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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa

ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

FICHA TÉCNICA

Título: Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa

Tipo de formação: Distância 2921 / Plug-in 33821

Autor: Marília Fernandes

Capa e paginação: DCI - Departamento de Comunicação e Imagem da OCC

© Ordem dos Contabilistas Certificados, 2021

Não é permitida a utilização deste Manual, para qualquer outro fim que não
o indicado, sem autorização prévia e por escrito da Ordem dos Contabilistas
Certificados, entidade que detém os direitos de autor.

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INTRODUÇÃO

A pretensão não é, transformar este manual e este curso, num “compendio de direito sucessório”,
no entanto, afigura-se-nos essencial para o bom entendimento do tema do Curso “Enquadramento
Fiscal da Partilha e Heranças Indivisas” e das implicações que advêm dessas situações, explicar e
porque não dizer, simplificar, algumas das expressões legais normalmente utilizadas.

Estamos confiantes que muitas das situações aqui descritas serão aplicáveis, não apenas a nível
profissional pelos formandos, aumentando assim as suas já vastas competências profissionais, mas
que serão igualmente relevantes a nível pessoal.

Fevereiro de 2021

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INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 3
1.1 NOÇÃO LEGAL DE SUCESSÃO .......................................................................................................... 6
1.1.1 SUCESSÃO EM VIDA ............................................................................................................................................. 6
1.1.2 DOAÇÃO COM RESERVA DE USUFRUTO ........................................................................................................... 6
1.1.3 DOAÇÃO COM RESERVA DO DIREITO DE DISPOR............................................................................................ 7
1.2 SUCESSÃO LEGAL E SUCESSÃO LEGITIMA ........................................................................................................ 7
1.3 TESTAMENTO OU CONTRATO ................................................................................................................................. 7
1.4 ORDEM DE SUCESSÃO LEGITIMA ..................................................................................................... 7
1.5 PRINCÍPIOS DA SUCESSÃO LEGÍTIMA .............................................................................................. 8
1.6 FASES DO PROCESSO SUCESSÓRIO ............................................................................................... 8
2 HERANÇA INDIVISA - NOÇÃO .......................................................................................................................... 9
2.1. ENQUADRAMENTO LEGAL .............................................................................................................. 9
2.2. QUOTA DISPONÍVEL ................................................................................................................................. 9
2.3. QUOTAS HEREDITÁRIAS - SEM DOAÇÕES OU TESTAMENTO: ........................................................ 10
2.4. CÔNJUGE ÚNICO HERDEIRO ................................................................................................................ 11
2.5. SENDO HERDEIROS, O CÔNJUGE E OS DESCENDENTES (ADOTADOS) ....................................... 11
2.6. SENDO HERDEIROS, O CÔNJUGE E ASCENDENTES ........................................................................ 12
2.7. SENDO HERDEIROS, OS DESCENDENTES ( OU ADOTADOS) .......................................................... 13
2.8. SENDO HERDEIROS, OS IRMÃOS E SEUS DESCENDENTES ........................................................... 13
2.9. SUCESSÃO DE OUTROS COLATERAIS ATÉ AO 4º GRAU.................................................................. 14
2.10. QUOTA INDISPONÍVEL ......................................................................................................................... 14
2.11 REPÚDIO VS RENUNCIA DA HERANÇA ............................................................................................................... 14
2.12. REPRESENTAÇÃO DA HERANÇA INDIVISA.................................................................................... 16
3. ENQUADRAMENTO FISCAL E OBRIGAÇÕES DE HERANÇA INDIVISA ........................................ 17
3.1. IMPOSTO SOBRE RENDIMENTO PESSOA SINGULARES – IRS ....................................................................... 17
3.1.1. RENDIMENTOS DA CATEGORIA B – RENDIMENTOS EMPRESARIAIS .............................................. 17
3.1.1.1 OBRIGAÇÕES CADASTRAIS ..................................................................................................... 18
3.1.1.2 OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS – RENDIMENTOS OBTIDOS .......................................................... 24
3.1.2. IRS - RENDIMENTOS DE OUTRAS CATEGORIAS .......................................................................... 26
3.1.2.1. – RENDIMENTO PREDIAIS – CATEGORIA F ............................................................................... 26
ARRENDAMENTO – OBRIGAÇÕES .............................................................................................................. 26
ARRENDAMENTO – OBRIGAÇÕES HERANÇAS INDIVISAS ....................................................................... 26
3.1.2.2 OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS – RENDIMENTOS GERADOS POR BENS IMOVEIS DA HERANÇA ....... 27
3.2. IMPOSTO DE SELO – IS ......................................................................................................... 28
3.2.1. HABILITAÇÃO DE HERDEIROS ........................................................................................................... 28
3.2.2. PARTICIPAÇÃO DO ÓBITO Á AT – FORMALIDADES E PRAZO ....................................................... 29

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3.2.2. VALOR DO IMPOSTO ........................................................................................................................... 29


3.2.3. BENS NÃO SUJEITOS .......................................................................................................................... 29
3.2.4. BENS SUJEITOS A PARTICIPAÇÃO ................................................................................................... 29
3.2.5. PRORROGAÇÃO EXCECIONAL DO PRAZO PARTICIPAÇÃO .......................................................... 30
3.2.6. CÁLCULO DO VALOR DOS BENS ....................................................................................................... 30
3.2.7. PAGAMENTO DO IMPOSTO ................................................................................................................ 30
3.2.8. CADUCIDADE DO DIREITO À LIQUIDAÇÃO....................................................................... 31
3.3. IMPOSTO MUNICIPAL S/ IMOVEIS – IMI ............................................................................... 31
3.3.1. IMOVEIS - PROPRIEDADE DE HERANÇAS INDIVISAS ..................................................................... 31
3.3.2. IMOVEIS – BENS COMUNS DO CASAL ......................................................................................... 32
3.4. ADICIONAL DE IMI - AIMI ........................................................................................................ 32
4. INVENTARIO E PARTILHA ................................................................................................................................ 37
4.1 – COLAÇÃO .............................................................................................................................. 41
4.2 – IMT – HERANÇA INDIVISA - PARTILHA ......................................................................................... 41
Exemplo Cálculo - IMT Partilha ............................................................................................................................... 41
5. PARTILHA EM CASO DE DIVÓRCIO ............................................................................................................. 42
5.1. CASAMENTO E REGIME DE BENS........................................................................................ 42
5.1.1 REGIME DE COMUNHÃO DE ADQUIRIDOS ....................................................................................... 42
5.1.2. REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS................................................................................................... 43
5.1.3. REGIME DA COMUNHÃO GERAL ....................................................................................................... 43
5.2. ESCOLHA DO REGIME DE BENS .......................................................................................................... 43
5.3. IMPOSIÇÃO LEGAL ................................................................................................................................. 44
5.4. SEPARAÇÃO DE FACTO/SEPARAÇÃO JUDICIAL DE PESSOAS E BENS ............................................. 44
5.4.1. SEPARAÇÃO DE FACTO ..................................................................................................................... 44
5.4.2. SEPARAÇÃO JUDICIAL DE BENS ................................................................................................. 44
5.4.3. SEPARAÇÃO JUDICIAL DE PESSOAS E BENS ................................................................................. 45
5.4.4. DIVÓRCIO ................................................................................................................................ 45
5.4.5 RESPONSABILIDADE PELAS DIVIDAS................................................................................................ 46
5.4.6 DESTINO DOS BENS............................................................................................................................................ 46
6. TORNAS E MAIS-VALIAS EM IMÓVEIS..................................................................................... 50
6.1. IRS- MAIS VALIAS ....................................................................................................................... 52
6.1.1 VALOR DE REALIZAÇÃO ...................................................................................................................... 52
6.1.2 VALOR DE AQUISIÇÃO A TÍTULO ONEROSO .................................................................................... 53
6.1.3 VALOR DE AQUISIÇÃO A TÍTULO GRATUITO .................................................................................... 53
EXEMPLO - PARTILHA VS IRS ................................................................................................................ 54
6.2 IMT- PARTILHA POR DIVORCIO ..................................................................................................... 57

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1. O DIREITO DAS SUCESSÕES

O direito das sucessões pode definir-se como um conjunto de normas que regulam o fenómeno da
sucessão. Quando se fala em sucessão poderemos referir-nos ao sentido amplo e ao sentido
restrito, isto é, sucessão como transmissão ou como transmissão ou aquisição mortis causa.
No conceito amplo de sucessão poder-se-á ter a sucessão inter vivos e a mortis causa, dependendo
daquilo que deu causa à sucessão. No primeiro caso (sucessão inter vivos), a sucessão opera por
força de um ato jurídico, enquanto no segundo caso a causa da sucessão é a morte.
À morte de alguém, as suas relações jurídicas e o seu património têm necessariamente que se
transmitir para alguém. A qual adquire direitos e bens, mas fica igualmente sujeita a certos deveres
e vinculações que existiam como tal na titularidade do falecido.

1.1 NOÇÃO LEGAL DE SUCESSÃO


No conceito amplo de sucessão poder-se-á ter a sucessão inter vivos e a mortis causa, dependendo
daquilo que deu causa à sucessão. No primeiro caso (sucessão inter vivos), a sucessão opera por
força de um ato jurídico, enquanto no segundo caso a causa da sucessão é a morte.
À morte de alguém, as suas relações jurídicas e o seu património têm necessariamente que se
transmitir para alguém. A qual adquire direitos e bens, mas fica igualmente sujeita a certos deveres
e vinculações que existiam como tal na titularidade do falecido.

1.1.1 SUCESSÃO EM VIDA


Em sentido amplo a sucessão pode ser inter vivos ou mortis causa.
Na sucessão em vida, a modificação opera-se em vida do anterior titular, por força de um ato jurídico
translativo do direito, ato jurídico que, normalmente, se traduz num negócio jurídico outorgado entre
o antigo e novo titular e de que resulta a respetiva transmissão.

As sucessões em vida mais utilizadas são:

1.1.2 DOAÇÃO COM RESERVA DE USUFRUTO


Conforme resulta do art.º 958 do CC o doador tem a faculdade de reservar para si, ou para terceiros,
o usufruto dos bens doados. Aqui, apesar de a propriedade plena sobre os bens doados só se
produzir na esfera do donatário depois da morte do doador (quando se extingue o usufruto), a
doação produz imediatamente os seus efeitos, uma vez que atribui, ao donatário, desde logo, a nua
propriedade dos bens doados.

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1.1.3 DOAÇÃO COM RESERVA DO DIREITO DE DISPOR


A lei prevê no art.º 959.º a possibilidade de o doador poder reservar a si o direito de dispor, por
morte ou por ato inter vivos, de alguma ou algumas das coisas compreendidas na doação, ou o
direito a certa quantia sobre os bens doados. O direto de dispor, extingue-se por morte do doador.

1.2 – SUCESSÃO LEGAL E SUCESSÃO LEGITIMA


Na sucessão por morte a modificação subjetiva só se verifica depois da morte do anterior titular da
relação jurídica, ou seja, em vida deste, não se opera qualquer transferência do direito, o qual
continua radicado na sua esfera jurídica.
O art.º 2026.º do CC esclarece que a sucessão se defere por lei, testamento e contrato. Trata-se
de três factos jurídicos com base nos quais é organizada uma classificação, que distingue, antes
de mais, a sucessão legal e a sucessão voluntaria:
o A primeira, a que resulta da lei;
o A segunda, por testamento ou contrato.

1.3 TESTAMENTO OU CONTRATO


Trata-se de um facto jurídico anterior á morte, definidor de pessoas que podem vir a ser herdeiras
ou legatárias. Um facto através do qual se indicam pessoas que podem suceder, um facto
designador de sucessíveis, que não pode deixar de ser considerado e assim atraído ao processo
sucessório, que só valerá, enquanto negócio aquisitivo, com a morte do testador.

Deste modo, a indicação prévia das pessoas que podem suceder, surge em momento anterior ao
processo sucessório, mas acaba por ser para ele atraído por ser essencial para a sua concretização.

1.4 ORDEM DE SUCESSÃO LEGITIMA


São herdeiros legítimos, o cônjuge, os parentes e o Estado (art.º 2132.º do Código Civil), pela ordem
e segundo as regras dos artigos seguintes.

A ordem por que são chamados os herdeiros, sem prejuízo do disposto no título da adoção, é a
seguinte:

a) Cônjuge e descendentes;

b) Cônjuge e ascendentes;

c) Irmãos e seus descendentes;

d) Outros colaterais até ao quarto grau;

e) Estado.

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O cônjuge sobrevivo integra a primeira classe de sucessíveis, salvo se o autor da sucessão falecer
sem descendentes e deixar ascendentes, caso em que integra a segunda classe. O cônjuge não é
chamado á herança se à data da morte do autor da sucessão se encontrar divorciado ou separado
de pessoas e bens, por sentença que tenha transitado em julgado, ou se a sentença de divorcio ou
separação vier a ser proferida posteriormente aquela data.

Com a eliminação da modalidade de adoção restrita, pela Lei 143/2015, de 8 de setembro, cabe ao
adotado na sucessão do adotante os mesmos direitos sucessórios que a lei atribui aos filhos (1ª
linha de sucessíveis). Da mesma forma, caberá ao adotante na sucessão do adotado os mesmos
direitos conferidos por lei aos pais (2ª linha de sucessíveis).

1.5 PRINCÍPIOS DA SUCESSÃO LEGÍTIMA

Os art.º 2134. º a 2136 do C. Civil estabelecem os princípios gerais da sucessão legítima e que, por
força do art.º 2157.º, também são aplicáveis à sucessão legitimária.

O primeiro é o princípio da preferência de classes, previsto no art.º 2134 do C. Civil. Os herdeiros


de uma das classes de sucessíveis preferem aos das classes imediatas. Ou seja, os ascendentes
só serão chamados à sucessão na falta de descendentes e adotados, os irmãos e sobrinhos só
serão chamados se não houver, cônjuge, descendentes (adotados) e ascendentes, etc.

O segundo é o princípio da preferência de graus de parentesco dentro de cada classe, previsto


no art.º 2135 do C. Civil, que determina que, dentro de cada classe os parentes de grau mais
próximo preferem aos de grau mais afastado, ou seja, na sucessão se existirem filhos não são
chamados os netos.

Finalmente, temos o princípio da sucessão por cabeça, previsto no art.º 2136.º no C. Civil,
segundo o qual os parentes de cada classe sucedem por cabeça ou em partes iguais, claro está
com algumas exceções tais como, o direito de representação; o concurso entre cônjuge e
descendentes, de cônjuge e ascendentes, que são as mais frequentes.

1.6 FASES DO PROCESSO SUCESSÓRIO

O processo sucessório é composto por três fases, fiscalmente relevantes:

1. a abertura/aceitação da herança,
2. a administração da herança, e
3. a partilha dos respetivos bens.

Cada uma destas fases, tem as suas implicações fiscais e impacto direto na esfera jurídica de
cada herdeiro.

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2 HERANÇA INDIVISA - NOÇÃO


Podemos referir que a herança indivisa é o acervo hereditário pertencente a um conjunto de
herdeiros, sem determinação de parte ou de direito, durante o período que perdura entre a
abertura da herança e a partilha dos respetivos bens.

2.1. ENQUADRAMENTO LEGAL

A herança indivisa é regulamentada legalmente pelo artigo n.º 2101 do Código Civil (CC), que
proclama a possibilidade de qualquer co-herdeiro ou o cônjuge, com direito a metade da herança,
a ter o direito de exigir partilha quando o entender.

Além disso, indica a impossibilidade de se renunciar ao direito da partilha, mas, por outro lado, pode
acordar que o património se mantenha indivisível por determinado período, desde que não
ultrapasse os cinco anos ou se acorde uma renovação desse mesmo prazo.

Assim, considera-se herança indivisa o espólio aceite pelos seus herdeiros, mas que ainda não foi
alvo de distribuição de bens, mas em que cada um dos herdeiros tem direito ao seu quinhão
hereditário.

Sublinhe-se que a herança indivisa, com titulares determinados, não tem personalidade judiciária,
pelo que terão de ser os herdeiros ou o cabeça de casal, se a questão se incluir no âmbito dos seus
poderes de administração, a assumir a posição (ativa ou passiva) no âmbito de uma ação judicial
em que estejam em causa interesses do acervo hereditário.

2.2. QUOTA DISPONÍVEL

A quota disponível é a porção de bens da herança de que o de cujus pode dispor livremente, quer
por doação intervivos, quer por doação mortis causa, por testamento.

A quota disponível é toda a herança, não havendo herdeiros legitimários, mas será a quota restante
da legítima, havendo-os. Há um grupo de herdeiros que são protegidos pela Lei, ou seja, os
herdeiros legitimários (o cônjuge sobrevivo, os descendentes e ainda os ascendentes), e a este
cabe a legítima.

Por outras palavras, aos chamados herdeiros legitimários cabe uma porção dos bens que constitui
a herança, ou seja, a legítima ou a quota indisponível. Logo existe uma parte da herança, a chamada
quota disponível que pode ser atribuído através de um testamento a um herdeiro legitimário, isto se
o autor da herança quiser beneficiar um determinado herdeiro legitimário em detrimento dos

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restantes ou até dispor dessa quota disponível a favor de um terceiro, como por exemplo um amigo
ou amiga, uma determinada instituição ou um terceiro qualquer.

