Você está na página 1de 6

´

TEORIAS DO RESTAURO
PRINCIPAIS CORRENTES E TEÓRICOS - CONCEITOS BÁSICOS

CADERNO ESQUEMATIZADO
PARA CONCURSOS PÚBLICOS
´

A primeira formulação teórica sobre o restauro, chamada de Viollet-le-Duc realizou importantes trabalhos de restauração na Catedral de Notre-Dame
RESTAURO ESTILÍSTICO, se originou e teve aplicação na França pós- de Paris, Catedral de Amiens, Igreja de Madeleine de Vezélay, Castelo de Pierrefons e
revolução, entre 1830 e 1870, através do trabalho de Viollet-le-Duc . nas muralhas da cidade de Carcassone, entre outros inúmeros trabalhos.

Defendia a ideia da reutilização


O restauro estilístico se baseia “na unidade formal e estilística das
funcional das edificações, lhes
edificações” que buscava criar um modelo idealizado na “pureza” de Restaurar um edifício não é mantê-lo,
atribuindo utilizações concretas
seu estilo. repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em
enquanto arquiteturas, com o
um estado completo que pode jamais ter
Viollet-le-Duc defendia a intervenção (linha de objetivo de torná-las úteis à
existido em um dado momento.
pensamento intervencionista) sobre a obra por sociedade.
meio de reconstituições, melhorias ou até mesmo
alterações das partes originais que considerava
imperfeitas, concebendo um “modelo ideal” com o Além de ser pioneiro ao desenvolver uma teoria da
objetivo de buscar a pureza de estilo. restauração, Viollet-le-Duc desenvolveu um método para
a prática da restauração que consiste em levantamentos
Para isso, fazia uma análise profunda de como
gráficos, documentos, relatórios, registros e todos os
teria sido feito o projeto original se o autor
elementos necessários para a reconstituição do edifício.
detivesse todo o conhecimento e experiência na
época de sua concepção. Concebia então o Munido de um inventário, a probabilidade de ações
“modelo ideal” e impunha sobre a obra esse arbitrárias nas intervenções são menores, pois se trata
esquema já montado. de uma atividade que requer uma habilidade de um
“cirurgião”, conforme comparação feita por Viollet-le-
Nega assim, o respeito à matéria, desconsiderando
Duc. O restaurador deveria então:
as modificações sofridas pelo edifício ao longo do
tempo. 1- entender profundamente o projeto e o sistema
construtivo;
Dessa forma, era possível reconstituir edifícios
2 – conceber um modelo ideal;
inteiros a partir desse “modelo ideal” resultando
3 – impor ao projeto/edifício o esquema idealizado.
em edifícios completamente diferentes do original.
Para ele, é necessário que o restaurador possua um Suas ideias contribuíram para o restauro contemporâneo,
Sua principal obra bibliográfica é o Dictionnaire pleno conhecimento do edifício em sua totalidade. principalmente em relação à metodologia de projeto
Raisonné de L'Architecture Française du XIe au XVe Não basta analisar somente as partes que sofrerão (importância dos levantamentos detalhados do edifício),
siècle (1854 a1868) publicado em 10 volumes. um processo de intervenção, é preciso compreender a a reutilização do edifício para sua sobrevivência e,
arquitetura como um organismo em que todas as principalmente, a atuação baseada em circunstâncias e
partes se articulam. especificidades de cada projeto.

2
´

Enquanto na França prevalecia o restauro estilístico que defendia a


Para Ruskin o edifício só ganhava vida,
noção de um monumento ideal, na Inglaterra, surgiu uma teoria que
tornando-se reconhecido como algo de
visava a preservação da matéria original (autenticidade histórica),
A restauração significa a mais total valor, após ter servido de testemunho da
representada pelo escritor e crítico de arte John Ruskin.
destruição que um edifício pode sofrer: uma morte de várias gerações, ter sido
Suas ideias adquiriram maior repercussão no ano de 1849 através destruição da qual não se salva nenhum abençoado com a “pátina do tempo“ e
do livro The Seven Lamps of Architecture e no ano de 1853 com The vestígio: uma destruição acompanhada pela assistido a evolução da cidade resistindo
Stones of Venice, onde descreveu sua apologia ao “ruinísmo” como falsa descrição da coisa destruída. mais que todos os seres vivos.
um devoto às construções do passado, pregando o total e absoluto
respeito à matéria original das edificações

