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Sorocaba/SP
2022
Beatriz da Silva Pontes
Sorocaba/SP
2022
Beatriz da Silva Pontes
2. TEORIA ................................................................................................................ 7
3. PRÁTICA ............................................................................................................ 13
3.2 Descrição das práticas com os jogos no grupo, protocolos das práticas dos
jogos e análise; ...................................................................................................... 15
3.3 Descrição das práticas com os jogos e no coletivo, protocolos das práticas
dos jogos e análise; ............................................................................................... 26
1. INTRODUÇÃO
2. TEORIA
“Os jogos teatrais (theater game) foram originalmente desenvolvidos por Viola
Spolin, com o fito de ensinar a linguagem artística do teatro a crianças, jovens, atores
e diretores. [...] são ao mesmo tempo atividades lúdicas e exercícios teatrais”.
(KOUDELA, 2010, p. 15).
Spolin (2015) define o jogo como sendo um processo espontâneo coletivo, sem
uma autoridade que impõem algo. O que possibilita o desenvolvimento de habilidades
e técnicas essenciais para o próprio jogo. O mesmo permite extrair dos indivíduos
suas potencialidades físicas, mentais e intuitivas. Visto que, tais são libertadas de
forma ampla ao se experienciar sem medo as mais diversas situações que ocorrerem
na resolução de problemas incitados pelo jogo. Conforme Spolin (2015, p. 5)
Nesse sentido, Spolin (2015) salienta que o sujeito trabalha como uma
engrenagem, na qual todas as suas partes trabalham juntas em uma pequena
estrutura que compõem uma maior estrutura que é o jogo, o sistema. No qual, surge
o ser total, dentro do ambiente total, que possibilita ao indivíduo uma gama de
habilidades para se comunicar dentro do jogo, o que permite o aparecimento do jogo
ou da cena teatral.
Desse modo, Koudela e Santana (2005, p.149) definem o Jogo Teatral da
seguinte maneira:
O jogo teatral passa necessariamente pelo estabelecimento de acordo de
grupo, por meio de regras livremente consentidas entre os parceiros. O jogo
teatral é um jogo de construção com a linguagem artística. Na prática com o
jogo teatral, o jogo de regras é princípio organizador do grupo de jogadores
para a atividade teatral. O trabalho com a linguagem desempenha a função
de construção de conteúdos, por intermédio da forma estética.
Koudela e Santana (2005, p. 148) destacam ainda que um dos diferenciais dos
Jogos Teatrais propostos por Viola Spolin, é a relação com o corpo. Já que se tem
uma atuação corporal consciente, diferente de uma cópia ou um puro fantasiar.
Por fim, os Jogos Teatrais contribuem para a preparação dos atores ao
utilizarem propostas que são ao mesmo tempo lúdicas e exercícios teatrais. Não tendo
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uma autoridade que impõem algo e assim limita o aparecimento da expressão criativa,
mas trabalhando a espontaneidade dos atores/jogadores coletivamente. O que
possibilita o aparecimento do ser total dentro do ambiente total, no qual o jogador se
sente livre para experenciar o jogo explorando suas potencialidades físicas, mentais
e intuitivas.
No tópico a seguir apresenta-se uma breve explanação do histórico do Jogo
Teatral, sua sistematização por Spolin e a tradução de Koudela que trouxe a obra para
o Brasil.
Viola Spolin tendo como sua mentora Neva Boyd (1876-1963) que aprofundou
os principais pilares da metodologia dos Jogos Teatrais como “seu papel com o
processo educativo e prática de grupo”. Sua metodologia serviu como um instrumento
eficiente no processo da educação, assim dando vida aos Jogos Teatrais que
conhecemos nos dias de hoje. A partir dos ensinamentos de Boyd, Spolin, diretora de
teatro e pedagoga, produziu os Jogos Teatrais com o intuito de desenvolver a práxis
do drama além das definições e das técnicas sobre a espontaneidade tendo como
eixo central a autodescoberta dos participantes, crianças e adultos, o que logo seria
eficiente para os processos da preparação do ator, tendo como base os conceitos de
Cabaret, da Comédia dell' arte e da atuação brechtiana. Ingrid Koudela, por outro lado,
traduziu e trouxe a obra de Spolin para o Brasil no mesmo ano que foi criada, em
1979, de forma que seus experimentos práticos desenvolvessem uma abordagem
alternativa de ensino para crianças e adolescentes. Utilizando a metodologia
brechtiana, Koudela aplica os Jogos Teatrais da forma de que possa ser construído
um método onde o jogador produziria livremente sua própria educação dentro dos
parâmetros da linguagem artísticas sem se submetera teorias, técnicas e leis.