Assim, a pergunta será: Qual é a quota disponível e indisponível numa herança?

A analise do quadro infra, levar-nos-á a perceber a proporção da quota disponível e indisponível numa
herança, segundo as regras da sucessão legitimária

TIPO DE HERDEIRO POR A LEGÍTIMA OU QUOTA A QUOTA DISPONÍVEL


ORDEM DE PREFÊRENCIA INDISPONÍVEL
Só o cônjuge 1/2 1/2
Cônjuge e filhos 2/3 1/3
Só um filho 1/2 1/2
Dois ou mais filhos 2/3 1/3
Cônjuge e ascendentes 2/3 1/3
Só pais 1/2 1/2
Só avós ou bisavós 1/3 2/3

Assim, quando existe um testamento, e por exemplo o testador é casado e não tem filhos, metade
da herança cabe ao cônjuge sobrevivo e a outra metade pode ser por este atribuído a quem este
bem entender, ou seja, o testador poderá atribuir a outra metade ao cônjuge sobrevivo ou a um
terceiro.

Visto de outro prisma, se o testador aquando da sua morte deixar cônjuge e filhos, então nesse
caso, dois terços da herança pertencerá a estes, pelo que, um terço da herança pode ser atribuído
a um terceiro ou a um dos herdeiros legitimários para beneficiar um, em detrimento dos restantes.

2.3. QUOTAS HEREDITÁRIAS - SEM DOAÇÕES OU TESTAMENTO:

São chamados à sucessão, pela ordem de classes sucessórias, como anteriormente se referiu:

✓ O cônjuge e descendentes,
✓ O cônjuge e ascendentes,
✓ Os irmãos e seus descendentes,
✓ Outros parentes na linha colateral até ao 4.º grau, e
✓ O Estado.

Assim, em termos legais, os herdeiros mais chegados ao falecido são os primeiros a ser chamados
à sucessão, excluindo o direito de herdar dos mais afastados. Se, por exemplo, o falecido deixar

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cônjuge e filhos ou só estes últimos, os seus pais não serão chamados à sucessão. Se não deixar
filhos, mas os pais sobreviverem, os seus irmãos não herdarão e assim sucessivamente.

Dentro de cada classe, os parentes mais próximos têm prioridade. Ou seja, os pais excluem os
avós; os filhos afastam os netos e os parentes de 3.º grau impedem os de 4.º grau de receber algum
bem. Deste modo na falta de herdeiros das classes anteriores, são chamados á, herança os
restantes colaterais até ao quarto grau, preferindo sempre os mais próximos. Não há neste caso
direito de representação e a divisão será efetuada por cabeça, ainda que algum dos chamados à
sucessão seja duplamente parente do falecido. Se não sobreviver nenhum parente, o herdeiro será
o Estado.1

2.4. CÔNJUGE ÚNICO HERDEIRO


A legítima do cônjuge, é de ½ da herança, conforme art.º 2158.º do Código Civil. Uma vez que
estamos a considerar que o cônjuge falecido não dispôs dos seus bens, nem intervivos, nem mortis
causa, o cônjuge sobrevivo, é o único herdeiro de toda a herança.

De acrescentar que ½ da herança lhe cabe por sucessão legitimária e a outra ½ por sucessão
legítima, conforme art.º 2132.º e seg. do Código Civil.

2.5. SENDO HERDEIROS, O CÔNJUGE E OS DESCENDENTES (ADOTADOS)

A legítima do cônjuge e dos filhos, em caso de concurso, é de 2/3 da herança (art.º 2161 do C.C.).
Como no ponto anterior, toda a herança se lhes defere, uma vez que o autor da herança não dispôs
da sua quota disponível.

O art.º 2139.º do C.C., estabelece que “…a partilha entre o cônjuge e os filhos faz-se por cabeça,
dividindo-se a herança em tantas partes quantos forem os herdeiros, a quota do cônjuge, porém,
não pode ser inferior a 1/4 da herança.”

Quer isto dizer que se o cônjuge concorrer com menos de 4 descendentes, não é favorecido, na
medida em que aquela legítima global se divide entre eles, em partes iguais. Se o cônjuge concorrer
com 4 ou mais descendentes, já é favorecido, na medida em que lhe assiste sempre, pelo menos,
¼ daquela legítima global.

1
O convivente sobrevivo da União de facto, tem, em termos gerais, o direito a exigir alimentos da herança do
falecido, ainda que não se trate de um direito sucessório. O convivente sobrevivo, não sendo herdeiro legal,
pode ser herdeiro testamentário do falecido. A Lei 7/2001, de 11/5 determinou que o convivente sobrevivo
goza do direito de permanência na casa de morada comum e á transmissão do direito de arrendamento (art.º
5.º n.º 1 a 10 da Lei 7/2001, com as alterações dadas pela Lei 23/2010 e pela Lei 2/2016, de 29 fevereiro).

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Se os filhos não puderem ou não quiserem aceitar a herança, o cônjuge concorre com os
descendentes deles (netos), ou seja, os descendentes de segundo grau sucedem por direito de
representação.

Exemplo

António, faleceu em 2020, tendo-lhe sobrevivido o cônjuge e 4 filhos.

O património do casal, era constituído por um imóvel avaliado no montante de € 120 000, o qual
era bem comum, por ter sido adquirido na vigência do matrimónio em 1986.

Deste modo, o valor da herança deixada por António é de € 60 000.

Sendo a legítima global de 2/3 X€ 60 000 = € 40 000, a legítima subjetiva do cônjuge, vulgarmente
designada de legitimária, é de ¼ de € 40 000, ou seja €10 000.

Por sua vez, a legítima subjetiva de cada filho é de € 7 500, ou seja:

(40 000 - € 10 000) = € 30 000/4

A parte correspondente sucessão legitima da herança, também conhecida por quota disponível,
corresponde 1/3 da herança, o que neste caso serão € 20 000, pelo que a parte do cônjuge é o
valor correspondente a ¼ , ou seja € 5000.

Por sua vez, a legítima de cada filho é de € 3 750, resultado de:

(20 000 - € 5 000) = € 15 000/4

Deste modo ao cônjuge, cabem € 10 000 por sucessão legitimária e € 5 000 por sucessão legítima,
a cada descendente cabe € 7 500 por sucessão legitimária e € 3 750, por sucessão legítima.

Assim, da herança de António, cabe € 15 000 ao cônjuge e € 11 250 a cada descendente.

Se posteriormente, a herança indivisa alienasse o referido imóvel, os filhos teriam de declarar no


anexo respetivo (anexo G), o valor de venda proporcional á respetiva quota hereditária.

O cônjuge teria de declarar os 50% correspondentes á sua parte do imóvel, no anexo G1, uma vez
que a aquisição foi anterior a 1-1-1989. O valor correspondente a ¼ do valor da venda efetuada
pela herança deverá ser declarada, no anexo G, uma vez que adquiriu o direito, pelo falecimento do
cônjuge ocorrido em 2020.

2.6. SENDO HERDEIROS, O CÔNJUGE E ASCENDENTES


A legítima do cônjuge e dos ascendentes, em caso de concurso, é de 2/3 da herança (art.º 2161º
do C.C.). Se não houver descendentes e o autor da sucessão deixar cônjuge e ascendentes, ao
cônjuge pertencerão 2/3 partes e aos ascendentes 1/3 (art.º 2142.º do C.C.).
Na falta de cônjuge, os ascendentes são chamados á totalidade da herança ( art.º 2142 n.º 2 do
CC).

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Exemplo

Manuel faleceu, sem descendentes, tendo-lhe sobrevivido o cônjuge e os pais:

O património do casal, era constituído por um imóvel avaliado no montante de € 90 000, o qual era
bem comum, por ter sido adquirido após o matrimónio.

Deste modo, o valor da herança deixada por Manuel é de € 45 000.

Sendo a legítima global de 2/3 x € 45 000= € 30 000, a quota disponível é de € 15 000, a legítima
subjetiva do cônjuge é de € 20 000 (2/3 x € 30 000), por sua vez a legitima dos ascendentes é de
1/3, ou seja, € 10 000 (1/3X€30 000).

Assim, ao cônjuge cabem € 20 000, por sucessão legitimária e € 10 000 por sucessão legítima, num
total de € 30 000.

Aos ascendentes cabem € 10 000 por sucessão legitimária e € 5 000 por sucessão legítima, num
total de € 15 000.

2.7. SENDO HERDEIROS, OS DESCENDENTES ( OU ADOTADOS)

Não havendo cônjuge sobrevivo, a legítima dos filhos é de ½ ou 2/3 da herança, conforme exista
um só filho ou existam dois ou mais (art.º 2159.º do C.C.).

Ao descendente herdeiro único caberá toda a herança, ½ por sucessão legitimária e ½ por sucessão
legítima. Havendo dois ou mais herdeiros descendentes, a legítima é de 2/3, e a herança divide-se
pelos filhos em partes iguais, 2/3 por sucessão legitimária e 1/3 por sucessão legítima.

Resumindo, no caso de filhos o seu quinhão hereditário (soma da legitimária e da legítima) será
dividido em partes iguais. Caso os filhos não puderem ou não quiserem aceitar a herança, são
chamados á sucessão, por direito de representação, os seus descendentes (netos).

2.8. SENDO HERDEIROS, OS IRMÃOS E SEUS DESCENDENTES

Na falta de cônjuge, descendentes e ascendentes, são chamados à sucessão os irmãos, ou os seus


descendentes por direito de representação, caso os mesmos, não possam aceitar a herança.

Se concorrerem à sucessão irmãos germanos (filhos do mesmo pai e mãe) e irmãos consanguíneos
(irmãos por parte de pai) ou uterinos (irmãos por parte de mãe), o quinhão hereditário de cada um
dos irmãos germanos, ou dos seus descendentes que os representem, é igual ao dobro do quinhão
de cada um dos outros.

Para o cálculo da quota de cada irmão unilateral (consanguíneo e uterino) poder-se-á utilizar a
seguinte formula:

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Valor da Herança
(número de irmãos germanos x 2) + (número de irmãos unilaterais)

A quota dos irmãos germanos será o dobro do resultado da fórmula supra.

Exemplo

Joaquim faleceu, sem deixar cônjuge, descendentes ou ascendentes sobrevivos. Pelo que apenas
concorrem á sucessão os seus 4 irmãos, 2 dos quais germanos e 2 unilaterais.
A sua herança é constituída por um deposito bancário no valor de 100 000€.
Assim:
Cada um dos irmãos unilaterais terá direito a 16.666,67€; logo
Cada um dos irmãos germanos terá direito a 33.333,34€

2.9. SUCESSÃO DE OUTROS COLATERAIS ATÉ AO 4º GRAU


Na falta de herdeiros das classes anteriores, são chamados á sucessão os restantes colaterais até
ao 4º grau, preferindo os mais próximos. Não há neste caso direito de representação e a partilha
faz-se por cabeça, mesmo quando algum dos herdeiros seja duplamente parente do falecido ( art.º
2148.º)

2.10. QUOTA INDISPONÍVEL


O autor da herança não é livre de distribuir os bens a seu bel-prazer, ainda que exista testamento.
A lei protege o cônjuge, os ascendentes e os descendentes (herdeiros legitimários), garantindo-lhes
uma quota do património.

Trata-se da “quota indisponível” ou “legítima”, que corresponde á parte da herança que foge à livre
disposição do seu titular, e que varia consoante os herdeiros. Para calcular esta quota, há que ter
em conta o valor dos bens na data do óbito e dos doados, as despesas sujeitas a colação
(correspondem às doações feitas em vida a descendentes que sejam herdeiros, e somente a eles,
sendo somadas ao quinhão da pessoa em causa) e as dívidas da herança.

2.11 RENUNCIA DA HERANÇA VERSUS REPÚDIO


O repúdio da herança, é o ato pelo qual o herdeiro responde negativamente ao chamamento,
declarando que rejeita os bens colocados à sua disposição (art. 2062º do Código Civil). A renúncia
de herança é feita em vida e pode ser aplicada quando duas pessoas decidem casar-se, mas não
pretendem tornar-se herdeiras uma da outra em caso de falecimento.

14
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Só após a abertura da sucessão, ou seja, após o falecimento de determinada pessoa, é que


o repúdio da herança tem lugar. O repúdio é irrevogável, mas tem efeitos retroativos, ou seja,
considera-se que o repudiante nunca foi herdeiro desde a data do óbito.

Existindo imóveis no património do falecido, deve constar do documento de repúdio, que o


repudiante tem ou não descendentes para eventual exercício do direito de representação. O repúdio
exige o consentimento de ambos os cônjuges, quando não sejam casados sob o regime da
separação de bens.

O repúdio não pode ser condicional, nem parcial nem tão pouco a termo, no entanto é possível
repudiar a parte da herança deixada por conta da quota disponível e aceitar a parte correspondente
à legítima (ou seja, um herdeiro pode não querer ficar beneficiado em relação aos demais
herdeiros).

O repudiante deixando de ser herdeiro, a sua quota, por acréscimo, será repartida entre os outros
herdeiros, isto é, tanto para o ativo (bens móveis e imóveis herdados) como para o passivo (dívidas
herdadas). Assim, mediante o repúdio, a herança é distribuída aos outros herdeiros até ao quarto
grau da linha colateral ou, em caso de falecimento antecipado destes, aos seus representantes.
Caso não existam familiares sucessíveis, a herança ficará nas mãos do Estado

Em tempo de crise, é cada vez mais frequente, com um custo reduzido em termos de escritura ou
documento particular autenticado, exatamente para não herdar as dívidas da herança.

Ao contrário do que acontece com a renúncia de herança, o repúdio apenas pode ser concretizado
após o falecimento da pessoa e o mesmo é irrevogável, ou seja, após rejeitar a herança, não pode
voltar atrás na sua decisão. O herdeiro não pode rejeitar a herança condicional ou parcialmente –
quer isto dizer que ao repudiar a herança, está a rejeitar todos os bens (imóveis e móveis) a que
teria direito, bem como dívidas ou outros encargos.

Resumindo tanto a renúncia de herança, como o repúdio consistem na rejeição da mesma, no


entanto são aplicados em contextos diferentes.

A renúncia é um acordo antenupcial consagrado entre duas pessoas que se vão casar, no qual
decidem não se tornarem herdeiras uma da outra após o falecimento, ao passo que o repúdio
consiste na rejeição da herança por parte de um herdeiro após o falecimento do autor da sucessão.

15
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2.12. REPRESENTAÇÃO DA HERANÇA INDIVISA

Muitas heranças exigem uma gestão cuidada até à partilha. Basta comparar com uma empresa que
fica sem o seu responsável. Esta tarefa é da responsabilidade do cabeça-de-casal, que será, pela
seguinte ordem:
• o cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e bens, se for herdeiro ou tiver
direito a metade dos bens do casal (meação);
• o testamenteiro, salvo declaração do falecido em contrário;
• os parentes, desde que herdeiros legais. A atribuição é feita ao mais próximo, ou, ao que
vivia com o falecido há, pelo menos, um ano;
• os herdeiros testamentários.

Se o património foi todo distribuído em legados, o cargo pertencerá ao legatário mais beneficiado.
Trata-se daquele que sucede em bens determinados (por exemplo, uma coleção de moedas), e não
em partes do património. Em igualdade de circunstâncias, o mais velho.

Se nenhum dos herdeiros quiser esta responsabilidade, é preferível entregar a administração da


herança a outra pessoa (mesmo que não seja herdeiro), mas tem de haver unanimidade. Caso
contrário, o tribunal terá de designar um dos herdeiros.

Só em condições especiais o herdeiro designado poderá recusar o cargo. Por exemplo, se tiver
mais de 70 anos ou uma doença que impossibilite tais funções.

Caso um dos herdeiros se sinta lesado com a atuação do cabeça-de-casal e pretenda afastá-lo,
deve solicitá-lo no processo de inventário (o Ministério Público poderá tomar a iniciativa, caso tenha
intervenção principal). Terá de alegar e provar uma das seguintes situações:
• o cabeça-de-casal oculta bens ou doações feitas pelo falecido e/ou indica doações ou
encargos inexistentes;
• administração do património hereditário sem prudência nem zelo;
• revela incompetência para o exercício do cargo.

O cabeça de casal tem poderes de administração da herança, até à sua liquidação e partilha (artº
2079º do CC), pelo que tem, legitimidade para intervir nos procedimentos tributários e processos
tributários, em representação da herança, de acordo com o disposto nos art.º 3º, nº 1 do CPPT, 15º
e 16º, nº 3, ambos da Lei Geral Tributaria (LGT).

16
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3. ENQUADRAMENTO FISCAL E OBRIGAÇÕES DE HERANÇA INDIVISA

A herança indivisa é considerada, para efeitos de tributação, como uma situação de contitularidade.
Assim, cada herdeiro é tributado relativamente à sua quota-parte dos rendimentos por ela gerados,
atento o disposto no artigo 19º do CIRS.

