitrários e conformando-se
juridicamente os direitos humanos no texto constitucional.
A respeito da conjuntura política do processo constituinte, defende Luís Roberto Barroso
(2020, p. 270) “O processo constituinte teve como protagonista uma sociedade civil que amargara
mais de duas décadas de autoritarismo. Na euforia - saudável euforia - de recuperação das
liberdades públicas, a constituinte foi um notável exercício de participação popular. “
Assim, a Constituição da República marcou a consolidação da democracia brasileira, de tal
sorte que pelo contexto brasileiro atual faz-se necessário que os atores da sociedade civil até então
marginalizados assumirem um papel ativo na sociedade, uma vez que têm a sensibilidade adequada
para captar e identificar novos problemas sociais e, por meio de articulações, reatualizar agendas
públicas, num governo efetivo do povo para o povo.

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A Constituição da República Federativa do Brasil
O texto constitucional, além de implantar uma nova ordem jurídica no país, passa a ser
figura central do sistema, dotada de forte carga valorativa. No chamado neoconstitucionalismo, seu
papel primordial é de concretização dos direitos fundamentais. A Constituição assume valor não
somente pela sua hierarquia, mas pelo seu significado axiológico.
Conforme leciona Hesse (1991):

A Constituição não é apenas a expressão de um ser. Ela é mais do que o simples reflexo das condições fáticas de
sua vigência, particularmente as forças sociais e políticas. A Constituição graças a sua pretensão de eficácia procura
imprimir ordem e conformação à realidade política e social. (HESSE, 1991, p.15).

Assim, pode-se afirmar que o caráter ideológico do neoconstitucionalismo é a concretização


dos direitos fundamentais, de forma que a Constituição deve ser entendida como norma jurídica
central que vincula todos dentro do Estado, sobretudo os poderes públicos.
A partir dessas ideias, a Constituição Federal não deve ser ornamental, não se resume a um
museu de princípios, não é meramente um ideário, reclama efetividade real de suas normas. E, sob
esse ângulo, merece destaque o princípio fundante da República que destina especial proteção: a
dignidade da pessoa humana.
Mesmo porque na matriz dos direitos fundamentais em nossa Constituição Cidadã, está esse
princípio. Pietro de Jesus Lora Alarcon, leciona:

Sobre o conteúdo jurídico do princípio, vale a pena apontar a teoria dos três graus do ser, exposta por Antonio Caso. Nessa
teoria, a coisa, o indivíduo e a pessoa, são considerados patamares existenciais, sendo que a primeira é o ser sem unidade,
pois se uma coisa quebra nada morre nela. O quebrar coisas nos dá coisas. Porém, ao tomarmos contato com o biológico
nos deparamos com os indivíduos. E dentre os indivíduos, distinguimos o da espécie não humana, mas que apresentam
potência vital e o da espécie humana. Este último é algo a mais ou representa algo a mais que um mero indivíduo, pois é
uma pessoa, uma substância individual de natureza nacional. Como expõe Jose Manuel Panea: a dignidade é nesse
sentido, um referente crítico, uma sorte de cânone, de medida. Algo que faz com que o ser humano seja merecedor de
um tratamento devido, adequado e não de qualquer tratamento. A dignidade coloca assim, em posição de credores, se
falarmos da nossa dignidade e de devedores, se falarmos da dignidade do outro. (ALARCON, 2011, p.269.).

Isso porque o neoconstitucionalismo, a partir da falência do positivismo jurídico, abriu


espaço para o desenvolvimento de uma nova forma de interpretação constitucional, que busque a
concretização das promessas da modernidade pautadas no texto constitucional. Nesse sentido
FERRAJOLI ressalta que:

A Constituição não serve para representar a vontade comum de um povo, mas para garantir os direitos de todos,
inclusive frente à vontade popular. O fundamento de sua legitimidade não reside no consenso da maioria, mas em
um valor muito mais importante e prévio: a igualdade de todos nas liberdades fundamentais e nos direitos sociais,
ou seja, em direitos vitais conferidos a todos, como limites e vínculos, precisamente, frente às leis e aos atos de
governo expressos nas contingentes maiorias. (FERRAJOLLI, 2005, p.28.).

