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REJANE LUCIA TOURINHO DE LIMA SOUZA

ARQ
EM CENA
O PAPEL DA ARQUITETURA ENQUANTO
PERSONAGEM DA NARRATIVA CINEMATOGRÁFICA
ARQUITETURA EM CENA:
O PAPEL DA ARQUITETURA ENQUANTO PERSONAGEM
DA NARRATIVA CINEMATOGRÁFICA

REJANE LUCIA TOURINHO DE LIMA SOUZA

ARQUITETURA EM CENA:
O papel da arquitetura enquanto personagem da
narrativa cinematográfica
Departamento de Arquitetura e Urbanismo | UFS
2022
OrientadorA: Rozana Rivas de Araújo
Discente: REJANE lUCIA TOURINHO DE lIMA sOUZA
REJANELUCIATS@GMAIL.COM
REJANE LUCIA TOURINHO DE LIMA SOUZA

ARQUITETURA EM CENA: O PAPEL DA ARQUITETURA ENQUANTO PERSONAGEM


DA NARRATIVA CINEMATOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Sergipe, como requisito para obtenção do título de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador(a): Prof.ª Dra. Rozana Rivas de Araújo

LARANJEIRAS-SE
JULHO DE 2022
"Toda caminhada começa no primeiro passo". Tive a
alegria de contar com muitas pessoas neste caminho de
formação, inicio de uma jornada acadêmica e
profissional. Dedico este trabalho a todas essas que,
diretamente ou indiretamente, contribuíram e
contribuem na minha caminhada como estudante e
profissional.
Agradecimentos

Obrigada mãe e pai, por nunca medirem esforços para me proporcionar o


melhor e sempre estarem presentes na minha vida através do amor, do carinho e
da atenção que me concedem. Nunca terei como agradecer o suficiente.
Agradeço também a Klebinho e Karol, que acompanharam de perto o
desenrolar deste trabalho, por todos os conselhos, resenhas e suporte diários.
Junto a Klebinho, também agradeço a Tadeu, por ilustrarem na minha vida o
significado de irmandade, que vai além do literal.
Um agradecimento mais que especial para Arthur, que em meio a leituras e
escritas, me fez parar e olhar o céu, os prédios e as plantas e dizer o quanto tudo
é bonito, me mostrando que a vida vai além de tarefas, prazos e normas da
ABNT.
Agradeço também a Hilton, por dividir comigo grande parte das
experiências acadêmicas e profissionais, me fazendo crescer diariamente; e por
estar sempre disposto a me ouvir, me ajudar e fazer alguma graça que me faça
rir, deixando a vida mais leve.
Agradeço a minha família, em especial, ao meu avô Elmo, que fez parte
desta jornada já no começo, me levando todos os dias ao pré-vestibular. Aos
meus tios Regina, Geraldo e Stefanio por serem prestativos e presentes; e as
minhas amizades, em especial, Jamilly, por estar vinte anos ao meu lado,
torcendo por mim, e Jéssica, amiga que a UFS me deu, por ter dividido comigo
os perrengues acadêmicos.
Por fim, agradeço também a todos professores do DAU
pelos conhecimentos transmitidos, em especial, a professora Rozana, por
ter me orientado neste trabalho, sempre disposta a ajudar; professor
Pedro, por ter colaborado com o crescimento deste trabalho e pelas
oportunidades proporcionas durante o curso; e professora Carol, por ter
proporcionado minha primeira oportunidade de iniciação científica, da qual
carrego aprendizados que utilizo até hoje.
Resumo

A arquitetura fílmica é parte integrante da mise-en-scène e pode assumir


diferentes papéis nos filmes. Este trabalho visa compreender como a arquitetura
atua, enquanto personagem, na construção da narrativa cinematográfica. Para
isso, cumpriu-se as seguintes etapas metodológicas: pesquisa teórica;
levantamento da filmografia onde a arquitetura atua como personagem;
definição dos critérios para seleção dos filmes a serem analisados; seleção dos
filmes a partir dos critérios e do recorte estabelecido, e análise dos mesmos; e
análise dos resultados. Neste sentido, os filmes trabalhados foram Blade Runner
2049 (2017), Pantera Negra (2018) e Parasita (2019) e constatou-se que a
arquitetura enquanto personagem atua através da representação de valores
associados às experiências humanas, contribuindo com a construção da narrativa
cinematográfica ao comunicar-se com o espectador por meio da imagem da
arquitetura amplamente explorada através das cenas, e que a atuação da
arquitetura fílmica como personagem nas produções atuais têm estado
relacionada a problemáticas da sociedade contemporânea.

Palavras-chaves: Arquitetura fílmica; cinema; imagem da arquitetura.


Abstract

Filmic architecture is an integral part of mise-en-scène and can assume


different roles in films. This work aims to understand how architecture acts, as a
character, in the construction of cinematic narrative. For this, the following
methodological steps were carried out: theoretical research; survey of the
filmography where architecture acts as a character; definition of criteria for
selection of films to be analyzed; selection of films based on the established criteria
and cut, and their analysis; and analysis of results. In this sense, the films that
worked were Blade Runner 2049 (2017), Black Panther (2018), and Parasite (2019)
and it was found that architecture as a character acts through the representation
of values associated with human experiences, contributing to the construction of
the cinematic narrative when communicating with the spectator through the image
of architecture widely explored through the scenes and that the performance of
film architecture as a character in current productions has been related to
problems of contemporary society.

Keywords: Filmic architecture; movie theater; architecture image.


Figura 21 – Exterior e interior do arranha-céu Chrysler Building, em Nova Iorque (EUA)
Lista de Figuras
...........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................60
Figura 22 – Sequência de quadros do filme Garotas Modernas (Harry Beaumont, 1928) ....62
Figura 01 – Partenon, Ictinos e Calícrates, séc. V a.C .......................................................................................................................................29 Figura 23 – Sequência de quadros do filme Vontade Indômita (King Vidor, 1949): maquete
Figura 02 – Arco do Triunfo, Jean Chalgrin, 1836 ................................................................................................................................................29 da proposta do protagonista para o conjunto habitacional e intervenções feitas no projeto
Figura 03 – Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes, Francesco Borromini, 1641 ....................................30 já construído ............................................................................................................................................................................................................................................................................64
Figura 04 – Igreja de São Lorenzo, Guarino Guarini, 1680 .....................................................................................................................31 Figura 24 – Quadro do filme Vontade Indômita (King Vidor, 1949): enquadramento do
Figura 05 - Home Insurance Building, William Le Baron Jenney, 1884 ........................................................................32 edifício moderno .............................................................................................................................................................................................................................................................65
Figura 06 – Castle Combe, Wiltshire, Inglaterra .......................................................................................................................................................33 Figura 25 – Casa do Sr. Hulot ...................................................................................................................................................................................................................67
Figura 07 – Edifícios públicos de Cambridge (EUA), em 1699 .......................................................................................................33 Figura 26 – Casa da Família Arpel .................................................................................................................................................................................................67
Figura 08 – Perspectiva cena cômica ......................................................................................................................................................................................36 Figura 27 – Cidade fílmica de Playtime - Tempo de Diversão ...................................................................................................69
Figura 09 – Perspectiva cena trágica ........................................................................................................................................................................................37 Figura 28 – Moradias padronizadas ...........................................................................................................................................................................................69
Figura 10 – Perspectiva cena satírica .........................................................................................................................................................................................38 Figura 29 – A casa de vidro de A Casa do Lago (Alejandro Agresti, 2006) ........................................................76
Figura 11 - Sequência de quadros do filme A Saída dos Operários da Fábrica (Auguste Figura 30 – A abertura da estufa .......................................................................................................................................................................................................77
Lumière e Louis Lumière, 1895) ..............................................................................................................................................................................................................43 Figura 31 – Glass House, Phillip Johnson, 1949 ...........................................................................................................................................................78
Figura 12 - Sequência de quadros do filme Cabiria (Giovanni Pastroni, 1914): espaço fílmico Figura 32 – Casa de Vidro, Lina Bo Bardi, 1951 ..........................................................................................................................................................78
da Roma Antiga ................................................................................................................................................................................................................................................................51 Figura 33 – Casa Farnsworth, Mies van der Rohe, 1951 .............................................................................................................................79
Figura 13 - Sequência de quadros do filme Cabiria (Giovanni Pastroni, 1914): espaço fílmico Figura 34 – Pilotis que suspendem a casa em relação ............................................................................................................................79
da cidade de Cartago ...........................................................................................................................................................................................................................................52 Figura 35 – Esquema da planta-baixa ...................................................................................................................................................................................80
Figura 14 - Quadro do filme Em Busca de Ouro (Charlie Chaplin, 1925) ...................................................................53 Figura 36 – Terraço ....................................................................................................................................................................................................................................................80
Figura 15 - Quadro do filme O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920) .............................................55 Figura 37 – Casa Cascata, Frank Lloyd Wright, 1934 ......................................................................................................................................81
Figura 16 – Obra expressionista do pintor alemão Erich Heckel, intitulada como "Dois Figura 38 – Elementos de estufa na cobertura ........................................................................................................................................................81
homens à mesa”, de 1912 .................................................................................................................................................................................................................................56 Figura 39 – Guarda-corpo e pilar com ornamentados com arabescos, que acrescentam
Figura 17 – Quadro do filme Viagem à Lua (Georges Méliès, 1902): espaço fílmico da um caráter romântico ao local .............................................................................................................................................................................................................82
cidade industrial do século XIX. .............................................................................................................................................................................................................58 Figura 40 – Apartamento de Clara ................................................................................................................................................................................................83
Figura 18 – Quadro do filme Viagem à Lua (Georges Méliès, 190.2): espaço fílmico do Figura 41 – Edifício Aquarius ........................................................................................................................................................................................................................83
palácio do ‘governante’ da lua ..............................................................................................................................................................................................................58 Figura 42 – Sequência de imagens emblemáticas da cidade de Paris, apresentadas pelo
Figura 19 - Quadro do filme Metrópolis (Fritz Lang, 1926) mostrando a cidade distópica filme ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................85
criada por Fritz Lang ...............................................................................................................................................................................................................................................59 Figura 43 – Plano aberto do apartamento de Clara, de Aquarius (2016) ...............................................................87
Figura 20 – Estação Ferroviária de Helsinque (FI) ............................................................................................................................................60 Figura 44 – Fachada da Casa de Vidro, de A Casa do Lago (2006) ...............................................................................87
Figura 45 – Passeio com a câmera pelo espaço da casa de vidro, de A Casa do Lago Figura 75 – Wallace Corporation ....................................................................................................................................................................................................128
(2006) ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................88 Figura 76 – Distrito de São Diego ...................................................................................................................................................................................................129
Figura 46 – Modo de habitar o espaço da protagonista do filme Aquarius ......................................................88 Figura 77 – Las Vegas ........................................................................................................................................................................................................................................129
Figura 47 – Funcionamento da cidade do filme Meia Noite em Paris ..........................................................................89 Figura 78 – A multirracialidade de população .......................................................................................................................................................130
Figura 48 – Vista aérea da cidade do filme Meia Noite em Paris ..........................................................................................89 Figura 79 – A verticalidade da arquitetura fílmica na periferia da cidade ............................................................131
Figura 49 – Ícone urbano da cidade do filme Meia Noite em Paris ...................................................................................89 Figura 80 – Aumento da verticalidade, centro da cidade ao fundo ................................................................................131
Figura 50 – Pessoas habitando a cidade do filme Meia Noite em Paris ..................................................................90 Figura 81 – Contraste entre a cidade escura e a claridade dos painéis publicitários
Figura 51 – Janela da sala da casa dos Kim ...........................................................................................................................................................105 .........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................132
Figura 52 – Banheiro da casa da família Kim, janela ao fundo ............................................................................................105 Figura 82 – Presença marcante dos painéis publicitários .................................................................................................................133
Figura 53 – Interior da casa dos Park ....................................................................................................................................................................................107 Figura 83 – Bradbury Building, Los Angeles, USA .............................................................................................................................................136
Figura 54 – Interior minimalista da casa da família Park ...................................................................................................................107 Figura 84 – Cena de Blade Runner - O Caçador de Androides, gravada no Bradbury
Figura 55 – Fachada da casa dos Park .............................................................................................................................................................................108 Buildibg ...........................................................................................................................................................................................................................................................................................136
Figura 56 – Interior do pavimento superior da casa dos Park .................................................................................................108 Figura 85 – Vista aérea de Birnin Zana ...............................................................................................................................................................................138
Figura 57 – Entrada da casa dos Park ................................................................................................................................................................................109 Figura 86 – Localização do país Wakanda, na África ..............................................................................................................................139
Figura 58 – Janela da sala/cozinha da casa dos Kim ............................................................................................................................112 Figura 87 – Centro de Artes e Cultura Guga S’Thebe, CS Studio Architects, 1999
Figura 59 – Cena da dedetização ..................................................................................................................................................................................................112 ...........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................141
Figura 60 – Homem urinando próximo a janela dos Kim ................................................................................................................112 Figura 88 – Espaço urbano de Birnin Zana .................................................................................................................................................................144
Figura 61 – Enchente na casa da família Kim ...........................................................................................................................................................113 Figura 89 – Conjunto de construções africanas vernaculares ................................................................................................145
Figura 62 – Janela da sala na casa da família Park ................................................................................................................................114 Figura 90 – Vista áerea da copital de Wakanda, Birnin Zana ..................................................................................................145
Figura 63 – Porta de entrada da casa da família Kim, entrada de Min ....................................................................115 Figura 91 – Dogdaemun design Plaza, Zaha Hadid, 2014 .................................................................................................................146
Figura 64 – Porta de entrada da casa da família Kim, saída de Ki-woo .................................................................115 Figura 92 – Wangjing SOHO, Zaha Hadid, 2014 .................................................................................................................................................146
Figura 65 – Porta de entrada da casa da família Park ...........................................................................................................................116 Figura 93 – Exemplo de edifício contemporâneo com fachada verde: Villa M, Triptyque
Figura 66 – Equipamento de segurança para entrada na casa da família Park ...................................116 Architecture, 2019 .........................................................................................................................................................................................................................................................147
Figura 67 – Entrada do bunker ............................................................................................................................................................................................................117 Figura 94 – Cena que destaca os transportes públicos de Birnin Zana .................................................................148
Figura 68 – Escada para os quartos na casa da família Park ...................................................................................................119 Figura 95 – Cenas que mostram a utilização do espaço público de Birnin Zana
Figura 69 – Escada para o vaso sanitário na casa da família Kim ..................................................................................119 .........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................149
Figura 70 – Bunker da família Park .............................................................................................................................................................................................121
Figura 71 – Escada do bunker ...............................................................................................................................................................................................................121
Figura 72 – Rua da casa da família Park ........................................................................................................................................................................122
Figura 73 – Arranha-céus do centro da cidade ...................................................................................................................................................127
Figura 74 – Departamento de Polícia .....................................................................................................................................................................................127
Sumário

Introdução ......................................................................................................................................................................................................20
1. A imagem da arquitetura ..........................................................................................................................................26
2. Arquitetura e cinema .......................................................................................................................................................40
2.1. A arquitetura no cinema ...........................................................................................................................42
2.2. O cinema na arquitetura ..........................................................................................................................46
2.3. Arquitetura e cinema através do tempo ...............................................................................50
3. Arquitetura enquanto personagem no cinema ...............................................................................70
3.1. O papel da arquitetura no cinema ...............................................................................................72
3.2. O papel da arquitetura como personagem ......................................................................75
3.3. Arquitetura fílmica como personagem: como identificar ..................................87
4. Análises ............................................................................................................................................................................................92
4.1. Critérios de seleção dos filmes .........................................................................................................94
4.2. Edificação como personagem: Parasita (2019) .........................................................102
4.3. Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera
Negra (2018) .........................................................................................................................................................123
5. Análise dos resultados ................................................................................................................................................152
Considerações finais ........................................................................................................................................................................158
Referências ..................................................................................................................................................................................................162
Filmografia ...................................................................................................................................................................................................173
Apêndice .........................................................................................................................................................................................................176
INT
”O estudar arquitetura poetizada do cinema ajuda-nos,
arquitetos a redescobrir a dimensão simbólica da nossa
vida e da nossa forma artística.”

(PALLASMA, 2001, p.10, tradução nossa)

INTRODUÇÃO
| INTRODUÇÃO | | ARQUITETURA EM CENA |

A arquitetura 1 representada nas obras cinematográficas, denominada de trabalho tem como objetivo compreender como a arquitetura atua, enquanto
arquitetura fílmica, é parte integrante da mise-en-scène 2 e tem como premissa personagem, na construção da narrativa cinematográfica. Para isso,
situar o espectador no espaço e no tempo em que a narrativa ocorre (SANTOS, considerou-se os seguintes objetivos específicos:
2005, p.12; COLNAGO, 2012, p.58; ZUBEN, 2018, p.5). Entretanto, outras
possibilidades também são possíveis, fazendo com que arquitetura extrapole a • Entender as relações entre arquitetura e cinema;
função de pano de fundo e assuma diferentes papéis na narrativa • Investigar o papel da arquitetura fílmica enquanto
cinematográfica (COLNAGO, 2012, p.33; SANTOS 2005, p.34). personagem;
Isso é possível porque a arquitetura é constituída por conteúdos sociais, • Identificar e analisar a atuação da arquitetura fílmica
efeitos psicológicos e aspectos formais; esses valores são representados pela enquanto personagem em produções relevantes do
imagem da arquitetura que comunica-se com o espectador através de cinema contemporâneo.
associações pré-concebidas a partir de experiências vividas pelo mesmo. Desta
maneira: Adotou-se neste trabalho, um método de abordagem indutivo e
procedimentos de caráter exploratório e monográfico, cumprindo as seguintes
etapas:
“Para compor uma cena, os filmes fazem uso de elementos arquitetônicos
variados para que se tenha um efeito cênico maior, logo, tais elementos
funcionam como recursos de expressão.” (CHAGAS, 2008, p.47) 1. Pesquisa teórica: buscar compreender, através da
pesquisa bibliográfica, os aspectos relacionados a
arquitetura e sua imagem, bem como as relações entre
Seguindo esse raciocínio, a arquitetura ao transitar pelo imaginário fílmico 3
arquitetura e cinema e seus desdobramentos.
pode construir críticas, propagar ideias, propor experimentos espaciais e atuar
2. Levantamento da filmografia: levantar obras
enquanto personagem da história, que simboliza e metaforiza conceitos, dialoga e
cinematográficas onde a arquitetura atua como
interfere na narrativa, podendo estas possibilidades associarem-se.
personagem, a fim de entender quais aspectos constituem
Por isso, estudar arquitetura fílmica, segundo Pallasmaa (2001, p.13,
este papel;
tradução nossa), é importante para o desenvolvimento de “uma arquitetura mais
3. Definição dos critérios de seleção: definir, a partir do
sutil e responsiva”, capaz de comunicar-se com quem a experiencia.
embasamento teórico adquirido nas etapas anteriores, os
Assim, procurando entender a função da arquitetura no cinema,
critérios para selecionar os filmes em que a arquitetura é
estabelecendo um recorte dentro dos diferentes papéis assumidos por essa, este
identificada como personagem e que serão analisados no
1
A arquitetura aqui será entendida a partir da definição apresentada por Colnago (2012, p.23), trabalho;
onde “não será vista distinção entre os diferentes tipos de construção, sejam eles edifícios
(elementos individuais e os espaços internos que o comportam) ou cidades inteiras (conjunto de 4. Seleção e análise: selecionar os filmes que serão
edifícios e os vazios urbanos formados pelo agenciamento dos mesmos)”.
2
Todos os elementos que compões uma cena (cenário, figurino, maquiagem, luz, etc.). estudados, a partir dos critérios definidos anteriormente e
3
Imaginário construído dentro de um filme para desenvolvimento da trama apresentada.

| 22 | | 23 |
| INTRODUÇÃO | | ARQUITETURA EM CENA |

do recorte estabelecido: filmes indicados ao Oscar de Espera-se com este trabalho, contribuir com os estudos acerca das relações
Melhor Direção de Arte do ano de 2018 a 2022; E analisar entre arquitetura e cinema, suscitando diferentes perspectivas de se olhar para os
as obras selecionadas. espaços arquitetônicos das obras cinematográficas.
5. Análise dos resultados: refletir acerca das análises
realizadas, a fim compreender como a arquitetura está
atuando na produção cinematográfica contemporânea,
enquanto personagem da narrativa cinematográfica.

No primeiro capítulo, buscou-se entender os aspectos que constituem a


arquitetura e constroem a imagem arquitetônica, capaz de comunicar-se com
aqueles que a vivenciam.
Já no segundo capítulo, procurou-se compreender como a arquitetura está
inserida nas produções cinematográficas e quais são as contribuições do cinema
para a arquitetura; ainda nesta primeira parte, levantou-se um breve histórico
apresentando a relação entre ambos os campos ao longo do tempo.
No terceiro capítulo, aprofundou-se no papel da arquitetura enquanto
personagem de uma narrativa, levantando obras cinematográficas que
nortearam, juntamente com a pesquisa teórica, as análises que foram realizadas
no quarto capítulo.
No quarto capítulo, primeiramente foram traçados os critérios de escolha dos
filmes analisados neste trabalho e em seguida, foram selecionadas e analisadas
as obras que, inseridas no recorte apresentado na metodologia, atendem aos
critérios previamente definidos.
No quinto capítulo, refletiu-se acerca das análises realizadas e os resultados
encontrados a partir do desenvolvimento deste trabalho.
E por fim, nas considerações finais procurou-se responder ao objetivo que
norteou a pesquisa e foram levantadas as limitações encontradas ao decorrer do
trabalho, bem como as novas perspectivas de pesquisa a partir desse.

| 24 | | 25 |
01
”Uma metáfora de arquitetura é uma entidade
experimental abstraída e condensada que funde a
multiplicidade de experiências humanas em uma imagem
vivenciada singular ou em uma sequência de tais imagens.”
(PALLASMAA, 2013, p.120)

CAPÍTULO
A IMAGEM DA ARQUITETURA
| A IMAGEM DA ARQUITETURA | | ARQUITETURA EM CENA |

A arquitetura está presente na experiência existencial humana desde o


início da vida, articulando aspectos físicos, espaciais, sociais e temporais:
Figura 01 – Partenon, Ictinos e Calícrates, séc. V a.C

[...] a arquitetura articula experiências humanas primárias de estar no


mundo, como gravidade e massa, horizontalidade e verticalidade, terra e
céu, centro e periferia, natureza e cultura, individualidade e coletividade,
passado e presente. (PALLASMAA, 2013, p.58)

Neste sentido, percebe-se que a disciplina em questão é constituída não


apenas pelos seus valores formalista, como os aspectos volumétricos e
decorativos constantemente destacados pelo visibilismo que exerce uma função
importante na história da arquitetura (ZEVI, 1996, p.176), mas também pelo seu
conteúdo social e efeitos psicológicos (Ibidem, p.192).
Deste modo, Zevi (1996, p.140), define a interpretação da arquitetura a partir Fonte: Wikipédia, 2022.

de três categorias: interpretações relativas ao conteúdo, interpretações


Figura 02 – Arco do Triunfo, Jean Chalgrin, 1836
fisiopsicológicas e interpretações formalisticas. Na primeira categoria, o autor
condensa os valores políticos, socioeconômicos, filosóficos, religiosos, científicos,
materialistas e técnicos.
Exemplificando, é possível estabelecer uma relação entre os fatos políticos e
a causa das correntes arquitetônicas ou simbolismo dos estilos (ZEVI, 1996, p.141-
142), pois segundo o autor citado: "primeiro a afirmação política, depois, ou
consequentemente, a atuação arquitetônica” (Ibidem, p.140), essa atuação pode
ser conferida de várias maneiras ao longo da história: a época áurea da
arquitetura grega no século V a.C (Figura 01), por exemplo, é resultante do
esplendor político de Péricles após sucessivas vitórias em batalhas (Ibidem, p.140);
assim como Arco do Triunfo (Figura 02) também é um monumento arquitetônico
Fonte: Wikipédia, 2022.
símbolo das vitórias de Napoleão Bonaparte.

