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2023

FORMAÇÃO

Aspectos societários
relevantes para a
contabilidade
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

FICHA TÉCNICA

Título: Aspectos societários relevantes para a contabilidade

Tipo de formação: E-learning 14923; Plug-in 15023

Autores: Carlos Manuel Fernandes Plácido e Joaquim Jorge Almeida Mota

Capa e paginação: DCI - Departamento de Comunicação e Imagem da OCC

© Ordem dos Contabilistas Certificados, 2023

Não é permitida a utilização deste Manual, para qualquer outro fim que não
o indicado, sem autorização prévia e por escrito da Ordem dos Contabilistas
Certificados, entidade que detém os direitos de autor.

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Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Índice

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................... 6


Introdução ......................................................................................................................7
1. Capital Subscrito ....................................................................................................9
1.1. Constituição da Sociedade.............................................................................9
1.1.1. Aspetos Societários ...................................................................................9
1.1.1.1 Conceitos Fundamentais ........................................................................9
1.1.1.2. Enquadramento Legal.......................................................................... 16
1.1.2. Aspetos Contabilísticos ............................................................................ 27
1.1.3. Aplicações Práticas .................................................................................. 31
1.2. Aumento de capital ....................................................................................... 37
1.2.1. Aspetos societários .................................................................................. 37
1.2.1.1. Conceitos fundamentais ....................................................................... 37
1.2.1.2. Enquadramento legal............................................................................ 38
1.2.2. Aspetos contabilísticos ............................................................................. 45
1.2.3. Aplicações práticas .................................................................................. 48
1.3. Redução de capital........................................................................................ 54
1.3.1. Aspetos societários .................................................................................. 54
1.3.1.1. Conceitos fundamentais ....................................................................... 54
1.3.1.2. Enquadramento legal............................................................................ 54
1.3.2. Aspetos contabilísticos ............................................................................. 60
1.3.3. Aplicações práticas .................................................................................. 61
1.4. Dissolução da sociedade ............................................................................. 64
1.4.1. Aspetos societários .................................................................................. 64
1.4.1.1. Conceitos fundamentais ....................................................................... 64
1.4.1.2. Enquadramento legal............................................................................ 64
1.4.2. Aspetos contabilísticos ............................................................................. 65
1.4.3. Aplicações práticas .................................................................................. 65
1.5. Amortização de capital (quotas/ações) ....................................................... 67
1.5.1. Aspetos societários .................................................................................. 67
1.5.1.1. Conceitos fundamentais ....................................................................... 67
1.5.1.2. Enquadramento legal............................................................................ 67

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1.5.2. Aspetos contabilísticos .............................................................................75


1.5.3. Aplicações práticas .................................................................................. 75
1.6. Reintegração de capital (perda de metade do capital) ............................... 77
1.6.1. Aspetos societários .................................................................................. 77
1.6.1.1. Conceitos fundamentais ....................................................................... 77
1.6.1.2. Enquadramento legal............................................................................ 78
1.6.2. Aspetos contabilísticos ............................................................................. 79
1.6.3. Aplicações práticas .................................................................................. 79
2. Ações (quotas) próprias ...................................................................................... 82
2.1. Aspetos societários ......................................................................................... 82
2.1.1. Conceitos fundamentais ........................................................................... 82
2.1.2. Enquadramento legal ............................................................................... 83
2.2. Aspetos contabilísticos .................................................................................... 87
2.3. Aplicações práticas ......................................................................................... 92
3. Outros instrumentos de capital próprio.............................................................. 95
3.1. Aspetos societários ......................................................................................... 95
3.1.1. Conceitos fundamentais ........................................................................... 95
3.1.2. Enquadramento legal ............................................................................... 95
3.2. Aspetos contabilísticos .................................................................................. 101
3.3. Aplicações práticas ....................................................................................... 104
4. Prémios de emissão ........................................................................................... 106
4.1. Aspetos societários ....................................................................................... 106
4.1.1. Conceitos fundamentais ......................................................................... 106
4.1.2. Enquadramento legal ............................................................................. 106
4.2. Aspetos contabilísticos .................................................................................. 107
4.3. Aplicações práticas ....................................................................................... 108
5. Ajustamentos em ativos financeiros................................................................. 109
5.1. Aspetos societários ....................................................................................... 109
5.1.1. Conceitos fundamentais ......................................................................... 109
5.1.2. Enquadramento legal ............................................................................. 110
5.2. Aspetos contabilísticos .................................................................................. 110
5.3. Aplicações práticas ....................................................................................... 112
6. Excedentes de revalorização de ativos fixos tangíveis e intangíveis ............ 113
6.1. Aspetos societários ....................................................................................... 113

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6.1.1. Conceitos fundamentais ........................................................................ 113


6.1.2. Enquadramento legal ............................................................................. 114
6.2. Aspetos contabilísticos .................................................................................. 115
6.3. Aplicações práticas ....................................................................................... 118
7. Outras variações no capital próprio ................................................................. 120
7.1. Aspetos societários ....................................................................................... 120
7.1.1. Conceitos fundamentais ........................................................................ 120
7.1.2. Enquadramento legal ............................................................................. 120
7.2. Aspetos contabilísticos .................................................................................. 121
7.3. Aplicações práticas ....................................................................................... 122
8. Reservas, resultados transitados e dividendos antecipados (aplicação de
resultados/contas anuais) ................................................................................. 123
8.1. Aspetos societários ....................................................................................... 123
8.1.1. Conceitos fundamentais ........................................................................ 123
8.1.2. Enquadramento legal ............................................................................. 123
8.2. Aspetos contabilísticos .................................................................................. 130
8.3. Aplicações práticas ....................................................................................... 133
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 138

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACE Agrupamento Complementar de Empresas


AEIE Agrupamento Europeu de Interesse Económico
al. Alínea
art. Artigo
CCiv Código civil
CCSNC Código de Contas do Sistema de Normalização Contabilística
CC Contabilistas Certificados
c/ Com
Cf. Conforme
CFI Código Fiscal do Investimento
CIRC Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

CNC Comissão de Normalização Contabilística


CSC Código das Sociedades Comerciais
CP Capital Próprio
CVM Código dos Valores Mobiliários
CS Capital Social
DL Decreto-Lei
DLRR Dedução por Lucros Retidos e Reinvestidos

IRC Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas


IRS Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
n.º Número

NCRF Normas contabilísticas e de relato financeiro


NCRF 6 Ativos intangíveis
NCRF 7 Ativos fixos tangíveis
NCRF 22 Subsídios e Outros Apoios das Entidades Públicas

NCRF 27 Instrumentos Financeiros


NCRF 28 Benefícios dos Empregados
MEP Método da Equivalência Patrimonial
Ps Prémio de subscrição
ROC Revisor Oficial de Contas
SNC Sistema de Normalização Contabilística

Vn Valor Nominal
Vr Valor de Realização
Vs Valor de Subscrição

§ Parágrafo

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Introdução

O presente manual, foi-nos solicitado, pela Ordem dos Contabilistas Certificados


(OCC), e teve como base o manual anterior, da autoria do Sérgio Carmelo, relativo aos
aspetos societários relevantes para a Contabilidade, como suporte para às ações de
formação.

O manual, para o enquadramento do tema “Aspetos Societários Relevantes para a


Contabilidade” procura responder a um conjunto de preocupações dos profissionais da
área, ao nível dos acontecimentos da vida das sociedades que envolvem o capital
próprios.

A formação contínua é indispensável para proporcionar aos Contabilistas Certificados


(CC) a preparação técnica adequada, necessária para a realização da sua atividade
profissional com o mais alto nível de qualidade.

Assim, este manual tem como objetivo principal contribuir para a revisão e
aprofundamento de conhecimentos nas matérias que constituem a essência da
designada Contabilidade das Sociedades.

A Contabilidade das Sociedades, para além de refletir o processo contabilístico das


operações com incidência no capital próprio, procede ao enquadramento das normas
jurídicas reguladoras de tais operações.

Na procura de satisfazer os propósitos enunciados, o manual foi preparado de modo a


dotar os profissionais de conhecimentos que reputamos de essenciais, nas temáticas
tratadas, designadamente:

• conhecer os aspetos jurídico-societários e contabilísticos relativos ao capital social


(constituição, aumentos, reduções, dissolução, amortização e perda de metade
do capital social).

• apreender os conceitos fundamentais, na vertente jurídico-societária e


contabilística, igualmente, de outras operações que envolvem o capital próprio
(quotas ou ações próprias; outros instrumentos de capital próprio; prémios de
subscrição; ajustamentos em ativos financeiros; excedentes de revalorização;
outras variações no capital próprio; reservas; resultados transitados).

• detalhar, no mesmo âmbito, os aspetos essenciais da aplicação dos resultados.

• compreender o tratamento contabilístico de cada uma das temáticas.

• rever as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF) aplicáveis,


mormente a NCRF 27 - Instrumentos Financeiros (NCRF 27).

As abordagens são desenvolvidas nas vertentes jurídico-societárias e contabilísticas,


desconsiderando-se o seu enquadramento fiscal.

Este manual, para além de constituir-se como um instrumento de formação profissional,


tem como finalidade última servir de apoio no tratamento contabilístico de situações
concretas da realidade empresarial.

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Para tanto, cada um dos conteúdos programáticos tratados foi estruturado de modo a
serem analisados:

(i) os conceitos fundamentais associados.

(ii) a legislação aplicável.

(iii) os aspetos contabilísticos.

(iv) a apresentação e a resolução de casos práticos.

No que respeita à legislação aplicável, foi seguida a orientação de apresentar a lei


ipsis verbis, selecionando-se as normas que, numa perspetiva contabilística, são
consideradas relevantes.

No contexto da legislação selecionada para cada temática, foram efetuados


comentários, com o intuito de interpretar, precisar e clarificar os conteúdos jurídico-
societários que se consideram úteis para os fins do processo contabilístico.

Nestes termos, o manual foca-se nos aspetos societários relevantes para a


Contabilidade e está estruturado em oito capítulos, que abarcam as matérias
citadas, supra.

Em matéria de soluções contabilísticas apresentadas, optamos por respeitar os


requisitos mínimos de conformidade com o Código de Contas do Sistema de
Normalização Contabilística (CCSNC), aplicável pelas entidades sujeitas à
aplicação das NCRF.

Naturalmente, pequenas e microentidades podem ter necessidade de adaptar


algumas das soluções apresentadas, sendo de assinalar, igualmente, que as
taxonomias podem ter incidência na decomposição necessária das contas.

É nossa convicção que o manual, pela abordagem teórico-prática dos temas e


conteúdos apresentados, pode constituir um instrumento de apoio à formação dos
CC e de aplicação prática nos domínios da Contabilidade das Sociedades.

Como comentário final, importa referir que quaisquer opiniões contidas neste
manual, bem como erros e omissões eventuais, são da exclusiva responsabilidade
dos seus autores.

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1. Capital Subscrito

Constituição da Sociedade

Aspetos Societários

Conceitos Fundamentais

Vamos começar por referir o conceito de sociedade que é regulado pelo Código Civil
(CCiv):

Conceito de sociedade (art. 980.º do CCiv)

"Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir


com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que
não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade."

Sendo propósito da sociedade a obtenção de lucros, tal não isenta os sócios da


responsabilidade de quinhoarem nas perdas [al. b) do art. 20.º do Código das
Sociedades Comerciais (CSC)].

Deste artigo, podemos retirar os elementos definidores de uma sociedade:

a) Contribuição de bens ou serviços

Consiste na chamada "obrigação de entrada", a qual se pode concretizar em dinheiro,


outros bens ou, até, em serviços.

O sócio que contribui apenas com serviços designa-se por sócio de mera indústria,
apenas sendo admitidos nas sociedades em nome coletivo e nas sociedades em
comandita.

b) Exercício em comum de uma atividade económica

Apenas se exclui a atividade que seja de mera fruição.

c) Fim lucrativo

A noção legal de lucro que integra a ideia de sociedade é ampla e capaz de envolver,
tanto o incremento de riqueza, como a angariação de riqueza (redistribuição) pelos
sócios participantes.

Por outro lado, o conceito de sociedade comercial, aquele que aqui nos vai interessar,
é apresentado pelo n.º 2 do art. 1.º do CSC:

"São sociedades comerciais aquelas que tenham por objeto a prática de atos de
comércio e adotem o tipo de sociedade em nome coletivo, de sociedade por quotas, de
sociedade anónima, de sociedade em comandita simples ou de sociedade em
comandita por ações."

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Uma sociedade comercial caracteriza-se por 2 elementos fundamentais:

- o objeto: o exercício de atividade comercial.

- o tipo: previsto em lei.

Estas condições (o objeto e o tipo) acabam por definir a sociedade comercial regular,
mas não podemos deixar de referir as sociedades irregulares, as sociedades civis sob
forma comercial e as sociedades civis, como adiante é referido.

Assim, quanto à responsabilidade inerente dos sócios1, as sociedades regulares


caracterizam- se por:

- responsabilidade ilimitada, nas sociedades em nome coletivo.

- responsabilidade limitada ao património social, nas sociedades por quotas e anónimas.

- responsabilidade mista, nas sociedades em comandita2.

Considerando que constituem a maioria esmagadora do universo das sociedades


comerciais existentes e em atividade em Portugal, é às sociedades por quotas e às
sociedades anónimas que dedicamos a atenção, de modo especial.

Adicionalmente, importa ir um pouco mais longe, analisando outras classificações


possíveis das sociedades:

1. º - Ainda quanto ao objeto e tipo

a) Sociedades irregulares

Sociedades com objeto comercial, mas sem tipo comercial.

Todos quantos em nome delas contratarem, responderão solidária e ilimitadamente


pelas obrigações contraídas.

Atualmente, o conceito de sociedade irregular abrange, ainda, as sociedades


comerciais antes do respetivo registo (art. 37.º a art. 52.º do CSC).

b) Sociedades civis sob forma comercial

Sociedades sem objeto comercial, mas com tipo comercial.

Ficam sujeitas às disposições do CSC, não sendo, no entanto, consideradas


comerciantes, para efeito do art. 13.º do Código Comercial.

1 Isto é, a suscetibilidade do património pessoal do sócio vir a responder por obrigações da sociedade.
2 Ilimitada para os sócios de indústria (comanditados) e limitada para os sócios de capital
(comanditários).

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c) Sociedades civis

Sociedades sem objeto e tipo comerciais.

Regulam-se pelo CCiv.

2. º - Quanto à natureza do capital social

a) Sociedades fechadas

A participação no capital s o c i a l é, normalmente, reservada a um número restrito


de sócios ou acionistas.

b) Sociedades abertas

As ações são negociadas em mercado regulamentado, de modo livre, sem intervenção


direta do comprador e do vendedor, que dão ordens de compra ou venda a entidades
com autorização para intermediar essas operações (corretores), com destaque para as
sociedades que se tenham constituído através de oferta pública de subscrição, entre
outras modalidades.

Estas sociedades estão reguladas no Capítulo IV do Código dos Valores Mobiliários


(CVM).

3. º - Quanto ao tipo de relações dos associados

a) Sociedades de pessoas

Sociedades com poucas pessoas, conhecidas, com confiança recíproca e todas


intervindo na administração, como as sociedades em nome coletivo.

Rigorosamente, todas as sociedades são de pessoas e de capitais, pelo que esta


classificação apenas pretende salientar qual o elemento de maior relevo (as
pessoas ou os capitais) na constituição dos vários tipos de sociedades comerciais.

b) Sociedades de capitais

Sociedades com muitas pessoas, desconhecidas e poucas intervindo na


administração, como as sociedades anónimas.

c) Sociedades de tipo misto

Sociedades cujo tipo permite que se aproximem, quer das sociedades de pessoas, quer
das sociedades de capitais, como as sociedades por quotas e as sociedades em
comandita.

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4. º - Outros tipos de sociedades ou figuras afins

a) Cooperativas

b) Empresas públicas

c) Empresas de economia mista (integram o setor público)

d) Cooperação entre sociedades

- Agrupamentos complementares de empresas (ACE)

O regime dos agrupamentos complementares de empresas está regulamentado


no Decreto-Lei (DL) n.º 430/73, de 25 de agosto.

- Agrupamentos europeus de interesse económico (AEIE)

Os agrupamentos europeus de interesse económico estão previstos no


Regulamento (CEE) n.º 2137/85 do Conselho, de 25 de julho de 1985.

- Consórcio - contrato de reunião de empresas joint venture, alocando meios


humanos e tecnologias para a realização de determinados fins: estudo
preparatório de um empreendimento; pesquisa e exploração de recursos naturais,
por exemplo.

- Associação em participação - contrato pelo qual uma pessoa (associada) se


associa a uma atividade económica exercida por uma outra pessoa (associante),
ficando a primeira a participar nos lucros, ou nos lucros e prejuízos que desse
exercício resultarem para a segunda.3

Retomando a abordagem das sociedades regulares, analisemos outros aspetos


importantes determinados pelo CSC:

- Personalidade e capacidade

Personalidade (art. 5.º do CSC):

"As sociedades gozam de personalidade jurídica e existem como tais a partir da data
do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem, sem prejuízo do disposto
quanto à constituição de sociedades por fusão, cisão ou transformação de outras."

Convém salientar que, para a aquisição da personalidade jurídica da sociedade, passa


a ser decisivo o registo comercial, não bastando a formalização pelos meios legais
admitidos do ato constitutivo.

Nos termos do n.º 1 do art. 6.º do CSC, a capacidade da sociedade compreende os


direitos e as obrigações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim,

3 O consórcio e a associação em participação são institutos regulados no Regime Jurídico dos Contratos

de Consórcio e de Associação em Participação (DL n.º 231/81, de 28 de julho).

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excetuados aqueles que lhe sejam vedados por lei ou sejam inseparáveis da
personalidade singular.

Concretamente, as sociedades comerciais têm, por força da lei, uma personalidade


jurídica própria, podendo ser sujeitos de direitos e obrigações (são pessoas jurídicas
coletivas).

Isto significa que os bens pertencentes a determinada sociedade não são de qualquer
dos seus sócios, mas, sim, da sociedade e, portanto, de todos eles.

Claro que, não tendo existência física (como as pessoas singulares), a sociedade
exerce os seus direitos e cumpre as suas obrigações por intermédio dos seus
representantes.

Resumindo:

Em consequência da sua personalidade jurídica, as sociedades comerciais:


– são sujeitos de direitos e obrigações.
– possuem um património próprio (autonomia patrimonial).
– possuem uma firma, que as identifica;
– possuem um domicílio (sede), distinto do de qualquer dos seus sócios.
– podem estar em juízo por intermédio dos seus representantes legais.

- Forma e partes do contrato de sociedade

De acordo com o art. 7.º do CSC:

1. o contrato de sociedade deve ser reduzido a escrito (forma externa).

2. o número mínimo de partes de um contrato de sociedade é de dois, exceto quando,


para alguns tipos de sociedades, a lei exija um número superior (sociedades
anónimas) ou permita que a sociedade apresente um sócio único (sociedades
unipessoais).

Como exemplos, encontramos no CSC:

• sociedades unipessoais por quotas: art. 270.º-A a art. 270.º-F.

• grupos constituídos por domínio total: art. 488.º a art. 491.º.

- Subscrição e realização do capital social

Na constituição de uma sociedade4, associadas à movimentação da conta


correspondente ao capital social5, é possível identificar, juridicamente, 2 fases:

4 de resto, igualmente, nos aumentos do valor do capital social.


5 denominada Capital subscrito.

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1. ª - A subscrição do capital social

Entende-se por subscrição o ato pelo qual o sócio se compromete a entregar à


sociedade valores determinados, para a formação do capital social.

O valor global, correspondente à obrigação de entrada, assume a denominação de


valor de subscrição, não podendo, em caso algum, ser inferior ao valor nominal das
partes subscritas, no caso das quotas e das ações com valor nominal, de acordo com
as disposições do n.º 1 do art. 25.º do CSC, ou ao valor de emissão, no caso das ações
sem valor nominal, de acordo com as disposições do n.º 2 do art. 25.º do CSC:

"1 - O valor nominal da parte, da quota ou das ações atribuídas a um sócio no contrato
de sociedade não pode exceder o valor da sua entrada, como tal se considerando ou a
respetiva importância em dinheiro ou o valor atribuído aos bens no relatório do revisor
oficial de contas, exigido pelo artigo 28.º.”

“2 - No caso de ações sem valor nominal, o valor da entrada do sócio deve ser pelo
menos igual ao montante do capital social correspondentemente emitido.”

O valor de subscrição pode, contudo, ser superior, situação em que a subscrição se


denomina acima do par (valor de subscrição > valor nominal), no caso das quotas e
das ações com valor nominal, dando origem a um prémio de subscrição.

O valor subscrito deve estar consubstanciado em bens suscetíveis de penhora (art.


20.º do CSC).

A reunião do capital social pode ser efetuada por subscrição particular, caso em que todo
o capital é subscrito por um número determinado de pessoas singulares ou coletivas
(fundadores), mas, nas sociedades anónimas, pode ser efetuada, igualmente por
subscrição pública, caso em que, não estando previamente determinada a totalidade
dos subscritores, para ela se recorre a meios de publicitação.

2. ª - A realização do capital social

Entende-se por realização do capital o ato pelo qual o sócio entrega à sociedade aqueles
valores com que se comprometeu, anteriormente.

A realização do capital corresponde, assim, à liberação (pagamento) das quotas ou das


ações.

A realização pode ser integral ou parcial, consoante os sócios, no momento da


constituição, entregam à sociedade a totalidade dos valores subscritos ou, apenas, parte
deles, caso em que completam, posteriormente, o pagamento, nos prazos
convencionados e constantes do contrato de sociedade, podendo haver várias
interpelações, escalonadas no tempo.

As questões associadas à subscrição e à realização do capital social, para os tipos


diferentes de sociedade, são abordadas no capítulo seguinte.

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- Contrato de sociedade

O contrato de sociedade, ou seja, o título constitutivo da sociedade, deve conter


especificações determinadas, tal como prescreve o art. 9.º do CSC:
a) os nomes ou firmas de todos os sócios fundadores e os outros dados
de identificação destes.
b) o tipo de sociedade.

c) a firma da sociedade.

d) o objeto da sociedade.

e) a sede da sociedade.

f) o capital social, salvo nas sociedades em nome coletivo em que todos os sócios
contribuam apenas com a sua indústria.

g) a quota de capital e a natureza da entrada de cada sócio, bem como os pagamentos


efetuados por conta de cada quota.

h) consistindo a entrada em bens diferentes de dinheiro, a descrição destes e a


especificação dos valores correspondentes.

i) quando o exercício anual for diferente do ano civil, a data do respetivo encerramento,
a qual deve coincidir com o último dia do mês de calendário, sem prejuízo do previsto
no art. 8.º do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas.

Os artigos seguintes do CSC referem-se aos requisitos da formação da firma (art. 10.º),
ao objeto (art. 11.º), à sede (art. 12.º), às formas locais de representação (art. 13.º) e à
expressão do capital (art. 14.º)

Note-se que, de acordo com o art. 15.º, a sociedade dura por tempo indeterminado, se
nenhuma duração for estabelecida no contrato.

Além disso, a duração da sociedade fixada no contrato só pode ser aumentada


(prorrogação da sociedade) por deliberação tomada antes desse prazo ter terminado.

Com efeito, depois desse facto, a prorrogação da sociedade dissolvida (regresso à


atividade) só pode ser deliberada nos termos do art. 161.º do CSC.

- Registo do contrato

O registo do contrato de constituição da sociedade está regulado no art. 18.º do CSC.

Para a generalidade das sociedades, o contrato de sociedade, depois de celebrado na


forma legal, deve ser inscrito no registo comercial.

Cumprida a formalidade do registo comercial, a sociedade adquire o estatuto de


sociedade regular e só a partir de então a sociedade assume, plenamente, os seus
direitos e obrigações.

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1.1.1.2. Enquadramento Legal

Neste ponto, é efetuada uma abordagem do enquadramento legal do capital subscrito,


com distinção entre as sociedades por quotas e as sociedades anónimas.

