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Coordenador
Marcos Antonio Mattos dos Reis
Autores
Maickel Padilha
Marcos Antonio Mattos dos Reis
Capa
Marcus Arboés
Sumário
Introdução
INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
Capítulo 1
DESENVOLVENDO ATLETAS DE FUTEBOL
Capítulo 2
INICIAÇÃO ESPORTIVA X ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE NO FUTEBOL
Capítulo 3
COORDENAÇÃO TÉCNICA NO FUTEBOL DE BASE
Capítulo 4
COORDENAÇÃO METODOLÓGICA NO FUTEBOL DE BASE
Capítulo 5
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO JOGADOR DE FUTEBOL
Capítulo 6
COMO ENSINAR O FUTEBOL
Capítulo 7
IDENTIFICANDO TALENTOS X PROCESSOS DE AVALIAÇÃO
introdução
Este material didático tem como finalidade dar suporte para o curso online
“Iniciação e Futebol de Base” debatendo assuntos sobre o processo de formação,
identificação e seleção de jogadores de futebol, desde as fases iniciais da vida
humana até as últimas categorias competitivas do futebol de base. Neste sentido,
este material possui uma visão holística acerca do futebol de base, apresentando
diversos conteúdos que permitam os alunos mergulharem em diferentes e ricas
áreas da formação de jogadores de futebol. Ao abordar o futebol de base, pode-
-se dividir em três estágios: iniciação esportiva (6-10 anos de idade), especializa-
ção esportiva (11-15 anos de idade) e categorias de base (16-20 anos de idade). A
iniciação esportiva consiste no primeiro contato do sujeito com qualquer prática
esportiva. Já a especialização esportiva coloca o indivíduo em um contexto mais
restrito do futebol, visando focar em habilidades motoras específicas da modali-
dade. Obviamente, a utilização do futsal nesse processo ainda pode ser bastante
utilizada, inclusive como transição da iniciação à especialização esportiva, tendo
em vista que é um esporte que faz parte da família dos jogos jogados com os pés.
Por fim, a categoria de base, que é a fase coloca os jogadores em contato com o
alto rendimento, a partir de diversos cuidados, como o aumento da quantidade
diária de prática, por exemplo.
Essa divisão não é um produto fechado, mas ajuda a entender o quão com-
plexo é a formação de um jogador de futebol a partir das finalidades específicas
de cada categoria. Existem diversas formas que permitem enxergar o futebol de
base e nos próximos capítulos iremos abordá-las de acordo com cada conteúdo
específico. Neste sentido, esse material didático traz diversas informações que
podem ser transformadas em conhecimento no processo de ensino e apren-
dizagem do futebol, mostrando fatores biopsicossocioculturais que afetam a
formação dos jogadores e ferramentas que permitem identificar e selecionar
o talento esportivo. Além disso, tanto esse material didático, quanto o curso “Ini-
ciação e Futebol de Base”, trazem conteúdo sobre duas funções emergentes no
futebol contemporâneo: coordenação técnica e coordenação metodológica no
futebol de base.
1
DESENVOLVENDO ATLETAS DE FUTEBOL
MARCOS REIS
A
formação de jogadores de futebol é influenciada por diferentes restrições
que interagem entre si: tarefa, ambiente e sujeito (figura 2) (NEWELL, 1986).
As restrições das tarefas estão relacionadas às manipulações dos exer-
cícios geralmente feitas pelo professor/treinador, que serão discutidos nos pró-
ximos módulos (em especial módulo 6). Já as restrições do ambiente e do sujeito
são constrangimentos que não podem ser manipulados pelo professor/treinador,
mas que afetam diretamente no processo de formação de jogadores e estão
relacionadas ao desenvolvimento humano (ARAÚJO et al., 2010). Elas podem ser
consideradas como fatores biopsicossocioculturais que determinam as possibi-
lidades do sujeito se tornar jogador de futebol e que quando caminham juntas,
se tornam mais preponderantes do que as restrições das tarefas (REIS, 2016).
