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INTRODUÇÃO

Esta cartilha tem por objetivo orientar e pela Instrução n. 4/2020), leitura indispen-
auxiliar proponentes a elaborarem e execu- sável para quem atua ou quer atuar na área.
tarem projetos que sejam viabilizados atra- Neste ano de 2020, momento tão delicado
vés da Lei de Incentivo a Cultura, também onde estamos vivendo a pandemia em ra-
conhecida como Lei Rouanet, bem como zão da COVID-19, os projetos estão sen-
orientar incentivadores interessados em in- do diretamente impactados. E por isso o
vestir o seu Imposto de Renda nos projetos Ministério publicou mais duas Instruções,
beneficiados pela lei. de números 5 e 6/2020, as quais também
estão previstas neste material.
Atualmente, não há dúvida de que a Lei
é o principal mecanismo de financiamento Vale lembrar que a leitura desta carti-
da cultura brasileira. lha não dispensa o estudo de outras nor-
mas, nem tampouco dispensa o constan-
Porém, para ter acesso a esse benefício, te aperfeiçoamento dos interessados no
existem inúmeras normas a serem obser- tema, seja através de cursos, leituras, e até
vadas, e nem sempre a linguagem das leis é acompanhamento do site do Ministério
acessível a todos. Queremos, com essa car- do Turismo, através da sua Secretaria Es-
tilha, desmistificar um pouco esse tema, pecial da Cultura. Mas auxiliará em muito
tão importante, mas não menos questiona- a compreensão básica do universo desse
do pela sociedade. mecanismo de incentivo.

Nossa intenção também é, da forma mais Reporte-se a esta Cartilha sempre que
prática possível, levar a comunidade em ge- necessário, consulte a legislação com fre-
ral a entender mais sobre os métodos que qüência, e mãos a obra! Boa leitura!
devem ser adotados e caminhos a serem
seguidos. Essa quarta edição está atuali- Mariana Kadletz
zada com as regras trazidas pela Instrução INCENTIVE
Normativa n. 2/2019 (e alterações feitas
ÍNDICE

O QUE É LEI DE INCENTIVO À CULTURA 7

QUEM PODE APRESENTAR UM PROJETO 8


Documentos para proponente pessoa física 9
Documentos para proponente pessoa jurídica 9
Dicas 9
Usuário do software Salic 10
Limites de projeto e valores por proponente 10

ENQUADRAMENTO DO PROJETO 12
Artigo 18 – Renúncia fiscal total 12
Artigo 26 – Renúncia fiscal parcial 12
Patrocínio e Doação 13
Áreas culturais com 100% de isenção fiscal 13

COMO ELABORAR UM PROJETO 15


Identificação da Proposta 15
Acessibilidade 16
Democratização de acesso 16
Produto e plano de distribuição 16
Ações formativas culturais 18
Projeto Orçamentário 18
Limites da planilha orçamentária 19
Divulgação do projeto 20
Contrato de patrocínio 21
Cadastramento do projeto 21

AVALIAÇÃO DA PROPOSTA 22
Análise de admissibilidade 22
Captação de 10% 23
Análise técnica 23
Homologação da CNIC 23
Parecer técnico 24
Recurso 24

QUANDO A VERBA PODE SER CAPTADA? 25

QUEM PODE SER UM INCENTIVADOR? 26


Vedações dos incentivadores 28
DICAS DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS 29
Aporte e recibo de mecenato 30

EXECUÇÃO DO PROJETO 31
Captação mínima 31
Movimentação de recursos 31
Readequação no projeto 31
Remanejamentos orçamentários 32
Complementação e redução do valor do projeto 33
Pedido de prorrogação - Captação e execução 33
Avaliação dos fornecedores 34
Formalização de contratos 34
Documentos fiscais 34
Forma de pagamento 35
Aplicação das logomarcas 35
Acessibilidade e democratização de acesso 35
Comprovações de realização 35
Fiscalização da execução 36

RECOLHIMENTO DE SALDO AO FNC 36

PRECISO PRESTAR CONTAS? 38


Aprovação ou reprovação da prestação de contas 39

NÚMEROS DO MECENATO 40
Dados gerais
de 2019 40
Maiores patrocinadores do Brasil 2019 40
Investimento de 2019 por região 40

VALIDADE E FUTURO DA LEI 41

IMPACTOS DA COVID-19 NOS PROJETOS 42


Movimentação e liberação de recursos 42
Prorrogação de prazos de captação e execução 42
Alterações no projeto 42
Prestação de contas 43
Parcelamento de débitos 44
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 7

O QUE É LEI DE I – Fundo Nacional de Cultura,


também conhecido como FNC;
INCENTIVO À II – Fundos de Investimento Cul-
tural e Artístico – FICART; e
CULTURA? III – Incentivo a projetos culturais.

O item terceiro diz respeito ao conheci-


Nosso país conta com mais de 300 leis de do sistema do “Mecenato” ou “Incentivo
incentivo à cultura, que podem ser leis mu- Fiscal”. E esta cartilha irá tratar tão somen-
nicipais, estaduais e federais, criadas para te desse item, qual seja, incentivo a proje-
estimular a produção cultural em troca de tos culturais.
benefícios de isenção fiscal. Essas leis são
baseadas no princípio da renúncia fiscal. E O mecanismo do incentivo permite que
a renúncia nada mais é do que o poder pú- investidores apoiem projetos culturais, na
blico “abrir mão” de receber determinado forma de doação ou patrocínio. O investi-
valor, para que ele seja aplicado diretamen- dor deduz o investimento do seu imposto
te no setor cultural. de renda e ainda investe na cultura do país,
além de fortalecer sua marca e relacionar-
As leis municipais irão oferecer isenção -se com a comunidade.
de impostos municipais, como é o caso do
ISS (imposto sobre serviços) e IPTU (im- A Lei é aplicada pelo Ministério do Tu-
posto sobre a propriedade territorial ur- rismo (antes Ministério da Cidadania),
bana). As leis estaduais oferecerão isenção através da Secretaria Especial da Cultura
no imposto estadual, como por exemplo o e SEFIC – Secretaria de Fomento e Incen-
ICMS (imposto sobre a circulação de mer- tivo à Cultura.
cadorias e serviços) e as leis federais, por
sua vez, irão conceder isenção de imposto Atualmente a Lei é regulamentada pelo
federal, no caso, do IR (imposto de renda). Decreto 5.761, de 27 de abril de 2006. Além
do Decreto, há alguns anos o Ministério
A Lei Federal nº 8.313, do dia 23 de de- vem publicando Instruções Normativas, e
zembro de 1991 é conhecida como Lei de através delas é possível entender de forma
Incentivo à Cultura ou Lei Rouanet. A ex- mais detalhada quais os procedimentos es-
pressão Rouanet é um apelido dado pelo tabelecidos desde a apresentação até a pres-
seu criador, Sérgio Paulo Rouanet, diplo- tação de contas de um projeto. A Instrução
mata e membro da Academia Brasileira de Normativa vigente é a de número 02, de 23
Letras, que na época era o Secretário de de abril de 2019, chamada neste documen-
Cultura do Governo Collor. to de IN 2/2019, e, junto com entendimen-
tos da Secretaria Especial da Cultura, será
Esta é a principal lei de incentivo à cul- a base desta cartilha.
tura do Brasil, já tendo mobilizado mais
de 17 bilhões em todo o país desde a No decorrer desta cartilha a norma mais
sua criação. citada será a atual Instrução Normativa
2/2019. Assim, sempre que houver men-
Através dela foi criado o PRONAC, que ções a normas diferentes, estas serão iden-
significa “Programa Nacional de Apoio à tificadas. Quando houver menção a anexos
Cultura”, para ser implementado através de e artigos sem referência, estaremos sempre
três mecanismos: citando a IN 2/2019.
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QUEM PODE sicas e jurídicas (com ou sem fins lucrati-


vos), desde que atendam aos requisitos da
APRESENTAR UM norma. Pessoas jurídicas de direito público1
poderão ser proponentes, desde que sejam
PROJETO da administração pública indireta2 .

C
Quando o proponente for pessoa jurídica,
hamamos de Proponente a pes- será necessária uma avaliação do cartão de
soa que apresenta um projeto ao CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurí-
Ministério do Turismo, e que será dicas (que pode ser obtido no site da Receita
responsável legal pela execução do proje- Federal). Essa avaliação deve observar os
to. É o proponente que responde por to- códigos de Classificação Nacional de Ativi-
das as ações do projeto e que deverá pres- dades Econômicas (CNAE), referente a área
tar contas de sua realização e da utilização cultural, de acordo com a classificação cons-
dos recursos obtidos através da Lei de In- tante do Anexo VII (art. 2º, §1º).
centivo à Cultura.
Outra avaliação é do seu ato constituti-
Conforme o Anexo I (Glossário), XLIII, vo, que pode ser o contrato social de uma
da Instrução Normativa, proponente é a empresa, o estatuto da entidade, ou outros.
Estes devem dispor sobre a finalidade cul-
“pessoa física com atua- tural de forma expressa.
ção na área cultural, ou pes-
soa jurídica de direito público A exceção é para o proponente que está
ou privado, com ou sem fins apresentando a sua primeira proposta, que,
lucrativos, que apresente o apesar de dispensado do currículo cultu-
Código Nacional de Ativida- ral, tem uma limitação orçamentária de
des Econômicas (CNAE), re-
R$200.000,00 (duzentos mil reais), confor-
me o §7º do art. 2º.
ferente à área cultural no seu
registro de CNPJ, de acordo
Para isso, a atual Instrução Normativa
com a classificação constan-
prevê o Anexo VII, que traz a lista dos
te no anexo VII, responsável segmentos culturais e respectivos códigos
por apresentar, realizar e res- (CNAE´s), que devem constar no cartão de
ponder por projeto cultural CNPJ do proponente, dependendo do seg-
no âmbito do Pronac”. mento cultural do projeto.

Dessa forma, antes de começar a elaborar


Assim, antes de iniciar o projeto, o pro- um projeto, o proponente precisa se certi-
ponente deve ser avaliado, no que diz res- ficar de que possui a documentação e os
peito aos requisitos necessários frente a requisitos necessários.
legislação, uma vez que o mesmo deverá
comprovar sua natureza cultural. Abaixo, apresentamos o rol de documen-
tos que são necessários para os proponentes,
Poderão ser proponentes as pessoas fí- conforme consta no Anexo III da Instrução.

1. Administração pública direta só poderá receber doação ou patrocínio em favor do Fundo Nacional de Cultura, conforme §1º do
art. 23 do Decreto 5.761, de 27.04.2006.
2. A Administração Indireta é o conjunto de entidades com personalidade jurídica que são vinculados a um órgão da Administra-
ção Direta, e prestam serviço público ou de interesse público. São eles: Autarquia, Empresa Pública, Sociedade de economia mista,
Fundação Pública.
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 9

DOCUMENTOS PROPONENTE DICAS


PESSOA FÍSICA • Licitação: A Lei de Incentivo à Cul-
π Currículo de atividades culturais, dan- tura dispensa licitação, mas quando o
do ênfase para as atividades na área obje- proponente for pessoa jurídica de direito
to da proposta; público é necessário licitar (vide art. 47,
π Cópia do documento de identidade, §1º, “I”). Essa informação é de suma im-
contendo RG, CPF, foto e assinatura; portância e deve ser de conhecimento do
π Ou, se for o caso, cédula de identidade proponente logo no início da concepção
de estrangeiro emitida pela República Fe- do projeto.
derativa do Brasil. • Procurador: Se o Proponente for repre-
sentado por terceiros, é preciso juntar ao
Salic uma procuração que traga firma re-
DOCUMENTOS PROPONENTE conhecida, acompanhada dos documen-
PESSOA JURÍDICA tos de identificação do(s) procurador(es),
π Currículo de atividades culturais do com foto, assinatura, RG e CPF. Aten-
proponente na área objeto da proposta, ção: os poderes contidos na produção
ou, caso a entidade não possua, juntar o não poderão, sob qualquer hipótese, con-
currículo cultural dos seus dirigentes e/ figurar intermediação3 , vedada pelo art.
ou da equipe que constará na ficha técni- 28 da Lei nº 8.313, de 1991.
ca do projeto; • Currículo ou Portfólio: não existe um
π Cartão de CNPJ da entidade, em situ- modelo de currículo ou portfólio cultural
ação ativa – retirado no site http://www. do Ministério do Turismo, mas sugere-se
receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/CNPJ/ um material organizado, por ordem cro-
cnpjreva/cnpjreva_solicitacao2.asp nológica, com dados que comprovem que
π Cópia do ato que constituiu a pessoa a atividade aconteceu de fato. Assim, o
jurídica, que pode ser a última alteração proponente poderá juntar no Salic (den-
contratual ou estatutária, certificado de tro do limite que o software permitir),
micro empreendedor, requerimento de todo e qualquer material que comprove a
empresário ou documento equivalente, sua atuação cultural, como por exemplo:
devidamente registrado no órgão compe- matérias de jornal, sites e redes sociais,
tente. Caso a última versão do ato não cartazes, folders, fotos, vídeos, relatórios,
seja uma versão consolidada, será neces- entre outros.
sário juntar todas as alterações; • Execução compartilhada: possibilidade
π Cópia da ata de eleição e termo de pos- onde dois ou mais proponentes somam
se da atual diretoria, devidamente regis- as suas competências para executar um
trada, ou do ato de nomeação dos atuais projeto, e firmam um contrato ou acor-
dirigentes, quando for o caso; do de cooperação técnica para formalizar
π Cópia do documento de identidade essa parceria (Anexo I, XVI).
do(s) dirigente(s), contendo RG, CPF,
foto e assinatura.