Nos termos do art.º 19.º do Código do IRS, os rendimentos que pertençam em comum a várias
pessoas são imputados a estas na proporção das respetivas quotas, que se presumem iguais
quando indeterminadas.

Incluem-se neste preceito, portanto, as situações de contitularidade, onde se incluem as heranças


indivisas, ou seja, aquelas que tenham sido aceites, mas ainda não partilhadas (herança aberta,
aceite e ainda não partilhada).

3.1. IMPOSTO SOBRE RENDIMENTO PESSOA SINGULARES – IRS

Em IRS existem três situações que determinam uma operação designada "imputação de
rendimentos":
1. Os rendimentos em regime de contitularidade;
2. Os rendimentos abrangidos pelo regime de transparência fiscal (transparência fiscal
interna);
3. E o regime de imputação de lucros de sociedades residentes em países com regime fiscal
privilegiado (transparência fiscal internacional)

Nestas situações, a lei determina que rendimentos gerados por patrimónios autónomos ou por
pessoas juridicamente distintas, sejam tributados na esfera dos titulares do correspondente direito,
seja por via de uma relação sucessória ainda não extinta por partilha, seja por via de uma relação
social, determinada pela titularidade de uma participação social.

Importa analisar em especial, os procedimentos declarativos a seguir no caso de no acervo da


herança existir um património comum gerador de rendimentos empresariais, assim:

3.1.1. RENDIMENTOS DA CATEGORIA B – RENDIMENTOS EMPRESARIAIS

A herança indivisa é considerada, para efeitos de tributação, como uma situação de contitularidade.
Assim, cada herdeiro é tributado relativamente à sua quota parte dos rendimentos por ela gerados,
atento o disposto no artigo 19º do Código do IRS.

17
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3.1.1.1 OBRIGAÇÕES CADASTRAIS


✓ QUANDO O AUTOR DA SUCESSÃO ERA TITULAR DE RENDIMENTOS EMPRESARIAIS

No caso de herança indivisa, em que o autor da sucessão era o titular dos rendimentos
empresariais, não há lugar à cessação de atividade do falecido empresário em nome individual e
consequente início de atividade por parte dos herdeiros que, em conjunto, continuam a atividade
anteriormente desenvolvida (herança indivisa).

No entanto, face à atribuição de número fiscal, por parte da Autoridade Tributaria (ao invés do
Ministério da Justiça, como foi em tempos idos), à referida herança (Gama 7XXX), haverá lugar à
entrega de uma Declaração de Alterações, onde se indicará, para além da mudança do número de
identificação fiscal, o novo tipo de sujeito passivo.

✓ QUANDO O AUTOR DA SUCESSÃO NÃO ERA DETENTOR DE RENDIMENTOS


COMERCIAIS

Estão inseridos neste grupo as situações em que o autor da sucessão auferia rendimentos
designados por profissionais e as situações em que existem imóveis.

Neste caso a atribuição de NIF é da competência da AT (Gama 7xxx).

✓ QUANDO O CÔNJUGE SOBREVIVO É O TITULAR DOS RENDIMENTOS COMERCIAIS

Nas situações em que não é o autor da sucessão que desenvolve a atividade comercial, industrial
ou agrícola, mas sim o cônjuge sobrevivo, e de forma a que este possa continuar o desenvolvimento
dessa atividade, deve proceder-se da seguinte forma:

IDENTIFICAÇÃO

A atribuição de NIF às heranças indivisas em que o cônjuge sobrevivo, é o titular dos rendimentos
comerciais, é efetuada pelos Serviços de Finanças (Gama 70xx).

ATIVIDADE
Para continuação do desenvolvimento da atividade pelo cônjuge sobrevivo deve proceder-se da
seguinte forma:

1. Cessação de atividade do cônjuge sobrevivo;


2. Início de Atividade da herança indivisa;
3. Cessação da herança indivisa assim que ocorra a partilha;
4. Eventual reinício de atividade pelo cônjuge sobrevivo.

18
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

De notar que, nos casos em que o regime de casamento seja o de separação de bens e uma vez
que o património não faz parte da herança indivisa, não haverá lugar à cessação de atividade do
empresário.

Nos quadros seguintes, poder-se-ão observar as obrigações declarativas das heranças indivisas:

ÓBITO DO TITULAR DOS RENDIMENTOS EMPRESARIAIS


Obrigações relativamente ao Cadastro

FALECIDO / CÔNJ SOBREVIVO Entrega de Declaração de Alterações com vista à mudança de


NIF do falecido para o NIPC da herança

HERANÇA INDIVISA A obtenção do NIPC para a herança indivisa é feita junto de


um Serviço de Finanças previamente à entrega da Declaração
de Alterações mencionada no quadro anterior

Obrigações relativamente ao IVA

FALECIDO/CÔNJ SOBREV. Entrega da Declaração Periódica, para o último período de


imposto, que será até á data óbito

HERANÇA INDIVISA Passa a entregar as Declarações Periódicas para os períodos


de imposto seguintes ao da data do óbito.

Obrigações relativamente ao IRS

Entrega da declaração Mod.3 do agregado familiar,


relativamente a todos os rendimentos empresariais obtidos
FALECIDO/CÔNJ SOBREVIVO
durante o ano (anexos B ou C), acompanhada dos Anexos I e
D

HERANÇA INDIVISA Cada herdeiro entregará, com a sua Mod.3, anexo D,


relativamente à sua parte, a partir da data do óbito.

Logo que ocorra a partilha, deve ser apresentada declaração de cessação, para a herança indivisa
e o início relativamente ao herdeiro a quem foi adjudicada a atividade empresarial.

CÔNJUGE SOBREVIVO TITULAR DOS RENDIMENTOS EMPRESARAIS


Obrigações relativamente ao Cadastro
CÔNJUGE SOBREVIVO Entrega da Declaração de Cessação para o cônjuge sobrevivo

HERANÇA INDIVISA Obtenção de NIF para a herança indivisa


Entrega de declaração de Inicio para a herança indivisa

Obrigações relativamente ao IVA

CÔNJUGE SOBREVIVO Entrega da DP, para o período de imposto até data óbito

HERANÇA INDIVISA Passa a entregar as DP para os períodos de imposto


seguintes ao da data do óbito.

19
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Obrigações relativamente ao IRS

Entrega da declaração Mod.3 do agregado familiar,


relativamente a todos os rendimentos empresariais obtidos
CÔNJUGE SOBREVIVO
durante o ano (anexos B ou C), acompanhada dos Anexos I e
D

HERANÇA INDIVISA Cada herdeiro entregará, com a sua Mod3, o anexo D,


relativamente à sua parte, a partir da data do óbito.

Logo que ocorra a partilha, deve ser apresentada declaração de cessação, para a herança indivisa
e o reinício do cônjuge sobrevivo.

FICHA DOUTRINÁRIA
Enquadramento de herança indivisa
Processo: nº 3394, despacho do SDG dos Impostos, substituto legal do Diretor-Geral, em 2012-07-
23.

Conteúdo: Tendo por referência o pedido de informação vinculativa solicitada via internet pelo TOC
do sujeito passivo Maria …. - CABEÇA DE CASAL DA HERANÇA INDIVISA DE, NIF 706…, ao abrigo
do art° 68° da Lei Geral Tributária (LGT), informa-se o seguinte. I - Do pedido

1. O requerente, TOC do sujeito passivo, vem solicitar esclarecimentos sobre o enquadramento em


sede de IVA da seguinte situação fiscal:

1.1. "À data de 1996/10/07 há o falecimento de Maria …, casada com José ……. em regime geral de
bens, sendo este último Empresário em Nome individual (ENI), NIF 125……";

1.2. Nessa mesma data deveria, em consequência do seu estado civil e regime de casamento, ter
cessado a atividade de ENI para passar a herança indivisa";

1.3. "Acontece que até 2009/03/17 nunca esta herança esteve registada, tendo sido sempre o viúvo
tributado em sede de IVA e só em 2011/01/21 se procedeu á entrega da declaração de início de
atividade da herança Indivisa, reportada à data de 1996/10/07, momento do falecimento";

1.4. Assim sendo, há declarações fiscais não entregues, da parte da herança, em nome do ENI, mas
que não o deveriam ser e além disso, em 2011/03/06 dá-se o falecimento do viúvo".

II - Enquadramento face ao Código do IVA e restante legislação aplicável

2. Na sequência das alterações ao Regime Nacional de Pessoas Coletivas, introduzidas pelo art.26º
do Decreto-Lei n 247- B/2008 de 30 de dezembro, o Ficheiro Central de Pessoas Coletivas (FCPC)
deixou de integrar informação relativa às heranças indivisas, deixando, por isso, de atribuir o Número
de Identificação de Pessoas Coletivas (NIPC) a estas entidades.

3. De facto, as alterações produzidas pelo referido diploma, (v.g., à alínea g) e ao nº 2 do art.4º do


D. L. nº 129/98, de 13 de maio), retiraram ao RNPC a possibilidade de atribuir o Número de
Identificação de Pessoa Coletiva às heranças indivisas quando o autor da sucessão fosse um
empresário em nome individual, de resto a única situação em que este NIF era emitido por aquela
entidade.

20
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4. Assim, na sequência do estabelecido pelo D. L. nº 19/97, de 21 de janeiro e na Portaria nº 386/98,


de 3 de julho, a atribuição do NIF a estas entidades - iniciado pelos algarismos 70 - passa a ser
efetuada oficiosamente pela Autoridade Tributária Aduaneira (AT), sendo aplicável a todos os tipos
de herança indivisa.

5. De acordo com o estipulado no Ofício - Circulado nº 90016, de 2010.06.23, da Direção de Serviços


de Cobrança do IVA, o procedimento que vem sendo adotado, quando não é o autor da sucessão
que exerce em nome individual uma atividade sujeita a IVA, mas sim o cônjuge sobrevivo, de forma
a que este possa continuar o desenvolvimento dessa atividade, é o seguinte:

I - Cessação da atividade do cônjuge sobrevivo;

II - Inicio de atividade da herança indivisa; III - Cessação da herança indivisa assim que ocorra a
partilha;

IV - Eventual reinício de atividade pelo cônjuge sobrevivo.

III - Análise da questão suscitada:

6. Através do cadastro informático do Sistema de Gestão e Registo de Contribuintes (SGRC), verifica-


se que o cônjuge sobrevivo foi empresário em nome individual, esteve registado para efeitos de IVA,
pelo exercício da atividade de "Agricultura e produção animal combinadas", CAE 001500, com os
seguintes enquadramentos:

i) Inicia a atividade em 1987.01.01, no regime normal de periodicidade mensal por


opção;
ii) passa ao regime normal de periodicidade trimestral, em 1989.07.01.
7. Relativamente à respetiva conta corrente, verifica-se que cumpriu as obrigações previstas no
Código do IVA para os sujeitos passivos do regime normal de periodicidade trimestral,
nomeadamente, a entrega das declarações periódicas até ao primeiro trimestre de 2011 (11 03T).

8. Como já foi referido, a competência para atribuição do NIF, no caso de herança indivisa de que
fizesse parte o exercício de atividade sujeita a IVA passou a ser da AT, pelo que, corretamente, lhe
foi atribuído o NIF 706……. Contudo, esse procedimento, apenas se verificou em 2011.01.31 como
consta no cadastro informático da referida herança.

9. Também, de acordo, com o nº 2.1 do citado Ofício - Circulado 90016, não há lugar à cessação
de atividade do falecido empresário em nome individual e consequente início de atividade por parte
dos herdeiros que, em conjunto, continuam a atividade anteriormente desenvolvida (herança
indivisa).

10. Há, sim, lugar à entrega de uma declaração de alterações, onde se indicará, para além da
mudança de número de identificação fiscal, o novo tipo de sujeito passivo, utilizando-se, para o
efeito, o campo 18 do quadro 05, da referida declaração de alterações.

11. Nesse sentido, deveria ter sido entregue nos termos do nº 1 do art.º 32º do CIVA, a respetiva
declaração de alterações nos termos descritos no ponto anterior e não uma declaração de início de
atividade no NIF da herança indivisa.

12. Independentemente de tais operações terem sido feitas na esfera quer do NIF do de cujus ou
da herança indivisa, uma vez que não há uma verdadeira cessação de atividade, a herança deve,

21
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

pois, manter quer a atividade anteriormente exercida quer o enquadramento do empresário em


nome individual que deu origem à referida herança.

13. Também, no mesmo sentido, devem ser consideradas as respetivas contas correntes e tratadas
as respetivas declarações periódicas como se se tratasse de um único sujeito passivo.

14. Contudo, no que concerne à herança indivisa, verifica-se que está registada, para efeitos de
IVA, constando como data de início de atividade: 1996.10.07, encontrando-se enquadrada no
regime de isenção ao abrigo do art. 9º do CIVA, pela atividade de "Extração Cortiça, resina e apanha
out. produção flor, exc.", CAE 002300.

15. Assim sendo, e de acordo com os procedimentos definidos em sede de cadastro já referidos
anteriormente, deve o cadastro da 1ª herança indivisa (706…..) ser corrigido tendo em conta os
elementos do empresário em nome individual (NIF125…….), nomeadamente o CAE e o
enquadramento no regime normal trimestral, tal como constava do cadastro do referido empresário
em nome individual, a que lhe deu origem. 16. Por outro lado, tendo havido o falecimento do
empresário em nome individual em 2011.03.06, foi atribuído o NIF 708…., à herança indivisa de
José …... Nesse sentido, desde que os herdeiros deste continuem, em conjunto, a atividade
anteriormente desenvolvida, mantêm-se as obrigações inerentes ao Código do IVA, no NIF da
correspondente herança indivisa, ou seja NIF 708…..

IV - Conclusões: Em face do exposto podemos concluir o seguinte:

17. De acordo, com o nº 2.1 do Ofício - Circulado 90016, de 2010.06.23, da Direção de Serviços de
Cobrança do IVA, o cônjuge sobrevivo, devia ter procedido de acordo com o descrito no ponto 5
desta informação.

18. Não o tendo feito atempadamente e, inclusive, tendo entregue, erradamente, uma declaração
de início no NIF da primeira herança indivisa com o CAE e enquadramento errados, devem tais
elementos ser corrigidos pela Direção de Serviços de Registo de Contribuintes, nos termos do ponto
15 desta informação, a fim de ser regularizada a situação da mesma.

19. Tendo, posteriormente havido o falecimento do empresário em nome individual e desde que os
herdeiros deste continuem, em conjunto, a atividade anteriormente desenvolvida, devem proceder,
ainda, à entrega da declaração de cessação de atividade nos termos do nº 1 do art. 34º do CIVA,
para o NIF 706…….., cessando a atividade na data do óbito do falecido empresário em nome
individual (2011.03.06), bem como entregar uma declaração de inicio reportada à mesma data,
para a herança indivisa com o NIF 708…….., sem prejuízo das penalidades que ao caso couber.

20. Da presente informação, deve ser dado conhecimento à Direção de Registo de Contribuintes (a
fim de ser corrigido o enquadramento da herança indivisa, NIF 706……, (como referido no ponto
15), à Direção de Serviços de Cobrança, assim como ao Serviço de Finanças de Lisboa 11.