Essa linha de pensamento, denominada RESTAURO A postura de Ruskin é o reflexo de uma época em plena
ROMÂNTICO, é amparada no culto ao passado e na transformação socioeconômica por consequência da
valorização dos vestígios enquanto caráter sagrado, Revolução Industrial. Trata-se de uma dicotomia entre os
ou seja. Para Ruskin, a contemplação seria a única antigos costumes sociais e os emergentes decorrentes da
postura a se dotar diante de uma edificação. Revolução Industrial. Ruskin está ligado diretamente ao
pensamento romântico, à ideia do sublime, em que o
A ação do tempo sobre as edificações são intrínsecas
passado é intocável, logo os monumentos deveriam sofrer
ao bem e, dessa forma, qualquer intervenção é
o mesmo destino.
arbitrária e indevida, uma vez que a obra de arte
pertence somente ao seu criador.
Neste contexto, vale ressaltar suas críticas contra as
restaurações que ocorriam contemporaneamente, na
Ruskin defendia a ideia de que as edificações
Europa e principalmente na França, tendo com figura
deveriam atravessar os séculos de maneira intocada
central Viollet-le-Duc. Para Ruskin a restauração era a
envelhecendo segundo seu destino, lhe admitindo a
mais completa e bárbara destruição que poderia estar
morte se fosse o caso. Com algumas exceções
sujeito um edifício. Considerava impossível restituir o que
permitia pequenos trabalhos de intervenção que
foi belo e grandioso arquitetonicamente, pois a alma dada
evitassem a queda prematura das edificações.
ao prédio por seu “primeiro construtor” jamais poderia ser
Recomendava a execução de reforços estruturais em Importante ressaltar que as teorias de Ruskin e devolvida. É veemente afirmando que outra época daria ao
elementos de madeira e metal quando estes estavam de Viollet-le-Duc, mesmo divergentes foram monumento outra alma, outro enfoque e outra cara,
em risco de se perder, assim como reparos pontuais importantes para futuras reflexões a respeito da transformando o objeto em uma nova edificação.
de fixação ou colagem de esculturas em risco de ruir, conservação e restauração dos monumentos
mas de maneira nenhuma admitia imitações, cópias e históricos.
acréscimos.

3
´

No final do século XIX, o arquiteto e crítico de arte italiano Camillo


Boito mediou as duas principais correntes dos primórdios da teoria
da restauração: unidade de estilo/restauro estilístico de Viollet-le-
O restauro científico ou filológico
Duc e a conservacionista/restauro romântico de Ruskin. Partindo de
1º é necessário fazer o impossível, é dava ênfase ao valor documental da
conceitos antagônicos, estabeleceu um conjunto de diretrizes
necessário fazer milagres para conservar obra, destacando o valor primordial
chamado de RESTAURO FILOLÓGICO.
no monumento o seu velho aspecto das edificações enquanto
artístico e pitoresco testemunho e documento histórico.
Para ele a restauração só é considerada
válida em casos excepcionais e extremos, a
ser realizada quando outros meios de
Em relação às propostas de Viollet-le-Duc, Boito refuta as
salvaguarda (manutenção, consolidação,
intervenções imperceptíveis) tivessem restaurações que buscam uma unidade formal ou um modelo
ideal por meio de completamentos e reconstruções, pois para
fracassado. Em sua obra Os restauradores
ele essa operação torna-se arbitrária pelo fato de conduzir a
(1884), Boito chama a atenção para o fato de
enganos.
que restauração e conservação não são a
mesma coisa, sendo, com muita frequência,
Sugeriu que a conservação periódica seria um instrumento
antônimas.
eficaz de preservação, acreditando que as restauração só
deveriam ser realizadas quando necessárias a fim de não
Boito formulou princípios segundo os quais o
abdicar da memória e dos valores implícitos de determinadas
monumento era tido como um documento.
obras. Boito complementou suas ideias defendendo que os
Antes de se realizar qualquer tipo de
complementos e adições, quando necessários, deveriam
intervenção na edificação, propunha-se um
demonstrar ser obras contemporâneas diferenciando-se da
estudo minucioso da documentação existente,
matéria original sem colidir com o aspecto artístico do
dados de arquivos, desenhos e material
monumento.
iconográfico em geral, além da investigação
na própria obra. Considerava os monumentos como testemunhos da história.
No entanto, não significava que os monumentos, devessem
Boito contribuiu de forma direta para a formulação dos princípios atuais de percorrer um curso natural de consumação até a sua ruína,
restauração, na medida em que defendia o respeito à matéria original da pré- como postulava Ruskin. Em outros aspectos, muitas vezes as
existência, a reversibilidade e distinção das intervenções, o interesse por aspectos ideias apresentadas aproximavam-se das de Ruskin,
conservativos e de mínima intervenção e a manutenção dos acréscimos de épocas principalmente ao apontar para a pouca intervenção que
passadas, entendidos como parte da história da edificação. deveria existir no monumento.