-9,236 + 0,0002708 x
(comprimento de membros inferiores x altura tronco-cefálica) -
0,001663 (idade x comprimento de membros inferiores) +
0,007216 (idade x altura tronco-cefálica) +
0,02292 (massa corporal / estatura)
Com base no coeficiente gerado pela equação, os jogadores podem ser es-
tratificados em três grupos: Pré-Estirão (jogadores que não atingiram o PVC, coe-
ficiente < -0,5), Estirão (jogadores que estavam atingindo o PVC, coeficiente entre
-0,5 e 0,5) e Pós-Estirão (jogadores que já tinham atingindo o PVC, coeficientes
> 0,5). A partir disto, o professor/treinador terá uma referência de qual estágio
Em jogos reduzidos, a literatura científica traz que não foi encontrada corre-
lação entre maturação biológica e habilidades com bola (SILVA et al., 2011), joga-
dores de diferentes níveis maturacionais obtiveram desempenho tático pareci-
dos, apesar da correlação moderada entre eficácia ofensiva e potência aeróbia
(BORGES et al., 2018), e jogadores que já tinham atingindo o PVC realizaram mais
ações táticas com bola para frente, ações táticas sem bola de criação de linha
de passe próximo do colega portador da bola e linha de passe para trás distante
dele do que os jogadores que ainda não tinham atingido o PVC (BORGES et al.,
2017).
Reis (2016) avaliou o comportamento tático de 78 jogadores divididos em três
grupos de acordo com o nível de maturação somática deles: pré-estirão (que
ainda não tinham alcançado o PVC), estirão (que estavam passando pelo PVC) e
pós-estirão (que já tinham alcançado o PVC). Foi encontrado que os jogadores do
pós-estirão e do estirão tiveram melhor desempenho na penetração (progressão
com bola na direção da baliza ou linha de fundo adversária), enquanto os joga-
dores do pré-estirão apresentaram maior variabilidade tática dos que os seus
pares que já tinham alcançado ou estavam alcançando a maturação biológica.
Esses resultados mostram que os jogadores amadurecidos biologicamente
podem se favorecer da vantagem física por conta de aspectos biológicos para
realizar ações com bola, que geralmente são as mais observadas na seleção de
jogadores. Por outro lado, os jogadores que ainda não amadureceram biologica-
mente criam mais repertório de jogo para que possam se manter competitivos
diante da desvantagem biológica que apresentam. Retomando ao exemplo da
figura 3, provavelmente o Ricardo Pedra buscou estratégias cognitivas e motoras
para poder jogar o jogo de futebol e, ao atingir o nível maturacional biológico
do Anderson Vital, pode ter ultrapassado o nível de habilidade do Anderson Vital
(caso ele tenha sido estimulado a jogar a partir da sua vantagem física). A figura
4 mostra um exemplo real dessa questão no futebol contemporâneo, o jogador
Lucas Paquetá quase foi dispensado das categorias de base do Flamengo por
causa da sua baixa estatura, tendo em vista, muito provavelmente, que o jogador
atingiu o PVC de forma tardia em relação aos seus pares de idade cronológica.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2015/12/joia-2016-apos-
ganhar-27-centimetros-em-tres-anos-paqueta-mira-topo-no-fla.html
TESTE DE ATENÇÃO
Leia clicando
no conteúdo
O que você acha de aplicar esse teste com seus jogadores?
REFERÊNCIAS
AQUINO, R. et al. Multivariate Profiles of Selected Versus non-Selected Elite Youth
Brazilian Soccer Players. Journal of Human Kinetics, v. 60, n. 1, p. 113-121, 2017.
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implications for the relative age effect. Journal of Sports Sciences, v. 34, n. 5, p.
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FURLEY, P.; MEMMERT, D.; WEIGELT, M. “How Much is that Player in the Window? The
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did ten years of research make any difference? Journal of Sports Sciences, v. 30,
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competition. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, v. 20, n. 3, p.