3. Considera-se intermediação a apresentação de proposta por proponente cuja participação em sua execução será irrelevante, aces-
sória ou nula ou em que a atividade técnico-financeira ou de gestão tenha sido delegada (conceito retirado do item XVIII do Anexo
I – Glossário – da IN 2/2019).
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USUÁRIO DO SALIC π Pessoas físicas e Empreendedor Indi-


vidual com enquadramento Micro Em-
O segundo passo é o registro do pro- preendedor Individual (MEI) podem ser
ponente no Sistema Salic, que deverá ser proponentes de apenas 4 (quatro) proje-
a pessoa física ou o representante legal da tos ativos. A soma dos projetos deve se
pessoa jurídica. limitar ao total de R$1.000.000,00 (um
milhão de reais).
É necessário que seja cadastrado um π As demais empresas que sejam cons-
e-mail, que esteja apto a receber as infor- tituídas de forma individual (Empre-
mações do Ministério. O Salic e o e-mail endedores Individuais) poderão ter até
são os canais entre proponente e Ministé- 8 (oito) projetos ativos, totalizando R$
rio, e por isso devem estar funcionando e 6.000.000,00 (seis milhões de reais).
serem regularmente verificados. π Empresa Individual de Responsabilida-
de Limitada (EIRELI), Sociedades Li-
Conforme o Glossário – Anexo I da Ins- mitadas (Ltda) e demais pessoas jurídicas
trução, item XLVII, usuário do Salic é a poderão somar até 16 (dezesseis) projetos
pessoa física que é detentora de chave de ativos que totalizem R$10.000.000,00
validação para inserção e edição de propos- (dez milhões de reais).
tas e projetos culturais, podendo ser o pró-
prio proponente, seu representante legal, Porém, caso os proponentes citados aci-
ou procurador devidamente constituído. ma queiram aumentar o número de pro-
jetos (e não o limite monetário deles), po-
O software é acessado pelo link http:// derão, desde que os novos projetos sejam
salic.cultura.gov.br/autenticacao/ é só entrar e integralmente realizados em equipamentos
fazer o cadastro. ou espaços públicos. Nesse caso, as pesso-
as físicas e MEI´s poderão acrescer mais 2
Se o proponente quiser conferir poderes (dois) projetos; os demais Empreendedores
para um terceiro lhe representar frente o Individuais poderão acrescer mais 3 (três)
Ministério e cadastrar um projeto, haverá projetos; e EIRELI, Sociedades Limitadas
necessidade de que seja firmada uma pro- e outras pessoas jurídicas poderão acrescer
curação conferindo poderes a um repre- mais 4 (quatro) projetos. Essa possibilidade
sentante legal que cuidará do projeto. Essa está no art. 4º, §5º.
procuração deve ser anexada ao Salic no
ato do cadastramento do projeto. A Ins- Também vale destacar que a atual Ins-
trução Normativa também exige que essa trução Normativa traz novamente à men-
procuração tenha assinatura com firma re- ção a projetos “ativos” para contabilizar os
conhecida em cartório (Anexo III). quantitativos de projetos.

Para melhor visualização dos limites de


LIMITES DE PROJETO E VALORES número de projetos e valores, fizemos o
POR PROPONENTE quadro a seguir.

Atualmente, existe um número limite Existe outra exceção, prevista no art. 5º,
que um proponente pode apresentar de informando que será permitido mais um
projetos (sobre o assunto, recomenda-se a acréscimo dos limites de projetos inicial-
leitura dos art. 4º e 5º). São eles: mente informados neste tópico. A possi-
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 11

LIMITES DE NÚMEROS DE PROJETOS E VALORES

Nº DE SOMA DE TODOS

TIPO DE PROPONENTE EXCEÇÃO
PROJETOS OS PROJETOS

- Pessoas físicas + 2 projetos, se forem


- Micro Empreendedor Até 4 R$1.000.000,00 integralmente realizados em
Individual equipamentos ou espaços públicos.

+ 3 projetos, se forem
Demais enquadramentos de
Até 8 R$6.000.000,00 integralmente realizados em
Empreendedor Individual
equipamentos ou espaços públicos.

Empresa Individual de
Responsabilidade Limitada + 4 projetos, se forem
(EIRELI), Sociedades Até 16 R$10.000.000,0 integralmente realizados em
Limitadas (Ltda) e demais equipamentos ou espaços públicos.
pessoas jurídicas

bilidade é de até 50% para novos projetos - Museus e memória;


integralmente executados na Região Sul e - Conservação, construção e implanta-
nos estados de Espírito Santo e Minas Ge- ção de equipamentos culturais de reco-
rais e de até 100% nas Regiões Norte, Nor- nhecido valor cultural pela respectiva
deste ou Centro-Oeste. A norma menciona área técnica do Ministério do Turismo;
um aumento nos limites quantitativos, o - Construção e manutenção de salas de
que nos leva a crer que estamos falando de cinema e teatro em municípios com me-
um aumento no número de projetos, e não nos de 100.000 (cem mil) habitantes.
no valor da carteiro (limite orçamentário).
Outra exceção que é uma novidade da
Mas atenção: Considera-se um mesmo Instrução Normativa 2/2019 é a prevista
proponente a pessoa física que também no §3º do art. 4º. Agora, respeitado o valor
se constitua como tipos empresariais EI e de carteira (que é o somatório financeiro de
EIRELI ou sócio das demais pessoas jurí- todos os projetos que o proponente pode-
dicas ou as pessoas jurídicas que possuam rá apresentar), um projeto pode ter o valor
sócios em comum ou que participem do máximo de R$6.000.000,00 (seis milhões
mesmo grupo empresarial (art. 4º, §1º). de reais) se tratar as seguintes temáticas:
- inclusão da pessoa com deficiência,
A novidade da Instrução Normativa educativos em geral, prêmios e pesquisas;
2/2019 é que agora, além das regras já ex- - óperas, festivais, concertos sinfônicos,
plicadas, o valor homologado para capta- desfiles festivos e corpos estáveis;
ção por projeto unitário fica limitado em - datas comemorativas nacionais com ca-
R$1.000.000,00 (um milhão de reais). As lendários específicos; e
exceções para esta regra estão descritas nos - eventos literários, ações de incentivo à
§2º e §3º do art. 4º. leitura e exposições de artes visuais.

O limite de 1 milhão por projeto não se E poderá ter o valor máximo de


aplica aos seguintes tipos (art. 4º, §2º): 10.000.000,00 (dez milhões de reais) por
- Planos Anuais e Plurianuais de Atividades; projeto para o segmento Teatro Musical
- Patrimônio cultural material e imaterial; (§3º-A)
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ENQUADRAMENTO
ARTIGO 26 – RENÚNCIA FISCAL
DO PROJETO PARCIAL

O
Somente parte do valor investido no projeto é
enquadramento de um projeto não abatido do Imposto de Renda do incentivador. De-
é feito pelo proponente, mas pelo pendendo da modalidade (patrocínio ou doação), e
Ministério do Turismo. Porém, do incentivador (pessoa física ou jurídica) os percen-
cabe ao proponente trabalhar com o ob- tuais podem variar entre 30% e 80%
jetivo de que o seu projeto seja enquadra-
do corretamente. Nesse caso, o valor que não é abatido
do imposto de renda deverá ser suporta-
Mas o que é o enquadramento? Nada do com recursos próprios do incentiva-
mais é do que verificar em qual artigo da Lei dor. Ademais, ainda no caso do artigo 26,
8.313/91 o seu projeto se enquadra: art. 18 quando o incentivador for pessoa jurídica,
ou 26. O enquadramento tem relação direta o valor incentivado pode ser abatido como
com o percentual que o incentivador do pro- despesa operacional.
jeto poderá deduzir do seu imposto de renda.
O quadro explicativo abaixo mostra
Funciona assim: a empresa que incenti- os percentuais de dedução fiscal para os
va pode deduzir até 4% do seu imposto de dois artigos.
renda em benefício da cultura. Se o incen-
tivador for pessoa física, a dedução é de até
PERCENTUAIS DE

6%. Esse limite de imposto de renda pode DEDUÇÃO FISCAL
ser revertido para um ou mais projetos, e,
no caso da pessoa física, para outros meca-
nismos de incentivo fiscal além da Lei de ARTIGO
 ARTIGO

-
18 26
Incentivo à Cultura.

Vejamos agora a diferença entre o art. 18 PJ
 100% 40%


DOAÇÃO Isenção Isenção
e art. 26 da Lei 8.313/1991.

PJ 100% 30%
ARTIGO 18 – RENÚNCIA FISCAL PATROCÍNIO Isenção Isenção

TOTAL
PF
 100% 80%
100% do valor investido no projeto é abatido do DOAÇÃO Isenção Isenção
Imposto de Renda do incentivador, para as moda-
lidades de patrocínio e doação PF
 100% 60%
PATROCÍNIO Isenção Isenção
Aqui, o valor incentivado não pode ser
abatido como despesa operacional para as PJ - Pessoa jurídica. PF - Pessoa física.

pessoas jurídicas.
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 13

PATROCÍNIO E DOAÇÃO ÁREAS CULTURAIS COM 100% DE


ISENÇÃO FISCAL (ART. 18 DA LEI
O incentivo pode ocorrer de duas for- 8.313/91)
mas: doação ou patrocínio. O conceito de
doação e patrocínio pode ser obtido nos ARTES CÊNICAS
artigos 4 e 23 do Decreto que regulamen- • circo; dança; mímica; ópera; teatro; tea-
ta a Lei de Incentivo à Cultura (Decreto tro de formas animadas, de mamulengos,
5.761, de 27 de abril de 2006). bonecos e congêneres;
• teatro musical, quando sua encenação
A doação não tem finalidade comercial. se estabelece por meio de dramaturgia,
Aqui é proibido qualquer tipo de promo- compreendendo danças e canções;
ção do doador e só podem se beneficiar • desfile de escola de samba ou festivos
dela propostas culturais de pessoa física, de caráter musical e cênico que tenham
ou jurídica sem fins lucrativos. relação com festividades regionais, com
confecções de fantasias, adereços ou ma-
Considera-se patrocínio a transferência de terial cenográfico;
dinheiro ou serviços e a utilização de bens • construção e manutenção de salas de
móveis ou imóveis do patrocinador, sem teatro ou centros culturais comunitários
transferência de domínio. O patrocínio pos- em municípios com menos de 100.000
sui finalidade comercial. Ou seja, aqui pode habitantes; e
haver publicidade do apoio com identifica- • ações de capacitação e treinamento
ção do patrocinador, dentro das normas de de pessoal.
aplicação de logomarca previstas no Manual
de Uso das Marcas do Pronac, disponível AUDIOVISUAL
no site do Ministério. Além disso, qualquer • produção de conteúdo audiovisual de
proposta aprovada pode se beneficiar de curta e média metragem, incluindo rá-
patrocínio, inclusive as que estiverem em dios e TVs educativas e culturais;
nome de pessoa jurídica com fins lucrativos. • difusão de acervo e conteúdo audiovi-
sual nos diversos meios e suportes;
Atenção: a doação e o patrocínio só po- • restauração e preservação de acer-
dem ser feitos a projetos ou pessoas não vos audiovisuais;
vinculadas ao investidor (vide art. 27 da • doação de acervos audiovisuais
Lei 8.313/1991). para cinematecas;
• ações de capacitação e treinamento
E para normatizar os artigos 18 e 26 da de pessoal;
Lei de Incentivo à Cultura, a Instrução • aquisição de equipamentos para manu-
Normativa 2/2019 traz, em seu Anexo IV, tenção de acervos audiovisuais públicos e
a lista de todos os segmentos culturais en- cinematecas; e
quadrados no art. 18, com 100% de isen- • construção e manutenção de salas de
ção fiscal. Dessa forma, todos os segmen- cinema que poderão funcionar também
tos que não estiverem na lista abaixo serão como centros culturais comunitários em
considerados como art. 26 da Lei, sendo municípios com menos de 100.000 (cem
beneficiados com 30% a 80% de isen- mil) habitantes.
ção fiscal.
14 WWW.CAPACITAR.VC

MÚSICA • ações de segurança para preservação


• música erudita; de patrimônio cultural ou de acervos;
• música instrumental; • ações educativo-culturais, inclusive
• canto coral; e seminários, oficinas e palestras, visando
• ações de capacitação e treinamento a preservação do patrimônio material,
de pessoal. imaterial ou de acervos de valor cultural;
• treinamento de pessoal ou aquisição
ARTES VISUAIS de equipamentos para manutenção de
• exposição de artes visuais que possua acervos, arquivos públicos e institui-
em sua concepção tratamento artístico e ções congêneres;
curatorial, em quaisquer suportes abran- • elaboração de projetos de arquitetura
gendo as seguintes categorias: pintura, e urbanismo; e
desenho, gravura, fotografia, escultura, • elaboração de projetos de restauro (ar-
objeto, grafite, instalação, performances, quitetura e complementares) destinados
vídeo-arte, artes digitais, arte eletrônica, à preservação de bens culturais mate-
design, arquitetura, moda, arte cibernéti- riais tombados pelos poderes públicos,
ca e artes gráficas, que poderão se orga- federal, estadual, municipal ou distrital.
nizar sob a forma de exposições, feiras,
festivais, mostras, circuitos artísticos; e MUSEUS E MEMÓRIA
• ações educativo-culturais, inclusive • doação ou aquisição de acervos para
seminários, oficinas e palestras, assim museus e instituições de preservação
como ações de capacitação e treinamento da memória;
de pessoal que visem a formação e o fo- • preservação, restauração, conservação,
mento em artes visuais. identificação, registro e promoção;
• documentação e digitalização de acer-
PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E vos; sistemas de informações;
IMATERIAL4 • ações de segurança para preservação
• doações ou aquisições de acervos cul- de acervos;
turais em geral para arquivos públicos e • planos anuais de atividades e elabora-
instituições culturais; ção de planos museológicos;
• preservação, restauração, conserva- • exposições realizadas em museus, ex-
ção, salvaguarda, identificação, registro, posições organizadas com acervos de
educação patrimonial e acervos do pa- museus e museografia;
trimônio cultural material e imaterial; • pesquisa, sistematização de informações;
• ações de documentação ou digita- • ação educativo-cultural, inclusive semi-
lização de acervo bibliográfico e ar- nários, congressos e palestras;
quivístico, pesquisa e sistematização • criação e implantação (projetos, cons-
de informação; trução, restauração e reforma);
• preservação, restauração, manuten- • ações de capacitação e treinamento de
ção, readequação ou revitalização de pessoal; e
equipamentos culturais ou edificações • aquisição de equipamentos para a pre-
destinadas a preservação de patrimô- servação e manutenção de acervos.
nio cultural;