Sociedades por quotas (Lda.)

- Características e contrato (art. 197.º a art. 201.º do CSC)

No que respeita às características das sociedades por quotas:

a) o capital está dividido em quotas.

b) os sócios são solidariamente responsáveis por todas as entradas convencionadas


no contrato social.

c) só o património social responde para com os credores pelas dívidas da


sociedade.

No entanto, é lícito estipular no contrato que um ou mais sócios respondem


também perante os credores sociais até determinado montante, solidariamente com
a sociedade ou subsidiariamente em relação a esta (n.º 1 do art. 198.º do CSC).

O contrato de sociedade deve, especialmente, mencionar:

a) o montante de cada quota de capital e a identificação do respetivo titular.

b) o montante das entradas efetuadas por cada sócio no momento do ato


constitutivo e o montante das entradas diferidas.

No que concerne ao capital social e quotas, o montante do capital social é livremente


fixado no contrato de sociedade, correspondendo à soma das quotas subscritas pelos
sócios (art. 201.º do CSC).

A unidade e montante da quota está previsto no art. 219.º do CSC, observando-se o que
se segue:

a) na constituição da sociedade, a cada sócio apenas fica a pertencer uma quota,


que corresponde à sua entrada.

b) os valores nominais das quotas podem ser diversos, mas nenhum pode ser
inferior a € 1,006.

c) não podem ser emitidos títulos representativos de quotas.

6 da conjugação desta norma com o art. 201º do CSC, podemos concluir que o capital social mínimo de

uma sociedade por quotas é igual ao produto do número de quotas em que o mesmo se reparta pelo
valor nominal mínimo de € 1,00, podendo ser de € 1,00, no caso de uma sociedade unipessoal.

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- Obrigação de entrada (art. 202.º a art. 207.º do CSC)

Entradas (art. 202.º do CSC):

"1 - Não são admitidas contribuições de indústria.

2 - Revogado

3 - Revogado

4 - Sem prejuízo de estipulação contratual que preveja o diferimento da realização das


entradas em dinheiro, os sócios devem declarar no ato constitutivo, sob sua
responsabilidade, que já procederam à entrega do valor das suas entradas ou que se
comprometem a entregar, até ao final do primeiro exercício económico, as respetivas
entradas nos cofres da sociedade.

5 - Revogado

6 - Os sócios que, nos termos do n.º 4, se tenham comprometido no ato constitutivo a


realizar as suas entradas até ao final do primeiro exercício económico devem declarar,
sob sua responsabilidade, na primeira assembleia geral anual da sociedade posterior
ao fim de tal prazo, que já procederam à entrega do respetivo valor nos cofres da
sociedade."

As entradas em espécie previstas no relatório do Revisor Oficial de Contas (ROC),


elaborado nos termos do art. 28.º do CSC, acham-se realizadas no ato constitutivo.

O contrato social pode prever o diferimento da realização das entradas em dinheiro.

Os pagamentos posteriores só podem ser diferidos para datas certas, por um período
não superior a cinco anos ou a metade da duração da sociedade, se este limite for
inferior, ou ficar dependente de factos certos e determinados (n.º 1 do art. 203.º do
CSC).

O sócio que não tenha efetuado a prestação de entrada na data em que devia fazê-la
designa-se por sócio retardatário, embora só entre em mora depois de interpelado pela
sociedade para efetuar o pagamento, em prazo que pode variar entre 30 e 60 dias (n.º 3
do art. 203.º do CSC).

Se o sócio não efetuar, no prazo fixado na interpelação, a prestação a que está obrigado,
deve a sociedade avisá-lo por carta registada de que, a partir do trigésimo dia seguinte
à receção da carta, fica sujeito a exclusão e a perda total ou parcial da quota (n.º 1 do
art. 204.º do CSC).

Depois deste prazo, e deliberando a sociedade excluir o sócio, deve comunicar-lhe, por
carta registada, a sua exclusão, com a consequente perda a favor da sociedade da
respetiva quota e pagamentos já realizados, podendo os sócios podem deliberar que a
perda se limite à parte da quota correspondente à prestação não efetuada (n.º 2 do art.
204.º do CSC).

Então, a sociedade pode fazer vender em hasta pública a quota perdida a seu favor, se
os sócios não deliberarem que ela seja vendida a terceiros por modo diverso ou a um,
alguns ou todos os restantes sócios (n.º 1 do art. 205.º do CSC).

17
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Acresce que, qualquer que seja a deliberação, se o preço ajustado for inferior à soma
do montante em dívida com a prestação já efetuada por conta da quota, a venda só
pode realizar-se com o consentimento do sócio excluído (n.º 3 do art. 205.º do CSC).

Contudo, o sócio excluído e os anteriores titulares da quota são solidariamente


responsáveis, perante a sociedade, pela diferença entre o produto da venda e a parte
da entrada em dívida.

Entretanto, convém salientar que, excluído um sócio ou declarada perdida a favor da


sociedade parte da sua quota, são os outros sócios obrigados, solidariamente, a pagar
a parte da entrada que estiver em dívida, quer a quota tenha sido ou não vendida,
respondendo esses sócios, nas relações internas, proporcionalmente às suas quotas.

Note-se, finalmente, que as quantias provenientes da venda da quota do sócio excluído,


deduzidas as despesas correspondentes, pertencem à sociedade até ao limite da
importância da entrada em dívida.

Relativamente ao excedente, se o houver, deve a sociedade restituir aos outros sócios


as quantias por eles desembolsadas, na proporção dos pagamentos feitos; o restante
é entregue ao sócio excluído até ao limite da parte da entrada por ele prestada, sendo
que o remanescente pertence à sociedade.

Face ao antedito, o limite máximo da responsabilidade de cada sócio, pela realização


das quotas subscritas e não realizadas, é determinado pela soma do valor da sua quota
com o valor das restantes quotas, ou seja, o capital social.

No entanto, logo que o capital subscrito pelos restantes sócios esteja realizado, a
responsabilidade de cada sócio limita-se ao valor da sua quota.

Sociedades anónimas (S.A.)

- Características, contrato e obrigação de entrada (art. 271.º a art. 286.º do CSC)

Na sociedade anónima, o capital é dividido em ações e cada sócio limita a sua


responsabilidade ao valor das ações que subscreveu (art. 271.º do CSC).

Do contrato de sociedade, devem, especialmente, constar (art. 272.º do CSC):

"a) o número de ações e, se existir, o respetivo valor nominal.


b) as condições particulares, se as houver, a que fica sujeita a transmissão de ações.
c) as categorias de ações que porventura sejam criadas, com indicação expressa do número
de ações e dos direitos atribuídos a cada categoria.
d) a natureza nominativa das ações.
e) o montante do capital realizado e os prazos de realização do capital apenas subscrito.
f) a autorização, se for dada, para a emissão de obrigações.
g) a estrutura adotada para a administração e fiscalização da sociedade."

A sociedade anónima não pode ser constituída por um número de sócios inferior a cinco,
salvo quando a lei o dispense.

18
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

De acordo com o referido, excetuam-se as sociedades em que o Estado, diretamente


ou por intermédio de empresas públicas ou outras entidades equiparadas por lei para
este efeito, fique a deter a maioria do capital, as quais podem constituir-se apenas com
dois sócios (n.º 2 do art. 273.º do CSC).

Ademais, o n.º 1 do art. 488.º do CSC prevê que uma sociedade pode constituir uma
sociedade anónima de cujas ações ela seja inicialmente a única titular.

A qualidade de sócio surge com a outorga do contrato de sociedade ou com o aumento


de capital, não dependendo da emissão e entrega do título de ação ou, tratando-se de
ações escriturais, da inscrição na conta de registo individualizado (art. 274.º do CSC).

No que respeita ao valor nominal do capital e das ações ou o valor do capital social correspondentemente
emitido e ao valor de emissão das ações (art. 276.º do CSC):

a) o valor nominal mínimo do capital social é de € 50.000,00 e o valor nominal mínimo


das ações ou, na sua falta, o valor de emissão, não deve ser inferior a 1 cêntimo.

b) todas as ações devem representar a mesma fração no capital social e, no caso de


terem valor nominal, devem ter o mesmo valor nominal, sendo indivisíveis.

c) as ações das sociedades anónimas podem ser ações com valor nominal ou ações
sem valor nominal, sendo que, na mesma sociedade não podem coexistir ações com
valor nominal e ações sem valor nominal.

d) a ação é indivisível.

Relativamente às entradas (art. 277.º do CSC):

a) não são admitidas contribuições de indústria.

b) nas entradas em dinheiro, só pode ser diferida a realização de até 70% do valor
nominal ou do valor de emissão das ações, não podendo ser diferida a realização
do prémio de subscrição, quando previsto.

c) a soma das entradas em dinheiro está sujeita ao regime de depósito prévio em


instituição de crédito.

A obrigação de entrada está preceituada entre o art. 285.º e o art. 286.º do CSC, sendo
relevante assinalar-se o que se refere de seguida.

O contrato de sociedade não pode diferir a realização das entradas em dinheiro por mais
de cinco anos.

Relativamente aos acionistas retardatários, são aplicáveis disposições semelhantes às


das sociedades por quotas: interpelação do acionista, que pode ser feita por anúncio;
entrada em mora depois de ultrapassado o prazo fixado; concessão de novo prazo não
inferior a noventa dias; perda da ação e dos pagamentos efetuados em favor da
sociedade; responsabilidade solidária de todos os anteriores titulares da ação, que a
podem adquirir; venda da ação por meio de corretor, em Bolsa ou em hasta pública.

19
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Não bastando o preço da venda para cobrir a importância da dívida, juros e despesas
efetuadas, a sociedade deve exigir a diferença ao último titular e a cada um dos
antecessores; se o preço obtido exceder aquela importância, o excesso pertence ao
último titular.

- Subscrição do capital

A sociedade anónima pode ser constituída por subscrição particular, caso em que o seu
capital é imediata e totalmente subscrito pelos fundadores, que ficam detentores iniciais
da totalidade das ações e assumem, ao mesmo tempo, a obrigação de realizar,
integralmente, o capital social.

Neste caso, logo que se achem verificadas as condições exigidas pela lei, podem os
fundadores constituir a sociedade, outorgando o respetivo contrato.

A sociedade anónima é constituída por subscrição pública ou, simultaneamente, por


subscrição particular e pública quando para a colocação da totalidade ou de parte das
ações se recorrer a oferta pública de subscrição.

Relevam, igualmente, nesta matéria as disposições legais atinentes a ofertas públicas


previstas no título III - Ofertas Públicas, do CVM.

Anote-se que a expressão "sociedade com subscrição pública" compreende as


sociedades que tenham recorrido a subscrição pública e as sociedades cujas ações
sejam transacionadas em mercado regulamentado.

Neste caso, os promotores devem subscrever e realizar integralmente ações cujos


valores nominais ou cujos valores de emissão perfaçam, pelo menos, o capital mínimo
legal, as quais são inalienáveis durante dois anos a contar do registo definitivo da
sociedade, e elaborar o projeto completo do contrato de sociedade, requerendo o seu
registo provisório.

Este projeto deve especificar o número de ações ainda não subscritas destinadas,
respetivamente, a subscrição particular e a subscrição pública.

Depois, colocam as ações destinadas à subscrição particular e elaboram oferta de


ações destinadas à subscrição pública, assinada por todos eles, donde constam,
obrigatoriamente (n.º 6 do art. 279.º do CSC):

"a) o projeto do contrato provisoriamente registado.

b) qualquer vantagem que, nos limites da lei, seja atribuída aos promotores.

c) o prazo, lugar e formalidades da subscrição.

d) o prazo dentro do qual se reúne a assembleia constitutiva.

e) um relatório técnico, económico e financeiro sobre as perspetivas da sociedade,


organizado com base em dados verdadeiros e completos e em previsões justificadas
pelas circunstâncias conhecidas nessa data, contendo as informações necessárias
para cabal esclarecimento dos eventuais interessados na subscrição.

20
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

f) as regras a que obedece o rateio da subscrição, se este for necessário.

g) a indicação de que a constituição definitiva da sociedade fica dependente da


subscrição total das ações ou das condições em que é admitida aquela constituição,
se a subscrição não for completa.

h) o montante da entrada a efetuar na altura da subscrição, o prazo e o modo da


restituição dessa importância, no caso de não chegar a constituir-se a sociedade."

Aos promotores não pode ser atribuída outra vantagem além da reserva duma
percentagem não superior a um décimo dos lucros líquidos da sociedade, por tempo
não excedente a um terço da duração desta e nunca superior a cinco anos, a qual não
pode ser paga sem se acharem aprovadas as contas anuais (n.º 8 do art. 279.º do
CSC).

Segue-se o período em que as ações são colocadas à disposição do público,


geralmente, por intermédio das instituições de crédito.

Quem pretenda participar na constituição do capital da sociedade, aceitando as


condições estabelecidas, deve preencher e entregar ou submeter um boletim de
subscrição, no qual, para além da sua identificação, o subscritor indica o número e
espécie de ações pretendidas e a forma de pagamento do respetivo preço.

As entradas em dinheiro efetuadas por todos os subscritores são diretamente


depositadas por estes na conta aberta pelos promotores em nome da futura sociedade.

Findo o prazo de subscrição, as instituições de crédito devolvem à sociedade os boletins


recebidos e, então, verifica-se qual o número de ações subscritas, o qual pode ser, e,
geralmente, é, superior ou inferior ao número de ações oferecidas ao público.

Na atualidade, face às potencialidades dos meios de comunicação, na emissão de


ações, pode adotar-se um critério diferente: a subscrição termina logo que seja atingido
o número de ações emitidas, evitando-se, deste modo, o rateio e a devolução das
importâncias cobradas em excesso.

Quando o número de ações subscritas for superior ao número de ações emitidas,


procede-se a um rateio, de acordo com critério previamente estabelecido, respeitando-
se, em geral, as pequenas subscrições.

Após o rateio, dá-se conhecimento ao público do seu resultado, anunciando qual o


número de ações atribuídas para cada número de ações subscritas (em regra, por
escalões) e informando a data a partir da qual podem os subscritores proceder ao
levantamento das respetivas cautelas e do excedente das importâncias depositadas no
ato da subscrição, nos locais onde esta foi efetuada.

As cautelas constituem títulos provisórios das ações, mas para todos os efeitos
equivalentes às próprias ações.

Mais tarde, após a liberação completa, as cautelas são trocadas pelos títulos definitivos,
que devem ser entregues aos acionistas nos seis meses seguintes ao registo definitivo
do contrato de sociedade ou do aumento de capital.

21
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

No caso de subscrição incompleta (art. 280.º do CSC), não sendo subscritas pelo
público todas as ações a ele destinadas, há a considerar duas hipóteses:

"1.ª - se o programa de oferta de ações à subscrição pública especificar


que, neste caso, é facultado à assembleia constitutiva deliberar a
constituição da sociedade, pode o processo continuar, desde que
tenham sido subscritas pelo menos três quartos das ações destinadas
ao público.

2.ª - em caso contrário, devem os promotores requerer o cancelamento


do registo provisório e publicar um anúncio em que informem os
subscritores de que devem levantar as suas entradas, suportando
aqueles todas as despesas efetuadas."

Na assembleia constitutiva (art. 281.º do CSC), terminada a subscrição e podendo ser


constituída a sociedade, os promotores devem convocar uma assembleia de todos os
subscritores (assembleia constitutiva), na qual cada promotor e cada subscritor tem um
voto, independentemente do número de ações subscritas.

A assembleia delibera:

a) sobre a constituição da sociedade, nos precisos termos do projeto registado.

b) sobre as nomeações para os órgãos sociais.

c) com voto unânime de todos os promotores e subscritores, podem ser


introduzidas alterações no projeto de contrato de sociedade.

A ata deve ser assinada pelos promotores e por todos os subscritores que tenham
aprovado a constituição da sociedade.

A escritura do contrato de sociedade deve ser outorgada por dois promotores e pelos
subscritores que entrem com bens diferentes de dinheiro (art. 283.º do CSC).

- Ações

O capital das sociedades anónimas, constituído em dinheiro ou em valores de qualquer


natureza, é sempre representado e dividido em ações de valor igual, podendo, contudo,
o mesmo título representar mais de uma ação, devendo, para o efeito, ser especificado
no contrato social o número de ações que cada título incorpora.

Assim, designam-se por ações não só as partes em que se encontra dividido o capital
das sociedades anónimas, mas também o respetivo título (documento).

A ação é, pois, a unidade de medida ou parte do capital social das sociedades por ações
(em comandita por ações e anónimas), correspondendo este ao produto do número de
ações pelo seu valor nominal ou pelo seu valor de emissão, o qual não pode ser inferior
a um cêntimo.

22
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

As ações conferem aos seus titulares a qualidade de acionistas da sociedade que as


emitiu, com direitos a participar nos lucros anuais e no património social, em caso de
liquidação, sendo valores mobiliários negociáveis.

As ações são títulos de crédito com características muito especiais, em consequência


do seu prazo indeterminado, pois não conferem aos seus portadores o direito de exigir
à sociedade o reembolso do valor correspondente.

Conforme prescreve o art. 304.º do CSC, antes da emissão dos títulos definitivos, pode a
sociedade entregar ao acionista um título provisório nominativo, o qual substitui, para
todos os efeitos, o título definitivo, enquanto este não for emitido, e deve conter as
indicações exigidas para o segundo.

As ações são, obrigatoriamente, nominativas.

Quanto às formas de representação das ações, o Título II - Valores Mobiliários, do CVM,


regula esta matéria, referindo que os valores mobiliários podem ser representados por
títulos (ações tituladas) ou assumir a forma meramente escritural (ações escriturais).

Refira-se que se classificam como valores mobiliários as ações, as obrigações, os


títulos de participação, os fundos públicos e outros valores equivalentes.

Nestes termos:

a) Ações tituladas

As ações tituladas, previstas entre o art. 95.º e o art. 107.º do CVM, são representadas
por títulos, que podem incorporar mais de uma ação (5, 10, 20, 50, 100, 500, 1000, por
exemplo), conforme o estabelecido no contrato de sociedade, tendo o acionista a
faculdade de exigir a divisão ou concentração de títulos, suportando os encargos
correspondentes.

Enquanto não forem emitidos os títulos, a posição jurídica do titular pode ser provada
através de cautelas (títulos provisórios), passadas pelo emitente ou pelo intermediário
financeiro colocador da emissão (art. 96.º do CVM).

b) Ações escriturais

As ações escriturais estão reguladas entre o art. 61.º e o art. 94.º do CVM.

As ações escriturais não têm número de ordem e são, exclusivamente, materializadas


pela sua inscrição em contas abertas em nome dos respetivos titulares, através das
quais se comprovam a sua natureza, as características e a situação jurídica e se
processam ou registam, mediante lançamentos e anotações adequados, todas as
operações de que são objeto e o exercício dos direitos de conteúdo patrimonial que
lhes respeitam.

As ações escriturais negociadas em mercado regulamentado são, obrigatoriamente,


integradas em sistema centralizado (art. 62.º do CVM).

23
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Relativamente a valores das ações, devemos distinguir:

a) valor nominal e valor de emissão (ou facial)

É o valor que se encontra inscrito no próprio título, no caso de títulos com valor nominal
e de títulos sem valor nominal.

A propósito, importa transcrever o n.o 1 e o n.º 2 do art. 25.º do CSC, a saber:

• Valor da entrada e valor da participação

"1 - o valor nominal da parte, da quota ou das ações atribuídas a um


sócio no contrato de sociedade não pode exceder o valor da sua entrada,
como tal se considerando ou a respetiva importância em dinheiro ou o valor
atribuído aos bens no relatório do revisor oficial de contas, exigido pelo
artigo 28.º.

2 - no caso de ações sem valor nominal, o valor da entrada do sócio deve


ser pelo menos igual ao montante do capital social correspondentemente
emitido."

b) valor de subscrição

É a importância paga pelo subscritor, podendo ser igual ou superior:

b1) , n o c a s o d e a ç õ e s c o m v a l o r n o m i n a l , ao valor nominal, dizendo-


se, então, que as ações foram colocadas ao par ou acima do par.

b2), no caso de ações sem valor nominal, ao valor de


emissão.

A s u b s c r i ç ã o p o r v a l o r s u p e r i o r a o v a l o r n o m i n a l é u m caso
mais vulgar nos aumentos de capital, em consequência da boa situação económica
da sociedade, da elevada taxa de dividendo anteriormente distribuída ou da
existência de reservas (declaradas ou ocultas), a que os novos acionistas passam a
ter direito, sem que para elas tenham concorrido.

Note-se que, para garantir o princípio da integridade do capital social, o CSC diz,
textualmente, que "é proibida a emissão de ações abaixo do par ou, no caso de ações
sem valor nominal, abaixo do seu valor de emissão” (n.º 1 do art. 298.º do CSC), sem
prejuízo das disposições do n.º 3 do art. 298.º do CSC, no caso de ações sem valor
nominal.

c) valor comercial ou cotação

Corresponde ao preço pelo qual as ações se transacionam em mercado


regulamentado, equivalente à sua cotação.

Este valor depende, não só do capital próprio da sociedade, mas, igualmente, de outros
fatores económicos exógenos e endógenos.

d) valor contabilístico

24
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Quociente do capital próprio, constante do balanço, pelo número de ações representativas do capital
social, noção distinta da estabelecida no CSC, correspondente ao quociente do capital social pelo
número de ações representativas do capital social.

e) valor intrínseco

Fração do ativo líquido real correspondente a cada ação.

Este valor baseia-se, naturalmente, em revalorizações, as quais podem assumir um


caráter marcadamente subjetivo.

f) valor financeiro

Aquele que se obtém capitalizando, a uma taxa de juro adequada às circunstâncias,


os lucros distribuídos.

g) valor de rendimento

É o valor que se obtém capitalizando, a uma taxa de juro adequada às circunstâncias, a


totalidade dos lucros obtidos (soma dos lucros distribuídos com os lucros retidos).

Existem, ainda, outros modos de classificar as ações, nomeadamente quanto:

a) aos valores em que são pagas

ações de numerário: liberadas em dinheiro.

ações de "apport": liberadas em bens diferentes de dinheiro.

b) aos valores já pagos

ações liberadas: realizadas integralmente.

ações não liberadas: não realizadas integralmente.

c) à forma de transmissão

ações nominativas: indicam o nome do seu possuidor e transmitem-se entre


vivos do seguinte modo:

– Por declaração do transmitente escrita no título.

– pelo pertence lavrado no mesmo e averbamento no livro de ações da


sociedade, por esta efetuados.

– pelo registo junto do emitente ou junto do intermediário financeiro


que o represente (n.º 1 do art. 102.º do CVM).

d) ao modo de detenção

O registo e o depósito de ações (tituladas) e a sua transmissão encontram-se


regulamentados entre o art. 95.º e o art. 107.º do CVM.

25
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

As ações nominativas estão sujeitas ao regime de registo ou depósito, distinguindo-se


então:

• ações registadas: na sociedade (livro especial), em nome do respetivo


proprietário, que as tem em seu poder.

• ações depositadas: em nome do respetivo proprietário, numa instituição


de crédito, que avisa do facto a sociedade, para averbamento no livro próprio.

É possível a passagem de um regime a outro.

e) aos direitos que conferem

• ações de capital: aquelas que são parcelas do capital social, ordinárias


ou privilegiadas, conferindo estas direitos especiais (na distribuição dos lucros,
ou na partilha em caso de dissolução, ou na contagem de votos nas
assembleias).

A lei das sociedades comerciais contempla especialmente as ações


preferenciais sem voto (art. 341.º a a r t . 344.º do CSC), que conferem
direito a dividendo prioritário e recuperável e a reembolso prioritário na
liquidação, e as ações preferenciais remíveis (art. 345.º do CSC), que,
beneficiando de algum privilégio patrimonial na sua emissão, ficam sujeitas
a remissão em data fixa ou quando a assembleia geral o deliberar.