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Para enfrentar o momento histórico assumido pela apropriação do capital financeiro e pela
ordem internacional marcada pela globalização é preciso redefinir e consolidar a afirmação de
direitos humanos numa perspectiva integral, local e intercultural. Isso porque não há como retirar
dos seres humanos a titularidade dos direitos fundamentais, notadamente no que se refere à
dignidade da pessoa humana como objeto de proteção de tais direitos.
Isso porque o epicentro da organização constitucional gira em torno da dignidade da pessoa
humana, princípio fundamental explícito na Constituição, o qual vincula todos os outros direitos.
Extrai-se daí que o núcleo essencial desses direitos é a dignidade da pessoa humana, sendo esta o
centro do qual irradiam todos direitos fundamentais, conforme, aliás, também expõe Ingo Wolfgang
Sarlet:

A qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do estado e da comunidade, implicando nesse sentido, um complexo de direitos e deveres
que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a
garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação
ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.
(SARLET, 2002, p.62).

Acrescenta Luís Roberto Barroso:

a Constituição de 1988 consolidou ou ajudou a promover avanços dignos de nota. No plano dos direitos
fundamentais, a despeito da subsistência de deficiências graves em múltiplas áreas, é possível contabilizar
realizações. A centralidade da dignidade da pessoa humana se impôs em setores diversos. (BRASSISO, 2020, p.69).

Assim, para a concretização dos direitos fundamentais é necessário construir (novos)


caminhos na busca da concretização das promessas da modernidade plasmadas no texto
constitucional. Isto implica continuar a acreditar na força normativa da Constituição e no seu papel
dirigente e compromissário, para um bom governo do povo para o povo.
Isso porque a Constituição de um Estado é, e deve ser assim tratada, como o fiel depositório
dos anseios sociais de um povo e de sua realidade no contexto histórico em que se dá. Não, porém,
mero depositório sem efetividade ou sem os mecanismos necessários a essa concretização –
notadamente dos direitos fundamentais, positivados estes nas Cartas constitucionais democráticas.
Não dialoguemos em demasia com a sacralização da Constituição, como se evidencia na cultura
estadunidense, nem mesmo à sacralização, por outra via, da lei como nos países da Europa
(FAVOREU, 2004, p. 20). No entanto, é preciso conceituá-la num patamar evidentemente mais
elevado que o das normas extraídas da legislação infraconstitucional. E isso, por claro raciocínio, a

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fim de mantê-la espectro de força normativa (CANOTILHO, 2014, p.48) e da rigidez necessária à
garantia dos direitos do cidadão.

A Consolidação Da Democracia Brasileira - O Estado Democrático De Direito


Uma democracia só é plena se cada poder, no âmbito de suas atribuições cumprir sua
missão, com pleno respeito às competências alheias, colaborando com a sociedade na construção
de uma nação poderosa e estável institucionalmente. (TOFFOLI, 2018 p. 168)
Graças à Constituição de 1988, o voto não é apenas um direito fundamental, mas também
clausula pétrea, é direto, secreto, universal e periódico. Através do voto, elege-se os representantes
do poder, dentre eles o Presidente da República.
O povo consagrou a vitória dos Presidentes: Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso,
Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Mas além desses mandatários, o Brasil
possuiu mais dois, os quais não haviam sido eleitos para a Presidência da República. Itamar Franco
e Michel Temer assumiram a Presidência, após as instaurações de procedimentos de Impeachment,
o que resultaram na cassação dos mandatos de Fernando Collor de Mello em 1992, e Dilma Rousseff
em 2016. (TOFFOLI, 2018)
Em uma democracia, o processo mais traumático que pode acontecer é a instauração de um
procedimento de impeachment, o qual seguindo todos os seus ritos, ao final pode caçar o mandato
do Presidente da República, além de ocasionar a polarização do povo. Conforme lecionam Levitsky
e Ziblatt (2018, p. 115-116):

A polarização pode destruir as normas democráticas. Quando diferenças socioeconômicas, raciais e religiosas dão
lugar a sectarismo extremo, situação em que sociedades se dividem em campos políticos cujas visões de mundo
são não apenas diferentes, mas mutualmente excludentes, torna-se difícil sustentar a tolerância. Alguma
polarização é saudável — até necessária para a democracia. E, com efeito, a experiência histórica de democracias
na Europa ocidental mostra que normas podem ser sustentadas mesmo em lugares onde os partidos estão
separados por consideráveis diferenças ideológicas. No entanto, quando as sociedades se dividem tão
profundamente que seus partidos se vinculam a visões de mundo incompatíveis, e sobretudo quando seus
membros são tão segregados que raramente interagem, as rivalidades partidárias estáveis dão lugar a percepções
de ameaça mútua. À medida que desaparece a tolerância, os políticos se veem cada vez mais tentados a abandonar
a reserva institucional e tentar vencer a qualquer custo. Isso pode estimular a ascensão de grupos antissemitas
com rejeição total às regras democráticas. Quando isso acontece, a democracia está em apuros. (LEVITSKYe
ZIBLATT, 2018, p. 115-116).