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| A IMAGEM DA ARQUITETURA | | ARQUITETURA EM CENA |

Da mesma maneira, os fenômenos históricos também influenciam na Também os desenvolvimentos científicos ao longo do tempo,
cultura e no simbolismo arquitetônico por meio dos valores filosóficos e religiosos principalmente quando relacionados às disciplinas de matemática e geometria,
que permeiam estes acontecimentos, fazendo com que a arquitetura torne-se o influenciam na concepção arquitetônica; o cálculo integral e a geometria
aspecto visual da história (Ibidem, p.142). Um exemplo desta influência é a descritiva, por exemplo, viabilizaram a construção de cúpulas, como a cúpula da
arquitetura barroca (Figura 03) que foi estimulada pela Igreja de Roma, uma vez Igreja de San Lorenzo (Figura 04), projetada por Guarani (ZEVI, 1996, p.143).
que a libertação do classicismo e a criação de uma nova expressão artística
(Ibidem, p.115) significaria a superação do Renascentismo associado ao laicismo e
ao protestantismo (Ibidem, p.143). Figura 04 – Igreja de São Lorenzo, Guarino Guarini, 1680.

Figura 03 – Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes, Francesco Borromini, 1641.

Fonte: Wikipédia, 2022

Neste mesmo sentido, o valor técnico, ou seja, o “modo prático de construir


os espaços” (1996, p.191) também interfere na produção arquitetônica, como a
Fonte: Wikipédia, 2022. exemplo da utilização do aço na construção civil que possibilitou a concepção dos
arranha-céus (Figura 05).

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| A IMAGEM DA ARQUITETURA | | ARQUITETURA EM CENA |

organização artesanal e nas necessidades de defesa, resultaram em estruturas


Figura 05 - Home Insurance Building, William Le Baron Jenney, 1884.
arquitetônicas semelhantes, mesmo estando separadas por séculos.

Figura 06 – Castle Combe, Wiltshire, Inglaterra.

Fonte: Google Imagens, 2022.

Figura 07 – Edifícios públicos de Cambridge (EUA), em 1699.

Fonte: Google Imagens, 2022.

Assim como a arquitetura pode ser considerada o aspecto visual da história,


também pode ser vista como “a autobiografia do sistema econômico e das
instituições sociais” (ZEVI, 1996, p.144). É interessante notar que, quando condições
econômicas semelhantes acontecem em diferentes momentos da história é
possível encontrar um paralelismo nas formas arquitetônicas, como exemplificado
por Zevi (1996, p.144) ao comparar a arquitetura medieval (Figura 06) com a Fonte: Benévolo, 2011.

edificação do colonizador americano da Nova Inglaterra (Figura 07), onde nas


duas épocas, a economia pautada na agricultura, no crescimento orgânico, na

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| A IMAGEM DA ARQUITETURA | | ARQUITETURA EM CENA |

Zevi (1996, p.146) também pontua como as condições geográficas e As imagens, especialmente aquelas relacionadas às artes, possuem a
geológicas podem interferir na morfologia arquitetônica, a exemplo dos telhados capacidade de comunicar as experiências humanas por meio da representação,
que são planos no Egito, possuem leves inclinações em Roma e na Grécia e seja na literatura, na música, na pintura ou no cinema (PALLASMAA, 2016, p.91), e
tornam-se mais inclinados em direção ao norte europeu (Ibidem, p. 147), como não diferente na arquitetura. Essas são capazes de causar um impacto corpóreo
consequência do clima; outro exemplo, é o motivo pelo qual o estilo gótico resistiu antes de serem compreendidas pelo cérebro (Idem, 2013, p.65), pois conseguem
por mais tempo em países nórdicos do que nos meridionais: os raios de sol serem tocar nas emoções ao se fundamentarem nas reações inconscientes e na
mais tangenciais nos primeiros, permitem um melhor uso da luz como instrumento historicidade biológica do ser humano (Ibidem, p.119).
arquitetônico (Ibidem), essencial para o estilo em questão. Ambos os exemplos As imagens, ou metáforas, da arquitetura são exploradas por outras artes,
estão associados ao materialismo da arquitetura. como a pintura, o teatro, a fotografia e o cinema, por criarem o senso de lugar,
Na segunda categoria, Zevi (1996, p.152) aponta os efeitos psicológicos, cultura e era histórica para uma determinada cena ou evento (PALLASMAA, 2013,
sensações e emoções, que a arquitetura pode causar, como aqueles mais p.121), devido aos valores associados a essa disciplina, como apontado
generalistas associados aos estilos arquitetônicos, como o Egito estar associado anteriormente.
ao medo, a Grécia à graciosidade, a Roma à força, entre outros; mas também o Um exemplo é o tratado sobre as cenas de Sebastiano Serlio, criado a partir
impacto das formas arquitetônicas, como as linhas horizontais, verticais, retas e da interpretação sobre a decoração das cenas de Vitrúvio (RAMOS, 2015), onde o
curvas, o cubo, o círculo, a elipse e demais formas, que vibram simpatia simbólica arquiteto descreveu o cenário ideal para cada um dos três tipos de texto teatral: o
com o ser humano ao suscitarem reações no corpo e no espírito (ZEVI, 1996, p.161). cômico, o trágico e o satírico, a partir de diferentes configurações arquitetônicas e
Por fim, nas interpretações formalísticas é pontuado pelo autor como paisagísticas representados através da perspectiva.
conceitos como unidade, simetria, proporção, equilíbrio, escala, contrastes, entre Para o primeiro texto, a arquitetura deveria ser mais popular e privada,
outros aspectos associados à composição arquitetônica, interferem na qualidade devido ao caráter das cenas cômicas que representavam assuntos cotidianos e
formal, moral e psicológica de uma determinada edificação. ações de “gente baixa” (BARBARO apud Cerri, p.168). Segundo Ramos (2015),
A partir desta abordagem de interpretação arquitetônica apresentada por Serlio caracterizava em seu tratado a arquitetura gótica, que era um estilo
Zevi, ficam claros os valores que constituem uma arquitetura, condizendo com as popular, menos sofisticado e, consequentemente, mais vulgar (Figura 08)
afirmações levantadas por Pallasmaa (2013, p.125), pois para esse: as edificações
falam sobre a disciplina de arquitetura, mas também sobre a vida e o mundo; o
autor afirma que essas também são representações metafóricas condensadas da “a primeira será a cômica [...], cujas casas serão de personagens privadas,
como o dos citadinos, advogados, mercadores, usurários, e outros
cultura e produzem imagens que organizam e orientam nossos pensamentos semelhantes. Mas sobretudo que não falte a casa da rufiã, nem a taverna,
e um templo é muito necessário” (SERLIO, 2004)
(2013, p.118). Essas imagens, segundo o mesmo autor, “são condensações de
essências distintas de arquitetura” (Ibidem, p.11). Neste sentido, pode-se
compreender que as imagens de arquitetura são, então, representações dos
valores que constituem a arquitetura.

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| A IMAGEM DA ARQUITETURA | | ARQUITETURA EM CENA |

Figura 08 – Perspectiva cena cômica. Figura 09 – Perspectiva da cena trágica.

Fonte: Serlio, 2004.

No terceiro, a cena deveria ser constituída por uma paisagem mais


Fonte: Serlio, 2004.
arborizada e pitoresca (RAMOS, 2015), pois segundo Serlio (2004) (Figura 10):

Já para o segundo, a arquitetura clássica era explorada a fim de


A cena satírica é para [...] representar sátiras [...], nas quais se repreendem
representar os palácios e outras construções mais refinadas (RAMOS, 2015), onde
(ou melhor, se mordem) [...] todos os que vivem sem respeito e
viviam os personagens deste tipo de cena (Figura 09): licenciosamente: nas sátiras antigas eram quase mostrados a dedo os
homens viciosos e de má vida. Também, se pode compreender que tal
licença fosse concedida a personagens que sem respeito falassem, gente
rústica [...], como se dizia, por isso Vitrúvio, tratando das cenas, quer que
sejam ornadas de árvores, pedras, colinas, montanhas, ervas, flores e
A cena trágica será para representar tragédias [...]. Suas casas serão de fontes, quer ainda que aí haja algumas cabanas à maneira rústica, como
grandes personagens; já que os acontecimentos amorosos e casos em seguida se mostra.” (SERLIO, 2004)
inopinados, mortes violentas e cruéis (como se lê nas tragédias antigas, e
também nas modernas) ocorrem sempre na casa de senhores, duques,
ou grandes príncipes, quando não de reis; portanto (como eu disse) em
semelhantes aparatos não se fará edifício que não seja nobre [...] (SERLIO, Percebe-se, portanto, que os textos teatrais associam-se aos estilos,
2004)
tipologias e paisagens arquitetônicas, pois a imagem da arquitetura desses é
capaz de representar valores sociais condizentes com o caráter dos temas
cênicos.

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| A IMAGEM DA ARQUITETURA | | ARQUITETURA EM CENA |

Neste trabalho, compreender o que a imagem da arquitetura apresentada


nas obras cinematográficas representa, será de extrema importância para as
análises fílmicas que serão realizadas.

Figura 10 – Perspectiva da cena satírica.

‘Fonte: Serlio, 2004.

| 38 |
02
“O aspecto físico da arquitetura junta-se ao poder da
imagem do cinema numa complementação
tal que o primeiro confere solidez ao segundo,
e o segundo realça o primeiro.”
(SANTOS, 2005, p.22)

CAPÍTULO
ARQUITETURA E CINEMA
| Arquitetura e Cinema | A arquitetura no cinema | | Arquitetura em Cena |

2.1. A arquitetura no cinema No curta anteriormente citado, a sensação da locomotiva vindo em direção a tela
é resultado do enquadramento, a partir da técnica utilizada pelos irmãos
Em 28 de dezembro de 1895, no Le Grand Café, em Paris, foi promovida
franceses de posicionar a câmera em um ponto fixo gerando um ponto de fuga e
pelos irmãos Auguste e Louis Lumière a primeira exibição de filmes do mundo.
uma profundidade na cena (ZUBEN, 2018, p.10).
Foram cerca de vinte minutos de sessão, sendo apresentadas pequenas peças
fílmicas produzidas pelos próprios irmãos franceses, a partir do equipamento Figura 11 - Sequência de quadros do filme
A Saída dos Operários da Fábrica (Auguste Lumière e Louis Lumière, 1895).
criado pelos mesmos, o Cinématographe 4 (SABADIN, 2018, p.13-14). Entre os filmes
exibidos, tem-se conhecimento de dois: A Saída dos Operários da Fábrica e A
Chegada do Trem na Estação (Figura 11), tendo este último impactado o público:

O espetáculo, que só dura meio minuto, mostra um trecho da plataforma


ferroviária banhada pela luz do sol, damas e cavalheiros caminhando ali,
e o trem que surge do fundo do quadro e avança em direção a câmera. À
medida que o trem se aproximava, instaurava-se o pânico na sala de
projeção, e as pessoas saíam correndo. (TARKOVSKY, 1998, p.70 apud
CHAGAS, 2008, p.18)

Provavelmente, a reação de espanto causada nos espectadores provém da


sensação de veracidade daquilo que está sendo visto. A novidade do cinema vem
da ilusão de ver o trem na tela como se fosse verdadeiro, mesmo sabendo ser de
mentira, situação semelhante a um sonho, conhecida como impressão de
realidade (BERNARDET, 1980, p.5) 5; mas o que se vê em uma tela de cinema vai
além da reprodução da realidade, alcançando também a percepção natural do
homem (Ibidem, p.8).
O realismo da imagem cinematográfica que tanto impressionou ao público
no século XIX, e ainda o faz atualmente, está relacionado a um conjunto de
fatores que constituem a linguagem cinematográfica 6 de um determinado filme.

Fonte: A saída dos Operários da Fábrica, 1895. Compilação da autora.


4
Em português: Cinematógrafo. Foi um equipamento portátil desenvolvido pelos irmãos Lumière
que permitia captar imagens e revelar o filme e também projeta-lo em uma tela.
5
BERNARDET, Jean-Claude. O Que É Cinema. São Paulo: Editora Brasiliense. p.3-7. 1980. Porém, provavelmente pouco faria sentido ao público se este trem estivesse
6
Um conjunto de elementos que se articulam como ferramentas para transmitir diferentes
sentidos ao espectador. Tais elementos vão desde aqueles que compõe a mise-en-scène, como em movimento no vazio. Neste sentido, entende-se que o ambiente, onde a
cenário, figurino, a maquiagem, a iluminação a encenação; até os planos, movimentos, montagens,
sons entre outros aspectos que constroem um filme.

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| Arquitetura e Cinema | A arquitetura no cinema | | Arquitetura em Cena |

narrativa acontece é fundamental para situar o espectador no tempo e no abrange todos os elementos presentes no filme, desde o espaço aos objetos, à
espaço. Este ambiente é o espaço fílmico. cor [...], à luz e ao diálogo.” (FERNANDES, 2012, p.42, tradução nossa)
Segundo Colnago (2012, p. 137), o espaço fílmico é “todo o espaço Além disso, a arquitetura cumpre um papel fundamental no cinema, pois
apresentado no filme, seja ele um set construído, um lugar real filmado em como abordado no capítulo 1, é constituída por diversos valores que são
locação ou mesmo espaços experimentais [...]”. Para Santos (2005, p.26), espaço representados através da sua imagem e por isso, torna-se uma ferramenta
fílmico é o lugar “onde diversos recursos podem ser utilizados para se sublinhar a importante no espaço fílmico, comunicando ao espectador determinada
‘realidade’ apresentada”. Recursos esses como a luz e a sombra, a cor, o som, os mensagem:
atores e a arquitetura. Entende-se assim, a arquitetura como elemento inerente ao
espaço fílmico.
Apesar das diferentes terminologias existentes para denominar a A arquitetura, banhada por fatores de ordem cultural, econômica, política
e social tem, portanto, o poder de sintetizar a experiência espacial fílmica,
representação arquitetônica dentro do cinema, a exemplo da arquitetura fazendo da simulação gerada por sua representação peça chave na
análise dos espaços imaginários do cinema, já que a sobreposição entre
cinematográfica e a arquitetura cenográfica, para este trabalho adotaremos o realidade e ficção produz imagens e situações emblemáticas que se
refletem na própria percepção espacial e se incorporam definitivamente à
conceito de arquitetura fílmica, definido por Santos (2005, p.26) como vivência urbana individual e coletiva de seus habitantes/espectadores.
(SANTOS, 2005, p.12)

todo e qualquer tipo de construção utilizada para conferir legitimidade ao


espaço fílmico, seja ela física ou virtualmente construída para tal fim, ou já Desta maneira, a arquitetura fílmica cumpre outros papéis além de situar o
existente capturadas pelas lentes nos processos de filmagem.
homem no espaço e no tempo, imprimindo na unidade visual do filme uma
imagem que contribui com a construção dos valores sociais, econômicos, culturais

Tem-se com esta definição, um esclarecimento quanto a distinção entre e ideológicos que a narrativa deseja contar.

cenário/locação 7 e arquitetura fílmica: enquanto o primeiro compreende o Essa também manifesta fatores psicológicos através das telas, pois

ambiente concreto, ainda sem influência da linguagem determinada para o filme, segundo Fernandes (2012, p.43-44) a arquitetura, bem como o cinema, desperta o

a segunda está sob a influência do processo de filmagem que constrói o sentimental e emocional no ser humano e sua representação dentro do espaço

significado subjetivo que essa, em conjunto com os demais elementos da mise- fílmico é capaz de amplificar emoções específicas.

en-scène, transmitirá ao espectador. Neste sentido, é necessário “que se tenha um repertório cultural para se

Nesse sentido, percebe-se que a arquitetura fílmica não pode ser vista descobrir o conjunto de intenções e sistemas significantes, [para] que se faça uma

como um elemento individual, pois “A percepção da arquitetura [dentro do filme] reflexão sobre o sentido do filme e de seu texto.” (SOUSA, 2020, p.44).
É devido a esta capacidade de condicionar valores, que a arquitetura
imprime realidade ao espaço fílmico, legitimando-o, dado que a arquitetura
7
Cenário: Espaço concreto construído para encenação dos atores. Locação: Espaço concreto já “confere solidez” ao cinema, enquanto esse último, através do “poder da imagem”,
existente, onde os atores encenam. Pode sofrer modificações para atender ao roteiro ou as
exigências dos diretores. realça a importância da primeira (SANTOS, 2005, p.22)

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| Arquitetura e Cinema | O cinema na arquitetura | | Arquitetura em Cena |

dimensão [tempo]. Se percorrermos um edifício com uma filmadora e, em


2.2. O cinema na arquitetura seguida, projetarmos o filme, revivemos os nossos passos e uma grande
parte da experiência espacial que nos acompanhou (ZEVI, 1996, p.50)
A arquitetura no cinema evoca reflexões não apenas acerca das
contribuições da primeira para a segunda, mas também o contrário, pois

Esse movimento pelo espaço explorado no cinema, também pode ser


buscado na arquitetura, a exemplo da Promenade Arquitetônica de Le Corbusier.
No cinema muito já se pensou em termos de arquitetura e muito já foi
proposto que se somou às próprias formas da arquitetura ‘convencional’,
O conceito, em um nível básico, remete a experiência de caminhar por um
assim como muitos projetos não executados já serviram de base para edifício (SAMUEL, 2010, p.9, tradução nossa); um passeio projetado para
discussões sobre o próprio espaço construído. Por quê, então, não
considerar o cinema como veículo possível para o discurso arquitetônico? ressensibilizar a pessoa com o seu entorno (Ibidem), apontado pela primeira vez
(SANTOS, 2005, p.22)
na descrição de Le Corbusier sobre a Villa Savoye, em Poissy, onde segundo o
arquiteto, a casa: “[...] é um verdadeiro passeio arquitetônico, oferecendo aspectos
O cinema serve como um laboratório de ideias (Ibidem, p.24), atuando de constantemente variados, inesperados, às vezes surpreendentes.” (CORBUSIER;
forma bastante eficaz, pois além de estar livres das limitações que possuem os JEANNERET, 1995, P.24, tradução nossa).
ambientes reais (Ibidem, p.144), o mesmo também possibilita uma “aparência de Além disso, segundo Santos (2005, p.23), a capacidade do cinema de
realidade” que não é possível ser concebida por outros meios e é financeiramente instigar a reflexão sobre o espaço construído, converte-o em um potente
mais viável quando comparado com a construção civil (LEZA, 2010, p.62) facilitador para o entendimento de discussões acerca da produção arquitetônica,
Segundo estudos realizados por neurofisiologistas da Universidade de tornando-as até mesmo mais acessíveis:
Harvard, as imagens causam no cérebro humano as mesmas reações que as
percepções visuais, tornando as experiências visuais com as primeiras tão reais
quanto com as segundas (PALLASMAA, 2001, p.22, tradução nossa). Se a arquitetura no cinema permitiu que o público começasse a formar
opinião e a traçar ideias sobre o que será a arquitetura no futuro, através
No caso das imagens cinematográficas, o movimento da câmera, que nos de filmes de ficção científica [...] também permitiu que o espectador
formasse opinião sobre a arquitetura que constantemente o rodeia,
permite explorar ainda mais o espaço apresentado na tela, uma vez que a ilusão percebendo assim a sua carga emotiva, que de outra maneira,
provavelmente, nunca teria dado importância. (FERNANDES, 2012, p.41,
do movimento pelo espaço fílmico, proporciona uma aproximação mental tradução nossa)
semelhante a experimentada no espaço real, o que o autor chama de narração
ou ficção arquitetônica (SANTOS, 2005, p.42-43).
Zevi também entende o cinema 8 como uma ferramenta eficaz para a
Devido a isso, o cinema pode ser considerado uma ferramenta importante
compreensão e reflexão dos espaços arquitetônicos. Para o autor, “quando a
para a representação do espaço arquitetônico:
história da arquitetura for ensinada mais com o cinema do que com livros, a
tarefa da educação espacial das massas será amplamente facilitada” (ZEVI, 1996,

A descoberta da cinematografia é altamente importante para a p.50)


representação dos espaços arquitetônicos porque, se bem aplicada,
resolve praticamente todos os problemas colocados pela quarta 8
O autor utiliza em seu texto o termo “cinematografia”.

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A já comentada percepção visual causada pelas imagens, também Por outro lado, a principal diferença entre tais campos de trabalho, quando
influencia no processo criativo do arquiteto, que pode procurar através do relacionado a concepção do espaço, encontra-se na duração, uma vez que o
desenho e dos materiais atingir no espaço arquitetônico real, a atmosfera espaço fílmico, diferentemente do espaço arquitetônico real, tende a ser efêmero.
vivenciada em determinada obra cinematográfica (FERNANDES, 2012, p.43). Porém, apesar de sua efemeridade, o espaço criado para o filme não perde a sua
Diferentes autores discutem as semelhanças entre o trabalho do arquiteto e relevância, dado que continua a existir no imaginário popular (COLNAGO, 2012,
dos profissionais do cinema. A direção de arte, por exemplo, é o “departamento p.31).
responsável pela identidade visual do filme e pela criação do espaço-visual para O interesse acerca da relação entre arquitetura e cinema tem sido cada vez
câmera” (CARVALHO, 2021), ou seja, assim como o arquiteto, esta equipe cumpre maior, principalmente no que diz respeito ao papel da arquitetura dentro da
a função de conceber um determinado espaço, o espaço fílmico, procurando produção cinematográfica, uma vez que, como demonstrado nesta primeira parte
atender as necessidades de uma determinada pessoa ou situação, neste caso, as do trabalho, a arquitetura fílmica possui um grande potencial de comunicar-se
exigências do diretor; o programa de necessidades, então, é definido pelo roteiro. com os espectadores.
Há quem pense mais longe e associe o arquiteto ao próprio cineasta. Para E como levantado por Neumann (1999, p.9 apud SANTOS, 2005, p.20-21),
Colnago (2012, p.30), ambos possuem grandes equipes de trabalho e tem como assim como os estudos de projetos realizado por arquitetos de obras não
objetivo materializar realidades criadas pelos mesmos, além de criarem percursos construídas são considerados como importantes para a história da arquitetura, os
a serem explorados pelos espectadores/indivíduos inseridos em um determinado projetos cenográficos devem obter também, tamanho valor.
espaço. Acerca das semelhanças entre as duas profissões, o arquiteto Jean
Nouvel (1994, p.32 apud COLNAGO, 2012, p.31) afirma que:

o arquiteto, à semelhança de um diretor de cinema deve saber captar a


luz, o movimento, produzindo por meio de seus projetos uma coreografia
de ritmos, gestos, imagens, tomadas (planos) e fantasia. Saber realizar,
enfim a síntese entre o universo real e o virtual [...]