4. Sobre patrimônio cultural material e imaterial, sugere-se a leitura do “Anexo I – Glossário, incisos XXIV e XXV” da IN 2/2019.
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 15

HUMANIDADES COMO ELABORAR


• livros ou obras de referência, impressos
ou eletrônicos, de valor artístico, literário UM PROJETO
ou humanístico;

A
• manutenção, preservação ou restaura-
ção de acervos bibliográficos e arquivís- elaboração diz respeito à parte
ticos compreendidos por livros ou obras conceitual e orçamentária, in-
de referência, impressos ou eletrônicos, de cluindo a distribuição do produto
valor artístico, literário ou humanístico; cultural que irá resultar do projeto e docu-
• eventos literários e ações educativo- mentos que deverão ser anexados.
-culturais voltados para a promoção do
livro e da criação literária, e para o incen- Atenção: toda informação contida no
tivo à leitura; projeto deve ser comprovada na prestação
• doação ou aquisição de acervos para bi- de contas. Ou seja, o que você prometeu
bliotecas públicas, museus, arquivos pú- deve cumprir e também comprovar.
blicos, cinematecas;
• ações de capacitação, treinamento de O cadastramento é feito no software Sa-
pessoal, oficinas e aquisição de equipa- lic. Deverá contar com um nome, resumo,
mentos, que tenham como finalidade a período de realização acompanhado de
manutenção de acervos de bibliotecas cronograma; objetivos, justificativa, medi-
públicas, museus, arquivos públicos e ci- das de acessibilidade e de democratização
nematecas; e de acesso, ação formativa cultural, currícu-
• construção de bibliotecas desde que es- lo do proponente e principais envolvidos,
teja prevista a implantação de espaço des- além de outras informações específicas e
tinado a apresentações de teatro, exibição documentos anexos que forem necessários.
de filmes e outras atividades culturais em
municípios com menos de 100.000 (cem Para cada tipo de projeto existe um rol
mil) habitantes. de documentos diferentes que deverão
ser apresentados. Por isso, antes de en-
DICA: As áreas de enquadramento de viar o seu projeto ao Ministério, reporte-
um projeto são de suma importância, pois -se ao Anexo III da Instrução e organize a
o percentual de dedução fiscal impacta sua documentação.
diretamente no interesse que o incentiva-
dor terá naquele projeto. Isso porque nos-
sa recomendação é que o incentivo seja IDENTIFICAÇÃO DA PROPOSTA
prospectado desde o início da concepção
do projeto. O sistema é autoexplicativo. Por isso
abordaremos apenas alguns itens que nor-
Por isso, antes mesmo de escrever a malmente geram dúvidas aos proponentes.
proposta, o proponente deve estar atento O campo “Data Fixa” diz respeito a datas
ao possível enquadramento do seu proje- fixas como por exemplo Natal, Carnaval,
to cultural. Páscoa, que fazem parte de um calendário
e que não podem ser alteradas. Esse tam-
16 WWW.CAPACITAR.VC

bém é o momento em que o proponente te faça a leitura dessa norma para que sirva
deve indicar qual agência bancária do Ban- de inspiração sobre quais medidas de aces-
co do Brasil ele deseja trabalhar. As contas sibilidade poderá adotar no seu projeto,
serão abertas pelo Ministério no momento podendo inclusive sugerir novas alternati-
oportuno. Também é necessário indicar vas ao Ministério do Turismo.
se a proposta é ou não de audiovisual. No
item “Plano Execução Imediata” é preciso Os custos dessas medidas devem estar
indicar qual o tipo do seu projeto, pois isso dentro do orçamento. Uma novidade da IN
irá determinar a tramitação dele. 2/2019 é que agora está previsto expressa-
mente na norma que o material de divul-
Atente-se também para o período de rea- gação dos produtos culturais gerados pelo
lização do projeto, que deve sempre iniciar projeto deverá conter informações sobre a
pelo menos 90 dias após o envio da pro- disponibilização das medidas de acessibili-
posta ao Ministério. dade adotadas para o produto (art. 18, §2º).

Clique sempre em SIM em “Prorrogação


automática” e caso o seu projeto trabalhe DEMOCRATIZAÇÃO DE ACESSO
com um bem tombado é necessário identi-
ficar a esfera, o número do ato de tomba- Também chamada pela nova norma de
mento e a data. ampliação de acesso, são medidas “pre-
sentes na proposta cultural que promovam
Resumo, objetivos e justificativa são ou ampliem a possibilidade de fruição dos
campos que devem ser preenchidos com bens, produtos e ações culturais, em espe-
atenção, considerando os “textos dicas” in- cial às camadas da população menos as-
seridos pelo Ministério no próprio softwa- sistidas ou excluídas do exercício de seus
re. Indicamos que o proponente primeiro direitos culturais por sua condição socioe-
escreva o seu projeto em um documen- conômica ou por quaisquer outras circuns-
to paralelo, fazendo o backup, e ao final tâncias” (item XI do Anexo I).
transfira as informações para o software,
evitando a perda das informações. Dentro desse item, além de observar a
correta distribuição do produto cultural
(art. 20), assunto que será tratado em bre-
ACESSIBILIDADE ve nesta cartilha, o proponente também
precisa adotar, em seu projeto, pelo me-
Na elaboração, o seu projeto deve prever nos uma medida de ampliação de acesso.
medidas de acessibilidade, “que busquem A norma traz diversas opções no art. 21,
oferecer à pessoa com deficiência, idosa ou mas o proponente poderá sugerir alguma
com mobilidade reduzida espaços, ativida- solução que não esteja lá prevista.
des e bens culturais acessíveis, favorecen-
do sua fruição de maneira autônoma, por
meio da adaptação de espaços, assistência PRODUTO E PLANO DE
pessoal, mediação ou utilização de tecno- DISTRIBUIÇÃO
logias assistivas” (item XIX do Anexo I).
Todo projeto cultural terá um produ-
A base legal é o Estatuto da Pessoa com to resultante. O produto pode ser uma
Deficiência 5 e sugerimos que o proponen- apresentação musical, a restauração de

5. Lei Federal nº 13.146, de 06 de julho de 2015.


CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 17

um bem tombado, uma exposição de ar- de um, eles devem dividir os produtos,
tes visuais, a construção de um Centro mantendo o limite total de 10%. A divul-
Cultural, entre outros. Enfim, o produto gação do projeto também não pode receber
cultural é o que está sendo gerado atra- mais do que 10%.
vés do seu projeto. E o produto pode ser
principal ou secundário. Isso porque o seu Para isso, é necessário ter conhecimento
projeto pode prever mais de um produto. do art. 20. Ele explica que é necessário um
Nesse caso, apenas um produto deverá ser plano de distribuição detalhado, para asse-
cadastrado como principal, sendo os de- gurar a ampliação do acesso aos produtos,
mais secundários. bens e serviços culturais.

O Glossário (Anexo I) da Instrução, no E esses limites preveem que:


item XXXIII, explica que produtos secun- π O mínimo de 20% deve ser distribuído
dários são “demais resultados do projeto gratuitamente com caráter social, educa-
cultural, abrangendo eventos, atividades ou tivo ou de formação artística, priorizando
bens culturais que dependem, derivam ou se cidadãos com comprovado envolvimento
vinculam ao produto principal do projeto”. em atividades voluntárias;
π Até 10% pode ser destinado gratuita-
Um exemplo de produtos principal e mente aos patrocinadores;
secundário seria o caso de um livro (pro- π Até 10% pode ser destinado de for-
duto principal) que vem acompanhado de ma gratuita para ações promocionais ou
um evento literário (produto secundário). de divulgação.
Ou ainda a produção de um CD (produ-
to principal) que contará com um show de A comprovação de envolvimento em
lançamento (produto secundário). Porém, atividades voluntárias se dará mediante
em termos financeiros, o produto principal cadastro individual e intransferível em pla-
sempre deverá ser o de custo mais signifi- taformas de voluntariado aderentes ao Pro-
cativo dentro do projeto. grama Pátria Voluntária, com carga horária
igual ou superior a 120 horas/ano.
Atenção, pois o produto principal será
determinante para fins de enquadramento Outra dúvida recorrente é se os produtos
do seu projeto (art. 18 ou art. 26 da Lei de culturais resultantes dos projetos podem
Incentivo à Cultura), conforme dita o art. ser vendidos. E a resposta é sim! Poderá
7º da IN 2/2019. haver cobrança em projetos aprovados pela
Lei de Incentivo à Cultura. No entanto, é
Depois de cadastrar o produto, é ne- necessário que o proponente, no momento
cessário informar no Salic como ele será do cadastramento do plano de distribuição
distribuído para patrocinadores, para a do projeto, informe quais os valores serão
divulgação e para os beneficiários, e tam- cobrados e qual a receita prevista, e respeite
bém se existe receita envolvida. Todas as limitações da norma.
as informações devem ser fornecidas no
ato do cadastramento, no campo Plano Quando houver venda, o valor será pre-
de Distribuição. viamente validado pelo Ministério. Nesse
caso, algumas regras devem ser observa-
Os patrocinadores podem receber até das, além das descritas anteriormente.
10% do produto resultante. Se houver mais π O mínimo de 10% da venda dos in-
18 WWW.CAPACITAR.VC

gressos não pode ultrapassar o valor do deve ser composto de, no mínimo, 50% de
Vale- Cultura; estudantes e professores da rede pública de
π Até 50% dos produtos poderão ser co- ensino. Outro detalhe é que esta ação deve
mercializados a critério do proponente, conter rubricas orçamentárias próprias,
respeitando o valor médio de R$225,00 podendo ser inclusive cadastrada como
(duzentos e vinte e cinco reais), exceto produto secundário.
para projetos com transmissão ao vivo em
TV aberta;
π A meia entrada deve ser oferecida à razão PROJETO ORÇAMENTÁRIO
de 50% (cinquenta por cento) do quantita-
tivo total dos ingressos comercializados; O orçamento do projeto deve ser apre-
π O valor total da bilheteria deve ser igual sentado no momento do cadastramento
ou inferior ao custo total do projeto; da proposta.
π A previsão de receita a ser arrecadada
deverá constar no plano de distribuição Conforme já mencionado, a Lei de Incen-
do projeto. tivo à Cultura dispensa licitação, mas quan-
do o proponente for pessoa jurídica de direi-
Por fim, uma novidade da IN 2/2019 é to público é necessário licitar (vide menção
que agora os projetos que contemplem o no art. 47, §1º, “I”). Apesar disso, existem
custeio de atividades permanentes e comer- alguns limitadores para a contratação de
cializarem produtos culturais, deverão pre- fornecedores, previstos no próximo item.
ver a aceitação do Vale-Cultura como meio
de pagamento (art. 20, § 1º). Desde 2017 existe a obrigatoriedade de
previsão no orçamento e contratação de
profissional da contabilidade com o res-
AÇÕES FORMATIVAS CULTURAIS pectivo registro no órgão de classe, poden-
do o proponente utilizar o profissional da
Além das medidas de acessibilidade e da sua empresa ou entidade. A obrigatorieda-
ação de ampliação de acesso, o proponente de também se estende a previsão, na plani-
também deverá executar uma ou mais ações lha orçamentária, de serviços advocatícios,
formativas culturais (antes chamadas de ações ficando a critério do proponente a utiliza-
educativas) dentro do seu projeto. Essa ação ção ou não desse item.
é necessária para todos os tipos de projetos.
Porém, existem algumas vedações ao or-
Aqui não é o número de ações que conta, çamento (art. 17), sendo proibido realizar os
mas sim o percentual do público atingido seguintes custos:
com uma ou mais ações. É necessário que - com elaboração de proposta cultural,
a ação atinja pelo menos 10% do público taxa de administração ou similar;
que for beneficiado, previsto no plano de - em benefício de agente público ou
distribuição cadastrado pelo proponente, agente político, integrante de quadro de
considerando um mínimo de 20 pessoas. pessoal de órgão ou entidade pública da
Caso o plano de distribuição preveja mais administração direta ou indireta, por
de 10 mil pessoas atingidas, a ação educa- quaisquer tipos de serviços, salvo nas hi-
tiva poderá se limitar a 1 mil pessoas. póteses previstas em leis específicas e na
Lei de Diretrizes Orçamentárias;
O público atingido pela ação educativa - com a elaboração de convites personali-
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 19

