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O CALCULISTA
De Malba Tahan
Índice
Introdução……………………………………………………………………………Página 4
1. O Encenador…………………………………………………………………Página 5
1.1. Perfil do Encenador…………………………………………………….Página 5
1.2. Estética teatral do encenador…………………………………………. Página 5
1.3. Reportório e contextualização do espetáculo no historial do
encenador…………………………………………………………………….Página 6
2. Manual do ator……………………………………………………………….Página 8
2.1. Sinopse do texto………………………………………………………….Página 8
2.2. A obra e o seu tempo…………………………………………………….Página 9
2.3. Versão cénica…………………………………………………………….Página 9
2.4. Composição do personagem…………………………………………Página 10
2.5. Construção do ator……………………………………………………Página 11
2.6. Preparação do Papel…………………………………………………. Página 12
2.7. Criação de uma Personagem………………………………………….Página 13
3. O Espetáculo………………………………………………………………Página 13
3.1. A criação cénica e a sua composição…………………………………..Página 14
3.2. Banda sonora e sonoplastia……………………………………………Página 14
3.3. Espaço cénico: cenografia, adereços e signos cénicos………………..Página 15
Conclusão……………………………………………………………………………Página 16
Referências bibliográficas…………………………………………………………..Página 17
Webgrafia…………………………………………………………………………Página 17
Anexos………………………………………………………………………………Página 18
Sinopse do espetáculo…………………………………………………………...Página 18
Ficha artística e técnica…………………………………………………………Página 18
Cartaz……………………………………………………………………………Página 20
Galeria Fotográfica……………………………………………………………Página 21
Figura 02 - Fotografia de cena. Ator Guilherme Braz, João Batista e Atriz Lavínia
Costa. 2023………………………………………………………………………… Página 21
Figura 03 - Fotografia de cena. Ator Guilherme Braz, Atriz Inês Carvalho, Ator João
Batista e Leandro Moura. 2023……………………………………………………Página 22
Figura 04 - Fotografia de cena. Ator Guilherme Braz, Atriz Inês Carvalho, Ator João
Batista e Atriz Lavínia Costa. 2023……………………………………………….Página 23
Figura 05 - Fotografia de cena. Ator Guilherme Braz, Atriz Inês Carvalho, Ator João
Batista e Leandro Moura, Atriz Lavínia Costa. 2023…………………………….Página 24
Figura 06 - Fotografia de cena. Atriz Lavínia Costa, Ator João Batista, Ator Leandro
Moura. 2023…………………………………………………………………………Página 25
Figura 07 - Fotografia de cena. Atriz Lavínia Costa, Ator João Batista, Ator Leandro
Moura. 2023…………………………………………………………………………Página 26
Figura 08 - Fotografia de cena. Atriz Lavínia Costa, Ator João Batista.
2023…………………………………………………………………………………..Página 27
Figura 09 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Atriz Nicoleta Fatu, Ator
Leandro Moura e Ator João Batista. 2023………………………………………...Página 28
Figura 10 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Ator João Batista, Ator
Leandro Moura e Atriz Nicoleta Fatu. 2023………………………………………Página 29
Figura 11 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Ator Leandro Moura, Atriz
Nicoleta Fatu e Ator João Batista. 2023…………………………………………...Página 30
Figura 12 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Ator Leandro Moura, Atriz
Inês Carvalho, Atriz Verónica Narciso, Atriz Lavínia Costa, Atriz Luana Gomes, Atriz
Nicoleta Fatu, Atriz Bárbara Pereira e Ator João Batista. 2023………………..Página 31
Figura 13 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Ator Leandro Moura, Atriz
Inês Carvalho, Atriz Verónica Narciso, Atriz Lavínia Costa, Atriz Luana Gomes, Atriz
Nicoleta Fatu, Atriz Bárbara Pereira e Ator João Batista. 2023………………..Página 32
Cenografia…………………………………………………………………………...Página 33
Figura 14 - Fotografia de cenário para a cena do rei Califa onde entram os atores:
Ator Guilherme Braz, Atriz Inês Carvalho, Ator João Batista, Atriz Nicoleta Fatu, Atriz
Verónica Narciso, Ator Leandro Moura e Atriz Lavínia Costa. 2023………..Página33
INTRODUÇÃO
No âmbito do curso profissional Intérprete Ator/Atriz, da escola profissional IDS - Instituto
para o Desenvolvimento Social, cabe no segundo ano a execução de um estágio. Neste
documento vou relatar o trabalho desenvolvido ao longo de um mês de formação em contexto
de trabalho.
O trabalho que desenvolvemos neste mês de estágio foi a criação de uma peça de teatro, com
a encenação dos alunos e de Paula Sousa. Sendo um estágio onde toda a turma participou, a
peça tem um total de 11 atores.
Nos tópicos a seguir, irei falar sobre a nossa encenadora Paula Sousa, que foi uma pessoa
incansável neste processo. Foi uma força inspiradora para todos nós com o seu bom humor e
disposição para sempre criarmos coisas novas e inovadoras. Com o apoio da encenadora,
fizemos um trabalho diferente mas gratificante, o que levou a um resultado impressionante.
Falarei um pouco sobre o nosso texto, em que consiste, a obra e o seu tempo. Vou também
explicar o processo e a criação do meu personagem, onde específico as técnicas e o modo
como o nosso texto foi encenado e levado a cena.
Iniciámos o estágio na escola, onde estivemos cerca de um mês a começar e a desenvolver o
nosso projeto de estágio. Lá fizemos os exercícios propostos pela encenadora e marcações.
Na última semana de estágio, a partir de 17 de julho, fomos para o Centro Cultural de
Carnide, em Carnide.
Assim, tivemos um dia para conhecer melhor o espaço e começar a nossa encenação para
palco. Foi tudo um processo desafiante já que foi a nossa primeira peça em palco fora da
escola. O processo de adaptação foi recebido com bastante sucesso e facilidade, com isso
conseguimos fazer muitos ensaios mesmo a três dias antes do espetáculo.
Este mês trouxe-me muitos desafios, desafios esses que para mim foram só para me fazer
crescer enquanto pessoa e enquanto ator. Este estágio foi uma experiência única que nos pôs
em contato com o mundo profissional do teatro e que com isso nos deu ferramentas muito
úteis para o futuro. E no fim, apesar de tudo conseguimos fazer um bom trabalho.
Concluindo, foi um trabalho muito bom para a minha turma já que somos todos muito
diferentes e diversificados. Fez-nos mais unidos pois tivemos que saber lidar com a
profissionalidade de cada um numa formação em contexto de trabalho. Como teatro não se
faz sozinho, isto foi mais uma vitória para a turma e para o nosso crescimento enquanto
atores.
1. O Encenador
1.1. Perfil do Encenador
A atriz, encenadora e professora de interpretação, Paula Sousa nasceu a 26 de janeiro de
1964, tem atualmente 59 anos. Desde 1983 que trabalha profissionalmente como atriz.
Licenciou-se em 1985 com o Curso Superior de Teatro pela Escola Superior de Teatro e
Cinema, enquanto bolseira da Gulbenkian. Atriz com trabalho regular há 40 anos, professora
de encenação há 39 anos, encenadora, dramaturgista, cenógrafa, figurinista, autora de
algumas peças teatrais para crianças e adaptadora de textos de autores portugueses para
Teatro.
É a Diretora Artística do Teatroesfera, que fundou há 29 anos; construiu um Teatro, o Espaço
Teatroesfera, há 23 anos.
1
http://lionel-fischer.blogspot.com/2011/05/o-teatro-fisico-aspectos-historicos-e.html
● Voltarei antes da Meia-noite; Clube dos Pessimistas; Sonho de uma Noite Verão, no
Teatroesfera em 2010;
● A Festa; Fantoches Gigantes, no Teatroesfera em 2011;
● Mary Poppins, a mulher que salvou o mundo, no Teatroesfera em 2012;
● O meu pai é um Homem-pássaro, no Teatroesfera em 2013;
● Quotidiano Anotado, no Teatroesfera em 2014;
● Clarabóia, na Barraca em 2015;
● Apeadas, no Teatroesfera em 2016;
● A Festa, na Byfurcação em 2017;
● Nem o pai morre nem a gente janta, no Teatroesfera em 2018;
● Mulher é todo Mundo, no Teatroesfera; Loja de Brinquedos, na Companhia da
Esquina em 2019;
● O amante do meu marido, Papier Productions em 2020.