Já para o arquiteto Rem Koolhaas, a semelhança encontra-se na


montagem da sequência de eventos:

Há surpreendentemente pouca diferença entre uma atividade e outra [a


arquitetura e o cinema] [...] Eu acho que a arte do roteirista é conceber
sequências de episódios que construam suspense numa cadeia de
eventos [...] a maior parte do meu trabalho é montagem [...] montagem
espacial. (KOOLHAAS, 1994, p.7 apud SANTOS, 2005, p.45)

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2.3. Arquitetura e cinema através do tempo


Figura 12 - Sequência de quadros do filme Cabiria (Giovanni Pastroni, 1914):
Assim como os filmes dos irmãos Lumière, citados anteriormente, que espaço fílmico da Roma Antiga.

capturavam cenas cotidianas, outras produções contemporâneas a essa, também


retratavam visões panorâmicas do dia a dia, pois segundo Colnago (2012, p.38-40)
o cinema naquele período tinha como função servir de entretenimento para as
massas, como ainda hoje é, e tinha como objetivo retratar o espaço de maneira
realista, explorando “a visualidade do mundo moderno” (Ibidem, p.40). Neste
sentido, “a cidade e suas arquiteturas eram elementos fundamentais para dar
veracidade às situações encenadas” (CHAGAS, 2008, p.19).
A arquitetura passou a atuar de forma mais significativa dentro do cinema
duas décadas após a primeira exibição pública, ao compor os cenários de
grandes produções (CHAGAS, 2008, p.20), a exemplo do filme Cabiria (Giovanni
Pastrone, 1914), que possui um caráter histórico e retratou civilizações mais
antigas, como Roma e Cartago.
É possível distinguir ambas as civilizações através da arquitetura fílmica: os
reflexos da arte helenística (GOMBRICH, 2015, p.67), os murais nas paredes e pisos
(GOMBRICH, 2015, P.64), e a parede em blocos 9 compõe a imagem da arquitetura
de Roma (Figura 12). Já a arquitetura fílmica de Cartago é constituída por grandes
blocos, um ecletismo das ordens arquitetônicas e traços da arte egípcia,
características que condizem com a arquitetura desenvolvida neste local 10 (Figura
13).
Além dos cenários em estúdio e locações, passou-se a explorar também outra
forma de representação da arquitetura: a maquete (ZUBEN, 2018, p.11-12). No filme Em
Busca de Ouro, de Charlie Chaplin, lançado em 1925, a maquete foi utilizada para a
criação de efeitos especiais na obra (SCHNEIDER, 2011, p.54 apud ibidem) (Figura 14).

9
Dentre as técnicas romanas de construção, a parede em blocos denominada Opus Quadradum
resultava em paredes construídas com blocos de tamanhos semelhantes e uniformes. Fonte:
SOUZA. Como as paredes dos edifícios romanos eram construídas. Archdaily. 2020. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/935402/como-as-paredes-dos-edificios-romanos-eram- Fonte: Cabiria, 1914. Compilação da autora.
construidas>. Acesso em: 18 de Maio de 2022.
10
SILVA, José Guilherme Rodrigues. Cartago: arqueologia e representações. Em tempos de história,
Brasília, n.13, p. 124-147, 2008.

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Figura 14 - Quadro do filme Em Busca de Ouro (Charlie Chaplin, 1925).


Figura 13 - Sequência de quadros do filme Cabiria (Giovanni Pastroni, 1914):
espaço fílmico da cidade de Cartago.

Fonte: Zuben, 2018

No início do século XX, surgiram os movimentos de vanguarda ao redor do


mundo 11, inseridos em um contexto de grande transformação social e econômica
que foi a Segunda Revolução Industrial.
As Revoluções Industriais consistem em mudanças no modo de produção,
resultando em intensas transformações sociais, econômicas e políticas que
perduram até os dias atuais com a Revolução 4.0.
Iniciada em meados do século XVIII, a Primeira Revolução Industrial foi
marcada pela mudança do modo de produção artesanal para o industrial. Os
impactos dessa e da Segunda Revolução Industrial na construção, e
consequentemente na arquitetura, foram pontuados por Benévolo (2011, p.35): o
primeiro impacto, consistiu em um modo de trabalho mais racional e uma
distribuição mais liberal dos materiais tradicionais, como madeira, pedra, tijolo e
telha, além do acréscimo de novos materiais como o ferro gusa e o vidro e o
concreto armado (BENÉVOLO, 2011, p.35), além disso, os progressos da ciência
viabilizaram a medição da resistência desses materiais (Ibidem) e o
desenvolvimento da Geometria permitiu uma representação por desenhos mais
rigorosa e unívoca (Ibidem). O segundo impacto, foi o aumento do número de
construções relacionadas a infraestrutura, moradias, edifícios públicos e
Fonte: Cabiria, 1914. Compilação da autora.

11
A exemplo do Futurismo, do Expressionismo, do Surrealismo, do Cubismo e do Dadaísmo.

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comerciais, em decorrência do aumento populacional e da migração que nova produção arquitetônica que posteriormente desencadeou no movimento
ocasionaram o crescimento das cidades. E o último, foram os edifícios que moderno.
passaram a ser vistos como investimentos pagos de forma, gradual, junto com As vanguardas artísticas viram o cinema como um campo de
outros meios de produção. experimentação para suas proposições e tais experimentos estreitaram a relação
Simultâneo a estes desdobramentos, as experiências arquitetônicas entre arquitetura e cinema (CAMPOS, 2021, p.38).
estavam inseridas no contexto do historicismo, que reviviam estilos anteriores O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920) (Figura 15), é um exemplo
resultando em movimentos como o neoclassicismo, neogótico, neorrenascentista, de experimentação dos movimentos de vanguarda, mais especificamente do
entre outros, que perdurou por todo século XIX. E neste sentido: Expressionismo Alemão, dentro do cinema através da arquitetura. Virgínia Woof 13
(NEUMANN, 1996, p.7 apud CHAGAS, 2008, p.21) descreveu a arquitetura fílmica
criada para a narrativa da obra em questão como “uma arquitetura fantasiosa [...]
Os engenheiros fazem progredir, durante o século XIX, a técnica das como as que nos visitam às vezes em sonhos ou se formam na semi obscuridade
construções e preparam os meios de que se irá servir o movimento
moderno, porém, ao mesmo tempo, colocam sobre esses meios uma de aposentos.”. Para o arquiteto Adolf Loos (IDEM apud CHAGAS, 2008, p.23), o
pesada hipoteca cultural, associando a eles uma espécie de indiferença
pela qualificação formal e legando os hábitos de construção a certas cenário desse filme representa o estado psicológico do protagonista.
correspondências habituais aos estilos passados. (BENÉVOLO, 2011, p.68)

Figura 15 - Quadro do filme O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920).

Em meados do século XIX, arquitetos passaram a seguir não apenas um,


mas diversas alternativas de estilos arquitetônicos em suas concepções,
movimento conhecido como ecletismo.
Entretanto, no final do mesmo século, a cultura artística tradicional entra em
crise: o historicismo, já deteriorado e forçado, estava para desaparecer e cresciam
as razões para uma renovação na arquitetura, de ordem técnica acompanhando
os progressos na construção, e de ordem cultural, como já vinha propondo o
movimento Arts and Crafts 12 (Ibidem, p.267), além das críticas ao ecletismo.
A busca por novas expressões artísticas aconteceu em diversos campos da
Fonte: O Gabinete do Dr. Caligari, 1920.
arte, resultando nos movimentos de vanguarda citados anteriormente. Na pintura,
artistas como Cézanne, Van Gogh e Gauguin já apresentavam as soluções que
De fato, atribui-se ao Expressionismo Alemão o destaque da arquitetura
posteriormente viriam a ser os ideais do século seguinte (GOMBRICH, 2015, p.384).
fílmica desta obra, pois a deformação do espaço, que de uma forma metafórica
Já na arquitetura, movimentos como o Art Nouveau precederam a busca por uma

12
O movimento inglês Arts and Crafts, iniciado por William Morris, refutava a produção mecânica 13
Virginia Woolf (1882-1941) foi escritora, ensaísta e editora do Reino Unido, autora de várias obras
industrial em prol do processo artesanal pois, segundo esse, “a máquina [...] aniquila a própria notáveis. WIKIPÉDIA. Virgínia Woolf. Wikipédia, 2021. Disponível em: <
possibilidade de arte.” (BENÉVOLO, 2011, p.200) https://pt.wikipedia.org/wiki/Virginia_Woolf>

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condiz com a narrativa perturbadora que o filme apresenta, está relacionada as com esse tipo de cidade (GONSALES, 2005). Porém, as arquiteturas fílmicas da lua
premissas desse movimento artístico que não tinha como base o conceito clássico são espaços imaginados para a narrativa em questão, sendo portanto, uma
de beleza e descaracterizavam aquilo que era considerado bonito (CAMPOS, 2021, experimentação de como essas poderiam ser; a exemplo do palácio 14 do
p.41) (Figura 16). “governante” da lua, composto por padrões e formas diversos, arabescos, por um
arco de ferradura 15 na entrada e, ao fundo, por uma torre com volumes
Figura 16 – Obra expressionista do pintor alemão Erich Heckel, intitulada abobadados e uma cúpula, elementos esses que remetem a uma arquitetura
como "Dois homens à mesa”, de 1912.
oriental dos países árabes, mas que no filme foram utilizados para representar um
espaço de poder, na lua (Figura 18).
A cidade, presente já nos primeiros curtas exibidos no século XIX, continuou
sendo retratada dentro do cinema, agora não apenas para situar o espectador no
tempo e no espaço, mas também para apresentar novas possibilidades de
espaço urbano, principalmente nos filmes de ficção científica, inspirados nos
processos de modernização e no advento das novas tecnologias.
Foi neste contexto, que se estabeleceram as mais significativas
interlocuções entre o pensamento arquitetônico e a criação de cidades
cenográficas, como a exemplo do filme Metrópolis (LEZO, 2010, p.63), lançado em
1926, pelo diretor Fritz Lang, que tornou-se uma importante obra expressionista do
Fonte: Medium, 2018. cinema quando se trata de representação arquitetônica no cinema (Figura 19).
O final da década de 20 foi marcado por dois acontecimentos no cinema: o
primeiro longa-metragem sonoro, O Cantor de Jazz (Alan Crosland, 1927), e o
Neste momento, a arquitetura fílmica, influenciada pelos movimentos de
início da premiação do Oscar, em 1929. Segundo Campos (2021, p.39), ambos os
vanguarda, passa a ir além da representação do real e explora novos caminhos,
acontecimentos, marcaram o início da “Era de Ouro de Hollywood” que consolidou
instigando as sensações e a imaginação dos espectadores.
os Estados Unidos como uma potência da indústria cinematográfica (BASSAN,
A exploração dos espaços fantasiosos no cinema concede abertura para os
2019, s/p apud Ibidem).
filmes de ficção científica. O primeiro filme do gênero, Viagem à Lua (Georges
Méliès, 1902), utiliza a arquitetura fílmica, de maneira geral, para situar o
espectador no tempo e no espaço. Através dessa, podemos observar que,
provavelmente, a narrativa ocorre nas cidades industriais século XIX, pois é
possível perceber um cenário urbano composto por fábricas e por casas mais
Entende-se aqui por palácio o lugar onde habita/trabalha um governante.
14

simples, que remetem as vilas operárias (Figura 17); também é possível perceber 15
Segundo Ching, o arco de ferradura é “Aquele cujo intradorso se estende acima da linha de
partida, se estreita mais alto e termina em um vértice arredondado.” (tradução nossa) Fonte:
uma certa insalubridade e falta de infraestrutura, situações também condizentes CHING, Francis D. K. Dicctionario Visual de Arquitectura. México: GG, [s.d.]

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| Arquitetura e Cinema | Arquitetura e cinema através do tempo | | Arquitetura em Cena |

Figura 19 - Quadro do filme Metrópolis (Fritz Lang, 1926)


mostrando a cidade distópica criada por Fritz Lang.

Figura 17 – Quadro do filme Viagem à Lua (Georges Méliès, 1902):


espaço fílmico da cidade industrial do século XIX.

Fonte: Metrópolis (1926).

Esta ascensão, atrelada a característica que o cinema possui de ser uma


Fonte: Viagem à Lua, 1902.
arte recebida de forma coletiva (PASSOS NETO, 2006, p.9) tornaram as produções
hollywoodianas veículos para a propagação de tendências e ideais, como
Figura 18 – Quadro do filme Viagem à Lua (Georges Méliès, 1902):
espaço fílmico do palácio do ‘governante’ da lua. aconteceu com o Art Déco.
O estilo em questão, foi oficialmente apresentado na Exposição
Internacional de Artes Decorativas Industriais e Modernas de 1925 16, em Paris, mas
já vinha sendo utilizado, a exemplo da Estação Ferroviária de Helsinque (Figura
20), um projeto de Eliel Saarinen, finalizado em 1914, considerada a primeira obra
em Arquitetura Art Déco (PASSOS NETO, 2006, p.15).
Por ser considerado o estilo da era da máquina (Ibidem, p.16) teve a sua
imagem associada a arquitetura, a moda, a publicidade, ao cinema e a todos os
outros meios que pudessem disseminar o novo ideal que iniciava um rompimento
com o passado através da valorização do mecanicismo.
Fonte: Viagem à Lua, 1902
As máquinas, que tomaram conta das cidades através da industrialização e
dos meios de transporte, passaram a refletir esteticamente na arquitetura, não
apenas em relação as novas possiblidades provenientes do surgimento de novos

16
Exposition internationale des arts décoratifs et industriels modernes (Paris, 1925)

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| Arquitetura e Cinema | Arquitetura e cinema através do tempo | | Arquitetura em Cena |

materiais, mas também visualmente: “O Art Déco se caracteriza pelo emprego de Segundo Passos Neto (2006, p.17) a ideia de progresso que esse estilo
linhas retas ou curvas estilizadas, dando um aspecto aerodinâmico de velocidade” carregava, estava atrelada, não apenas a imagem da máquina, mas também ao
(Ibidem, p.15) (Figura 21), uma estética proveniente dos automóveis, aviões e seu lugar de origem, a França, que naquele momento havia vencido a Primeira
navios. E esta nova tendência também foi incorporada aos cenários que Guerra Mundial. Aproveitando-se desse significado, os Estados Unidos passaram a
compunham as arquiteturas fílmicas da época. aplicá-lo em suas novas construções e, claro, nos filmes, com o objetivo de
aumentar o otimismo da população que enfrentava as consequências da Grande
Depressão de 1929.
Figura 20 – Estação Ferroviária de Helsinque (FI).
Os executivos de cinema estadunidenses, que viviam naquele momento um
período de crescimento, passaram a abraçar a nova tendência arquitetônica,
transformando-a em símbolo de ascensão social dentro e fora do cinema. Assim,
a adesão do público ao Art Déco esteve atrelada ao cinema (PASSOS NETO, 2006,
p.14).
O primeiro filme dos EUA a explorar inteiramente o Art Déco foi Garotas
Modernas (Harry Beaumont, 1928), que tinha como diretor de arte Cedric
Gibbons 17. Esse compareceu à exposição de 1925 em Paris, o que provavelmente
impactou no seu trabalho dentro dos sets (MANDELBAUM, 1985). O filme fez um
Fonte: Vivendo Viajando, 2014.
grande sucesso no país, tendo como destaque os cenários marcantes que
Figura 21 – Exterior e interior do arranha-céu Chrysler Building, acabaram influenciando produções cinematográficas posteriores, apesar do estilo
em Nova Iorque (EUA).
já ter sido utilizado anteriormente nas produções francesas. Percebe-se pela
arquitetura fílmica desta obra, a utilização de linhas retas, curvas, a geometrização
das formas, simetria, entre outros elementos, caracterizam o estilo em questão
(Figura 22).
Ainda no primeiro quarto do século XX, a arquitetura moderna estava sendo
formada: segundo Benévolo (2011, p.13), pode-se considerar a abertura da
Bauhaus, por Walter Gropius, em 1919, como a origem do movimento, que
“comporta não somente um novo repertório formal, como também um novo
modo de pensar” (BENÉVOLO, 2011, p.14). O propósito dos percursores do

17
Um dos grandes diretores de arte de Hollywood, participou da criação da Academia de Artes e
Fonte: The Welcome Blog, 2016. Ciências Cinematográficas, organização responsável pelo Oscar, e foi o responsável pelo desenho
da estatueta dessa premiação. Além disso, foi chefe do departamento de arte da MGM (Metro-
Goldwyn-Mayer) um grande estúdio da era clássica de Hollywood.

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movimento, como Gropius e Le Corbusier, era evitar que a nova arquitetura fosse público não seriam as mostras, os manifestos e o livros, mas os próprios edifícios
considerada mais um estilo arquitetônico e sim, princípios 18 a serem aplicados com (Ibidem).
sucesso aos problemas existentes (BENÉVOLO, 2011, p.453). Assim, os concursos, as exposições, as publicações e os Congressos
Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM), foram meios de difusão dos ideais
Figura 22 – Sequência de quadros do filme Garotas Modernas (Harry Beaumont, 1928). modernos na arquitetura. Mas o cinema também atuou neste sentido:

Hollywood [...] com seu imenso poder de influência, ajudava a divulgar a


arquitetura modernista, propagando novas idéias, mesmo que muitas
vezes de maneira ambígua ou com elementos tradicionais para introduzir
ao grande público o que ainda não havia sido totalmente assimilado
(CHAGAS, 2008, p.35)

O filme Vontade Indômita (King Vidor, 1949) é um exemplo de como os


ideais modernos na arquitetura foram propagados pelo cinema. Neste caso em
específico, a arquitetura moderna e a figura do arquiteto são protagonistas do
filme, o que deixa mais clara a intensão de “divulgação”.
A narrativa contrapõe em diversas cenas a arquitetura anteriormente
produzida e as novas ideias difundidas pelo movimento moderno, sendo essa
última defendida a todo momento pelo arquiteto protagonista. Afinal, como
abordado por Gombrich (2015, p.371) esse movimento veio em resposta ao
descontentamento acerca dos edifícios que recorriam a uma diversidade de
Fonte: Pinterest, 2021. Compilação da autora. estilos que não tinham nenhuma relação com a funcionalidade do mesmo,
banalizando a produção dos ornamentos que, incialmente feitos de forma
Para isso, considerou-se importante buscar por meios que difundissem tais
artesanal, passaram a ser meras imitações produzidas por máquinas. Tamanho é
princípios ao público em geral, dos quais os mais adequados para persuadir o
o descontentamento, que o clímax da história acontece quando o personagem
principal explode uma construção que havia projetado, porém foi modificada ao
decorrer da obra, corrompendo os ideais modernos do projeto aplicados por ele.
18
Princípios como a priorização da funcionalidade dos espaços, a utilização de geometrias simples,
a ausência de ornamentação, entre outros que variam de acordo com a vertente arquitetônica, (Figura 23).
que podem ser classificadas em: Bauhaus, De Stijl, Construtivismo, Expressionismo, Funcionalismo,
Minimalismo, Estilo Internacional, Metabolismo e Brutalismo. Fonte: WALSH. Explicando 12 estilos da É interessante notar como neste filme, a arquitetura fílmica literalmente atua
arquitetura moderna. Archidaily. 2020. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/948583/explicando-12-estilos-da-arquitetura- diante da narrativa: o edifício eclético “cai por terra” quando na história, as ideias
moderna#:~:text=Como%20suas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20est%C3%A3o,e%20vert
icais%20e%20cores%20prim%C3%A1rias.> deste estilo também passam a entrar em declínio; enquanto o edifício moderno é

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mostrado em ascendência, quando no final da trama, os ideais da arquitetura Figura 24 – Quadro do filme Vontade Indômita (King Vidor, 1949):
enquadramento do edifício moderno.
moderna passam a ser amplamente aceitas pela população (Figura 24).

Figura 23 – Sequência de quadros do filme Vontade Indômita (King Vidor, 1949):


maquete da proposta do protagonista para o conjunto habitacional e
intervenções feitas no projeto já construído.

Fonte: Vontade Indômita (1949).

Já no final da década de 50, a arquitetura em questão passa a ser


questionada, pois as necessidades do homem e da cidade mudaram (CAMPOS,
2021, p.32), e esta produção arquitetônica

se configurava como um casulo vazio de tudo aquilo que o homem real


precisava, podendo ser apenas habitada pelo modelo idealizado de
homem ao qual as vanguardas imaginaram. (ibidem, p.33)

Surge então, na década de 60, o pós-modernismo, que procurou romper


com a formalidade, a austeridade e falta de variedade da arquitetura moderna,
defendendo uma produção arquitetônica de símbolos e signos que comunicam os
Fonte: Vontade Indômita (1949). Compilação da autora. valores culturais (GHISLENI, 2021), pois segundo Robert Venturi, um importante
arquiteto e teórico do pós-modernismo: “uma arquitetura válida evoca muitos
níveis de significado e combinações de enfoques” (1995, p.2).
Para o mesmo autor, os arquitetos modernos tendiam a reconhecer a
complexidade da arquitetura de maneira inconsistente e insuficiente (Ibidem, p.3),

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não atendendo mais as necessidades atuais dos programas, equipamentos


mecânicos, estrutura e expressão dos edifícios (p.1). Figura 25 – Casa do Sr. Hulot.

O diretor Jaccques Tati, produziu duas importantes obras cinematográficas


que tratam da crítica a arquitetura moderna, são essas: Meu Tio (1958), e Playtime
– Tempo de Diversão (1967).
Na primeira obra, a crítica é pautada no contraste entre dois espaços: a
cidade tradicional, onde vive o Sr. Hulot (Figura 25) e a cidade moderna, onde vive
a família Arpel (Figura 26); a casa desta família é o símbolo estético da crítica de
Tati (CAMPOS, 2021, p.69), através da representação da máquina de morar:
baseada nos projetos de arquitetura moderna, a moradia é constituída por uma
planta livre, cores monocromáticas e mobiliários e objetos modernos e
minimalistas, que segunda Campos (2021, p.72):

Fonte: Google Imagens

Esses objetos promovem a imagem do novo padrão de vida burguês, Figura 26 – Casa da Família Arpel.
fundamentado na ideia de progresso, e abdicando qualquer sentimento
que evoque memória. O arquiteto e decorador é responsável por pensar
as necessidades universais da família-tipo [...].

Ainda segundo a mesma autora, a casa e o bairro modernos do filme, são


uma consequência do processo de remodelação após a Segunda Guerra Mundial,
e esse processo “é mostrada por Jacques Tati como essencial para a
manutenção dos costumes modernos” (2021, p.69). Já a casa do sr. Hulot
contrapõe a primeira ao estar fora dos moldes modernistas, assim como o bairro
onde encontra-se situada, que possui uma diversidade de usos e não é
padronizado, como o moderno. Campos (2021, p.74) afirma que Jacques Tati, em
sua obra simboliza “a reconstrução da França sob influência do Estilo Fonte: Google Imagens, 2022.

Internacional” (2021, p.74), bem como “a resistência silenciosa de uma França


Tradicional” (2021, p.75).
Em Playtime – Tempo de Diversão (1967), a cidade é completamente
modernizada, possuindo uma aparência uniforme devido a padronização do

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espaço, dos materiais e dos ruídos (Figura 27). Este padrão das moradias também acompanhando as evoluções estéticas e ideológicas do meio
arquitetônico, [...] suscitando discussões a respeito de desenvolvimentos
é um aspecto trabalhado pela arquitetura fílmica, sendo representadas como contemporâneos e expectativas futuras.