• ações amortizadas, indemnizadas ou de fruição: aquelas que estão total


ou parcialmente reembolsadas, conferindo direitos inferiores aos que
cabem às ações de capital.

• ações beneficiárias e de trabalho: não são frações do capital social, mas


títulos atribuídos gratuitamente que conferem aos seus possuidores o
direito a um determinado dividendo ou juro, como retribuição de serviços já
prestados (ações beneficiárias) ou para prender à vida da sociedade
determinados colaboradores (ações de trabalho).

Trata-se de um regime especial de remuneração, pelo que são conferidos


direitos especiais aos seus titulares, cujos termos e condições devem ser
especificados no contrato social.

Por fim, é conveniente referir que deve existir na sede da sociedade um livro de registo
das ações, de modelo oficialmente aprovado, que pode ser consultado por qualquer
acionista, a todo o momento, e do qual constam todos os elementos respeitantes à vida
das ações (os números de todas as ações, as datas das entregas dos títulos provisórios
ou definitivos, o nome e domicílio do primeiro titular de cada ação, os pagamentos
efetuados para liberação da ação, por exemplo).

A Portaria n.º 290/2000, de 25 de maio, veio regular o registo das emissões de valores
mobiliários junto do emitente, devendo ser consideradas, igualmente, a Lei n.º 15/2017,
de 3 de maio, e o Decreto-Lei n.º 123/2017, de 25 de setembro.

26
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Aspetos Contabilísticos

Na generalidade, na constituição de sociedades, bem como nas operações de


modificações de capital, é aplicável a NCRF 27 - Instrumentos Financeiros (NCRF 27).

De igual modo, para as entidades que apliquem a Norma Contabilística e de Relato


Financeiro para Pequenas Entidades ou que apliquem a Norma Contabilística para
Microentidades, relevam os parágrafos do capítulo 17 - Instrumentos financeiros,
atinentes à constituição e modificação do capital.

Apesar de, juridicamente, estar em causa o capital social, a correspondência com o


CCSNC deve ser estabelecida através da conta 51 - Capital subscrito7, isto é, o saldo
da conta, tratando-se da contabilidade de uma sociedade comercial, deve
corresponder, em princípio, ao capital social constante do contrato de sociedade, sem
prejuízo das disposições do § 20 da NCRF 27.

Existindo entradas para o capital social que estejam por realizar, as mesmas devem
encontrar-se reconhecidas na conta 26 - Acionistas/sócios, constituindo direitos da
sociedade sobre os mesmos, isto é, elementos do ativo.

Como referimos na introdução, vamos apresentar as soluções contabilísticas tendo por


referência, apenas, a base que constitui o CCSNC, deixando aos profissionais a
decomposição das contas que se revele adequada aos casos concretos com que se
deparem.

De qualquer modo, não podemos deixar de referir que, no âmbito da conta 26, é
recomendável a criação de divisionárias para cada um dos subscritores de capital.

Por exemplo:

2611 - Acionistas c/ subscrição - acionista A

2612 - Acionistas c/ subscrição - acionista B

...

no caso de se tratar de uma sociedade anónima, ou

2621 - Quotas não liberadas - sócio A

2622 - Quotas não liberadas - sócio B

...

no caso de se tratar de uma sociedade por quotas.

7 note-se,contudo, que a conta 51 - Capital subscrito deve ser utilizada, igualmente, para registar o capital
individual do empresário/profissional independente, no caso de aplicação do regime de contabilidade
organizada, caso em que o saldo da conta é, por natureza, variável, devendo, em conjunto com a conta
818 - Resultado líquido do período, representar o valor líquido do património afeto à atividade; de resto, a
conta 818 vai, anualmente, saldando com a conta 51.

27
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ainda como recomendação, extensível de igual modo às contas 26 e 51,


a s s i n a l a m o s a criação d e divisionárias que permitam identificar a situação das
entradas.

Por exemplo:

26111/26211/511 - Capital não interpelado

26112/26212/512 - Capital interpelado e não realizado

26113/26213/513 - Capital interpelado e realizado

Naturalmente, estas decomposições fazem sentido quando está previsto o diferimento


da realização do capital social, sendo que, na situação em que as entradas são
realizadas no imediato, é, até, entendível que não seja usada a conta 26.

Enfim, ficam apenas como sugestões.

Consideremos, então, os reconhecimentos contabilísticos associados à constituição da

sociedade.

Relativamente à subscrição do capital, devemos distinguir 2 situações possíveis:

- Subscrição sem prémio de subscrição

Ocorre quando o valor de subscrição (Vs) é igual ao valor nominal (Vn) ou ao valor

de emissão (Ve) das partes, pelo que o reconhecimento contabilístico deve ser:

D. 261/2628 ............................................. Vs
C. 51 ........................................................ Vn/Ve

- Subscrição com prémio de subscrição9

Ocorre quando o Vs é superior ao Vn ou ao Ve, sendo que o prémio de subscrição (Ps)


correspondente à diferença positiva entre Vs e o Vn ou o Ve.

O reconhecimento contabilístico deve ser:

D. 261/262 ............................................... Vs
C. 51 ........................................................ Vn/Ve
C. 54 ........................................................ Ps

8 como referido, consoante se trate de sociedade anónima ou de sociedade por quotas.


9 não habitual na constituição da sociedade, mais frequente nos aumentos de capital.

28
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

No que respeita à realização do capital social, devem ser distinguidas 2 situações


possíveis, função da natureza patrimonial das entradas:

- realização em dinheiro

Se o valor de realização (Vr) for igual ao Vs, como é normal, o reconhecimento

contabilístico deve ser:

D. 12 ........................................................ Vr
C. 261/262 ............................................... Vs

Se, porventura, por qualquer motivo, o Vr exceder o Vs, a diferença pode ser tratada como
um empréstimo do sócio à sociedade e reconhecida na conta 253 - Financiamentos obtidos
- participantes de capital.

O registo contabilístico deve ser:

D. 12 ........................................................ Vr
C. 261/262 ............................................... Vs
C. 253 ...................................................... Vr - Vs

- realização em bens diferentes de dinheiro

Neste caso, é conveniente referir que, em conformidade com o disposto no art. 28.º do CSC,
os elementos em causa devem ser objeto de um relatório de identificação e avaliação
elaborado por ROC sem interesses na sociedade.

As principais atribuições do ROC são a identificação e a descrição dos elementos, a


identificação dos seus titulares, a mensuração dos elementos e a conclusão sobre se os
mesmos são suficientes para perfazer o capital subscrito.

Caso a realização envolva, apenas, elementos patrimoniais ativos e o Vr seja igual ao Vs, o

reconhecimento contabilístico deve ser:

D. Contas do ativo10 ................................ Vr


C. 261/262 ............................................... Vs

10a classificação contabilística vai depender do tipo de ativo em causa, cuja identificação e descrição
consta do relatório do ROC.

29
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Se a realização corresponder, apenas, a ativos, mas o Vr superar o Vs11, o

reconhecimento contabilístico deve ser:

D. Contas do ativo.................................... Vr
C. 261/262 ............................................... Vs
C. 253/54 ................................................. Vr - Vs

Caso a realização envolva elementos patrimoniais ativos e passivos e o Vr seja igual


ao Vs, sendo que, neste caso, o Vr corresponde ao valor líquido dos ativos deduzido
dos passivos.

O reconhecimento contabilístico deve ser:

D. Contas do ativo ................................... Vr


C. 261/262 ............................................... Vs
C. Contas do passivo .............................. Vr

Se a realização corresponder a ativos e passivos, mas o Vr superar o Vs, o

reconhecimento contabilístico deve ser:

D. Contas do ativo.................................... Vr
C. 261/262 ............................................... Vs
C. Contas do passivo .............................. Vr
C. 253/54 .................................................... Vr - Vs

Por fim, importa assinalar que os dispêndios incorridos com a constituição da sociedade
e modificações posteriores, que não tenham a natureza de custos associados à emissão
de ações, nomeadamente, dispêndios com escritura pública, outros atos notariais,
processuais e honorários de advogados, devem ser reconhecidos como gastos do
período, uma vez que não preenchem os requisitos para a sua qualificação como ativo
intangível, de acordo com o § 67 da Norma Contabilística e de Relato Financeiro 6 -
Ativos Intangíveis (NCRF 6).

Assim, pela ocorrência destes gastos, devem ser debitadas as contas de acordo com
a sua natureza, sendo mais habituais:

6265 - Fornecimentos e serviços externos - Serviços diversos - Contencioso e notariado


(atos de notariado e registo).

6221 - Fornecimentos e serviços externos - Serviços especializados - Trabalhos


especializados ou 6224 - Fornecimentos e serviços externos - Serviços especializados
- Honorários (para outros gastos, como, por exemplo, gastos com juristas).

11situação mais comum do que nas entradas em dinheiro, pois é mais entendível que um elemento possa
ter avaliação superior ao Vs.

30
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

António e Beatriz decidiram constituir uma sociedade por quotas, c o m a f i r m a


"Beta, Lda." e com um capital social de € 40.000,00, detendo cada um dos sócios igual
participação no capital social.

A constituição da empresa foi efetuada no dia 1 de agosto do ano de 2022, sendo que,
na data referida, o capital subscrito foi realizado na totalidade, mediante depósito em
conta bancária da sociedade.

Foram despendidos € 1.300,00 com a constituição da sociedade, pagos por cheque.

Proceda à contabilização das operações de subscrição e realização do capital social.

Resolução:

- Subscrição - 1 de agosto de 2022

D. 262 ...................................................... 40.000,00


C. 51 ........................................................ 40.000,00

- Realização - 1 de agosto de 2022

D. 12 ........................................................ 40.000,00
C. 262 ...................................................... 40.000,00

- Dispêndios com constituição - 1 de agosto de 2022

D. 6265 .................................................... 1.300,00


C. 12 ........................................................ 1.300,00

Solução alternativa, considerando que as entradas são imediatas e integrais:

- Subscrição e realização - 1 de agosto de 2022

D. 12 ........................................................ 40.000,00
C. 51 ........................................................ 40.000,00

31
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Caso Prático N.º 2

António e Beatriz decidiram constituir uma sociedade por quotas, c o m a f i r m a


“Beta, Lda." e com um capital social de € 40.000,00, detendo cada um dos sócios igual
participação no capital social.

A constituição da empresa foi efetuada no dia 1 de agosto do ano de 2022, sendo que
o capital subscrito foi realizado na totalidade em 15 de dezembro de 2022, mediante
depósito em conta bancária da sociedade.

Foram despendidos € 1.300,00 com a constituição da sociedade, pagos por cheque.

Proceda à contabilização das operações de subscrição e realização do capital social.

Resolução:

- Subscrição - 1 de agosto de 2022

D. 262 ...................................................... 40.000,00


C. 51 ........................................................ 40.000,00

- Dispêndios com constituição - 1 de agosto de 2022

D. 6265 .................................................... 1.300,00


C. 12 ........................................................ 1.300,00

- Realização - 15 de dezembro de 2022

D. 12 ........................................................ 40.000,00
C. 262 ...................................................... 40.000,00

Caso Prático N.º 3

Tendo por base os dados anteriores (Caso Prático N.º 1 e Caso Prático N.º 2), admita,
agora, que António entregou mercadorias diversas, no valor de € 20.000,00, para
realizar a sua quota, e Beatriz entregou um equipamento básico, no valor de €
35.000,00, e, igualmente, um crédito bancário contraído para a aquisição do mesmo,
no valor de € 13.000,00.

Relativamente aos elementos entregues à sociedade como forma de realização de


capital, estes constam de um relatório de um ROC, conforme exigência legal (art. 28.º
do CSC).

Para além dos dispêndios já referidos, foram, igualmente, despendidos € 1.000,00 em


honorários do ROC, pagos por transferência bancária, desconsiderando o efeito do
Imposto sobre o Valor Acrescentado e do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares (IRS).

Proceda à contabilização das operações de subscrição e realização do capital social.

32
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Resolução:

- Subscrição - 1 de agosto de 2022

D. 262 ...................................................... 40.000,00


C. 51 ........................................................ 40.000,00

- Realização - 1 de agosto de 202212

D. 32 ........................................................ 20.000,00
D. 433 ...................................................... 35.000,00
C. 262 ...................................................... 40.000,00
C. 2511 .................................................... 13.000,00
C. 2532/54 ................................................ 2.000,00

- Dispêndios com constituição - 1 de agosto de 2022

D. 6265 .................................................... 1.300,00


D. 6224 .................................................... 1.000,00
C. 12 ........................................................ 2.300,00

Caso Prático N.º 4

Em 15 de junho do ano de 2022, foi constituída a sociedade anónima "Delta, SA.", com um
capital social de € 500.000,00, representado por 500.000 ações com valor nominal.

O capital social foi subscrito na totalidade por cinco investidores na proporção


expressa no quadro seguinte:

Acionista Percentagem
subscrita de
capital
acionista A 10%
acionista B 10%
acionista C 50%
acionista D 25%
acionista E 5%

Na data referida, o capital foi realizado, tendo os acionistas A, B e E realizado a totalidade


do capital por si subscrito, por meio de depósito.

Os acionistas C e D realizaram 50% do capital que haviam subscrito, por depósito,


igualmente.

12 a realização das entradas em bens diferentes de dinheiro não pode ser diferida (n.º 3 do art. 26.º do CSC).

33
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Os dispêndios de constituição foram de valor igual a € 1.500,00.

Proceda à contabilização das operações de subscrição e realização de capital.

Resolução:

- Subscrição - 15 de junho de 2022

D. 261 ...................................................... 500.000,00


C. 51 ........................................................ 500.000,00
- Realização - 15 de junho de 2022

D. 12 ........................................................ 312.500,00
C. 261 ...................................................... 312.500,00

Apuramento de valores:

A, B e E = 25% x € 500.000,00 = € 125.000,00

C e D = 75% x 50% x € 500.000,00 = € 187.500,00

Consequentemente, foram realizados, de imediato, € 312.500,00.

- Dispêndios com constituição - 15 de junho de 2022

D. 6265 .................................................... 1.500,00


C. 12 ........................................................ 1.500,00

Caso Prático N.º 5

O Sr. A, o Sr. B, o Sr. C, o Sr. D e a sociedade “Gama, Lda.” decidiram constituir uma
sociedade anónima, com a firma "Alfa, S.A." e com um capital social de € 50.000,00,
detendo cada acionista participação igual no capital social e com valor de subscrição igual
ao valor nominal.

A constituição da sociedade anónima "Alfa, S.A." foi efetuada no dia 1 de março do ano
de 2022, data em que o capital subscrito foi realizado pelo montante mínimo exigido,
mediante depósito em conta bancária da sociedade.

Foram despendidos € 1.300,00 com a constituição da sociedade, pagos por cheque.

Proceda à contabilização das operações de subscrição e realização do capital social.

34
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Resolução:

- Subscrição - 1 de março de 2022

D. 261 ...................................................... 50.000,00


C. 51 ........................................................ 50.000,00

- Realização - 1 de março de 2022

D. 12 ........................................................ 15.000,00
C. 261 ...................................................... 15.000,00

Apuramento de valores:

€ 50.000,00 x 30% = € 15.000,00

Entrada em dinheiro mínima de acordo com o n.º 2 do art. 277.º do CSC.

- Dispêndios com constituição - 1 de março de 2022

D. 6265 .................................................... 1.300,00


C. 12 ........................................................ 1.300,00

Caso Prático N.º 6

A sociedade anónima "Ómega, SA." foi constituída em 2 de fevereiro de 2022, com um


capital social de € 100.000,00, repartido por 50.000 ações com valor nominal e com
valor de subscrição igual a € 2,40.

O capital foi subscrito em partes iguais por 5 acionistas, a realizar mediante depósitos
em conta bancária da sociedade.

Foi aprovado o diferimento das entradas pelo valor máximo permitido, a realizar 12
meses após a data de constituição da sociedade.

O acionista Carlos, titular de 20% do capital social, realizou a prestação segunda do


pagamento um mês após a data prevista, com uma penalização de 5% (taxa anual).

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados, supra.

Resolução:

- Subscrição - 2 de fevereiro de 2022

D. 261 ...................................................... 120.000,00


C. 51 ........................................................ 100.000,00
C. 54 ........................................................ 20.000,00

Prémio de subscrição = [(€ 2,40 - € 2,00) x 50.000 ações] = € 20.000,00

35
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- Realização imediata - 2 de fevereiro de 2022

D. 12 ........................................................ 50.000,00
C. 261 ...................................................... 50.000,00

Os acionistas devem realizar 30% do capital social (€ 30.000,00), acrescido do


prémio de subscrição (€ 20.000,00), cuja realização não pode ser diferida (n.º 2 do art.
277.º do CSC).

- Realização diferida - 2 de fevereiro de 2023

D. 12 ........................................................ 56.000,00
C. 261 ...................................................... 56.000,00

Pagamento da prestação diferida = 40.000 x € 2,00 x 70% = € 56.000,00

- Realização diferida - 2 de março de 2023 - acionista retardatário

D. 12 ........................................................ 14.058,33
C. 261 ...................................................... 14.000,00
C. 7918 .................................................... 58,33

Juros = [14.000,00 x (5% / 12 meses)] = € 58,33

Acionista retardatário - aquele que se atrasa no cumprimento da obrigação de entregas


à sociedade a que está obrigado.

O órgão de gestão da sociedade notifica o acionista que se encontra em mora,


concedendo-lhe novo prazo para efetuar o pagamento da importância em dívida,
acrescida de juros, sob pena de perder a favor da sociedade13 as ações em relação às
quais a mora se verifica e os pagamentos efetuados quando a essas ações (n.º 4 do
art. 285º e n.º 6 do art. 27.º do CSC).

13 sanção.

36
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Aumento do Capital Social

Aspetos Societários

1.2.1.1. Conceitos Fundamentais

O capital social é um valor intangível, correspondendo ao limiar de valor de que a


sociedade deve estar dotada para prosseguir a sua atividade.

Tal facto implica a indisponibilidade do património que lhe corresponde, estando


proibida a distribuição de bens ou valores aos sócios que o reduza ou atinja, a não ser
nas condições e requisitos legalmente previstos.

O aumento do capital social consiste no aumento da cifra estatutária do capital social,


que estabelece o novo limiar de capital que a sociedade passa a dispor, implicando
uma maior responsabilidade da sociedade perante terceiros.

Os principais interessados no aumento de capital são os credores e os financiadores,


que vêm aumentadas as suas garantias creditícias.

Neste contexto, o aumento do capital social representa sempre um acréscimo de


garantias para os credores, em geral, contribuindo para o reforço da sustentabilidade
económica e financeira da sociedade.

Assim, a decisão de efetuar o aumento do capital tem, normalmente, subjacentes os


propósitos seguintes:

• repor o equilíbrio financeiro (reforço dos recursos da sociedade).

• financiar a expansão da atividade ou investimentos de substituição.

Neste desiderato, as razões que o motivam são as mais diversas, entre as quais se
referem:

• aproximar o capital social do capital próprio, para melhorar a garantia dos


financiadores.

• aumentar o número de ações, como tentativa de aumentar a liquidez.

• atribuir ações aos acionistas, como compensação por lucros retidos.

• evitar deliberação de distribuição das reservas, consolidando o capital.

• cumprir exigência legal, para a realização de operações ou concursos


públicos.

• cumprir exigência legal, para usufruir de subvenção ou benefício.

37
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

1.2.1.2. Enquadramento Legal

No âmbito do CSC, são relevantes os normativos seguintes:

• art. 87.º a art. 93.º, em geral.

• art. 266.º a art. 269.º, nas sociedades por quotas.

• Art. 456.º a art. 462.º, nas sociedades anónimas.

No que respeita ao CVM, aplicam-se os normativos:

• emissão de valores mobiliários (Título II - Valores mobiliários).

• ofertas públicas (Título III), nomeadamente, a seção III - oferta pública de


subscrição e sucessão de ofertas.

Na esfera do CSC, apresentamos os normativos considerados relevantes:

Parte Geral

• requisitos de deliberação - aumento do capital (art. 87.º do CSC)

"1 - A deliberação de aumento do capital deve mencionar expressamente:


a) a modalidade do aumento do capital.
b) o montante do aumento do capital.
c) o montante nominal das novas participações.
d) a natureza das novas entradas.
e) o ágio14, se o houver.
f) os prazos dentro dos quais as entradas devem ser efetuadas, sem prejuízo do
disposto no artigo 89.º.
g) as pessoas que participarão nesse aumento.

2 - Para cumprimento do disposto na alínea g) do número anterior, bastará, conforme


os casos, mencionar que participarão os sócios que exerçam o seu direito de
preferência, ou que participarão só os sócios, embora sem aquele direito, ou que será
efetuada subscrição pública.

14 corresponde ao Ps.

38
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3 - Não pode ser deliberado aumento de capital na modalidade de novas entradas


enquanto não estiver definitivamente registado um aumento anterior nem estiverem
vencidas todas as prestações de capital, inicial ou proveniente de anterior aumento.

4 - O sócio de sociedade por quotas que por si ou juntamente com outros reunir a maioria
de votos necessária para deliberar a alteração do contrato de sociedade pode
comunicar à gerência o aumento do capital social por conversão de suprimentos
registados no último balanço aprovado de que seja titular.

5 - O órgão de administração procede à comunicação por escrito, no prazo máximo de


10 dias, aos sócios que não hajam participado no aumento referido no número anterior,
com a advertência de que a eficácia do aumento depende da não oposição expressa de
qualquer um daqueles, manifestada por escrito, no prazo de 10 dias, contados da
comunicação de conversão.

• Eficácia interna do aumento do capital (n.º 1 do art. 88.º do CSC)

"Para todos os efeitos internos, o capital considera-se aumentado e as participações


consideram-se constituídas na data da deliberação, se da respetiva ata constar
quais as entradas já realizadas e que não é exigida por aquela, pela lei ou pelo
contrato a realização de outras entradas."

• Entradas e aquisições de bens (art. 89.º do CSC)

"1 - Aplica-se às entradas nos aumentos de capital o preceituado quanto a entradas da


mesma natureza na constituição da sociedade, salvo o disposto nos números
seguintes.

2 - Se a deliberação for omissa quanto à exigibilidade das entradas em dinheiro que a


lei permite diferir, são elas exigíveis a partir do registo definitivo do aumento de capital.

3 - A deliberação de aumento de capital caduca no prazo de um ano, caso a declaração


referida no n.º 2 do artigo 88.º não possa ser emitida nesse prazo por falta de realização
das entradas, sem prejuízo da indemnização que for devida pelos subscritores faltosos.

4 - Para efeitos de verificação das entradas, no caso de conversão de suprimentos, é


suficiente declaração do contabilista certificado ou do revisor oficial de contas, sempre
que a revisão de contas seja legalmente exigida, mencionando que a quantia consta dos
regimes contabilísticos bem como a proveniência e a data.

5 - A declaração prevista no número anterior faz parte integrante da documentação


sujeita às formalidades de publicidade prescritas no presente Código, podendo
publicar-se apenas menção do respetivo depósito no registo comercial."

39
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Aumento por incorporação de reservas (art. 91.º do CSC)

"1 - A sociedade pode aumentar o seu capital por incorporação de reservas disponíveis
para o efeito.

2 - Este aumento de capital só pode ser realizado depois de aprovadas as contas


do exercício anterior à deliberação, mas, se já tiverem decorrido mais de
seis meses sobre essa aprovação, a existência de reservas a incorporar só
pode ser aprovada por um balanço especial, organizado e aprovado nos termos
prescritos para o balanço anual.

3 - O capital da sociedade não pode ser aumentado por incorporação de reservas


enquanto não estiverem vencidas todas as prestações do capital, inicial ou
aumentado.

4 - A deliberação deve mencionar expressamente:

a) a modalidade do aumento do capital;

b) o montante do aumento do capital;

c) as reservas que serão incorporadas no capital."