zados ou destinados à circulação restrita; cadastramento. Mas atenção, pois alguns li-
- com recepções, festas, coquetéis, serviços mitadores são calculados sobre o valor total
de bufê ou similares, excetuados os gastos do projeto, outros sobre o valor homologa-
com refeições dos profissionais ou com do para a execução e outros sobre o valor
ações formativas culturais, quando necessá- captado. A norma é muito sutil ao mencio-
rio à consecução dos objetivos da proposta; nar a base de cálculo dos percentuais, mas
- com compra de passagens em primeira estes sofrem enorme diferença dependendo
classe ou classe executiva, salvo em situ- sobre qual valor total são calculados.
ações excepcionais, devendo a necessida-
de ser comprovada pelo proponente, bem Os limites dos custos administrativos e
como para algumas autoridades autoriza- de divulgação serão calculados, pelo pró-
das pela norma6; prio sistema e no ato do cadastramento,
- com serviços de captação, nos casos de sobre o valor do projeto, que é a soma de
proposta cultural com patrocínio exclusi- pré-produção, produção e pós-produção,
vo de edital ou apresentada por instituição recolhimentos, e assessoria jurídica e con-
cultural criada pelo patrocinador; tábil (art. 6º).
- com taxas bancárias, multas, juros ou - Custos administrativos (todos os lista-
correção monetária, inclusive referen- dos no art. 10) – até 15%
te a pagamentos ou recolhimentos fora - Custos de divulgação (regra) – até 20%
dos prazos; - Custos de divulgação (exceção) – até
- com a aquisição de espaço para veicula- 30% para projetos de até R$300.000,00
ção de programas de rádio e TV, no caso - Remuneração para captação de recur-
de propostas na área de audiovisual, ex- sos (que só pode ser paga proporcional-
ceto quando se tratar de inserções publi- mente às parcelas já captadas) – até 10%,
citárias para promoção e divulgação do limitado ao teto de R$100.000,00
produto principal do projeto. - Direitos autorais – a norma solicita que
os valores sejam compatíveis com os pra-
A Instrução anterior (5/2017) fazia men- ticados no mercado cultural e limitados
ção expressa a proibição de custos que re- até 10% do valor homologado para exe-
sultassem em vantagem financeira indevi- cução. Sugere-se a leitura do art. 13.
da ou material para o incentivador. Apesar
da menção ter sido retirada pela Instrução Sobre os custos administrativos, atenção:
vigente, é importante destacar que este quando for necessário utilizar acima de
continua sendo um custo vedado7. 50% do valor dos custos de administração
em uma única rubrica, será necessária justi-
ficativa de economicidade (art. 10, § único).
LIMITES DA PLANILHA
ORÇAMENTÁRIA O proponente que prestar serviços ao
projeto poderá ser remunerado, desde que
Alguns custos do orçamento devem obe- o valor não ultrapasse 50% do valor homo-
decer a percentuais limites no momento do logado para a execução (art. 11). Mas aten-
6. O art. 27 do Decreto 71.733/1973 permite a compra de passagens de primeira classe para Presidente e Vice-Presidente da Repú-
blica e passagens da classe executiva para os Ministros de Estado, os ocupantes de cargos de Natureza Especial, os Comandantes do
Exército, da Marinha e da Aeronáutica e o Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Ressalva também para os artigos
3º-B e 10 do Decreto 5.992/2006 que faz menção à “servidor ou colaborador eventual que acompanhar servidor com deficiência em
deslocamento a serviço”.
7. A vantagem financeira é vedada pelo art. 23, §1º da Lei de Incentivo à Cultura e mencionado no art. 43, §7º da IN 2/2019. Lem-
brando que é permitido ao patrocinador o recebimento até 10% do produto cultural resultante do projeto.
20 WWW.CAPACITAR.VC

ção: todo pagamento do projeto por servi- Valores superiores aos acima citados
ços realizados por cônjuge, companheiro, vão depender de uma aprovação da CNIC
parentes em linha reta ou colateral até o – Comissão Nacional de Cultura, consi-
segundo grau, parentes com vínculo de derando as justificativas do proponente e
afinidade com o proponente e em benefí- área técnica.
cio de empresa coligada ou que tenha sócio
em comum serão computados no limite de Por fim, um limite orçamentário muito
50% que o proponente pode receber. Essa importante é que o custo per capita do seu
regra só não aplica a grupos artísticos fa- projeto, ou seja, o valor de pessoa benefi-
miliares que atuem na execução do projeto ciada, não poderá exceder a R$250,00 (vide
e corpos estáveis. art. 4º, inciso “II”).

Ainda sobre o assunto, apesar do art. 11 O valor por pessoa beneficiada é o quo-
fazer menção ao proponente, o §3º explica ciente entre o somatório do Custo do Proje-
que um mesmo fornecedor também não to solicitado pelo proponente e o quantita-
pode receber por mais de 50% do valor tivo de beneficiários do produto principal.
captado. A exceção se dá no caso de pro- Os beneficiários de produtos secundários
jeto de execução de obras e restauros (§3º poderão ser computados, desde que não
do art. 11). sejam os mesmos beneficiários do produto
principal, não se aplicando para os projetos
Muita atenção: Salvo no caso da captação de ampla difusão em sítio da internet e TV
de recursos, onde o art. 8, §1º deixa claro aberta (item LI do Glossário).
que os valores só podem ser pagos sobre
a verba captada, nos demais artigos resta Mas esse limite de custo per capita não
dúvida sobre o fato do proponente poder se aplica aos projetos que visem à proteção
gastar o percentual sob o valor homologa- do patrimônio cultural material ou ima-
do para execução ou valor captado. Uma terial, museus e memória, planos anuais e
visão mais precavida, e baseada no art. 50, plurianuais, restauração de obras de arte,
§2º seria a do proponente calcular todos os inclusão da pessoa com deficiência, óperas,
seus limites sobre o valor que foi captado. desfiles festivos, educativos em geral, prê-
mios e pesquisas, manutenção de corpos
Além disso, outros valores devem ser ob- estáveis, produção de obras audiovisuais,
servados para o pagamento de cachês artís- realizados em espaços com até 150 (cento e
ticos, por apresentação (art. 12): cinquenta) lugares e construção ou manu-
- para artista ou modelo solo – até tenção de salas de cinema e teatro em mu-
R$45.000,00 nicípios com menos de 100.000 (cem mil)
- para grupos artísticos, exceto orques- habitantes. Tudo isso está no art. 4º, §4º.
tras – até R$90.000,00
- para grupos de modelos de desfile de
moda – até R$90.000,00 DIVULGAÇÃO DO PROJETO
- para orquestras – até R$2.250,00
por músico O projeto poderá prever custos de divul-
- para orquestras – até R$45.000,00 para gação limitados a 20% ou 30% sobre o va-
o maestro. lor do projeto (art. 9º), conforme mencio-
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 21

nado no tópico anterior. Não é necessário rão ter a movimentação bancária autorizada
que seja apresentado um plano de divulga- antes de atingidos os percentuais mínimos
ção. No entanto, isso não retira a impor- (art. 30, §3º, II); b) possibilidade do aumento
tância da divulgação de um projeto, e que do prazo de captação (art. 33, §1º, inciso III);
ela seja feita de forma correta, respeitando c) pedidos de ajuste orçamentário ou de re-
a utilização das logomarcas, e inserindo as dução antes da captação de no mínimo 20%
divulgações na prestação de contas. (art. 37, §4º e art. 39, caput).

O material de divulgação produzido pre-


cisará seguir o Manual de Uso das Marcas CADASTRAMENTO DO PROJETO
do Pronac (disponível no link http://leidein-
centivoacultura.cultura.gov.br/). Além disso, O proponente deve estar atento aos pra-
é necessário que, durante a execução do zos de cadastramento. O sistema Salic re-
projeto, o proponente anexe as marcas no cebe novas propostas entre 01 de fevereiro
Salic, para que sejam deferidas pelo Minis- e 30 de novembro. Para não correr riscos,
tério antes de serem divulgadas. Esse siste- recomendamos que os projetos sejam ca-
ma é muito eficiente, pois diminuiu dras- dastrados com alguns dias de antecedência.
ticamente as chances do proponente ter
problemas com a inclusão de logomarcas Já o prazo para cadastramento de planos
na prestação de contas. anuais ou plurianuais de atividades é sem-
pre dia 30 de setembro do ano que antece-
de a sua execução.
CONTRATO DE PATROCÍNIO
Além disso, o início da execução do seu
O contrato de patrocínio é um documen- projeto deve ocorrer somente após 90 dias
to que será firmado entre o proponente e o da apresentação da proposta, salvo ex-
patrocinador, formalizando o patrocínio a ceções (art. 2º, §3º). Como ainda existe a
ser realizado em determinado projeto. Esse possibilidade de que haja diligências, suge-
contrato deverá mencionar expressamente rimos que o cadastramento seja realizado
as partes, o nome e número do projeto (ou com maior antecedência possível.
proposta). Também deve trazer o valor do
patrocínio, a data de validade e o cronogra- Nesse momento do cadastro a conta
ma de desembolso (item V, Anexo I). bancária do projeto não será aberta. Você
apenas irá indicar a agência bancária de sua
É extremamente vantajoso possuir o preferência – obrigatoriamente do Banco
contrato de patrocínio pelo fato do proje- do Brasil. O Ministério receberá essa infor-
to ser encaminhado para a análise técnica mação e faz a abertura da conta bancária
sem necessidade de captação prévia (art. no momento oportuno.
26, §1º), assunto que será abordado nos
próximos tópicos. Após o cadastramento, deve-se clicar no
botão “Enviar Proposta ao MinC”. Agora,
Existe também outros casos onde há be- recomendamos que o software Salic seja
nefícios em se firmar um contrato de patro- acessado todos os dias para averiguar pos-
cínio: a) projetos já homologados que pode- síveis diligências.
22 WWW.CAPACITAR.VC

AVALIAÇÃO DA dramento (art. 18 ou 26) e se contém medi-


das de acessibilidade, ampliação de acesso
PROPOSTA e ações formativas culturais.

A
Após essa avaliação, ela recebe um nú-
pós o envio da proposta, o propo- mero de Pronac (Programa Nacional de
nente deve acessar o software para Incentivo a Cultura), que irá identificá-la
ter conhecimento do andamento daqui em diante, e passa a ser chamada de
do seu projeto, por isso recomendamos projeto cultural (e não mais proposta).
acompanhamento diário no Sistema Salic.
Porém, o Ministério poderá enviar e-mail Nessa fase a manifestação da CNIC
com alguns comunicados, como a aprova- (Comissão Nacional de Incentivo à Cul-
ção ou desaprovação de aplicação de mar- tura) não é obrigatória, sendo facultada a
cas, por exemplo. Por isso é necessário que Comissão manifestar-se no prazo de até
o e-mail informado seja acessado regular- 5 dias da disponibilização dessa análise
mente pelo responsável do projeto. no Salic.

O Ministério também poderá fazer soli- Caso o projeto seja indeferido e o propo-
citações dentro do projeto, que são chama- nente não concorde, ele deve recorrer desta
das de diligências. As diligências devem ser decisão, no prazo de até 10 dias, dentro do
respondidas sempre dentro dos prazos, do próprio sistema.
contrário o projeto é arquivado (art. 69, §4º).
A decisão da aprovação preliminar será
Quando recebido na Secretaria Especial de publicada no Diário Oficial da União, per-
Cultura, o projeto passa por algumas análises. mitindo, e em alguns casos exigindo que,
antes mesmo da aprovação definitiva, o
proponente faça a captação de pelo menos
ANÁLISE DE ADMISSIBILIDADE 10% do valor do projeto.

Primeiramente, ele é apresentado com a


denominação “proposta cultural”. Essa pro-
posta recebe um número e passa por uma
primeira avaliação, que é chamada de “ad-
missibilidade” e feita por área técnica dentro
da própria Secretaria (ver art. 23 e seguintes).

Aqui, os técnicos vão averiguar, em geral,


se a proposta está dentro das regras, tem
caráter cultural, é similar a outra proposta
do mesmo proponente, qual o seu enqua-
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 23

CAPTAÇÃO DE 10% π apresentados por instituições criadas


pelo patrocinador (o que é autorizado
Via de regra, todos os projetos precisa- pelo §2º do art. 27 da Lei de Incentivo
rão realizar a captação de pelo menos 10% à Cultura).
do valor para serem remetidos para a se-
gunda avaliação, feita por um parecerista.
Após essa captação mínima, o proponente ANÁLISE TÉCNICA
poderá adequar o seu projeto, no prazo de
30 dias. Não poderão ser alterados objeto e Posteriormente, o projeto é enviado a
enquadramento (art. 26). um parecerista técnico, que fará uma se-
gunda avaliação (também chamado na
Esse pedido de adequação será avaliado norma de ‘unidade técnica de análise’).
pela Secretaria, que fará a avaliação entre Pareceristas são espécie de “juízes” que
30 e 60 dias, dependendo da matéria do estão distribuídos em todo o território
projeto. Caso não seja necessário pedir ade- nacional, os quais, em tese, devem ser es-
quação, o projeto segue o seu fluxo normal pecialistas no assunto relativo ao projeto
(art. 26, §4º). cultural e que irão adentrar no mérito do
projeto e emitir um parecer, decidindo
Mas nem todos precisam captar os 10%. pela aprovação (com ou sem cortes) ou re-
São exceções (art. 26, §1º) os projetos: provação do projeto.
π de proteção do patrimônio material ou
imaterial e de acervos, Essa avaliação deve ser feita em 30 dias,
π museológicos, variando conforme a complexidade do
π planos anuais e plurianuais de ativida- projeto, o que pode prorrogar a análise em
des, mais 120 dias. Para projetos que envolvem
π de manutenção de corpos estáveis, tombamento, será obrigatória a manifesta-
π de equipamentos culturais, ção do órgão responsável pelo tombamen-
π de eventos de ação continuada com to ou registro, o que poderá aumentar o
captação nos últimos 3 (três) anos, período de avaliação (vide art. 27).
π aprovados em editais públicos ou pri-
vados,
π que possuam contrato de patrocínio ou HOMOLOGAÇÃO DA CNIC
termo de compromisso de patrocínio, que
garantam o alcance de pelo menos 10%, O terceiro e último filtro (art. 28) ocor-
re quando o projeto é pautado para reunião
da Comissão Nacional de Cultura
(CNIC). A CNIC é compos-
ta por representantes
24 WWW.CAPACITAR.VC

dos grupos artísticos, empresariado, socie- centivadores pessoas físicas, basta a ciência
dade civil e Estado e se reúne mensalmente. deles (art. 28, §2º).