Em comparação aos outros espetáculos que a encenadora fez há uma relação com o
espetáculo há o Uma Nuvem Avariada que encenou no Teatroesfera em 2005. A encenadora
referiu isso quando falou sobre o teatro físico.2
2. Manual do Ator
2.1. Sinopse do texto
O texto que trabalhamos foi adaptado de um livro, O Homem que Calculava de Malba Tahan.
A peça acabou por tomar o nome de O Calculista. O nosso texto fala sobre um matemático
persa chamado Beremiz Samir, um matemático persa e Bagdali um jovem que o acompanha
numa jornada à cidade de Bagdad. Lá Beremiz conhece muita gente que o desafia nas suas
habilidades na matemática. Depois conhece uma jovem através de uma lição de matemática,
desde então o protagonista sonha casar com essa jovem. A peça termina com o casamento de
Beremiz com Telassim, filha de um xeique3.
2
Cf.: Anexos - Entrevista ao encenador
3
xeique - é uma palavra de origem árabe que quer dizer “chefe”, “soberano”, “ancião”, “líder” ou “governador”.
O uso da expressão xeique é aplicado para denominar o chefe de uma família árabe, de um clã ou de uma tribo.
4
https://www.wook.pt/autor/malba-tahan/20818/122
nesse aspeto sendo muito meticulosa nas marcações. Nos primeiros dias de estágio fizemos
um exercício relativo à Técnica de Clown5, técnica essa muito utilizada durante toda a peça.
5
Técnica de Clown - é uma técnica que se usa no cinema e no teatro. O clown (palhaço), é uma personagem
estereótipo, com a função de fazer as pessoas rirem. Por vezes surge a fazer asneiras e truques divertidos. É um
ator satírico que brinca com o quotidiano e com as situações do presente. Em encenação, o personagem palhaço
surge envolvido em situações complexas e apela à cumplicidade do público para atrair a sua simpatia e empatia.
O personagem palhaço surge solitário ou em conjunto, como parte ou como temas de narrativa dramática.
6
IDS - Instituto para o Desenvolvimento Social, é uma escola profissional portuguesa fundada em 1993. Esta
instituição de ensino tem cinco áreas de formação: Teatro, Mediador Intercultural, Receção Hoteleira, Gestão
Desportiva e Serviços Jurídicos.
Direção e Corpo Docente. Instituto para o Desenvolvimento Social. (2023).
cultura completamente diferente do que estou habituado. Para mim não há mais nada de
enriquecedor do que aprender coisas novas e sobretudo sobre culturas novas, abraçar a
multiculturalidade do mundo e com ela criar um espetáculo que pode impressionar todo o
público que o estiver a ver. Fico muito grato porque este processo todo deste estágio só está a
contribuir mais para o meu amor pelo teatro e a pôr-me com mais vontade de trabalhar para
conseguir surpreender os outros mas sobretudo, a mim mesmo.
A preparação que fiz para esta personagem passou por um processo de aculturação e de fazer
um esforço para me sentir o mais livre possível. Ao longo dos ensaios fui cada vez mais
percebendo quem era aquela personagem que estava a fazer. Algo que me desafiou muito foi
a autoridade da personagem porque eu naturalmente não sou uma pessoa autoritária então ao
fazer toda a dramaturgia da minha personagem, aquele pouco autoritarismo que eu tinha em
mim foi crescendo cada vez mais. E aí houve evolução e a personagem ficou completa,
sempre com um sentimento de verdade.
7
Erwin Piscator é considerado um dos nomes do teatro do século XX, nasceu em 1893 em Greifenstein, na
Alemanha. O seu sobrenome original era Fischer, de origem judaica, mas teve que alterá-lo para fugir das
perseguições nazis. Criador do teatro documentário, foi ele que deu início ao estilo do teatro épico
posteriormente desenvolvido pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht, difundido no mundo todo.
quando, a encenadora dava-me indicações de espaço como, por onde tinha que andar e sair e
em que alturas tinha de falar. Sempre coisas mínimas e simples de se fazer.
Claro que, ao ensaiarmos já no espaço as coisas foram mudando, de uma forma positiva a
meu ver. A turma foi-se apercebendo das possibilidades e com elas foram explorando o que
se podia fazer. Havendo muita vontade de fazer as coisas e sempre com determinação
conseguimos tirar bom proveito do espaço que nos foi selecionado.
Em palco, sentia-me sempre muito feliz e livre. Conseguia fazer tudo o que sentia e a minha
turma fazia o mesmo. Sempre tudo em harmonia.
O meu subtexto baseava-se muito em ser uma personagem rígida mas que lá no fundo até
tinha o seu lado bom, querendo transpô-lo sempre que achasse necessário.
3. O espetáculo
Neste capítulo vou escrever sobre a criação deste espetáculo. Assim, vou começar por falar
da encenação, a seleção musical, cenografia, guarda roupa e iluminação deste objeto artístico.
A encenação deste espetáculo foi sobretudo feita com muita Técnica de Clown, a encenadora
quis sempre ter esse aspecto na sua encenação do O Calculista. Tivemos também a
oportunidade de fazer algumas coreografias sendo elas encenadas pela própria turma com
vários ensaios. Tentamos ao máximo criar um espetáculo que tenha magia, mistério, amor,
portanto levar o público para aquele mundo da matemática onde todas as personagens são
árabes. Durante toda a encenação exploramos muito o corpo árabe, aprendendo como se anda
em camelos já que esse aspecto foi muito utilizado durante toda a peça. A seleção musical8
foi feita a partir do YouTube onde tivemos que fazer uma pesquisa intensiva de bons
instrumentais árabes que combinassem com a estética da peça e as suas respectivas cenas.
Essa pesquisa foi feita por um grupo constituído por três membros da turma: Luana Gomes,
Gustavo Linhares e Beatriz Duarte. A cenografia9 da nossa peça foi muito simples sendo que,
a encenadora não quis aprofundar tanto na cenografia (devido também à falta de recursos e
tempo) e quis focar mais na nossa representação. Sendo assim, tivemos uma cena na peça
onde foi preciso um grande tapete, um tapete verde, almofadas e cadeiras. Coisas
relativamente simples mas que acrescentaram valor ao espetáculo. O guarda roupa foi
parcialmente trazido pela encenadora através da companhia de teatro da qual a mesma é
8
Cf.: Anexos - Banda sonora
9
Cf.: Anexos - Cenografia
diretora, o Teatroesfera. A encenadora trouxe muitos figurinos de inspiração árabe o que deu
uma forte ênfase aos personagens e ao espetáculo, o resto dos figurinos foi a nossa turma que
foi trazendo o que conseguia. A iluminação foi feita pelo Centro Cultural de Carnide mas a
maioria dos projetores e holofotes utilizados foram trazidos pela encenadora diretamente do
Teatroesfera. Usamos muitas cores tentando sempre dar ênfase à estética árabe.
Conclusão
Ao longo deste mês de estágio fui aprendendo muita coisa. Coisas que sei que irão ficar para
sempre guardadas na minha memória. O sentido que dou a este espetáculo tem sobretudo a
haver com o amor. O amor que sentimos uns pelos outros, o amor que sentimos pelo teatro e
o amor que sentimos por este projeto que embarcamos juntos com a encenadora. Com a sua
coragem, bravura, força de vontade, alegria conseguiu defender-nos a todos como atores e
nos expor a algo que vai para além da nossa imaginação.
Aprendi tanto neste mês de formação em contexto de trabalho, aprendi a saber ouvir o
próximo e o que ele me tem a dizer. Aprendi a ser mais humilde comigo mesmo mas também
com os meus colegas, aprendi a ser mais feliz no teatro e a ter mais prazer em representar.
Aprendi a entregar-me e a sentir a verdade, a ser verdadeiro para transpor o máximo possível
de dentro para fora. Sobretudo, surpreendi-me a mim mesmo com este espetáculo.