• Aumento das participações dos sócios (art. 92.º do CSC)

"1 - Ao aumento do capital social por incorporação de reservas corresponde


o aumento da participação de cada sócio, proporcionalmente ao seu valor nominal
ou ao respetivo valor contabilístico, salvo se, estando convencionado um critério
diverso de atribuição de lucros, o contrato o mandar aplicar à
incorporação de reservas ou para esta estipular algum critério especial.

2 - Se estiverem em causa ações sem valor nominal, o aumento de capital pode


realizar-se sem alteração do número de ações.

3 - As quotas ou ações próprias da sociedade participam nesta modalidade de aumento


de capital, salvo deliberação dos sócios em contrário.

4 - A deliberação de aumento de capital deve indicar se são criadas novas quotas


ou ações ou se é aumentado o valor nominal das existentes, caso exista, sendo
que na falta de indicação, se mantém inalterado o número de ações.

5 - Havendo participações sociais sujeitas a usufruto, este deve incidir nos


mesmos termos sobre as novas participações ou sobre as existentes."

40
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Fiscalização (art. 93.º do CSC)

"1 - O pedido de registo de aumento do capital por incorporação de reservas deve


ser acompanhado do balanço que serviu de base à deliberação, caso este não
se encontre já depositado na conservatória.

2 - O órgão de administração e, quando deva existir, o órgão de fiscalização


devem declarar por escrito não ter conhecimento de que, no período compreendido
entre o dia a que se reporta o balanço que serviu de base à deliberação e a data em
que esta foi tomada, haja ocorrido diminuição patrimonial que obste ao aumento de
capital."

Nas sociedades por quotas:

• Direito de preferência (n.o 1 e n.º 4 do art. 266.º do CSC)

"1 - Os sócios gozam de preferência nos aumentos de capital a realizar em


dinheiro.

4 - O direito de preferência conferido por este artigo só pode ser limitado ou suprimido
em conformidade com o disposto no artigo 460.º"

• Alienação do direito de participar no aumento de capital (n.º 1 do art. 267.º do


CSC)

"O direito de participar preferencialmente num aumento de capital pode ser


alienado, com o consentimento da sociedade."

• Aumento de capital e direito de usufruto (n.º 1 do art. 269.º do CSC)

"Se a quota estiver sujeita a usufruto, o direito de participar no aumento do


capital será exercido pelo titular da raiz ou pelo usufrutuário ou por ambos,
nos termos que entre si acordarem."

Nas sociedades anónimas:

• Aumento do capital deliberado pelo órgão de administração (n.º 1 do art. 456.º do


CSC)

41
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

"O contrato de sociedade pode autorizar o órgão de administração a aumentar o


capital, uma ou mais vezes, por entradas em dinheiro."

• Direito de preferência (n.º 1 do art. 458.º do CSC)

"Em cada aumento de capital por entradas em dinheiro, as pessoas que, à data
da deliberação de aumento de capital, forem acionistas podem subscrever as
novas ações, com preferência relativamente a quem não for acionista."

• Limitação ou supressão do direito de preferência (n.o 1 e n.º 2 do art. 460.º do CSC)

"1 - O direito legal de preferência na subscrição de ações não pode ser limitado
nem suprimido, a não ser nas condições dos números seguintes.

2 - A assembleia geral que deliberar o aumento de capital pode, para esse aumento,
limitar ou suprimir o direito de preferência dos acionistas, desde que o interesse
social o justifique."

• Aumento de capital e direito de usufruto (n.o 1 do art. 462.º do CSC)

"Se a ação estiver sujeita a usufruto, o direito de participar no aumento do capital


é exercido pelo titular da raiz ou pelo usufrutuário ou por ambos, nos termos
que entre si acordarem."

Da análise das disposições do CSC, destaca-se, essencialmente, o seguinte:

a) deliberação de aumento do capital social

A deliberação de aumento do capital social representa uma alteração do contrato social,


pelo que deve ser tomada por maioria qualificada:

• nas sociedades por quotas, por maioria de, pelo menos, três quartos15 dos votos
correspondentes ao capital social, de acordo com o n.º 1 do art. 265.º do CSC.

• nas sociedades anónimas, por dois terços16 dos votos emitidos, em conformidade
com o n.º 3 do art. 386.º do CSC.

Sendo uma alteração do contrato, a deliberação deve ser reduzida a escrito, de


acordo com o n.º 3 do art. 85.º do CSC, e objeto de registo comercial.

15 isto é, pelo menos, 75% dos votos.


16 isto é, 66,67% dos votos.

42
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

b) modalidades de aumento do capital social

• aumento do capital social por novas entradas (art. 87.º a art. 90.º do CSC).

• aumento do capital social por incorporação de reservas (art. 91.º a art. 93.º do CSC).

Relativamente ao aumento do capital social por novas entradas, estas podem ser:

• em dinheiro.

• em bens diferentes de dinheiro (art. 28.º e n.º 4 do art. 89.º do CSC).

Com alguma frequência, o aumento do capital social é realizado com entregas


realizadas antes do ato escrito que o formaliza e que tiveram inicialmente objetivo
diferente, designadamente, prestações acessórias ou suprimentos.

Assinala-se que qualquer crédito sobre a sociedade que seja utilizado para aumento de
capital configura um aumento na modalidade de novas entradas, realizado em bens
diferentes de dinheiro17.

Quanto às entradas em bens diferentes de dinheiro, sublinhamos os aspetos seguintes:

• não é possível qualquer diferimento da sua realização, devendo ser totalmente


efetuadas no ato escrito do aumento (n.º 1 do art. 89.º do CSC).

• os bens entregues devem ser objeto de avaliação em relatório elaborado por um


ROC, designado por deliberação dos sócios, na qual estão impedidos de votar os
sócios que efetuam as entradas (n.º 1 do art. 28.º do CSC), com a exceção da
conversão de suprimentos, pois, neste caso, aplica-se o n.º 4 do art. 89.º do CSC,
podendo ser certificados pelos CC, no caso das sociedades por quotas não sujeitas
a certificação legal de contas ou pelo próprio ROC da sociedade, nos casos
restantes.

• quando o valor atribuído aos bens exceda o do capital subscrito, tal excesso pode ser
considerado empréstimo do sócio à sociedade18.

17 Circular N.º 80/11, de 11 de novembro, da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas.


18 realização excedentária.

43
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

c) Aumento do capital social por incorporação de reservas

No que tange ao aumento do capital social por incorporação de reservas, não ocorre
variação no total do capital próprio, representando, apenas, uma alteração qualitativa
que melhora a proteção dos credores.

Nesta modalidade de aumento do capital social, a questão principal é saber quais as


reservas disponíveis para incorporação no capital.

No CSC, a regra geral é que as reservas expressas em balanço aprovado estão


disponíveis para incorporação no capital.

Em termos contabilísticos e jurídicos, os excedentes de revalorização não decorrentes


de diplomas legais, só devem ser utilizados para aumentos do capital social quando
estiverem realizados, realização essa que se verifica pela depreciação ou amortização
ou pelo desreconhecimento dos bens a que respeitam, de acordo com o nº 2 do art.
32.º do CSC.

d) Declaração do órgão de gestão

No caso do aumento do capital social por incorporação de reservas, o órgão de gestão


e, quando deva existir, o órgão de fiscalização devem apresentar declaração, se esta
não constar já da ata, no sentido de não terem conhecimento de que, desde o dia a que
se reporta o balanço que serviu de base à deliberação e a data em que esta foi tomada,
haja ocorrido diminuição patrimonial que obste ao aumento do capital social.

44
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Aspetos Contabilísticos

Como nota prévia, é conveniente assinalar que um aumento do capital social vai
implicar a alteração na forma de representação, originando:

- aumento do valor nominal das partes (quotas ou ações com valor nominal) ou aumento do valor
de emissão das partes (ações sem valor nominal)19; ou

- aumento do número de partes (quotas ou ações)20; ou

- reagrupamento das partes (alteração em ambas).

Relembremos que existem duas modalidades possíveis de aumento do capital social:

• aumento por novas entradas; e

• aumento por incorporação de reservas.

No aumento por novas entradas, constituindo um facto patrimonial modificativo, na


medida em que vai aumentar o total do capital próprio, é necessário distinguir:

• aumento por entradas em dinheiro.


• aumento por entradas de ativos, líquidos de eventuais passivos associados.

• aumento por conversão de créditos de sócios (dívidas a pagar).

• aumento por conversão de créditos de terceiros (dívidas a pagar).

Os modelos de contabilização relativos ao aumento do capital social por novas entradas


em dinheiro ou de ativos (líquidos de eventuais passivos associados) não diferem,
substancialmente, dos que foram tratados relativamente à constituição de sociedades.

No que concerne ao aumento do capital por entradas consistentes em créditos sobre a


sociedade, devemos distinguir o aumento do capital decidido:

• pelos sócios, para conversão de créditos ordinários de fornecedores ou outros


credores e de suprimentos.

• pelos credores, no caso de empréstimos obrigacionistas (sujeitos a formalização


especial).

19 mantendo-se as mesmas, alterando o valor nominal ou o valor de emissão.


20 mantendo-se o valor nominal ou o valor de emissão, aumentando o número de partes.

45
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Aumento por conversão de créditos sobre a sociedade:

Por conversão simples de créditos de fornecimentos ou suprimentos:

• o aumento de capital é deliberado pelos sócios.

• a subscrição não difere do aumento do capital por novas entradas em dinheiro ou


ativos (eventualmente líquidos de passivos).

Se a subscrição for efetuada sem prémio de subscrição, o reconhecimento contabilístico deve ser:

D. 261/26221 ............................................ Vs
C. 51 ........................................................ Vn/Ve

Se a subscrição for efetuada com prémio de subscrição, o reconhecimento contabilístico deverá ser:

D. 261/262 ............................................... Vs
C. 51 ........................................................ Vn/Ve
C. 54 ........................................................ Ps

Quanto à realização, se o Vr for igual ao Vs, o reconhecimento contabilístico deve ser:

D. 22x/253x/268x/278x ........................... Vr
C. 261/262 ............................................... Vs

Se o Vr superar o Vs, o reconhecimento contabilístico deve ser:

D. 22x/268x/278x ........................... Vr
C. 261/262 ............................................... Vs
C. 253/54 .................................................... Vr - Vs

No entanto, como são entradas em bens diferentes de dinheiro, c u j a r e a l i z a ç ã o


não pode ser diferida, o reconhecimento contabilístico pode se, por exemplo fazer
(admitindo hipótese sem prémio de subscrição e Vr = Vs):

D. 22x/253x/268x/278x ........................... Vr = Vs
C. 51 ........................................................ Vn = Vs

Aumento por conversão de empréstimos obrigacionistas (conta 2521):

A troca de obrigações pode ser feita por:

• novas ações (aumento do capital social); ou

• ações próprias.

21 consoante se trate de sociedade anónima ou de sociedade por quotas.

46
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

De momento, é a situação primeira que nos interessa.

Em regra, o valor de reembolso das obrigações excede o valor nominal ou o valor de


emissão das ações, originando um prémio de conversão (semelhante ao prémio de
subscrição).

O registo contabilístico deve fazer-se no momento da conversão, pelo que, sendo


entradas em bens diferentes de dinheiro, vamos dispensar o uso, que seria possível,
da conta de subscrição (261).

Assim, se conversão sem prémio de conversão, o reconhecimento contabilístico deve ser:

D. 2521 .................................................... Vs
C. 51 ........................................................ Vn

Se conversão com prémio de conversão, o reconhecimento contabilístico deve ser:

D. 2521 ................................................... Vs22


C. 51 ........................................................ Vn
C. 54 ........................................................ Ps23

Convém, ainda, referir que esta modalidade de aumento do capital social aplica-se,
usualmente, às sociedades anónimas, sendo a emissão de obrigações regulada entre
o art. 348.º e o art. 372.º-B do CSC).

O direito de subscrever ações que pode ser concedido aos obrigacionistas pode revestir
a forma de obrigações com warrants, em que, regra geral, o warrant pode ser
destacado da obrigação e transacionável separadamente.

A NCRF 27 determina que, logo no momento da subscrição das obrigações, na


contabilização das obrigações convertíveis e das obrigações com warrant sejam
separados os seus elementos essenciais, distinguindo:

• a obrigação (passivo); e

• a opção de conversão (capital próprio), devendo ser reconhecida na conta 53 -


Outros instrumentos de capital próprio.

No aumento do capital social por incorporação de reservas, constituindo um facto


patrimonial permutativo, na medida em que apenas vai alterar a composição do capital
próprio, o reconhecimento contabilístico a fazer pela identificação das reservas a
utilizar, em conformidade com a deliberação tomada, deve ser:

D. 54/551/552/56/5712/594/599 Vn
C. 51 ........................................................ Vn

22 oVs das ações equivale ao valor de reembolso das obrigações.


23 oPs corresponde, como sabemos, à diferença entre Vs e Vn ou Ve; neste caso, à diferença entre o valor
de reembolso das obrigações e o aumento do capital social, resultado da relação de troca previamente
definida no contrato do empréstimo obrigacionista.

47
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

De notar que os excedentes de revalorização também são utilizáveis (conta 58),


embora a sua utilização dependa de estarem já disponíveis (realizados), tal como
referido, sendo que, de acordo com o § 41 da Norma Contabilística e de Relato
Financeiro 7 - Ativos Fixos Tangíveis (NCRF 7), a realização e a utilização dependem
de transferência para resultados transitados.

Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

O capital próprio da sociedade "Epsilon, Lda.", em 31 de dezembro de 2021, é o seguinte:

Nº Conta Descrição da conta 31/12/2021

512 Capital subscrito 100 000,00

551 Reservas legais 10 000,00

552 Outras reservas 30 000,00

56 Resultados transitados 17 500,00


818 Resultado líquido do período 5 650,00
Total do capital próprio 163.150,000

Em 15 de março de 2022, os sócios decidiram aumentar o capital social da sociedade,


sendo, igualmente, decidido que o aumento do capital social fosse efetuado através da
incorporação da totalidade das reservas livres (componente única do item Outras
reservas) e da transformação de € 50.000,00 de suprimentos.

Após ter-se verificado o cumprimento dos requisitos legais referentes ao aumento do


capital social, este foi efetivado no dia 20 de março de 2022.

Os dispêndios associados ao aumento do capital foram de valor igual a € 1.000,00

pagos por cheque.

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados.

Resolução:

- Aumento do capital social - 20 de março de 2022

D. 2532 .................................................... 50.000,00


D. 552 ...................................................... 30.000,00
C. 51 ........................................................ 80.000,00

Cálculo do valor do aumento do capital social:

Reservas livres + suprimentos = € 30.000,00 + € 50.000,00 = € 80.000,00

48
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- Dispêndios com o aumento do capital social - 20 de março de 2022

D. 6265 .................................................... 1.000,00


C. 12 ........................................................ 1.000,00

Caso Prático N.º 2

A sociedade anónima "Alfa, SA." tem um total do capital próprio de € 2.100.000,00 e o


capital social é de valor igual a € 1.000.000,00, representado por 500.000 ações com
valor nominal.

Após deliberação da assembleia geral, em 10 de fevereiro de 2022, procedeu-se ao


aumento do capital social para € 1.400.000,00, através da subscrição de ações por
novos acionistas (público).

As ações a emitir são colocadas à subscrição pelo seu valor contabilístico, sendo a
realização efetuada em 4 de março de 2022, mediante depósito em conta bancária.

Os dispêndios associados ao aumento do capital soc ial (escritura e registos) foram de valor
igual a €1.500,00, pagos por transferência bancária.

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados.

Resolução:

Cálculo do valor do aumento do capital social:

Valor nominal do aumento do capital social = € 1.400.000,00 - € 1.000.000,00 = €

400.000,00

Cálculo do número de ações a subscrever:

Valor nominal das ações = € 2,00

N.º de ações a subscrever = € 400.000,00 / € 2,00 = 200.000

Cálculo do valor de subscrição:

Valor de subscrição = valor contabilístico = € 2.100.000,00 / 500.000 = € 4,20

Valor de subscrição total = € 4,20 x 200.000 = € 840.000,00

Cálculo do prémio de subscrição:

Prémio de subscrição por ação = € 4,20 - € 2,00 = € 2,20

Prémio de subscrição total = 200.000 x € 2,20 = € 440.000,00

- Subscrição do capital - 4 de março de 2022

D. 261 ...................................................... 840.000,00


C. 51 ........................................................ 400.000,00
C. 54 ........................................................ 440.000,00

- Realização do capital - 4 de março de 2022

D. 12 ........................................................ 840.000,00
C. 261 ...................................................... 840.000,00

49
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- Dispêndios com o aumento do capital social - 4 de março de 2022

D. 6265 .................................................... 1.500,00


C. 12 ........................................................ 1.500,00

Caso Prático N.º 3

A sociedade por quotas "Zeta, Lda." tem, em 31 de maio de 2022, um capital social de
€ 450.000,00, representado por três quotas com valores nominais iguais, pertencentes
aos sócios Álvara, Berta e Carlota.

Nesta data, o capital próprio é de valor igual a € 650.000,00.

A sociedade tem uma dívida de € 180.000,00, em conta-corrente, ao principal fornecedor


de mercadorias (R. Jonas, Lda.), a quem propôs entrar na sociedade, na qualidade de
sócio.

O fornecedor aceitou a proposta, tendo sido acordado com os sócios as condições


seguintes: aumento do capital social em € 140.000,00, através de subscrição da quota,
e o valor excedente da dívida (€ 40.000,00) como prémio de subscrição.

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados.

Resolução:

- Aumento do capital social - 31 de maio de 2022

D. 2211 .................................................... 180.000,00


C. 51 ........................................................ 140.000,00
C. 54 ........................................................ 40.000,00

Caso Prático N.º 4

A sociedade "Gameon, S.A." apresenta a composição seguinte do capital próprio, em 31


de dezembro de 2021:

N.º Conta Descrição da conta 31/12/2021

512 Capital subscrito 800 000,00


521 Ações próprias (valor nominal) -80 000,00
522 Ações próprias (descontos e prémios) 10 000,00
551 Reservas legais 170 000,00 a)
552 Outras reservas 120 000,00
56 Resultados transitados 80 000,00
58 Excedentes de revalorização 175 000,00
818 Resultado líquido do período -28 000,00
Total do capital próprio 1 247 000,00

50
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

a)Estas reservas incluem € 70.000,00 de reservas indisponíveis relativas à aquisição


das ações próprias.

Pretende-se:
1) a determinação do valor máximo do aumento do capital social permitido, na
modalidade de incorporação de reservas.
2) a contabilização do aumento do capital social de € 150.000,00, por incorporação
de Outras reservas, de € 120.000,00, e de Resultados transitados (remanescente),
deliberado na assembleia geral de 5 de abril de 2022.

Resolução:
1) Determinação do valor máximo de aumento de capital social

Aumento de capital social


N.º Descrição da conta Valor
Não disponível Disponível
Conta
512 Capital subscrito 800 000,00 --- ---
521 Ações próprias (valor -80 000,00 --- ---
nominal)
522 Ações próprias (descontos e 10 000,00 --- ---
prémios)
551 Reservas legais 170 000,00 70 000,00 100 000,00
552 Outras reservas 120 000,00 --- 120 000,00
56 Resultados transitados 80 000,00 28 000,00 1) 52 000,00
58 Excedentes de revalorização 175 000,00 175 000,002)
818 Resultado líquido do período -28 000,00 -28 000,003)
Total do capital próprio 1 247 000,00 245 000,00 272 000,00

Notas:
1) necessário para cobertura de prejuízos.
2) excedentes não realizados.
3) cobertos por Resultados transitados

O aumento máximo do aumento do capital social seria de € 272.000,00.

2) Contabilização do aumento do capital social - 5 de abril de 2022

D. 552 ...................................................... 120.000,00


D. 56 ........................................................ 30.000,00
C. 51 ........................................................ 150.000,00

Caso Prático N.º 5

Há anos, foi contraído um empréstimo por obrigações com valor nominal igual a € 12,50
(emitidas e reembolsadas sem prémio de conversão), convertíveis em ações de valor
nominal igual a € 5,00, de acordo com a seguinte relação de troca: 1 obrigação por 2
ações.

51
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

No último trimestre, os portadores de 5.000 obrigações solicitaram a sua conversão.

Traduza contabilisticamente a situação.

Resolução:

- Aumento do capital social por conversão de obrigações em ações

D. 2521 .................................................... 62.500,00


C. 51 ........................................................ 50.000,00
C. 54 ........................................................ 12.500,00

Valor de reembolso das obrigações = Vs das ações = 5.000 x € 12,50 = € 62.500,00


Vn das ações = 5.000 x 2 x € 5,00 = € 50.000,00
Ps = € 62.500,00 - € 50.000,00 = € 12.500,00

Caso Prático N.º 6

Extrato do balanço da sociedade "Gama, S.A.", em 31 de março de 2022, depois da


assembleia geral que aprovou o relatório, balanço e contas do período de 2021
(valores em €):

Capital subscrito (ações Vn =1,00) ..... 50.000,00


Reservas legais ...................................... 2.000,00
Outras reservas ................................... 18.000,00
Excedentes de revalorização .............. 30.000,00

O órgão de gestão da sociedade pretende efetuar um aumento do capital s o c i a l para €


100.000,00, da forma seguinte:

- emitindo 30.000 ações, a atribuir, gratuitamente, aos acionistas atuais,


incorporando os excedentes de revalorização, na totalidade (assumindo a
realização).
- emitindo 20.000 ações destinadas a acionistas novos, a realizar, de
imediato, em dinheiro.

Pretende-se que determine o valor do prémio de subscrição (tendo por base o valor
contabilístico das ações) a solicitar aos acionistas novos e que proceda à contabilização
do aumento do capital social.

Resolução:

Vs = Valor contabilístico das ações = total do capital próprio / n.º de ações


= € 100.000,00 / 80.00024 ações = € 1,25

24 deve considerar-se oefeito da emissão de 30.000 ações para representar as reservas incorporadas, pois
estas fazem aumentar o número de partes em que se divide o capital, mas não alteram o total do capital
próprio; produzem um efeito de diluição sobre o valor contabilístico das ações, sendo que os acionistas
atuais não são prejudicados, pois se, por um lado, o valor contabilístico diminui de € 2,00 para € 1,25, por
outro lado, possuem mais ações, pelo que, em termos totais, continuam a deter o mesmo valor.

52
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Assim, os acionistas novos devem pagar:

Vs = 20.000 x € 1,25 = € 25.000,00


Vn = 20.000 x € 1,00 = € 20.000,00
Ps = 20.000 x € 0,25 = € 5.000,00

Confirmação, após o aumento:

Valor contabilístico das ações = € 125.000,00 / 100.000 ações = € 1,25

- Liberação dos excedentes de revalorização

D. 58 ........................................................ 30.000,00
C. 56 ........................................................ 30.000,00

- Aumento do capital social

D. 12 ........................................................ 25.000,00
D. 56 ........................................................ 30.000,00
C. 51 ........................................................ 50.000,00
C. 54 ........................................................ 5.000,00

53
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Redução do Capital Social

Aspetos societários

1.3.1.1. Conceitos Fundamentais

A redução do capital social consiste, fundamentalmente, na alteração do montante do


capital social que consta do contrato de sociedade, para um montante inferior.

Traduz-se no balanço por uma diminuição do saldo do item Capital subscrito, que pode
implicar a redução do total do capital próprio, a redução com reembolso, ou não (redução
sem reembolso), no caso de perda da participação a favor da sociedade.

Naturalmente, a redução do capital social é uma alteração do contrato, sendo-lhe


aplicáveis, em princípio, as disposições legais correspondentes.

Note-se, desde já, que, havendo o montante do capital de ser igual à soma dos valores
nominais das participações dos sócios, a redução daquele montante implica,
necessariamente, uma remodelação das participações, para as quotas e ações que
tenham sido emitidas com valor nominal.

Relativamente às ações sem valor nominal, a redução opera uma diminuição do valor
do capital social correspondentemente emitido, como um todo, embora, à
diminuição do valor global do capital social corresponda, em regra, uma redução do
número de ações.

