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Verifica-se na tirinha acima que quando a filha vai apresentar o namorado para seus pais
ela realiza performativos,ou melhor, ela faz duas declarações: “(eu afirmo que) este é o
Mongo.” E “(eu afirmo que) ele faz teatro”. Todavia, quando o pai diz “Shakespeare?”, ele está
querendo ser legal e dar inicio a um diálogo, interrogando ao rapaz, que faz teatro, se ele
encena ou encenou peças de William Shakespeare. O pai partiu da suposição de que quem faz
teatro deve conhecer alguma peça do dramaturgo inglês, só que é quebrada a expectativa tanto
para o pai quanto para o leitor da tira quando o namorado diz: “não, obrigado. Mas um
cafezinho eu aceito”. Imaginando que Shakespeare talvez fosse algo de comer ou beber, o
namorado dá outra dimensão à força ilocucionária da fala do pai.
Diante disso, o efeito da fala do pai não foi o previsto, havendo assim uma conseqüência
para o leitor que é humor; para o pai, que ficou perplexo diante do acontecido do rapaz realizar
a ação dizer que faz teatro e não conhecer Shakespeare.
Segundo Austin (1976, p. 14), para que um ato performativo seja feliz, “é preciso existir um
procedimento convencionalmente aceito, que apresente um determinado efeito convencional e
que inclua o proferimento de certas palavras, por certas pessoas e em certas situações”. No caso
dessa tira, tudo isso, até um certo momento, estava nas “condições de felicidade” e,
consequentemente , o ato performativo final se realizaria com sucesso, mas, com imperfeição
no último quadrinho, porque o performativo acontece nas condições de infelicidade.
Folha de S. Paulo. Ilustrada. 18 de jul. 2000. p 7
Também não podemos deixar de notar que o conselho do médico não deixou de ser um
enunciado performativo simplesmente pelo fato de Hagar não achar legal ter que deixar
as manias no qual ele vivia. Considerando assim a primeira parte das orientações do
médico como um “mau conselho” mas concedeu que deveria fazer mudanças
necessárias para sua saúde e o segundo conselho que é uma mudança que gera surpresa
no leitor da tira e no interlocutor de Hagar.