502-508, 2010.
2
INICIAÇÃO ESPORTIVA X ESPECIALIZAÇÃO
PRECOCE NO FUTEBOL
MARCOS REIS
Após a identificação desses resultados, Oppici et al. (2018) fizeram outro expe-
rimento em que colocaram os jogadores de futsal para jogar futebol de campo
e vice-versa. Foi verificado que os jogadores de futsal tiveram mais passes bem-
-sucedidos no futebol de campo do que no futsal, enquanto os jogadores de
futebol de campo se mantiveram os seus desempenhos estáveis nos dois jogos.
Além disso, os jogadores de futsal tiveram mais passes bem-sucedidos do que
os jogadores de futebol de campo no jogo de futebol de campo.
Antes do primeiro toque na bola, os jogadores de futsal direcionavam sua
atenção para outros jogadores mais vezes do que os jogadores de futebol de
campo no jogo de futebol. Além disso, o jogo de futsal promoveu maior atenção
orientada para outros jogadores do que o jogo de futebol (OPPICI et al., 2018). O
que é uma característica de jogadores experientes no futebol de campo, que
olham mais para os jogadores e o espaço vazio no campo, enquanto os joga-
dores inexperientes olham mais para a bola (ROCA et al., 2011).
Müller et al. (2016) também verificaram que o futsal promove maior eficácia
defensiva do que o futebol. Com isso, os contributos do futsal para o futebol vão
além dos aspectos ofensivos do jogo. Neste sentido, percebe-se os motivos, tes-
tados cientificamente, pelo qual o futsal é considerado um esporte doador para
o futebol de campo, em especial no Brasil. Por isso ele é caracterizado como uma
das principais ferramentas na formação de jogadores de futebol (TRAVASSOS,
ARAÚJO e DAVIDS, 2018).
Desta forma, observa-se através da literatura científica que as duas aborda-
gens (iniciação esportiva generalizada e específica) são eficazes na melhora do
desempenho dos jogadores na iniciação esportiva, com a perspectiva genera-
lizada permitindo a transferência de habilidades. A transferência da aprendiza-
gem de habilidades pode ser definida como o processo de adaptação de deter-
minado comportamento a um novo contexto de prática, avaliada na obtenção
de desempenho e não em um movimento estereotipado (NEWELL, 1986). Conclui-
-se que a prática de outros esportes pode ajudar na formação de jogadores de
futebol, tanto em aspectos ofensivos, quanto defensivos, e que o professor pode
manipular a utilização de outras modalidades esportivas durante as sessões de
treinos ou deixando um dia de prática alternativa no seu planejamento.
REFERÊNCIAS
GARGANTA, J. Para uma Teoria dos Jogos Desportivos Coletivos. In. GRAÇA, A.; OLI-
VEIRA, J. (Org.). O ensino dos jogos desportivos. Porto: Centro de Estudos dos Jogos
Desportivos, 1995. p. 11-25.
MEMMERT, D.; ROTH, K. The effects of non-specific and specific concepts on tactical
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2007.
OPPICI, L. et al. Futsal task constraints promote transfer of passing skill to soccer
task constraints. European Journal of Sport Science, v. 18, n. 7, p. 947-954, 2018.
TANI, G; CORRÊA, U. Esportes coletivos: alguns desafios quando abordada sob uma
visão sistêmica. In. DE ROSE JR., D. (Org.). Modalidades Esportivas Coletivas. Editora
Guanabara Koogan, 2006.
TRAVASSOS, B.; ARAÚJO, D.; DAVIDS, K. Is futsal a donor sport for football?: exploiting
complementarity for early diversification in talent development. Science and Me-
dicine in Football, v. 2, n. 1, p. 66-70, 2018.