Como, de seguida, se detalha, a redução do capital social visa a libertação de excesso de


capital, a cobertura de prejuízos ou finalidade especial.

1.3.1.2. Enquadramento Legal

Esta matéria está regulada entre o art. 94.º e o art. 96.º e no art. 463.º do CSC, sendo
relevante transcrever:

• Convocatória da assembleia, para os fins de redução do capital s o c i a l (art.


94.º do CSC)

"1 - A convocatória da assembleia geral para redução do capital deve mencionar:


a) a finalidade da redução, indicando, pelo menos, se esta se destina à
cobertura de prejuízos, a libertação de excesso de capital ou a finalidade
especial;
b) a forma da redução, mencionando se será reduzido o valor nominal das
participações ou se haverá reagrupamento ou extinção de participações.
2 - Devem também ser especificadas as participações sobre as quais a operação
incidirá, no caso de ela não incidir igualmente sobre todas."

54
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Requisitos da deliberação de redução do capital (art. 95.º do CSC)

"1 - A redução do capital não pode ser deliberada se a situação líquida da


sociedade não ficar a exceder o novo capital em, pelo menos, 20%.
2 - É permitido deliberar a redução do capital a um montante inferior ao mínimo
estabelecido nesta lei para o respetivo tipo de sociedade se tal redução ficar
expressamente condicionada à efetivação de aumento do capital para montante
igual ou superior àquele mínimo, a realizar nos 60 dias seguintes àquela deliberação.
3 - O disposto nesta lei sobre capital mínimo não obsta a que a deliberação de redução
seja válida se, simultaneamente, for deliberada a transformação da sociedade para
um tipo que possa legalmente ter um capital do montante reduzido.
4 - A redução do capital não exonera os sócios das suas obrigações de liberação
do capital."

• Salvaguarda dos direitos (tutela) dos credores (art. 96.º do CSC)

"1 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte, qualquer credor social


pode, no prazo de um mês após a publicação do registo da redução do capital,
requerer ao tribunal que a distribuição de reservas disponíveis ou dos lucros de
exercício seja proibida ou limitada, durante um período a fixar, a não ser que o crédito do
requerente seja satisfeito, se já for exigível, ou adequadamente garantido, nos
restantes casos.
2 - A faculdade conferida aos credores no número anterior apenas pode ser exercida
se estes tiverem solicitado à sociedade a satisfação do seu crédito ou a prestação
de garantia adequada, há pelo menos 15 dias, sem que o seu pedido tenha sido
atendido.
3 - Antes de decorrido o prazo concedido aos credores sociais nos números anteriores,
não pode a sociedade efetuar as distribuições nele mencionadas, valendo a mesma
proibição a partir do conhecimento pela sociedade do requerimento de algum credor."

• Redução do capital por extinção de ações próprias (art. 463.º do CSC)

"1 - A assembleia geral pode deliberar que o capital da sociedade seja


reduzido por meio de extinção de ações próprias.
2 - À redução do capital aplica-se o disposto no artigo 95.º, exceto:
a) Se forem extintas ações inteiramente liberadas, adquiridas a título gratuito
depois da deliberação da assembleia geral;
b) Se forem extintas ações inteiramente liberadas, adquiridas depois da
deliberação da assembleia geral, unicamente por meio de bens que, nos
termos dos artigos 32.º e 33.º, pudessem ser distribuídos aos acionistas; neste
caso, deve ser levada a reserva especial, sujeita ao regime da reserva legal,
quantia equivalente ao valor nominal total das ações extintas."

55
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Analisemos, agora, os aspetos principais destas disposições do CSC:

a) Finalidades da redução do capital

A redução de capital social pode servir uma das finalidades seguintes (al. a) do n.º 1 do
art. 94.º do CSC):

• cobertura de prejuízos.
• libertação de excesso de capital.
• finalidade especial.

a.1.) Cobertura de prejuízos

No caso de a sociedade, no desenvolvimento da atividade, apurar prejuízos, estes


devem ser absorvidos pelas reservas, mas, quando o montante dos prejuízos
acumulados supera o valor das reservas, este facto vai interferir com o capital social,
isto porque o total do capital próprio pode situar-se abaixo do valor do capital social.

Perante este cenário, pode ser conveniente reduzir o capital social para que o seu
montante corresponda ao valor do património líquido da sociedade (total do capital
próprio).

a.2.) Libertação de excesso de capital

A redução do capital social para a libertação do excesso de capital pode ter diferentes
objetivos:

- a distribuição aos sócios ou acionistas do montante liberado, permitindo, assim,


um reembolso parcial do capital investido.
- a extinção de obrigações de entrada que tenham sido diferidas na constituição
da sociedade, devendo, no entanto, neste ponto, ser respeitado o princípio da
igualdade entre os sócios, sendo que as entradas diferidas a extinguir podem
ser relativas à constituição da sociedade ou a um aumento do capital social.

A redução do capital social para extinção de obrigação de entrada está prevista no n.º 1
do art. 27.º do CSC.

Tal como acontece com a redução do capital para a libertação do excesso de capital,
pode acontecer que, à data da constituição da sociedade (ou do aumento do capital
social), tenham sido diferidas parte das entradas de capital.

Posteriormente, averiguada a desnecessidade de exigir aos sócios a parte não realizada,


não faz sentido obrigar os sócios ou os acionistas a cumprir com o remanescente da sua
obrigação de entrada, se tais valores não são necessários.

A redução do capital social para a extinção de obrigações de entrada deve ser conciliada
com o princípio da igualdade entre os sócios, para que não sejam apenas extintas
algumas obrigações.

56
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A solução possível consiste em impor a medida de redução do capital social para além
do montante das obrigações de entrada a liberar e, assim, permitir que fiquem libertas
importâncias que permitam, por meio de restituição, igualar todos os sócios.

a.3.) Outras finalidades da redução do capital social

Para além das finalidades acimas descritas, a redução do capital social pode, ainda, ter
como objetivos o saneamento financeiro e a revitalização da sociedade, como se passa
a explicitar.

• Saneamento financeiro e revitalização: operação harmónio

A redução do capital social pode ser essencial para que a sociedade recupere a sua
saúde financeira, designadamente, quando seja seguida de um aumento do capital
social, a denominada operação harmónio.

A operação harmónio justifica-se quando a redução do capital social visa a cobertura de


prejuízos, redução à qual se segue um aumento do capital social por novas entradas.

Se o património real da sociedade se encontrar abaixo do montante do capital social,


isso significa que as participações sociais estão sobrevalorizadas, pelo que os
investidores eventuais não estão dispostos a " entrar" na sociedade, pois não podem
subscrever títulos por valor inferior ao valor nominal.

A fim de tornar a sociedade atrativa a novos investidores, opera-se a redução do


capital social, eliminando-se, total ou parcialmente, os prejuízos, seguida de um
aumento do capital social a subscrever pelos novos sócios ou acionistas.

Neste âmbito, quando os prejuízos acumulados são avultados, uma operação típica
consiste em reduzir o capital social a zero, para cobertura de prejuízos, eliminando-se,
assim, todas as participações sociais.

Em simultâneo, os sócios ou acionistas, que viram as suas participações extintas,


subscrevem novas participações, para reposição do capital social, pelo menos, para o
mínimo legal, podendo tal faculdade estar disponível para novos acionistas
(investidores).

• Para possibilitar uma cisão da sociedade

A redução do capital social pode servir, ainda, para possibilitar a cisão simples da
sociedade, nos casos em que, se a redução não fosse feita, da cisão resultaria que o
valor do património da sociedade cindida ficasse inferior à soma do capital social e da
reserva legal (al. a) do n.º 1 do art. 123.º do CSC).

57
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Na sequência de uma amortização de quotas ou de ações

Esta operação está associada, normalmente, à exclusão ou exoneração do sócio ou


do acionista, caso seja pretendido ou necessário que a mesma seja efetuada com
redução do capital social.

No caso das sociedades por quotas, encontra-se regulada pelo art. 236.º e pelo art. 237.º
do CSC, e, no caso das sociedades anónimas, encontra-se regulada pelo art. 347.º do
CSC.

A redução do capital social pode surgir na sequência de uma amortização de quotas,


quando, por efeito desta, o total do capital próprio da sociedade tenha um valor inferior
à soma do capital social e da reserva legal.

Se não for prevista a redução do capital social, de modo a não comprometer o total do
capital próprio da sociedade, a contrapartida pela quota amortizada não pode ser paga
(n.º 1 do art. 236.º do CSC).

É conveniente salientar que a amortização de quotas ou ações pode ser onerosa ou


gratuita (neste caso, normalmente, quando visa executar uma disposição do contrato
de sociedade que o preveja).

Sendo onerosa, deve fazer-se pelo valor que o contrato estipule, por valor acordado
entre as partes, ou na falta destes, em concordância com o disposto na al. a) do n.º 1
do art. 235.º do CSC25.

• Perda de metade do capital social

Dispõe o art. 35.º do CSC que, resultando das contas do exercício ou das contas
intercalares, a perda de metade do capital social, ou havendo fundadas razões para crer
que tal perda se verificou, deve o órgão de gestão convocar, de imediato, a assembleia
geral, para nela informar os sócios ou acionistas da situação e para estes tomem as
medidas que considerem adequadas, sendo a redução do capital social uma delas.

b) Condicionalismos à redução do capital social

b.1.) Redução do capital social pelos limites mínimos de capital social determinado
na lei

Tendo em conta que o art. 201.º e o n.º 3 do art. 219.º do CSC estabelecem, para as
sociedades por quotas, que estas têm um capital social livremente fixado,
correspondendo à soma do valor de todas as quotas e que o valor destas não pode ser
inferior a € 1,00, este limite tem de ser respeitado, igualmente, na redução do capital
social.

25 o qual remete para o n.º 2 do art. 105.º do CSC: "Salvo estipulação diversa do contrato de sociedade ou

acordo das partes, a contrapartida da aquisição deve ser calculada nos termos do artigo 1021.º do Código
Civil, com referência ao momento da deliberação de fusão, por um revisor oficial de contas designado por
mútuo acordo ou, na falta deste, por um revisor oficial de contas independente designado pela respetiva
Ordem, a solicitação de qualquer dos interessados."

58
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

No caso das sociedades anónimas, estipulando o n.º 5 do art. 276.º do CSC que estas
não podem ter um capital social inferior a € 50.000,00, a redução do capital social não
pode deixar a sociedade com um capital social inferior ao mínimo exigido por lei.

b.2.) Limites legais da redução de capital

A redução do capital social não pode ser deliberada se o total do capital próprio da
sociedade não ficar a exceder em, pelo menos, 20%, o novo capital social, ou seja, o
capital social após a redução (n.º 1 do art. 95.º do CSC).

b.3.) Redução do capital social sujeita à deliberação de aumento do capital social

Dispõe o n.º 2 do art. 95.º do CSC que é permitido deliberar a redução do capital social
a um montante inferior ao mínimo legal estabelecido para cada tipo de sociedade, se
tal deliberação ficar expressamente condicionada a um posterior aumento do capital
social para valor igual ou superior àquele mínimo legalmente estabelecido, a realizar nos
sessenta dias subsequentes à deliberação de redução do capital social, sendo que,
enquanto o aumento do capital social não for efetivado, a redução inicial não produz
qualquer efeito.

b.4.) Transformação de uma sociedade anónima numa sociedade por quotas em


virtude de uma redução do capital social

Decorre do n.º 3 do art. 95.º do CSC que uma sociedade anónima pode reduzir o capital
social para um montante inferior ao mínimo legal exigido para aquele tipo de sociedade
(€ 50.000,00), se, na mesma ocasião, for deliberada a transformação da sociedade em
sociedade por quotas, com a alteração consequente dos estatutos.

c) Formas de execução da redução do capital social

Nos termos da al. b) do n.º 1 do art. 94.º do CSC podem ser 3 as formas de execução
da redução do capital social nas sociedades comerciais:

1ª. diminuição do valor nominal das quotas ou ações, devendo ser respeitado o
valor nominal mínimo estabelecido por lei.
2ª. reagrupamento das participações.
3ª. extinção de participações.

d) Proibição de distribuições

Tendo em conta que o controlo da redução do capital social pelos credores é efetuado
a posteriori, a sociedade não deve efetuar distribuição de reservas disponíveis ou de
lucros de exercício (n.º 3 do art. 96.º do CSC), que antes da redução do capital social
não se encontrassem disponíveis para distribuição

59
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

e) Redução do capital social por extinção de ações próprias

Esta redução, prevista no art. 463.º do CSC, constitui uma especificidade das
sociedades anónimas.

Com efeito, a assembleia geral pode deliberar que o capital social da sociedade seja
reduzido por meio de extinção de ações próprias, aplicando-se, igualmente, as regras
estabelecidas no art. 95.º do CSC, com ressalva das exceções previstas no n.º 2 do art.
463.º do CSC.

Aspetos Contabilísticos

Analisemos os reconhecimentos contabilísticos associados à redução do capital social:

a) Redução do capital social - cobertura de prejuízos

D. 51 ........................................................ Prejuízos
C. 56 ........................................................ Prejuízos

b) Redução do capital social - libertação de excesso de capital

b1) Parte não liberada (extinção da obrigação de entrada)

D. 51 ........................................................ Não realizado


C. 261/262 ............................................... Não realizado

b2) Parte liberada

D. 51 ........................................................ A devolver
C. 268 ...................................................... A devolver

Posteriormente, pela devolução:

D. 268 ...................................................... Devolvido


C. 12 ........................................................ Devolvido

c) Redução do capital social - finalidade especial (apenas as mais típicas)


c1) Amortização de quotas/ações
c11) Pelo Vn

D. 51 ........................................................ Vn
C. 268 ...................................................... Vn

c12) Por valor superior ao Vn

D. 51 ........................................................ Vn
D. 552/5626 .............................................. Vamort. - Vn
C. 268 ...................................................... Vamort.

26de notar que estes valores estão sujeitos a retenção na fonte de IRS ou de Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC), consoante o sócio seja pessoa singular ou coletiva.

60
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Em qualquer caso, pelo pagamento ao sócio:

D. 268 ...................................................... Valor pago


C. 12 ........................................................ Valor pago

c2) Extinção de quotas/ações próprias

c21) Adquiridas pelo Vn

D. 51 ........................................................ Vn
C. 521 ...................................................... Vn

c22) Adquiridas por valor superior ao Vn

D. 51 ........................................................ Vn
D. 599 ...................................................... Prémio
C. 521 ...................................................... Vn
C. 522 ...................................................... Prémio

c23) Adquiridas por valor inferior ao Vn

D. 51 ........................................................ Vn
D. 522 ...................................................... Desconto
C. 521 ...................................................... Vn
C. 599 ...................................................... Desconto

Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

O balanço, em 15 de junho de 2022, da sociedade "A & B, Lda.", é o seguinte (valores em €):

Ativo 27.000 Capital próprio


Capital subscrito 15.000
Reservas legais 3.000
Resultados transitados (9.000)
9.000
Passivo 18.000
27.000 27.000

Foi deliberada, em assembleia geral de 25 de junho de 2022, a cobertura total de


prejuízos, através da redução do capital social.

Proceda ao tratamento contabilístico do facto apresentado.

Resolução:

- Redução do capital social para cobertura de prejuízos - 25 de junho de 2022

D. 51 ........................................................ 9.000,00
C. 56 ........................................................ 9.000,00

61
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Caso Prático N.º 2

A assembleia geral da sociedade "Gama, S.A.", realizada em 28 de abril de 2022,


verificados os requisitos e a comprovação mediante relatório técnico económico-
financeiro da desnecessidade de os acionistas realizarem o capital subscrito ainda não
interpelado, deliberou isentar os subscritores de capital de realizarem participações
subscritas no valor de € 80.000,00, com registo imediato na Conservatória do Registo
Comercial.

Proceda ao tratamento contabilístico do facto apresentado.

Resolução:

- Redução do capital social por libertação de capital excessivo não liberado - 28 de


abril de 2022

D. 51 ........................................................ 80.000,00
C. 261 ...................................................... 80.000,00

Caso Prático N.º 3

Na sociedade "Beta, Lda.", o sócio X, detentor de uma quota equivalente a 25% do capital
social, apresentou a sua exoneração e pretende abandonar a sociedade.

A assembleia geral, na inexistência de adquirente para a quota, e após verificar o


cumprimento dos requisitos legais estipulados, decidiu proceder à redução do seu
capital social, em 18 de junho de 2022, sendo o reembolso ao sócio efetuado, de
imediato, por cheque.

Mais foi deliberado que a contrapartida da amortização da quota teria por base o total do
capital próprio da sociedade em 31 de dezembro de 2021, na proporcionalidade dos
seus componentes, como segue:

Conta Descrição da conta 31/12/2021


51 Capital subscrito 10 000,00
551 Reservas legais 2 000,00
552 Outras reservas 16 000,00
56 Resultados transitados 12 000,00
Total 40 000,00

Foi, igualmente, decidido que a diferença entre o valor apurado e o Vn da quota


deveria ser suportado por Resultados transitados.

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados, desconsiderando o

efeito do IRS.

Resolução:

- Pela redução do capital social - extinção da quota do sócio X - 18 de junho de 2022

62
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

D. 51 ........................................................ 2.500,00
D. 56 ........................................................ 7.500,00
C. 268 ...................................................... 10.000,00

Valor a reembolsar ao sócio = 25% x € 40.000,00 = € 10.000,00


Vn da quota = 25% x € 10.000,00 = € 2.500,00

- Pelo pagamento ao sócio X - 18 de junho de 2022

D. 268 ...................................................... 10.000,00


C. 12 ........................................................ 10.000,00

Caso Prático N.º 4

A assembleia geral da sociedade "Gama, Lda.", realizada em 28 de outubro de 2022,


deliberou a extinção de uma quota própria com o valor nominal de € 20.000,00, a qual
havia adquirido a título gratuito, e redução correspondente do capital social, com registo
imediato na Conservatória do Registo Comercial.

Proceda ao tratamento contabilístico do facto apresentado.

Resolução:

- Pela redução do capital social - extinção da quota própria - 28 de outubro de 2022

D. 51 ........................................................ 20.000,00
C. 521 ...................................................... 20.000,00
D. 522 …………………………………….. 20.000,00
C. 599 …………………………………….. 20.000,00

63
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Dissolução da Sociedade

Aspetos Societários

1.4.1.1. Conceitos Fundamentais

Não se enquadrando no âmbito desta ação de formação tratar dos aspetos específicos
da dissolução de uma sociedade, os quais implicam questões relacionadas com a
liquidação do património e a partilha do eventual remanescente final pelos sócios, vamos
abordar a questão na perspetiva da movimentação final da conta do capital social.

A ideia principal a reter desde logo é que, assim como na constituição da sociedade a
conta do Capital subscrito é associada ao reconhecimento primeiro a efetuar na
contabilidade (na verdade, a sua abertura), na dissolução da sociedade, a mesma está
associada aos registos últimos a efetuar na contabilidade (encerramento da mesma).

A dissolução corresponde à extinção da sociedade e apenas se pode consumar quando


a liquidação estiver concluída, isto é, quando não subsistir passivo.

A dissolução da sociedade pode ser espoletada por vários motivos, como, por exemplo,
a deliberação dos sócios nesse sentido, a declaração de insolvência da sociedade, a
realização do objeto contratual, a inexistência de atividade durante dois anos
consecutivos e o facto tenha sido comunicado ou detetado pela Conservatória do
Registo Comercial, entre outros.

De notar que vamos aludir a aspetos do CSC, apenas, apesar de este tópico da
dissolução, nomeadamente, quando ocorra por motivo de insolvência, envolve,
igualmente, a regulamentação do Código da Insolvência e da Recuperação de
Empresas.

1.4.1.2. Enquadramento Legal

A dissolução, liquidação e partilha encontram-se reguladas pelo CSC entre o art. 141º
e o art. 165º.

Vamos aludir, apenas, às condições necessárias para a movimentação final da conta do


Capital subscrito:

• Reembolso das entradas efetuadas pelos sócios para o capital social (art. 156.º do
CSC)

"2 - O ativo restante é destinado em primeiro lugar ao reembolso do montante das


entradas efetivamente realizadas; esse montante é a fração de capital correspondente
a cada sócio, sem prejuízo do que dispuser o contrato para o caso de os bens com que
o sócio realizou a entrada terem valor superior àquela fração nominal.
3 - Se não puder ser feito o reembolso integral, o ativo existente é distribuído pelos
sócios, por forma que a diferença para menos recaia em cada um deles na proporção

64
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

da parte que lhe competir nas perdas da sociedade; para esse efeito, haverá que ter em
conta a parte das entradas devida pelos sócios."

Da leitura destas disposições do CSC, conclui-se que, se no final da liquidação, que


pressupõe inexistência de passivo, sobejar ativo, o mesmo deve ser destinado a
reembolsar o capital próprio aos sócios, iniciando-se o reembolso pelo capital social.

A contrario sensu, deve interpretar-se que, se não existir ativo remanescente após a
liquidação, então o capital próprio é nulo.

Nesse caso, o reembolso do capital social aos sócios deve fazer-se na mesma, mas é
anulado pelos valores negativos existentes no capital próprio.

Aspetos Contabilísticos

Nos termos referidos, deve, então, ser efetuado o reconhecimento contabilístico seguinte:

D. 51 ........................................................ Vn
C. 268 ...................................................... Vn

Claro que este é apenas um dos reconhecimentos a efetuar.

É necessário saldar todas as contas restantes do capital próprio, existentes à data da


conclusão da liquidação, com a conta de sócios.

Se após estes reconhecimentos a conta de sócios mantiver saldo, existe ativo


remanescente a partilhar e esta conta deve ser saldada com a entrega dos ativos aos
sócios.

Aplicação Prática

Em face de considerarem esgotados os propósitos que presidiram à constituição da


sociedade, os sócios de "Dissolvida, Lda." Aprovaram, em assembleia geral, a
dissolução da sociedade.

Foram realizados todos os negócios necessários à liquidação do património e a


assembleia geral de encerramento da liquidação da sociedade.

Na data da assembleia geral, realizada em 15 de junho de 2022, o capital próprio da


sociedade constante do Balanço da liquidação era o seguinte:

Conta Descrição da conta 15/06/2022


51 Capital subscrito 10 000,00
551 Reservas legais 2 000,00
56 Resultados transitados (8.000,00)
818 Resultado líquido do período (4.000,00)

Total 0,00

65
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Em 20 de junho de 2022, foi efetuado o registo da dissolução na Conservatória.

Pretende-se a contabilização do facto descrito.

Resolução:

- Reembolso do capital social aos sócios - 20 de junho de 2022

D. 51 ........................................................ 10.000,00
C. 268 ...................................................... 10.000,00

- Reembolso das reservas legais aos sócios - 20 de junho de 2022

D. 551 ...................................................... 2.000,00


C. 268 ...................................................... 2.000,00

- Imputação dos resultados transitados negativos aos sócios - 20 de junho de 2022

D. 268 ...................................................... 8.000,00


C. 56 ........................................................ 8.000,00

- Imputação do resultado líquido do período negativo aos sócios - 20 de junho de 2022

D. 268 ...................................................... 4.000,00


C. 818 ...................................................... 4.000,00

66
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Amortização do Capital Social

Aspetos Societários

1.5.1.1. Conceitos Fundamentais

A amortização é um instrumento legal que consiste na extinção de uma participação


social ou apenas na modificação dos respetivos direitos, deliberada pelos sócios ou
imposta pelo contrato de sociedade.

A amortização pode ser efetuada com ou sem redução do capital social.

Como tal, considerando um conceito lato de amortização, podemos distinguir:

• amortização integral ou restrita, consoante implique a extinção completa dos


direitos sociais ou, apenas, a sua restrição (sem prejuízo, porém, dos direitos já
adquiridos e das obrigações já vencidas).
• amortização forçada/compulsiva ou voluntária/por acordo, consoante não depende
ou depende do consentimento do sócio titular da participação.
• amortização obrigatória ou facultativa, consoante existe ou não o direito do sócio à
amortização ou a correlativa obrigação da sociedade à amortização.
• amortização parcial ou total, consoante tem por objeto uma fração ou a totalidade
da participação social.
• amortização onerosa ou gratuita; e
• amortização com ou sem redução do capital social, consoante a amortização é ou
não acompanhada da redução do capital social.