“caixas sobrepostas umas às outras e cercadas por vidros” (CAMPOS, 2021, p.76)
(Figura 28). Mais uma vez, Jacques Tati destaca a difusão do estilo internacional
nas cidades, onde segundo Campos (2021, p.76), faz com que Paris se pareça com Figura 27 – Cidade fílmica de Playtime- Tempo de Diversão

qualquer outra grande metrópole.


O caráter impessoal e racional da arquitetura moderna, criticado pelo pós-
modernismo (VENTURI, 1995, p.1), foi utilizado no cinema como associação para
situações de mesma natureza, tornando-se até mesmo, um ícone de distúrbios
sociais (SANTOS, 2005, p.96). Para Chagas (2008, p.30), essa arquitetura esteve
ligada no cinema, a personagens boêmios, frívolos ou vilões, retratando lugares
de maneira impessoal. Seguindo o mesmo pensamento, Colnago (2018, p.68)
aponta que os personagens com um estilo de vida moderno 19, o que reflete na
Fonte: Google Imagens, 2022.
arquitetura fílmica, tendem a ser representados como a margem da sociedade ou
amorais, até mesmo como infelizes e não ajustados. Figura 28 – Moradias padronizadas
Segundo Holz (2016), através dos filmes Repulsa ao Sexo (1965), O Inquilino
(1976) e O Bebê de Rosemary (1968) o diretor Roman Polanski retrata o terror
psicológico das pessoas que deixaram de morar em uma “casa” e passaram a
morar em uma “máquina de viver”, um conceito difundido por Le Corbusier
durante o período modernista. O mesmo autor destaca que, no filme, a hierarquia,
a simplificação, a padronização, a regularidade, entre outras condicionantes
trazida por esta arquitetura, afetam a mente humana, resultando em repulsa,
medos delirantes e despersonalização, que culminam em assassinato, loucura e
suicídio.
Fonte: Google Imagens, 2022.
Já no final do século XX até os dias atuais, os avanços tecnológicos
permitem novas experimentações espaciais arquitetônicas no cinema, a partir das
modelagens 3D e efeitos especiais. Atualmente, segundo Colnago (2012, p.43), o
espaço fílmico das produções cinematográficas segue

A autora considera como espaço moderno não apenas aquele atrelado a arquitetura moderna,
19

mas também aqueles marcados pela tecnologia, mais atrelado ao futurismo.

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03
03
03
“O set, para ser um bom set, deve atuar, seja de forma rea-
lista, expressionista, moderna ou histórica. ele deve inter-
pretar seu papel [...] deve apresentar o personagem antes
que ele apareça, deve indicar sua posição social, seus
gostos, seus hábitos, seu estilo de vida, sua personalida-
de”

CAPÍTULO
(MALLET-STEVENS, 1929 apud COLNAGO, 2012, p.58)

ARQUITETURA ENQUANTO
PERSONAGEM NO CINEMA
| Arquitetura enquanto personagem no cinema | O papel da arquitetura no cinema | | Arquitetura em Cena |

3.1. O papel da arquitetura no cinema Para Colnago (2012), a arquitetura 21 também atua no cinema através da
crítica e da experimentação. Diferente dos autores anteriores, outro papel
Como discutido no capítulo dois, a arquitetura fímica cumpre outros papéis
apontado pela autora em questão, é da arquitetura íílmica como personagem da
que vão além de situar o espectador no espaço e no tempo. Isso deve-se aos
narrativa, quando essa representa um significado simbólico, metafórico ou
valores que constituem uma obra arquitetônica. Mas, quais seriam estes papéis?
sentimental que o filme deseja transmitir (2012, p.60).
Para Dietrich Neumann (1999) 20 os três principais papéis da arquitetura
A capacidade que as imagens de arquitetura possuem de associar-se a
fílmica são:
emoções, também permite que a arquitetura fílmica reflita as emoções dos
personagens que participam da narrativa. Neste sentido, Zuben (2018), assim

a reflexão e o comentário sobre o desenvolvimento contemporâneo; a


como Colnago (2012), trata acerca do papel de personagem 22, onde esse faz
criação de um campo de testes para visões inovadoras; e a afirmação de parte da história, interferindo na narrativa e dialogando com os personagens,
um domínio no qual uma abordagem diferenciada da prática artística e
arquitetônica poderia ser realizada (1999, p.7 apud LEZA, 2010, p.65). transmitindo o que esses estão sentindo (2018, p.21).
E sobre esta transmissão de emoções para o espectador, Fernandes (2012)
destaca que o cinema depende das formas, cores e materiais da arquitetura para
Em sua dissertação, Santos (2005) não deixa de destacar o papel mais
manifestar determinada atmosfera 23 para o público ou para criar um paradigma
simples que a arquitetura fílmica pode cumprir: o papel técnico de representar
emocional (2012, p.30).
determinado tempo ou época. Mas, assim como Neumann (1999), o autor também
Também para Pallasmaa (2007), a arquitetura no cinema apresenta um
pontua o papel da crítica, seja à própria produção arquitetônica ou a outro fator
determinado estado mental estando sob influência da narrativa, amplificando
social; e o papel da experimentação de concepções arquitetônicas existentes ou
determinadas emoções através do espaço e das imagens (2007, p.10). Para
criadas.
ambos os autores, portanto, a arquitetura cumpre o papel de expressar e
Para cumprir estes papéis, Santos aponta a necessidade da construção de
transmitir emoções ao espectador, condizendo com o papel de personagem
uma arquitetura que atue como agente fílmico, ressaltando a natureza, a função e
apontados por Colnago (2012) e Zuben (2018).
a atmosfera do lugar, pois essa “precisa passar de mera decoração do espaço
A partir desta revisão, é possível definir quatro papéis principais exercidos
fílmico a agente ativo de sua legitimação dramática” (2005, p.34).
pela arquitetura fílmica, além da premissa de situar a narrativa no tempo e no
Arquitetura fílmica servindo como meio para a crítica no cinema também é
trabalhado por Chagas (2008). O mesmo ainda aponta o papel desta arquitetura
com propagadora de ideais.

21
A autora faz uso do termo “espaço fílmico’, que também trata acerca da arquitetura no cinema, e
20
Dietrich Neumann é um arquiteto alemão, professor de História da Arquitetura Moderna e por isso esse faz-se pertinente a este trabalho.
Urbanismo da Universidade Brown (EUA). Também trabalha com as temáticas de iluminação 22
Zuben (2018) trabalha com o termo “cenário personagem”, mas assim como Colnago (2012), a
arquitetônica e história do film-set design (o que no Brasil equivale a “direção de arte para filmes”). autora também trata acerca da arquitetura no cinema, e por isso fazem-se relevantes as
O arquiteto é autor do livro Film Archtecture: Set Design from Metropolis to Blade Runner. (1996). considerações dessa para este trabalho.
Fonte: AMERICAN ACADEMY. Dietrich Neumann. American Academy. [20--]. Disponível em: 23
A definição de “atmosfera” adotada por Fernandes (2012), é a de Peter Zumthor (2006, p.16) que
<https://www.americanacademy.de/person/dietrich-neumann/>. Acesso em: 28 de novembro de descreve a atmosfera como quando um espaço consegue transmitir algo [sentimento, emoção
2021. etc.].

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| Arquitetura enquanto personagem no cinema | O papel da arquitetura no cinema | | Arquitetura em Cena |

espaço (Quadro 01). Este trabalho, por sua vez, aprofunda-se no papel da 3.2. O papel da arquitetura como personagem
arquitetura fílmica como personagem da narrativa cinematográfica 24.
Como abordado no tópico anterior, o papel da arquitetura fílmica como
personagem da narrativa cinematográfica é apontado por Colnago (2012) e
Quadro 01 - Papeis que a arquitetura fílmica pode exercer no cinema
Zuben (2018); para a primeira, a arquitetura como personagem possui significado
Crítica Experimentação Propaganda Personagem
simbólico, metafórico ou sentimental (2012, p.60), já para a segunda, essa
Neumann (1999) Neumann (1999) Chagas (2008) Colnago (2012)
Santos (2005) Santos (2005) Zuben (2018) arquitetura pode interferir na narrativa ou dialogar com os personagens,
Chagas (2008) Chagas (2008) transmitindo o que esses estão sentindo (2018, p.21).
Colnago (2012) Colnago (2012)
Percebe-se, a partir dos trabalhos realizados pelas autoras, que essa
Fonte: Elaborado pela autora, 2022 arquitetura fílmica pode ser categorizada em: edificação como personagem
(Colnago, 2012; Zuben, 2018) e cidade como personagem (Colnago, 2012). A
edificação animada também é apresentada como uma categoria por Colnago
(2012), porém, por ser identificada majoritariamente em animações, não será
considerada neste trabalho, pois o recorte estabelecido para os critérios de
seleção dos filmes que serão analisados, não abrange este tipo de obra 25.
A seguir serão exemplificadas essas categorias, a partir de referências
traçadas p e traçados parâmetros para identificação deste papel nas obras
cinematográficas.

A edificação como personagem

A casa do lago (2006)


A “casa de vidro” do filme A Casa do Lago (Alejandro Agresti) (Figura 29) é
definido por Colnago (2012, p.68) como uma arquitetura fílmica personagem. O
espaço cenográfico localizado em Illinois (EUA) foi concebido pelo arquiteto
britânico Nathan Crowley (HOUSE AND HISTORY, 20--?).
A narrativa acontece em torno da casa que, além de ser o ponto de partida
para o romance entre os protagonistas Kate e Alex, também carrega a história da

25
Para atender a categoria edificação animação seria necessário agregar os filmes de animação
24
Para abranger todos os papéis nesta pesquisa, seria necessário estendê-la, indo além dos limites a este trabalho, resultando no aprofundamento de outros aspectos deste tipo de produção, que
de um trabalho monográfico de graduação. não cabem a este trabalho.

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| Arquitetura enquanto personagem no cinema | O papel da arquitetura como personagem | | Arquitetura em Cena |

relação familiar deste último. Na trama, o pai do protagonista é o arquiteto Contenção e controle [da natureza]. Esta casa é sobre posse, e não
conexão, quer dizer, é bela. Sedutora até. Mas está incompleta. É tudo
responsável pela concepção da casa como um presente para a sua mãe, porém, sobre ele. Papai sabia como construir uma casa, não um lar. (A CASA…,
2006)
é notado por Alex que o projeto reflete o convívio familiar: “uma demonstração
clara da personalidade do pai e do seu distanciamento da família” (COLNAGO,
2012, p.69). O controle e contenção apontado pelo protagonista está relacionado ao
fato de a árvore em questão só possuir contato com meio externo através da
Figura 29 – A casa de vidro de A Casa do Lago (Alejandro Agresti, 2006). claraboia acionada por controle remoto (Figura 30).

Figura 30 – A abertura da estufa.

Fonte: A Casa, do Lago, 2006.

Em um diálogo com o irmão, o protagonista analisa aspectos da casa que


confirmam sua hipótese. Em um primeiro momento, a materialidade é colocada
em discussão: o vidro, que em teoria permitiria a conexão casa e natureza,
segundo Alex, aponta para o oposto: Fonte: A Casa, do Lago, 2006.

Aqui você está em uma caixa. Uma caixa de vidro com uma vista para Predominantemente feita com aço e vidro, a casa segue a linguagem
tudo ao seu redor…, mas você não pode tocar em nada. Não existe uma
interconexão entre você e o que você está vendo (A CASA…, 2006)
moderna possível de ser notada em exemplares como a Glass House (1949), de
Philip Johnson (Figura 31) e a Casa de vidro (1951), da Lina Bo Bardi (Figura 32).
Apesar de contestada pelo protagonista, a relação entre a casa e a natureza
Em seguida, questionado pelo irmão acerca da árvore inserida ao centro da proporcionada pela transparência do vidro, também é um aspecto da arquitetura
casa, que para um olhar distante reforçaria a ideia de conexão com a natureza, moderna que pode ser visto nos exemplos anteriores, bem como nas obras de
Alex rebate: outros arquitetos modernos, como Mies van der Rohe, a exemplo da Casa
Farnsworth (1951) (Figura 33).

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| Arquitetura enquanto personagem no cinema | O papel da arquitetura como personagem | | Arquitetura em Cena |

Figura 33 – Casa Farnsworth, Mies van der Rohe, 1951.

Figura 31 – Glass House, Phillip Johnson, 1949.

Fonte: Google Imagens, 2022.

Percebe-se também a utilização dos pilotis (Figura 34), da planta livre


(Figura 35) e do terraço (Figura 36), referências a três dos cinco pontos da
Arquitetura Moderna propostos por Le Corbusier, que são: as janelas em fita, a
Fonte: Google Imagens, 2022.
fachada livre, o terraço jardim, a planta livre e os pilotis. Para o protagonista,
Henry, a casa “é uma fusão entre Corbusier e Frank Lloyd Wright” (A CASA…,
Figura 32 – Casa de Vidro, Lina Bo Bardi, 1951.
2006), este último, também um importante nome da arquitetura moderna,
destacando-se pela relação casa e entorno, a exemplo da Casa da Cascata (1939)
(Figura 37).
Figura 34 – Pilotis que suspendem a casa em relação ao lago.

Fonte: Google Imagens, 2022.

Fonte: A Casa, do Lago, 2006.

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Figura 37 – Casa Cascata, Frank Lloyd Wright, 1934.

Figura 35 – Esquema da planta-baixa.

Fonte: Google Imagens, 2022.

Segundo Crowley (HOUSE AND HISTORY, 20--?), elementos arquitetônicos


de estufa (Figura 38) e do Período Regência também fazem parte da estética da
casa com o objetivo de propor um visual elegante e romântico (Figura 39), indo
de encontro a temática do filme.
De maneira geral, a casa é um ambiente que fala sobre quem ali habita
(Colnago, 2012, p.68; FERNANDES, 2008, 112), pois “a casa vai além da estrutura
Fonte: Elaborado pela autora, 2022.
física que combina piso, paredes e teto, ela é a extensão da vida de quem nela
Figura 36 – Terraço habita” (BARROS, 2012).

Figura 38 – Elementos de estufa na cobertura.

Fonte: A Casa, do Lago, 2006 Fonte: A Casa do Lago, 2006

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Aquarius (2016)
Outro filme em que a habitação fala sobre personalidade do seu morador é
o apartamento de Clara (Figura 40), no filme Aquarius (Kleber Mendonça Filho,
2016).
Figura 40 – Apartamento de Clara.

Figura 39 – Guarda-corpo e pilar com ornamentados


com arabescos, que acrescentam um caráter romântico ao local.

Fonte: Aquarius, 2016

A história acontece em torno da venda do local em questão que


possibilitaria a demolição do edifício Aquarius (Figura 41), dando lugar a um novo
empreendimento. A protagonista, que mantém uma relação afetiva pelo lugar
devido às memórias construídas ali, não renuncia à sua casa.

Figura 41 – Edifício Aquarius.

Fonte: A Casa do Lago, 2006

Fonte: Google Imagens, 2022

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Assim, a arquitetura fílmica do lugar guarda memórias, como apontado por explorada pelo diretor Woody Allen através das suas imagens emblemáticas que
Montoro e Guercio (2018, p.8): “O espaço de Aquarius é o álbum de fotografias em reforçam o imaginário da cidade (SILVIA, 2015, p. 62), destacando os monumentos,
que cada imagem da memória de Clara está registrada”, afirmação essa que elementos esses que escrevem as identidades e os signos dos lugares (ALMEIDA,
condiz com descrito pelo diretor de arte do filme, Thales Junqueira: 2015, p.13), criando um passeio foto-filmográfico que forma o quadro parisiense
(SILVA, 2015, p.55) (Figura 42). Allen, descrito como “cineasta das cidades” por
utilizar o espaço urbano como protagonista das suas obras (ALMEIDA, 2015, p.9),
Um apartamento moderno, contemporâneo, embora com matéria atua como um guia para o espectador, apresentando-o a Cidade Luz (COLNAGO,
carregada de memória. Um espaço de bem-estar (e também sombras)
que fosse a topografia da intimidade de Clara, reunindo suas histórias, 2012, p.72).
afetos, assombros e arquivos. (2017, p.154).

Figura 42 – Sequência de imagens emblemáticas da


cidade de Paris, apresentadas pelo filme.
Ainda sobre memória, segundo o mesmo diretor, o mobiliário e os objetos
“são uma sobreposição de tempos, afetos e memórias, vestígios de quem nele
mora” (Ibidem, 2017, p.153), e é possível perceber como o interior do apartamento
reflete o sentimento de nostalgia e rememoração carregado pelos personagens
ao longo da narrativa, a exemplo da cômoda de Tia Lúcia, que remete a antiga
dona memórias do passado e que para protagonista, remete não somente as
memórias compartilhadas pela tia, mas também a própria tia.
É notório ao decorrer da narrativa, que o habitar de Clara vai além do
próprio apartamento e envolve todo o edifício, tornando-o também relevante para
a narrativa. O lugar sendo detentor das memórias da protagonista, passa a ser
uma extensão do corpo da mesma (MONTORO; GUERCIO, 2018, p.8) e por isso a
relação de proteção entre ambos é mútua, pois assim como ela abraça a causa
do edifício para que esse não seja destruído, o edifício além de abrigá-la, a acolhe
e a preserva (Ibidem, p.8).

A cidade como personagem


Fonte: Meia Noite em Paris, 2011.

Meia-noite em Paris (2011) O passeio por Paris é iniciado logo no começo do filme onde uma
No filme Meia-noite em Paris (Woody Allen, 2011), por exemplo, a cidade sequência de cenas da cidade, a nível da rua e vista aérea, são mostradas criando
não apenas localiza o espectador no tempo e no espaço, mas também é um panorama geral do espaço que será explorado ao decorrer do filme. As

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| Arquitetura enquanto personagem no cinema | O papel da arquitetura como personagem | | Arquitetura em Cena |

viagens no tempo realizadas pelo protagonista, Gil, permitem que o espectador 3.3. Arquitetura fílmica enquanto personagem: como identificar?
conheça a cidade em três temporalidades diferentes, retratando o processo
A partir das referências anteriores é possível traçar uma forma de
evolutivo da cidade e das pessoas que a habitam (NASCIMENTO, 2016),
identificar a arquitetura como personagem. Em um primeiro momento, percebe-se
amplificando o protagonismo dessa diante da narrativa. Assim, como apontado
que a edificação ou a cidade personagem são os espaços onde a narrativa se
por Colnago (2012, p.79): “Paris [...] não é apenas o locus da ação, mas
desenvolve com maior frequência.
personagem capaz de capturar a atenção do público e fazê-lo apaixonar-se por
Nota-se também que ao decorrer da narrativa, o espaço é apresentado ao
ela.”. A capacidade da cidade se tornar personagem da narrativa, portanto, está
espectador ao longo das cenas: na categoria de edificação, as cenas exploram o
atrelada a forma como essa é apresentada ao decorrer do filme, fazendo com
ambiente em destaque através de planos abertos (figura 43), enquadramentos na
que o espectador a compreenda como um organismo vivo através de suas
fachada ou em cômodos (Figura 44) e passeios com a câmera pelo espaço
características.
(Figura 45), enfatizando também como o local é habitado (Figura 46).
Porém, é válido destacar que a representação das cidades no cinema,
como no caso do filme em questão, são um recorte feito pelo diretor, com o intuito
Figura 43 – Plano aberto do apartamento de Clara, de Aquarius (2016).
de atender a narrativa da obra. Como afirmado por Woody Allen, a Paris do filme
é reflexo da sua forma de olhar, que não condiz com um entendimento profundo
sobre as questões políticas, econômicas, entre outras, que acabam por excluir
produções arquitetônicas mais contemporâneas e regiões mais periféricas. Assim,
o recorte da cidade apresentado no filme, simboliza a Paris de Woody Allen, ao
mesmo tempo que dialoga com o fascínio do protagonista.

Fonte: Aquarius, 2016

Figura 44 – Fachada da Casa de Vidro, de A Casa do Lago (2006).

Fonte: A Casa do Lago, 200

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| Arquitetura enquanto personagem no cinema | ARQUITETURA FÍLMICA COMO PERSONAGEM: COMO IDENTIFICAR? | | Arquitetura em Cena |

Figura 45 – Passeio com a câmera pelo espaço da casa de vidro, Figura 47 – Funcionamento da cidade do filme Meia Noite em Paris.
de A Casa do Lago (2006).

Fonte: A Casa do Lago, 2006 Fonte: Meia Noite em Paris, 2011.

Figura 46 – Modo de habitar o espaço da protagonista do filme Aquarius.


Figura 48 – Vista aérea da cidade do filme Meia Noite em Paris.

Fonte: Aquarius, 2016

Fonte: Meia Noite em Paris, 2011.


Já na categoria de cidade, as cenas do filme mostram funcionamento da
Figura 49 – Ícone urbano da cidade do filme Meia Noite em Paris.
cidade (Figura 47), a malha urbana através de tomadas aéreas (Figura 48), seus
ícones urbanos (Figura 49) e suas formas de habitar (Figura 50), (COLNAGO, 2012,
p.75), caracterizando-a como um organismo vivo.
Também é possível notar, em cada referência, um ou mais dos aspectos
pontuados por Colnago (2012) e Zuben (2018): o significado metafórico, simbólico
ou sentimental da arquitetura fílmica, o diálogo dessa com os personagens e a
interferência dessa no contexto geral narrativa. Para identificá-los, parte-se para
uma análise mais subjetiva da arquitetura fílmica, buscando compreender quais
valores a imagem dessa arquitetura representa para o contexto geral da
Fonte: Meia Noite em Paris, 2011.
narrativa.