Cabe a Comissão, além de assessorar a Mas caso o projeto não homologado que
estrutura do Ministério do Turismo, atra- tenha captado recursos seja um projeto de
vés da Secretaria Especial de Cultura, ho- patrimônio cultural, museus e memória, o
mologar ou não o parecer técnico emitido. proponente poderá solicitar a transferência
Após a reunião, a decisão é disponibilizada da verba para outros projetos próprios ou
no software Salic. de outros proponentes, sendo necessário
agora a anuência do proponente do projeto
que está transferindo e seus incentivadores,
PARECER TÉCNICO além da anuência do IPHAN ou IBRAM
(vide §4º do art. 28).
Depois da avaliação da CNIC, o parecer
finalmente é disponibilizado no sistema Uma situação nova trazida pela IN 2/2019
Salic. E a decisão emitida poderá: é o caso do proponente realizar captação
π Aprovar o projeto, sem qualquer ressal- maior do que o valor que foi homologado
va e/ou corte no orçamento; para a execução do projeto. Aqui, é facul-
π Aprovar o projeto, com ressalvas e/ou tado ao proponente a transferência desse
cortes no orçamento; valor excedente para um único outro pro-
π Reprovar (indeferir), ou seja, não ho- jeto homologado para captação do mesmo
mologar o projeto. proponente, sendo novamente necessária a
anuência dos incentivadores pessoa jurídi-
Nesse momento é importante fazer uma ca e ciência das pessoas físicas (art. 28, §3º).
leitura criteriosa do parecer e também do
orçamento, para verificar se a decisão foi Enfim, se o proponente entende que a
corretamente embasada, possuiu o enqua- decisão de não homologação deve ser ques-
dramento correto e se é necessário ou não tionada, e que o seu projeto deve ser apro-
questionar a decisão, caso ela seja desfavo- vado, poderá recorrer da decisão.
rável ao proponente.

Caso o seu projeto não seja aprovado RECURSO


nesta etapa e você já tenha captado re-
cursos, é permitido que os recursos sejam Recorrer ou pedir a reconsideração da
transferidos para um único outro projeto decisão nada mais é do que pedir aquilo
(do mesmo proponente). É necessário for- que não lhe foi atendido, explicando os
malizar este pedido e trazer a anuência dos motivos e a importância do seu pedido.
incentivadores (patrocinadores e doadores)
que forem pessoa jurídica. Se houverem in- As possibilidades de recurso estão pre-
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 25

vistas no art. 24, §2º e no art. 28, §1º da QUANDO A VERBA


Instrução 2/2019.
PODE SER CAPTADA
No entanto, o art. 67 deixa claro que

A
das decisões administrativas cabe recurso,
e que devem ser aplicadas as disposições verba pode ser captada após a pu-
da Lei do Processo Administrativo Fede- blicação da aprovação do projeto
ral (Lei nº 9.784, de 29.01.1999). Essa lei no Diário Oficial da União. Ago-
explica, em seu art. 59, que o prazo para ra, como já explicado nos itens anteriores,
apresentar o recurso será de 10 dias corri- teremos duas publicações de aprovações, a
dos contados da ciência da decisão ou do inicial e a definitiva.
ato, excluindo-se da contagem o dia do
começo e incluindo-se o do vencimento. A página do Diário Oficial da União é
o documento mais eficaz para comprovar
Como já dito nesta cartilha, a comunicação a veracidade da aprovação do seu projeto,
oficial do Ministério do Turismo com o pro- uma vez que, como o nome já diz, o Di-
ponente é através do software Salic. Então ário é Oficial! O link do Diário é http://
os prazos vão iniciar a partir da inclusão das portal.in.gov.br/
informações no Salic. Por este motivo reafir-
mamos que os proponentes deverão consul- Entenda o Diário Oficial. Ele é o do-
tar o sistema com atenção e frequência. cumento que torna público os atos dos
três poderes (executivo, legislativo e judi-
É importante que o proponente esteja ciário) e que publica os atos de todos os
muito bem embasado nas suas argumenta- Ministérios. No Sumário, que fica na pri-
ções. Esse não é o momento de expressar meira página, vai constar “Ministério do
inconformismo, mas razões reais pelas quais Turismo”. Vá até lá e procure a publica-
o seu projeto deve ser aprovado. Via de re- ção da “Secretaria Especial da Cultura”, e
gra, o recurso será enviado pelo Salic. Na “Secretaria de Fomento e Incentivo à Cul-
impossibilidade, entre em contato com a Se- tura”. Haverá uma portaria com a finali-
cretaria para verificar qual a forma de envio. dade de aprovar projetos, que diariamente
são publicados.
Por fim, caso o projeto não seja aprova-
do e o proponente não apresente recurso, e Na publicação, o proponente deve ob-
tenha ocorrido captação, se não for o caso servar se as seguintes informações estão
de transferências de recursos financeiros corretas: o enquadramento correto do seu
(conforme explicado no tópico anterior), projeto (art. 18 ou 26), o valor aprovado, o
estes serão recolhidos ao Fundo Nacional nome do projeto, o CNPJ ou CPF do pro-
de Cultura (FNC), dispensada a anuência ponente e outras informações que cons-
do proponente (art. 28, §5º). tam na publicação.
26 WWW.CAPACITAR.VC

A publicação também informa qual o QUEM PODE SER UM


prazo de captação do projeto, que nunca
vai ultrapassar o último dia do exercício INCENTIVADOR?
fiscal daquele ano. Por exemplo: se o seu

O
projeto foi aprovado em julho de 2019,
ainda que ele finalize no ano subsequen- primeiro passo para a captação
te, no caso, em 2020, no Diário Oficial irá é verificar quem pode ser um
constar que o prazo de captação é até o dia incentivador para o seu projeto.
31 de dezembro de 2019. Atualmente, ao Atualmente podem apoiar projetos pesso-
clicar no botão “prorrogação automática” as físicas e jurídicas contribuintes do im-
disponível no Salic no ato do cadastramen- posto de renda (IR), atendidos os requisi-
to da proposta, o Ministério fará a primeira tos abaixo.
prorrogação de forma automática, consi- π PESSOA FÍSICAS: Somente as pes-
derando o período de execução proposto soas que façam a opção pela declaração
pelo proponente. COMPLETA do IR. Valor da dedução:
até 6% do IR devido.
O Salic está em constante aprimoramen- π PESSOAS JURÍDICAS: Somente
to e a função de prorrogação automática aqueles que fazem a opção de pagamento
é algo relativamente novo. Por isso reco- do seu IR com base no regime de tribu-
mendamos que o proponente acompanhe tação do LUCRO REAL. Valor da dedu-
os prazos de execução e captação do seu ção: até 4% do IR devido.
projeto com frequência, realizando a soli-
citação de prorrogação pelo Salic (quando Atenção: estamos falando de imposto de
esta não for realizada pelo Ministério auto- renda devido, e não imposto de renda a pa-
maticamente), em até 30 dias antes do fim gar. Ou seja, existe possibilidade de aporte
do prazo (vide artigos 33 a 35). mesmo para contribuintes que tenham im-
posto de renda a restituir. O valor será so-
No momento das prospecções de incen- mado na restituição e virá reajustado pela
tivo, o Diário Oficial é documento indis- taxa Selic.
pensável, e pode inclusive fazer parte da
apresentação de vendas do seu projeto. Nesse caso, empresas optantes pelo
Simples Nacional e pelo regime de tri-
DICA: leve consigo sempre todas as pu- butação de lucro presumido não podem
blicações que ocorreram no seu projeto, in- ser incentivadores.
cluindo publicações da aprovação prelimi-
nar, definitiva, prorrogação de prazos de E quem está obrigada ao regime de tri-
captação, complementação, entre outras.
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 27

butação do lucro real? Essa definição é tícia, mercadológica, gestão de crédito,


dada através do art. 14 da Lei n. 9.718, de seleção e riscos, administração de con-
27 de novembro de 1998. Conforme essa tas a pagar e a receber, compras de di-
lei, estão obrigadas à apuração do lucro reitos creditórios resultantes de vendas
real as pessoas jurídicas: mercantis a prazo ou de prestação de
• cuja receita total no ano-calendário serviços (factoring).
anterior seja superior ao limite de R$78 • que explorem as atividades de securi-
milhões de reais, ou proporcional ao tização de créditos imobiliários, finan-
número de meses do período, quando ceiros e do agronegócio.
inferior a 12 meses;
• cujas atividades sejam de bancos co- O lucro real também pode ser uma op-
merciais, bancos de investimentos, ção da pessoa jurídica, simplesmente por
bancos de desenvolvimento, caixas se apresentar em uma forma de tributa-
econômicas, sociedades de crédito, fi- ção mais vantajosa para si.
nanciamento e investimento, socieda-
des de crédito imobiliário, sociedades O portal da Lei de Incentivo à Cul-
corretoras de títulos, valores mobiliá- tura, no link http://sistemas.cultura.gov.br/
rios e câmbio, distribuidoras de títulos comparar/salicnet/salicnet.php também traz
e valores mobiliários, empresas de ar- as informações de todos os investidores
rendamento mercantil, cooperativas de desde o surgimento da Lei.
crédito, empresas de seguros privados
e de capitalização e entidades de previ-
dência privada aberta;
• que tiverem lucros, rendimentos ou
ganhos de capital oriundos do exterior;
• que, autorizadas pela legislação tri-
butária, usufruam de benefícios fis-
cais relativos à isenção ou redução
do imposto;
• que, no decorrer do ano-calendário,
tenham efetuado pagamento mensal
pelo regime de estimativa, na forma
do art. 2º da Lei nº 9.430, de 1996;
• que explorem as atividades de
prestação cumulativa e contínua
de serviços de assessoria credi-
28 WWW.CAPACITAR.VC

VEDAÇÕES DOS INCENTIVADORES

A doação ou o patrocínio não pode ser realizada em favor de


uma pessoa ou instituição (no caso, proponente), vinculada ao
agente. Essa previsão está no art. 27 da Lei 8.313/91. Serão con-
siderados vinculados ao patrocinador ou doador:
π a pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja titu-
lar, administrador, gerente, acionista ou sócio, na data da ope-
ração, ou nos doze meses anteriores;
π o cônjuge, os parentes até o terceiro grau, inclusive os afins,
e os dependentes do doador ou patrocinador ou dos titulares,
administradores, acionistas ou sócios de pessoa jurídica vincu-
lada ao doador ou patrocinador, nos termos do item anterior;
π outra pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador
seja sócio.

Obs.: Não se consideram vinculadas as instituições culturais


sem fins lucrativos, criadas pelo doador ou patrocinador, desde
que devidamente constituídas e em funcionamento.

Outra vedação é das empresas que produzem produtos fumíge-


nos. Ainda que optantes pelo lucro real, não poderão ser patroci-
nadoras, mas tão somente doadoras (vide art. 30, §4º).
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 29