Concluo que, ainda tenho um longo caminho a percorrer, ainda não sou ator. Sou apenas um
aprendiz que vai crescendo a cada dia. Ao estudarmos estamos a aprofundar os nossos
conhecimentos e sei que com eles irei fazer coisas muito impressionantes enquanto ator. Fui
muito feliz neste mês de estágio e isso contribuiu para que a minha relação com a turma
melhorasse e a minha paixão pelo teatro aumentasse.
Ainda tenho que melhorar a minha dicção, as minhas expressões faciais e corporais, a minha
forma de falar, de andar, de ver as coisas, de sentir as coisas, tenho que ser mais verdadeiro e
entregar-me mais. Enfim, muita coisa. Coisas essas que sei que com muito trabalho e
dedicação são alcançáveis. Basta eu acreditar mais em mim. E acho que é o que tenho que
preciso melhorar, acreditar nas minhas capacidades. Acreditar que consigo fazer mais e que é
possível.
As minhas dificuldades foram sobretudo a aceitação do assunto da peça e o facto de a mesma
ter matemática. Nunca tive uma boa relação com a matemática então à partida, esta peça não
foi recebida de bom agrado para mim inicialmente. Mas as minhas maiores conquistas foram
ultrapassar todos os preconceitos que tinha em relação à matemática e à peça que íamos
apresentar, entregando-me completamente ao projeto e à personagem.
Ainda há muito que fazer neste curso onde estou a frequentar, o caminho ainda não chegou ao
fim, mas sinto-me confiante que irei chegar ao fim com um grande sorriso no rosto e cheio de
orgulho no meu trabalho e no trabalho dos meus colegas. Tenho que superar o meu medo de
me julgar tanto quanto cometo erros, estou a aprender que nesta vida todos nós erramos mas
isso não significa que errar seja algo mau. É só mais um passo para a excelência, errar. Errar
é humano e por isso tenho que superar esse medo.
Este estágio foi muito gratificante para mim, pois cresci imenso como pessoa e como ator. E
estou ansioso por continuar neste caminho e ver o que ele guarda para mim, sejam coisas
boas ou coisas más tenho a certeza que com força de vontade e determinação sou capaz de
superar e enfrentar tudo.
Referências bibliográficas
Webgrafia
Direção e Corpo Docente. Instituto para o Desenvolvimento Social. (2023). [Em Linha]
Disponível em (https://ids.edu.pt/direcao-corpo-docente/) [Consultado em 20/07/2023]
Anexos
Sinopse do espetáculo
A turma 14 apresenta um espetáculo sobre um calculista persa, Beremiz Samir que ao longo
da sua jornada pelos caminhos da cidade de Bagdad conhece várias pessoas que irão testar as
suas habilidades na aritmética. Conhece Bagdali, um jovem da cidade que irá se tornar no seu
parceiro, com ele embarca em várias aventuras tendo sempre a matemática a seu lado. Este
calculista com as suas habilidades no cálculo consegue provar que com a matemática o amor
também é possível, tornando-se nos homens mais invejados de Bagdad.
Podemos dizer que todos que virem ver este espetáculo irão ficar impressionados com as
habilidades deste geometra persa, bem como o clima e a estética deste espetáculo. Pois ele
inclui elementos que irão levar o público para uma jornada pelo mundo do Islão.
Cartaz
Figura 01 - Cartaz
Galeria Fotográfica
Figura 02 - Fotografia de cena. Ator Guilherme Braz, João Batista e Atriz Lavínia Costa.
2023.
Figura 03 - Fotografia de cena. Ator Guilherme Braz, Atriz Inês Carvalho, Ator João Batista
e Leandro Moura. 2023.
Figura 04 - Fotografia de cena. Ator Guilherme Braz, Atriz Inês Carvalho, Ator João Batista
e Atriz Lavínia Costa. 2023.
Figura 05 - Fotografia de cena. Ator Guilherme Braz, Atriz Inês Carvalho, Ator João Batista
e Leandro Moura, Atriz Lavínia Costa. 2023.
Figura 06 - Fotografia de cena. Atriz Lavínia Costa, Ator João Batista, Ator Leandro Moura.
2023.
Figura 07 - Fotografia de cena. Atriz Lavínia Costa, Ator João Batista, Ator Leandro Moura.
2023.
Figura 08 - Fotografia de cena. Atriz Lavínia Costa, Ator João Batista. 2023.
Figura 09 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Atriz Nicoleta Fatu, Ator Leandro
Moura e Ator João Batista. 2023.
Figura 10 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Ator João Batista, Ator Leandro Moura
e Atriz Nicoleta Fatu. 2023.
Figura 11 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Ator Leandro Moura, Atriz Nicoleta
Fatu e Ator João Batista. 2023.
Figura 12 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Ator Leandro Moura, Atriz Inês
Carvalho, Atriz Verónica Narciso, Atriz Lavínia Costa, Atriz Luana Gomes, Atriz Nicoleta
Fatu, Atriz Bárbara Pereira e Ator João Batista. 2023.
Figura 13 - Fotografia de cena. Atriz Beatriz Duarte, Ator Leandro Moura, Atriz Inês
Carvalho, Atriz Verónica Narciso, Atriz Lavínia Costa, Atriz Luana Gomes, Atriz Nicoleta
Fatu, Atriz Bárbara Pereira e Ator João Batista. 2023.
Cenografia
Figura 14 - Fotografia de cenário para a cena do rei Califa onde entram os atores: Ator
Guilherme Braz, Atriz Inês Carvalho, Ator João Batista, Atriz Nicoleta Fatu, Atriz Verónica
Narciso, Ator Leandro Moura e Atriz Lavínia Costa. 2023.
Objetos de cena
Figura 15 - Objeto de cena. Corda usada na cena dos camelos pelos atores: Ator Leandro
Moura, Ator Gustavo Linhares, Atriz Beatriz Duarte e Atriz Inês Carvalho. 2023.
Figura 16 - Objeto de cena. Conjunto de bar usado na cena da taberna usado pela atriz: Atriz
Bárbara Pereira. 2023.
Figura 17 - Objeto de cena. Sacola usada pelo ator: Ator Leandro Moura. 2023.
Banda sonora
● https://youtu.be/bEclKKLHhXk
● https://youtu.be/oemMDTcWuOY
● https://youtu.be/X5_bBFfJOZo
● https://youtu.be/GvKeNrNcd5w
● https://youtu.be/h0-31c7qC3I
● https://youtu.be/yO-IwvWrpAI
● https://youtu.be/fe8qRj120hY
● https://youtu.be/PfVk0FT5P5A
● https://youtu.be/9jDzEmfv4zM
● https://youtu.be/NTMswT6COEM
Entrevista à Encenadora
De seguida segue-se uma entrevista que a turma fez à encenadora. Abdicamos uma tarde para
a mesma sem ter prejudicado os ensaios.
Paula Sousa: Tens a certeza que queres começar por aí? Eu gosto de muitos estilos. Eu gosto
de fazer tudo. Estou a pensar nas coisas que me marcaram mais… Não é o Clown como atriz,
apesar de gostar muito do Clown, mas gosto do dramático gosto de explorar e deixar deitar cá
para fora faz-me muito bem à saúde fazer isso e resolve-me muitos problemas. Gosto de me
divertir, é o absurdo. Pronto, é o absurdo, é a minha onda. É a minha praia. Como
encenadora, é o teatro físico mas, para “as ondas” do absurdo e criar realidades. Eu não gosto
do realismo nem como atriz nem como encenadora. Portanto gosto de voar, de sair do que é
tudo muito normal, talvez por isso a televisão nunca me atraiu. Porque isso não me dá gozo.
É pouco para mim. Gosto do que não é realista.
Beatriz Duarte: Porque é que escolheu esta peça? Porquê este livro? Porquê a adaptação
desta peça?
Paula Sousa: Olha, porque nós no teatro recebemos muitos desafios não é? Não é só fazer
espetáculos da companhia e apresentar não é? Muitas vezes fazem-nos encomendas. E eu
acho que vocês têm que começar a pensar nisso, porque muito provavelmente vai ser por aí
que se calhar vocês vão arrancar a vossa vida profissional. Se não houver uma companhia que
vos encaixe, vocês têm que se mexer. Têm que vender espetáculos, têm que apresentar
propostas e uma coisa que realmente há é a rede das bibliotecas. Na rede das bibliotecas,
pedem-nos coisas curtas e com temas e muitas vezes para crianças, muitas vezes para as
crianças mais pequeninas. Este não servia para crianças pequeninas, obviamente não é? Mas
para o básico, que vai até ao 5º, 6º ano.