Como a democracia representa o anseio do povo, com essa polarização resulta em um


paradoxo para a plena da busca da liberdade, igualdade e justiça social, num contexto de boa
governança.
Isso porque a boa governança reflete uma democracia substancial, espaço em que as
decisões são adequadas e não corrompidas, e “consiste na exigência de um agir governamental

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baseado na transparência, responsabilização do governante, igualdade, legalidade, não
discriminação e participação”. (CARVALHO, 2016, p. 761).
O conceito de bom governo é um legado de Platão (427 a.C.-347 a.C.), na Grécia Antiga, que
idealizou um Estado cuja preocupação centralizava-se no bem-estar do cidadão e na ideia de justiça,
ou seja, um Estado perfeito. Em sua obra A República, o filósofo enfrenta questionamentos acerca
da essência da justiça. Adotando a técnica do diálogo, ele respondia à medida que os participantes
iam traçando com objetividade a forma como a justiça se configurava na sociedade.
Adaptado à realidade do século XXI, o bom governo permanece com suas bases fincadas num
sistema de democracia real e concreta, com ampla participação do povo nos rumos políticos de uma
nação. A completa participação social justifica-se por incluir no centro de decisões os reais
destinatários das políticas adotadas, entendimento segundo o qual a boa governança só se efetiva
quando as práticas governamentais correspondem aos anseios sociais, num contexto de
proatividade cidadã, em que o povo opina, assume encargos, beneficia-se e responsabiliza-se pelas
escolhas políticas.
Dessa forma, como conciliar a polarização sistêmica atual, que fortalece os extremismos da
direita que gladiam com os da esquerda e vice-versa? O que é cediço que nesse contexto, as vozes
moderadas perdem poder e influência, simplificando a realidade social e os problemas reais da
sociedade atual passam a ficar ocultados.
Para conciliar faz-se necessário desconstruir os ideais de democracia para reconstruir em
face das necessidades emergentes que ficam ocultadas.
A sociedade civil organizada do novo milênio deveria compor-se de sujeitos que se
relacionam em rede, em torno de valores, objetivos ou projetos comuns, de modo que espaços
sociais democráticos de governança sejam criados com a expansão da participação cidadã e o
aprofundamento da autonomia relativa de atores sociais em intervenção contínua e periódica que
incorporam o verdadeiro sentido da participação democrática.

Conclusão

Alicerçado pelo regime democrático, o Brasil adota a democracia semidireta, cujo


fundamento é a soberania popular e o respeito aos direitos fundamentais.
A tarefa fundamental do Estado Democrático de Direito é superar as desigualdades sociais
pela via de um regime que concretize a justiça social.
Apesar de o impulso dirigente de uma sociedade ser a redução das desigualdades sociais a
partir da justiça social, o que se tem verificado é que não basta a Constituição Federal dispor de uma

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extensa tábua de valores que devem ser respeitados pela vedação ao retrocesso se não houver uma
atuação efetiva dos órgãos e poderes do Estado com o cidadão.
Nesse cenário, emerge um novo espaço político ligado à democracia participativa ou
deliberativa, pressuposto para se alcançar um bom governo, já que o controle social, a deliberação
e o processo participativo são indispensáveis ao entendimento do verdadeiro sentido da
democracia como projeto coletivo de autogoverno.
Avançar nas conquistas democráticas a partir da polarização existente na sociedade é uma
obrigação de todo cidadão consciente e mais ainda de políticos e parlamentares, no eixo da
democracia deliberativa, já que a gestão participativa possibilita democratizar o gerenciamento de
serviços fundamentais para o orçamento, como habitação, saneamento básico, educação e saúde,
à medida que os cidadãos interferem e sugestionam a distribuição de verbas orçamentárias.
É importante a participação do povo na vida política do país, do contrário estar-se-á
contribuindo com o desvio de finalidade primordial da participação popular, qual seja, o povo
interferir diretamente nas decisões políticas tomadas pelo país.

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