Ofício n.º: 90016 de 2010-06-23


ATRIBUIÇÃO DE NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO FISCAL ÀS HERANÇAS INDIVISAS /
DECLARAÇÕES DE ACTIVIDADE
Na sequência das alterações ao regime do Registo Nacional de Pessoas Coletivas, introduzidas pelo
art.º 26º do Decreto – Lei nº 247-B/2008 de 30 de dezembro, o Ficheiro Central de Pessoas Coletivas

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

(FCPC) deixou de integrar informação relativa às heranças indivisas, deixando por isso de atribuir o
Número de Identificação de Pessoas Coletivas (NIPC) a estas entidades.
Nestes termos, sendo conveniente adaptar os procedimentos da Administração Fiscal relativos a esta
matéria a uma nova realidade, juntando num único documento as orientações no que respeita à
atribuição do Número de Identificação Fiscal destas entidades, bem como à repercussão que as
diferentes origens das heranças indivisas têm a nível das declarações de atividade, determina-se o
seguinte:
1. ATRIBUIÇÃO DE NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO FISCAL
As alterações introduzidas pelo art.º 26º do diploma supramencionado à alínea g) e ao nº 2 do art.º
4º do Decreto – Lei nº 129/98, de 13 de maio, retiraram ao RNPC a possibilidade de atribuir NIPC
às heranças indivisas, quando o autor da sucessão seja empresário individual, (única situação em
que este NIF era emitido por aquela entidade).
Assim, e na sequência do estabelecido pelo Decreto-Lei nº 19/97, de 21 de janeiro, e na Portaria nº
386/98, de 3 de julho, a atribuição do NIF destas entidades - iniciado pelos algarismos 70 - passa a
ser efetuada oficiosamente pela DGCI, em qualquer Serviço de Finanças, sendo aplicável a todos os
tipos de herança indivisa.
1.1 PROCEDIMENTOS NA APLICAÇÃO INFORMÁTICA DO SGRC
Para este efeito, deverão os Serviços de Finanças, aceder na aplicação informática do SGRC, à
recolha na área da Identificação, optando pela vertente Heranças Indivisas / Inscrição de Herança
Indivisa, devendo ser preenchidos obrigatoriamente, os seguintes dados:
• Número fiscal do autor da herança (deverá proceder-se à inscrição oficiosa de Contribuinte
Singular, quando este ainda não tiver número fiscal atribuído);
• Número fiscal do Cabeça de Casal;
• Identificação de todos os Herdeiros (incluindo o Cabeça de Casal);
• Código do Serviço de Finanças (respeitante ao domicílio do Autor da Herança)
2. DECLARAÇÕES DE ACTIVIDADE
2.1 Autor da sucessão, titular de rendimentos industriais, comerciais ou agrícolas
Sempre que se esteja perante heranças indivisas cujo autor da sucessão desenvolvesse uma
atividade de âmbito comercial, industrial ou agrícola, a alteração, a nível cadastral será efetuada
através da apresentação de uma declaração de alterações onde se indicará, para além da mudança
do número de identificação fiscal, o novo tipo de sujeito passivo, utilizando-se, para o efeito, o
campo 18 do quadro 05.
2.2 Cônjuge sobrevivo com rendimentos industriais ou comerciais
Nas situações em que não é o autor da sucessão que desenvolve a atividade comercial, industrial
ou agrícola, mas sim o cônjuge sobrevivo, e de forma a que este possa continuar o desenvolvimento
dessa atividade, deve proceder-se da seguinte forma:

23
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

I – Cessação de atividade do cônjuge sobrevivo;


II – Início de Atividade da Herança Indivisa;
III – Cessação da Herança Indivisa assim que ocorra a partilha;
IV – Eventual reinício de atividade pelo cônjuge sobrevivo.
De notar que nos casos em que o regime de casamento seja o de separação de bens e uma vez que
o património não passa para a herança indivisa, não haverá lugar à cessação de atividade do
empresário.
São revogados:
- O nº4 do Ofício-Circulado nº 9888, de 25 de janeiro de 1989 – DSIVA

- O Ofício-Circulado nº 10018 de 27 de julho de 2000 (no que se refere aos procedimentos relativos
às heranças indivisas)

- O Ofício-Circulado nº 98443 de 9 de julho de 2004

- O Ofício-Circulado nº 90003 de 26 de julho de 2005

3.1.1.2 OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS – RENDIMENTOS OBTIDOS


Cumpre ao cabeça de casal ou administrador contitular da herança indivisa apresentar, na sua
declaração anual de rendimentos, ainda que em anexo autónomo, a demonstração dos lucros ou
prejuízos apurados no património comum, identificando os restantes contitulares e a respetiva
quota-parte nesses mesmos lucros ou prejuízos.

Cumpre a cada contitular declarar, no anexo próprio, apenas a sua quota-parte nos rendimentos
gerados pela herança indivisa, identificando, por sua vez, o cabeça de casal ou administrador
contitular a quem incumbir a apresentação da totalidade dos elementos contabilísticos

Em termos práticos, os procedimentos serão os seguintes:


1. Cada contitular englobará a parte do lucro tributável que lhe couber, na proporção das
respetivas quotas hereditárias, mediante a apresentação do anexo respetivo (Anexo D), em
conjunto com a declaração modelo 3;
2. Incumbe ao cabeça de casal ou administrador da herança apresentar na sua declaração de
rendimentos a totalidade dos elementos contabilísticos exigidos, para determinação do
rendimento líquido da categoria B, nela identificando os restantes contitulares e a parte que
lhes couber. Este procedimento é efetuado mediante apresentação de anexos próprios, em
função de o estabelecimento estar no Regime simplificado ou no Regime normal de
tributação, que evidenciará os elementos necessários para a determinação do rendimento
líquido, e de um outro anexo, onde serão identificados todos os contitulares e será feita a
imputação não apenas do rendimento, mas também dos montantes dedutíveis
(nomeadamente por retenções na fonte) a que tenham direito (art.º 57. ° n.º 3);

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Deste modo, deverá o cabeça - de - casal ou administrador da herança indivisa, apurar o rendimento
líquido da atividade empresarial no Anexo C e indicar a totalidade do valor de rendimentos obtidos
pela herança para aplicação dos coeficientes no anexo B, conforme o enquadramento da herança.

No Anexo I, imputará a cada um dos herdeiros a sua quota-parte, imputando ao cônjuge falecido,
no ano óbito, o valor respeitante ao período compreendido entre 1 de janeiro e a data do óbito, no
caso de tributação separada.

No ano em que ocorreu o óbito, o cônjuge sobrevivo, deverá declarar, no Anexo D, os rendimentos
e deduções que lhe foram imputados conjuntamente com os auferidos pelo cônjuge falecido, caso
opte pela tributação conjunta.

Cada um dos herdeiros deverá preencher o anexo D onde incluirá os rendimentos imputados de
acordo com a sua quota na herança.
FICHA DOUTRINÁRIA
Aplicabilidade do regime de neutralidade fiscal nos casos de sociedades, por parte de
heranças indivisas
Processo: 5487/2007, da DSIRS, com despacho concordante do substituto legal do Diretor-Geral,
datado de 14/10/2010
Conteúdo: Quando perante a constituição de uma sociedade comercial pelo(a)s herdeiro(a)s de uma
herança indivisa, com transferência para o património da sociedade a constituir, de todo o ativo e
passivo associado ao exercício da mesma atividade empresarial ou profissional do sujeito passivo
falecido, não se aplica o regime de neutralidade disposto no art.38º do CIRS. Dependendo a
aplicação daquele regime do cumprimento cumulativo das condições previstas nas diversas alíneas
daquele artigo – identidade do sujeito, da atividade e do património -, nestes casos específicos não
estaremos perante a identidade de sujeito, conforme prevê a alínea b) do artigo em questão, ou
seja, em que pelo menos 50% da sociedade resultante da transmissão do património afeto ao
exercício de uma atividade empresarial e profissional seja detida pela pessoa singular transmitente.

De facto, não se trata de uma simples alteração de formato jurídico ao abrigo do qual uma pessoa
singular exerce uma atividade empresarial ou profissional, denotando-se que as pessoas que
constituirão a sociedade e procederão à realização do respetivo capital com o património da pessoa
singular que anteriormente exercia a atividade, divergem desta última. Pelo que, a interpretação
extensiva da norma substantiva em que consiste o artigo 38º do CIRS, não permite a abrangência
de situações de constituição de sociedades na sequência de sucessões e transferência de
patrimónios de heranças indivisas.

25
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3.1.2. IRS - RENDIMENTOS DE OUTRAS CATEGORIAS

Tratando-se de rendimentos das restantes categorias, por exemplo, rendimentos prediais


(Categoria F) e mais-valias (Categoria G), cada contitular englobará os rendimentos ilíquidos e as
deduções legalmente permitidas, na proporção das respetivas quotas hereditárias (art.º 22. ° n.º 2
alínea b).

Este procedimento é efetuado mediante a apresentação, juntamente com a declaração modelo 3,


dos anexos correspondentes aos rendimentos imputados, anexo F – Rendimentos prediais e/ou
anexo G – Mais-Valias, rendimentos provenientes da alienação do imóvel.

Por exemplo, uma herança cujo património é pertença de 4 irmãos, em que cada um tenha uma
quota hereditária correspondente a 1/4, o rendimento a declarar por cada um, no anexo respetivo,
será o correspondente a ¼ (25%) do valor total de rendimento obtido, pelos bens da herança.

3.1.2.1. – RENDIMENTO PREDIAIS – CATEGORIA F

ARRENDAMENTO – OBRIGAÇÕES
Estão obrigados à emissão do recibo de renda eletrónico os sujeitos passivos de IRS, titulares de
rendimentos prediais (categoria F), pelas rendas recebidas ou colocadas à disposição, ainda que a
título de caução ou adiantamento (n.º 5 art.º 115.º do CIRS).

No entanto ficam dispensados, desta obrigação, os sujeitos passivos que cumulativamente:


✓ Não possuam, nem estejam obrigados a possuir caixa postal eletrónica, nos termos do artigo
19.º da Lei Geral Tributária; e,
✓ Não tenham auferido, no ano anterior, rendimentos prediais (categoria F) em montante
superior a duas vezes o valor do IAS (€838,44) ou, não tendo auferido naquele ano qualquer
rendimento desta categoria, prevejam que lhe sejam pagas ou colocadas à disposição
rendas em montante não superior àquele limite.
✓ As rendas correspondentes aos contratos abrangidos pelo Regime do Arrendamento Rural
(Decreto-Lei n.º 294/2009, de 13 de outubro);
✓ Os sujeitos passivos que tenham, a 31 de dezembro do ano anterior àquele a que respeitam
tais rendimentos, idade igual ou superior a 65 anos.
Esta dispensa mantém-se ainda que o sujeito passivo tenha aderido ao serviço viaCTT (caixa postal
eletrónica), por opção ou obrigação.

ARRENDAMENTO – OBRIGAÇÕES HERANÇAS INDIVISAS


A responsabilidade pela submissão da declaração modelo 2 ou do registo dos Elementos Mínimos

26
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

do Contrato cabe ao cabeça-de-casal em nome da herança indivisa.

Neste caso, o declarante pode emitir o recibo de renda eletrónico ou quem tenha sido por ele
autorizado na modelo 2, constando no recibo como locadores aqueles que foram identificados na
modelo 2. Caso o contrato seja anterior a 1 de abril de 2015, o registo dos Elementos Mínimos do
Contrato é efetuado aquando da emissão do primeiro recibo, sendo identificados todos os herdeiros
e as respetivas quotas-partes, podendo o recibo ser emitido pelo cabeça-de-casal em nome da
herança indivisa.

Nos contratos de arrendamento de imóveis pertencentes a uma herança indivisa, cujo cabeça de
casal tenha mais de 65 anos de idade, existe dispensa de emissão do recibo de renda eletrónico,
uma vez que é ao cabeça-de-casal que compete administrar a herança.

No entanto este fica com a obrigação de entregar a declaração modelo 44, até ao fim do mês de
janeiro, com referência ao ano anterior. Pode, no entanto, optar pela emissão de recibos de renda
eletrónicos.

Caso o cabeça-de-casal não tenha mais de 65 anos, não está dispensado da obrigação da emissão
do recibo eletrónico, ainda que qualquer um dos restantes herdeiros tenha mais de 65 anos, uma
vez que é a ele que incumbe a administração da herança indivisa

3.1.2.2 OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS – RENDIMENTOS GERADOS POR BENS IMOVEIS DA HERANÇA


Tratando-se de rendimentos prediais imputáveis à herança indivisa, porque a mesma é
considerada, para efeitos de tributação, em sede de IRS, como uma situação de contitularidade,
cada herdeiro será tributado relativamente à sua quota-parte nos rendimentos por ela gerados,
atento o disposto no artigo 19.º do CIRS.

O que em termos práticos, se consubstancia na entrega do anexo F por cada um dos herdeiros,
em que no Quadro 4 desse anexo, declara o valor correspondente á sua quota parte ( quota-
hereditária) do valor dos rendimentos produzidos pelos imoveis que se encontram inscritos na
matriz em “nome” da herança.

Todavia, segundo a mais recente informação da Direção de Serviços de IRS, a verificar-se uma
situação que se mostre, documentalmente suportada, em que, de entre os herdeiros, só um é
titular efetivo dos rendimentos prediais, ou seja, em que as rendas são pagas ou colocadas à
disposição de um só herdeiro, poder-se-á considerar que o mesmo será o titular efetivo da
totalidade de tais rendimentos.

27
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Acresce que, a forma de documentalmente comprovar o não recebimento de um qualquer


montante a título de rendas poderá consistir, por exemplo, num documento assinado por todos os
herdeiros.

A ser assim, não se encontrarão os demais herdeiros obrigados ao cumprimento de qualquer


obrigação declarativa, designadamente, à apresentação do anexo F, atendendo a que, ainda que
herdeiros, não são titulares/locadores efetivos de um qualquer rendimento predial.

De igual forma, tratando-se de uma situação de compropriedade em que só um dos


comproprietários será locador, auferindo assim, na íntegra, o valor da renda, deverá o mesmo, na
qualidade de declarante/locador, emitir o recibo de renda eletrónico e apresentar o anexo F,
declarando a totalidade das rendas, ficando, assim, os demais comproprietários, sem qualquer
obrigação declarativa, relacionada com o arrendamento do imóvel que esteja causa, uma vez que
os rendimentos prediais são imputados aos titulares efetivos de tais rendimentos.

3.2. IMPOSTO DE SELO – IS

3.2.1. HABILITAÇÃO DE HERDEIROS


Quando há vários herdeiros, um deles assume as funções de cabeça de casal, a quem cabe a
administração da herança até à sua partilha. Por norma, havendo cônjuge sobrevivo é ele que fica
responsável por essa tarefa. Na falta do cônjuge, é o filho mais velho a assumir as
responsabilidades.

A habilitação de herdeiros pode ser feita num cartório notarial ou num balcão de heranças,
disponíveis em várias conservatórias, espaços de registo e lojas do cidadão em todo o território
nacional. Este documento identifica os herdeiros do falecido e serve para que estes possam registar
os bens em seu nome.

Para tratar da habilitação de herdeiros, é necessário apresentar os documentos de identificação e


as certidões de nascimento de todos os herdeiros, bem como a certidão de óbito que comprova o
falecimento do familiar. Se optar pelo balcão de heranças, não necessita de levar todas estas
certidões, pois podem ser consultadas na ocasião. Sendo a habilitação de herdeiros efetuada num
cartório notarial, terão que ser apresentadas todas as certidões, que pode obter previamente nas
conservatórias de registo civil, nos postos de atendimento dos registos e lojas do cidadão, ou ainda
através da internet.

Regra geral, os pais representam os filhos e administram os seus bens até que eles atinjam os 18
anos. No entanto, há limitações no caso das heranças. Os pais só podem recusar uma herança
atribuída a um filho menor de idade (por exemplo, por uma tia que faleceu) se o tribunal autorizar.

28
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ao fazê-lo, o tribunal toma a decisão, em função do que considerar mais conveniente ao menor no
caso em concreto.

3.2.2. PARTICIPAÇÃO DO ÓBITO Á AT – FORMALIDADES E PRAZO

O cabeça de casal deve apresentar a participação até ao final do 3.º mês seguinte após o
falecimento em qualquer serviço de finanças, apresentando o modelo 1 do Imposto do Selo. Para
esse efeito, deve ser portador da certidão de óbito e dos cartões de cidadão da pessoa falecida e
de cada um dos herdeiros. Se existir um testamento ou uma escritura de doação, estes terão de ser
igualmente apresentados.

Simultaneamente, deve ser entregue o Anexo 1, com uma listagem dos bens do falecido (relação
de bens) e o respetivo valor.

As transmissões a favor do cônjuge, unido de facto (transmissões após 1 de janeiro de 2009), filhos,
netos, pais e avós, etc. estão isentas de Imposto de Selo. O mesmo já não acontece, quando os
herdeiros são, por exemplo, irmãos ou sobrinhos do falecido. Nestes casos é devido imposto de
selo à taxa de 10%, sobre o valor total dos bens declarados.

3.2.2. VALOR DO IMPOSTO

A taxa de imposto de selo é sempre de 10%. Imaginando que a herança é composta apenas por
um deposito bancário no valor de € 200 mil, o valor a pagar seria € 20 mil (200 mil × 10%) de imposto
de selo.

3.2.3. BENS NÃO SUJEITOS

Nem todos os bens ou rendimentos estão sujeitos a Imposto de Selo, será o caso de dividendos de
ações; bens pessoais (roupa, calçado, relógios, etc.) ou domésticos (eletrodomésticos, mobílias,
etc.); fundos de poupança-reforma e educação, de poupança em ações, de pensões ou de
investimento mobiliário e imobiliário; créditos provenientes de seguros de vida, de pensões e de
subsídios da Segurança Social.

3.2.4. BENS SUJEITOS A PARTICIPAÇÃO

Cabe à pessoa que gere o património do falecido até à partilha (denominado “cabeça-de-casal”)
declarar bens, como apartamentos e terrenos, entre outros imóveis, automóveis, barcos, motos e
todos os bens móveis sujeitos a registo. Apenas se consideram não sujeitos, os bens referidos no
item anterior.

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Para tal, é necessário preencher a declaração de modelo 1 do imposto de selo e respetivos anexos.
Os anexos I e II são obrigatórios. Já o III só é necessário quando haja mais de quatro herdeiros.
Poder-se-á encontrá-los nos serviços de finanças, ou imprimi-los através do Portal da Autoridade
Tributária e Aduaneira.

3.2.5. PRORROGAÇÃO EXCECIONAL DO PRAZO PARTICIPAÇÃO

Como supra se referiu, a pessoa que gere o património até à partilha, tem de comunicar o
falecimento ao serviço de finanças. Esta participação é feita no modelo 1 do imposto de selo,
indicando, entre outros, o autor da sucessão, a data e o local do óbito, os sucessores, o parentesco,
o património e o seu valor (vulgarmente chamada de “relação de bens”). A participação deve ser
apresentada até ao final do 3.º mês seguinte ao óbito, sendo os prazos por norma, improrrogáveis,
no entanto, em circunstâncias excecionais, poderá ser prolongado, no máximo, por 60 dias (n.º 5
art.º 26.º CIS).