Beatriz Duarte: Então acha que nós devemos ter contacto com outros tipos de experiências
sem ser o teatro “tipo dito normal”?
Paula Sousa: Têm. Porque são as saídas que vocês têm. Eu acho que no início, até vocês
serem vistos por alguém, têm que se mexer e é mais fácil com estas por aqui. É vocês criarem
um projeto, tentarem vender a bibliotecas, por exemplo. E aqui te dão o tempo, matemático,
pronto. Lembram-se do que eu disse no início? Fui pra net, “o que é que há de matemática?”,
depois apareceu isto “olha que giro”. Mas fui ver “será possível?”. E depois a minha vontade
de fazer. É que eu gosto muito de matemática, tenho esse fascínio pela matemática, mas o
desafio para a encenadora, foi “como é que eu vou fazer aquelas demonstrações em
espetáculo?”. Eu desafiei-me, eu tinha este desafio para fazer a mim própria também.
Inês Carvalho: Já estamos na hipótese de dizer que estamos na reta final do estágio e eu
queria perguntar assim por lista do primeiro ao último, quais os desafios que mais teve que
enfrentar e ultrapassar connosco, com a nossa turma, com a evolução, a construção, e o
processo?
Paula Sousa: Portanto, vocês perceberam que já me tinham dito que vocês eram muito fora
da caixa, portanto que nos encaixavamos bem uns com os outros. Portanto estes não vão criar
nenhuma barreira por eu estar a fazer estas coisas, pronto aí fiquei mais à vontade, fixe. Então
vamos nos divertir. Depois comecei por vos fazer um “workshopzinho” de Clown para vos
passar alguns códigos, mas também era para vos mandar a vocês por causa do casting não é?
Portanto já a ver como é que vocês eram e serviu para mim. Portanto já foi essa a minha
ideia, para ver como é que são. Depois a seguir com as leituras, também tomo muita atenção
às vozes, aos tons das vozes. Portanto não é só ficarem bem uns com os outros e fazerem uns
pares. Eu gosto. Até porque vem muito de cá a minha língua de gostar de teatro do absurdo
de procurar sempre como são parelhas, opostos. Por acaso tem que haver com o Clown, o
teatro físico, mas é outro ramo. O Clown é o palhaço bonzinho, não é? E há o Bufão, eu não
vos falei no início do Bufão? Pronto, porque há o teatro físico, depois há o teatro máscara,
depois o Clown é a máscara mais pequenina que existe e portanto tem a técnica do teatro
físico não é? O teatro máscara. Mas o palhaço faz asneiras e falha muito e erra muito mas não
é mal intencionado. É bonzinho e ingénuo. O Bufão não. É o palhaço mau, é o palhaço que se
quer vingar de toda a gente que lhe fez mal na vida pôr os outros a rir. Esse é que é chincalha,
esse é que confronta e nesse trabalho de Bufão, quando se escolhe as parelhas têm isto dos
opostos. Ou seja, eu ia trabalhar convosco. Por exemplo, está um grupo a trabalhar, quem é
que será a minha parelha? Há de ser novinha, porque eu já sou velha que seja o oposto de
mim. Porque assim é que funciona depois bem os Bufões. Porque também a haver com a
parte que se vê não é? Aprendeu tudo. Depois vi que vocês funcionavam bem, mas isto que
eu também chamei logo à atenção para ver quem é que pode ser quase assistente da
encenação, porque eu preciso de alguém que me tome conta das coisa. Porque também
precisávamos de ver quem era o grupo de pessoas em que eu podia confiar. Tenho tido
desafios mas não tenho tido dificuldades, as coisas estão a correr bem, têm sempre ido
sempre. Eu acho que está a ir normal. Por isso isto foi tão rápido, nós estamos a fazer uma
coisa super rápida e como marcamos tudo “tum tum tum”. Tinha ali sempre o Gustavo, a não
concordar com as minhas ideias mas depois a gente chegou lá.. Não, estou a brincar. Eu gosto
que também me desafiem.
João Batista: Qual a estética teatral que se inspirou para fazer a nossa peça?
Paula Sousa: Teatro físico. Isto é teatro físico. As várias vertentes do teatro físico. Mas isto
não é Clown.
Luana Gomes: Mas considera que esta é a sua estética teatral? Ou utilizou essa estética em
específico para esta peça?
Paula Sousa: É assim, eu comecei a minha vida profissional como atriz e como professora,
sempre nos secundários. Portanto a parte da encenação veio porque comecei a sentir-me
segura de estar tantos anos a dirigir alunos e a gostar de dirigir, foi por aí que chegou a
encenação. Que eu achava sempre que “a encenação não, porque é muito difícil. É muita
responsabilidade.” mas depois com a prática como fazia espetáculos sempre nas escolas,
comecei a perceber que até tinha umas ideias engraçadas. E não sabia Clown. Portanto era
uma atriz, que eu já vos disse que fiz o Conservatório. O que é que me deram? Brecht.
Espera, deixa-me pensar… Primeiro ano é uma coisa assim geral, que foi a preparação do
ator. O segundo ano foi Gil Vicente, Brecht, e Shakespeare. Depois fizemos tragédia, fizemos
Lorca, Tchekov. O naturalismo não é? Portanto, são as técnicas. Isto é o que eu sabia, depois
fui para A Barraca, e n’A Barraca aprendi muitos truques com a Céu. Foi generosa, foi
dizendo, eu também sou generosa e eu também digo truques. Tenho em cena muitos truques
para os alunos. Mas ela foi me dizendo tudo. Ela pode ser muita coisa, mas para mim foi
muito porreira. Simpatizou comigo. Entrei com dezanove “aninhos” n’A Barraca. E a
primeira turné, calhou-me a Céu nos quartos e portanto havia ali muita conversa. Depois n’A
Barraca fizemos o absurdo, cheguei a fazer com a UNESCO lá. Portanto fui fazendo muitas
coisas, depois formei o Teatroesfera que saiu da A Barraca. Vocês estão a fazer-me umas
perguntas… vocês não começaram no início da minha vida para eu vos explicar melhor o
currículo, o desenvolvimento, “o que é aquilo?”. Mas tive nove anos n’A Barraca, também
como se calhar dava aulas desde 85, o Hélder Costa também já me punha a marcar cenas nos
espetáculos dele. Começou-me a dar essas responsabilidades. Portanto eu ia já com colegas,
depois fiz o Teatroesfera. No Teatroesfera, éramos um grupo de atores convidavamos a
encenar… Ah! Na A Barraca, era sempre o Hélder Costa, agora se calhar até tem mais
encenadores mas na minha altura, durante nove anos foi sempre o Hélder Costa e eu
precisava de trabalhar com encenadores diferentes. Ah! E ia fazendo os cursos da Gulbenkian
que foi uma coisa que deixou de haver, tenho muita pena porque eram professores
espetaculares mesmo. Os das técnicas, no teatro o Eugénio Barba, eu tive mesmo com ele e
encenei. Também aprendi muito, tem que haver com a palavra, o movimento. Portanto, esses
são os cursos da Gulbenkian. Depois, tinha a necessidade de trabalhar com outros
encenadores, outras linguagens e portanto o Teatroesfera também foi feito um bocadinho para
isso. Para nós experimentarmos. Então eram sempre encenadores diferentes, cada peça tinha
o meu monólogo. Foi fixe durante uns anos. Depois foi em 93, que eu fiz a minha primeira
encenação profissional, foi num espetáculo sobre a história da música, pronto com músicos
mesmo que se contava a história da música e a evolução da música. A seguir o degrau assim
para encenadora, acho que foi em 2004, vocês conhecem o João Ricardo? O João Ricardo era
fundador do Teatroesfera, é o meu amigo e é padrinho do meu filho, éramos irmãos pronto.