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| Arquitetura enquanto personagem no cinema | ARQUITETURA FÍLMICA COMO PERSONAGEM: COMO IDENTIFICAR? | | Arquitetura em Cena |

Figura 50 – Pessoas habitando a cidade do filme Meia Noite em Paris. A ameaça dos cupins é uma metáfora do assédio que a personagem
Clara sofre ao longo do filme, sorrateiro, tácito, até que se torna perigoso
e, quiçá, letal. Não apenas isso, mas os cupins também apresentam a
ideia da morte que acompanha o ser humano durante toda a vida, mas
que, na velhice, é mais patente, e está mais próxima. (MONTORO;
GUERCIO, 2018, p.8)

Por fim, no filme Meia Noite em Paris (2011), como apontado por Colnago
(2012, p.79): “Paris [...] não é apenas o locus da ação, mas personagem capaz de
Fonte: Meia Noite em Paris, 2011. capturar a atenção do público e fazê-lo apaixonar-se por ela.”. A capacidade da
cidade se tornar personagem da narrativa, portanto, está atrelada a forma como
No filme A Casa do Lago (2006), por exemplo, o significado metafórico da
a imagem dessa é apresentada ao decorrer do filme, ressaltando os valores que a
casa é evidenciado nas falas do protagonista, quando o mesmo relaciona a
constituem, fazendo com que o espectador a compreenda como um organismo
materialidade e a forma da obra ao relacionamento familiar e a personalidade do
vivo através de suas características. Assim, o recorte da cidade apresentado no
mesmo. O estilo moderno da casa, por si só, já atribui significado simbólico a obra,
filme, simboliza a Paris de Woody Allen, ao mesmo tempo que dialoga com o
pois o estilo arquitetônico é uma forma de dar identidade aos espaços e conduzir
fascínio do protagonista.
as expectativas do público em relação a narrativa apresentada (COLNAGO, 2018,
Sintetizando a discussão e respondendo à pergunta que intitula este tópico,
p.68), e neste sentido, é possível perceber desde os materiais predominantes, aço
a arquitetura fílmica como personagem pode ser identificada a partir da forma
e vidro, até a forma de implantação, pilotis que suspendem a edificação sobre o
como o espaço é mostrado ao decorrer da narrativa, bem como a partir da
lago, o caráter técnico da edificação, bem como a condição socioeconômica
compreensão dos valores que a imagem dessa arquitetura representa dentro do
daqueles que a habitam/habitaram. Por fim, pode-se pontuar também a
contexto geral da narrativa, que levantam significados e permitem o diálogo com
interferência da casa na narrativa, uma vez que essa foi o motivo que conectou o
personagens e a interferência dessa na história.
casal protagonista.
Já no filme Aquarius (2016), o valor emocional e sentimental atribuído ao
edifício e o apartamento pelos personagens, é o que confere significados a
imagem dessa arquitetura fílmica, que dialoga com o sentimento de nostalgia e
rememoração desses, simboliza as memórias da protagonista e interferem na
narrativa por ser o principal motivo do desenvolvimento da história, devido ao seu
valor sentimental. Além disso, a conexão entre Clara e o edifício permite a
construção de uma metáfora:

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04
04
Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017)
Pantera Negra (Ryan Coogler, 2018)
Parasita (Bong Joon Ho, 2019)

04

CAPÍTULO
ANÁLISES
| ANÁLISES | CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS FILMES | | Arquitetura em Cena |

4.1. Critérios de seleção dos filmes cultural, por ditar os filmes que merecem serem assistidos devido a sua qualidade
e assim, influenciar na escolha dos espectadores (HOLANDA, 2013, p.8),
De modo geral, os filmes analisados neste trabalho atenderam a dois
impactando no consumo da cultura de massa.
critérios principais:
Neste sentido, considerar como recorte deste trabalho os filmes indicados
ao Oscar entre 2017 e 2022, permite analisar como a arquitetura, através da sua
• Filmes indicados ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Arte entre
imagem tem sido representada, atualmente, enquanto personagem da narrativa
os anos de 2018 e 2022 26;
cinematográfica em obras cinematográficas relevantes no contexto atual, devido
• Filmes em que a arquitetura fílmica é classificada como personagem,
a sua com qualidade técnica e de grande alcance na cultura de massa.
atendendo aos parâmetros estabelecidos na Ficha de Seleção.
E considerou-se a categoria de Melhor Direção de Arte como ideal para
este recorte, por esse ser o departamento responsável pela criação do espaço-
A seguir, serão aprofundadas e justificadas as escolhas destes critérios.
visual para câmera, ou seja, o espaço fílmico onde a arquitetura fílmica encontra-
se inserida.
Oscar e Direção de Arte

Ficha de seleção
O Oscar foi criado em 1927, com o objetivo de exaltar o caráter artístico das
produções cinematográficas de Hollywood, garantindo o prestígio e o status das
Para escolher os filmes que foram analisados neste trabalho, criou-se uma
mesmas (Ibidem, p.1). Atualmente, a premiação elege os melhores filmes e
ficha de seleção, onde as produções inseridas dentro do recorte estabelecido
profissionais de toda a indústria cinematográfica, sendo considerada uma das
foram selecionadas a partir dos parâmetros estabelecidos nessa, criados a partir
mais importantes do cinema.
das referências estudadas no capítulo anterior.
As indicações e escolhas dos ganhadores são realizadas pelos membros da
Incialmente, são pontuadas as informações gerais sobre a obra: Título
academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Los Angeles, EUA) 27. Em razão da
(tradução e original), ano de lançamento, diretor geral e de arte, e a
sua popularidade, a premiação atua como um importante fator na indústria
categoria/ano da indicação ao Oscar.
26
Os filmes inseridos no recorte podem ser conferidos nas fichas nos apêndices do trabalho.
27
Devido a esta especificidade, algumas obras passam despercebidas, muitas vezes de forma
Na sequência, são apontados os espaços predominantes do filme, ou seja,
injusta, pela premiação. Segundo um estudo do Los Angeles Times (2016), constatou-se que esse os espaços onde a narrativa se desenvolve com maior frequência e sua categoria,
eleitorado é composto majoritariamente por homens (76%) e brancos (93%), sendo apenas 2%
negros e menos disso, latinos. Essa homogeneidade, consequentemente, reverbera na premiação, edificação ou cidade. A partir disso, inicia-se uma análise prévia da arquitetura
uma vez que o que agrada os membros é o que reflete suas vivências socioculturais (THEOBALD,
2019). Além disso, a busca por filmes de caráter artístico culmina na exclusão de uma série de fílmica..
filmes que também contribuem na construção da cultura popular, como os blockbusters. Porém,
esse contexto vem sendo modificado ao longo dos anos, as indicações do filme Pantera Negra Na categoria “Edificação como personagem”, a arquitetura fílmica precisa
(Ryan Coogler, 2018) são um exemplo, sendo o primeiro filme de super-herói a ser indicado a
categoria de Melhor Filme e o primeiro a ter uma mulher negra, Hannah Beachler, indicada na
atender aos seguintes parâmetros relacionados a maneira como a edificação é
categoria de Melhor Design de Produção. mostrada ao decorrer da narrativa:
Fonte: THEOBALD, Debora. Oscar: Pantera Negra, filmes de super-heróis e o elitismo cultural.
Valkirias, 2019. Disponível em: < https://valkirias.com.br/oscar-pantera-negra-filmes-de-super-
herois-e-o-elitismo-cultural/>. Acesso em: 06 de jun. de 2022.

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| ANÁLISES | CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS FILMES | | Arquitetura em Cena |

• Ter seu espaço explorado pela câmera ao decorrer das cenas através dos
planos abertos, enquadramentos de fachadas, ambientes e volumes,
movimentação de câmera pelos espaços etc.;
• Ter sua forma de habitar evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

Além disso, a edificação, em relação ao contexto geral da narrativa, deve


atender ao menos um dos três aspectos pontuados por Colnago (2012) e Zuben
(2018). São esses:

• Possuir significado simbólico, metafórico ou sentimental;


• Dialogar com os personagens;
• Interferir na narrativa.

Já na categoria “Cidade como personagem”, a arquitetura fílmica deve


atender aos seguintes parâmetros:

• Ter o funcionamento da cidade mostrado através das cenas;


• Ter seu espaço explorado pela câmera ao decorrer das cenas através dos
planos abertos, tomadas aéreas, enquadramento de ícones urbanos etc.
• Ter sua forma de habitar evidenciada nas cenas ao longo da narrativa;

Além de também atender ao um dos três aspectos listados na categoria


anterior.
A sintetização e organização destes critérios através da ficha, permitiu uma
análise preliminar das arquiteturas fílmicas que tornou o processo de seleção mais
eficiente. As fichas com as análises podem ser encontradas nos apêndices do
trabalho.
A seguir, o Quadro 2 sintetiza os dados das fichas, a fim de apresentar,
resumidamente, a seleção realizada.

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Quadro 02 – Quadro síntese dos dados das fichas de seleção, com destaque para os filmes selecionados.

Edificação enquanto personagem


Como a edificação é mostrada ao decorrer da narrativa No contexto geral da narrativa
Arquitetura Fílmica A edificação possui
Filme Ano O espaço da edificação é A forma de habitar a A edificação A edificação
Predominante significado simbólico,
explorado pela câmera ao edificação é evidenciada nas dialoga com os interfere na
metafórico ou
decorrer das cenas cenas ao longo da narrativa personagens narrativa
sentimental
A Bela e a Fera 2017 Castelo ✓ X X X X

Casa de Elisa ✓ X X X ✓
A Forma da Água 2017
Centro de pesquisa aeroespacial ✓ X X X ✓

Parlamento ✓ X X X X
O Destino de Uma Nação 2017
Casa de Churchill X ✓ X X X

Roma 2018 Casa onde Cleo trabalha e mora ✓ ✓ X X X

Casa de Neil ✓ ✓ X X X
O Primeiro Homem 2018
Centro de treinamento X X X X X
A Favorita 2018 Palácio ✓ ✓ X X X

Casa dos Kim ✓ ✓ ✓ X X


Parasita 2019
Casa dos Park ✓ ✓ ✓ X ✓

Tenet 2020 Cofres ✓ X X X ✓

Meu Pai 2020 Apartamento de Anne ✓ ✓ X X X

Mank 2020 Rancho de Hóspedes ✓ ✓ X X X

Jojo Rabbit 2020 Casa de Jojo ✓ ✓ X X X

A Voz Suprema do Blues 2020 Sala da banda ✓ X ✓ ✓ X

The Tragedy of Macbeth 2021 Castelo de Macbeth X X ✓ ✓ X

Ataque dos Cães 2021 Casa de Benedict ✓ ✓ X X X

Circo ✓ ✓ X X X
O Beco do Pesadelo 2021
Consultório da Dr. Lilith ✓ X X X ✓
Como a cidade é mostrada ao decorrer da narrativa No contexto geral da narrativa
A forma de habitar
A cidade é A cidade possui
Arquitetura Fílmica O funcionamento da a cidade é A cidade dialoga
Filme Ano explorada ao significado simbólico, A cidade interfere
Predominante cidade é mostrado evidenciada nas com os
decorrer das metafórico ou na narrativa
através das cenas cenas ao longo da personagens
cenas sentimental
narrativa
Blade Runner 2017 Los Angeles ✓ ✓ ✓ ✓ X X
Dunkirk 2017 Dunkirk X X X X X X
Pantera Negra 2018 Birnin Zana ✓ ✓ ✓ ✓ X X

O Retorno de Mary Poppins 2018 Londres X ✓ X X X X


Não há, pois os espaços variam
O Irlandês 2019 com frequência ao decorrer das X X X X X X
cenas
Não há, pois os espaços variam
Era uma vez em Hollywood 2019 com frequência ao decorrer das X X X X X X
cenas
Não há, pois os espaços variam
1917 2019 com frequência ao decorrer das X X X X X X
cenas
Não há, pois os espaços variam
Relatos do mundo 2020 com frequência ao decorrer das X X X X X X
cenas
Amor Sublime Amor 2021 Nova Iorque (West Side) X ✓ ✓ X ✓ ✓
Não há, pois os espaços variam
Duna 2021 com frequência ao decorrer das X X X X X X
cenas

Fonte: Elaborado pela autora, 2022


| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

4.2. Edificação como personagem: Parasita (2019) O espaço em questão, também assume uma dimensão simbólica (MIGUEL,
2002; BARROS, 2012), uma vez que “habitar é um ato simbólico” (PALLASMAA,
Como abordado anteriormente, a arquitetura através da sua imagem, é
2016, p.8).
capaz de situar o espectador no tempo e no espaço, bem como comunicar os
O cinema, por sua vez, explora esta simbologia; segundo Fernandes (2012,
valores sociais, econômicos, culturais e ideológicos que permeiam a narrativa, isso
p.114), a casa nas obras cinematográficas também são espelhos de seus
porque “As construções da arquitetura concretizam a ordem social, ideológica,
habitantes, onde é possível perceber aspectos psicológicos e sociais dos mesmos.
cultural e mental” (PALLASMAA, 2013, p.124).
Seguindo os critérios de seleção, a arquitetura fílmica do filme Parasita
As edificações, segundo Pallasmaa (2013, p.63) são imagens espaciais e
(Bong Joon Ho, 2019) foi analisada, a fim de compreender como a edificação, em
materiais do ‘estar no mundo’, indo além da sua forma física, sendo também “as
especial a casa, a partir de sua imagem na obra cinematográfica, atua como
projeções mentais e a exteriorização da imaginação e memória do ser humano”
personagem na narrativa.
(Idem, 2016, p.103).
Ainda segundo o mesmo autor (2013, p.120), apesar da diversidade de
Parasita (2019)
funções que uma edificação pode abarcar, todas essas derivam da essência do
ato de habitar, sendo a casa a mais potente atividade projetual da arquitetura,
junto com as edificações para culto (Ibidem). O filme Parasita (2019) 28, dirigido por Bong Joon Ho, é considerado um

Para Miguel (2002), a casa é a representação mais elementar da longa-metragem de comédia, drama e terror 29, que narra a relação entre duas

arquitetura, e como já abordado no capítulo três, é um espaço que responde ao famílias de classes socioeconômicas distintas, que habitam a capital da Coreia do

modo de vida dos moradores e às características da paisagem onde está inserida. Sul.

Segundo Barros (2012): A desigualdade social, consequência do modo de vida da sociedade


moderna, é uma das principais temáticas abordadas pela narrativa, não apenas
através do roteiro, mas também pelas arquiteturas fílmicas. As casas da família
[...] Cada indivíduo possui um comportamento particular que estará Park e da família Kim 30 representam “como as desigualdades estruturais refletem
refletido no seu lugar de moradia, na forma como organiza os ambientes,
nos objetos presentes etc. A casa passa a ser espelho da personalidade na qualidade dos ambientes que vivemos” (ARQUICAST, 2020). Assim, estes locais
dos moradores e assim estes se reconhecem nela.
tornam-se personagens importantes para o desenvolvimento da narrativa, sendo
o filme definido por Flight (2020) como um “conto de duas casas”.

Neste sentido, Pallasmaa (2013, p.125) afirma: No filme em análise, o retrato das famílias é traçado através da dualidade
impressa nos ambientes domésticos como escassez e excesso, confinamento e
amplitude (ARQUICAST, 2020), claro e escuro, alto e baixo (COSTA, 2020, p.244),
Nosso domicílio é o refúgio e a projeção de nosso corpo, memória e 28
Para uma maior compreensão da análise, recomenda-se assistir ao filme.
identidade pessoal. Estamos em constante diálogo e interação com o 29
Fonte: IMDB Parasite. 2019. Disponível em: < https://www.imdb.com/title/tt6751668/>. Acesso em:
ambiente, a tal ponto que é impossível desconectar a imagem da
novembro de 2021.
identidade pessoal de seu contexto espacial e situacional 30
Sabe-se que “Kim” não o sobrenome da família em questão, porém, será utilizado nesta análise o
termo “família Kim” para designar a família menos abastarda da qual Kim Ki-taek é o pai.

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

entre outros aspectos que enfatizam as diferenças culturais e sociais entre as


famílias. Para Costa (2020, p.241): “o contraponto entre as duas casas, muito além
Figura 51 – Janela da sala da casa dos Kim.
do simples aspecto estético, são explorados para desenvolver uma severa crítica
social”.

O porão da família Kim


A casa da família Kim é um apartamento semi subterrâneo conhecido na
Coreia do Sul como banjiha,, que segundo Yoon “[...] não são apenas uma
peculiaridade da arquitetura de Seul [capital do país], mas um produto da história
da cidade”. Durante os conflitos entre as coreias, na década de 70, os porões
passaram a ser obrigatórios nos edifícios com mais de quatro andares, a fim de
servirem como abrigos de emergência; posteriormente, estes espaços passaram a
servir como casas devido à falta de moradias na capital, tornando-se uma
alternativa de aluguel mais barato para as pessoas desfavorecidas
economicamente (ibidem).
Como apontado pela mesma autora, os moradores destes espaços sofrem
com os malefícios de uma moradia de baixa qualidade, como a ausência de luz
Fonte: Parasita, 2019.
solar, o excesso de umidade, a ausência de ergonomia e amplitude, além da falta
de privacidade e higiene. E é possível observar todas essas questões no filme. Figura 52 – Banheiro da casa da família Kim, janela ao fundo

De maneira geral, as cenas na casa dos Kim acontecem em dois ambientes:


sala/cozinha (Figura 51) e banheiro (Figura 52), evidenciando o espaço reduzido.
As duas janelas existentes no local são pequenas e apenas uma propicia a
entrada de sol na casa.
A umidade não é uma característica visível, mas é apontada através de
outro sentido, o olfato: o cheiro da família Kim é pontuado em diferentes
momentos do filme pela família Park, sendo caracterizado pelo Sr. Park como
“cheiro de pano molhado”; em um outro momento do filme, Ki-jung 31, associa o Fonte: Parasita, 2019.
cheiro em questão ao lugar onde moram.

31
A filha da família Kim.

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

Figura 53 – Interior da casa dos Park.

A precariedade da infraestrutura do banjiha também é utilizado no filme


para representar a condição decadente da família: a elevação do vaso sanitário
em relação aos demais ambientes 32, facilita a conexão com o sinal do Wi-Fi e
torna o banheiro o ambiente mais privilegiado da casa. Sobre a casa do Kim,
Costa (2020, p.245) afirma:

No bunker dos Kim, mínimo, húmido e escuro, vivem quatro pessoas


Fonte: Parasita, 2019.
semienterradas. São mortos-vivos e os seus sinais vitais também são
invisíveis, aparecem em forma de “cheiro” que é exalado por eles. Espaço,
luz e ventilação são condições essenciais para a sobrevivência que lhes
Figura 54 – Interior minimalista da casa da família Park.
são vedadas. [...] A sobrevivência a possíveis ataques bélicos dos anos
1970-80 foi substituída pela sobrevivência a um sistema econômico que,
deflagrado a partir da década de 1980, acentuou diferenças sociais
concentrando a riqueza na mão de poucos e condenando muitos à
pobreza extrema

A casa padrão da família Park


A casa dos Park foi idealizada pelo famoso arquiteto Namgoong Hyeonja 33,
sendo o primeiro e único morador do local até vendê-la aos Park. Uma casa de
alto padrão, contemporânea, contraditoriamente minimalista e cheia de excessos:
muita luz, muito espaço, muito verde, tornando-a “quase desnecessária” quando Fonte: Parasita, 2019.

comparada a outras realidades (ARQUICAST, 2020) (Figura 53).


Outro exemplo é a imponência interna e externa do espaço que, para
Diversos aspectos da casa apontam para a alta condição socioeconômica
SOUSA (2020, p.82), comunica a boa qualidade de vida daqueles que o
dos moradores, o minimalismo 34 é um exemplo. De maneira geral, esta estética
ocupam; este aspecto também pode transmitir temor (ARQUIOCAST, 2020),
pode ser associada a ricos mais consolidados (ARQUICAST, 2020), pois, segundo
intimidando aqueles que estão a parte daquela realidade (Figura 55 e 56).
MCarini (2020), o desejo de viver com o mínimo só é possível para aqueles que
Além disso, a amplitude dos ambientes também comunica os privilégios da
desfrutaram de muito (Figura 54).
família e ressalta o distanciamento entre seus membros, pois o excesso de espaço
possibilita o isolamento dos usuários em diferentes ambientes da casa.
32
A elevação do vaso provavelmente justifica-se devido a necessidade de esse estar no nível da A presença de luz na moradia é outro fator que evidencia o status social da
infraestrutura de esgoto da rua, uma vez que a casa encontra-se abaixo desta cota.
33
Arquiteto fictício família: em entrevista, o diretor do filme, Bon Joo-Ho, afirmou que a quantidade de
34
O minimalismo é um estilo de vida onde prioriza-se apenas o essencial, eliminando qualquer tipo
de excesso. Fonte: EVOLUÇÃO PESSOAL. O Que é Minimalismo. Disponível em: < luz natural que uma pessoa recebe durante o dia, aponta para a classe social em
https://www.evolucaopessoal.com.br/o-que-e-minimalismo>

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

que essa está inserida (MCARINI, 2020). Flight (2020) destaca a intenção do
Figura 57 – Entrada da casa dos Park.
diretor de usar o sol para ilustrar as classes sociais, justificando a presença
constante de luz na casa: “Eles [família Park] são mais altos na sociedade, mais
altos fisicamente [em relação a implantação da casa na cidade] e, portanto, mais
perto do sol”. Esta metáfora criada em torno do sol foi fundamental para o
desenvolvimento da casa, uma vez que considerou-se o deslocamento solar para
a construção da arquitetura fílmica em questão (MCARINI, 2020) (Figura 57).

Figura 55 – Fachada da casa dos Park. Fonte: Parasita, 2019.

Assim como na primeira casa, o cheiro do lugar é uma característica


notável, desta vez não através das falas, mas visualmente, como descreve MCarini
(2020):

“Existe ainda um elemento invisível, porém fundamental nessa casa. O


perfume. [...] O cheiro de limpeza. O cheiro dos campos e de roupa limpa e
Fonte: Parasita, 2019. passada. Um cheiro iluminado, se fôssemos sinestésicos para vê-lo. Um
cheiro tão bom e tão presente que é capaz de salientar ainda mais a
Figura 56 – Interior do pavimento superior da casa dos Park. diferença entre dois mundos.”

Em uma casa de alto padrão são comuns os equipamentos e elementos


arquitetônicos que promovem a segurança da casa; esses, por sua vez, também
representam as diferenças sociais por estarem associados à ideia de que as
classes sociais inferiores são causadoras da violência (CRUZ, 2021, p.29),
resultando em uma “relação socioespacial baseada na exclusão do outro para
garantir um estilo de vida elitizado” (Ibidem, p.30). Porém, a segurança privada
Fonte: Parasita, 2019.
não aponta apenas para uma condição de status, mas também metaforiza as
barreiras para a ascensão social:

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

O começo do filme, que a família vai entrando na casa é quase um filme privacidade, proporcionado ritmo e escala ao ambiente (PALLASMAA, 2016, p.97).
de assalto [...] o que acaba virando um comunicado sobre a casa do rico
[...] ela é quase um banco para você entrar nela [...] você tem quase que Deste modo:
fazer uma operação de assalto ao banco para você poder [...] participar
dessa realidade. (ARQUICAST, 2020)

Uma habitação pode ser aterrorizante ou pacífica, agressiva ou relaxante,


aprisionante ou libertadora, entediante ou estimulante, apenas por como
Como sintetizado por Sousa (2020, p.82), a casa dos Parks é “o típico é a janela. [...] o impacto de uma janela na experiência humana é muito
espaço limpo e claro com o objetivo de expressar otimismo sobre o mundo, mas profundo existencialmente para ser abordado como um mero elemento
de composição visual (PALLASMAA, 2016, p.97, tradução nossa)
acaba evidenciando gostos e privilégios valiosos”.

A representatividade dos elementos arquitetônicos Sendo a luz natural, nesta obra cinematográfica, um indicador de status

Segundo Pallasmaa (2013, p.129), assim como o conceito de arquétipo social e a janela uma articuladora dessa, o elemento em questão exerce um papel

desenvolvido por Carl G. Jung, que consiste na tendência que uma imagem tem importante na linguagem cinematográfica do filme; segundo o diretor da obra:

para evocar emoções, reações ou associações, devido a resíduos mentais antigos, “Quanto mais pobre, menos janelas ou janelas menores. Quanto mais rico, mais

a arquitetura também é constituída por imagens que suscitam experiências, janelas e janelas maiores” (MCARINI, 2020)

sensações e associações primitivas, denominadas de imagens primordiais. Na casa da família Kim, das duas únicas janelas existentes no local, a janela

A casa é uma das imagens primordiais da arquitetura (Ibidem). Nessa, da sala/cozinha ganha destaque durante as cenas (Figura 58). Esse elemento não

identifica-se com maior clareza outras imagens arquitetônicas também exerce nenhuma função plástica ou estética no ambiente, apenas proporciona

primordiais, a exemplo de: parede, piso, teto, janela, porta, janela, escada, cama, uma mínima entrada de luz e ventilação, mostrando-se insuficiente, como é

mesa e banheiro (Ibidem). possível notar pelo ambiente escuro, pelo tamanho do varal de roupas e pela

Neste tópico, pretende-se compreender como algumas das imagens dificuldade que o inseticida tem para se dissipar na cena da dedetização (Figura

primordiais arquitetônicas, a janela, a porta e a escada, contribuíram com a 59).

formação das casas como personagens fundamentais para o desenvolvimento Nesta última cena, assim como na cena da urina (Figura 60) e da enchente

da narrativa. (Figura 61), nota-se como as interferências externas afetam a higiene e


privacidade do local através da janela em questão, pois devido a implantação da

Janela casa, essa encontrar-se no mesmo nível da rua, resultando em uma relação ruim

As janelas são pontuadas por Pallasmaa como os “olhos da casa que entre casa e exterior. Sobre essa janela, Sousa (2020, p.71) afirma que:

observam o mundo” (2016, p.103, tradução nossa). Estes elementos arquitetônicos


são importantes, pois ligam o ambiente interno ao externo (FERNANDES, 2012,
Nela [a janela] é possível ver, pelo material da esquadria, por seu
p.82; PALLASMAA, 2016, p.97), emolduram/recortam a paisagem (CHAGAS, 2008, tamanho, pela paisagem que se pode enxergar através dela e pela
p.47; FERNANDES, 2012, p.82; PALLASMAA, 2016, p.97) e articulam a luz e a utilidade que ela tem na casa, que as condições de habitação da família
são inferiores.