As finalidades e motivações mais comuns da operação de amortização de quotas ou de


ações são:

• restituição do capital social aos sócios.


• atribuição de dividendos extraordinários aos sócios, por via da amortização.
• exoneração e exclusão de sócios.

1.5.1.2. Enquadramento Legal

O CSC regula autonomamente a amortização de quotas (art. 232.º a 238.º) e a


amortização de ações (art. 346.º e art. 347.º), pelo que, na vertente jurídico-societária,
procedemos a uma abordagem individualizada.

Amortização de quotas

Para fins societários e contabilísticos, relevam os normativos seguintes:

• Amortização da quota (art. 232.º do CSC)

67
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

"1 - A amortização de quotas, quando permitida pela lei ou pelo contrato de


sociedade, pode ser efetuada nos termos previstos nesta secção.
2 - A amortização tem por efeito a extinção da quota, sem prejuízo, porém, dos
direitos já adquiridos e das obrigações já vencidas.
3 - Salvo no caso de redução do capital, a sociedade não pode amortizar
quotas que não estejam totalmente liberadas.
4 - Se o contrato de sociedade atribuir ao sócio o direito à amortização da
quota, aplica-se o disposto sobre exoneração de sócios.
5 - Se a sociedade tiver o direito de amortizar a quota pode, em vez disso,
adquiri-la ou fazê-la adquirir por sócio ou terceiro.
6 - No caso de se optar pela aquisição, aplica-se o disposto nos n.ºs 3 e 4 e na
primeira parte do n.º 5 do artigo 225.º"

• Pressupostos da amortização (n.º 1 do art. 233.º do CSC)


"Sem prejuízo de disposição legal em contrário, a sociedade só pode amortizar
uma quota sem o consentimento do respetivo titular quanto tenha ocorrido um
facto que o contrato social considere fundamento de amortização
compulsiva."

• Contrapartida da amortização (art. 235.º do CSC)


"1 - Salvo estipulação contrária do contrato de sociedade ou acordo das partes,
valem as disposições seguintes:
a) A contrapartida da amortização é o valor de liquidação da quota,
determinado nos termos do artigo 105.º, n.º 2, com referência ao
momento da deliberação;
b) O pagamento da contrapartida é fracionado em duas prestações, a
efetuar dentro de seis meses e um ano, respetivamente, após a fixação
definitiva da contrapartida.
2 - Se a amortização recair sobre quotas arroladas, arrestadas, penhoradas ou
incluídas em massa falida ou insolvente, a determinação e o pagamento da
contrapartida obedecerão aos termos previstos nas alíneas a) e b) do número anterior,
salvo se os estipulados no contrato forem menos favoráveis para a sociedade.
3 - Na falta de pagamento tempestivo da contrapartida e fora da hipótese prevista
no n.º 1 do artigo 236.º, pode o interessado escolher entre a efetivação do seu crédito
e a aplicação da regra estabelecida na primeira parte do n.º 4 do mesmo artigo."

• Ressalva do capital (n.o 1, n.º 2 e n.º 3 do art. 236.º do CSC)


"1 - A sociedade só pode amortizar quotas quando, à data da deliberação, a sua
situação líquida, depois de satisfeita a contrapartida da amortização, não ficar inferior
à soma do capital e da reserva legal, a não ser que simultaneamente delibere a redução
do seu capital.
2 - A deliberação de amortização deve mencionar expressamente a verificação do
requisito exigido pelo número anterior.
3 - Se ao tempo do vencimento da obrigação de pagar a contrapartida da amortização
se verificar que, depois de feito este pagamento, a situação líquida da sociedade
passaria a ser inferior à soma do capital e da reserva

68
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

legal, a amortização fica sem efeito e o interessado deve restituir à


sociedade as quantias porventura já recebidas."

• Efeitos internos e externos quanto ao capital (art. 237.º do CSC)


"1 - Se a amortização de uma quota não for acompanhada da correspondente redução
de capital, as quotas dos outros sócios serão proporcionalmente aumentadas.
2- Os sócios devem fixar por deliberação o novo valor nominal das quotas.
3 - O contrato de sociedade pode, porém, estipular que a quota figure no balanço
como quota amortizada, e bem assim permitir que, posteriormente e por deliberação
dos sócios, em vez da quota amortizada, sejam criadas uma ou várias quotas,
destinadas a serem alienadas a um ou a alguns sócios ou a terceiros."

Da análise destes normativos, sintetizam-se os aspetos mais marcantes:

a) Previsão legal e contratual do direito à amortização da quota

A amortização não pode ser arbitrária, só sendo possível quando prevista na lei ou no
contrato da sociedade.

Os factos que imponham ou permitam a amortização de quotas devem ser,


concretamente, discriminados no contrato social.

b) Causas legais de amortização

O CSC estabelece como causas legais de amortização da quota as situações seguintes:


• o falecimento de um sócio, quando o contrato preveja que a quota não se transmita
para os herdeiros do falecido.
• o falecimento de um sócio, quando o contrato faça depender a transmissão da
quota da vontade dos sucessores do falecido e estes não pretendem a quota para
si (n.º 2 do art. 226.º do CSC).
• sendo pedido por um sócio o consentimento à sociedade para uma cessão de
quotas, a sociedade pode recusar e apresentar proposta de amortização (n.º 1 do
art. 231.º do CSC).
• pretendendo o sócio exonerar-se da sociedade, na sequência da comunicação de
tal facto, esta pode amortizar a quota (n.º 3 do art. 240.º do CSC).

c) Pressupostos da amortização

Respeitando os casos em que a lei permite a amortização, a sociedade pode amortizar


a quota sem o consentimento do respetivo titular quando tenha ocorrido um facto que o
contrato social considere ser fundamento de amortização compulsiva (n.º 1 do art. 233.º
do CSC).

As situações mais vulgares são as respeitantes a quotas arroladas, arrestadas,


penhoradas ou incluídas em massa falida ou insolvente e, ainda, comportamentos
determinados do sócio, como seja a quebra de sigilo, com prejuízos para a sociedade.

69
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

d) Ressalva do capital

Em virtude das regras destinadas à preservação do capital social, a sociedade só pode


amortizar quotas quando, à data da deliberação de amortização, ou à data do
pagamento da contrapartida, o total do capital próprio não ficar inferior à soma do
capital social e da reserva legal, a não ser que, simultaneamente, se delibere a redução
do capital social.

Vencida a obrigação de pagamento da contrapartida, há que verificar se a sociedade


dispõe de bens distribuíveis (art. 32.º e art. 33.º do CSC) para o efetuar, com respeito pelo
total do capital próprio, ou seja, para que este não fique inferior à soma do capital social e
da reserva legal.

e) Forma e prazo da amortização

A amortização de quotas depende, sempre, de deliberação dos sócios, salvo nos casos
em que a amortização resulte da verificação de uma causa prevista como fundamento
legal ou contratual para exclusão do sócio.

O prazo para a deliberação é de:


• noventa dias, contados do conhecimento por algum gerente da sociedade do
facto que permita a amortização.
• nos casos restantes, a deliberação de amortização deve respeitar os prazos
previstos legalmente para a situação em causa.

f) Contrapartida da amortização

O contrato de sociedade pode estipular as regras relativas ao apuramento da


contrapartida pela amortização da quota, sendo, nesse caso, essa a contrapartida
devida.

Numa via negocial, o valor da contrapartida pode obter-se por acordo entre a sociedade
e o sócio afetado.

Se a contrapartida não for calculada segundo as regras previstas no contrato ou por


acordo com o titular, aplicam-se, supletivamente, as regras seguintes:
• a contrapartida é calculada em função do valor efetivo da quota no momento da
deliberação, o que torna necessária a elaboração de um balanço especial e a
intervenção de um ROC para o apuramento desse valor, nos termos conjugados do
n.º 2 do art. 105.º e do art. 1021.º do CCiv, aplicáveis por remissão do n.º 1 do art.
235.º do CSC.
• o pagamento da contrapartida é feito em duas prestações, a efetuar dentro de seis
meses e um ano, respetivamente, contados da fixação definitiva da contrapartida.

70
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

O art. 1021.º do CCiv prescreve o seguinte:


"1 - Nos casos de morte, exoneração ou exclusão de um sócio, o valor da sua quota é
fixado com base no estado da sociedade à data em que ocorreu ou produziu efeitos
o facto determinante da liquidação; se houver negócios em curso, o sócio ou os
herdeiros participarão nos lucros e perdas deles resultantes.
2- Na avaliação da quota observar-se-ão, com as adaptações necessárias, as regras
dos nºs 1 a 3 do artigo 1018º, na parte em que forem aplicáveis.
3- O pagamento do valor da liquidação deve ser feito, salvo acordo em contrário,
dentro do prazo de seis meses, a contar do dia em que tiver ocorrido ou produzido
efeitos o facto determinante da liquidação."

Por sua vez, o n.o 1, o n.º 2 e o n.º 3 do art. 1018.º do CCiv preceituam que:
"1 - Extintas as dívidas sociais, o ativo restante é destinado em primeiro lugar ao
reembolso das entradas efetivamente realizadas, excetuadas as contribuições de
serviços e as de uso e fruição de certos bens.
2 - Se não puder ser feito o reembolso integral, o ativo existente é distribuído pelos
sócios, por forma que a diferença para menos recaia em cada um deles na proporção
da parte que lhe competir nas perdas da sociedade; se houver saldo depois de feito o
reembolso, será repartido por eles na proporção da parte que lhes caiba nos lucros.
3 - As entradas que não sejam de dinheiro são estimadas no valor que tinham à data da
constituição da sociedade, se não lhes tiver sido atribuído outro no contrato."

g) Efeitos internos e externos da amortização

O efeito típico da amortização da quota é a sua extinção, quando se verifica a redução


do capital social pelo valor nominal da mesma.

Se a amortização não for acompanhada de uma redução do capital social igual ao seu
valor nominal ou se continuar a figurar no balanço, as quotas dos restantes sócios
devem ser, proporcionalmente, aumentadas.

Em alternativa, a quota amortizada é reconhecida contabilisticamente como quota


amortizada.

Na circunstância de a quota ficar a figurar no balanço como quota amortizada, as quotas


dos restantes sócios mantêm o seu valor nominal para efeitos externos, mas, para
efeitos internos, considera-se ter havido um aumento proporcional das mesmas, em
especial para efeitos de distribuição de lucros e de apuramento de maiorias nas
deliberações tomadas em assembleia geral.

Quanto à quota amortizada constante do balanço, podem os sócios deliberar em


assembleia geral criar uma ou várias novas quotas, as quais podem ser alienadas a
sócios ou a terceiros.

Nesta medida, a possibilidade de a quota a amortizar ficar a figurar no balanço como


quota amortizada, pode constituir uma alternativa ao aumento do capital social,
porquanto permite a realização de novas entradas por quem a venha a adquirir, sem
necessidade de efetuar todo o processo relativo ao aumento do capital social.

71
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Por fim, cabe referir que a amortização de quotas está sujeita a registo obrigatório.

A quota amortizada sem redução do capital social, ou não se verificando o aumento


proporcional das quotas restantes, figura no registo como quota amortizada, mantendo-
se, assim, a integralidade do capital social.

Amortização de ações

A amortização de ações está regulada no art. 346.º e no art. 347.º do CSC, relevando
as disposições seguintes:

• Amortização de ações sem redução de capital social (art. 346.º do CSC)


"1 - A assembleia geral pode deliberar, pela maioria exigida para alteração do
contrato de sociedade, que o capital seja reembolsado, no todo ou em parte, recebendo
os acionistas o valor nominal de cada ação, ou parte dele, desde que para
o efeito sejam utilizados apenas fundos que, nos termos dos artigos 32.º e 33.º,
possam ser distribuídos aos acionistas.
2 - O reembolso nos termos deste artigo não acarreta redução do capital.
3 - O reembolso parcial do valor nominal deve ser feito por igual, relativamente
a todas as ações existentes à data; sem prejuízo do disposto quanto a ações remíveis,
o reembolso do valor nominal de certas ações só pode ser efetuado por sorteio, se o
contrato de sociedade o permitir.
4 - Depois do reembolso, os direitos patrimoniais inerentes às ações são modificados
nos termos seguintes:
a) Essas ações só compartilham dos lucros de exercício, juntamente com
as outras, depois de a estas ter sido atribuído um dividendo, cujo máximo
é fixado no contrato de sociedade ou, na falta dessa estipulação, é igual
à taxa de juro legal; as ações só parcialmente reembolsadas têm direito
proporcional àquele dividendo;
b) Tais ações só compartilham do produto da liquidação da sociedade,
juntamente com as outras, depois de a estas ter sido reembolsado o
valor nominal; as ações só parcialmente reembolsadas têm direito
proporcional a essa primeira partilha.
5 - As ações totalmente reembolsadas passam a denominar-se ações de fruição,
constituem uma categoria e esse facto deve constar do título ou do registo das ações.
6 - O reembolso é definitivo, mas as ações de fruição podem ser convertidas em
ações de capital, mediante deliberações da assembleia geral e da assembleia especial
dos respetivos titulares, tomadas pela maioria exigida para alteração do contrato de
sociedade.
7 - A conversão prevista no número anterior é efetuada por meio de retenção dos
lucros que, num ou mais exercícios, caberiam às ações de fruição, salvo se as
referidas assembleias autorizarem que ela se efetue por meio de entradas oferecidas
pelos acionistas interessados.
8 - O disposto nos dois números anteriores é aplicável à reconstituição de ações
parcialmente reembolsadas.

72
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

9 - A conversão considera-se efetuada no momento em que os dividendos retidos


atinjam o montante dos reembolsos efetuados ou, no caso de entradas pelos
acionistas, no fim do exercício em que estas tenham sido realizadas.
10 - As deliberações de amortização e de conversão estão sujeitas a registo e
publicação."

• Amortização de ações com redução do capital social (n.o 1, n.º 2, n.º 3 e n.º 7 do art.
347.º do CSC)
"1 - O contrato de sociedade pode impor ou permitir que, em certos casos e sem
consentimento dos seus titulares, sejam amortizadas ações.
2 - A amortização de ações nos termos deste artigo implica sempre a redução do
capital da sociedade, extinguindo-se as ações amortizadas na data da redução do
capital.
3 - Os factos que imponham ou permitam a amortização devem ser concretamente
definidos no contrato de sociedade.

7- À redução de capital por amortização de ações nos termos deste artigo
aplica-se o disposto no artigo 95.º, exceto:
a) Se forem amortizadas ações inteiramente liberadas, postas à disposição
da sociedade, a título gratuito;
b) Se para a amortização de ações inteiramente liberadas forem unicamente
utilizados fundos que, nos termos dos artigos 32.º e 33.º, possam ser
distribuídos aos acionistas; neste caso, deve ser criada uma reserva
sujeita ao regime de reserva legal, de montante equivalente à soma do
valor nominal das ações amortizadas."

A análise destes artigos permite identificar que existem duas espécies de amortização
de ações:

• amortização sem redução do capital social e sem extinção das ações.


• amortização com redução do capital social e com extinção das ações27.

a) A amortização de ações sem redução do capital social

A amortização sem redução do capital social traduz-se no reembolso antecipado do


valor nominal da ação ao acionista.

O reembolso do valor nominal apenas pode ser deliberado e, posteriormente, executado


se forem usados apenas fundos que, nos termos do art. 32.º e do art. 33.º do CSC, possam
ser distribuídos aos acionistas.

Concretamente, não podem ser distribuídos aos acionistas bens da sociedade quando o
total do capital próprio desta, incluindo o resultado líquido do exercício, tal como resulta
das contas elaboradas e aprovadas nos termos legais, seja inferior à soma do capital
social e das reservas que a lei ou o contrato não permitem distribuir aos sócios ou se
tornasse inferior a esta soma em consequência da distribuição.

Acresce que não podem ser distribuídos aos acionistas os lucros do exercício que
sejam

27 redução do capital social.

73
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

necessários para cobrir prejuízos transitados ou para criação ou reforço de reservas


impostas pela lei ou pelo contrato de sociedade.

As ações totalmente reembolsadas passam a denominar-se ações de fruição, que são


verdadeiras participações sociais, constituindo uma categoria própria.

Esta categoria de ações confere aos seus titulares direitos de natureza não patrimonial
iguais aos das ações ordinárias, sendo os direitos de natureza patrimonial reduzidos.

Com efeito, nos termos do n.º 4 do art. 346.º do CSC, depois do reembolso, os direitos
patrimoniais inerentes às ações de fruição são modificados.

Estas ações só compartilham dos lucros de exercício, juntamente com as outras, depois
de a estas últimas ter sido atribuído um dividendo, cujo máximo é fixado no contrato de
sociedade ou, na falta dessa estipulação, é igual à taxa de juro legal, e, para as ações que
sejam apenas parcialmente reembolsadas, o direito de participação nos lucros é
proporcional àquele dividendo.

Em caso de liquidação da sociedade, estas ações só compartilham do produto da


liquidação da sociedade, juntamente com as outras, depois de a estas ter sido
reembolsado o valor nominal, sendo que as ações só parcialmente reembolsadas têm
direito proporcional a essa primeira partilha.

b) A conversão de ações de fruição em ações de capital

Nos termos do n.o 6 e do n.º 7 do art. 346.º do CSC, o reembolso é definitivo, mas as ações
de fruição podem ser convertidas em ações de capital, mediante deliberações da
assembleia geral e da assembleia especial dos titulares, tomadas pela maioria exigida
para alteração do contrato de sociedade.

Esta conversão é efetuada por meio de retenção dos lucros que, num ou mais exercícios,
caberiam às ações de fruição, salvo se as referidas assembleias autorizarem que ela se
efetue por meio de entradas oferecidas pelos acionistas interessados, sendo este
processo aplicável, igualmente, à reconstituição de ações parcialmente reembolsadas
(n.º 8 do art. 346.º do CSC).

c) Amortização de ações com redução do capital social

O contrato de sociedade pode impor ou permitir que, em certos casos e sem


consentimento dos seus titulares, sejam amortizadas ações, o que, nos termos do art.
347.º do CSC, implica, sempre, a redução do capital da sociedade, extinguindo-se as
ações amortizadas na data da redução do capital.

Para que isto seja possível, os factos que imponham ou permitam a amortização devem
ser, concretamente, definidos no contrato de sociedade e haja lugar à sua constatação
inequívoca.

Por haver lugar à redução do capital social por amortização de ações, deve ser aplicado
o disposto no art. 95.º do CSC, ou seja, a verificabilidade de, após a redução, o total do
capital próprio ficar a exceder o novo capital em, pelo menos, 20%, com as exceções
previstas no n.o 2 e no n.º 3.
Finalmente, salienta-se que a amortização de ações, em qualquer das duas

74
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

modalidades, anteriormente, expostas, está sujeita a registo.

Aspetos Contabilísticos

Vamos analisar, apenas, a amortização de capital sem redução do capital social, na


medida em que a situação em que a mesma implique a redução do capital social foi
abordada, supra.

Assim, o reconhecimento contabilístico a efetuar, salvaguardando as condições impostas


pelo CSC, e atendendo a que a amortização de quotas ou ações sem redução do capital
social deve fazer-se à custa de fundos que, nos termos do art. 32.º e do art. 33.º do CSC,
possam ser distribuídos aos acionistas.

Assim, que quando é onerosa, a amortização do capital sem redução do capital social,
é efetuada à custa de reservas livres ou de resultados transitados positivos.

Em conformidade, numa situação destas deve efetuar-se o reconhecimento contabilístico seguinte:

D. 552/56 ................................................. Vamort.


C. 268 ...................................................... Vamort.

Posteriormente, pelo pagamento:

D. 268 ...................................................... Vamort.


C. 12 ........................................................ Vamort.

Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

A assembleia geral da sociedade "Beta, Lda.", realizada em 20 de julho de 2022,


deliberou, unanimemente, com o acordo expresso do titular, a amortização de uma quota
com o valor nominal de € 80.000,00.

A contrapartida acordada foi de € 90.000,00 e as reservas disponíveis para distribuição


(reservas livres) ascendem a € 110.000,00.

Mais foi deliberado que a amortização desta quota não acarreta redução do capital social
e que o valor nominal da quota amortizada é distribuído, proporcionalmente, pelas quotas
dos sócios restantes.

A contrapartida da amortização da quota foi paga ao titular em 15 de agosto de 2022,


através de transferência bancária.

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados.

Resolução:

- Pela amortização da quota - 20 de julho de 2022

D. 552 ...................................................... 90.000,00


C. 268 ...................................................... 90.000,00

Naturalmente, como o valor de amortização supera o valor nominal da quota, existem

75
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

rendimentos de capitais presumidos em IRS ou em IRC, correspondentes à diferença


entre os dois valores, que estariam sujeitos a retenção na fonte às taxas vigentes.

- Pelo pagamento da contrapartida - 15 de agosto de 2022

D. 268 ...................................................... 90.000,00


C. 12 ........................................................ 90.000,00

76
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Reintegração do Capital Social

Aspetos Societários

1.6.1.1. Conceitos Fundamentais

Do ponto de vista societário, o capital próprio é uma garantia para os credores, pois a
sua expressão numérica positiva representa o excesso de valor dos elementos ativos
sobre o total do passivo, pelo que, sendo a sua quantia dependente da mensuração dos
ativos e dos passivos, é natural que o legislador exija que tal quantia não desça abaixo
de patamar certo.

Por sua vez, o capital social, enquanto componente do capital próprio, está sujeito a
formalismos, divulgação pública e restrições de utilização que lhe conferem primordial
importância na função de garantia geral dos credores.

O disposto no art. 35.º do CSC visa solucionar uma questão essencial das sociedades
comerciais, a dúvida quanto ao pressuposto da continuidade se, perdida metade do
valor do capital social, o mesmo não fosse, oportunamente, reintegrado.

Com efeito, quando a sociedade se encontra subcapitalizada, há que procurar superar


essa situação, promovendo as medidas de saneamento financeiro ou reforço de capitais
que se justificarem ser possível.

Nessas medidas, enquadra-se um conjunto amplo de recursos, entre os quais se


destaca o apelo a entradas novas dos sócios ou acionistas, sendo que a afetação de
meios deve ser efetuada com caráter duradouro e consistente, de forma a viabilizar a
sociedade em dificuldades.

A questão da perda de metade do capital social conduz-nos, em sentido amplo, à


temática da reintegração do capital social, ou seja, a reposição do capital próprio quando
este se encontrar inferior ao capital social, em consequência de prejuízos.

Pela reintegração, os sócios incorporam no ativo da sociedade bens novos ou


prescindem de créditos que, porventura, tenham sobre aquela.

Uma vez verificada a perda de metade do capital social, nos termos prescritos no art.
35.º do CSC, a reintegração do capital social é uma das soluções possíveis, entre
inúmeras outras, pois, em abstrato, qualquer solução que permita aumentar o total do
capital próprio, aproximando o valor contabilístico do valor nominal das partes sociais,
é válida.

Sublinha-se que a reintegração não é obrigatória, constituindo uma hipótese de solução


para a questão da perda de metade do capital social, alternativa à dissolução ou à
redução do capital social, ou outras, no caso de os sócios estarem dispostos a efetuar
entradas.

77
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

1.6.1.2. Enquadramento Legal

No plano do direito societário, a matéria atinente à perda de metade do capital social


enquadra-se no âmbito das obrigações dos sócios, no que respeita à conservação do
capital, estando regulada no art. 35.º do CSC.