Isto é tudo feito pelo João Ricardo. Estão a ver o Clown? Depois que vai entrar, de onde é que
veio? Veio do João. Em 2004, o João ia encenar um espetáculo que se chamava “A Nona” e
desapareceu. Para aí 15 dias antes e disse-me que não fazia e já tínhamos a equipa e já
tínhamos tudo. Ele “faz tu, não posso agora não consigo”. Teve medo porque ele começou a
ver que aquilo era muita responsabilidade. E estava lá o elenco, passei para fora não é? Aí é
que entrou a Isabel Ribas que agora está ali no Teatroesfera. E eu passei para fora para
encenar. E então, porque primeiro a história da música fui eu que escrevi, agora essa “eu não
quero estragar nada”, foi dos meus medos mesmo. Foi escrito por mim, posso estragar esta
coisa toda não é? Mas não, foi um espetáculo que correu muito bem e esse então foi sempre a
esgotar. Saímos dali para ir para Lisboa, saiu na Casa do Artista a esgotar foi assim um êxito.
E aí convenceu-me, “então se calhar sou encenadora” e a partir daí comecei já também a
encenar.
Beatriz Duarte: E ainda voltando ao teatro físico que estava a falar que escolheu como nossa
estética teatral, porquê o teatro físico? Há alguma razão específica?
Paula Sousa: Não. Portanto, depois continuei a encenar, agora deixa-me ver em que ano, lá
diz alguma coisa que diz “Nuvem Avariada”, foi o primeiro espetáculo de Clown no
Teatroesfera. Eu e o João, o que é que decidimos? Pensar a Clown, portanto não ter muito
texto é situações. Portanto pensamos na história toda, tinha uma piscina em cena e tudo. Eles
tinham fatos de mergulho por baixo do guarda roupa porque aquilo acabava tudo encharcado.
Lá tinha uma nuvem por cima do Teatroesfera e depois despejava-se, era muito fixe.Aí o
cenário foi meu, eu gosto muito de fazer cenários também. E aí o João Ricardo começou a
dar primeiro um workshop de Clown no Teatroesfera, começar a dar isto da linguagem do
palhaço. Gostei, mas ele deu aquilo assim muito pela rama, só queria aproveitar para o
espetáculo. Percebes? Não deu a técnica de Clown, os exercícios todos e o que era preciso. E
então mais tarde… Mas eu gostei, aquilo ficou-me ali, não mudou a minha vida mas fiquei ali
com as “orelhinhas”, “então mas o que é isto?”. E então, outra pessoa foi a Ana Pino que fez
a escola de Mongkok, era dos Narizes Vermelhos e dava cursos era professora. E então aí, eu
convidei-a a ela ir dirigir um espetáculo de Clown no Teatroesfera. E aí ela deu aos atores um
workshop a sério de Clown, pronto aí aprendi uma data de exercícios e tudo. E depois o
espetáculo acabou por…Opah, porque é assim isto pode-se ser muito bom ator e às vezes não
se tem capacidade para dirigir e a Ana que era muito boa, era extraordinária mas depois a
gente, estávamos a ver que não conseguiamos estrear. Porque nunca mais se acabava o
espetáculo que é Clown que se está sempre a criar e aí houve ali um… Não fui eu juro mas
foram os atores que se viram todos e diz “Não alguém tem que estar mesmo de fora a
dominar isto, porque tem de se acabar o espetáculo” e aí então eu saltei e acabei por ser a
encenadora e endireitei aquela coisa toda do Clown. Mas tive a fazer o workshop e a Ana
Pino ia sempre dizendo “tava certo, tava mal” “ pode ser isto…” sabes? Pronto e começou a
ser assim. Depois a Ana Pino ainda voltou lá a fazer outro espetáculo com mais técnica de
Clown, íamos formando os atores. Mas esse primeiro curso de Clown é que eu sinto que vos
disse que mudou a minha vida. Para já porque foi feito muito a sério e tudo, e esta coisa do
falhar não é mau. Falhar não é mau para mim, porque vocês já viram que eu sou muito
distraída percebes? O quotidiano para mim é muito difícil. Eu já fiz um espetáculo que se
chamava “Quotidiano Anotado” porque para mim o quotidiano…percebes? Eu fico farto de
viver com a Paula, é chato aturar a Paula. Eu faço o dobro do caminho, vou e esqueço-me.
Não trouxe o telemóvel hoje. Passo a vida nisto. Pronto, é chato viver comigo, mas já me
habituei e já não fico tão chateada…Porque o Clown, epah sou assim que se lixe! Continuar
para a frente pronto. Isto é Clown. Isto é a teoria do Clown. “Deixa de ter problemas” porque
comecei a ver a vida assim, eu acho que é uma boa forma de ver a vida como o Clown.
Bárbara Pereira: Qual foi o trabalho que mais gostou de fazer? E porquê?
Paula Sousa: Se tu vires lá na biografia,que tá lá…deve dizer. Como n’A Barraca são muitos
eu costumo pôr só…destacar um ou dois. Olha por exemplo, ou então se eu disser “os
espetáculos que destacas na tua vida?” não é? O primeiro foi quando entrei para A Barraca
que era “Um dia na capital do império” e foi uma coisa maravilhosa. Eu estava no segundo
ano do Conservatório, e fui chamada no segundo para fazer dois espetáculos no Teatro
Nacional, eu era gira e boa. E agora estou com mais quarenta anos em cima. Eu juro…as
minhas colegas… Quase que me odiavam, porque íamos fazer casting, e eu até já me sentia
mal porque ficava sempre eu. E depois “já será que eu sou mais alta?”, eu já não percebia. Eu
já me sentia mal. Agora quando vejo fotos antigas, “eu era gira” mas eu na altura não sabia.
Eu não tinha noção, agora é que vejo percebes? Porque penso “será que eu sou alta?”;
“porquê que me escolhem sempre a mim?”. Porque eu tinha a Rita Marques, Custódia Grego,
eram as minhas colegas de turma não é? Íamos todas e calhava sempre eu. Elas ficavam com
os restos, portanto fomos para o Nacional, e fui eu que fui para o Nacional elas já aí
começaram a odiar-me um bocadinho. Não me odeiam porque agora somos amigas, mas
pronto. Quando estávamos no Nacional, estávamos a acabar a segunda peça e vimos o…que
estava na sala, A Barraca que estava lá no Teatro Nacional na sala estúdio. E adorei, e tinha
ganho os prémios nesse ano com aquele espetáculo. Não é que na semana a seguir, as minhas
colegas foram tramadas, porque estamos a acabar as aulas e eu vejo-as todas muito bem
vestidas, estás a ver? “Porquê que vocês vêm todas em piriquites?”; “Ah, esquecemo-nos de
te dizer, temos um casting n’A Barraca para “Um dia na capital do império ""; “Mas tu és
para vir, esquecemo-nos de te dizer”. E lá fomos, elas todas giras e eu de calças de ganga. E
lá fui, tiveram azar, A Barraca gosta mais das de ganga e as que não são penteadas. Percebes?
Pronto, lá fomos todas mas fiquei eu. Agora imaginem, isto foi numa segunda feira… Aí
fiquei contente porque vi que elas me estavam a fazer aquilo. Ah mais… é porque eu já
estava a fazer… como tinha ido para o Nacional, havia o teatro radiofónico na altura e eu
estava no teatro radiofónico. Eu estava com tudo nessa altura, mas eu gostei muito daquele
espetáculo, percebes? Eu levei um ralhete nas dobragens, há alturas na vida que nos acontece
de tudo. Fui convidada para as dobragens, já estava no teatro radiofónico, depois no teatro
radiofónico encontrei João Pedro Henrique que me convidou para as dobragens. Como
aquilo já era demais para mim, eu disse à Rita que eu era amiga da Rita e a Rita Blanco
ficávamos sempre com os mesmo papéis, dividíamos…sabes? A mesma personagem sempre
dividiam. Calhava sempre o mesmo casting lá no Conservatório. Depois levei o ralhete do
João Pedro Henrique “Eu pedi-te a ti não foi? Acho que não era ouvir”. E aí percebi, “eu
afinal é que devo ter muita sorte”. O que tinham falado a mim, não tinham falado à Rita.