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Figura 61 – Enchente na casa da família Kim.


Figura 58 – Janela da sala/cozinha da casa dos Kim.

Fonte: Parasita, 2019

Fonte: Parasita, 2019.


Em contrapartida, a casa dos Park é bem iluminada e ventilada, fazendo jus
Figura 59 – Cena da dedetização.
a ideia de o status social estar atrelado à quantidade de luz solar. A grande janela
da sala é o destaque da casa (Figura 62) e o tamanho deste elemento condiz com
os demais aspectos da edificação que traduzem os excessos do modo de vida da
família ao emoldurar um grande jardim ornamental privativo, atuando como uma
espécie de quadro gigante que reflete na qualidade estética do ambiente, além de
promover uma boa relação interior e exterior, ao contrário da anterior. Sobre a
janela em questão, Wisnik (2020, p.3 apud SOUSA, 2020, p.73) afirma:

Fonte: Parasita, 2019

Figura 60 – Homem urinando próximo a janela dos Kim. Num mundo dominado pelo smartphone, a sala da família rica não tem
televisão. Como num cinema, o confortável sofá se volta para a
contemplação do jardim e da luz, através de uma enorme abertura de
vidro em widescreen. A janela é, ela mesma, a tela. E, enquanto na casa
pobre ela se abre para uma rua suja e turbulenta, aqui ela enquadra uma
massa verde de arbustos, que metaforiza um mundo exterior idealizado,
purificado e protegido.

Assim, percebe-se que as janelas, principalmente aquelas que se destacam


ao decorrer das cenas, contribuem para a construção das casas como
personagens da narrativa, não apenas pela sua representatividade enquanto
Fonte: Parasita, 2019.

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

imagem primordial, mas também pela importância que o diretor da obra atribuiu destacada na cena (Figura 64) e, associada ao roteiro quando Ki-woo conta seu
a luz solar, traduzindo esta relevância através da arquitetura fílmica. desejo de ir para a universidade, representa a busca pela mudança de vida:

Figura 62 – Janela da sala na casa da família Park.

Ki-woo: “Papai, eu não vejo isso como falsificação ou crime, eu vou para a
universidade no ano que vem.”
Kim Ki-taek: “Ah, uh, então você tem planos, há?”
Ki-woo: “Eu só imprimi o diploma um pouco adiantado.” (PARASITA, 2019)

Figura 63 – Porta de entrada da casa da família Kim, entrada de Min.

Fonte: Parasita, 2019.

Porta
Sendo uma das imagens primordiais da arquitetura, a porta, assim como a
janela, também é um elemento arquitetônico simbólico e expressivo no cinema
Fonte: Parasita, 2019.
(CHAGAS, 2008, p.49).
Segundo Pallasmaa (2016, p. 102-103), este elemento é a antecipação do Figura 64 – Porta de entrada da casa da família Kim, saída de Ki-woo.

espaço que está por vir, que protege e convida simultaneamente. Por ser uma
delimitadora de espaços, para Chagas (2008, p.50), atravessá-la significa partida
ou invasão e o oposto pode significar confinamento ou interdição; já para
Fernandes (2012, p.65) a porta indica mudança ou passagem de um lugar para o
outro.
No filme em análise, pode-se apontar três portas importantes: a primeira, é
a porta da casa dos Kim: quando Min 35 visita o local, o enquadramento do
Fonte: Parasita, 2019.
elemento na cena em que esse personagem entra na moradia (Figura 63), marca
uma mudança na história da família, a partir da oferta de emprego para Ki-woo 36.
E quando esse último vai para a entrevista na casa dos Park, a mesma porta é A segunda, é a porta de entrada da casa dos Park (Figura 65). Quando Ki-

35
Amigo de Ki-woo.
woo a atravessa pela primeira vez, significa não apenas a passagem para uma
36
Filho da família Kim.

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

nova realidade, mas também a esperança de uma mudança de condição social, além de ter um grande sistema de segurança, possui materiais
requintados e um tamanho fora dos padrões [...] demonstra o poder e as
assim como na situação anterior. boas condições financeiras de quem habita aquele lugar para quem o
visita desde o ingresso no local

Figura 65 – Porta de entrada da casa da família Park.

Contudo, é a partir da abertura da porta secreta do bunker (Figura 67) que


a esperança desvanece e novamente os rumos da família Kim mudam, culminado
em um fim trágico. Essa, durante o desenvolvimento da narrativa, carrega
diferentes simbologias: aponta para o desconhecido, causando curiosidade e
medo, emoções associadas a este elemento arquitetônico segundo Fernandes
(2012, p.78), ao mesmo tempo representa o confinamento, ao manter isolado do
mundo aqueles que utilizam o ambiente.
Fonte: Parasita, 2019.

Figura 67 – Entrada do bunker.

Essa também atua como símbolo de proteção por estar associada a


equipamentos de segurança (Figura 66), tornando restrito o acesso ao local como
uma forma de proteger a família, ao mesmo tempo que garante a exclusividade
aquela realidade, como abordado no início desta análise.

Figura 66 – Equipamento de segurança para entrada na casa da família Park.

Fonte: Parasita, 2019.

Portanto, compreende-se que as portas na obra em análise, de maneira


geral, comunicam-se com o espectador principalmente ao pontuar mudanças,
sejam essas ligadas aos desejos dos personagens ou a narrativa contada.
Fonte: Parasita, 2019.

Escadas
Sobre o elemento em questão, Souza (2020, p.78) afirma que:
A escada, segundo Chagas (2008, p.50), é um importante elemento desde o
começo da civilização. Ao longo da história, este elemento esteve associado a

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

metáforas e símbolos que ultrapassaram sua função prática, representando ideias dos Park, você sobre uma escada para seus quartos; na dos Kim, você
sobe uma escada para a privada.
cosmológicas, espirituais, autoritárias, de poder, status, hierarquia, entre outras
(PALLASMAA, 2000, p. 65).
Segundo Fernandes (2018, p.60), o aspecto morfológico da escada interfere Figura 68 – Escada para os quartos na casa da família Park.

na sua interpretação enquanto imagem arquitetônica:

quanto maior for o cobertor [piso] e menor o espelho, mais lento será o
acesso e o caráter será mais monumental. Por outro lado, quanto maior
for o espelho e menor o cobertor, maior será o ângulo de inclinação das
escadas, oferecendo maior rapidez na subida bem como uma maior
carga dramática. (ibidem, tradução nossa)

Na casa, a escada pode ser considerada a espinha dorsal (WOLLEN apud


Fonte: Parasita, 2019.
PALLASMAA, 2000, p.63) responsável pela organização vertical dos ambientes.
Figura 69 – Escada para o vaso sanitário na casa da família Kim.
Para Barchelard (apud PALLASMAA, 2000, p.63), a casa divide-se entre andares,
onde os medianos são utilizados para as atividades diárias, o sótão para guardar
boas lembranças e o porão para esconder lembranças ruins; e a escada é o
elemento que conecta todos esses níveis.
Já Fernandes (2012, p.61), aponta para a divisão entre público e privado que
a escada estabelece, uma vez que o pavimento superior de uma moradia,
geralmente, é destinado aos quartos; neste sentido, subir as escadas "permite-lhe
descobrir as zonas privadas da pessoa e, por consequência, uma pouco da sua
personalidade e mentalidade” (FERNANDES, 2012, p. 61, tradução nossa)
Fonte: Parasita, 2019.
No filme, este elemento arquitetônico é bastante explorado, tornando-se
uma metáfora para a relação de ascensão e soterramento, destacando a
Pode-se pontuar cinco escadas principais ao longo do filme: a primeira, é a
oposição entre a família rica e a família pobre (WISNIK, 2020, p.2 apud SOUSA,
escada do banheiro; associado aos dejetos humanos, o fato do vaso sanitário
2020, p.95). Para Flight (2020) (Figura 68 e 69):
estar acima dos demais espaços da casa, simboliza a precariedade das condições
de vida daqueles que ali moram. Para MCarini (2020):

A elevação é usada continuamente ao longo do filme, quase literalmente


ilustrada na tela a separação de classes entre as duas famílias. Na casa

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

é preciso dar atenção especial ao banheiro. Lee [o cenografo do filme] aumentando a carga dramática e enfatizando a metáfora de decadência que o
afirma que ter o vaso sanitário acima do nível do resto da casa é
relativamente comum, no cenário, no entanto, o vaso está o mais próximo ambiente inferior representa na narrativa.
possível do teto. é quase um templo do excremento. [...] o banheiro do
pobre tem o nível mais alto do que qualquer expectativa. É ali que o Wi-Fi
roubado se conecta. É dali que sairá o líquido preto que desce da parte
Figura 70 – Bunker da família Park.
alta da cidade com o que sobrou de tudo, após a inundação

Além disso, a cena em que os personagens sobem esta escada para ter
acesso ao Wi-Fi (figura 65), segundo Souza (2020, p.79) é o primeiro indício de
que, ao decorrer da narrativa, será necessário subir escadas para alcançar
melhores condições de vida.
Esta afirmação também condiz com representatividade da escada de
entrada para a casa dos Park. O acesso a moradia por essa, assim como
atravessar a imponente e protegida porta de entrada, aponta para a possibilidade Fonte: Parasita, 2019.

de ascensão social daqueles que a sobem, assim como ressalta a alta condição Figura 71 – Escada do bunker.
daqueles a habitam o local; este último caso é acentuada pelo sol que banha Ki-
woo a medida em que esse avança pelos degraus, levando em consideração que
o contato com o sol está diretamente ligado as condições sociais, como explicado
no tópico sobre janela.
Além da escada de entrada, mais duas se destacam dentro da casa: a que
dá acesso ao pavimento superior, um ambiente privado que pouco a pouco os
membros da família Kim conseguem acessá-lo, indicando a introdução desses na
vida intima dos Park; e a escada do bunker.
O bunker (Figura 70), assim como a casa dos Kim, essencialmente cumpre Fonte: Parasita, 2019.

a função de proteção contra possíveis ataques de guerra. Porém, no contexto


A distinção entre níveis para ressaltar as diferenças sociais entre as famílias
temporal onde a narrativa se desenvolve, a funcionalidade de abrigo provisório é
protagonistas, acontece também na implantação das casas. Ao decorrer das
desnecessária, sendo substituída pela habitação permanente de pessoas que
cenas, é possível perceber que a casa dos Park está localizada em um ponto alto
encontram-se socialmente abaixo daqueles que habitam as áreas comuns da
da cidade (Figura 72).
casa.
Mas é durante a enchente que a grande separação vertical entre essas é
A escada de acesso ao local é longa e estreita (Figura 71) e as extensas
evidenciada (Flight, 2020). Ao retornar para casa em meio a chuva, a família Kim
tomadas que mostram o deslocamento entre os níveis, acentuam sua morfologia,
percorre a cidade e a descida de uma longa escada faz parte do trajeto. Essa,

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| ANÁLISES | Edificação como personagem: Parasita (2019) | | Arquitetura em Cena |

além de evidenciar a distinção social já citada, também indica o declínio na 4.3. Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra
história da família, que tem a casa tomada pela água que escorre das regiões
mais altas e privilegiadas e inunda com sujeira os bairros mais carentes.
(2018)
A relação entre cidade e cinema acontece desde o surgimento da segunda

Figura 72 – Rua da casa da família Park.


e, como apontado por Name (2003), entender tal ligação não significa apenas
compreender o papel exercido por ambas,

mas sobretudo examinar as múltiplas e significativas interações entre a


mais importante forma cultural e a mais importante forma de
organização social do século XX.

Considerando-se que a cidade é um “produto de sistemas funcionais


Fonte: Parasita, 2019.
geradores de sua arquitetura e, portanto, do espaço urbano” (ROSSI, 2001, p.6), a
arquitetura fílmica da cidade é, portanto, produto dos sistemas social, econômico
A escada enquanto elemento arquitetônico tem o intuito de conectar
e político no qual a narrativa cinematográfica encontra-se inserida.
diferentes níveis; na arquitetura fílmica de Parasita, a imagem do elemento em
As cidades do cinema, fictícias ou não, são todas utópicas, uma vez que só
questão, vai além da função física, estabelecendo conexões entre os níveis sociais
existem no filme (CAÚLA, 2008, p.9). As utopias, por sua vez, são resultado da
e enfatizando as desigualdades sociais por meio de momentos de ascensão e
insatisfação com a realidade do presente, onde o utopista imagina uma nova
decadência dos personagens, associando-os a ação de subida e descida dos
ordem humana que considera ideal (LAGE, 2019, p.3). Neste sentido, as utopias
degraus.
urbanas nada mais são do que uma reflexão sobre a situação das cidades do
A casa, enquanto representação elementar da arquitetura e uma extensão
presente. Para Caúla (2019, p.43a-44a):
daqueles que a habitam, atua como uma importante imagem primordial da
arquitetura arquitetônica, que carrega em si outras imagens primordiais.
Por isso, na obra em análise, as casas das famílias protagonistas
Utopias urbanas são as invenções que tomam o urbano como
comunicam-se com o espectador a partir da imagem que representa valores ambiente/criação essencial, são expressões críticas focadas em
concepções espaciais [...]. As utopias urbanas criam estes não lugares
associados a temática da desigualdade social que norteia a história, além de como importantes instrumentos de reflexão, como parte de um processo
crítico que se utiliza da lateralidade, da invenção livre de formas, da
interferirem na narrativa, tornando-as personagens do filme. variabilidade de enfoques, meios e modos de expressão para pensar
sobre a cidade e sua complexidade.

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

As cidades utópicas estão presentes em diferentes manifestações artísticas, “[...] enquanto nas utopias positivas a luta ideológica é feita pela oposição
dos próprios ideais aos ideais alheios, nas utopias negativas apresentam-
imagéticas ou não, a exemplo da literatura, pintura, cinema e urbanismo. Segundo se os ideais adversários deturpados ou potencializados de tal maneira
que apareçam como repulsivos [...] a utopia negativa não nos apresenta
Lage (2019, p.3), é no humanismo renascentista que surgem as primeiras cidades uma alternativa ao que está sendo criticado.”
utópicas, idealizadas por pintores e literatos dentro do pensamento racional e
científico em ascensão naquele momento, impondo a racionalização dos espaços
Segundo Caúla (2008, p.13) para a criação destes espaços, sejam esses
físicos e da vida de quem os habitam.
utópicos ou distópicos, o cinema dialoga com outras formas de utopias e suas
No início do século XIX, diante do crescimento da sociedade industrial, o
pluralidades, a exemplo da arquitetura e do urbanismo. Ainda segundo a mesma
planejamento da cidade maquinista era motivo de reflexão para diversos
(2019, p.150b), através da criação de uma utopia urbana em um filme, a cidade
pensadores, historiadores, economistas, políticos etc. O “Pré-Urbanismo”, como
utópica pode tornar-se um personagem fundamental ou até principal da
definido por Françoise Choay (1992, p.2-3), agrupa o conjunto de pensadores
narrativa.
generalistas que se preocuparam com as questões da cidade industrial,
Atendendo aos critérios de seleção estabelecidos anteriormente, os filmes
associadas às relações sociais.
em que a cidade foi identificada como personagem da narrativa foram Blade
Posteriormente, consolidou-se o “Urbanismo”, diferindo do movimento
Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017) e Pantera Negra (Ryan Coogler, 2018), sendo
anterior por ser desenvolvido por especialistas, os arquitetos, e por envolver teoria
o primeiro uma distopia e o segundo uma utopia. Essas foram analisadas, a fim de
e prática, ou seja, as ideias deveriam ser aplicadas (CHOAY, 1992, p.18). Entretanto,
compreender a atuação das cidades como personagem em ambas as narrativas.
as condições econômicas e administrativas das cidades reduzem o poder dos
urbanistas sobre o real, fazendo com que o urbanismo não escape totalmente à
dimensão do imaginário, ou seja, do utópico (Ibidem). Blade Runner 2049 (2017)
No século seguinte, as utopias urbanas no Urbanismo ganharam força,
sendo interrompidas nos períodos das grandes guerras, e continuadas A descrição de Santos (2005, p.132) para a Los Angeles de Blade Runner - O
posteriormente (CAÚLA, 2019, p.56b); os arquitetos modernistas traduziram as Caçador de Andróides (Ridley Scott, 1982), também pode caracterizar a cidade do
aspirações do movimento moderno, que desejava um mundo diferente dos filme subsequente, Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017) 37
modelos tradicionais, no ambiente construído “desde objetos da vida cotidiana ao
espaço urbano e regional” (LAGE, 2019, p.7).
Já no final do mesmo século, na Pós-Modernidade, os espaços urbanos a manifestação de um futuro garantido pela supremacia capitalista da
era pós-industrial [...] uma nova sociedade, cibernética, que aglomera
ganham relevância em outras expressões artísticas, como o cinema (LAGE, 2019, etnias e estilos arquitetônicos diversos, evidenciando os resultados de
anos de um uso híbrido dos espaços, muitas vezes não compatíveis e
p.9) sendo exploradas as distopias. Assim como as utopias, as cidades distópicas geradores de resíduos.
partem da insatisfação com a realidade e do desejo de mudança, segundo Lage
(2019, p.9), a diferença entre ambas é:
37
Para uma maior compreensão da análise, recomenda-se assistir ao filme.

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

O capitalismo é caracterizado como uma configuração político-econômico ineficiência [...] pôde ser constantemente aprendido e vivido, não somente
contemplado”
impulsionada pela Revolução Industrial que ocorreu, inicialmente, nas potências
europeias, no final do século XVIII e início do século XIX, e posteriormente em
outros países do mundo (FREITAS, 20--?). Apesar de contribuir positivamente em Assim, a visualização do tecido urbano amplia a compreensão do papel
alguns aspectos, como nos avanços tecnológicos e na troca de informações, por que a cidade cumpre na narrativa. A exemplo da região central (Figura 73),
ser um sistema atrelado a produtividade e a competitividade do mercado, esse caracterizada pela forte presença dos arranha-céus e por estarem alocadas
também gera consequências negativas e atenua problemas sociais, como a instituições importantes da narrativa, como o Departamento de Polícia (Figura 74)
desigualdade social, a degradação ambiental, o consumismo, a desvalorização da e a Wallace Corporation (Figura 75); e a região periférica da cidade é formada
identidade local, entre outros. Segundo Cardoso, Marinho e Oliveira (2017, p.5): por aglomerados de construções que denunciam a alta densidade do espaço
urbano e a ausência de áreas verdes, sendo composta por edifícios de diferentes
tamanhos que cobrem a vista das ruas.
“na sociedade capitalista, a cidade se desenvolve incorporando na sua
estrutura e funcionamento, os componentes da lógica do capital”
Figura 73 – Arranha-céus do centro da cidade.

Ou seja, todos os aspectos positivos e negativos desse sistema refletem no


espaço urbano. E é possível ver tais reflexos através da arquitetura fílmica de
Blade Runner 2049.
A cidade fictícia, é formada por uma sociedade composta por humanos e
replicantes em um planeta Terra do futuro, cada vez mais caótico e inseguro para
a vida humana.
Fonte: Blade Runner 2049, 2017. Adaptada pela autora.

O tecido urbano e suas proposições Figura 74 – Departamento de Polícia.


Através das cenas ao decorrer do filme, principalmente nas vistas aéreas, é
possível compreender a configuração urbana desse espaço. As cenas aéreas
descrevem muito a respeito da cidade representada na obra, como destaca
Name (2003):

“Foi a partir do cinema e suas tomadas aérea das cidades que o tecido
urbano repleto de significados contraditórios - esplendor vesus
Fonte: Blade Runner 2049, 2017. Adaptada pela autora.
decadência [...]; desenvolvimento vesus destruição [...]; tecnologia versus

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

Figura 75 – Wallace Corporation.


Figura 76 – Distrito de São Diego.

Fonte: Blade Runner 2049, 2017. Adaptada pela autora.

Fonte: Blade Runner 2049, 2017.

A densidade de uma cidade pode ser consequência de diversos aspectos, Figura 77 – Las Vegas

entre esses, os fatores físicos que limitam a população a determinadas áreas


(PACHECO, 2017); e para Stephens (2017), são os fatores físicos limitantes que
explicam o adensamento da cidade no filme, resultantes da degradação
ambiental que impede que outras áreas sejam habitadas, condensando a
população da região em Los Angeles.
A degradação ambiental é uma consequência das atividades de
produção e consumo da economia capitalista (SILVA; SANTOS; SOUZA; FARIAS, p.1,
2017), devido a demanda de matérias-primas que ocasiona a extração de
Fonte: Blade Runner 2049, 2017.
recursos naturais de forma predatória (SANTOS, 2017).
No filme, esta degradação pode ser notada no Distrito de São Diego 38
(Figura 76), em Las Vegas 39 (Figura 77) e pela barreira que separa o mar da O excesso populacional também pode ser apontado como causa do

cidade de Los Angeles, insinuando uma possível ameaça à vida urbana (VARELLA, adensamento da cidade em discussão, resultante do crescimento populacional

2021, p.113) e destacando a crise do meio-ambiente. O Distrito e a cidade vizinha urbano, já previsto estatisticamente pela ONU 40, e a migração, tendo em vista a

são coadjuvantes da história que, através da temática ambiental, atuam ao lado presença multirracial visível na cidade, ambos possíveis de serem notados nas

da protagonista contribuindo com a construção da narrativa. cenas que ocorrem no centro da cidade e no nível da rua (Figura 78).

40
Fonte: UNITED NATIONS. 68% of the world population projected to live in urban areas by 2050,
38
O Distrito de San Diego, localizado fora da “grande Los Angeles”, caracterizado como o local de says UN. 2018. Disponível em: <https://www.un.org/development/desa/en/news/population/2018-
processamento de resíduos da cidade vizinha revision-of-world-urbanization-
39
Las Vegas, é a cidade vizinha abandonada devido à contaminação radioativa que a tornou prospects.html?utm_medium=website&utm_source=archdaily.com.br>. Acesso em: 16 de mar. de
inóspita 2022.

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

verticais (Figura 79), que se tornam maiores à medida que as cenas se


Figura 78 – A multirracialidade da população. aproximam do centro da cidade (Figura 80).

Figura 79 – A verticalidade da arquitetura fílmica na periferia da cidade.

Fonte: Blade Runner 2049, 2017.

Fonte: Blade Runner 2049, 2017. Adaptada pela autora.