4
´

Foi na Itália pós-Segunda Guerra Mundial, que emergiram novos


questionamentos apoiados no método histórico-crítico. Entre alguns
autores, destaca-se Cesare Brandi, historiador e crítico de arte. Para Brandi, os procedimentos de
A restauração é o momento metodológico restauro devem ser estendidos para o
Brandi inova ao afirmar que a restauração fundamenta-se no ambiente ou entorno da obra como
do reconhecimento da obra de arte, na sua
reconhecimento por uma consciência individual da obra enquanto obra forma de garantir sua adequada
consistência física e na sua dúplice
de arte. Ou seja, não se deve levar em consideração apenas a matéria, conservação física e também sua
polaridade estética e histórica, com vistas à
mas também a sua relação dialética entre as instâncias estéticas e leitura como obra de arte.
sua transmissão ao futuro.
históricas. É o chamado RESTAURO CRÍTICO.

Portanto, é primordial vincular rigorosamente a Da definição de restauro de Cesare Brandi decorrem dois
restauração a um método e ao processo histórico- axiomas. O primeiro: “restaura-se somente a matéria da
crítico, que tem por objetivo afastar o restauro do obra de arte”. Isso significa que não se intervém na
empirismo para balizá-lo em princípios e regras de imagem como formulada através do processo criativo do
conduta condizentes com um método científico, artista. O artista formula a imagem que se concretiza
mantendo sempre a sua imparcialidade com relação à através de determinadas matérias, que se alteram ao
obra de arte. longo do tempo. A intervenção é feita nessas matérias
alteradas, e não na formulação da imagem como
O restauro é entendido como ação de caráter concebida (como era muito comum no Século XIX, em que
essencialmente cultural, vinculado ao pensamento o restaurador pretendia tomar o lugar do artista-criador,
crítico e científico do momento em que é realizado. O interferindo em seu processo criativo).
trabalho de Brandi ao desenvolver a Teoria da
Restauração (1963) , fundamenta-se na necessidade O segundo axioma: “A restauração deve visar o
de excluir o empirismo dos processos de restauração. restabelecimento da unidade potencial da obra de arte,
Em resumo, para Brandi, o restauro é desde que isso seja possível sem cometer um falso
Os questionamentos de Brandi suscitaram o
fundamentado na análise da obra, de seus artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum
pensamento de que o restauro era, para além de um
aspectos físicos, de suas características traço da passagem da obra no tempo”. Nota-se que
ato científico (restauro filológico de Camillo Boito).
formais e de sua transformação no decorrer desenvolver a unidade potencial não significa refazer nem
Para Brandi, o restauro é um ato crítico, isto é, antes
do tempo, para, pelo ato crítico, contemporizar completar aleatoriamente, significa tornar o tecido
de qualquer tipo de intervenção que se faça num bem
as instâncias estética e histórica, e intervir, figurativo legível, mas, respeitando-o como documento
cultural, é necessário ancorar as ações nos campos
respeitando seus elementos caracterizadores, histórico.
disciplinares afeitos à restauração, como história,
com o intuito de valorizá-la e transmiti-la ao
filosofia, sociologia (caráter multidisciplinar).
futuro.

5
VOCÊ FINALIZOU MAIS UM CADERNO ;)
QUE BOM!

O ESTUDO É SOBRE FINALIZAR UMA


SÉRIE DE PEQUENOS PASSOS.

© 2020.Todos os direitos reservados. http://www.metodoarqconcurso.com.br


Este material é protegido pela Lei de Direito Autoral Brasileira e por Convenções
Internacionais. Nenhuma parte poderá ser reproduzida, distribuída ou
transmitida em qualquer formato sem autorização prévia e expressa da autora.

Você também pode gostar