DICAS DE CAPTAÇÃO cursos em projetos através da Lei de In-


centivo à Cultura. Verifique que tipo de
DE RECURSOS projeto costuma patrocinar, em que re-
gião do país ele investe e qual seu tipo de
investimento social privado. Além disso,
É permitido que o Proponente contrate verifique se o negócio da empresa tem re-
profissional para captar recursos para o seu lação ou não com o seu projeto, buscando
projeto. Esse serviço poderá ser remunerado sempre incentivadores que tenham iden-
em até 10% sobre o valor captado, indepen- tificação com o que você tem a oferecer.
dente da localidade geográfica que o proje- Pesquise o site da empresa, relatórios de
to será executado. O valor, entretanto, não sustentabilidade, editais, enfim, conheça
poderá ultrapassar o teto de R$100.000,00 quem você busca conquistar.
(vide art. 8º). Os valores só podem ser pagos π Faça uma boa apresentação de ven-
proporcionalmente as parcelas já captadas. da: prepare um material a altura do seu
projeto. Apresentação curta, com clareza
O próprio Proponente poderá ser o cap- de informações e uma boa escrita são pri-
tador de recursos, podendo inclusive ser re- mordiais. Sugerimos que sejam trazidas
munerado por isso, o que lhe é autorizado informações básicas como número do
pelo art. 11. Porém, é necessário que o capta- Pronac, diários oficiais de aprovação e
dor esteja regular para exercer essa atividade prorrogação do projeto, objetivos, visibi-
(converse a respeito com um profissional da lidade que será dada para o patrocinador,
contabilidade). Essa previsão está no Anexo resultados a serem alcançados, etc. Lem-
VI, Trilhas de Controle, da Instrução. bre-se: “ninguém compra uma roupa que
achou feia na vitrine”.
Atenção apenas para a previsão do art. π Prepare-se para as reuniões: quando
17, inciso V, que veda a realização de des- apresentar o seu projeto, esteja confiante e
pesas com serviços de captação nos casos tenha conhecimento amplo de cada detalhe
de proposta cultural com patrocínio exclu- do projeto. Se for necessário, ensaie antes
sivo de edital ou apresentada por institui- do encontro. Um bom vendedor é aquele
ção cultural criada pelo patrocinador (art. que conhece o produto que está vendendo.
27, § 2º, da Lei nº 8.313). π Possua o mínimo de conhecimento
contábil: entenda sobre o funcionamento
Porém, ainda que se contrate um profis- dos aportes ou contrate profissional apto
sional habilitado para esse serviço, às vezes para tal. Conhecimento traz segurança ao
o proponente acaba tendo que atuar como investidor e ao proponente. Dê informa-
captador. Por isso, é importante munir-se ções seguras como por exemplo, o fato de
do máximo de informações sobre captação que o aporte tem que ser feito dentro do
de recursos, para obter êxito na empreitada. exercício fiscal, tanto para contribuinte
pessoa física ou jurídica. Ou seja, o aporte
Depois de avaliar quem pode ser um in- do Imposto de Renda não pode ser rea-
centivador para o seu projeto, leia estas di- lizado no momento da declaração. Além
cas de captação de recursos. disso, o 6% da pessoa física concorre com
π Conhecer o seu incentivador em outros mecanismos de incentivo, como o
potencial: especialmente no caso de in- Fundo da Infância e Adolescência, Fundo
vestidor pessoa jurídica. Pesquise sobre a do Idoso, Lei do Audiovisual e Lei de In-
empresa, entendendo se ela já aportou re- centivo ao Esporte. A título de exemplo,
30 WWW.CAPACITAR.VC

se o contribuinte pessoa física já destinou o que deve ser conferido pelo proponente
5% para o Fundo do Idoso, ele só pode- dentro do Salic. Mesmo assim, recomenda-
rá, naquele exercício, destinar 1% para mos que o proponente tenha em sua posse
a Cultura. Já para o contribuinte pessoa uma via do recibo de mecenato.
jurídica aplica-se outra regra. O limite de
4% de pessoas jurídicas concorre apenas O recibo é o documento que será apresen-
com a Lei do Audiovisual, ou seja, mes- tado ao investidor, para que a contabilidade
mo que a empresa tenha doado 1% para o utilize na comprovação da dedução fiscal.
a Lei de Incentivo ao Esporte, isso não a De fato, a informação enviada pelo investi-
impedirá de aportar os 4% para a Cultura. dor à Receita Federal não exige o recibo em
Entenda esse processo para, se necessá- si. Porém, trata-se de uma prática de mer-
rio, explicar ao investidor, ou leve consigo cado há anos consolidada e alguns inves-
profissional ou contador apto a responder tidores utilizam o documento para fins de
a esses questionamentos. apresentação à auditoria. Por isso, converse
π Seja inovador: lembre-se que o seu com o investidor a fim de apresentar a do-
produto não precisa necessariamente ser cumentação que lhe seja necessária.
algo novo. A inovação pode estar na for-
ma de fazer. Ideias inovadoras podem Depois da emissão do recibo, esse é o mo-
chamar a atenção do incentivador em po- mento em que a verba captada pode ser de-
tencial. Exalte os seus diferenciais! positada na conta bancária do projeto, o que
π Demonstre os resultados que serão será feito pelo próprio investidor. A verba
alcançados: pode ser através de núme- deve ser depositada em uma conta bancária
ros ou metas do próprio investidor. Se for que consta no Salic, chamada de conta ban-
o caso, demonstre que o seu projeto terá cária bloqueada. A norma atual faz menção
um alcance significativo para a comuni- a conta vinculada, porém, até o presente
dade onde a sua empresa está inserida. momento, ela ainda não foi posta em ope-
π Agradeça mesmo que receba um não: ração, e as contas bloqueada e movimento
muitos proponentes, quando recebem um ainda são as utilizadas.
não, ficam indignados e sequer agrade-
cem. É importante lembrar que ninguém Os recursos deverão ser depositados en-
tem a obrigação de incentivar um projeto. tão na conta bloqueada (também chamada
Seja gentil e agradeça. Quem sabe amanhã conta captação) por meio de depósito iden-
essa porta pode se abrir para você? tificado por Transferência Eletrônica Dis-
ponível –TED, ou Documento de Opera-
Além disso, você pode acessar o link da As- ção de Crédito –DOC. Em todos os casos
sociação Brasileira de Captadores de Recur- é necessário constar o CPF ou do CNPJ do
sos (captadores.org.br) e se inteirar sobre o tema. depositante e o tipo de depósito, qual seja,
doação ou patrocínio (§1º, art. 30).

APORTE E RECIBO DE MECENATO Por fim, vale lembrar que patrocínios que
forem realizados por empresas de produtos
O próximo passo para a captação é o pre- fumígenos resultarão em comunicação do
enchimento do recibo de mecenato. Atual- fato à Receita Federal do Brasil para cance-
mente não é mais necessário que o recibo lamento do benefício fiscal eventualmente
seja enviado ao Ministério, pois a informa- usufruído pelo incentivador, ressalvada a
ção do aporte já ocorre automaticamente, possibilidade de doações (art. 30, §4º).
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 31

EXECUÇÃO DO Então atenção! A partir do momento que


você movimenta a conta bancária do pro-
PROJETO jeto, se compromete em realizar o objeto
proposto e aprovado. Aqui, deve se ter o
entendimento de que o Ministério deverá
CAPTAÇÃO MÍNIMA considerar a captação parcial dos recursos
e a proporcionalidade entre o que foi cap-
Para movimentar os recursos e iniciar o tado e executado (art. 50, §2º).
seu projeto é necessário que haja captação
de no mínimo 20% do custo do projeto A seguir, elencamos algumas dicas que
homologado, podendo-se computar para vão auxiliar na execução do seu projeto.
o alcance desse índice o valor de aplicação
financeira e os registros de doação ou pa-
trocínio por meio de bens ou serviços, eco- MOVIMENTAÇÃO DE RECURSOS
nomicamente mensuráveis, devidamente
comprovados (art. 30). Importante lembrar Uma vez que o percentual mínimo dos re-
que na maioria dos casos, para que o pro- cursos esteja na conta de livre movimento, o
jeto fosse avaliado, já houve a captação de proponente poderá iniciar a movimentação
10%, restando apenas o percentual com- financeira do projeto, por meio de cartão
plementar para que os 20% seja atingido. magnético ou gerenciador financeiro, con-
forme a opção que estiver disponível (art. 29).
Já nos casos de plano anual ou plurianual
de atividades, o percentual que deverá ser Essa informação já foi trazida no item
atingido será de 1/12, 1/24, 1/36 ou 1/48 “Limites da Planilha Orçamentária” des-
do orçamento global, a depender do prazo ta cartilha, mas queremos reforçar. Muita
de execução do plano. atenção: Salvo no caso da captação de re-
cursos, onde o art. 8, §1º deixa claro que os
Porém, existem alguns casos onde a mo- valores só podem ser pagos sobre a verba
vimentação dos recursos pode ser autoriza- captada, nos demais artigos resta dúvida
da antes de serem atingidos os limites aci- sobre o fato do proponente poder gastar
ma descritos (art. 30, §3º). São os casos de: o percentual sob o valor homologado para
π medidas urgentes relativas à restaura- execução ou valor captado. Uma visão mais
ção de bem imóvel visando estancar pre- precavida, e baseada no art. 50, §2º seria a
juízos irreparáveis ou de difícil reparação do proponente calcular todos os seus limi-
ao bem ou para preservar a segurança tes sobre o valor que foi captado.
das pessoas, poderão ser adotadas desde
que os recursos captados sejam suficien-
tes para sustar os motivos da urgência e READEQUAÇÃO NO PROJETO
deverão ser robustamente justificadas,
documentadas e enviadas para convali- O primeiro momento em que o propo-
dação da Secretaria competente; nente poderá realizar alguma alteração no
π projetos contemplados em seleções projeto é após a captação mínima de 10%,
públicas ou respaldados por contrato de não sendo possível, no entanto, alterar ob-
patrocínio, que garantam o percentual jeto e enquadramento (art. 26).
mínimo estipulado.
32 WWW.CAPACITAR.VC

Já na fase de execução, ou seja, após a li- de readequação já estão sendo feitos dentro
beração da conta para a movimentação de do sistema. Mesmo assim, recomendamos
recursos, o proponente poderá solicitar alte- que antes de solicitar qualquer alteração,
rações no projeto, dentro do Salic. O pedido o proponente faça a leitura da Instrução
deve ocorrer de forma justificada e no míni- Normativa vigente.
mo 30 (trinta) dias antes do início da execu-
ção da meta ou ação a ser alterada (art. 36).
REMANEJAMENTOS
Pedidos de alteração de nome precisam ORÇAMENTÁRIOS
de anuência do autor da obra correspon-
dente, se for o caso. Para alteração de local, Serão permitidos remanejamentos de
vide o descrito no §2º do art. 36. itens do orçamento, no limite de até 50%, e
os ajustes de valores não poderão implicar
Para alteração de proponente, é necessário, aumento do valor aprovado para grupos de
além de justificativa, obter a anuência formal despesas que possuem limites percentuais
do proponente substituto (ler o art. 41). máximos, como é o caso, por exemplo, dos
custos vinculados ou de captação de recur-
O Salic tem sido constantemente atuali- sos (art. 37). Mas atenção: Apesar da nor-
zado e hoje praticamente todos os pedidos ma não mencionar, também não é possível
aumentar outros grupos de despesa, como
é o caso da produção do projeto (chamado
de Grupo A pelo Salic).

Para remanejamentos maiores do que


50% do valor do item, ou para solicitação
de novos itens (desde que estes itens não te-
nham sido retirados na análise do projeto),
o proponente deverá apresentar solicitação
justificada para o Ministério, através do
Salic, ainda que esse remanejamento não
altere o custo total do projeto.

Os pedidos de ajuste orçamentário só po-


dem ser feitos depois que haja a captação
de 20% do valor aprovado (homologado)
do projeto, salvo para projetos contempla-
dos em seleções públicas ou privadas res-
paldados por contrato de patrocínio.
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 33

Em resumo, antes de fazer um remaneja- de redução, detalhando os itens que serão


mento, faça a leitura do art. 37 da Instrução retirados ou reduzidos e seus valores e re-
Normativa, tenha uma necessidade real e dimensionando o escopo do projeto.
uma justificativa bem fundamentada, para
caso haja algum questionamento no mo-
mento da prestação de contas. Lembran- PEDIDOS DE PRORROGAÇÃO –
do que os valores que foram utilizados em CAPTAÇÃO E EXECUÇÃO
desconformidade estarão sujeitos à restitui-
ção ao Fundo Nacional de Cultura. O prazo de captação de um projeto ini-
cia no dia da publicação da portaria que
autoriza a captação e finda no último dia
COMPLEMENTAÇÃO E REDUÇÃO do exercício fiscal/ano desta publicação. O
DO VALOR DO PROJETO prazo máximo de captação de um projeto,
incluindo as prorrogações, é de 36 meses,
É possível complementar o valor autori- salvo exceções previstas no art. 33 e seus
zado para o seu projeto (art. 38). Para isso, parágrafos.
é necessário fazer um requerimento ao Mi-
nistério, justificando a sua necessidade e de- Já o cronograma de execução do projeto
talhando os custos das etapas ora comple- será cadastrado no Salic e não fica limitado
mentadas. Esse aumento, no entanto, não ao exercício fiscal.
poderá exceder 50% do valor já aprovado.
Para o pedido, é imprescindível que o pro- Conforme o art. 34, a solicitação de pror-
ponente já tenha captado pelo menos 50% rogação do prazo de captação deverá ser
do valor do projeto (podendo considerar o sinalizada no cadastramento da proposta
rendimento da aplicação financeira). (o proponente deve clicar no botão “pror-
rogação automática”) e será concedida por
Pedidos de redução do valor também são este Ministério, de forma automática, con-
possíveis (ver art. 39), desde que não com- siderando o período de execução proposto,
prometam a execução do projeto e a redu- sendo que, para projetos que não possuem
ção não seja superior a 50% do valor total. o registro no Salic de prorrogação auto-
Esse pedido só é possível depois de cap- mática, as solicitações de prorrogações de
tado 20% do valor do custo total do pro- prazos de captação e de execução devem
jeto, salvo nos projetos contemplados em ser registradas no Salic com as devidas atu-
seleções públicas, respaldados por contrato alizações no cronograma de execução, com
de patrocínio. O pedido também precisa antecedência mínima de 30 (trinta) dias da
ser justificado, explicando a necessidade data prevista para seu encerramento.
34 WWW.CAPACITAR.VC