Este excesso atrelado a limitação do solo urbano desencadeiam as
desigualdades que refletem na formação do espaço citadino em razão das
Figura 80 – Aumento da verticalidade, centro da cidade ao fundo.
relações sociais capitalistas (CARDOSO; MARINHO; OLIVEIRA, 2017, p.6). Estas
desigualdades geram o adensamento da periferia da cidade, como é possível ver
na arquitetura fílmica em análise (Figura 79). Além disso, o adensamento das
áreas urbanas também gera como consequência a verticalização (PACHECO,
2017).
A verticalização possibilita a criação de novos solos, permitindo a
concentração de uma maior quantidade de pessoas em uma pequena superfície
Fonte: Blade Runner 2049, 2017. Adaptada pela autora.
(PACHECO, 2017). Este processo é possível de ser observado no espaço fílmico em
discussão, pois a periferia da cidade é composta majoritariamente por edificações

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

No espaço urbano central, além do adensamento, é possível que este capitalismo, visto que promove o aumento quantitativo da produção (Ibden, 2018,
fenômeno esteja atrelado aos conceitos de modernização e status social, visto p.6) e consequentemente a geração de capital e lucro.
que esta região é onde se localizam instituições importantes da narrativa, como já Segundo Fernandes (2019, p.57), a relação entre publicidade e cidade não é
citado. nova, tornando-se quase onipresentes no meio urbano. Venturi, Brown e Izemour,
em “Aprendendo com Las Vegas'' (2003), também discutem a presença da
A cidade sob a luz das publicidades
publicidade na paisagem urbana, estando essa inserida na arquitetura. Alguns
Também nota-se na paisagem urbana em análise, a acentuada presença
aspectos apontados por esses autores podem ser observados na arquitetura
dos painéis publicitários. A cidade predominantemente escura, apresenta como
fílmica em análise.
pontos de contraste 41 as luzes dos edifícios, os letreiros neons, telas e hologramas
A arquitetura da persuasão, é um exemplo; os autores definem este
(Figura 81).
conceito como a arquitetura que comunica através de símbolos e palavras para a

Figura 81 – Contraste entre a cidade escura e a claridade dos painéis publicitários. persuasão comercial, sendo essa “uma arquitetura mais de comunicação do que
de espaço” (VENTURI; BROWN; IZEMOUR, 2003, p.33) onde a comunicação
prevalece sobre o espaço e o sinal gráfico torna-se a arquitetura; assim “a
arquitetura nessa paisagem se torna mais símbolo no espaço do que forma no
espaço” (Ibidem, p.40).
Observa-se no filme que a arquitetura que compõe a cidade de Blade
Runner 2049, não carrega uma identidade e, como discutido por Varella (2021,
p.128), a personalização dessa é proveniente de outros aspectos, como as
publicidades. Desta maneira, os painéis publicitários passam a fazer parte e, até
mesmo, se sobressaem a arquitetura (Figura 82).
Fonte: Blade Runner 2049, 2017. Adaptada pela autora.

Figura 82 – Presença marcante dos painéis publicitários.


As publicidades são ferramentas utilizadas pelo sistema capitalista como
forma de estímulo e de imposição de padrões que despertam a necessidade de
consumo (MOURA, 2018, p.7) e o consumo, por sua vez, é primordial para o

41
Essa estética claro-escuro está associada ao estilo de filme noir, que por sua vez remete a
estética expressionista (VARELLA, 2021, p.76) e que conecta essa produção ao primeiro filme da
série (Ibidem, p.113). A estética noir é classificada pelo crítico francês Nino Frank em 1946, para
caracterizar os filmes de suspense em voga nos anos 1940, ambientados no meio urbano, com
temática criminal, anti-heróis e com influência do expressionismo alemão. Fonte: CABRAL, Danilo
Cezar. Aprenda a identificar um filme noir - histórias cheias de suspense e traição, com um estilo
visual e narrativo que marcou as décadas de 40 e 50. 2020. Disponível em:
<https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-um-filme-noir/>. Acesso em: 20 de mar. 2022.

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

identidade é um dos componentes apontados por Kevin Lynch (1989, p.18) como
importante para compreensão da imagem da cidade, em conjunto com a
estrutura e o significado. Este componente é definido pelo autor como a
individualidade e particularidade que caracteriza determinado ambiente (Ibidem,
p.18).
Ainda segundo o mesmo, a imagem da cidade é constituída por elementos,
classificados em: vias, limites, bairros, cruzamentos e elementos marcantes
Fonte: Blade Runner 2049, 2017. Adaptada pela autora.
(Ibidem, p. 57). O cinema faz uso da imagem da cidade, principalmente
explorando os elementos marcantes; para Name (2003), tais elementos 43 são a
expressão visual da cidade, e inseridos na narrativa cinematográfica adquirem
A escala das publicidades é outra característica abordada por Venturi,
“contornos dramáticos que vão além da localização geográfica”.
Brown e Izemour (2003, p.33); as grandes dimensões dos letreiros e painéis
O espaço fílmico de Blade Runner - O Caçador de Androides, por exemplo,
publicitários, segundo os autores, é justificada pela necessidade de que esses
explora os elementos marcantes da cidade de Los Angeles: é possível identificar
sejam notados a distância e rapidamente em paisagens formadas por grandes
edificações locais, como o Bradbury Building (Figura 83 e 84). Mas, seu sucessor
espaços, com altas velocidades e programas complexos; o que condiz com o
não apresenta elementos urbanos marcantes que caracterizam a cidade onde a
espaço fílmico de Los Angeles de Blade Runner 2049, onde os grandes painéis
narrativa acontece. Esta falta de identificação/identidade também é pontuada por
publicitários correspondem a escala da arquitetura que constitui a paisagem da
Varella (2021, p.128):
cidade, as movimentações urbanas intensas e a velocidade do meios de
transporte, como as naves.
Neste sentido, percebe-se que as publicidades além de contribuírem para a
toda personalização que se vê nas ruas da Los Angeles de 2049 vem na
construção da linguagem cinematográfica da obra, também são mais um aspecto forma de projeções holográficas ou emanações [...], associadas à
publicidade ou aos acessórios digitais dos habitantes. Sem eles, é como se
que compõem a caracterização da cidade-personagem em discussão, pois reflete a cidade se apagasse, deixasse de ter cor, luz ou identidade própria.
fatores do sistema socioeconômico que constitui a narrativa. E a cidade, apesar de
fictícia, carrega consigo questões das cidades reais
Sendo a Los Angeles de Blade Runner 2049 uma cidade capitalista, é
provável que esta ausência esteja atrelada a globalização. Esse fenômeno,
Identidade, globalização e generalização
segundo Silva e Eidt, leva a homogeneização, coloca fim às fronteiras geográficas,
A diversidade de estilos arquitetônicos 42 também é outra característica da
cidade de Los Angeles que aponta para a ausência de identidade local. A Ainda segundo a mesma, a brutalidade que o estilo carrega é condizente com a sensação de
desumanização que a cidade como um todo expressa.
43
Name (2003) utiliza o termo “ícones urbanos” para caracterizar imagens que remetem a
42
Varella (2021, p.114-115), destaca a presença do estilo brutalista para o Departamento de Polícia, expressão visual de uma determinada cidade, como a Estátua da Liberdade remete a Nova Iorque
que também é presente na Wallace Corporation. Segundo a autora, a escolha pelo estilo foi dada e a Torre Eiffel remete a Paris. Os ícones urbanos estão inseridos no conceito de elementos
devido a busca por uma arquitetura atemporal, descolada do contexto e que causasse marcantes apresentado por Lynch, pois esses são caracterizados como os objetos físicos que se
estranhamento, uma vez que o espectador estadunidense é pouco habituado a essa estética. tornam pontos de referência para uma cidade (Lynch, 1989, p.59).

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

enfraquece as tradições e insere os espaços em um único sistema econômico, o Os efeitos do capitalismo na cidade são estudados por diversos autores, a
capitalista (2012, p.167), impactando também na identidade das sociedades exemplo de Rem Koolhaas. A Cidade Genérica, por exemplo, é um conceito
(Ibidem, p.184). O impacto da globalização na cidade em análise, também é apresentado pelo autor que segundo Pantaleão (2014), é uma cidade resultante
destacado Newton (2018): da revolução informacional e das disposições econômicas do capitalismo que
visam novos modos de ocupação urbana. Inseridas no mesmo sistema, é possível
notar congruências entre a cidade descrita por Koolhaas e a criada por
O futuro é homogêneo, um efeito colateral da super globalização. No Villeneuve. A já citada ausência de identidade (KOOLHAAS, 2010, p.36), por
momento em que uma cultura universal se sobrepõe a qualquer
identidade local, Los Angeles e San Diego são a mesma coisa, assim exemplo, é uma destas semelhanças:
como qualquer pequena cidade da Califórnia se parece com qualquer
lugar remoto da China.

“Será que a Cidade Genérica começou na América? É tão profundamente


Figura 83 – Bradbury Building, Los Angeles, USA pouco original que pode ter sido importada? Em qualquer caso, a Cidade
Genérica, agora também existe na Ásia, Europa, Austrália e África.” (2010,
p.36).

Entende-se assim que a cidade descrita por Koolhaas, estando sob os


efeitos do fenômeno da globalização que provoca a homogeneização do espaço,
pode existir em qualquer lugar do planeta. Para Stephens (2017), a Los Angeles de
Balde Runner 2049 segue pelo mesmo caminho, representando uma metáfora
para o espectador de que o caos urbano apresentado no filme, poderia acontecer
em outros lugares do mundo:
Fonte: Google Imagens, 2022.

Figura 84 – Cena de Blade Runner - O Caçador de Androides, gravada no Bradbury Buildibg.


Los Angeles não representa tanto a si mesma, mas representa o mundo
inteiro, obliterada além do reconhecimento. A visão de Villeneuve
transmite mais sobre o futuro das cidades em geral do que sobre Los
Angeles especificamente.

A partir deste panorama é possível pontuar vários aspectos que evidenciam


a Los Angeles de Blade Runner 2049 como a representação de uma cidade
capitalista. Sendo essa uma cidade distópica, as consequências do capitalismo,
Fonte: Blade Runner - O Caçador de Androides, 1982 como a ausência de identidade, o adensamento, a publicidade na paisagem

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

urbana e a degradação ambiental, são apresentadas de maneira acentuada, e consequentemente seu povo, evitando mais uma possibilidade de exploração do
levantando uma crítica sobre o sistema. continente africano, como ocorreu inúmeras vezes ao longo da história.
Coube a esta análise, portanto, compreender como a arquitetura fílmica
enquanto personagem, foi capaz de simbolizar e metaforizar o conturbado Figura 86 – Localização do país Wakanda, na África.

contexto capitalista da narrativa no espaço fílmico, a partir de associações com as


discussões sobre a cidade capitalista real e contemporânea.

Pantera Negra (2018)

Diferente de Blade Runner 2049, a relação entre cidade, tecnologia e capital


é trabalhada de maneira otimista no filme Pantera Negra (Ryan Coogler, 2018) 44,
através da capital de Wakanda, Birnin Zana (Figura 85), uma cidade utópica.

Figura 85 – Vista aérea de Birnin Zana

Fonte: Google Imagens, 2022.

Sabendo-se que ideias utópicas estão relacionadas à época e às condições


em que foram criadas (LAGE, 2019, p.3), Wakanda constrói um novo olhar frente
aos preceitos difundidos pela colonização e pelo imperialismo ocidental no
continente africano, valorizando a ancestralidade, a força da tecnologia e a união
Fonte: Pantera Negra, 2018. das culturas africanas (SANTOS, 2021, p.98).
Vale ressaltar que, segundo o diretor da obra (WALKER, 2018), o país é
Localizada na região oriental do continente africano (Figura 86), o país
inspirado em um lugar real: o império de Mutapa, um importante centro comercial
fictício é governado por uma monarquia constitucional e tem o Vibranium como
que abarcava os países do Zimbábue, Moçambique e Zâmbia entre os séculos XV
produto responsável pelo desenvolvimento tecnológico do país, sendo essa a
e começo do XVI.
fonte mineral mais importante do mundo. E devido a raridade do metal, que
Wakanda se isola dos demais países do mundo, no intuito de proteger sua riqueza

44
Para uma maior compreensão da análise, recomenda-se assistir ao filme.

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

A construção do espaço a partir do olhar do negro S’Thebe (ARCHITIZER, [201-?]), construído em 2016. Para Ross (2020, p.41, tradução
A valorização das tradições africanas atreladas aos avanços tecnológicos é nossa):
explorada pelo Afrofuturismo “uma estética cultural, filosofia da arte e da história
que une elementos e valores da cultura africana com tecnologia, ficção científica e
elementos que remetem ao futuro” (ALMEIDA, 2020, p.19) e que “existe para Esse projeto permite que os moradores do município mudem
tangivelmente a narrativa de seu próprio presente e futuro (que foi
reconfigurar as narrativas do passado, presente e futuro para defender construído pela supremacia branca, particularmente durante o apartheid)
criando comunidades, educando em ofícios comerciais e fornecendo um
identidades negras” (ROSS, 2020, p.8, tradução nossa). Por meio de Birnin Zana, é local para os vendedores venderem mercadorias e serviços

possível visualizar a representação deste conceito na arquitetura fílmica.


O Afrofuturismo na arquitetura fora da ficção tem ganhado cada vez mais
Figura 87 – Centro de Artes e Cultura Guga S’Thebe, CS Studio Architects , 1999.
destaque. Para Ross (2020, p.60, tradução nossa), uma obra arquitetônica
afrofuturista deve atender às seguintes condicionantes:

1. O projeto deve contribuir para o fortalecimento de uma identidade


cultural para os africanos e/ou das diásporas africanas. 2. Os ideais
afrocêntricos devem estar de alguma forma presentes na estrutura, em
seu visual, projeção ou em seu programa/operação.
3. As narrativas do passado, presente e/ou futuro devem ser
reconfiguradas para suportar empreendimentos afrofuturistas.”

O Centro de Artes e Cultura Guga S’Thebe (Figura 87) do CS Studio


Architects, construído em Langa, na Cidade do Cabo, em 1999, é classificado pela
autora como uma arquitetura afrofuturista (2020, p. 40), pois a edificação pública
pós-Apartheid atende as necessidades da comunidade e também carrega o
significado do local onde está inserido: a praça Mangara, onde em 1954 ocorreu a
Fonte: CS Studios, 2010
queima dos passes 45
e hoje abriga as manifestações culturais, artísticas e
patrimoniais da cidade através desta edificação (CS STUDIO ARCHITECTS, p.1). Seguindo por esta linha, Diébédo Francis Kéré, o primeiro negro a ganhar o
Além disso, os métodos de construção vernaculares locais e materiais da terra, Prêmio Pritzker, em 2022, também produz obras que condizem com a descrição
também foram utilizados em parte do projeto, como no Teatro Infantil Gusga de arquitetura afrofuturista levantada por Ross, a exemplo da Escola Primária do
Gando, projeto premiado 46, que faz uso de materiais de baixo custo e locais, como
os tijolos de argila (ARCHDAILY, 2016), e tem como intuito contribuir com a
45
Os passes eram cadernetas utilizada pelos negros de forma obrigatória, durante o Apartheid,
que descrevia onde determinada pessoa poderia ir. 46
A Gando Primary School recebeu, em 2004, o prêmio Aga Khan de Arquitetura.

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

comunidade local através da construção de um espaço educacional para a aldeia Ainda segundo a mesma autora (2018), “Wakanda traz à vida as aspirações
de Burkina Faso, carente de estruturas para tal. da ‘Cidade Chocolate’, um conceito que ganhou popularidade ao lado do
Também em outras obras, Kéré faz uso de recursos locais, de baixo custo e movimento afrofuturista”, essa pode ser caracterizada como “uma cidade onde
mão de obra da comunidade local vinculados a soluções sustentáveis, que afro-americanos [estadunidenses] constituem a maioria dos residentes e são seus
resultam em construções socialmente importantes para diversas comunidades na líderes políticos e econômicos” (MOCK, 2018).
África. Segundo o arquiteto em questão 47, “[...] o afrofuturismo já está começando Assim como o Afrofuturismo, as “Cidades Chocolate” possuem o
e nós precisamos olhar cada vez mais para a África”, pois “elementos africanos propósito de enxergar o desenvolvimento do espaço urbano a partir da
tinham sido negligenciados ou nem tinham sido considerados como perspectiva do negro, pois
arquitetônicos”.
Ross também classifica a arquitetura fílmica do filme em questão, como
uma obra afrofuturista, pois apesar de ficcional, essa, em conjunto com a quando você nasce negro em um mundo projetado para pessoas
brancas, viver em uma ‘cidade chocolate’ é provar uma riqueza
narrativa cinematográfica, apresenta uma nova perspectiva para um futuro pró- inquantificável. Ele dá um ângulo único de visão, uma lente alternativa
para ver o poder mundial (HOPKISON, 2012 apud MOCK, 2018).
negro (ROSS, 2020, p.36), ao imaginar a África não colonizada e distante da
guerra civil, violência, fome, entre outros males sociais ligados a imagem
estereotipada do continente em questão; e assim, valorizando as comunidades Forma e matéria urbana de Wakanda
africanas e negras ao apresentarem novos pontos de vista sobre suas narrativas, Ao observarmos o espaço urbano de Birnin Zana (Figura 88), percebemos
utilizando, majoritariamente, ideais africanos para a concepção do espaço e uma arquitetura fílmica que difere das demais utopias tecnológicas, pois
consequentemente fortalecendo a identidade cultural dos mesmos.
Assim, a capital de Wakanda levanta novas possibilidades sobre os espaços
urbanos: segundo Walker (2018), a obra cinematográfica em questão a tecnologia não é explorada como uma força suprema de progresso,
mas como um complemento a costumes longevos consolidados,
justamente por resistirem à prova do tempo (LEITE, 2020, p.106).

renovou os apelos para usar o afrofuturismo como ferramenta de


planejamento urbano, [...] incetivando os espectadores a explorar outros
mundos negros na ficção cinetífica com o objetivo de trazer seus ideais à Neste sentido, diferentemente dos arranha-céus feitos com vidro e aço das
realidade
cidades futuristas do cinema, a arquitetura fílmica da capital, é majoritariamente
terrosa, fazendo referência a arquitetura vernacular local que utiliza a terra e a
palha como materiais de construção. Segundo Aston (2018), as arquiteturas
fílmicas de Wakanda são baseados em tradições vernaculares e sociais
47
Fonte: PORCIDONIO. Arquiteto africano propõe tecnologia contra déficit habitacional e debate arquitetônicas existentes nas diferentes regiões da África, combinados com
projeto no Rio em 2020. 2019. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/rio/arquiteto-africano-
propoe-tecnologia-contra-deficit-habitacional-debate-projeto-no-rio-em-2020-23828159 >. Acesso métodos modernos.
em: 24 de abril de 2022.

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

das edificações vernaculares com arquitetura apresentada no filme. Ao


observarmos as paisagens de Birnin Zana, especialmente da capital do país,
Figura 88 – Espaço urbano de Birnin Zana.
percebe-se a ampla utilização das formas orgânicas (Figuras 90), também muito
presentes nas construções tradicionais africanas, principalmente as residenciais,
pois, conforme o mesmo autor (ibidem), as formas mais arredondadas tendem a
ser mais econômicas e ideais em relação a material e estrutura.

Figura 89 – Conjunto de construções africanas vernaculares. Da esquerda para direta têm-se:


edificação do complexo familiar de Musgum, do Norte de Camarões; Ginna House, de Dogon, Mali;
Ghorfa Granary, da região de Maghreb; Hausan House, no norte da Nigéria; Zulu Kraal iQukwane
Homes, da África do Sul; Mesquita, de Bukina Faso; Tata Family Enclosures, da África Central e Sul;
e Mosqueiro, de Timbuktu.

Fonte: Aston, 2018. Adaptado pela autora.

Figura 90 – Vista áerea da copital de Wakanda, Birnin Zana.

Fonte: Pantera Negra, 2018.

Fonte: Pantera Negra, 2018. Além das referências locais, a diretora de arte do filme, Hannah Beachler,
também buscou referências nos volumes curvilíneos das obras de Zaha Hadid
A partir do levantamento das construções tradicionais africanas realizado
(Figura 91 e 92). Para a diretora, a organicidade dos projetos da arquiteta atribui
por este (Ibidem) (Figura 89), é possível estabelecer uma relação entre a forma
um caráter biomiméticos as edificações:

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Você poderia pegar alguns de seus edifícios e colocá-los em uma floresta tendência moderna 48 para ser aplicada nas edificações na cidade em questão
tropical ou colocá-los nas montanhas e parece natural [...] por causa dos
picos e curvas e do jeito que seus edifícios são [...] Isso é outra coisa que (SEYMOUR, 2018).
eu queria para Wakanda. Eu não queria ser como, ‘Aqui está esta gigante
grande e incrível cidade de Dubai!’ [...] Eu queria que fosse inspirador e
majestoso, mas não como, 'Oh, isso é Nova York. Isso é Manhattan’.
Figura 93 – Exemplo de edifício contemporâneo com fachada verde: Villa M, Triptyque Architecture,
Precisava se sentir como um pedaço da natureza. (BEACHLER, 2018 apud 2019.
WILSON, 2018)

Figura 91 – Dogdaemun design Plaza, Zaha Hadid, 2014.

Fonte: Triptyque Architecture, 2019


Fonte: Zaha Hadid Architects, 2014

Figura 92 – Wangjing SOHO, Zaha Hadid, 2014


De modo geral, a sustentabilidade parece ser uma característica inerente à
capital de Wakanda, não apenas pela forte presença das vegetações, mas
também pela mobilidade. Através das cenas, percebe-se a presença de diferentes
transportes coletivos (Figura 94). Este aspecto vai de encontro ao abordado por
Gehl (2013, p.7), sobre cidades sustentáveis:

Fonte: Zaha Hadid Architects, 2014 A cidade sustentável é geralmente fortalecida se grande parte de seu
sistema de transporte puder se dar por meio da ’mobilidade verde’, ou
seja, deslocar-se a pé, de bicicleta ou por transporte público. Esses meios
Sustentabilidade e qualidade do espaço proporcionam acentuados benefícios à economia e ao meio ambiente e
reduzem o consumo de recursos, limitam as emissões e diminuem o nível
A importância da natureza na arquitetura fílmica da capital de Wakanda, de ruídos.

pode ser notada não somente através da utilização das formas orgânicas, mas
também pela presença constante de vegetação na paisagem. As fachadas verdes
(Figura 93), por exemplo, foram analisadas pelo departamento de arte como uma 48
Cabe ressaltar que o uso de vegetação nos edifícios existe desde o Antigo Oriente, como a
exemplo dos jardins da Babilônia (SANTOS, 2017).

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Figura 94 – Cena que destaca os transportes públicos de Birnin Zana. variedade de estilos arquitetônicos, densidades de construção e sistemas
de transporte, imaginados pela designer de produção Hannah Beachler.

Figura 95 – Cenas que mostram a utilização do espaço público de Birnin Zana.

Fonte: Pantera Negra, 2018.