• Perda de metade do capital social (art. 35.º do CSC)


"1 - Resultando das contas de exercício ou de contas intercalares, tal como elaboradas
pelo órgão de administração, que metade do capital social se encontra perdido, ou
havendo em qualquer momento fundadas razões para admitir que essa perda se
verifica, devem os gerentes convocar de imediato a assembleia geral ou os
administradores requerer prontamente a convocação da mesma, a fim de nela se
informar os sócios da situação e de estes tomarem as medidas julgadas convenientes.
2 - Considera-se estar perdida metade do capital social quando o capital próprio
da sociedade for igual ou inferior a metade do capital social.
3 - Do aviso convocatório da assembleia geral constarão, pelo menos, os seguintes
assuntos para deliberação pelos sócios:
a) A dissolução da sociedade;
b) A redução do capital social para montante não inferior ao capital
próprio da sociedade, com respeito, se for o caso, do disposto no n.º 2
do artigo 95.º;
c) A realização pelos sócios de entradas para reforço da cobertura do
capital."

• Sendo que o n.º 2 do art. 95.º do CSC dispõe:


"É permitido deliberar a redução do capital a um montante inferior ao mínimo
estabelecido nesta lei para o respetivo tipo de sociedade se tal redução ficar
expressamente condicionada à efetivação de aumento do capital para montante igual
ou superior àquele mínimo, a realizar nos 60 dias seguintes àquela deliberação.”

O art. 35.º do CSC dispõe no sentido de as sociedades não apresentarem um total do


capital próprio inferior a metade do capital social, conforme resulta da conjugação do
n.o 1 e do n.º 2.

Consequentemente, sempre que aquele mínimo de total do capital próprio não esteja
garantido, determina-se a adoção de medidas.

Os membros da administração que, pelas contas do exercício ou de contas intercalares,


verifiquem estar perdida metade do capital social devem mencionar expressamente tal
facto no relatório de gestão e anexo às contas, e propor aos sócios, entre outras
possíveis, as seguintes medidas:

a) a dissolução da sociedade.
b) a redução do capital social.

78
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

c) A realização de entradas para reforçar a cobertura do capital social (reintegração do


capital).

Decorrente da adoção das medidas deliberadas em assembleia geral, o total do


capital próprio da sociedade deve posicionar-se no limiar mínimo de metade do capital
social.

Na circunstância de os sócios não deliberarem as medidas conducentes a este objetivo,


podem, então, deliberar a dissolução da sociedade.

Aspetos Contabilísticos

A reintegração do capital social consiste na reposição do capital social, quando este se


encontra perdido em, pelo menos, metade, em consequência de prejuízos.

Pela reintegração, os sócios incorporam no ativo da sociedade bens novos ou desistem


de créditos que, porventura, tenham sobre ela.

A reintegração não constitui uma alteração do contrato de sociedade (o capital social


continua a ser o mesmo), estando, apenas, em causa um aumento do património líquido,
que não tem expressão no contrato de sociedade.

O reconhecimento contabilístico a efetuar deve ser:

D. 12/253/268 ......................................... Prejuízo a cobrir


C. 56 ........................................................ Prejuízo a cobrir

As contas a débito são justificadas pelo facto de estarem em causa, ou entradas efetivas
a efetuar pelos sócios, ou de créditos que possuam sobre a sociedade.

O montante mínimo do prejuízo a cobrir deve ser aquele que assegure o cumprimento do
art. 35.º do CSC, isto é:

Total do capital próprio > 50% x capital social

Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

O capital social da sociedade "Alfa, Lda." é de € 100.000,00, dividido em quatro quotas


iguais pertencentes aos sócios A, B, C e D, pessoas singulares.

O balanço da sociedade "Alfa, Lda." em 31 de dezembro de 2021 é o seguinte:

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Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ativo Capital Próprio + Passivo

Ativos não correntes 210 000,00Capital subscrito 100 000,00

Inventários 180 000,00Resultados transitados -40 000,00

Outros ativos correntes Resultado líquido do período


30 000,00 -50 000,00
Meios financeiros Capital próprio 10 000,00
líquidos 20 000,00
Passivo

Empréstimos de sócios
(suprimentos) 30 000,00

Outros passivos 400 000,00

Total do Ativo 440 000,00Total do Capital Próprio + Passivo 440 000,00

Dado que o t o t a l d o capital próprio da sociedade é inferior a metade do


capital social, a assembleia geral de 31 de março de 2022 deliberou as medidas
seguintes:

a) reduzir o capital social em 50% para cobertura de prejuízos.

b) cobertura de prejuízos pelo montante dos suprimentos.

c) entradas dos sócios, em dinheiro, para cobertura de prejuízos, no valor total de €


20.000,00 (ficando € 10.000,00 como reservas livres), cumprindo o reforço
obrigatório do capital próprio, na proporção das quotas detidas (cheques emitidos a
favor da sociedade).

Nota: os suprimentos respeitam, proporcionalmente, a todos os sócios.

Pretende-se que:
1) Proceda à contabilização destas operações.
2) Elabore o balanço após a contabilização das operações.
3) Diga, justificando, se foi cumprido o preceituado no art. 35.º do CSC.

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Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Resolução:

1) Contabilização das operações

- Transferência do resultado líquido do período para resultados transitados

D. 56 …..................................................... 50.000,00
C. 818 …................................................... 50.000,00

- Redução do capital social em 50%

D. 51 …..................................................... 50.000,00
C. 56 …..................................................... 50.000,00

- Cobertura de prejuízos com recurso a suprimentos

D. 2532 …................................................. 30.000,00


C. 56 …..................................................... 30.000,00

- Entradas, em dinheiro, dos sócios, para cobertura de prejuízos

D. 11 …..................................................... 20.000,00
C. 56 …..................................................... 10.000,00
C. 552 …................................................... 10.000,00

2) Balanço após a contabilização das operações

Ativo Capital Próprio + Passivo

Ativos não correntes 210 000,00 Capital subscrito 50 000,00


Outras reservas 10 000,00
Inventários
180 000,00 Resultados transitados 0,00

Outros ativos correntes 30 000,00 Resultado líquido do período 0,00

Meios financeiros líquidos Capital próprio


60 000,00
40 000,00
Passivo

Empréstimos de sócios
0,00
(suprimentos)

Outros passivos 400 000,00


Total do Ativo 460 000,00 Total do Capital Próprio + Passivo 460 000,00

3) O balanço evidencia que o total do capital próprio é superior ao capital social, pelo que
se cumpre a regra imposta pelo art. 35.º do CSC, ou seja, total do capital próprio >
½ do capital social (conjugação do n.o 1 e do n.º 2) e respeito pelo n.º 2 do art. 95.º
do CSC.

81
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2. Ações (Quotas) Próprias

2.1. Aspetos Societários

2.1.1. Conceitos Fundamentais

As ações ou quotas próprias consubstanciam a titularidade pela sociedade de partes


representativas do seu capital social.

No plano da substância económica das operações subjacentes à aquisição e detenção


de ações próprias, uma vez subscrito e realizado o capital social, podemos ser
confrontados com a diminuição do total do capital próprio, através da aquisição de
parcelas daquele por parte da própria sociedade.

Com efeito, formalmente, o capital social apresentado no balanço mantem-se inalterado,


apesar do número de ações em circulação sofrer uma redução.

Esta circunstância é de primordial relevância nas sociedades de capital aberto, pois


pode ter impacto sobre o controlo da sociedade28.

Neste contexto, os propósitos fundamentais na aquisição, detenção e alienação de


ações ou quotas próprias, são:

1º. Suprimir ou reduzir certas categorias de ações (ações privilegiadas).


2º. Reduzir, em substância, o capital social.
3º. Exclusão de sócio ou de acionista, pela via da amortização de quotas (ações).
4º. Realizar ganhos com a alienação.
5º. Aplicar excedentes financeiros em títulos que se consideram seguros.
6º. Provocar ou reagir contra flutuações de valor das ações no mercado.

As ações próprias comportam perigos vários para os credores sociais e para alguns
acionistas.

Com efeito, a aquisição onerosa de quotas ou ações próprias enfraquece muitas vezes
o património social, uma vez que saem bens da sociedade, como contrapartida.

As relações de poder na sociedade são alteradas pela via das ações próprias, dado que
o direito de voto inerente a estas ações fica suspenso, bem como o direito a lucros.

A aquisição de ações próprias é suscetível de ser utilizada para beneficiar,


especialmente, os acionistas do grupo de controlo, afastando os sócios minoritários que
se revelem incómodos.

28 poder efetivo na tomada de decisões pelos acionistas.

82
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Como tal, as consequências principais são:

1ª. Atenta contra o princípio da integridade do capital.


2ª. Provoca a redução do ativo ou o aumento do passivo e, consequentemente,
limita a proteção de terceiros.
3ª. Pode afetar os interesses dos sócios minoritários.
4ª. Consideram-se suspensos todos os direitos inerentes às ações e às quotas, exceto
o direito de receber novas ações ou quotas, em consequência de incorporação de
reservas no capital, designadamente:
• não conferem direito a lucros.
• não conferem direitos de voto.

2.1.2. Enquadramento Legal

A problemática relacionada com as quotas e ações próprias está regulada no art. 220.º e
entre o art. 316.º e o art. 325.º-B do CSC, sendo de destacar:

• Aquisição de quotas próprias (art. 220.º do CSC)

“1 – A sociedade não pode adquirir quotas próprias não integralmente liberadas,


salvo o caso de perda a favor da sociedade, previsto no artigo 204.º.
V – As quotas próprias só podem ser adquiridas pela sociedade a título gratuito, ou em ação
executiva movida contra o sócio, ou se, para esse efeito, ela dispuser de reservas livres em
montante não inferior ao dobro do contravalor a prestar.
V – São nulas as aquisições de quotas próprias com infração do disposto neste artigo.
4 – É aplicável às quotas próprias o disposto no artigo 324.º.”

• Subscrição. Intervenção de terceiros (n.o 1 a n.º 3 do art. 316.º do CSC)

“1 – Uma sociedade não pode subscrever ações próprias, e, por outra causa, só
pode adquirir e deter ações próprias nos casos e nas condições previstos na lei.
V – Uma sociedade não pode encarregar outrem de, em nome deste mas por conta da
sociedade, subscrever ou adquirir ações dela própria.
V – As ações subscritas ou adquiridas com violação do disposto no número anterior pertencem
para todos os efeitos, incluindo a obrigação de as liberar, à pessoa que as subscreveu ou
adquiriu.”

• Casos de aquisição lícita de ações próprias (art. 317.º do CSC)

“1 – O contrato de sociedade pode proibir totalmente a aquisição de ações


próprias ou reduzir os casos em que ela é permitida por esta lei.

83
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

V – Salvo o disposto no número seguinte e noutros preceitos legais, uma sociedade não pode
adquirir e deter ações próprias representativas de mais de 10% do seu capital.
V – Uma sociedade pode adquirir ações próprias que ultrapassem o montante estabelecido no número
anterior quando:
a) A aquisição resulte do cumprimento pela sociedade de disposições da lei;
b) A aquisição vise executar uma deliberação de redução de capital;
c) Seja adquirido um património, a título universal;
d) A aquisição seja feita a título gratuito;
e) A aquisição seja feita em processo executivo para cobrança de dívidas
de terceiros ou por transação em ação declarativa proposta para o mesmo
fim;
f) A aquisição decorra de processo estabelecido na lei ou no contrato de
sociedade para a falta de liberação de ações pelos seus subscritores.
4 – Como contrapartida da aquisição de ações próprias, uma sociedade só pode
entregar bens que, nos termos dos artigos 32.º e 33.º, possam ser distribuídos aos sócios,
devendo o valor dos bens distribuíveis ser, pelo menos, igual ao dobro do valor a pagar
por elas.”

• Deliberação de aquisição (n.º 1 do art. 319.º do CSC)

“A aquisição de ações próprias depende, salvo o disposto no n.º 3 deste artigo,


de deliberação da assembleia geral, da qual obrigatoriamente devem
constar:
a) O número máximo e, se o houver, o número mínimo de ações a adquirir;
b) O prazo, não excedente a 18 meses a contar da data da deliberação, durante
o qual a aquisição pode ser efetuada;
c) As pessoas a quem as ações devem ser adquiridas, quando a deliberação
não ordenar que elas sejam adquiridas em mercado regulamentado e seja
lícita a aquisição a acionistas determinados;
d) As contrapartidas mínima e máxima, nas aquisições a título oneroso.”

• Deliberação de alienação (art. 320.º do CSC)

“1 – A alienação de ações próprias depende, salvo o disposto no n.º 2 deste


artigo, de deliberação da assembleia geral, da qual obrigatoriamente deve
constar:
a) O número mínimo e, se o houver, o número máximo de ações a alienar;
b) O prazo, não excedente a dezoito meses, a contar da data da deliberação,
durante o qual a alienação pode ser efetuada;
c) A modalidade da alienação;
d) O preço mínimo ou outra contrapartida das alienações a título oneroso.
2 - A alienação de ações próprias pode ser decidida pelo conselho de administração
ou pelo conselho de administração executivo, se for imposta por lei.

84
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

V – No caso do número anterior, devem os administradores, na primeira assembleia geral


seguinte, expor os motivos e todas as condições da operação efetuada.”

• Igualdade de tratamento dos acionistas nas aquisições e alienações (art.


321.º do CSC)

“As aquisições e as alienações de ações próprias devem respeitar o princípio do


igual tratamento dos acionistas, salvo se a tanto obstar a própria natureza do
caso.”

• Tempo de detenção das ações (n.º 1 do art. 323.º do CSC)

“Sem prejuízo de outros prazos ou providências estabelecidos na lei, a sociedade não


pode deter por mais de três anos um número de ações superior ao montante
estabelecido no artigo 317.º, n.º 2, ainda que tenham sido licitamente adquiridas.”

• Regime das ações próprias (art. 324.º do CSC)

“1 – Enquanto as ações pertencerem à sociedade, devem:


a) Considerar-se suspensos todos os direitos inerentes às ações, exceto o de o
seu titular receber novas ações no caso de aumento de capital
por incorporação de reservas;
b) Tornar-se indisponível uma reserva de montante igual àquele por que elas
estejam contabilizadas.
V – No relatório anual do conselho de administração ou do conselho de administração executivo
devem ser claramente indicados:
c) O número de ações próprias adquiridas durante o exercício, os motivos das
aquisições efetuadas e os desembolsos da sociedade;
d) O número de ações próprias alienadas durante o exercício, os motivos das
alienações efetuadas e os embolsos da sociedade;
e) O número de ações próprias da sociedade por ela detidas no fim do exercício.”

Conclui-se, da leitura destes artigos, que uma sociedade não pode adquirir e deter ações
próprias representativas de mais de 10% do seu capital, com ressalva das exceções
previstas no n.º 3 do art. 317.º do CSC.

Relativamente às sociedades por quotas, não é imposta um limite para a percentagem


de aquisição e de detenção, importando, somente, o requisito da existência de reservas
livres em montante pelo menos igual ao dobro da contrapartida.

A aquisição das ações ou quotas, quando ocorra a título oneroso, implica, ainda, que seja
necessário tornar indisponível uma reserva de montante igual àquele pelo qual elas

85
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

estejam reconhecidas, durante o período em que estiverem na posse da sociedade, de


acordo com a al. B) do n.º 1 do art. 324.º do CSC.

a) Proibição de subscrição direta e indireta de ações próprias

Uma sociedade não pode adquirir originariamente ações próprias, ou seja, não pode
subscrevê-las, aquando da constituição ou em aumento do capital social por novas
entradas (em dinheiro e/ou em espécie), nem encarregar outrem de o fazer, de acordo
com o n.o 1 e o n.º 2 do art. 316.º do CSC.

A norma que proíbe a subscrição de ações próprias é imperativa, pelo que são nulas as
cláusulas estatutárias que derroguem a proibição.

b) Aquisição derivada de ações próprias

A sociedade pode adquirir as ações que representam o seu capital social, após a
constituição, se os estatutos não estabelecerem a proibição e desde que observados
os requisitos seguintes:

1. uma sociedade pode adquirir ações próprias desde que não passe a deter (em
regra) mais de 10% das ações emitidas (n.º 2 do art. 317.º CSC), sem prejuízo das
exceções definidas no n.º 3 do art. 317.º.
2. a aquisição só pode incidir sobre ações inteiramente liberadas (as entradas
correspondentes devem estar realizadas), exceto nos casos da al. B), da al. C), da al.
E) e da al. F) do nº 3 do artigo 317.º do CSC, visando-se a salvaguarda da posição
dos credores sociais (a exata formação do capital é exigida, sobretudo, para tutela
deles) e o tratamento igual dos acionistas.
3. sendo onerosa a aquisição, deve a sociedade, para satisfazer a contrapartida,
possuir bens que, nos termos do art. 32.º e do art. 33.º do CSC, possam ser
distribuídos aos sócios, devendo o valor dos bens distribuíveis ser, pelo menos,
igual ao dobro do valor a pagar (parte final do n.º 4 do art. 317.º do CSC); no
essencial, não deve resultar da satisfação da contrapartida que o valor do
património social líquido fique inferior à soma do capital e das reservas que a lei
ou o estatuto não permitem distribuir aos sócios.

c) Formalização da aquisição e da alienação de ações próprias

Em regra, a aquisição de ações próprias (a efetivar pelo órgão de administração)


depende de deliberação dos sócios, de acordo com o n.º 1 do art. 319.º do CSC, que
estabelece o conteúdo obrigatório da deliberação.

Em termos idênticos, a alienação de ações depende de deliberação dos sócios, de acordo


com o n.º 1 do art. 320.º do CSC, que estabelece o conteúdo obrigatório da deliberação.

86
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

d) Efeitos da titularidade das ações próprias

Enquanto a sociedade detiver ações próprias, ficam suspensos os direitos a elas


inerentes (direito de quinhoar nos lucros, a participar nas deliberações, a obter
informações, por exemplo), com exceção do direito de a sociedade receber novas
ações (ou das ações ficarem com valor nominal ou com valor de emissão aumentado), nos
casos de aumento do capital por incorporação de reservas, de acordo com a al. A) do
n.º 1 do art. 324.º do CSC, sem prejuízo do n.º 3 do art. 92.º do CSC.

Este normativo é aplicável às quotas próprias, por remissão do art. 220.º do CSC.

2.2. Aspetos Contabilísticos

As ações próprias e as quotas próprias são apresentadas no balanço, como


componente do capital próprio, sendo expressas como dedução ao total do capital
próprio.

Nesta matéria, o § 8 da NCRF 27 dispõe que:

“Se uma entidade adquirir ou readquirir os seus próprios instrumentos de capital


próprio, esses instrumentos (quotas/ações próprias) devem ser reconhecidos como
dedução ao capital próprio. A quantia a reconhecer deve ser o justo valor da retribuição
paga pelos respetivos instrumentos de capital próprio. Uma entidade não deve
reconhecer qualquer ganho ou perda na demonstração de resultados decorrente de
qualquer compra, venda, emissão ou cancelamento de ações próprias.”

Assim, apesar do número de ações em circulação sofrer uma redução, o capital social
apresentado no balanço mantém-se inalterado, continuando a apresentar o valor do
item Capital subscrito.

Contudo, o reconhecimento do justo valor da retribuição (contrapartida) opera com sinal


simétrico, constituindo uma diminuição do total do capital próprio.

Todos os reconhecimentos relativos à contabilização de ações próprias e de quotas


próprias implicam a utilização da conta “52 – Ações (quotas) próprias”.

A conta “521 – Valor nominal” é debitada pelo valor nominal ou pelo valor de emissão
das ações próprias adquiridas ou pelo valor nominal das quotas próprias adquiridas.

Ainda na fase de aquisição, a conta “522 – Descontos e prémios” é movimentada pela


diferença entre o custo de aquisição e o valor nominal ou o valor de emissão, podendo
assim, o movimento desta conta, ocorrer a débito, se a diferença é positiva, ou a crédito,
se a diferença é negativa.

Acresce que, na fase da aquisição, igualmente, quando onerosa, deve ser tornado
indisponível, com sacrifício da(s) conta(s) de reservas disponíveis, valor igual ao valor da
contrapartida a pagar, através de transferência para a conta “551 – Reservas legais29”.

A aquisição de ações próprias e de quotas próprias por valores diferentes do valor


nominal ou do valor de emissão, conjugada com a alienação por valores distintos do
valor de aquisição, podem gerar incrementos patrimoniais ou decréscimos patrimoniais.

87
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Assim, quando se proceder à venda das ações próprias ou das quotas próprias, para
além de se efetuar o crédito na conta 521, movimenta-se a conta 522 pela diferença
entre o valor de alienação e o valor nominal ou o valor de emissão.

Simultaneamente, a conta 522 deve ser regularizada, por contrapartida da conta “ 599
– Outras variações no capital próprio –

29 reserva de “génese legal”, pois é imposta pela al. B) do n.º 1 do art. 324.º do CSC.

88
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Outras”, de forma a manter os descontos e prémios correspondentes às ações próprias


e às quotas próprias detidas.

Deste modo, todas as alterações no total do capital próprio (positivas ou negativas), como
consequência das operações de alienação de ações próprias e de quotas próprias,
devem ser reconhecidos através da movimentação a crédito (positivas) ou a débito
(negativas) da conta “599 – Outras variações no capital próprio – Outras”.

Após a alienação de ações próprias ou de quotas próprias adquiridas onerosamente, a


reserva indisponível pode ser considerada disponível.

De igual modo, os custos de transação com a aquisição e a alienação de quotas próprias


e de ações próprias devem ser reconhecidos no capital próprio.

Na aquisição, o valor nominal ou o valor de emissão é reconhecido na subconta “521 –


Valor nominal” e a diferença eventual entre este e o custo é reconhecida na subconta
“522 – Descontos e prémios”.

Na alienação, diferenças eventuais entre o valor de alienação e o valor de aquisição


são reconhecidas na “599 – Outras variações no capital próprio – Outras”.

As ações próprias e as quotas próprias são evidenciadas no capital próprio, com valor
negativo (constituem reduções do total do capital próprio), e o valor apresentado na
integração da conta 52 corresponde ao valor de aquisição.

Vejamos, então, o esquema da movimentação da conta:

Operações onerosas

1) Indisponibilização da(s) reserva(s) indisponível(is)

D. 552/56 V. aquisição
….................................................
C. 551 …................................................... V. aquisição

2) Aquisição das ações próprias ou das quotas próprias (V. aq./Vn/Ve)

2.1) V. aq. = Vn/Ve

D. 521 …................................................... Vn/Ve


C. 12/27830 …........................................... V. aquisição

2.2) V. Aq. > Vn/Ve, origina prémio na aquisição (Pa) = V. aq. - Vn/Ve

D. 521 ...................................................... Vn/Ve


D. 522 ...................................................... Pa
C. 12/278 ................................................. V. aquisição

89
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2.3) V. aq. < Vn/Ve, origina desconto na aquisição (Da) = V. aq.- Vn

D. 521 ...................................................... Vn/Ve


C. 522 ...................................................... Da
C. 12/278 ................................................. V. aquisição

3) Alienação das ações próprias ou das quotas próprias (V. al/Vn/Ve)

3.1) V. al = Vn/Ve

D. 12/26831 .............................................. V. alienação


C. 521 ...................................................... Vn/Ve

3.2) V. al > Vn/Ve, originando uma diferença positiva na alienação (Dpa) = V. al - Vn/Ve

D. 12/268 ................................................. V. alienação


C. 521 ...................................................... Vn/Ve
C. 522 ...................................................... Dpa

3.3) V. al < Vn/Ve, originando uma diferença negativa na alienação (Dna) = V. al - Vn/Ve

D. 12/268 ................................................. V. alienação


D. 522 ...................................................... Dna
C. 521 ...................................................... Vn/Ve

Simultaneamente, com o reconhecimento da alienação, é necessário regularizar a


alteração patrimonial que é consequência da operação:

30 consoante pagamento imediato ou a prazo.


31 consoante recebimento imediato ou a prazo.

90
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4) Alteração patrimonial (V. al/V. aq.)

O valor da alteração patrimonial corresponde à necessidade de regularização do saldo


existente na conta 52232.

4.1.) Alteração patrimonial nula: V. al = V. aq.

Não existe necessidade de regularização.

4.2) Alteração patrimonial positiva: V. al > V. aq.