Se a participação não for feita, a AT efetuará liquidação oficiosa, o que levará a que mesmo que
não exista valor de imposto a pagar, por se tratar de sucessíveis diretos, haverá sujeição á aplicação
de uma coima, que pode variar ente, 100€ a 2500 €.

3.2.6. CÁLCULO DO VALOR DOS BENS


Para apurar o valor sujeito a imposto, tem-se em conta a natureza dos bens ou direitos transmitidos,
entre outros.

Nos bens imóveis, será tido em conta:


✓ o valor patrimonial tributário, segundo as regras do IMI, inscrito na matriz na data da
transmissão;
✓ nos prédios omissos, inscritos sem valor patrimonial ou não atualizado pelas regras do IMI,
o valor determinado por avaliação ou o declarado, consoante o que for maior.

Nos bens móveis, recorre-se ao seu valor oficial (cotação do ouro, por exemplo), se existir, ou o
declarado, consoante o maior, devendo aproximar-se ao valor de mercado. Será o caso dos
automóveis, motociclos, aeronaves de turismo e barcos de recreio automóveis.

3.2.7. PAGAMENTO DO IMPOSTO


O cabeça-de-casal recebe uma notificação para pagar o imposto relativo à totalidade dos bens da
herança. Após o que, deverá fazer contas com os restantes beneficiários.

Caso não concorde com o valor apurado, poderá reclamar ou impugnar, no prazo de 120 dias a
partir do termo do prazo para pagamento voluntário da primeira ou da única prestação do imposto,

30
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Sempre que o valor do imposto de selo for superior a mil euros, o serviço de finanças irá proceder
à sua cobrança em prestações. Podem ser até 10 prestações, com um mínimo de € 200 cada. A
primeira, 2 meses após a notificação e, as restantes, de 6 em 6 meses.

O pagamento a pronto, beneficia de uma redução de 0,5% sobre a importância de cada uma das
prestações em que o imposto tivesse de ser dividido, com exceção da primeira. Deve ser
comunicado ao serviço de finanças, até 15 dias após o recebimento da notificação, caso pretenda
efetuar o pagamento do imposto de pronto. Na falta de tal comunicação, o mesmo será pago em
prestações.

3.2.8. CADUCIDADE DO DIREITO À LIQUIDAÇÃO


Nos termos do art.º 39.º do CIS, no caso das transmissões gratuitas, ou seja, doações ou heranças,
o prazo de liquidação é de oito anos contados da transmissão, dito de outra forma, não existindo
nenhuma situação anómala (inventários judiciais, herdeiros ausentes ou desconhecidos, mortes
presumidas, etc.), o prazo de caducidade do Imposto de Selo é de 8 anos a contar da data do óbito ou
da doação, no caso de uma transmissão intervivos.

3.3. IMPOSTO MUNICIPAL S/ IMOVEIS – IMI

3.3.1. IMOVEIS - PROPRIEDADE DE HERANÇAS INDIVISAS


Quando no acervo da herança indivisa se encontram imóveis, após a participação e instauração do
processo de Imposto de Selo, os mesmos são inseridos na matriz predial, com a indicação, “Cabeça-de-
casal da herança de…», com o NIF atribuído pelo serviço de finanças á herança indivisa.

Deste modo o imóvel será, nos termos do nº 1 do art 81º do CIMI, inscrito na matriz, pela sua
totalidade, em nome do autor da herança com o aditamento Cabeça de Casal da Herança e com o
respetivo nº de identificação fiscal da herança indivisa, até que seja efetuada a respetiva partilha,
altura em que será atualizada a matriz em conformidade.

Compete ao serviço de finanças da área de territorial de localização do imóvel a alteração da matriz


predial dos prédios inscritos em nome do autor da herança, o número de identificação fiscal atribuído à
herança indivisa, por norma a pedido do serviço de finanças onde foi efetuada a participação do óbito.
O documento de pagamento do IMI, será remetido para o domicílio do cabeça de casal e pago pelo
mesmo, com os rendimentos produzidos pela herança.

Quando os prédios que integram a herança forem transmitidos para um único herdeiro serão inscritos
na matriz predial respetiva nesse nome.

31
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3.3.2. IMOVEIS – BENS COMUNS DO CASAL


Os imóveis adquiridos na constância de matrimónio, celebrado segundo os regimes da comunhão
de adquiridos ou da comunhão geral de bens são, por força daqueles regimes, bens comuns do
casal, cabendo a sua administração a qualquer dos cônjuges.

Assim, sendo os prédios propriedade da “sociedade conjugal”, são os mesmos inscritos na matriz
em nome de um dos cônjuges, conforme o averbamento seja efetuado com base em:
1. Pedido de averbamento feito pelos titulares na sequência da aquisição – nome que primeiro
constar no pedido e no título aquisitivo;
2. Elementos constantes na declaração modelo 11 efetuada pela entidade interveniente no ato,
que normalmente é o NIF (Número de Identificação Fiscal) do cônjuge que consta como
sujeito passivo na correspondente liquidação de IMT ou;
3. Nome do adquirente que primeiro constar no título de aquisição, quando o averbamento é
efetuado oficiosamente com base em título.

Após a atualização da matriz e até nova transmissão do prédio, figurará como sujeito passivo aquele
em nome de quem o prédio foi inscrito, só se alterando a mesma com base em novo título aquisitivo,
uma vez que até lá não há lugar a qualquer alteração de sujeito passivo do imposto.

Esta situação não faz do sujeito passivo do imposto único proprietário do prédio, uma vez que por
força do regime de casamento o prédio é bem comum do casal.

3.4. ADICIONAL DE IMI - AIMI

Com a entrada em vigor do adicional ao imposto municipal sobre imóveis (AIMI), o conjunto de
imóveis que integram os bens a ser partilhados, no âmbito de uma herança indivisa, pode ser sujeito
a tributação efetiva no AIMI, quando a soma dos valores patrimoniais tributários de tais imóveis,
excedam os 600.000€ (taxa de 0,7%), sendo equiparado a uma pessoa coletiva.

No entanto, as heranças indivisas têm tratamento específico nesta matéria, permitindo que esta
equiparação a pessoa coletiva (para efeitos de AIMI), seja afastada desde que sejam cumpridos os
seguintes requisitos declarativos:

1. O cabeça-de-casal entregue declaração, por via eletrónica, identificando todos os herdeiros


e as suas quotas nessa herança (de 1 a 31 de março- A entrega é efetuada através do Portal
das Finanças, com recurso à senha atribuída à herança indivisa);
2. Todos os herdeiros confirmem essas mesmas quotas declaradas, igualmente, através de
declaração eletrónica (de 1 a 30 de abril).

32
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Declaração Prazo de Entrega

Declaração de Herança Indivisa 1 a 31 de março

Declaração de Confirmação-
1 a 30 de abril
Herdeiros de Herança Indivisa

Deste modo, é afastada a equiparação da herança indivisa a pessoa coletiva, deixando a herança
indivisa de ser tributada em AIMI, passando a tributação neste imposto a ocorrer na esfera dos
herdeiros, ou seja, a quota-parte de cada herdeiro sobre o valor do imóvel (ou imoveis) que integra
a herança indivisa, será adicionada dos valores patrimoniais tributários dos imóveis que constam
da matriz na titularidade desse herdeiro, para efeito de determinação do valor tributável para efeito
deste adicional.

A Declaração de Herança Indivisa é apresentada pelo cabeça de casal utilizando para o efeito o
NIF e a senha de acesso atribuídos à herança indivisa. Quando o cabeça de casal seja igualmente
herdeiro, deve apresentar a Declaração de Confirmação de Herdeiro, utilizando o seu NIF e a sua
senha de acesso pessoal.

O adicional ao IMI (AIMI) é cobrado anualmente em setembro, com base no valor patrimonial
tributável dos imóveis a 1 de janeiro do ano anterior. Situação diferente acontece com o IMI, cuja
base temporal é 31 de dezembro, quer isto dizer que determinado proprietário ficará sujeito a AIMI,
mesmo que tenha alienado o imóvel, no decorrer do ano.

FICHA DOUTRINÁRIA
Adicional ao IMI - Incidência subjetiva e objetiva – Prédios habitacionais e terrenos
para construção
Conteúdo: PEDIDO Nos termos do artigo 68.º da Lei Geral Tributária, foi apresentado um pedido de
informação vinculativa, acerca da seguinte situação jurídico-tributária:
1 – A REQUERENTE recebeu a nota de liquidação do Adicional ao IMI (AIMI), onde é indicado o
valor tributável, conforme estabelece o artigo 135.º-C do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis
(CIMI).
2 – Foram tidos em conta para o apuramento do mencionado valor tributável os seguintes prédios
urbanos inscritos na matriz:
i) Prédio com afetação de habitação;
ii) Terreno para construção com afetação de comércio;
iii) Terreno para construção com afetação de serviços;
iv) Terreno para construção com afetação de serviços;
v) Terreno para construção com afetação de serviços;

33
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

vi) Terreno para construção com afetação de habitação;


vii) Terreno para construção com afetação de serviços em zona industrial.

3– No âmbito do CIMI, o apuramento do valor patrimonial tributário (VPT) efetua-se aplicando o


coeficiente de afetação (Ca), pelo que o valor do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) depende
da afetação de cada prédio, independentemente destes, serem construídos ou terrenos para
construção.
4- No âmbito do Imposto do Selo (IS), o artigo 4.º e a verba 28 do Código do Imposto do Selo (CIS),
estabeleciam que os prédios com afetação habitacional superior a € 1 000 000,00 pagariam 1% do
VPT de imposto.
5 – No âmbito do CIS, apenas o prédio elencado na alínea vi) pagaria imposto.
6 – A REQUERENTE entende que os prédios elencados nas alíneas ii), iii), iv), v) e vii) não se
encontram sujeitos a AIMI, por serem terrenos para construção com afetação de comércio ou
serviços.
ANÁLISE INCIDÊNCIA SUBJETIVA
1-O artigo 135.º-A do CIMI, estabelece a incidência subjetiva do AIMI, dispondo que:
“(…) 1 - São sujeitos passivos do adicional ao imposto municipal sobre imóveis as pessoas singulares
ou coletivas que sejam proprietários, usufrutuários ou superficiários de prédios urbanos situados no
território português.
2- Para efeitos do n.º 1, são equiparados a pessoas coletivas quaisquer estruturas ou centros de
interesses coletivos sem personalidade jurídica que figurem nas matrizes como sujeitos passivos do
imposto municipal sobre imóveis, bem como a herança indivisa representada pelo cabeça de casal.
3-A qualidade de sujeito passivo é determinada em conformidade com os critérios estabelecidos no
artigo 8.º do presente Código, com as necessárias adaptações, tendo por referência a data de 1 de
janeiro do ano a que o adicional ao imposto municipal sobre imóveis respeita.
4 - Não são sujeitos passivos do adicional ao imposto municipal sobre imóveis as empresas
municipais, assim como as cooperativas de habitação e construção quando exclusivamente
proprietárias, usufrutuárias ou superficiárias de prédios para construção de habitação social ou a
custos controlados. (…)”
2. Assim, nos termos do disposto no supra referido artigo, são sujeitos passivos do AIMI:
a) Pessoas singulares ou coletivas, ou seja, pessoas físicas ou jurídicas;
b) Entidades com personalidade tributária; e
c) Heranças indivisas.
3. A remissão para o artigo 8.º do CIMI, prevista no supra mencionado artigo, estabelece que a
qualificação do sujeito passivo do AIMI acompanha a qualificação do sujeito passivo do IMI,
ressalvando-se que o facto tributário do AIMI ocorre a 1 de janeiro do ano a que o imposto respeita.

34
Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4. Dispõe o n.º 1 do artigo 8.º do CIMI que “O imposto é devido pelo proprietário do prédio em 31
de dezembro do ano a que o mesmo respeitar” e, nos termos do n.º 2, que “Nos casos de usufruto
ou de direito de superfície, o imposto é devido pelo usufrutuário ou pelo superficiário após o início
da construção da obra ou do termo da plantação”.
5. Acrescentando o n.º 4 daquele normativo que “Presume-se proprietário, usufrutuário ou
superficiário, para efeitos fiscais, quem como tal figure ou deva figurar na matriz, na data referida
no n.º 1 ou, na falta de inscrição, quem em tal data tenha a posse do prédio”.
6. Da conjugação destes dois números do artigo 8.º e do artigo 135.º-A, ambos do CIMI, resulta
que são sujeitos passivos do AIMI o proprietário, o superficiário ou o usufrutuário que conste da
matriz a 1 de janeiro do ano a que respeita o imposto.
7. Logo, a REQUERENTE é sujeito passivo do AIMI.
INCIDÊNCIA OBJETIVA
8. Nos termos do n.º 1 do artigo 6.º do CIMI, os prédios urbanos são classificados em quatro
espécies:
a) Habitacionais;
b) Comerciais, industriais ou para serviços;
c) Terrenos para construção; e
d) Outros.
9. Determina o n.º 2 do artigo 6.º do CIMI que se consideram prédios habitacionais, “(…) os edifícios
ou construções para tal licenciados ou, na falta de licença, que tenham como destino normal cada
um destes fins”.
10. Estabelece o n.º 3 do artigo 6.º do CIMI que se consideram “(…) terrenos para construção os
terrenos situados dentro ou fora de um aglomerado urbano, para os quais tenha sido concedida
licença ou autorização, admitida comunicação prévia ou emitida informação prévia favorável de
operação de loteamento ou de construção, e ainda aqueles que assim tenham sido declarados no
título aquisitivo (…)”.
11. O artigo 135.º-B do CIMI, estabelece a incidência objetiva do AIMI, dispondo que: “(…) 1 - O
adicional ao imposto municipal sobre imóveis incide sobre a soma dos valores patrimoniais tributários
dos prédios urbanos situados em território português de que o sujeito passivo seja titular. 2 - São
excluídos do adicional ao imposto municipal sobre imóveis os prédios urbanos classificados como
«comerciais, industriais ou para serviços» e «outros» nos termos das alíneas b) e d) do nº 1 do
artigo 6º deste Código. (…)”
12. Consagrando a supra referida norma a exclusão, apenas, para os prédios urbanos classificados
como “comerciais, industriais ou para serviços” e “outros” nos termos das alíneas b) e d) do n.º 1
do artigo 6.º do CIMI, consagra-se a incidência do AIMI sobre os prédios urbanos classificados como

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

“habitacionais” e “terrenos para construção” nos termos das alíneas a) e c) do n.º 1 do referido
artigo 6.º.
13. O artigo 135.º-B do CIMI consagra expressamente que as classificações do artigo 6.º do mesmo
código são o fator de incidência ou exclusão dos prédios quanto ao AIMI.
14. O artigo 135.º-B do CIMI não faz depender a incidência do AIMI dos coeficientes utilizados na
determinação do VPT dos prédios - designadamente do coeficiente de afetação (Ca), previsto no
artigo 41.º do CIMI.
15. Os prédios constantes da liquidação referente à REQUERENTE encontram-se classificados como
“habitacionais” e “terrenos para construção”.
16. Logo, o apuramento do valor tributável de AIMI constante da referida liquidação foi efetuado de
acordo com as normas de incidência objetiva do AIMI, ou seja, observando a classificação dos
prédios prevista no artigo 6.º do CIMI.
CONCLUSÕES
17. A REQUERENTE é sujeito passivo do AIMI.
18. O artigo 135.º-B do CIMI consagra a incidência do AIMI sobre os prédios urbanos classificados
como “habitacionais” e “terrenos para construção” nos termos das alíneas a) e c) do n.º 1 do artigo
6.º do CIMI.
19. Os prédios em causa, encontram-se classificados como “habitacionais” e “terrenos para
construção”.
20. O apuramento do valor tributável do AIMI foi efetuado de acordo com as normas de incidência
objetiva deste imposto.
FICHA DOUTRINÁRIA
Adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis (AIMI) – incidência objetiva
Processo: 2018000035 – IVE n.º 13068, com despacho concordante, de 2018.01.12, da Diretora de
Serviços da DSIMI Conteúdo:
1. A questão objeto do presente pedido de informação vinculativa reside em saber se o prédio
urbano de que a requerente é titular está ou não sujeito a Adicional ao Imposto Municipal sobre
Imóveis (AIMI) criado pelo artigo 219.º da Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro (Lei do Orçamento
do Estado para o ano de 2017), que aditou ao Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (CIMI)
os artigos 135.º-A a 135.º-K, que regulam a incidência, a determinação do valor tributável, as taxas,
a liquidação e o pagamento do referido AIMI.
2. Assim, sob a epígrafe “incidência subjetiva”, determina o n.º 1 do artigo 135.º-A do CIMI que são
sujeitos passivos de AIMI as pessoas singulares ou coletivas que sejam proprietárias, usufrutuárias
ou superficiárias de prédios urbanos situados em território português, aferindo-se a qualidade de
sujeito passivo em conformidade com os critérios estabelecidos no artigo 8.º do mesmo código, com
as necessárias adaptações, tendo por referência a data de 1 de janeiro do ano a que o AIMI respeita,

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

sendo unicamente excluídas do âmbito de incidência pessoal do AIMI as empresas municipais (n.º
3 e n.º 4 do artigo 135.º-A do CIMI, respetivamente).
3. Por sua vez, o artigo 135.º-B do CIMI estipula que, objetivamente, o AIMI incide sobre a soma
dos valores patrimoniais tributários dos prédios urbanos situados em território nacional, com exceção
dos prédios urbanos “comerciais”, “industriais”, “para serviços” e “outros”, conforme classificação
prevista nas alíneas b) e d) do n.º 1 do artigo 6.º do CIMI.
4. Daqui resulta que, em face do previsto no artigo 6.º do CIMI e excluídos que são da incidência
objetiva do AIMI os prédios rústicos e os prédios urbanos “comerciais”, “industriais”, “para serviços”
e “outros”, somente estão sujeitos a este imposto os prédios urbanos “habitacionais” e os prédios
urbanos “terrenos para construção”.
5. Ora, o prédio de que a requerente é titular, apesar de esta alegar que está a ser utilizado como
sua sede, local onde se reúnem os respetivos sócios e outras pessoas que assistem e participam nas
atividades por si desenvolvidas, o certo é que foi avaliado e inscrito na matriz predial como estando
afeto a habitação, sendo aí descrito como um prédio de cave e rés-do-chão destinado a uma
habitação, com uma divisão ampla na cave e quatro quartos de dormir, sala comum, cozinha,
despensa, dois quartos de banho, vestíbulo, WC e uma garagem, no rés-do-chão, tal como foi
indicado na declaração modelo 1 do IMI apresentada pela requerente.
6. Acresce que, tendo sido notificada da avaliação efetuada ao prédio na sequência de apresentação
da referida declaração modelo 1 do IMI, não apresentou pedido de segunda avaliação nem qualquer
outra reclamação matricial.
7. Daí que, estando em causa um prédio urbano “habitacional” e resultando do artigo 135.º-B do
CIMI que só estão excluídos de tributação os prédios rústicos e os prédios urbanos “comerciais”,
“industriais”, “para serviços” e “outros”, o prédio urbano da requerente está sujeito a AIMI e foi
corretamente tributado em sede deste imposto.