Leite (2020, p.106) aponta que “nesta utopia o urbanismo não é formado
pelas mesmas ‘forças de mercado’ que ditam o planejamento urbano no
Ocidente” resultando em um espaço urbano permeável e sem segregação
espacial, não sendo possível notar a presença de subúrbios e periferias (Ibidem).
Essas forças, também são responsáveis pela formação de cidades
com edifícios individuais, cada vez mais isolados, autossuficientes e indiferentes
(GEHL, p.3). E contrário a isso, constatando a afirmação de Leite, as cenas em
Birnin Zana mostram a efervescência das inter-relações nos espaços públicos,
estimulada pelas atividades comerciais e pela escala da arquitetura (figura 89).
Nota-se que a arquitetura fílmica dos espaços públicos apresentados
durante a narrativa (Figura 95) condiz a escala da velocidade do deslocamento a
pé, onde “os espaços são pequenos, os edifícios mais próximos e a combinação Fonte: Pantera Negra, 2018.

de detalhes, rostos e atividades contribui para uma experiência sensorial rica e


intensa” (GEHL, p.44), exatamente como pode ser observado nas ruas da capital e
como foi destacado por Walker, (2018)

a capital de Wakanda, Birnin Zana, é como nenhuma outra cidade do


futuro retratada na tela: É exuberante, textural e tática, com uma rica

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| ANÁLISES | Cidade como personagem: Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018) | | Arquitetura em Cena |

O filme Pantera Negra é uma obra cinematográfica voltada para o


empoderamento dos povos de origem e descendência africana, onde o negro é o
protagonista (SANTOS, 2021, p.92). Este protagonismo reflete na arquitetura fílmica
através de Wakanda e, especialmente, da capital Birnin Zana, que simbolizam
através da arquitetura a produção do espaço sob a ótica do negro, distante das
preconcepções do imaginário popular acerca do continente em questão e dos
malefícios das forças de mercado como foi abordado ao decorrer deste tópico.
As cenas exploram os espaços da capital, mostrando seu funcionamento e
sua forma de habitar, pois torna-se relevante conhecê-la para o entendimento da
narrativa contada sobre o herói protagonista, desta maneira, tornando a
arquitetura fílmica um personagem, importante não somente para a narrativa
cinematográfica, mas também para suscitar discussões acerca da produção
negra na arquitetura dentro e fora da ficção e da produção do espaço capitalista,
assim como a primeira obra analisada.

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05
05
“As cidades e as edificações, assim como outros objetos
feitos pelo homem, estruturam nossas experiências exis-
tenciais e lhes conferem significados específicos”

(PALLASMA, 2013, p.119)

CAPÍTULO
ANÁLISE DOS RESULTADOS
| Análise dos resultados | | Arquitetura em Cena |

De maneira geral, as análises neste trabalho procuraram observar os O aspecto plástico das edificações também atenua esta contradição, onde
diferentes aspectos que compõem as arquiteturas fílmicas analisadas, formas e materiais constroem uma estética que no imaginário arquitetônico são
abrangendo desde elementos arquitetônicos, ambientes, plasticidade, capazes de associar-se a determinadas condições sociais.
infraestrutura e conforto até às paisagens e tecidos urbanos. E isso foi possível, Até mesmo valores políticos são possíveis de serem pontuados como
devido a forma como estas arquiteturas foram exploradas ao decorrer das cenas fatores de contradição entre as duas realidades econômicas, afinal, o abrigo de
das obras cinematográficas selecionadas. proteção contra-ataques de guerra, ambiente consequente dos conflitos políticos
As casas do filme Parasita (2019), por exemplo, são apresentadas logo no entre as Coreias, é utilizado de maneira diferente nas duas realidades: para o mais
começo da narrativa: à medida que Ki-woo procura pelo sinal de Wi-Fi, as cenas rico, é mais um cômodo da casa; para o mais pobre, é a casa por completo.
exploram os espaços da casa da família Kim, mostrando também a forma como É evidente, portanto, como a imagem da arquitetura das casas é utilizada
essa é habitada. Da mesma maneira, a casa da família Park também é mostrada como símbolo das condições socioeconômicas das famílias e, quando colocadas
ao decorrer das cenas, sendo literalmente apresentada pela governanta do local em contraposição, ilustram uma crítica às desigualdades sociais.
a Ki-woo e, ao mesmo tempo, ao espectador. E ambas as moradias continuam As metáforas construídas por essa arquitetura fílmica, em sua maioria,
sendo exploradas ao longo do filme. estão relacionadas aos elementos arquitetônicos que constituem as imagens
Já as cidades fictícias de Los Angeles, em Blade Runner 2049, e a capital de primordiais da arquitetura: a janela, por exemplo, através do seu tamanho e da
Wakanda, Birnin Zana, são mostradas por meio de tomadas aéreas e cenas ao quantidade de luz solar filtrada por essa, representa uma metáfora para o status
nível da rua que capturam as edificações, os transportes e as pessoas que social e privilégios das famílias. Já a porta, foi utilizada na narrativa como um
constituem a cidade. elemento que marca a mudança na história dos personagens; e a escada,
É a partir da observação por meio destas cenas, que podem ser metaforiza em diversos momentos do filme, a ascensão e a decadência, social e
compreendidas as imagens da arquitetura e os valores carregados por essa. moral, dos personagens ao longo da trama.
Neste sentido, em Parasita (2019), percebe-se que as casas como personagens da Já a interferência dessa arquitetura na narrativa é notada na casa dos
narrativa, representam através das suas imagens, os valores daqueles que a Park, a partir da descoberta do Bunker, que muda os rumos da história.
habitam. No caso desta obra, os valores socioeconômicos são os mais As cidades fictícias de Blade Runner 2049 (2017) e Pantera Negra (2018),
evidenciados pela narrativa e, consequentemente, pela arquitetura fílmica a partir mostram como a cidade enquanto personagem, simboliza os valores da
da contraposição entre a classe alta e baixa, personificada nas famílias Park e sociedade da narrativa, e sendo essas distopia e utopia, respectivamente,
Kim e em suas casas. apresentam novas visões sobre o contexto atual, e assim, constroem metáforas
O contraponto é traçado, principalmente pela qualidade do ambiente, como sobre as cidades reais.
apontado na análise: a relação entre espaço interno e externo, o acesso a O primeiro filme, por exemplo, imprime uma imagem fatídica da sociedade
iluminação e ventilação, a infraestrutura e a implantação. capitalista através da arquitetura fílmica da cidade em questão, dominada pelas
forças de mercado que tratam o solo urbano como uma mercadoria, gerando
espaços altamente densos e verticalizados. Outros aspectos que compõem a

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| Análise dos resultados |

paisagem urbana do lugar, como os painéis publicitários e a degradação


ambiental, também são consequências das atividades de produção e consumo
que constituem o sistema.
Neste sentido, ao ilustrar as consequências do capitalismo no espaço
urbano, Los Angeles não apenas simboliza a sociedade capitalista, como também
torna-se uma metáfora sobre o futuro das cidades reais inseridas neste mesmo
sistema.
Já no segundo filme, a cidade utópica de Birnin Zana, simboliza a
sociedade de Wakanda, um país africano que desenvolveu-se sem contato com
outros países e, portanto, fora do processo de colonização e exploração do
continente em questão e das consequências dos sistemas econômicos vigentes
no restante do mundo. Neste sentido, o espaço urbano da capital deste país, foi
construído unicamente a partir da ótica do negro africano.
Sendo uma utopia, a arquitetura fílmica em questão, propõe uma cidade
que difere das preconcepções do imaginário popular sobre a África, construindo
uma metáfora para a produção do espaço urbano a partir do Afrofuturismo.
Por meio das análises, percebe-se que a arquitetura fílmica como
personagem nas obras cinematográficas relevantes do cinema contemporâneo,
tem representado através da sua imagem, problemáticas que permeiam a
sociedade atual, como as desigualdades sociais, as consequências do sistema
capitalista e a ausência do protagonismo negro.

|156 |
CF
“Os fantásticos ou visionários esboços de projetos não
realizados por arquitetos têm sido a muito tempo reconhe-
cidos como contribuições importantes para a história da
arquitetura. Os projetos cenográficos arquitetônicos
merecem ocupar posição semelhante”
(NEUMANN, 1999, p.9 apud SANTOS, 2005, p.20-21)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
| Considerações finais | | Arquitetura em Cena |

O cinema é uma arte que permite experimentações arquitetônicas, além de algumas matérias e vídeos no YouTube, que ainda são escassos tendo em vista a
ser uma importante ferramenta de representação da arquitetura, facilitando a importância do tema.
compreensão e suscitando reflexões acerca dos espaços. Estudar a arquitetura no De modo geral, este trabalho contribui com o estudo sobre as relações
cinema, permite a concepção de espaços mais sutis e responsivos, pois possibilita entre arquitetura e cinema e, devido aos seus recortes, é apenas uma parte do
compreender como a imagem da arquitetura se comunica de maneira vasto campo a ser explorado e aprofundado a partir da continuidade da
inconsciente com as pessoas. investigação do papel da arquitetura fílmica como personagem abordado nesta
Sabendo que a arquitetura pode assumir diferentes papéis dentro do pesquisa, bem como de outros papéis que essa possa cumprir.
cinema, este trabalho concentrou-se no papel da arquitetura como personagem e
buscou compreender como esse atua na construção da narrativa
cinematográfica.
Constatou-se, portanto, que a arquitetura enquanto personagem atua
através da representação de valores associados às experiências humanas,
contribuindo com a construção da narrativa cinematográfica ao comunicar-se
com o espectador por meio da imagem da arquitetura amplamente explorada
através das cenas.
Para desenvolver as análises fílmicas deste trabalho, que consideraram
obras relevantes do cinema contemporâneo, foi necessário observar a arquitetura
para além dos seus aspectos visíveis, e buscar por valores que os antecedem e
por vezes os determinam, representados através da imagem da arquitetura. O
exercício de analisar o espaço arquitetônico a partir desta perspectiva possibilitou
compreender que, a atuação da arquitetura fílmica como personagem nas
produções atuais tem estado relacionada a problemáticas da sociedade
contemporânea.
Durante a pesquisa teórica, percebeu-se que são poucos os trabalhos
acadêmicos que abordam as relações entre arquitetura e cinema, resultando na
dificuldade de encontrar referências acadêmicas, sendo necessário explorar
outros tipos de fonte, como matérias jornalísticas, podcasts, vídeos, entre outras.
Ainda sobre isso, vale destacar também a falta de trabalhos acadêmicos que
tratam das relações entre a arquitetura e o Afrofuturismo. É possível encontrar

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RF
REFERÊNCIAS E FILMOGRAFIA
| Referências e Filmografia | | Arquitetura em Cena |

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METROPOLIS; Direção: Fritz Lang. Produção: Universum Film AG. Reich Alemão,
1926. (148min)

MEU Tio; Direção: Jaccques Tati. Produção: Film del Centauro, Specta Films, Gray-
Film, Alter Films. França/Itália, 1958. (117min)

O BEBÊ de Rosemary; Direção: Roman Polanski. Produção: Paramount Pictures.


Estados Unidos, 1968. (136min)

O GABINETE do Dr. Caligari; Direção: Robert Wiene. Produção: Studio Babelsberg.


Alemanha, 1920. (71min)

O INQUILINO; Direção: Roman Polanski. Produção: Marianne Productions.


França/Estados Unidos, 1976. (125min)

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PANTERA negra; Direção: Ryan Coogler. Produção: Wall Disney Pictures. EUA, 2018.
(134min)

PARASITA; Direção: Bong Joon Ho. Produção: Barunson E&A Corp. Coreia do Sul,
2019. (131min)

PLAYTIME – tempo de diversão; Direção: Jacques Tati. Produção: Jolly Film. Itália,
1967. (124min)

REPULSA ao Sexo; Direção: Roman Polanski. Produção: Alastair Mclntyre. Reino


Unido, 1965. (101min)

VONTADE Indômita; Direção: King Vidor. Produção: Warner Bros. Estados Unidos,
1949. (141min)

VIAGEM à Lua; Direção: Georges Méliès. Produção: Star Film. França, 1902. (14min)

|174 | | 21 |
AP
APÊNDICES
Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: Parasita (Gisaengchung) Ano: 2019 Nome do filme: Blade Runner 2049 Ano: 2017
Diretor: Bong Jooh-ho Diretor de Arte: Lee Há-Jun Diretor: Denis Vlleneuve Diretor de Arte: Paul Inglis

Arquitetura Fílmica Predominante Arquitetura Fílmica Predominante


Local Tipo Local Tipo

Casa dos Kim Edificação Los Angeles Cidade

Casa dos Park Edificação


Cidade como personagem
Cidade: Los Angeles
Edificação como personagem
Edificação: Casa dos Kim Como a cidade é mostrado ao decorrer da narrativa:
✓ O funcionamento da cidade é mostrado através das cenas.


Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:
A cidade é explorada pela câmera ao decorrer das cenas.
✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.
✓ A forma de habitar a cidade é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.
✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa: No contexto geral da narrativa:

✓ A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. ✓ A cidade possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens. x A cidade dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa.


x A cidade interfere na narrativa.

Edificação como personagem


Edificação: Casa dos Park

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:


✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa:


✓ A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens.

✓ A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: Pantera Negra (Black Panther) Ano: 2018 Nome do filme: Dunkirk Ano: 2017
Diretor: Ryan Coogler Diretor de Arte: Rachel Morrison Diretor: Christopher Nolan Diretor de Arte: Nathan Crowley

Arquitetura Fílmica Predominante Arquitetura Fílmica Predominante


Local Tipo Local Tipo

Wakanda – Birnin Zana Cidade Dunkirk Cidade

Cidade como personagem Cidade como personagem


Cidade: Birnin Zana Cidade: Los Angeles

Como a cidade é mostrado ao decorrer da narrativa: Como a cidade é mostrado ao decorrer da narrativa:
✓ O funcionamento da cidade é mostrado através das cenas. x O funcionamento da cidade é mostrado através das cenas.

✓ A cidade é explorada pela câmera ao decorrer das cenas. x A cidade é explorada pela câmera ao decorrer das cenas.

✓ A forma de habitar a cidade é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. x A forma de habitar a cidade é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa: No contexto geral da narrativa:


✓ A cidade possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. x A cidade possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A cidade dialoga com os personagens. x A cidade dialoga com os personagens.

x A cidade interfere na narrativa. x A cidade interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: A Bela e a Fera (Beauty and the Beast) Ano: 2017 Nome do
A Forma da Água (The Shape of Water) Ano: 2017
Sarah Greenwood e filme:
Diretor: Bill Condon Diretor de Arte:
Katie Spencer Diretor: Guillermo del Toro Diretor de Arte: Dan Laustsen

Arquitetura Fílmica Predominante


Arquitetura Fílmica Predominante Local Tipo
Local Tipo
Casa de Elisa Edificação
Castelo Edificação
Centro de Pesquisa Aeroespacial Edificação
Edificação como personagem
Edificação: Castelo
Edificação como personagem
Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa: Edificação: Casa de Elisa

✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.


Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:
x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.
✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

x
A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da
No contexto geral da narrativa: narrativa.
x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x
No contexto geral da narrativa:
A edificação dialoga com os personagens.
x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.
x A edificação interfere na narrativa.
x A edificação dialoga com os personagens.

✓ A edificação interfere na narrativa.

Edificação como personagem


Edificação: Centro de Pesquisa Aeroespacial

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:


✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa:


x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens.

✓ A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: O destino de Uma Nação (Darkest Hour) Ano: 2017 Nome do filme: Roma Ano: 2018
Diretor: Joe Wright Diretor de Arte: Bruno Delbonnel Diretor: Alfonso Cuarón Diretor de Arte: Eugenio Caballero

Arquitetura Fílmica Predominante Local Tipo


Local Tipo
Parlamento Edificação Casa onde Cleo trabalha e mora Edificação

Casa de Churchill Edificação


Arquitetura Fílmica Predominante
Edificação como personagem Edificação como personagem
Edificação: Parlamento Edificação: Casa onde Cleo trabalha e mora

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa: Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:

✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas. ✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. ✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa: No contexto geral da narrativa:

x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens. x A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa. x A edificação interfere na narrativa.

Edificação como personagem


Edificação: Casa de Churchill

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:


x O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa:


x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns) Ano: 2018 Nome do filme: O Primeiro Homem (First Man) Ano: 2018
Diretor: Rob Marshall Diretor de Arte: John Myhre Diretor: Damien Chazelle Diretor de Arte: Linus Sandgren

Arquitetura Fílmica Predominante Local Tipo


Local Tipo
Casa de Neil Edificação
Londres Cidade
Centro de treinamento Edificação

Cidade como personagem Arquitetura Fílmica Predominante


Cidade: Londres
Edificação como personagem
Como a cidade é mostrado ao decorrer da narrativa:
Edificação: Casa de Neil
x O funcionamento da cidade é mostrado através das cenas.

✓ A cidade é explorada pela câmera ao decorrer das cenas. Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:

x A forma de habitar a cidade é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. ✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.


No contexto geral da narrativa:
x A cidade possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. No contexto geral da narrativa:
x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.
x A cidade dialoga com os personagens.
x A edificação dialoga com os personagens.
x A cidade interfere na narrativa.
x A edificação interfere na narrativa.

Edificação como personagem


Edificação: Centro de treinamento

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:


x O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa:


x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: A Favorita (The Favourite) Ano: 2018 Nome do filme: O irlandês (The Irishman) Ano: 2019
Diretor: Yorgos Lanthimos Diretor de Arte: Robbie Ryan Diretor: Martin Scorsese Diretor de Arte: Bob Shaw

Arquitetura Fílmica Predominante Arquitetura Fílmica Predominante


Local Tipo Local Tipo
Não há, pois os espaços variam com frequência ao
Palácio Edificação -
decorrer das cenas.

Edificação como personagem Edificação como personagem


Edificação: Palácio Edificação: -

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa: Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:
✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas. x O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa: No contexto geral da narrativa:


x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens. x A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa. x A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: 1917 Ano: 2019 Era Uma Vez em... Hollywood (Once Upon a Time in
Nome do filme: Ano: 2019
Diretor: Sam Mendes Diretor de Arte: Roger Deakins Hollywood)
Barbara Ling e Nancy
Diretor: Quentin Tarantino Diretor de Arte:
Haigh
Arquitetura Fílmica Predominante
Local Tipo
Não há, pois os espaços variam com frequência ao Arquitetura Fílmica Predominante
-
decorrer das cenas. Local Tipo
Não há, pois os espaços variam com
-
Edificação como personagem frequência ao decorrer das cenas.
Edificação: -
Edificação como personagem
Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa: Edificação:
x O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.
Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:
x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.
x O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

No contexto geral da narrativa: x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.


No contexto geral da narrativa:
x A edificação dialoga com os personagens.
x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.
x A edificação interfere na narrativa.
x A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do Nome do
Tenet Ano: 2020 Relatos do Mundo (News of the World) Ano: 2020
filme: filme:
Diretor: Christopher Nolan Diretor de Arte: Hoyte van Hoytema Diretor de
Diretor: Paul Greengrass David Crank
Arte:
Arquitetura Fílmica Predominante
Local Tipo Arquitetura Fílmica Predominante
Local Tipo
Cofres Edificação Não há, pois os espaços variam
com frequência ao decorrer das -
cenas.
Edificação como personagem
Edificação: Cofres
Edificação como personagem
Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa: Edificação: -

✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas. Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:
x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. x O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

No contexto geral da narrativa:


x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. No contexto geral da narrativa:


x A edificação dialoga com os personagens. x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.
✓ A edificação interfere na narrativa. x A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: Meu Pai (The Father) Ano: 2020 Nome do filme: Mank Ano: 2020
Diretor: Florian Zeller Diretor de Arte: Peter Francis Diretor: David Fincher Diretor de Arte: Donald Graham Burt

Arquitetura Fílmica Predominante Arquitetura Fílmica Predominante


Local Tipo Local Tipo
Apartamento de Anne Edificação Rancho de hóspedes Edificação

Edificação como personagem Edificação como personagem


Edificação: Apartamento de Anne Edificação: Rancho de hóspedes

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa: Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:
✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas. ✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.
✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. ✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa: No contexto geral da narrativa:


x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.
x A edificação dialoga com os personagens. x A edificação dialoga com os personagens.
x A edificação interfere na narrativa. x A edificação interfere na narrativa.
Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: Jojo Rabbit Ano: 2020 A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black
Nome do filme: Ano: 2020
Diretor: Taika Waititi Diretor de Arte: Ra Vincent Bottom)
Diretor: George C. Wolfe Diretor de Arte: Mark Ricker
Arquitetura Fílmica Predominante
Local Tipo Arquitetura Fílmica Predominante
Local Tipo
Casa de Jojo Edificação
Sala da banda Edificação

Edificação como personagem


Edificação: Casa de Jojo Edificação como personagem
Edificação: Sala da banda
Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:
✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas. Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:

✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. ✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.


No contexto geral da narrativa:
x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. No contexto geral da narrativa:

x A edificação dialoga com os personagens. ✓ A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação interfere na narrativa. ✓ A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: The Tragedy of Macbeth Ano: 2021 Nome do filme: Amor Sublime Amor (West Side Story) Ano: 2021
Diretor: Joel Coen Diretor de Arte: Stefan Dechant Diretor: Steven Spielberg Diretor de Arte: Janusz Kamiński

Arquitetura Fílmica Predominante Arquitetura Fílmica Predominante


Local Tipo Local Tipo

Castelo de Macbeth Edificação Nova Iorque (West Side) Cidade

Edificação como personagem Cidade como personagem


Edificação: Castelo de Macbeth Cidade: Nova Iorque (West Side)

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa: Como a cidade é mostrado ao decorrer da narrativa:
x O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas. x O funcionamento da cidade é mostrado através das cenas.

x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. ✓ A cidade é explorada pela câmera ao decorrer das cenas.

✓ A forma de habitar a cidade é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.


No contexto geral da narrativa:
✓ A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. No contexto geral da narrativa:
✓ A edificação dialoga com os personagens. x A cidade possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação interfere na narrativa. ✓ A cidade dialoga com os personagens.

✓ A cidade interfere na narrativa.


Ficha de Seleção Ficha de Seleção

Nome do filme: Duna (Dune) Ano: 2021 Nome do filme: Ataque dos cães (The Power of the Dog) Ano: 2021
Diretor: Denis Villeneuve Diretor de Arte: Greig Fraser Diretor: Jane Campion Diretor de Arte: Ari Wegner

Arquitetura Fílmica Predominante Arquitetura Fílmica Predominante


Local Tipo Local Tipo
Não há, pois os espaços variam com
- Casa do Benedict Edificação
frequência ao decorrer das cenas.

Edificação como personagem Edificação como personagem


Edificação: - Edificação: Casa do Benedict

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa: Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:
x O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas. ✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

x A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa. ✓ A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da narrativa.

No contexto geral da narrativa: No contexto geral da narrativa:


x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental. x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens. x A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa. x A edificação interfere na narrativa.


Ficha de Seleção

Nome do filme: O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley) Ano: 2021


Diretor: Guillermo del Toro Diretor de Arte: Dan Laustsen

Arquitetura Fílmica Predominante


Local Tipo

Circo Edificação

Consultório da Dr. Lilith Edificação

Edificação como personagem


Edificação: Circo

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:


✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.


A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da
narrativa.

No contexto geral da narrativa:


x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens.

x A edificação interfere na narrativa.

Edificação como personagem


Edificação: Consultório da Dr. Lilith

Como a edificação é mostrado ao decorrer da narrativa:


✓ O espaço da edificação é explorado pela câmera ao decorrer das cenas.

x
A forma de habitar a edificação é evidenciada nas cenas ao longo da
narrativa.

No contexto geral da narrativa:


x A edificação possui significado simbólico, metafórico ou sentimental.

x A edificação dialoga com os personagens.

✓ A edificação interfere na narrativa.

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