Encontramos essas características na cena "As duas moedas", onde Brecht utiliza o
seu modelo de ação "Estranhamento" com função de modificar o texto original para a
autoaprendizagem do jogador. Para Koudela (1999, p. 19)
Koudela (2010) destaca que não apenas o resultado final importa, mas sim toda
a jornada vivenciada pelos estudantes. Os mesmos são autores/atores do processo e
tem liberdade de expressão para descobrir/aprender à medida que experimentam
gestos, atitudes, e observam a construção/preparação coletiva deles mesmos e das
personagens, conforme jogam. A produção é um processo de investigação artística
coletiva de aprendizagem, no qual todo conhecimento obtido na produção importa,
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somando não apenas para fins didáticos, mas também, para a construção de atores
e demais envolvidos no processo. Conforme Freire (1997, p. 9)
Nas práticas realizadas para a preparação dos atores com os Jogos Teatrais,
os instrumentos didáticos de Brecht foram utilizados para o trabalho com a peça. Nos
quais, o texto teatral, que se difere do texto literário ao poder ser de composição
dramática, plástica ou musical, foi utilizado como modelo de ação, que proporciona a
criação de cenas para as propostas com os Jogos Teatrais. Essa relação entre os
Jogos Teatrais e o modelo de ação, possibilita o exercício artístico colaborativo, que
permite a investigação do texto, não sendo o mesmo sagrado ao ponto de não ser
modificado, mas podendo-se cortá-lo, inserindo dramaturgia própria, já que os atores
são autores do texto, que se desconstrói construindo-se. Nesse sentido, essa ligação
tem como propósito o desenvolvimento da consciência social e histórica, que
possibilita a investigação das relações humanas entre humanos. (KOUDELA, 2010).
Seguindo essa linha, foi trabalhado o processo de historicização, no qual os
atores trazem para o hoje (em suas perspectivas), um texto que é marcado por uma
geografia, economia, sociedade e momento histórico de uma determinada época.
(KOUDELA, 2010). Conforme Paulo Freire (2021, p. 30)
[...] uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo,
como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o
mundo. Mas, histórico como nós, o nosso conhecimento do mundo tem
historicidade. Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes
foi novo e se fez velho e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã.
Koudela (2010) salienta que na prática com o modelo de ação não se deve ter
um método ou formas mecânicas de se jogar, pois as necessidades do grupo vão
gerar os procedimentos a se trabalhar. Nesse sentido, destaca que para Brecht o
ensaio teatral é um momento de experimentação, no qual não existe uma solução
correta ou errada, mas várias soluções para serem praticadas, enriquecendo o
processo.
Além disso, Koudela (2010) destaca que as propostas com a peça didática
propõem que os atores construam o conhecimento e façam uma avaliação reflexiva
das práticas e do próprio modelo de ação (texto) por meio das avaliações dos Jogos
Teatrais e dos protocolos, que são como um propulsor da investigação coletiva. O que
caracteriza uma “didática não bancária” (Freire, 1994), já que o objetivo não é pré-
determinado.
Por fim, os Jogos Teatrais trabalhados com o modelo de ação brechtiano
contribuem na preparação dos atores ao não trabalharem com um método fechado
que visa apenas uma solução para os problemas encontrados ao decorrer das
práticas, mas soluções variadas para um mesmo conflito. Essa flexibilidade no acordo
do grupo está presente nas modificações feitas no texto teatral que é historicizado
pelos atores/autores. Desenvolvendo a consciência social e histórica dos jogadores
ao trabalhar a composição coletiva colaborativa do texto teatral que reflete o período
ao qual os atores estão inseridos.
No tópico a seguir, discorresse sobre a prática e as propostas realizadas no
componente curricular Teatro Infantil e Juvenil.
3. PRÁTICA
3.2 Descrição das práticas com os jogos no grupo, protocolos das práticas dos
jogos e análise;
mais adiante, formamos um círculo de costas para o centro escolhendo apenas uma
frase/palavra repetindo-a em diferentes entonações.
“[...] os jogos que foram passados nos ajudaram a nos conectar como grupo,
também com o espaço e com o texto. Abrir mais a mente em relação ao texto
[...] estudar novas entonações, a conhecer novas cantigas, brincadeiras [...]
tivemos trocas muito boas.”
[...] O primeiro contato que tive com o texto foi agora e através desse
jogo…me fez entender, não o texto, não entendi nada, mas pegar frases e ir
jogando assim, ajudou bastante nessa questão de entender por exemplo
onde vai o texto. [...] o início do texto, um ritmo.