Levei na cabeça e nunca mais voltei a fazer isso.A gente vai aprendendo. O que é que
aconteceu? Depois era também uma coisa à A Barraca, que é na segunda ao fim no dia, não
é? Porque nós fizemos as aulas todas e fomos lá fazer o casting e esperamos pela resposta e
ele diz assim “Ah mas é para um sábado dessa semana, já vais fazer. Sábado à tarde”.
Portanto tinha a terça, quarta, quinta e sexta para ensaiar. E era um papel grande para várias
cenas, mas consegui. Ainda por cima, no Nacional nós tínhamos espetáculo sábado à tarde e
sábado à noite, tudo esgotado porque eu estava a dizer que eles tinham ganho uns prémios
portanto aquilo estava sempre cheio. E tinha a Eunice Muñoz, portanto no início. E é o que eu
considero muito como estreia profissional, foi esse espetáculo no Nacional. Esse é que foi
muito difícil porque foi para mim em quatro dias fiz aquilo. Tudo em rimas porque era do
Chiado, aquela coisa era parecida com Gil Vicente. Dizer tudo de uma forma natural, no
Nacional uma peça que as pessoas vão ver que ganham um prémio e eu não podia
fazer…estás a ver? Mas safei-me. Portanto isso foi muito marcante na minha vida essa peça,
“Um dia na capital do império”. Depois a outra que foi, uma que se chama “O Baile”. Existe
um filme que se chama “O Baile” do Ettore Scola que é o realizador que conta a história de
França e o Hélder Costa fez exatamente, é como se passa numa sala de baile a contar a
história de Portugal. E não falávamos, era tudo músicas e apresentamos. Ainda não havia
Clown nessa altura, ainda não havia isso. Um êxito. Eu só vos estou a dizer o que me correu
bem não é? Aí foi extraordinário porquê? Porque como não havia texto corremos os festivais
no mundo. Portanto mostrou-me o mundo, depois fomos para a Europa, entre vários sítios,
para o Brasil fazer “O Baile” e era os bonitos porque aquilo era tudo muito jovens e bonitos.
Então aquilo enchia, ou seja, eu fui para “O Baile”, numa altura quando fui para o Brasil onde
aquilo foi um êxito no Brasil. Portanto estava na moda ir ver o nosso espetáculo, nós
estávamos para ir uma ou duas semanas, tivemos um mês e tal. E então, estávamos num
teatro a esgotar mas depois vai entrar outro espetáculo que eles já tinham marcado mas,
estava já outro a oferecer-se e nós mudávamos e já estava a esgotar do outro lado foi tudo
semanas assim. E depois a abertura de discotecas e lá íamos, estão a ver não é? Como se
fosse eu agora aqui… Nessa altura ainda não era assim em Portugal mas no Brasil já era e
portanto isso também foi assim uma coisa na minha vida… Uma perspectiva diferente. E eu
gostava muito de fazer “O Baile” porque eu gostava muito de dançar. Eu gostava muito de ser
bailarina, não fui bailarina porque quando descobri que tenho princípio de espinha bífida. Na
altura fui para o Flamengo e foi no Flamengo que isto estragou. Tenho princípio de espinha
bífida, a coluna não é? Tem o cóxis e há pessoas que a coisa… É a cauda. Quem tem mesmo
mesmo na cauda, não anda. Anda em cadeira de rodas. Eu tenho príncipio, portanto só posso
fazer natação, yoga e essas coisas. Portanto faço yoga para muscular as costas para me
defender. Porque eu gostava muito de dançar e portanto “O Baile” tinha isso também. Eu
dançava do príncipio ao fim, as danças todas de salão. Depois, outra muito importante foi
quando n’A Barraca, a seguir ao “O Baile”. A Barraca era ao pé do Rato, assim uma coisa
velha, um bocadinho maior que isto mas era assim uma coisinha no Rato. E foi quando foi a
mudança para o Cinearte e depois na altura eu estava na direção da A Barraca quando houve
a passagem, a Céu arranjou aquilo para Santos lá com o Presidente da Câmara de Lisboa.
Mas aprendi que eu aí ia às reuniões com a Câmara, eu ia com a Ceú estou só a dizer isto para
explicar como é que eu depois consegui fazer o Teatroesfera que isto serviu para eu aprender
tudo. E depois para eu lançar e fazer o resto não é? Porque tive esta experiência da passagem
da A Barraca de um lado para o outro. O espetáculo de abertura n’A Barraca não era uma
coisa extraordinária, era sobre ciganos mas para mim foi muito importante, para já porque eu
era a protagonista e n’A Barraca a Céu não ser protagonista já era uma coisa… E a Céu
estava em cena e eu é que era. Isto já era uma coisa… Portanto foi muito importante ser a
abertura do espetáculo do Cinearte. Portanto isso foi um presente que a Céu me deu, acho eu
na altura, eu que inventei. Depois disso n’A Barraca foram estes, estes noves anos. Depois no
Teatroesfera…Ah! Também gostei muito, tem uma perspectiva A Barraca. Aquele que vocês
viram que também há em filme, mas em filme a minha personagem ficou prejudicadíssima,
em teatro era completamente outra coisa porque eu estava sempre em cena. Em filme como
aquilo só se vê quem é que está a falar, perdeu imenso a minha personagem. Mas adorei
porque só tinha quatro cenas e ficavam super marcantes no espetáculo, não é preciso ser o
que “fala fala”, chama-se a “A Mi e Nu”, vocês conhecem os atores da A Barraca? Fazia de
meu marido era o Sérgio Moras, fazia de casal comigo e gostei muito de trabalhar com ele.
Porquê? Eu fui para lá com uma depressão, eu estava a viver uma depressão e a Céu
convidou-me para encenar e a personagem era deprimida. E portanto, foi pesado porque tive
que arrastar… Eu estava a tratar-me mas ficas sempre naquela onda quando estás a fazer
aquela personagem não é? A Céu sabia que estava com depressão sendo que no final ela
disse-me. E depois estava muito magrinha. Epah eu era violada, batiam-me… Era muito forte
a minha personagem. E ainda por cima estava deprimida porque tinha morrido uma filha,
portanto era uma mãe… E gostei. E tinha… atores, éramos 17 atores em cena e era atores das
várias décadas d’A Barraca e foi muito interessante. Esta da depressão chama-se “Claraboia”
do Saramago. Foi interessante quando fizemos os jantares finais porque correu sempre muito
bem, depois a RTP até gravou. A Céu no jantar disse “Eu peço desculpa”, porque eu
deprimida seria mais natural não me darem isso às mãos para fazer porque era uma coisa para
eu sair dessa não é? E não outra coisa para eu ficar lá enterrada. Só que resultou muito bem
no espetáculo porque eu acho que devia ser isso, a verdade no futuro estava mesmo assim.