4. INVENTARIO E PARTILHA
A partilha de bens pode ser pedida por qualquer herdeiro. Se houver consenso entre os herdeiros,
a partilha pode ser feita, sem recurso ao processo de inventário, bastando dirigirem-se a um cartório
notarial ou ao Balcão de Heranças (partilha extrajudicial).

No entanto, nos casos em que haja, da parte de algum herdeiro, a aceitação a benefício de
inventário (significa que, antes de aceitar a herança, o herdeiro quer que seja feito um inventário
com tudo o que a compõe: bens e dívidas), este torna-se obrigatório. Também quando existam
herdeiros menores, é normal que o Ministério Público, para salvaguarda dos interesses destes,
requeira a abertura de inventário.

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
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Nestas situações ou naquelas em que falte acordo quanto à partilha dos bens, ou não sendo
possível contar com a participação de, pelo menos, um dos herdeiros ou ainda em caso de
incapacidade, procede-se ao inventário dos bens.

O processo de inventário é, essencialmente, uma medida de proteção que se destina a evitar


prejuízos e a distribuir, de forma justa, todo o património de uma herança. O que interessa,
sobretudo, apurar nele é toda a verdade para que a partilha seja efetuada com igualdade e justiça.

O processo de inventário destina-se a:


• Pôr termo à comunhão hereditária;
• Relacionar os bens que constituem objeto de sucessão, quando não haja necessidade de
se proceder à partilha judicial;
• Partilha dos bens de herança ou originada por separação, divórcio, declaração de nulidade
ou anulação de casamento.

O processo de inventário inicia-se com a apresentação de um requerimento, por qualquer uma das
pessoas acima referidas, a que se junta a Certidão de Óbito do inventariado (falecido). Neste
processo só é obrigatória a constituição de advogado quando se discutam questões de direito. A
constituição de advogado faz-se, em princípio, através de procuração com poderes gerais forenses.

O requerente poderá dirigir-se aos serviços do Ministério Público, junto do Tribunal, e solicitar um
impresso próprio para este fim, que deverá ser preenchido com a indicação do nome do
inventariado, local da residência habitual dele, a indicação genérica de que deixou bens e herdeiros
sujeitos a inventário de incapazes, bem como o nome e residência do cabeça de casal e o valor do
inventário. Estes documentos deverão ser apresentados na Secção Central da secretaria do
Tribunal Judicial competente.

A relação de bens deverá ser entregue pelo cabeça de casal, no ato das declarações, acompanhada
por testamentos, convenções antenupciais, escritura de doação, quando existam, etc.

Os bens deverão ser especificados por verbas numeradas, pela ordem seguinte:
• Direitos de crédito;
• Títulos de crédito;
• Dinheiro;
• Moedas estrangeiras;
• Objetos de ouro, prata, pedras preciosas e semelhantes;
• Móveis (camas, cadeiras, mesas, etc.);
• Imóveis.

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As dívidas são relacionadas, em separado, e por verbas. A relação deve ser acompanhada de todos
os elementos necessários à identificação dos bens. As benfeitorias (melhoramentos) são
relacionadas em espécie, quando possam separar-se do prédio (rústico ou urbano) em que foram
feitas ou como simples créditos. As que foram efetuadas por terceiros em prédio da herança serão
relacionadas como dívidas, quando não possam ser levantadas por quem as realizou.

Além de os relacionar, o cabeça de casal indicará o valor que atribui a cada um dos bens, sempre
que se trate de:
• Prédios inscritos na matriz - Valor patrimonial, devendo exibir a caderneta predial atualizada
ou apresentar a respetiva certidão;
• Papel de crédito, moedas estrangeiras - O valor destes será o da cotação oficial ou não a
havendo, o que vier a ser determinado pela Câmara dos Corretores, tendo que ser
apresentada declaração;
• Objetos de ouro, prata, pedras preciosas e semelhantes - O valor destes será indicado tendo
por base a avaliação feita na contrastaria ou por ourives;
• Direitos de crédito ou de outra natureza, cujo valor não seja possível determinar, são
mencionados como bens ilíquidos;
• Estabelecimento comercial ou industrial - O seu valor, caso a liquidação não esteja
concluída, é o do último balanço;
• Quotas em sociedade - O valor é o que resultar da liquidação da sociedade, caso a morte
do inventariado provoque a sua dissolução ou, não estando aquela concluída, ou não seja
razão para a sua dissolução, é este relacionado como ilíquido, mencionando-se o valor que
teriam segundo a cotação ou o do último balanço;
• Móveis de pequeno valor - Não havendo inconveniente para a partilha, são relacionados em
lotes.

Da apresentação pelo cabeça de casal da relação de bens, são notificados os interessados,


herdeiros, que podem reclamar;
• Acusando a falta de bens que devam ser relacionados;
• Requerendo a exclusão de bens indevidamente relacionados;
• Invocando qualquer inexatidão na descrição dos bens, relevante para a partilha.

Havendo reclamação:
• É notificado o cabeça de casal para no prazo de 10 dias, relacionar os bens cuja falta foi
referida ou dizer o que se lhe oferecer.

Decididas as reclamações ou não as havendo, passa-se à conferência de interessados.

A submeter à conferência:

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• O acordo, por unanimidade, sobre as verbas que irão compor a parte de cada um dos
interessados e os valores porque devem ser entregues;
• Pode ser acordado que as verbas sejam sorteadas, separadamente ou em lotes, pelas
respetivas partes;
• O acordo na venda total ou parcial dos bens da herança e na distribuição do produto da
venda pelos diversos interessados;
• Deliberações sobre a aprovação das dívidas e forma do seu pagamento;
• Outras questões que possam influírem na partilha.

Não havendo acordo na composição dos quinhões (conjunto de bens que cabe a cada um dos
interessados) e resolvidas que sejam as reclamações apresentadas sobre os valores atribuídos aos
bens e outras questões que possam influir na partilha, realizam-se as licitações (momento em que
os bens são vendidos a quem der mais).

Estas terão lugar no ato da conferência de interessados ou, posteriormente, em dia e hora
designados. Na licitação só são admitidos os herdeiros, o cônjuge, os donatários e os legatários.
Os bens licitados serão entregues aos respetivos licitantes, pelo valor constante da licitação. Aos
restantes interessados serão atribuídos outros bens suficientes para o preenchimento dos seus
quinhões e, não os havendo receberão tornas (compensação que pode ser em dinheiro).

Cumprido o que fica disposto, são ouvidos sobre a forma da partilha os interessados ou os seus
advogados e o Ministério Público. Elaborado o mapa da partilha (esquema do modo como vai ser
distribuída a herança), do mesmo se dá conhecimento a todos os interessados, para que sobre ele
se possam pronunciar. Havendo reclamações a este mapa, as mesmas terão que ser decididas
para que possa ser proferida a sentença de partilha. Não havendo reclamações será proferida a
sentença de partilha.

Esta sentença é notificada:


• Ao Ministério Público;
• A todos os interessados ou seus advogados.

Não sendo interposto recurso e decorrido o prazo legal, a sentença transita, ou seja, o processo
chega ao seu termo.

Assim, e resumindo a partilha é a divisão dos bens comuns, segundo a composição dos quinhões
hereditários, que será o conjunto de bens da herança que cabe a cada um dos interessados
(herdeiros).

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4.1 – COLAÇÃO
Diz-se colação a restituição que, os descendentes devem fazer à massa da herança, de valores
que lhes foram doados pelo ascendente. O fundamento deste dispositivo encontra-se na vontade
presumida do autor da herança que, ao fazer uma doação a um dos seus descendentes, não o terá
feito para o beneficiar em relação aos outros, ou seja , a doação a um descendente é considerada
uma antecipação da sua quota hereditária.
A colação verifica-se quando se virem reunidos certos pressupostos, a saber:
• Haja doações ou certas despesas gratuitamente feitas pelo autor da herança a favor de
descendentes que eram seus herdeiros no momento da doação;
• Que essas liberalidades não estejam dispensadas de colação;
• Que os descendentes beneficiários dessas doações sucedam ao doador na sucessão que
se abriu pela morte deste.

4.2 – IMT – HERANÇA INDIVISA - PARTILHA


De acordo com o disposto na alínea c) do n.º 5 do artigo 2.º do Código do IMT, está sujeito a este
imposto, o excesso da quota-parte que ao adquirente pertencer, nos bens imóveis, em ato de
divisão ou partilhas, sendo sujeito passivo do imposto o adquirente dos bens imóveis, cujo valor
exceda o da sua quota nesses bens, nos termos da alínea a) do artigo 4.º do mesmo diploma.

E de acordo com a regra 11.ª do n.º 4 do artigo 12.º do mesmo diploma, o valor tributável, nas
partilhas judiciais ou extrajudiciais, é o valor do excesso de imóveis sobre a quota-parte do
adquirente, nos termos da alínea c) do n.º 5 do artigo 2.º, calculado em face do VPT desses bens
ou em face do valor que tiver servido de base à partilha.

Exemplo Cálculo - IMT Partilha

D. Maria faleceu no estado de viúva em 2016, a sua herança é constituída, unicamente por uma
fração de um imóvel urbano, exclusivamente destinado a habitação. Os seus únicos herdeiros eram,
seus filhos, Carlos e Manuel, que em 2020, decidiram pôr fim á indivisão do património. Aquando
do falecimento de sua mãe, cumpriram todas as obrigações inerentes ao Imposto de Selo, tendo
ficado isentos daquele imposto, nos termos do art.º 6.º do CIS. O valor do imóvel para efeitos da
liquidação de Imposto de Selo foi o VPT no montante de 40 000€.
Na partilha efetuada entre Carlos e Manuel, foi atribuído ao imóvel o valor de € 75 000 sendo o
mesmo adjudicado a Carlos, tendo o mesmo pago a Manuel o valor de 37 500€.
Vejamos as implicações, em sede de IMT, sabendo á partida que o quinhão hereditário de cada um
dos irmãos era de ½.
Carlos:

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Ao ficar com a totalidade do imóvel (1), torna-se sujeito passivo de IMT relativamente ao valor que
excede a sua quota (1/2), assim é necessário efetuar as seguintes operações:
VPT = 40 000€ < Valor da Partilha = 75 000€
Valor a considerar = 75 000€
Quota hereditária – ½ = Valor 37 500€
Excesso da Quota hereditária = 37 500€
Taxa IMT - imóvel habitação (alinea b) do n.º 1 do art.º 17 do CIMT) = 1%
Valor a pagar de IMT = 375€
Imposto Selo – Verba 1.1 – Taxa -0,80%
Verba 1.1 = 300€
Assim, Carlos pela operação de partilha será devedor de 375€ a título de IMT + 300€ a título de
IS- Verba 1.1.

5. PARTILHA EM CASO DE DIVÓRCIO


A dissolução do vínculo conjugal por divórcio, declaração de nulidade ou anulação do casamento
faz cessar as relações patrimoniais entre os cônjuges e conduz à partilha do património conjuga.

Procede-se, ainda, à partilha no caso de vir a ser decretada a separação judicial de pessoas e bens,
a simples separação judicial de bens ou nos demais casos previstos na lei de separação de bens
na vigência da sociedade conjugal.

Acontece, porem, que não é com a sentença que decreta o divórcio ou com a decisão que determina
a separação de bens que terminam, de facto, as relações patrimoniais entre os cônjuges.

Esta situação, embora por natureza transitória, destinada que está à liquidação, pode apesar de
isso perdurar, suscitando os problemas próprios das relações de contitularidade.

5.1. CASAMENTO E REGIME DE BENS


Antes do casamento podem os noivos escolher o regime de bens que pretendem adotar para a sua
vida de casados. O regime de bens, legalmente instituído, consiste num conjunto de regras que,
fundamentalmente, determina a quem pertencem os bens das pessoas casadas.

A Lei prevê 3 regimes de bens:


5.1.1 REGIME DE COMUNHÃO DE ADQUIRIDOS
Segundo este regime, a cada um dos cônjuges pertence apenas os bens que tinha antes de casar
e os bens que, depois do casamento e na constância deste, venham a receber por sucessão (por
morte de outra pessoa) ou por doação, ou venham a adquirir por virtude de direito próprio anterior.

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A ambos os cônjuges pertencem os outros bens, ou seja, os bens adquiridos depois do casamento
sem ser por sucessão, doação, ou direito próprio anterior ao casamento.

Nestes bens, está incluído o produto do trabalho dos cônjuges e os rendimentos dos bens que
pertençam apenas a cada um deles.

Ao conjunto destes bens chama-se património comum, composto por um ativo (bens) e um eventual
passivo (dívidas), do qual cada um dos cônjuges participa em metade.

5.1.2. REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS


De acordo com este regime, cada um dos cônjuges é proprietário dos bens que adquiriu, por
qualquer forma, antes e depois do casamento.

No entanto, pode acontecer que determinados bens hajam sido adquiridos por ambos os cônjuges.

Neste caso os dois são proprietários dos bens, não como casal, mas como quaisquer outras duas
pessoas não casadas, o que se denomina por compropriedade.

5.1.3. REGIME DA COMUNHÃO GERAL


Neste regime é regra, que todos os bens, seja qual for a sua origem e momento de aquisição,
pertencem a ambos os cônjuges.

No entanto, a lei estabelece que um certo tipo de bens pertence apenas a cada um dos cônjuges,
designadamente, as suas roupas, a sua correspondência, e os bens doados ou deixados quando a
doador ou testador tiver determinado que não quer que os bens passem a pertencer a ambos. Assim
como, também os direitos estritamente pessoais pertencem apenas ao cônjuge que os possui. É o
caso do usufruto e do uso ou habitação.

Ao conjunto destes bens chama-se património comum, composto por um ativo (bens) e um eventual
passivo (dívidas), do qual cada um dos cônjuges participa em metade.

5.2. ESCOLHA DO REGIME DE BENS


A escolha do regime de bens, faz-se por convenção antenupcial, acordo em que os noivos
escolhem, livremente, um dos três regimes de bens previstos legalmente.

A convenção antenupcial é celebrada por escritura pública, num cartório notarial, ou lavrada pelo
conservador. Após a convenção antenupcial o casamento tem de ser realizado dentro do prazo de

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1 ano, quando a convenção foi celebrada por escritura pública, ou no prazo concedido para a sua
realização, quando a convenção foi lavrada pelo conservador do registo civil, sob pena de
caducidade.

5.3. IMPOSIÇÃO LEGAL


Em dois casos específicos a lei impõe o regime da separação de bens:
1. Sempre que algum dos noivos, à data do casamento, tenha idade igual ou superior a 60
anos;
2. Sempre que antes do casamento, não correu na conservatória do registo civil o processo
destinado a averiguar se legalmente o casamento se pode realizar – processo de
publicações - (o que a lei admite em determinadas circunstâncias).