3
COORDENAÇÃO TÉCNICA
NO FUTEBOL DE BASE
MARCOS REIS
Conduta da co-
Abordagem Comportamento Processo missão técnica Resultado
e dos jogadores
Objetivos
Aspectos específicos
Estilo de jogo Planejamento
coletivos por categoria
competitiva
Eficácia e
Filosofia de Aspectos
Avaliação eficiência nos
Tarefa trabalho individuais
jogos
Filosofia de jogo Formação
Gestão de
continuada e Eficácia e
Identificação recursos
permanente eficiência em
e seleção de humanos dos
dos competição
jogadores treinadores
profissionais
Coesão
Estilo de (comissão
Afetividade
interação técnica e
jogadores)
Metas
Comunicação Suporte social traçadas
Motivação (curto, médio
Estados
e longo
Feedback do emergentes
prazo)
desempenho (estresse, Avaliação
nível de individual
competição,
foco, etc.)
que é uma função que pode gerar oportunidades únicas para profissionais que
almejam trabalhar com futebol.
O que você achou? Com qual mentalidade você mais se identifica? Como os
conceitos desse vídeo podem ser transferidos para a coordenação técnica do
futebol? Essa é uma boa reflexão para aplicar na prática.
REFERÊNCIAS
CARRAVETTA, E. Futebol: a formação de times competitivos. Editora Sulina, 2012.
TANI, G. Aprendizagem motora: uma visão geral. In. TANI, G.; CORRÊA, U. (Eds.). Apren-
dizagem motora e o ensino do esporte. São Paulo: Blucher, 2016. p. 19-38.
4
COORDENAÇÃO METODOLÓGICA
NO FUTEBOL DE BASE
MARCOS REIS
REFERÊNCIAS
BRADLEY, P.; ADE, J. Are Current Physical Match Performance Metrics in Elite Soccer
Fit for Purpose or Is the Adoption of an Integrated Approach Needed? International
Journal of Sports Physiology and Performance, v. 13, n. 5, p. 656-664, 2018.
GARGANTA, J. Para uma Teoria dos Jogos Desportivos Coletivos. In. GRAÇA, A.; OLI-
VEIRA, J. (Org.). O ensino dos jogos desportivos. Porto: Centro de Estudos dos Jogos
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NEWELL, K. Coordination, control and skill. In. GOODMAN, D.; WILBERG, R.; FRANKS, I
(Org.). Differing Perspectives in Motor Learning, Memory,and Control. North-
-Holland: Elsevier, 1985. p. 295-317.
5
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
DO JOGADOR DE FUTEBOL
MARCOS REIS
PINHO e SILVA FILHO, 2016; CORRÊA et al., 2012; GRECO, 1998). A partir disto, surge uma
indagação, como os jogadores de futebol aprendem estas habilidades?
Na tentativa de responder essa pergunta, pode-se observar os estudos cientí-
ficos da aprendizagem motora, definida como uma subárea do comportamento
motor que tem como objetivo entender e esclarecer os processos e mecanismos
inerentes à conquista, estabilização e adaptação das habilidades motoras hu-
manas a partir da prática e dos fatores que o afetam (TANI, 2016; TANI et al., 2014;
TANI et al., 2011). Com isso, serão apresentados, de maneira suscinta, três teorias
da aprendizagem motora que buscam explicar como o ser humano aprende
diferentes habilidades: teoria do processamento de informações (SCHMIDT, 1975;
FITTS e POSNER, 1967), teoria da ação (TURVEY, SOLOMON e BURTON, 1989) e o modelo
de processo adaptativo (TANI, 2000).
A teoria do processamento de informações parte de uma abordagem cogni-
tivista que preconiza que o sistema nervoso central (SNC) é o elemento central e
regulamentador de todo o movimento humano. A conservação ou transmissão
da informação, a redução da informação e a criação ou elaboração da informa-
ção são formas específicas de processamento de informações (FITTS e POSNER,
1967). Desta forma, a partir deste modelo, os jogadores percebem um estímulo,
processam a informação captada no SNC, elaboram uma resposta mental para
o problema percebido e executam uma ação motora para resolver o problema,
sendo que esse processo é retroalimentado por feedback (SCHMIDT e LEE, 2016).