Vocês não imaginam o que eu passei. Foi uma coisa marcante na minha vida mas correu
muito bem. Pronto, no Teatroesfera… É engraçado como eu me lembro, estou a lembrar-me
mais destas d’A Barraca, é engraçado no que dá…Já é há mais tempo não é? Já tem vinte e
tal anos. Gostei muito de… É quando eu aprendo qualquer coisa, nestas de Clown. Gostei
muito da “A Nona” que depois acabei por entrar também a fazer “A Nona”. Vou vos contar
na “A Nona”, como eu digo é super importante os finais na “A Nona”. É sobre a ditadura na
Argentina e, o que é que era? A Nona é a avó, não é? Era uma família em que havia a avó e
só comia, é como se fosse a ditadura, só comia. E portanto aquilo começa com uma família
modesta e normal mas depois a neta tem de se prostituir para arranjar dinheiro para comer
percebes? E a ver-se a família a decair toda e a velha sempre a pedir para comer, ou seja, a
velha representava a ditadura. E no final, o que é que eu inventei? Para o final para dizer que
morrem… Porque morrem todos, acabava por morrer a família toda. Começa em comédia e
acaba em tragédia. Vocês viram o filme do Buster Keaton, daqueles filmes mudos antigos, há
o Sherlock de Buster Keaton que é a fachada de um prédio a cair e depois ele cai de uma
janela, portanto não lhe cai a fachada do prédio em cima, é um prédio e está aqui uma janela
e o Buster Keaton está aqui… Eles fizeram mesmo assim, gravaram assim. E portanto cai, a
fachada que não é a fachada, aquilo é a fingir que é uma fachada. Vem uma parede e depois
ele fica em pé naquele bocadinho. Eu fiz o cenário no Teatroesfera, uma parede de 6 metros
por 6, estás a ver o tamanho todo do final? Onde estava o ecrã era parede, depois eles tinham
a cozinha que ficava junto à parede, depois tinham o resto para aqui. O que é que era? Ah! A
que fazia, já estava tudo morto sozinha, era muito cuidado porque tinhamos lá, essa aí era
uma marca para um banco baixinho e ela estava lá num banquinho e vinha aquela parede, não
era de cimento. Eram um painéis, só que era aquela coisa de…. Era muito engraçado porque
eram os cabelos e as saias das senhoras todas a voar pelo painel mas, e a… estava a dizer que
queria comer pipoca e tinha aquela de como quem diz “vou matar a velha” não é? Ela escava
no buraquinho, caia a parede e a gente dava um grito e ela continuava “quero pipoca” e
continuava… Foi assim das ideias mais brilhantes da encenação que eu trabalhava. Toda a
gente dizia “Eia aquele espetáculo tinha a parede” e foi muito engraçado porque nós
pensámos que era preciso umas correntes para aquilo cair com jeitinho não é? Porque
senão…E não, não é preciso nada, cai sozinha assim devagarinho com a resistência do ar. Foi
muito engraçado, isso é que eu não imaginava foi fácil, não foi preciso mecanismo nenhum.
Ah mais…gostei muito… Estou-me a lembrar agora de um espetáculo que fiz porque eu fui
fazer o mestrado de Teatro em Comunidade, e fui aprendendo lá umas coisas e depois quis
tentar não é? E fiz o espetáculo de um ator de Monte Abraão do absurdo que eu gosto muito,
tinha sido amigo dos meus pais, eu conhecia-o. E depois acabei por ir aos livros dele e
consegui fazer um espetáculo. E fiz com pessoas da comunidade também, tinha atores
profissionais e pessoas da comunidade a falar…fazia um escritor e chamava-se “Quotidiano
Anotado”, tinha eram os velhotes do meu grupo de teatro lá do Monte Abraão, tinha os
jovens que eram os estagiários da Gil Vicente, 12º como vosso, apanhei-os ali e mais um
grupo de atores profissionais. E foi muito giro, resultou muito bem, foi assim das coisas giras
que eu gostei de fazer. E depois mais… Assim como atriz não me estou a lembrar. Não me
estou a lembrar assim de nenhum mais marcante.
Beatriz Duarte: Qual foi, por exemplo, na nossa peça qual foi a mensagem que quis passar
ao público? Qual é o intuito? Quando pensou fazer a peça, o que quis passar com esta peça?
Paula Sousa: Que a matemática é maravilhosa. Que é magia e tem magia. Parece magia, é
isso que eu acho que fica giro. Por isso é que eu digo que as pessoas vão estar com muita
atenção porque os problemas parecem mesmo impossíveis. Aquele dos 36 camelos, junta um
camelo… Acho a matemática maravilhosa, é esse fascínio que eu tenho pela matemática E
acho muito giro se conseguirmos passar isso a alguém.
Bárbara Pereira: Existe alguma relação entre espetáculos já encenados por si e este
espetáculo e este projeto?
Paula Sousa: É assim que ensino. É isto porque é com tudo o que eu fui fazendo na minha
vida vai juntando, não é? Porque isto não é Clown puro, são outras coisas que eu já tinha
aprendido antes, depois já junto, que eu gosto muito porque eu gosto muito das reações com o
público que eu já disse que gosto de dominar o olhar do público. E que olhem para onde eu
quero e a técnica de Clown facilita-me completamente a vida. Olham para onde eu quero.
Paula Sousa: Olha… Eu tenho pensado nisso e ainda continuo a pensar. Porque agora
descobri, o meu tio que morreu em janeiro e depois fomos às coisinhas dela, aquelas coisas
que estão no anel até, aquelas coisas que trazem as famílias, não é? E ao mesmo tempo,
estava lá um envelope com um texto e depois eu fui ver o que é que era, era o meu avô. O
meu avô escrevia peças de teatro. Percebem? Eu não percebo… Eu não sabia. E nunca me
impuseram porque foi novidade eu de repente querer ir para o Teatro. Eu sei que era no liceu
facilitava-me a vida, quando temos que fazer trabalhos para apresentar, eu escrevia peças. As
minhas apresentações eram em peça. Eu fazia os diálogos. Era a única coisinha que havia
antes de chegar à altura do Conservatório era eu fazer isso. Mas eu não sabia isto do meu avô.
Porque eu não sabia que havia alguém da família assim como eu, afinal havia. É muito giro.
E depois é que elas me disseram que tinha sido ator, também representava não era só
escrever. O que é engraçado, não sabia. Pronto, é assim, eu sou de uma geração muito mais
antiga, não é? Mas o meu avô gostava muito de cinema, eu nasci em Miranda do Douro
porque o meu avô trabalhava nas barragens. Portanto foi ali nas barragens do Douro, depois o
meu pai foi trabalhar para a barragem do Douro, o meu pai conheceu a minha mãe, a filha do
patrão, estás a ver? Era porque o chefe daquilo tudo era o meu avô. E havia cinema, havia
teatro, havia bibliotecas, havia tudo o que era cultura. Portanto o meu avô já tinha isto, ou
seja, eu tenho fotografias com um ano no cinema. Isto não é toda a gente como a minha
idade, não é? Eu comecei isto do cinema com um ano. Portanto, quando fomos viver para
Lisboa, chegou a altura de eu entrar para a escola primária e a minha mãe disse “Acabou-se
isto” porque vamos para Lisboa porque a menina tem que ter estudos, aquelas coisas. E então
lá viemos para Lisboa. Aqui em Lisboa já ia ao teatro desde criança, portanto também não é
na minha geração. Portanto… eu só estou a dizer isto porque é assim “Paula, agradece à tua
família.” Eu tenho essa noção de gratidão, não era toda a gente na altura. Depois o que é que
aconteceu?... Vocês já ouviram uma série que já passou na televisão que se chamava “Fame”
que foi uma pedrada no chaque em Portugal, não tínhamos nada sobre estudos artísticos, foi a
primeira vez que nós vimos uma coisa assim. Portanto eu fui para o Conservatório no ano…
portanto, deu o “Fame” e quando abriu o concurso, fui. Fui completamente influenciada por
aí também. Além de que, quem me inscreveu foi uma amiga minha, porque primeiro eu não
queria muito ir, achava aquilo “o teatro não”... Porque eu iria para uma coisa muito séria, eu
estava em saúde, eu fiz saúde e biologia no 12º ano, assim uma coisa séria. Mas ela fez a
primeira chamada dos testes do Conservatório, foi a primeira vez que o Bairro Alto tinha uma
fila desde o Conservatório até ao Camões. Foi o ano em que houve um encher de concurso a
ir. E ela foi conhecendo o Romeses, que eram atores da televisão na altura e vários assim
“Olha, amanhã tens a segunda chamada que eu inscrevi-te. Aquilo é muito giro. Não tens
nada para fazer, vais lá que aquilo tem atores muito giros.” Para passar o dia eu fui conhecer
atores. Fiz os testes e depois entrei que era uma coisa que eu não estava a pensar, não é? Não
era uma coisa que me passava pela cabeça. Entrei e depois durante o primeiro ano… Ah! Eu
estava a fazer o 12º ao mesmo tempo, ou seja, eu não estava a deixar, percebes? “Eu vou
experimentar, está bem. Eu vou fazer umas aulas”. Mas estava a fazer o 12º. O 12º na altura
eram três horas, eram só três disciplinas e lá em Queluz era das sete às dez da noite. Portanto
eu conseguia fazer o Conservatório, ir para casa e depois fazer o 12º lá no liceu de Queluz.