Num caso específico a lei impõe a impossibilidade, do regime da comunhão geral:

✓ Sempre que algum dos noivos já tenha filhos não comuns, ainda que estes sejam maiores
ou emancipados (tenham casado).

Quando os noivos não tenham escolhido o regime de bens do casamento, a lei estabelece como
regime de bens supletivo o Regime da Comunhão de Adquiridos.

Este regime supletivo é aplicado aos casamentos realizados a partir de 1 de junho de 1967, os
casamentos celebrados anteriormente, estão sujeitos ao regime supletivo da comunhão geral.

5.4. SEPARAÇÃO DE FACTO/SEPARAÇÃO JUDICIAL DE PESSOAS E BENS


Quando a vida conjugal tenha entrado em rutura, a lei permite que, por decisão conjunta ou
individual dos cônjuges, se ponha termo à vida em comum, através das seguintes situações:

5.4.1. SEPARAÇÃO DE FACTO


Embora não exista vida em comum entre os cônjuges, o casamento continua a existir, mantendo-
se todos os seus efeitos, bem como os deveres conjugais (respeito, fidelidade, coabitação,
cooperação e assistência).

A separação de facto por certo tempo pode constituir fundamento de separação judicial de pessoas
e bens ou de divórcio.

5.4.2. SEPARAÇÃO JUDICIAL DE BENS


Qualquer dos cônjuges que considerar estar em perigo de perder o que é seu em virtude de uma
má administração dos bens por parte do outro, pode pedir a separação.

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

O pedido é apresentado pelo cônjuge ofendido, contra o outro (sendo obrigatória a intervenção de
advogado), junto do Tribunal de Família e Menores da sua área de residência.

Após a sentença o património comum é partilhado, por via de acordo entre os cônjuges ou, no caso
de este ser impossível, por inventário judicial. A separação Judicial de bens é irrevogável.

5.4.3. SEPARAÇÃO JUDICIAL DE PESSOAS E BENS

A separação judicial de pessoas e bens não põe fim ao casamento, ou seja, as pessoas separadas
judicialmente só podem voltar a casar se a separação se converter em divórcio ou por morte do
cônjuge.

Mas tem efeitos sobre os deveres conjugais, deixando os cônjuges de ter os deveres de coabitação
e de assistência, sem prejuízo do direito a alimentos ao cônjuge que deles necessite, mantendo-se,
no entanto, os deveres de respeito, fidelidade e cooperação.

Nota: Os meios e os procedimentos para obter a separação judicial de pessoas e bens e os efeitos
daí resultantes, aqui não referidos, são, em regra, os do divórcio.

5.4.4. DIVÓRCIO

O divórcio termina definitivamente com o casamento. Os deveres conjugais extinguem-se, podendo


apenas haver lugar a pensão de alimentos.

O divórcio pode ser obtido de duas maneiras:


1. Por mútuo consentimento, isto é, a pedido de ambos os cônjuges, de comum acordo.

O pedido deve ser apresentado na conservatória do registo civil da residência de qualquer dos
cônjuges ou em outra que ambos escolham, não sendo obrigatória a intervenção de advogado.

Os cônjuges podem apresentar o pedido a todo o tempo e não têm que invocar o motivo por que o
fazem.

Os cônjuges têm de estar de acordo relativamente a três questões:

1. A prestação de alimentos ao cônjuge que deles precise;


2. O exercício do poder paternal relativamente aos filhos menores; e
3. O destino da casa de morada da família.

2. Sem consentimento de um dos cônjuges, ou seja, a pedido de um dos cônjuges (o


cônjuge ofendido) contra o outro, com um ou mais fundamentos previstos na lei.

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O divórcio sem consentimento de um dos cônjuges pode ser pedido por uma das seguintes razões:

1. A separação de facto por 1 ano;


2. A separação de facto por 1 ano, se o divórcio for pedido por um dos cônjuges sem oposição
do outro;
3. A ausência de um dos cônjuges sem que dele haja notícias por tempo não inferior a 1 ano;
4. A alteração das faculdades mentais do outro cônjuge, quando dure há mais de 1 ano e, pela
sua gravidade, comprometa a possibilidade da vida em comum;
5. Quaisquer outros factos que mostrem a rutura definitiva do casamento.

5.4.5 RESPONSABILIDADE PELAS DIVIDAS


São da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas para pagar as despesas
normais da vida familiar, além de outras que tenham sido contraídas pelos dois antes ou depois do
casamento ou por um deles com o consentimento do outro.

Por estas dívidas respondem, em primeira linha, os bens comuns do casal e, caso sejam
insuficientes, os bens próprios de qualquer um dos cônjuges, no regime de comunhão geral e de
comunhão de adquiridos. Uma vez que não existem bens comuns no regime de separação de bens,
apenas os bens de cada cônjuge respondem pelas suas dívidas.

São da responsabilidade exclusiva de um cônjuge as dívidas por ele contraídas sem o


consentimento do outro, antes ou depois do casamento, que não respeitem a despesas normais da
vida familiar.

Por estas dívidas, respondem os bens próprios do cônjuge que contraiu a dívida, bem como a
metade que lhe cabe nos bens comuns, situação esta designada de meação.

Mesmo sem o consentimento do outro cônjuge, as dívidas contraídas pelo cônjuge administrador
em proveito comum do casal são, em regra, da responsabilidade de ambos os cônjuges.

5.4.6 DESTINO DOS BENS


Após o divórcio, por mútuo consentimento ou sem consentimento de um dos cônjuges, terminam
as relações pessoais, não tendo os divorciados entre si qualquer dever, à exceção de um eventual
dever de alimentos, e também as relações patrimoniais, devendo ser feita a partilha dos bens
comuns e serem pagas as eventuais dívidas.

Cada um dos cônjuges recebe, além dos seus bens próprios, metade dos bens comuns que
existam.

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A partilha feita por acordo, deve identificar os bens que cabem a cada um e deve fazê-lo pela forma
legalmente exigida para provar a propriedade do bem (ex: quando o bem a partilhar é uma casa o
acordo da partilha, por norma, é feito por escritura pública).

Não sendo possível o acordo, a partilha é feita em tribunal, através do processo de inventário para
partilha de bens do casal, a pedido de qualquer dos interessados.

A partilha é o ato destinado a fazer cessar a indivisão de um património. Na verdade, sempre que
um património pertence na sua unidade a duas ou mais pessoas e se pretende pôr termo a essa
situação, é por meio da partilha que se sai dela. Acontece, porem, que não é com a decisão que
decreta o divórcio ou a separação de pessoas e bens que terminam, de facto, as relações
patrimoniais entre os cônjuges.

A comunhão conjugal constitui um património de mão comum ou propriedade coletiva. Trata-se de


uma situação jurídica que, manifestamente, não cabe na compropriedade, dela se distinguindo de
forma clara e inequívoca. Essa distinção assenta, no facto de os direitos dos contitulares não incidir
sobre cada um dos elementos que constituem o património - mas sobre todo ele, como um todo
unitário.

Aos titulares do património coletivo não pertencem direitos específicos, designadamente uma quota,
sobre cada um dos bens que integram o património global, não lhes sendo lícito dispor desses bens
ou onerá-los, total ou parcialmente, pelo que, na partilha dos bens destinada a pôr fim à comunhão,
os respetivos titulares apenas têm direito a uma fração ideal do conjunto, não podendo exigir que
essa fração seja integrada por determinados bens ou por uma quota em cada bem concreto objeto
da partilha, o que bem se compreende, visto que existe um direito único sobre todo o património

Até à respetiva divisão, sob a forma de partilha, os cônjuges são, pois, detentores de uma pars
quota sobre «uma universalidade em titularidade indivisa», uma quota ideal cujo conteúdo se
concretiza em pars quanta depois da divisão. De facto, é apenas na partilha que os cônjuges
recebem a meação no património comum, que cada um deles confere o que deve a esse património
e é nesse momento que o crédito de um deles sobre o outro, do património comum sobre o(s)
património(s) próprio(s) e dos credores do património comum, se tornam exigíveis.

Assim, o património comum dos cônjuges constitui uma massa patrimonial a que, em vista da sua
especial afetação, a lei concede certo grau de autonomia - embora limitada e incompleta - mas que
pertence aos dois cônjuges, em bloco, sendo ambos titulares de um único direito sobre ela.

Os bens comuns dos cônjuges constituem objeto não duma relação de compropriedade - mas duma
propriedade coletiva ou de mão comum. Cada um dos cônjuges tem uma posição jurídica em face

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do património comum, posição que a lei tutela, ou seja, cada um dos cônjuges tem, segundo a
expressão da própria lei, um direito à meação, um verdadeiro direito de quota, que exprime a medida
de divisão e que virá a realizar-se no momento em que esta deva ter lugar.

O divórcio, que determina a cessação da generalidade das relações patrimoniais entre os ex-
cônjuges, implica a partilha do casal, na qual, em princípio, cada um dos cônjuges recebe os seus
bens próprios e a sua meação nos bens comuns, se os houver (art.º 1689º, nº 1 do Código Civil).
As relações patrimoniais entre os cônjuges cessam, pois, pela dissolução do casamento ou pela
separação judicial de pessoas e bens (arts 1688º e 1795º-A do Código Civil).

Cessadas as relações patrimoniais entre os cônjuges, procede-se à partilha dos bens do casal (art.º
1689º, nº 1 do Código Civil). Cada cônjuge receberá na partilha os bens próprios e a sua meação
no património comum, conferindo previamente o que dever a esse património (art.º 1689º, nº 1 do
CC).

A composição do património comum é, portanto, aquela que existia na data da proposição da ação
e não em momento anterior, designadamente à data da separação de facto e só os bens existentes
nesse momento - mas todos esses bens - devem ser objeto de partilha.

De entre dos deveres patrimoniais dos cônjuges – que constituem um efeito patrimonial do
casamento, que é, de resto, independente do regime de bens - sobressaem os que respeitam ao
exercício dos poderes de administração e de alienação dos bens de cada um ou de ambos os
cônjuges (art.º 1678 e 1683 do Código Civil). Constitui uma violação desses deveres patrimoniais a
má administração de bens próprios do cônjuge não administrador ou de bens do casal (art.º 1678º,
nºs 1, 2 e 3, 1ª parte, do Código Civil), ou a inobservância da regra da administração extraordinária
conjunta dos bens comuns (art.º 1678º, nº 3, 2ª parte, do Código Civil).

O cônjuge administrador dos bens comuns ou de bens próprios de um dos cônjuges responde pelos
atos praticados com dolo em prejuízo do casal ou do outro cônjuge (art.º 1681º, nº 1 do Código
Civil).

O cônjuge que administra bens comuns ou próprios do outro está, em regra, isento da obrigação de
prestar contas (art.º 1681º, nº 1 do Código Civil). Contudo, o cônjuge administrador responde pelos
danos causados pelos atos praticados, com dolo, em prejuízo do património comum ou do
património do outro cônjuge (art.º 1681º, nº 1, in fine, do Código Civil).

Na fase da liquidação da comunhão, cada um dos cônjuges deve conferir ao património comum
tudo o que lhe deve. O cônjuge devedor deverá compensar nesse momento o património comum
pelo enriquecimento obtido no seu património próprio à custa do património comum. Uma vez
apurada a existência de compensação a efetuar à comunhão, procede-se ao seu pagamento

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

através da imputação do seu valor atualizado na meação do cônjuge devedor, que assim receberá
menos nos bens comuns, ou, na falta destes, mediante bens próprios do cônjuge devedor de forma
a completar a massa comum.

Deve admitir-se um princípio geral que obriga às compensações entre os patrimónios próprios dos
cônjuges e a massa patrimonial comum sempre que um deles, no momento da partilha, se encontre
enriquecido em detrimento do outro. Caso contrário verificar-se-ia um enriquecimento injusto da
comunhão à custa do património de um dos cônjuges ou de um dos cônjuges à custa do património
comum.

Se um cônjuge utilizou bens ou valores comuns deverão, no momento da partilha, compensar o


património comum pelo valor atualizado correspondente. A compensação devida será calculada no
pressuposto de que o objeto do depósito deveria ser dividido por metade, pelo que a prova de uma
diferente conformação das relações internas ficará a cargo do cônjuge que a invocar.

Verificando-se, no momento da partilha, um enriquecimento dos patrimónios próprios dos cônjuges


em detrimento do património conjugal comum ou deste relativamente àqueles, há lugar a
compensações entre essas massas patrimoniais; o cônjuge que utilizou bens ou valores comuns
deverá, no momento da partilha, compensar o património comum pelo valor atualizado
correspondente; esses bens ou valores devem ser objeto de relacionação, de modo a permitir
aquela compensação.

Deste modo, a partilha do casal não se limita à partilha do património comum, existindo uma fase
anterior, de liquidação da comunhão, na qual cada um dos cônjuges deve conferir ao património
comum tudo o que lhe deve. O cônjuge devedor deverá, nessa fase, compensar o património
comum pelo enriquecimento do seu património próprio à custa do património comum. Uma vez
apurada a existência de compensação a efetuar à comunhão, procede-se ao seu pagamento
através da imputação do seu valor atualizado na meação do cônjuge devedor, que assim receberá
menos nos bens comuns ou que, na falta destes, deverá entregar bens próprios de forma a
completar a massa comum.

As dívidas contraídas pelos dois cônjuges ou por um deles com o consentimento do outro são
geralmente da responsabilidade de ambos.

Daí que seja, pacífico o entendimento de que na partilha devem ser observadas três operações
básicas e de acordo com a ordem cronológica seguinte:
1. a separação de bens próprios – como operação ideal preliminar;
2. a liquidação do património comum – destinada a apurar o ativo comum líquido, através do
cálculo das compensações e da contabilização das dívidas a terceiros e entre os cônjuges;
e

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3. a partilha propriamente dita.

Deste modo, partilha dos bens do casal desdobra-se na subsequente ordem de operações:
1. Entrega dos bens próprios; conferência das dívidas dos cônjuges à massa comum; e
2. Partilha dos bens comuns.

No inventário para partilha dos bens do casal não se relacionam os bens próprios de cada cônjuge,
mas apenas os bens a partilhar.

6. TORNAS E MAIS-VALIAS EM IMÓVEIS

A partilha e a divisão de bens comuns (e.g., por sucessão ou divórcio) suscita relevantes questões
jurídicas, com particular destaque para o domínio do Direito Fiscal, cujo impacto deve ser analisado
antes da outorga da respetiva escritura pública ou adjudicação judicial. Ora, se a transmissão
sucessória entre cônjuges, ascendentes e descendentes na linha reta está isenta de tributação
(Imposto do Selo), o mesmo pode já não acontecer na operação de partilha ou divisão desses
mesmos bens, uma vez que a partilha qualifica uma “transmissão onerosa”, para efeitos de IRS,
IMT e Imposto do Selo.

Por conseguinte, sempre que duas ou mais pessoas pretendam partilhar bens que integrem a
herança indivisa ou o acervo pertencente à “sociedade conjugal”, terão que optar por:
• Partilhar, entre si, cada um desses bens, na exata medida do seu quinhão originário,
tornando-se comproprietários de cada bem, ou
• Partilhar esses bens a favor de algum herdeiro ou ex-cônjuge, recebendo, em contrapartida,
uma compensação pecuniária designada por “tornas”.

É precisamente este direito a tornas que poderá originar um rendimento tributável em IRS (“mais-
valia”) na esfera jurídica do herdeiro ou ex-cônjuge que as recebe, mesmo que renuncie a esse
direito, devendo ser sempre inscrito na declaração anual de IRS (Mod. 3). Por outro lado, o herdeiro
ou ex-cônjuge que adquire uma quota-parte superior ao seu quinhão originário, poderá ficar sujeito
ao pagamento de IMT e Imposto do Selo, caso estejam a ser partilhados bens imóveis.

No fundo, o impacto fiscal associado à operação jurídica de partilha de bens, dependerá da natureza
dos bens e dos respetivos valores patrimoniais tributários e os valores declarados na partilha.

Nos termos do art.º 10.º do CIRS, os rendimentos obtidos com a alienação de bens imóveis
encontram-se sujeitos a tributação em sede de IRS, salvo se aos mesmos for aplicável a exclusão
tributária prevista no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 442-A/88, de 30 de novembro que estabelece,
encontrarem-se excluídos de tributação, no âmbito das mais-valias, os ganhos obtidos com a

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alienação de imóveis rústicos e urbanos (com a exceção de terrenos para construção), adquiridos
antes de 1989-01-01.

O art.º 10.º, quando refere que “constituem mais-valias os ganhos obtidos que, não sendo
considerados rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, resultem de
alienação onerosa de direitos reais sobre bens imóveis…” pretende abranger não só as
transmissões onerosas resultantes dos normais contratos de compra e venda mas, também a
cedência em ato de divisão ou partilha de direitos reais sobre bens imóveis.

Nestes termos e consubstanciando as tornas, na realidade um negócio de alienação/ aquisição do


direito real a um bem ou parte dele, serão as mesmas consideradas, para quem as recebe, como
um ganho, por conseguinte, eventualmente sujeitas a tributação em mais-valias no ano da partilha,
sendo consideradas, relativamente a quem as paga, como se de uma aquisição se tratasse.