Sobre as diferentes
fases da aprendizagem motora Assista o vídeo
clicando
no conteúdo
REFERÊNCIAS
BARREIROS, J.; PASSOS, P. A aprendizagem enquanto processo de mudança. In.
PASSOS, P. (Org.). Comportamento motor, controlo e aprendizagem. Lisboa: FMH
Edições, 2013. p. 49-58.
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TANI, G.; CORRÊA, U. (Org.). Aprendizagem motora e o ensino do esporte. São Paulo,
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NEWELL, K. Coordination, control and skill. In. GOODMAN, D.; WILBERG, R.; FRANKS, I
(Org.). Differing Perspectives in Motor Learning, Memory,and Control. North-
-Holland: Elsevier, 1985. p. 295-317.
SCHMIDT, R.; LEE, T. Aprendizagem e performance motora. Porto Alegre: Brasil: Art-
med, 2016.
TANI, G. Aprendizagem motora: uma visão geral. In. TANI, G.; CORRÊA, U. (Eds.). Apren-
dizagem motora e o ensino do esporte. São Paulo: Blucher, 2016. p. 19-38.
TANI, G. et al. An Adaptive Process Model of Motor Learning: Insights for the Tea-
ching of Motor Skills. Nonlinear Dynamics, Psychology, and Life Sciences, v. 18, n.
1, p. 47-65, 2014.
WALTER, C.; BASTOS, F.; TANI, G. Fatores que afetam a aprendizagem motora: uma
síntese. In. TANI, G.; CORRÊA, U. (Eds.). Aprendizagem motora e o ensino do esporte.
São Paulo: Blucher, 2016. p. 39-71.
6
COMO ENSINAR O FUTEBOL
MARCOS REIS
O método analítico tem como foco o ensino das habilidades com bola, com
ênfase na biomecânica do movimento, partindo do pressuposto que a soma
das partes será maior do que o todo (CARRAVETTA, 2012). Desta forma, ao utilizar
esse método, o professor/treinador prioriza o padrão de movimento, em uma
perspectiva descontextualizada do jogo de futebol, a fim de que o jogador pos-
sa ter consistência na habilidade que a ser treinada através da diminuição de
incertezas (DAVIDS et al., 2013). Contudo, a ruptura disfuncional na relação am-
biente de prática e aprendiz, a ausência de variabilidade contextual, os poucos
e engessados mecanismos decisórios e a diminuição dos recursos atencionais
dos jogadores são as principais limitações desse método (DAVIDS et al., 2013;
GARGANTA e GRÉHAIGNE, 1999; SILVA, 1998).
Práxedes et al. (2016) investigaram a eficácia do método analítico em com-
paração com jogos reduzidos no ensino da tomada de decisão e da execução
do passe em crianças com idade aproximada de 10 anos. O programa baseado
nos jogos reduzidos foi mais eficaz do que o método analítico, provavelmente
por conta dos fatores apresentados no parágrafo anterior.
O método global consiste na utilização de jogos, geralmente próximo dos 11x11,
em que o professor/treinador não possui uma finalidade em relação ao que se
quer ensinar, ou seja, não existe uma sistematização de conteúdo (CARRAVE-
TA, 2012). Esse tipo de abordagem metodológica pode prejudicar o processo de
Figura 13 – Método analítico x Jogos reduzidos no ensino das habilidades com bola no futebol.
returno” entre as quatro duplas (seis jogos para cada dupla) com duração de
dois minutos cada jogo totalizando 24 minutos de exercício. Os objetivos deste
exercício são: a) aperfeiçoar o passe para a finalização, o drible orientado para
a baliza adversária, a recepção orientada para a finalização e o chute ao gol dos
jogadores; b) estimular a tomada de decisão e a criatividade dos jogadores; c)
desenvolver habilidades ofensivas realizadas sem a bola (cobertura ofensiva,
principalmente); d) estimular os princípios específicos ofensivos de jogo da pro-
fundidade e amplitude.