Na sequência, foi aplicado o jogo “Que idade tenho? – A61” (Ver figura 6). No
qual, os jogadores teriam que começar a pensar na idade de seus personagens, os
quais possuem corpos de criança. Esse jogo foi feito duas vezes, na primeira as
personagens ficaram muito interpretadas, pouco naturais e um pouco mecânicas. Já
na segunda vez, os jogadores conseguiram trazer mais para o físico a criança.
[...] eu senti que estava representando, mão sendo uma criança [...]
“[...] “Não deveria ser assim”, a gente estava fazendo errado em um primeiro
momento e aí a gente consertou o ritmo, a percepção dos jogadores tanto do
grupo A como do grupo B, e pudemos fazer uma brincadeira que deu super
certo [...]”
No ensaio do dia 27 de abril de 2022 não foram feitos Jogos Teatrais, o grupo
focou no estudo do texto, revisando as marcações, modificando a dramaturgia e
repassando todas as cenas, para o encontro com todos os grupos na semana
seguinte.
3.3 Descrição das práticas com os jogos e no coletivo, protocolos das práticas
dos jogos e análise;
No dia de 04 de maio de 2022 foi feito um ensaio geral com todos os grupos,
os quais mostraram suas cenas da maneira que tinham pensado anteriormente. Os
coletivos começaram a trabalhar nas transições de um grupo para outro, observando
que não era necessário identificar os atores que fazem os mesmos personagens, pois
em cena eram apenas crianças brincando.
As práticas começaram com um aquecimento, sendo os jogos “Andando pelo
espaço”, “Dar e tomar” com um jogador em movimento, um anda todos andam. Na
sequência, foi feito o jogo da “Flecha” no qual se trabalha a atenção/concentração dos
jogadores e a conexão do grupo, já que os jogadores tem que olhar para os olhos da
pessoa que vai enviar a flecha. Também foi feito o jogo “Ri-ru-ra”, que também
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Nota-se no discurso de Igor o que Spolin destaque com relação ao estar livre
para jogar. Quando o jogador se sente dessa forma, se percebe no ambiente a volta,
se liberta para a experimentação, para a autoconsciência e a autoexpressão.
Aspectos importantes para a expressão teatral.
“[...] a gente consegue aumentar a limitação da nossa visão, não fica tão
pequena, você consegue observar quase atrás de você [...]
[...] percebe uma diferença muito grande no desenvolvimento, porque muitas
vezes está com vergonha ou está com alguma trava, que não te deixa falar
como deveria ser feito. E você consegue expressar o que tem que fazer [...]”
Logo após, foi aplicado o jogo “Contato – C17” (ver figura 14), no qual os
jogadores foram divididos em duplas e precisavam fazer contato físico direto com o
outro jogador toda vez que uma nova frase ou pensamento era introduzido a dinâmica.
Se não houvesse contato, não haveria diálogo/comunicação. Nesse sentido, o texto
teatral foi utilizado como modelo de ação para experimentação dos elementos da peça
“Avoar”, nos quais os jogadores utilizaram as falas do espetáculo para se
comunicarem, trabalhando assim as expressões corporais, a cumplicidade e as
entonações, visto que as mesmas sofrem alterações com os movimentos feitos.
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“O jogo foi bem interessante porque os atores tendem a ter uma dificuldade
em explorar o toque um no outro, porque colocam dentro da cena toda uma
carga pessoal. E é muito interessante ter um jogo desse para que a gente
possa trabalhar esse desprendimento [...]”
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“[...] esses jogos funcionaram para a gente melhorar o nosso foco e a nossa
desenvoltura com o nosso parceiro de cena. Então a gente conseguiu usar
muito do proposto do jogo na nossa própria peça na hora da apresentação
do nosso ensaio [...]”
“[...] Essa troca de movimentos, fez mudar até a entonação da voz [...]”
Em sua fala o jogador demonstra perceber que ao trocar de movimento sua voz
mudava de tom, uma percepção corporal consciente o que segundo Koudela,
diferencia o Jogo Teatral do jogo dramático. Aspecto importante ao se comunicar tanto
no jogo como na cena. Na figura 19, essa mudança de entonação é percebida na cena
na qual os jogadores cantam a música sapo cururu ao mesmo tempo que brincam de
pula sela.
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“[...] esse jogo serviu para a gente se inteirar melhor e conhecer melhor
nossas falas e nossos corpos também.”
“[...] ajuda muito na hora da peça, a gente a ficar mais interligado, em prestar
atenção um no outro, a jogar e a propor também.”