Daí resulta, que os herdeiros ou ex-cônjuges que cederem a sua quota sobre bens imóveis, pela
qual recebem determinados montantes, o que vulgarmente se designa por tornas, devem no ano
seguinte ao da escritura de partilhas, para efeitos de tributação em sede de IRS, entregar a
declaração de rendimentos Modelo 3 e juntar, além de outros, o anexo G com preenchimento do
Quadro 4, onde irá constar como valor de realização, o montante recebido.

Resumindo, quando forem recebidas tornas, que não envolvam cedência de direitos sobre bens
imóveis, essa situação é inócua em termos de IRS, no entanto, quando são recebidos determinados
montantes, em contrapartida da cedência de direitos reais sobre bens imóveis, estamos perante
uma alienação onerosa, perfeitamente enquadrada no conceito de alienação prevista na alínea a)
do n.º 1 do art.º 10.º do CIRS, exatamente do mesmo modo que estaria, se os herdeiros ou ex-
cônjuges, alienassem o seu direito sobre o bem imóvel a um terceiro.

Dito de outra forma e conforme entendimento da Direção de Serviços de IRS, quando forem
recebidas tornas, que:
✓ Não envolvam a cedência de direitos sobre bens imóveis, os montantes recebidos não
estão sujeitos a IRS;
no entanto, se
✓ Envolverem a cedência de direitos reais sobre bens imóveis, estão sujeitas a IRS, uma
vez que estamos perante uma situação, enquadrada no conceito de alienação/venda prevista
na alínea a) do n.º 1 do art.º 10.º do CIRS, devendo ser declarada a alienação no anexo G,
independentemente do seu saldo ser positivo ou negativo.

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

6.1. IRS- MAIS VALIAS


No âmbito da exigibilidade, é de crucial importância determinar em que momento o imposto se torna
exigível por parte do Sujeito Passivo. Isto porque é necessário aferir qual é o facto gerador para,
assim, imputar a mais-valia a um determinado ano. O n.º 3 do art. 10.º dá-nos a regra referindo que
“os ganhos, consideram-se obtidos no momento da prática dos atos previstos no n.º 1”. Daqui se
depreende que, regra geral, o facto gerador será o momento da alienação/cedência do ativo que
operou a mais-valia. Não obstante, excecionam-se desde logo os casos da promessa de compra e
venda em que se ficciona que o ganho “é obtido logo que verificada a tradição ou posse dos bens
ou direitos objeto do contrato”, por forma a evitar o diferimento do imposto para um momento
posterior, retirando daqui uma vantagem fiscal.

Excecionam-se, finalmente, as mais-valias que resultam da “afetação de quaisquer bens do


património particular a uma atividade profissional e empresarial exercida pelo proprietário”, situação
em que o imposto não se torna, de imediato, exigível, mas apenas quando haja uma transferência
onerosa, uma efetiva realização.

Do n.º 4 do art. 10.º do CIRS retiramos a regra geral quanto ao ganho sujeito a imposto. Assim, a
mais-valia resulta da diferença entre o valor pelo qual um ativo entrou no património individual de
um sujeito e o valor por que dele saiu, por força de um ato de disposição ou de outro facto que,
segundo a lei, constitua a realização da mais-valia. Na letra do artigo, resulta da diferença entre o
valor de aquisição e o valor de realização, procedendo-se depois a uma adaptação desta
formulação à natureza da mais-valia em causa, nas alíneas seguintes.

A mais-valia resultante da alienação de direitos reais sobre bens imóveis é dada por:
MV = VR - (VA x coef. + EV + DAL + DAQ), sendo
VR - valor de realização
VA - valor de aquisição
Coef. - Coeficiente de desvalorização monetária
EV - encargos com valorização
DAL - despesas com a alienação
DAQ - despesas com a aquisição

Para efeitos de apuramento da mais-valia, nos termos referidos, teremos:

6.1.1 VALOR DE REALIZAÇÃO


A lei vem definir estes dois conceitos mais adiante no código. Com efeito, no art. 44.º do CIRS temos
que, à partida, o valor de realização, será o valor da contraprestação efetivamente recebida, quando
haja lugar a uma alienação onerosa.

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Relativamente ao valor de aquisição, vale o disposto no artigo 45.º e seg, do CIRS. Assim, é
determinante, desde logo, perceber se a aquisição se fez a título oneroso ou se foi a título gratuito.

6.1.2 VALOR DE AQUISIÇÃO A TÍTULO ONEROSO


Se a aquisição foi onerosa, importa distinguir se se trata de bens imóveis ou de outros bens ou
direitos. Tratando-se dos primeiros, estamos perante uma mais-valia predial e, como tal, considera-
se valor de aquisição o que tiver servido para efeitos de liquidação de IMT e, caso este não seja
devido, o valor que lhe serviria de base, se o fosse. É esta a regra geral, mas os números e artigos
seguintes estabelecem qual o valor de aquisição para outras situações específicas, nomeadamente,
quando o imóvel resultar de autoconstrução, ou para as mais-valias realizadas através de alienação
onerosa da propriedade intelectual ou industrial ou de experiência adquirida no sector comercial,
industrial ou científico, quando o transmitente não seja o seu titular originário e as resultantes de
operações relativas a instrumentos financeiros derivados, ou, ainda, as resultantes de participações
sociais e outros valores mobiliários e resultantes de operações com warrants autónomos.

6.1.3 VALOR DE AQUISIÇÃO A TÍTULO GRATUITO


As doações, as heranças e as aquisições por usucapião são exemplos de transmissões a título
gratuito. Nestes casos, o bem ou direito, entrou na esfera do sujeito sem que tenha havido uma
contraprestação. Todavia, isto não significa que daqui não irá resultar uma mais-valia, e, como tal,
o legislador tinha de ficcionar ou estabelecer um valor a ter como valor de aquisição. Como bem
sabemos, para regular a tributação das transmissões gratuitas, rege o Código do Imposto de Selo.
Assim, o legislador estabelece no art. 45.º do CIRS que “para determinação dos ganhos sujeitos a
IRS considera-se valor de aquisição, no caso de bens ou direitos adquiridos a título gratuito, aquele
que haja sido considerado para efeito de liquidação do imposto do selo”, sendo certo que, caso não
tenha sido liquidado, considerar-se-ão os valores que lhe serviriam de base.

O momento de aquisição dos bens por sucessão "mortis causa" é o da abertura da herança, no
entanto, essa data de aquisição no caso de bens imóveis recebidos em ato de divisão ou partilha,
por sucessão "mortis causa", de que se pagou tornas por se receber valor superior à quota ideal, é
a data do facto jurídico que legitima o negócio de aquisição do excedente ou seja a data da escritura
de partilha.

Tratando-se de sujeitos passivos não residentes em território nacional, o saldo positivo entre as
mais-valias e as menos-valias é de englobar pela totalidade (100%), já que não tem aqui aplicação
o disposto no n.º 2 do artigo 43.º do Código do IRS, e está sujeito à taxa especial de 28%, nos
termos do n.º 1 do artigo 72.º do CIRS-

Quanto aos sujeitos passivos residentes em território nacional, a liquidação automática assegura a
consideração de apenas 50 % do saldo entre as mais-valias e as menos-valias realizadas

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
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respeitantes a transmissões, nos termos do n.º 2 do art. 43.º do Código do IRS, bem como a
aplicação do coeficiente de correção monetária ao valor de aquisição.

O herdeiro que pagar as respetivas tornas pelo excesso da quota-parte que adquire, nos bens
imóveis, em ato de divisão ou partilhas, fica sujeito a Imposto Municipal sobre as Transmissões
Onerosas de Imóveis (IMT), em conformidade com o disposto na alínea c) do n.º 5 do artigo 2.º do
mesmo diploma, conforme anteriormente referido.

Exemplo - Partilha vs IRS


D. Maria faleceu no estado de viúva em 2015, a sua herança é constituída, unicamente por uma
fração de um imóvel urbano, exclusivamente destinado a habitação. Os seus únicos herdeiros eram,
seus filhos, Carlos e Manuel, que em 2019, decidiram pôr fim á indivisão do património. Aquando
do falecimento de sua mãe, cumpriram todas as obrigações inerentes ao Imposto de Selo, tendo
ficado isentos daquele imposto, nos termos do art.º 6.º do CIS. O valor do imóvel para efeitos da
liquidação de Imposto de Selo foi o VPT no montante de 40 000€.
Na partilha efetuada entre Carlos e Manuel, foi atribuído ao imóvel o valor de € 75 000 sendo o
mesmo adjudicado a Carlos, tendo o mesmo pago a Manuel o valor de 37 500€.
Após termos verificado, em 4.1, as implicações em sede de IMT, vejamos agora as implicações, em
sede de IRS, para Manuel, assim:
No ato da partilha, Manuel, cedeu a título oneroso o direito real sobre o bem imóvel que havia
herdado de sua mãe, situação enquadrável na alinea a) do n.º 1 do art.º 10.º do CIRS e deste modo
sujeito a tributação na esfera da Categoria G.
Assim, na declaração de rendimentos de 2019, terá que declarar esta operação no Quadro 4 do
Anexo G, com os seguintes dados:
Data de realização = Data da partilha
Valor de Realização = 37 500€ (art.º 44.º CIRS)
Data de Aquisição = 2015 (data do falecimento da mãe)
Valor de Aquisição = 20 000€ (art.º 45.º CIRS) - valor do imóvel correspondente ao quinhão
hereditário do contribuinte.
Sendo Manuel residente em Território Nacional a Mais Valia apurada pela AT, será considerada para
efeitos de liquidação em 50% do seu valor, nos termos do n.º 2 do art.º 43.º do CIRS.

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FICHA DOUTRINÁRIA
TORNAS RECEBIDAS EM PARTILHAS
Processo: 1351/2018, com despacho concordante da Diretora de Serviços do IRS, de
20-06-2018
Conteúdo: Pretende o requerente que lhe sejam prestados esclarecimentos relacionados com o
recebimento, no âmbito de um processo de inventário, de montante que lhe foi atribuído a título de
tornas.
1. Nos casos de partilha por herança/sucessão, os herdeiros que em resultado de tal operação
recebam a menos, em bens imóveis, do que o valor a que tinham direito e, por isso, recebam tornas,
considera-se que procederam à alienação/transmissão de um parcial da quota-parte, a que tinham
direito, do património que compunha a herança.
2. No âmbito do IRS, os rendimentos obtidos com a alienação de direitos reais sobre bens imóveis
encontram-se sujeitos a tributação em sede de IRS, nos termos do artigo 10.º do Código do IRS,
salvaguardado o regime transitório da categoria G consignado no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 442-
-A/88, de 30 de novembro.
3. De acordo com o Código do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis,
doravante IMT, esse imposto incide sobre as transmissões, a título oneroso, do direito de
propriedade ou de figuras parcelares desse direito sobre bens imóveis situados em território
nacional.
4. Prevê, ainda, o Código do IMT a sujeição a imposto do “excesso da quota--parte que aos
adquirentes pertencer, nos bens imóveis, em ato de divisão ou partilhas”, ou seja, fica sujeito a IMT
a parte que receber, no âmbito de uma partilha, bens imóveis que excedam a quota-parte no
conjunto de bens imóveis objeto de partilha.
5. Assim, no mesmo sentido, mas no âmbito do IRS, encontra-se sujeita a tributação a cedência em
ato de divisão ou partilha de direitos reais sobre bens imóveis, desde que uma das partes (um
herdeiro, na partilha por herança) receba bens que excedam a quota-parte a que tinha direito no
património que compunha a herança, o que, por sua vez, irá determinar a existência de tornas, ou
seja de um excesso.
6. Ora, atendendo a que só a atribuição das tornas confere o caráter oneroso à operação de partilha,
implicando, por essa via, a incidência em IMT (com as devidas exceções, por regras próprias daquele
imposto), e que, consubstanciando as tornas na realidade um negócio de alienação de um direito
real a um bem imóvel ou parte dele, serão as mesmas consideradas como um ganho, mesmo que
delas se prescinda, e, por conseguinte, sujeitas a tributação em mais-valias nos termos do disposto
no artigo 10.º do Código do IRS.
7. Em conclusão e verificando-se, como no caso, uma situação de um excesso, ou seja, de tornas,
por partilha por herança, e tratando-se de direitos reais sobre bens imóveis, considera-se existir

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

uma transmissão a título oneroso, pela alienação/transmissão de uma quota-parte a que o herdeiro
tinha direito do património que compunha a herança, que será tributada no âmbito do IRS.
8. No que se refere aos valores de aquisição e de realização a considerar para o efeito e uma vez
que não existem normas expressas sobre o procedimento a seguir para o respetivo apuramento
haverá que:
• no que aos valores de aquisição respeita, proceder, para cada um dos imóveis, a uma imputação
proporcional aos valores que, originariamente, tenham sido considerados para efeitos de liquidação
do Imposto Sucessório/Imposto do Selo.
• no que aos valores de realização respeita, proceder a uma imputação proporcional do excesso a
apurar para cada um dos imóveis atribuídos/alienados.

306/2018, com despacho concordante da Subdiretora-Geral do IR, de 2018-04-26


Conteúdo: Pretende o requerente que lhe seja prestada informação vinculativa quanto à não sujeição
a tributação em IRS, da alienação de imóveis adquiridos por sucessão em 1982 e posterior
partilha/inventário ocorrido em 1992, atendendo ao disposto no artigo 2119.º do Código Civil, que
estabelece que feita a partilha cada um dos herdeiros é considerado desde a abertura da herança o
sucessor único dos bens que lhe foram atribuídos.
1. Os rendimentos obtidos com a alienação de imóveis encontram-se sujeitos a tributação em sede
de IRS, salvo se aos mesmos for aplicável a exclusão tributária prevista no artigo 5.º do Decreto-Lei
n.º 442-A/88, de 30 de novembro, que exclui de tributação, no âmbito das mais-valias, os ganhos
obtidos com a alienação de imóveis rústicos e urbanos (com a exceção de terrenos para construção),
adquiridos antes de 1989- 01-01. 2. Para efeitos de IRS e quando estão em causa bens adquiridos
por herança, segundo o entendimento veiculado pela Circular 21/92, de 19 de outubro, o momento
de aquisição dos bens por sucessão “mortis causa“ é o da abertura da herança.
3. Todavia, em caso de partilha, tudo o que o herdeiro adquirir para além da sua quota ideal na
herança, com o pagamento/recebimento das respetivas tornas, estas consubstanciam uma
alienação/aquisição do direito real sobre um bem ou parte dele, considerando-se como data de
aquisição do excedente a do facto jurídico que legitima esse negócio. Equipara-se, assim, a partilha
a um contrato de compra e venda e as respetivas tornas como correspondendo ao valor de
aquisição/realização.
4. Verificando-se que o sujeito passivo, através da partilha/inventário, se limitou a adquirir a quota
ideal que legalmente lhe cabia do património da herança, considera-se como data de aquisição dos
imóveis que lhe foram adjudicados, a data do óbito.
5. Assim, aquando de uma futura alienação, desde que se trate de prédios rústicos e/ou prédios
urbanos no seu estado originário, com exceção de terrenos para construção, os ganhos obtidos com
a alienação encontram-se excluídos de tributação, ao abrigo do disposto no artigo 5.º do Decreto-

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Lei n.º 442-A/88, de 30 de novembro, devendo, ainda assim, ser apresentado o anexo G1
conjuntamente com a modelo 3 do IRS referente ao ano de alienação.
6. No que concerne aos valores de aquisição, serão, nos termos do disposto no artigo 45.º do CIRS,
na respetiva quota-parte, o valor que serviu para efeitos de liquidação do processo do imposto do
selo, ou, não sendo este devido, o valor que serviria de base àquela liquidação.

6.2 IMT- PARTILHA POR DIVORCIO


O n.º 6 do artigo 2.º do CIMT determina que não haverá sujeição a IMT, sempre que o excesso da
quota-parte resultar de ato de partilha por efeito de dissolução do casamento que não tenha sido
celebrado sob o regime de separação de bens.

Haverá, no entanto, sujeição a verba 1.1 de Imposto de selo, sendo o adquirente do bem devedor
de um valor correspondente a 0,08% do valor do excesso.

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Enquadramento fiscal da partilha e herança indivisa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

BIBLIOGRAFIA:

- Carlos Marques Soares


Heranças & Partilhas – Guia Pratico – 3ª Edição Almedina

- Jaime Devesa, Manuel Joaquim Marcelino


Código IRS /IRC/EBF – Almedina

- José Alberto Pinheiro Pinto


Fiscalidade - Areal Editores

- Américo Brás Carlos


Impostos - Teoria Geral – Almedina

- J.L. Saldanha Sanches


Manual de Direito Fiscal - Coimbra Editores

- Cristina Araújo Dias


Lições De Direito das Sucessões - Almedina

- Augusto Lopes Cardoso


Partilhas Litigiosas - Almedina

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A tributação dos artistas e desportistas emEnquadramento
sede de IRS, IRC efiscal da partilha
IVA - vertente e herança
nacional indivisa
e internacional
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

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