AVALIAÇÃO DOS FORNECEDORES sobre o proponente. As informações mais


importantes de um contrato são: objeto do
Durante a execução do seu projeto di- contrato, o valor, a forma de pagamento,
versos fornecedores serão contratados. obrigações das partes e rescisão. Se não
Recomenda-se que seja averiguado se o for possível fazer contratos, sugerimos que
fornecedor está apto a prestar o serviço o proponente formalize os acordos feitos
antes da contratação ou de qualquer paga- com os seus fornecedores por e-mail ou
mento. Isso pode ser feito através de uma outro meio.
avaliação rápida do seu cartão de CNPJ,
no site da Receita Federal, bem como uma Quando o proponente for pessoa jurídi-
avaliação do contrato social do fornece- ca de direito público o processo licitatório
dor, se for o caso. deve ser seguido, prevendo as formas pró-
prias de contratação dos fornecedores.
Inclusive, uma das trilhas de controle
do Ministério do Turismo (Anexo VII)
é a regularidade da Classificação Nacio- DOCUMENTOS FISCAIS
nal das Atividades Econômicas – CNAE
do fornecedor. Estamos trabalhando com verba públi-
ca, então é necessário que os fornecedores
Quando o proponente for pessoa jurídi- do projeto estejam aptos a emitir o docu-
ca de direito público o processo licitatório mento fiscal (nota fiscal, recibo de pro-
deve ser seguido, prevendo as formas pró- fissional autônomo ou documento equi-
prias de seleção de fornecedores que cabem valente). Faturas e recibos serão aceitos
à Administração Pública indireta. somente nos casos permitidos por lei, o
que precisa ser justificável. Por isso, en-
A figura do contador também é de ex- tendemos que o profissional da contabili-
trema importância, pois ele tem o conhe- dade é indispensável, pois este deve pos-
cimento dos regimes de tributação e saberá suir o conhecimento necessário para dar
observar se na contratação vai existir re- segurança ao proponente.
tenção de impostos, pagamento de INSS
patronal, entre outros. Felizmente, hoje Hoje a norma não traz mais a previsão
em dia a Instrução Normativa, em seu expressa de que os documentos fiscais te-
artigo 6º, §2º, obriga à contratação des- nham que trazer o nome do projeto e o
te profissional. número do Pronac. Porém, recomenda-
mos que essa prática se mantenha, pois
entendemos que isso auxilia na organi-
FORMALIZAÇÃO DE CONTRATOS zação e na transparência da prestação de
contas, além de separar de forma clara os
O Ministério não obriga, mas recomen- custos do projeto de outros que o propo-
da que sejam firmados contratos com os nente venha a ter e pague com outras fon-
fornecedores, a fim de dar maior seguran- tes de recursos.
ça para os proponentes. Isso porque, caso
um fornecedor seja pago e não forneça o Eventuais retenções de impostos também
produto ou serviço, o prejuízo irá recair precisam ser observadas. A recomendação
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 35

é de que, sempre que possível, o pagamen- se-aqui-as-marcas-e-o-manual-do-pronac/.


to do fornecedor só seja feito depois de ele
ter enviado a nota fiscal. Assim, eventuais Assim, todo material gerado pelo pro-
correções no documento fiscal podem ser jeto deverá ser inserido no software Sa-
feitas com mais tranquilidade. lic, para aprovação prévia do Ministé-
rio, antes da sua veiculação, impressão
Documentos fiscais que não forem ou produção.
eletrônicos precisam ser digitalizados, e
guias de impostos também precisam ser No Anexo II da Instrução, que é a de-
arquivadas para, posteriormente, serem claração de responsabilidade validada pelo
inseridos no Salic e comporem a presta- proponente no momento da apresentação
ção de contas. da proposta, explica que dar publicidade na
promoção e divulgação do projeto de for-
ma correta “é fundamental para o controle
FORMA DE PAGAMENTO social, para o conhecimento do público em
geral, para a motivação e o engajamento
As formas de pagamento do projeto de novos patrocinadores e doadores, bem
são: transferência bancária identifica- como para a evolução e a expansão do me-
da, cartão magnético ou qualquer outro canismo”. E de fato é. Por isso, atente-se
meio eletrônico de pagamento que as- também para a correta aplicação da logo-
segure a identificação do fornecedor do marca do (s) patrocinador (es), proponente
bem ou serviço. e possíveis apoiadores.

Quando não houver possibilidade de


pagamento de uma despesa pelos meios ACESSIBILIDADE E
já descritos, o proponente poderá realizar DEMOCRATIZAÇÃO DE ACESSO
saques diários de até R$1.000,00, poden-
do pagar despesas limitadas a este valor Lembre-se das medidas de acessibilidade
(art. 31, §1º). e de democratização de acesso que foram
prometidas no momento da elaboração do
As contas bancárias dos projetos são seu projeto. Elas precisam ser cumpridas.
isentas de tarifas bancárias (art. 32), e estão Execute-as e faça registros dessa execução,
listadas no Anexo V da Instrução. para posteriormente incluir na prestação
de contas.

APLICAÇÃO DAS LOGOMARCAS


COMPROVAÇÕES DE REALIZAÇÃO
Os materiais de divulgação dos projetos
precisam observar exigências sobre a apli- Durante a execução, guarde, de forma
cação das logomarcas. Para isso, existe um organizada, o máximo de comprovações
guia chamado “Manual de Uso das Marcas que forem possíveis. Por exemplo, se o
do Pronac”, que pode ser obtido no portal seu projeto prevê aulas de dança, você
da Lei de Incentivo à Cultura, em http:// pode fotografar as aulas, obter depoi-
leideincentivoacultura.cultura.gov.br/noticias/aces- mentos dos alunos, relatórios dos profes-
36 WWW.CAPACITAR.VC

sores, juntar as fichas de inscrição, fazer RECOLHIMENTO DE


vídeos, etc.
SALDO AO FNC
Além disso, divulgue! Transparência é

D
abrir as cortinas e deixar a luz entrar. Por
isso, poste as ações do seu projeto nas redes epois de encerrado o projeto e
sociais; compartilhe a notícia. Dê publici- efetuado todos os pagamentos,
dade ao seu projeto, dando transparência e é o momento de zerar a conta
visibilidade para ele. bancária onde os valores estavam sendo
movimentados. O art. 32 da Instrução, em
Enfim, use a sua imaginação e regis- seu §4º, deixa claro que ao término da exe-
tre tudo o que for executado. Lembre- cução do projeto, todo saldo remanescente
-se: o momento de registrar o seu projeto (incluindo o resultado de aplicação finan-
é durante a execução, e não depois que ceira não utilizado) deverá ser recolhido ao
ele finalizou. Fundo Nacional de Cultura – FNC.

Também existe a possibilidade do proje-


FISCALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO to ser arquivado por falta de captação sufi-
ciente para iniciar a sua execução (art. 52).
Mesmo que a prestação de contas seja
enviada ao Ministério do Turismo somen- Isso porque, em regra, é vedada a transfe-
te após o término da execução, é impor- rência de saldos não utilizados para outros
tante que o proponente já mantenha uma projetos aprovados pelo Secretaria Espe-
organização documental em tempo real. cial da Cultura. As exceções estão no art.
28 e seus parágrafos, já mencionados nos
Isso é bom para o projeto, e também itens anteriores.
para o Ministério, que poderá, a qualquer
momento, realizar acompanhamento da A regra também não se aplica para o caso
execução do projeto, por meio de vistoria de planos anuais ou plurianuais de ativi-
no próprio local ou solicitando o envio dades ou projetos de ação continuada do
de informações. mesmo proponente, desde que o projeto
anterior seja encerrado e declarado o valor
A vistoria pode ter por objetivo escla- transferido em campo específico do novo
recer dúvidas acerca do projeto, do pon- projeto (art. 42).
to de vista físico ou financeiro, podendo
ter sido motivada por vistoria de rotina Para os demais casos, através do Anexo
ou por eventual denúncia. Ela poderá ser II da Instrução Normativa (Declaração de
realizada diretamente pelo Ministério, Responsabilidade), o proponente declara
por suas entidades vinculadas, represen- ter conhecimento de que deverá:
tações regionais, pareceristas credencia-
dos, ou mediante parceria com outros “DEVOLVER em valor atu-
órgãos federais, estaduais e municipais alizado, o saldo dos recursos
(artigos 45 e 46). captados e não utilizados na
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 37

execução do projeto, quando


GRU se encontra disponível no site do
não transferidos para outro
Tesouro Nacional (http://www.stn.fazenda.
projeto, mediante recolhi- gov.br/), ou clicando no link direto http://
mento ao Fundo Nacional da consulta.tesouro.fazenda.gov.br/gru_novosite/gru_
Cultura (FNC), conforme ins- simples.asp.
truções dispostas no portal
da Rouanet.” No preenchimento, observar:
- Unidade Gestora (UG): 340001;
- Gestão: 00001 – Tesouro Nacional
Além disso, o art. 47, §1° diz que é neces- - Nome da unidade (aparecerá automati-
sário que o proponente junte, na prestação camente): Coord. Geral de Exec. Orcam.
de contas no Salic, o “comprovante do re- e Financeira/FNC
colhimento ao FNC de eventual saldo não - Código de Recolhimento: 20082-4 –
utilizado na execução do projeto, incluídos FNC – REC.DECOR.NÃO. APLIC.
os rendimentos da aplicação financeira”. INCENTIVOS FISCAIS
- No número de referência da GRU in-
Mas como fazer isso? Primeiramente, forme o número do Pronac.
certifique-se de que não existe nenhuma - Competência: mês e ano que será efetu-
aplicação financeira na conta bancária do ado o pagamento da guia
seu projeto. Se houver, primeiro desaplique - Vencimento: data inserida manualmen-
a verba. Após, verifique o saldo. Vamos su- te para definir a data do pagamento
por que o saldo seja de R$150,12. O saldo - CNPJ ou CPF do Contribuinte: contri-
remanescente é o valor que “sobrou” do buinte é o proponente
seu projeto, e deve englobar tanto a verba - Nome do contribuinte/recolhedor:
que não foi gasta quanto algum possível nome completo do proponente
rendimento de aplicação. - Valor principal e valor total: em ambos
os campos, valor a ser recolhido ao FNC
Continuando o nosso exemplo, você
deverá emitir uma guia no valor exato de Lembramos que o pagamento da guia é
R$150,12, e pagar essa guia com os recur- o último ato financeiro a ser praticado no
sos em conta. Não arredonde o valor, que seu projeto, e deve ser feito depois de to-
deve corresponder exatamente ao saldo. dos os pagamentos terem sido realizados,
Assim, o saldo remanescente da execução a verba já estar devidamente desaplicada, e
do projeto será recolhido ao Fundo Nacio- o valor restante na conta efetivamente não
nal da Cultura mediante o pagamento da for mais utilizado.
Guia de Recolhimento da União – GRU.
Depois de pagar a guia, você deve obter
Depois retire novamente um extrato ban- um novo extrato bancário, certificando-se
cário. O extrato bancário deve apresentar de que a conta realmente foi zerada. Reco-
ao final, saldo igual a ZERO. Esse extrato mendamos juntar na prestação de contas
deve ser anexado a prestação de contas. a GRU; o comprovante de pagamento da
guia e o extrato zerado.
A Guia de Recolhimento da União –
38 WWW.CAPACITAR.VC

PRECISO PRESTAR informações no Salic e enviar ao Ministé-


rio. Quando a prestação de contas não for
CONTAS? apresentada, o proponente será considera-
do inabilitado, e diligenciado para regula-

A
rizar a sua situação.
prestação de contas é de extrema
importância para o projeto. Faça Ainda que os documentos sejam envia-
a prestação de contas como uma dos pelo software, recomendamos que o
prática diária, e não algo que deve ser or- proponente tenha em sua posse um dossiê
ganizado somente ao final do projeto. Ou físico e digital organizado, contendo toda
seja, a prestação de contas começa junto a prestação de contas, como por exemplo:
com a execução! Além disso, convidamos contratos firmados com fornecedores, no-
vocês a se libertar de todos os mitos de que tas fiscais originais, comprovantes de paga-
a prestação de contas é algo terrível. Ela mento, extratos bancários, comprovações
pode ser extremamente agradável, e levar de que o produto cultural foi realizado e
o proponente a melhorar sua organiza- distribuído, fotografias, relatórios, vídeos,
ção documental e financeira. Além disso, jornais com matérias, etc.
você pode apresentá-la aos investidores do
projeto, como forma de agradecimento e Vale lembrar que o comprovante do reco-
assim também plantar uma semente para lhimento do saldo remanescente ao Fundo
uma próxima captação. Nacional de Cultural também faz parte da
prestação de contas, conforme já explicado
Os artigos 47 e 48 explicam sobre o que em item anterior.
deverá ser apresentado na prestação de
contas, que nada mais é do que comprovar Aconselhamos também que a prestação
a realização de todo o seu projeto, tanto do de contas seja digitalizada e guardada em
ponto de vista de cumprimento do objeto segurança virtualmente. Você pode, por
(produto cultural), quando do ponto de exemplo, criar um e-mail só para fins de
vista financeiro. Caso haja algum produto backup dos seus documentos digitais.
cultural que não possa ser enviado ou com- Além disso, mantenha na sua posse, e de
provado pelo Salic, então o material deve forma organizada, toda a documentação
ser entregue à Secretaria Especial da Cul- original do seu projeto, em meio físico.
tura de forma física.
A norma explica que, mesmo depois do
Ela deve ser inserida no próprio software término do projeto, cabe ao proponente
Salic, que atualmente permite que seja ane- manter e conservar a documentação do seu
xada quase toda a documentação gerada projeto pelo prazo de 5 anos, contados da
no projeto. A comprovação financeira, por avaliação dos resultados, e disponibilizá-la
exemplo, deve ser anexada no Salic, por ao Ministério do Turismo e aos órgãos de
meio dos documentos comprobatórios, à controle e fiscalização, caso seja instado a
medida que os débitos forem sendo lança- apresentá-la. Veja mais informações no art.
dos no extrato bancário (art. 47, §1º). 57, §2º. De qualquer forma, considerando
que a prestação de contas também é muito
O prazo para prestar contas é de 60 importante para o histórico do proponen-
dias após o término da execução (art. 48), te, recomendamos que ela seja guardada
quando o proponente deverá anexar as por todo o tempo que seja possível.
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 39

APROVAÇÃO OU REPROVAÇÃO DA PRESTAÇÃO


DE CONTAS

A prestação de contas poderá ser aprovada, aprovada


com ressalvas ou reprovada. Sugerimos que o proponen-
te acompanhe esta avaliação dentro do Salic.