Como citado por Spolin, o jogo possibilita aos atores uma relação de
cumplicidade, ao solucionarem os problemas incitados. O desenvolvimento da
expressão coletiva, faz com que o grupo seja propulsor da ação, trabalhando com
suas diferenças e semelhanças. Eliminando tensões e competições dando espaço
para a harmonia entre os atores/jogadores. O que resulta em uma maior percepção
das mais variadas circunstâncias que possam vir a surgir.
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“[...] os jogos propostos hoje trazem uma liberdade que está em algum lugar
dentro da gente, a liberdade de ser criança, ser livre. Mas que de algum modo,
parece que a gente cresce. E os jogos acabam promovendo essa liberação,
desse sentimento que contribui muito para a construção da personagem.”
No discurso de Daniel nota-se como salientado por Spolin, o aspecto lúdico dos
Jogos Teatrais que o fizeram voltar a infância e sentir verdadeiramente sua criança,
contribuindo para o florescer de sua espontaneidade, e essa liberdade de
experimentação que o mesmo destaca. Além disso, os aspectos técnicos também
estão presentes, já que o estudante afirma que os exercícios teatrais o ajudaram na
construção da personagem, na realidade objetiva do palco.
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“[...] ajuda muito na conexão das cenas e transições de cena, já que é uma
peça onde a gente se desconecta muito em questão de cenas.”
Como dito anteriormente, as cenas da peça “Avoar” foram divididas entre três
grupos, nos quais os jogadores trabalhavam separadamente com suas respectivas
cenas. Quando os grupos se juntaram para um ensaio geral, o grupo de Francesca
fez algumas adaptações no que haviam pensado anteriormente, por terem tido contato
com as propostas dos outros grupos que estavam um pouco diferentes. Tal aspecto
faz parte do que Spolin e Koudela chamam de acordo de grupo, no qual surge o
material necessário para a criação de cenas. Destacam ainda que o trabalho não é
individual, mas uma construção coletiva, na qual o texto teatral não é algo sagrado
que não pode ser mudado, mas é um texto no qual se pode inserir dramaturgia própria,
sendo os atores autores da obra construída no coletivo.
Além disso, o jogo “Parte do todo #2 – A26” possibilitou que os jogadores de
outros grupos experimentassem as cenas de outros grupos e interagissem com
integrantes de outros grupos que não fossem o seu de origem, o que melhorou a
relação do coletivo e os aspectos de cena.
“[...] foi com o jogo que a gente descobriu, foi criando o que fazia sentido ou
não na peça.”
Em sua fala o estudante demonstra que os Jogos Teatrais não são apenas uma
forma de descobrimento de si ou de trabalho em grupo, mas também são uma forma
de criação de cenas, que surgem a partir do trabalho de construção coletiva.
Sendo o último dia de ensaio o grupo precisava estar em sincronia para que
fizessem um bom espetáculo, nesse sentido os jogos realizados trabalharam a
harmonia do grupo.
Figura 27 - Ensaio dia 01/06/22.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
dramático e Jogo Teatral. O ator não joga sozinho, assim como ele não entra em cena
sozinho, dialogando com o nada. Para o fazer teatral ocorrer, é necessário haver
cooperação e sincronismo entre os atores.
Em suma, observa-se que os Jogos Teatrais auxiliam no desenvolvimento da
cumplicidade do grupo, na construção colaborativa da peça e na ampliação das
potencialidades físicas, mentais e intuitivas dos atores ao abrirem espaço a liberdade
pessoal e as reflexivas sobre a prática, para que os atores joguem fisicalizando signos
interpretados pela plateia.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos teatrais. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Texto e Jogo: Uma didática brechtiana. 1. ed. São
Paulo: Perspectiva, 2010.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.
SPOLIN, Viola. Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin. 3. ed. São Paulo:
Perspectiva, 2014.
Triz. Avoar - Apresentação 08/06. Sorocaba: EM Profª. Genny Kalil Milego, 08 jun.
2022. 1 vídeo (25:04 min). Disponível em: <https://youtu.be/YOZg708BRKs> Acesso
em: 24 nov. 2022.
Triz. Apresentação – Avoar. Sorocaba: Uniso, 03 jun. 2022. 1 vídeo (25:31 min).
Disponível em: <https://youtu.be/nCNt7TrOLQQ> Acesso em: 24 nov. 2022.
Triz. Apresentação Avoar - 2. Sorocaba: Uniso, 03 jun. 2022. 1 vídeo (22:33 min).
Disponível em: < https://youtu.be/qn_vfbm3wkA> Acesso em: 24 nov. 2022.