Houve uma altura que eram só três disciplinas ali, por isso é que eu consegui fazer o primeiro
ano do Conservatório. Depois lá é que eu descobri… Porque eu não sabia que era preciso o
12º ano porque eu não me inscrevi foi a outra. Depois de estar lá já dar as aulas, fui chamada
a dizer “Tu não tens o 12º ano”;”Pois não”;”Mas isto é preciso o 12º”. Então o que é que
disseram “Ficas cá, se chumbares ao 12º vais ter que repetir aqui porque se vieres para o ano
tens que repetir o primeiro. Não dá para ficar, deixa de ter validade mesmo o que estás a
fazer, queres continuar?” Quis e pronto, fiz então. Foi por isso que eu acabei muito cedo, com
21 anos estava a dar aulas. E durante esse primeiro ano foi a paixão pelo teatro. Foi nesse
primeiro ano do Conservatório. É aí. E já não quis mais nada.
Beatriz Duarte: Em relação aos personagens e figurinos que escolheu para nossa peça, foi
uma questão visual e estética ou foi apenas uma questão prática? A cena da simplicidade de
não haver muito cenário, usarmos mais a música para levarmos o público para o ambiente…
Paula Sousa: “O que é que eu tenho para fazer?”. Aqui não há nada, não é? Não há figurinos
para mandar fazer. Portanto foi “como é que eu sem nada me inspiro?” porque eu gosto muito
de cenografia, gosto de cenários, da parte visual percebes? E portanto, isso só de fazer uma
coisa de atores que tivesse cenário cria uma imagem qualquer. E depois achei “epah isto é
árabes com paninhos a gente vai lá”. E criar logo ali uma coisa bonita.
Beatriz Duarte: Há algum ator ou encenador em que se inspire? Para continuar como atriz e
encenadora?
Paula Sousa: É assim… Realizadores, vamos por aí, para as estéticas. Quem fez a minha
estética acho que tem que haver mais com cinema, se calhar. Terry Gilliam que é um dos
Monty Python. Mas deve ser o mais malucos de todos, porque é o que eu mais gosto e dos
filmes dele. Por exemplo, viste o “Brazil”? Brasil com Z do Terry Gilliam. Tens que ver. Esse
filme, saí do cinema a dizer “o que é isto? Já não sei nada da minha vida”; “ o que é que eu
quero afinal? Isto aqui é um mundo maravilhoso e se se pode ir tão longe”. Percebes? Isso
abriu-me o cérebro, esse filme. E fiquei assim. E isso nada está no realismo estás a perceber?
“Espera lá”. Percebes? Porquê que eu não gosto de realismo e por isso vou buscar esta
pronto… Terry Gilliam, Monty Python mas Terry Gilliam. Bob Wilson, esse é encenador.
Assim de estéticas pronto… E depois vais encontrando pessoas que trazem uma estética que
tu gostas muito e depois aí vão-te completando. Eu comecei a olhar para os figurinos, a partir
do momento que faço teatro há muitos anos e lido com figurinistas. Mas a partir do momento
que a Rafaela Magrelo, que está agora no São Luís, eu vou ver dia 14 para o espetáculo da
Cruela. Ela faz figurinos que é uma coisa… e portanto fiquei logo com outra visão. Portanto
as pessoas vão me completando, vão me ensinando com quem eu trabalho. Pronto, estou aqui
para dar e receber e crescer todos juntos. É assim que a gente cresce, todos juntos.
Beatriz Duarte: Qual foi assim a maior transformação que teve que fazer em si para uma
personagem? Assim algo mais radical que tivessem pedido para fazer.
Paula Sousa: A parte dos cabelos foram muitas. E eu gosto disso. As cores, o tapar-me,
pronto eu gosto disso. Agora, transformação? Se calhar… Mas depois habituei-me, foi giro.
Foi uma que foi de… que ia fazer a…”Loot” do Joe Orton. E eu fazia uma assassina e a
encenação era do Alman Gonçalves e depois ele queria que eu fizesse um loiro platinado,
ficar loira platinada. Não gostei nada. Depois fui-me habituando porque também, ficando
cada vez mais branco e eu já gostava quando estava o cabelo já quase branco. E depois
aproveitou-se para o personagem, depois acabei por pintar e ficar quase platinado em cima e
ainda a personagem ficou pronto… Mas se calhar lembro-me dessa porque chorou logo no
princípio. Pronto depois lá consegui. Consegui absorver aquilo e ultrapassar e fazer brilhar a
cabelinha loira. Depois mais…coisas de emagrecer, isso nunca foi preciso.
Beatriz Duarte: Enquanto encenadora, o que é que para si é importante um ator? O que é
que um ator tem de ter enquanto encenadora para trabalhar consigo?
Paula Sousa: Tem que ser super super generoso. Porque tem que dar tudo, mesmo quando
não lhe apetece. Há dias em que não apetece. E tens que estar lá e “fazer das tripas coração”.
Beatriz Duarte: Trabalho ou talento? O que é que pesa mais para si?
Paula Sousa: É o trabalho. Eu no início não…percebes? Foi mesmo com trabalho, eu vim
quase sem querer vim parar ao teatro, portanto é trabalho. Muito trabalho. Eu acho que para
mim, mesmo a abertura nós damos às personagens. Nós temos que ter disponibilidade e
generosidade, é por aí porque já me custou muito. Coisas que custam muito a dar, e depois
nós atores estamos sempre a aprender tudo. Passar pelas experiências todas porque
pagam-nos por um dia. O meu filho não teve epitoral, as pessoas disseram “tu és maluco?”.
Porque queria saber como é que era, porque um dia podiam-me pedir, perto do final
arrependi-me, quando estava quase a desistir, disseram-me “já não vai a tempo”. Eu acho que
os atores são um bocado malucos mas tem de ser, percebes? Mas pronto…Nós somos assim,
temos de ser assim.
Luana Gomes: Tem algum método específico para criar uma personagem?
Paula Sousa: Não, não tenho. É assim, há um método que é criar o vazio. Mas isso é em
tudo, até antes dos ensaios. O “cigarrinho” que eu vou ali fora, é para criar o meu vazio. Tudo
o que não tem que haver com…é isso que eu vou ali fazer quando digo “vou ali fumar o
cigarrinho da concentração”. É deitar fora os assuntos todos, é um bocadinho por aí. E como
atriz acho que tem sempre que haver isso, é deitar fora e depois do vazio é que se começa a
criar.
Beatriz Duarte: Em termos de personagens, o que é que é mais difícil? Personagens
parecidas consigo ou totalmente diferentes? O que é que prefere fazer? Há pessoas que dizem
que é mais difícil fazer parecidas consigo porque tem haver mais distanciamento…
Paula Sousa: Agora estava a ver o que é que fiz parecido comigo para… Eu acho que nunca
fiz nada parecido comigo. Acho que nunca pus essa hipótese. Nem que estejam a dizer “eu
quero que tu faças de ti”, eu não faço. Eu vou pensar como é que eu vou fazer o que eu quero,
mas não vou fazer de mim. A minha cabeça pensa assim.
Beatriz Duarte: O que é que prefere? Atuar ou encenar? Tem alguma preferência?
Paula Sousa: Sou mais feliz em atriz. Sou mais feliz, faz-me mais feliz. Porque eu vou para
palco e esqueço. É onde eu sou mais segura, porque eu ali controlo tudo e na vida não. No
palco controlo tudo e ali está tudo bem. É onde eu me sinto segura. E ainda por cima, quando
tu estás em palco, estás a 100%, não é? E estás ali a delirar, portanto é o que eu gosto. Não é
as palmas do público, gosto muito mais durante o espetáculo o contacto com o público. Não
tenho aquela panca de… há muitos atores que têm, que gostam de palmas mas eu não tenho
isso. Gosto é de dominar e de criar, o Clown ajudou-me muito nisso, que é, nós sentirmos o
público. Eu sinto se está um gajo um a embirrar no público, eu não sei quem é mas eu
cheguei a sair e ir para o camarim e perguntar “quem é que está sentado na bancada da
esquerda lá para as filas de cima?”. Depois dizem-me. Eu sinto as más energias, porque estou
ali percebes? E depois sentes o que é bom, mas tem de se conhecer o que é mau. E isto foi
muito trabalho, a partir do Clown aumentou muito mais esta sensibilidade. Por causa deste
contacto sempre com eles.