A reprovação pode ocorrer, por exemplo, pela não en-


trega da prestação de contas, não cumprimento do obje-
to, equívocos de ordem financeira, etc.

Para entender mais sobre os elementos que levam o


Ministério a aprovar com ou sem ressalvar ou reprovar
um projeto, possibilidade de recurso, arquivamento par-
celamento de débitos, inabilitação do proponente e ou-
tras sansões, faça a leitura dos artigos 51 a 66.

Atenção: a reprovação de uma prestação de contas po-


derá levar o proponente a ter que devolver recursos de-
vidamente atualizados e até mesmo responder por ato de
improbidade administrativa.
40 WWW.CAPACITAR.VC

vo à Cultura. E em 2019 a Vale S/A saí na


NÚMEROS DO frente com 55 milhões, deixando o Itaú em
MECENATO segundo lugar. A ENGIE Brasil Energia,
juntamente com outras empresas do grupo,
investiu pouco mais de 10 milhões no ano

A
de 2019.
pesar de datada de 1991, a Lei pas-
sou a ter investimentos somente em Ainda em 2019, aproximados 3.783 pro-
1993. Desde então, já mobilizou mais jetos foram aprovados em todo o país.
de 17 bilhões de reais em todo o país. Deste total, apenas 3.309 projetos capta-
ram recursos, totalizando 1,4 bilhões. Com
Em 2016, os valores captados estão esti- a mudança de estratégia na norma (aprova-
mados em 1,149 bilhão de reais e em 2017 ção preliminar e necessidade de captação
em 1,183 bilhão de reais. Em 2019 o núme- prévia), o número de projetos aprovados
ro cresceu para 1,479 bilhão. que captaram recursos de fato aumentou.

No primeiro ano foram apenas dois in- Dos projetos aprovados em 2019, cerca
vestidores, a Souza Cruz e o Banco Nacio- de 75% foram apresentados por proponen-
nal, com 21 mil reais. Em 1994 os aportes tes pessoa jurídica, e 25% por proponentes
disparam e a Petrobrás assume a liderança pessoas físicas.
com 170 milhões. Entre 1995 e 1997 é a
vez das empresas de Telecomunicações as- Sobre os investidores, durante todo ano
sumirem o ranking de maiores investidores de 2019, 13.510 pessoas físicas destinaram
do país. parte do seu imposto de renda para proje-
tos, junto com 3.997 pessoas jurídicas.
A Petrobrás retoma o seu lugar em 1998,
tornando-se o maior patrocinador de Rou-
anet até 2012. O ano de 2006 destaca-se MAIORES PATROCINADORES
pelo maior investimento da história, ten- DO BRASIL 2019
do a Petrobrás aportado aproximados 226
milhões no mecanismo. Em 2013 o Banco 1º Vale S.A. R$55.073.957,30
do Brasil assume a liderança pela primeira 2º Banco Itaú S.A. R$48.202.000,00
vez, aportando em torno de 40 milhões. 3º Banco do Brasil S.A. R$28.091.650,72
E a partir de 2014 o BNDES passa a ser 4º BNDES R$23.627.654,58
o maior investidor do Brasil, até o ano 5º Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração R$20.744.471,07
de 2017. 6º Petrobrás R$18.190.474,75

DADOS GERAIS DE 2019 INVESTIMENTOS DE 2019


POR REGIÃO
Em 2018 o maior incentivador do país
passa a ser o Banco Itaú S.A., que apor- No ano de 2019, a Lei de Incentivo à Cul-
tou mais de 53 milhões na Lei de Incenti- tura movimentou mais de 1,4 bilhões de re-
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 41

ais em todas as regiões do Brasil. Abaixo, Fomento e Incentivo à Cultura. Enviado


segue investimentos separados por região. pela Câmara em 2014 para o Senado Fe-
deral, este projeto tramita atualmente sob
a relatoria do Senador Roberto Rocha e a
denominação “Projeto de Lei da Câmara nº
NORTE
93, de 2014”. Em 2015, três emendas foram
1,2% apresentadas pelo Senador Álvaro Dias.
18,5Mi

NORDESTE
4,1% O projeto, apresentado em 02 de dezem-
60,9Mi
bro de 2009, ainda depende de aprovação
CENTRO-OESTE
no Senado Federal, e conforme informações
2,1%
31,1Mi
retiradas no site, o status é “em tramitação”
e a última tramitação, datada de abril de
SUDESTE
78,3%
2019, foi a realização de Audiência Pública.
1,16Bi

SUL
14,3%
211,6Mi
Em paralelo, em março de 2016 o Ministé-
rio da Cultura apresentou uma nova proposta
de alteração para o texto do Procultura. O
Ministério acredita que os ajustes conferem
Enfim, para o ano de 2019 existe a previ- maior clareza e segurança jurídica ao projeto.
são de um teto de renúncia fiscal do Gover-
no para a Cultura na casa de 1,2 bilhões. Ou A proposta do Ministério traz, entre di-
seja, esse será o valor limite de imposto de versas sugestões, uma de grande impacto
renda que poderá ser destinado para o me- para o incentivo, qual seja, a possibilidade
canismo de incentivos a projetos culturais. de pessoas jurídicas tributadas no lucro
real cuja receita bruta seja de até trezen-
tos milhões de reais deduzirem até 6% do
imposto de renda devido em cada perío-
VALIDADE E FUTURO do de apuração em favor do mecanismo
do mecenato. Nesse caso, as pessoas jurí-
DA LEI dicas cujo faturamento ultrapassa os 300
milhões manteriam a dedução fiscal de até
4%. Outro exemplo seria de que os proje-
As disposições da Lei de Incentivo à Cul- tos culturais que trouxerem em seu nome a
tura não trazem qualquer menção sobre marca do incentivador só poderiam contar
um prazo de validade da Lei e do meca- com dedução de 40%.
nismo do mecenato. Dessa forma, até que
haja qualquer disposição em contrário, Em resumo, atualmente ainda vige, em
não existe um prazo final para este bene- sua íntegra, o texto da Lei 8.313, de 1991.
fício fiscal. O assunto não tem sido mais abordada nos
encontros do Ministério como ocorreu
Em 2010 iniciou a tramitação, na Câmara, mais intensamente até 2016, e não existe
do Projeto de Lei nº 6.722/2010, para revo- previsão concreta de aprovação para pro-
gar e substituir a Lei Rouanet, e instituir o jetos de lei que visam a alteração da Lei de
PROCULTURA – Programa Nacional de Incentivo à Cultura.
42 WWW.CAPACITAR.VC

IMPACTOS DA justificada, esclarecendo o impacto e a ne-


cessidade iminente da liberação dos recur-
COVID-19 NOS sos, em razão da pandemia. Esse pedido
será avaliado pela Secretaria, que poderá
PROJETOS autorizá-lo ou não (art. 2º da IN 5/2020).

A
PRORROGAÇÃO DE PRAZOS DE
Por conta da pandemia que es- CAPTAÇÃO E EXECUÇÃO
tamos vivendo no corrente ano
(2020) e seus impactos em diver- Regra: O prazo de captação de um projeto
sos projetos culturais, foram publicadas as inicia no dia da publicação da portaria que
Instruções Normativas de n. 5, de 20 de autoriza a captação e finda no último dia do
abril de 2020 e de n. 6, de 29 de abril de exercício fiscal/ano desta publicação. A soli-
2020. Essas instruções não alteraram o tex- citação de prorrogação do prazo de captação
to da IN 2/2019 ora vigente, mas regulam deverá ser sinalizada no cadastramento da
os procedimentos de forma extraordinária proposta (o proponente deve clicar no botão
por conta da pandemia. “prorrogação automática”) e será concedida
por este Ministério, de forma automática,
Abaixo, trazemos os procedimentos que considerando o período de execução propos-
poderão ser aplicados a estes projetos, im- to, sendo que, para projetos que não possuem
pactados em razão da Covid-19. o registro no Salic de prorrogação automáti-
ca, as solicitações de prorrogações de prazos
MOVIMENTAÇÃO E LIBERAÇÃO de captação e de execução devem ser registra-
DE RECURSOS das no sistema com as devidas atualizações
no cronograma de execução, com antecedên-
Regra: os recursos do projeto só poderão cia mínima de 30 (trinta) dias da data prevista
ser movimentados quando atingidos 20% para seu encerramento.
(vinte por cento) do valor homologado para
execução. Podem ser computados nesse Procedimento Extraordinário: Os pro-
percentual o Valor de Aplicação Financeira jetos que possuem prazos de captação e exe-
e os registros de doação ou patrocínio por cução inferiores a dezembro de 2020 terão
meio de bens ou serviços, economicamente seus prazos de captação e execução prorro-
mensuráveis, devidamente comprovados. gados automaticamente até 31 de dezembro
E no caso de projeto classificado como de 2020 (art. 3º da IN 5/2020).
plano anual ou plurianual de atividades, os
recursos captados poderão ser transferidos ALTERAÇÕES NO PROJETO
quando atingido 1/12, 1/24, 1/36 ou 1/48
do orçamento global, respectivamente. Regra: O primeiro momento em que o
proponente poderá realizar alguma altera-
Procedimento Extraordinário: A mo- ção no projeto é após a captação mínima
vimentação dos recursos poderá ocorrer de 10%, não sendo possível, no entanto,
antes que sejam atingidos os limites descri- alterar objeto e enquadramento (art. 26).
tos acima na regra. É necessário, no entan-
to, que o proponente faça uma solicitação Já na fase de execução, ou seja, após a li-
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 43

beração da conta para a movimentação de proponente, por meio do Salic, à medida que
recursos, o proponente poderá solicitar alte- as despesas tiverem sido lançadas no extrato
rações no projeto, dentro do Salic. O pedido bancário, com a respectiva anexação de do-
deve ocorrer de forma justificada e no míni- cumentos comprobatórios. No entanto, “na
mo 30 (trinta) dias antes do início da execu- impossibilidade de realizar a comprovação
ção da meta ou ação a ser alterada (art. 36). referida, deverá o proponente informar e
justificar as ocorrências, bem como inserir
Procedimento Extraordinário: O pro- os documentos pertinentes, na aba “Rela-
ponente poderá pleitear alteração de seu tório de Cumprimento de Objeto”” (art. 5º,
projeto cultural por meio do Salic na fase de parágrafo único, IN 5/2020).
execução, a qualquer tempo, e após a libera-
ção para movimentação dos recursos, inde- Além disso, independente do que já pre-
pendentemente do percentual de captação. cisa ser apresentado na prestação de con-
Para esse pedido, é necessário demonstrar o tas, para projetos adiados, parcialmente
impacto causado no projeto pela pandemia. executados ou com ações canceladas, o
Continua proibido alterar o objeto e o en- proponente deverá também anexar as se-
quadramento. No mais, mantém-se todas as guintes informações e documentos (art. 6º,
disposições da Instrução vigente (art. 4º da IN 5/2020):
IN 5/2020).
a) razões do adiamento da execução
ou execução parcial;
PRESTAÇÃO DE CONTAS
b) itens e comprovantes de despesas
Regra: Os artigos 47 e 48 da IN 2/2019 não previstas; e
explicam o que deverá ser apresentado na
prestação de contas, que nada mais é do c) relatório demonstrando a nova
que comprovar a realização de todo o seu proporção do objeto, metas, contra-
partidas sociais, plano de distribui-
projeto, tanto do ponto de vista de cumpri- ção e ampliação de acesso, em razão
mento do objeto (produto cultural), quan- da alteração do orçamento pelas des-
do do ponto de vista financeiro. pesas não previstas.

Ela deve ser inserida no próprio software Lembrando que o proponente só po-
Salic, que atualmente permite que seja ane- derá executar o projeto de forma diferen-
xada quase toda a documentação gerada te se essa alteração tiver sido aprovada
no projeto. A comprovação financeira, por pelo Ministério.
exemplo, deve ser anexada no Salic, por
meio dos documentos comprobatórios, à Fora isso, todos os demais procedimen-
medida que os débitos forem sendo lança- tos para prestação de contas e avaliação de
dos no extrato bancário (art. 47, §1º da IN resultados devem ser mantidos. Porém, a
2/2019). avaliação de resultados, que é composta
pela análise do objeto e pela análise finan-
Procedimento Extraordinário: A com- ceira, deverá considerar o princípio da ra-
provação da realização física e financeira do zoabilidade, bem como a excepcionalidade
projeto impactado pela Covid-19 continua imposta ao projeto, em razão da Covid-19
sendo necessária e deverá ser realizada pelo (art. 7º, IN 5/2020).
44 WWW.CAPACITAR.VC

PARCELAMENTO DE DÉBITOS Procedimento Extraordinário: Tendo


em vista as medidas adotadas para comba-
Regra: Caso o proponente tenha sua ter a disseminação da Covid-19, os parce-
prestação de contas reprovada, este pode- lamentos de débitos poderão ser suspen-
rá requerer o parcelamento do débito. Esse sos, excepcionalmente, pelo prazo de 120
parcelamento deve obedecer ao previsto (cento e vinte) dias. Lembrando que este
no art. 64 da IN 2/2019. O atraso de 03 parcelamento não é automático, e deve ser
(três) parcelas, consecutivas ou não, ou de requerido pelo proponente e avaliado pelo
01 (uma), estando pagas todas as demais, Ministério. Os valores suspensos serão cor-
implicará na imediata rescisão do parcela- rigidos monetariamente, na forma da legis-
mento, por exemplo, além de outras san- lação de regência (art. 2º da IN 6/2020).
sões previstas em caso de atraso de parcela.

ANOTAÇÕES
CARTILHA LEI DE INCENTIVOÀ CULTURA 45

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