Figura 14. Exemplo de jogo reduzido que permite a melhora do desempenho individual
(coordenação intrapessoal) e coletivo (coordenação interpessoal).
Além disto, a manipulação das restrições das tarefas nos jogos reduzidos
pode ser feita em diversas perspectivas a depender do objetivo do treino: rela-
ções numéricas, como jogos em superioridade e inferioridade numérica (PRÁXE-
DES et al., 2018), tamanho do campo de jogo (OLTHOF, FRENCKEN e LEMMINK, 2018,
quantidade de toques na bola (MENUCHI et al., 2018), quantidade de balizas ou de
alvos (CASTELLANO et al., 2016), densidade da prática, ou seja, relação entre tempo
de recuperação entre tentativas (MCLEAN et al., 2016), entre outras possibilidades.
Por exemplo, Práxedes et al. (2018) verificaram que um programa de treina-
mento baseado em jogos reduzidos com superioridade numérica ofensiva foi
mais eficaz na melhora da tomada de decisão e execução do passe no futebol
em relação à jogos reduzidos com inferioridade numérica ofensiva. Olthof, Fren-
cken e Lemmink (2018) verificaram que jogos reduzidos (Goleiro + 4x4 + Goleiro)
em campo pequeno (40x30 metros) promoveram mais transições, mais chutes
ao gol, mais bolas paradas, menos posse de bola, menor distância entre o goleiro
e a primeira linha de jogadores de linha e menor espaço efetivo de jogo do que
quando jogados em campo grande (68x47 metros), que era aproximadamente
2,5 vezes maior em termos de área absoluta de jogo.
REFERÊNCIAS
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7
IDENTIFICANDO
TALENTOS X PROCESSOS DE AVALIAÇÃO
MAICKEL PADILHA
MARCOS REIS
Esse meio pode nos fornecer informações como por exemplo: ano que o par-
ceiro mais nos encaminhou jogadores e a porcentagem dos que se mantive-
ram no clube; quais faixas etárias esse parceiro mais nos encaminha jogadores;
quantos desses jogadores encaminhados e mantidos, foram promovidos para a
próxima categoria. Além disso, destaco a importância em oferecer um suporte/
atenção a esses parceiros, bem como a abertura do clube para eles, através de
estágio de observação, visitas técnicas e afins.
O fortalecimento das escolas e das franquias é outro caminho primordial no
futebol de base. No processo de prospecção, a atenção e o fortalecimento das
escolas do clube ou das franquias também pode ser um forte aliado na identifi-
cação de potenciais atletas para o clube.
Além de podermos utilizar a análise das redes sociais da mesma maneira da
utilizada com os projetos parceiros, promover algumas ações que promova uma
maior fidelização e interesse dos responsáveis pelas escolas como: Diretrizes de
condutas esportivas e metodológicas; Semana competitiva das escolas dentro
de Centro de Treinamento; Período de formação com os profissionais que estão
no clube ou com profissionais externos; Período de semana de estágio para os
profissionais; Amistosos periódicos; Avaliações técnicas, táticas e condicionais
para o acompanhamento e monitoramento dos jogadores.
Outro meio muito utilizado pelos clubes e que apresenta suma importância,
é o acompanhamento in loco de competições que envolvem: Equipes de base;
Escolas de futebol; Jogos escolares. Através dessas competições e possíveis iden-
tificar possíveis jogadores que apresentem condições para participar de um pe-
ríodo de avaliação dentro do clube, bem como no monitoramento de jogadores.
Ao mesmo tempo, é uma oportunidade em conhecer demais escolas e projetos
que tem investido na promoção de jovens atletas, possibilitando identificar novos
e futuros parceiros.
REFERÊNCIAS
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MEMMERT, D.; ROTH, K. The effects of non-specific and specific concepts on tactical
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task constraints. European Journal of Sport Science, v. 18, n. 7, p. 947-954, 2018.
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vior in skilled soccer players. PLoS One, v. 13, n. 7, p. 1-11, 2018.