D. 522 ...................................................... Alteração > 0


C. 599 ...................................................... Alteração > 0

4.3) Alteração patrimonial negativa: V. al < V. aq.

D. 599 ...................................................... Alteração < 0


C. 522 ...................................................... Alteração < 0

Por fim, alienadas as ações próprias ou as quotas próprias, deve ser tornado disponível o
valor das reservas indisponíveis.

32 de notar que o saldo da conta 521 é ajustado no momento do reconhecimento da alienação.

91
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Operações gratuitas

Por fim, é conveniente referir a hipótese das ações próprias ou das quotas próprias
poderem ser obtidas a título gratuito (por exemplo, em consequência de uma
amortização gratuita do capital social).

Neste caso, não necessita de ter reservas disponíveis em dobro do contravalor a prestar,
nem necessita da indisponibilização da reserva, pelo valor equivalente.

Assim, pelo reconhecimento, deve efetuar-se:

D. 521 ...................................................... Vn/Ve


C. 522 ...................................................... Vn/Ve

De notar que o que é obtido a título gratuito pode ser alienado, aplicando-se os
reconhecimentos apresentados em 3) e em 4), supra.

2.3. Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

A sociedade "Gama, Lda.", em conformidade com disposição do contrato de sociedade,


amortizou, gratuitamente, em maio de 2022, uma quota com o valor nominal de €
100.000,00, a qual reverteu para a sociedade.

Esta quota foi alienada em setembro de 2022, por € 120.000,00, tendo sido recebida,
de imediato, metade do valor, por transferência bancária.

O balanço da sociedade, em maio de 2022, era o seguinte:

Ativo Capital próprio + Passivo


Inventários 2 000 000,00Capital subscrito 1 000 000,00

Outros ativos correntes 800 000,00Reservas legais 50 000,00

Caixa e depósitos à ordem 200 000,00Outras reservas 280 000,00

Resultados transitados 10 000,00

Capital próprio 1 340 000,00

1 660 000,00
Passivo

Total do ativo 3 000 000,00Total do capital próprio + Passivo 3 000 000,00

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados.

Resolução:

- Aquisição da quota por amortização do capital social - maio de 2022

92
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

D. 521 ...................................................... 100.000,00


C. 522 ...................................................... 100.000,00

- Alienação da quota própria - setembro de 2022

D. 12 ........................................................ 60.000,00
D. 268 ..................................................... 60.000,00
C. 521 ...................................................... 100.000,00
C. 522 ...................................................... 20.000,00

- Pela regularização da alteração patrimonial positiva - setembro de 2022

D. 522 ...................................................... 120.000,00


C. 599 ...................................................... 120.000,00

Caso Prático N.º 2

A sociedade "Alfa, S.A." decidiu proceder, em junho de 2022, à aquisição de 50.000


ações próprias, sendo o valor de aquisição igual a € 0,80 e o valor nominal igual a €
1,00, com pagamento imediato, por transferência bancária.

Estas ações foram alienadas em agosto de 2022, pelo valor de € 0,70, sendo imediato
o recebimento, por transferência bancária.

À data da aquisição o balanço da empresa era o seguinte:

Ativo Capital próprio + Passivo


Inventários 1 000 000,00Capital subscrito 500 000,00

Outras ativos correntes 400 000,00Reservas legais 80 000,00

Caixa e depósitos à ordem 100 000,00Outras reservas 150 000,00

Resultados transitados 30 000,00

Capital próprio 760 000,00

740 000,00
Passivo

Total do ativo 1 500 000,00Total do capital próprio + Passivo 1 500 000,00

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados.

Resolução:

1) Verificação do requisito das reservas disponíveis

Para poder efetuar a aquisição, é necessário a sociedade disponha de reservas


disponíveis em montante não inferior ao dobro do contravalor a prestar.

Valor de aquisição = € 40.000,00 (50.000 x € 0,80)

€ 40.000,00 x 2 = € 80.000,00

A sociedade apresenta reservas disponíveis no valor de € 180.000,00 = € 150.000,00 + € 30.000,00

Portanto, a sociedade pode proceder à aquisição das ações próprias.

93
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2) Pela indisponibilização das reservas disponíveis de valor equivalente ao valor de aquisição

D. 552 ...................................................... 40.000,00


C. 551 ...................................................... 40.000,00

3) Pela aquisição das ações próprias, com desconto de aquisição

D. 521 ...................................................... 50.000,00


C. 522 ...................................................... 10.000,00
C. 12 ........................................................ 40.000,00

Pelo que, após a aquisição das quotas próprias, o balanço da sociedade era o seguinte:

Ativo Capital próprio + Passivo


Inventários 1 000 000,00Capital subscrito 500 000,00

Outros ativos correntes 400 000,00Ações próprias (valor nominal) -50 000,00

Caixa e depósitos à ordem 60 000,00Ações próprias (descontos e prémios) 10 000,00

Reservas legais 120 000,00

Outras reservas 110 000,00

Resultados transitados 30 000,00

Capital próprio 720 000,00

Passivo 740 000,00

Total do ativo 1 460 000,00Total do capital próprio + Passivo 1 460 000,00

4) Pela alienação das ações próprias, com desconto

V. al = 50.000 x € 0,70 = € 35.000,00

D. 12 ...................................................... 35.000,00
D. 522 ...................................................... 15.000,00
C. 521 ...................................................... 50.000,00

5) Pela regularização da alteração patrimonial negativa

A alteração patrimonial negativa corresponde ao saldo existente na conta 522, após a


alienação, um saldo devedor de € 5.000,00.

V. al = € 35.000,00
V. aq. = € 40.000,00

D. 599 ...................................................... 5.000,00


C. 522 ...................................................... 5.000,00

94
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

6) Disponibilização da reserva

D. 551 ...................................................... 40.000,00


C. 552 ...................................................... 40.000,00

3. Outros Instrumentos de Capital Próprio

3.1. Aspetos Societários

3.1.1. Conceitos Fundamentais

Os denominados "outros instrumentos de capital próprio" englobam, no seu âmbito,


quaisquer instrumentos financeiros (ou seus componentes), decorrentes de relações
com sócios, que não se enquadrem na definição de passivo.

Neste contexto, fazendo a ligação com o CSC, englobam as prestações acessórias (que
não tenham caráter de passivo) e as prestações suplementares.

Em termos jurídico-societários, importa diferenciar estas duas figuras.

As prestações acessórias estão previstas no art. 209.º (sociedade por quotas) e no art.
287.º (sociedades anónimas) do CSC.

As prestações suplementares estão previstas, apenas, no âmbito das sociedades por


quotas, entre o art. 210.º e o art. 213.º do CSC.

3.1.2. Enquadramento Legal

Comecemos a nossa abordagem pelas prestações acessórias.

- Prestações acessórias

O contrato de sociedade pode impor a todos ou alguns dos sócios ou acionistas a


obrigação de, além das entradas, efetuarem outras prestações, desde que fixe os
elementos essenciais dessa obrigação e especifique a gratuitidade ou onerosidade das
mesmas.

Nesta linha, as prestações acessórias consubstanciam a obrigação de efetuar


prestações a favor da sociedade, para além das entradas, com especificação no pacto,
dos elementos essenciais e do caráter oneroso ou gratuito (art. 209.º do CSC).

Se o conteúdo da obrigação corresponder ao de um contrato típico, aplica-se a


regulamentação legal própria desse tipo de contrato (n.º 1 do art. 209.º do CSC).

Estas prestações podem ser de natureza diversa, distinguindo-se das prestações


suplementares, na medida em que estas só podem ter dinheiro por objeto.

As prestações acessórias têm como finalidade dotar a sociedade de determinados


recursos, e outros fatores ou circunstâncias, que se revelem necessários à prossecução
e desenvolvimento da sua atividade.

95
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Conforme as suas finalidades, vejamos exemplos de prestações acessórias:

• compromisso de fornecer à sociedade bens determinados.


• obrigação de consentir no uso ou fruição de coisas por parte da sociedade.
• obrigação de prestar serviços determinados.
• obrigação de assegurar a gestão da sociedade.
• compromisso de fazer fornecimentos exclusivos à sociedade.
• obrigação de cedência de marcas ou de patentes à sociedade.
• obrigação de arrendar à sociedade instalações ou de cedê-las, a título gratuito.

No plano jurídico-societário, relevam os normativos seguintes.

Nas sociedades por quotas

• Obrigação de prestações acessórias (art. 209.º do CSC)

"1 - O contrato de sociedade pode impor a todos ou a alguns sócios a obrigação


de efetuarem prestações além das entradas, desde que fixe os elementos essenciais
desta obrigação e especifique se as prestações devem ser efetuadas onerosa ou
gratuitamente. Quando o conteúdo da obrigação corresponder ao de um contrato típico,
aplica-se a regulamentação legal própria desse tipo de contrato.
2 - Se as prestações estipuladas forem não pecuniárias, o direito da sociedade é
intransmissível.
3 - No caso de se convencionar a onerosidade, a contraprestação pode ser paga
independentemente da existência de lucros de exercício.
4 - Salvo disposição contratual em contrário, a falta de cumprimento das obrigações
acessórias não afeta a situação do sócio como tal.
5 - As obrigações acessórias extinguem-se com a dissolução da sociedade."

Nas sociedades anónimas

• Obrigação de prestações acessórias (art. 287.º do CSC)

"1 - O contrato de sociedade pode impor a todos ou a alguns acionistas a


obrigação de efetuarem prestações além das entradas, desde que fixe os elementos
essenciais desta obrigação e especifique se as prestações devem ser efetuadas
onerosa ou gratuitamente. Quando o conteúdo da obrigação corresponder ao de um
contrato típico, aplicar-se-á a regulamentação legal própria desse contrato.
2 - Se as prestações estipuladas não forem pecuniárias, o direito da sociedade é
intransmissível.
3 - No caso de se convencionar a onerosidade, a contraprestação pode ser paga
independentemente da existência de lucros do exercício, mas não pode exceder o
valor da prestação respetiva.
4 - Salvo disposição contratual em contrário, a falta de cumprimento das obrigações
acessórias não afeta a situação do sócio como tal.

96
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

5 - As obrigações acessórias extinguem-se com a dissolução da sociedade."

Da leitura destes artigos, deve concluir-se, essencialmente:

a) Obrigações de prestações acessórias

Nos termos do previsto no art. 209.º e no art. 287.º do CSC, o contrato de sociedade pode
impor a todos ou alguns dos sócios ou acionistas a obrigação de, além das entradas de
capital, efetuarem outras prestações, desde que fixe os elementos essenciais dessa
obrigação e especifique a gratuitidade ou onerosidade das mesmas.

A disposição contratual que preveja as prestações acessórias deve fixar os elementos


essenciais das obrigações que as mesmas comportam para os sócios, nomeadamente:

– o seu tipo.
– a duração.
– o montante fixo ou máximo, uma vez que esta obrigação pode ter natureza
patrimonial, mas, igualmente, pecuniária.
– a natureza onerosa ou gratuita da prestação.
– os critérios de exigibilidade, que podem variar entre a fixação de factos ou datas
certas, ou a dependência de deliberação social nesse sentido.

Tendo em conta que a prestação acessória pode revestir diversas formas, se a


obrigação que lhe subjaz corresponder a um contrato legalmente típico, aplica-se-lhe o
regime jurídico previsto para esse contrato (por exemplo, comodato, prestação de
serviços na respetiva modalidade, locações, mútuo.).

b) Contraprestação e restituição das prestações acessórias onerosas

De acordo com o preceituado no n.º 3 do art. 209.º e no n.º 3 do art. 287.º do CSC, o
pagamento da contraprestação das prestações acessórias efetuadas a título oneroso
(por exemplo, o juro de determinado capital mutuado pelo sócio à sociedade), pode ser
feito independentemente da existência de lucros do exercício.

Quanto à restituição da prestação acessória, e no caso de a mesma ser suscetível de


restituição, aplica-se o regime do contrato que lhe estiver subjacente, podendo a
sociedade convencionar com o sócio o regime correspondente.

Acresce referir que:


• as prestações acessórias podem ser onerosas ou gratuitas.
• o incumprimento da obrigação de prestações acessórias não afeta a situação do
sócio, salvo se no contrato societário constar disposição diversa.

97
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

c) Extinção de prestações acessórias

Esta temática está regulada no n.º 5 do art. 209.º e no n.º 5 do art. 287.º do CSC, sendo
que, com a dissolução da sociedade, extinguem-se as obrigações acessórias, pelo que,
se forem pessoais, o acionista fica delas desobrigado, e se forem pecuniárias, o
acionista fica credor das mesmas, em sede de liquidação.

- Prestações suplementares

As prestações suplementares configuram a obrigação de prestações gratuitas, em


dinheiro, restituíveis, que a sociedade pode exigir dos sócios, nos termos da lei e do
contrato.

As finalidades e justificação para estas prestações suplementares assentam em duas


razões:
• por nem sempre haver possibilidade de prever qual o capital necessário para o
desenvolvimento dos negócios sociais.
• por, embora não constituam um aumento do capital social, serem a ele
equivalentes, dispensando o cumprimento das respetivas formalidades legais de
registo e os dispêndios inerentes.

Ademais, podem ser restituídas aos sócios, igualmente sem formalidades legais de
registo, desde que verificados os requisitos previstos na lei.

Estas prestações têm uma natureza complementar do capital social, visando-se o


reforço do total do capital próprio da sociedade, em momento em que o estado financeiro
da sociedade o justifique.

Apresentam-se os normativos com maior incidência na esfera da Contabilidade.

• Obrigações de prestações suplementares (art. 210.º do CSC)

"1 - Se o contrato de sociedade assim o permitir, podem os sócios deliberar que


lhes sejam exigidas prestações suplementares.
2 - As prestações suplementares têm sempre dinheiro por objeto.
3 - O contrato de sociedade que permita prestações suplementares fixará:
a) O montante global das prestações suplementares;
b) Os sócios que ficam obrigados a efetuar tais prestações;
c) O critério de repartição das prestações suplementares entre os sócios a
elas obrigados.
4 - A menção referida na alínea a) do número anterior é sempre essencial; faltando
a menção referida na alínea b), todos os sócios são obrigados a efetuar prestações
suplementares; faltando a menção referida na alínea c), a obrigação de cada sócio
é proporcional à sua quota de capital.
5 - As prestações suplementares não vencem juros."

98
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Exigibilidade da obrigação (art. 211.º do CSC)

"1 - A exigibilidade das prestações suplementares depende sempre de deliberação dos


sócios que fixe o montante tornado exigível e o prazo de prestação, o qual
não pode ser inferior a 30 dias a contar da comunicação aos sócios.
2 - A deliberação referida no número anterior não pode ser tomada antes de
interpelados todos os sócios para integral liberação das suas quotas de capital.
3 - Não podem ser exigidas prestações suplementares depois de a sociedade ter
sido dissolvida por qualquer causa."

• Restituição das prestações suplementares (art. 213.º do CSC)

"1 - As prestações suplementares só podem ser restituídas aos sócios desde que
a situação líquida não fique inferior à soma do capital e da reserva legal e o
respetivo sócio já tenha liberado a sua quota.
2 - A restituição das prestações suplementares depende de deliberação dos sócios.
3 - As prestações suplementares não podem ser restituídas depois de declarada a
falência da sociedade.
4 - A restituição das prestações suplementares deve respeitar a igualdade entre os
sócios que as tenham efetuado, sem prejuízo do disposto no n.º 1 deste artigo.
5 - Para o cálculo do montante da obrigação vigente de efetuar prestações
suplementares não serão computadas as prestações restituídas."

Da análise destes artigos, destacamos como relevante:

Segundo o art. 210.º do CSC, em termos jurídico-societários, as prestações


suplementares caracterizam-se por:

– terem, necessariamente, dinheiro por objeto.


– não serem consideradas entradas de capital, não implicando, por isso, um
aumento do capital social.
– não vencem juros, pelo que os sócios não têm direito a qualquer
contrapartida patrimonial pelo cumprimento dessa prestação.

A disposição contratual que preveja as prestações suplementares deve fixar:

– o montante global das prestações suplementares, sob pena de nulidade.


– quais os sócios que estão obrigados a efetuar as prestações suplementares, sendo
que, na falta de menção expressa, a obrigação é dirigida à totalidade dos sócios, na
proporção das quotas detidas.

99
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

b) Exigibilidade da obrigação

A obrigação de efetuar prestações suplementares fica sujeita às regras seguintes (art.


211.º do CSC):

1. se o capital social ainda não estiver integralmente realizado (em virtude de um


diferimento das entradas), as prestações suplementares só podem ser exigidas
após a interpelação de todos os sócios para liberação integral do capital social.
2. para que as prestações suplementares se tornem exigíveis, é necessária
deliberação social nesse sentido, que defina qual o montante a prestar pelos sócios
e o prazo em que deve ser realizada a prestação.

Relativamente ao montante das prestações suplementares a efetuar, para a sua aferição


não são computados montantes relativos a prestações suplementares anteriores que
tenham sido restituídas.

Nesta medida, o sócio não pode eximir-se de efetuar novas prestações suplementares,
quando as realizadas, anteriormente, tenham sido restituídas.

Outra questão que pode colocar-se relativamente à exigibilidade das prestações


suplementares é se as mesmas podem ser exigidas quando não estejam previstas no
contrato de sociedade (n.º 1 do art. 210.º do CSC).

A resposta é afirmativa, desde que os sócios, por unanimidade, aprovem deliberação


nesse sentido, isto é, a realização deve ser voluntária.

Qualquer sócio vencido pode eximir-se dessa obrigação de entrada, alegando que não
consta do contrato de sociedade, forçando, assim, a alteração prévia.

Naturalmente, sendo uma alteração ao contrato, deve ser aprovada por maioria
qualificada, a qual, por vezes, pode não ser fácil de conseguir.

c) Incumprimento da obrigação de prestações suplementares


e consequências

Determina o n.º 1 do art. 212.º do CSC que é aplicável às prestações suplementares o


estabelecido no art. 204.º e no art. 205.º do CSC, disposições estas que se referem ao
aviso do sócio retardatário e a exclusão possível.

Assim, em face do incumprimento pelo sócio da obrigação de efetuar prestações


suplementares, a sociedade deve interpelá-lo para que a cumpra no prazo a determinar.

Se o sócio não cumprir dentro do prazo fixado na interpelação, deve ser advertido pela
sociedade de que, a partir do trigésimo dia após a receção da carta, sem que efetue a
prestação, fica sujeito a exclusão e a perda total ou parcial da quota.

100
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

d) Restituição das prestações suplementares

A restituição das prestações suplementares pela sociedade (art. 213.º do CSC)


depende de uma deliberação dos sócios nesse sentido e da verificação dos requisitos
seguintes:

– não afetação da situação líquida da sociedade, o que ocorre se esta ficar inferior
à soma do capital social e da reserva legal.
– só pode ser efetuada ao(s) sócio(s) que tenha(m) liberado a quota.
– a restituição deve ser efetuada a todos os sócios que tenham efetuado
prestações suplementares.
– se a restituição não for integral, deve ser feita proporcionalmente aos montantes
prestados por cada sócio.

e) A aplicabilidade do regime de prestação suplementares às sociedades anónimas

Com efeito, não existindo para as sociedades anónimas qualquer previsão legal desta
figura, nem qualquer remissão para o regime definido no âmbito das sociedades por
quotas, a pergunta que se coloca é se é possível aplicar às sociedades anónimas o
regime previsto para as sociedades por quotas, no que respeita às prestações
suplementares.

A doutrina maioritária é de opinião que, mesmo inexistindo a previsão contratual de


exigência de prestações suplementares, qualquer acionista, voluntariamente, mediante
vontade expressa e deliberação da assembleia geral, pode comprometer-se a efetuar
prestações suplementares, revestindo as mesmas a natureza jurídica de prestações
acessórias na tipicidade de prestações suplementares, sendo aplicáveis as regras
previstas no CSC para esta figura, com as devidas especificidades, mormente, a
impossibilidade de exclusão do acionista por incumprimento da obrigação.

Naturalmente, este regime deve constar da ata da assembleia geral em que seja
tomada a deliberação.

3.2. Aspetos Contabilísticos

No âmbito das notas de enquadramento do CCSNC, verifica-se que a conta "53 - Outros
instrumentos de capital próprio" é utilizada para reconhecer as prestações
suplementares ou quaisquer outros instrumentos financeiros (ou as suas componentes)
que não se enquadrem na definição de passivo financeiro.

Nas situações em que os instrumentos financeiros (ou as suas componentes) se


identifiquem como passivos financeiros, deve utilizar-se rubrica apropriada da conta
"25 - Financiamentos obtidos ou "26 - Acionistas/sócios".

Deste modo, há que distinguir as prestações acessórias que assumam caráter de


entradas para o capital próprio e as prestações suplementares, de outras formas de
financiamento da sociedade pelos sócios, que assumam caráter de passivo, como, por
exemplo, os suprimentos (art. 243.º a art. 245.º do CSC), sendo que estes devem ser
contabilizados na conta "253 - Financiamentos obtidos - Participantes de capital".

101
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Comecemos a nossa análise do reconhecimento contabilístico pelas prestações


acessórias.

- Prestações acessórias

As prestações acessórias são contabilizadas segundo a sua natureza (contrato de


compra e venda, mútuo, contrato de locação, por exemplo).

Face à problemática societária e aos enquadramentos possíveis que este tipo de


operações pode ter face ao SNC, cada situação, per se, deve ser analisada, para
verificação do reconhecimento correto da operação, isto é, no capital próprio ou no
passivo.

Quanto à materialização das operações, podemos ter os reconhecimentos


contabilísticos seguintes:

• se, após a análise da operação, se verificar que a prestação acessória reúne os


requisitos para ser um instrumento de capital próprio (caráter idêntico ao das
prestações suplementares)

- Pela deliberação de exigibilidade tomada em assembleia geral

D. 268 ...................................................... Valor exigido


C. 53 ........................................................ Valor exigido

- Pela realização das prestações acessórias

D. 12 ........................................................ Valor realizado


C. 268 ...................................................... Valor realizado

- Pela deliberação de restituição tomada em assembleia geral

D. 53 ........................................................ Valor a restituir


C. 268 ...................................................... Valor a restituir

- Pela devolução dos valores aos sócios ou aos acionistas

D. 268 ...................................................... Valor restituído


C. 12 ........................................................ Valor restituído

• se, após a análise da operação, se verificar que a prestação acessória reúne os


requisitos para ser passivo financeiro

- Pela entrega do valor exigido em conformidade com a deliberação da assembleia


geral

D. 12/3x/4x/6x33 ....................................... Valor realizado


C. 253 ...................................................... Valor realizado

102
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- Prestações suplementares

- Pela deliberação de exigibilidade tomada em assembleia geral

D. 268 ...................................................... Valor exigido


C. 53 ........................................................ Valor exigido

- Pela realização das prestações suplementares

D. 12 ........................................................ Valor realizado


C. 268 ...................................................... Valor realizado

- Pela deliberação de restituição tomada em assembleia geral

D. 53 ........................................................ Valor a restituir


C. 268 ...................................................... Valor a restituir

- Pela devolução dos valores aos sócios ou aos acionistas

D. 268 ...................................................... Valor restituído


C. 12 ........................................................ Valor restituído

Por fim, é conveniente referir que, quer as prestações acessórias com carácter de
capital próprio, quer as prestações suplementares, podem ser utilizadas para
incorporação noutras rubricas do capital próprio, seja para efetuar aumento do
capital social, seja para efetuar cobertura de prejuízos, sendo que estas utilizações
carecem de aprovação em assembleia geral e obstam à restituição.

33 consoante a natureza da prestação.

103
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Analisemos, então, os reconhecimentos contabilísticos correspondentes:

- Pela utilização para incorporação em aumento do capital social

D. 53 ...................................................... Valor incorporado


C. 51 ...................................................... Valor incorporado

- Pela utilização para cobertura de prejuízos

D. 53 ...................................................... Valor utilizado


C. 56 ...................................................... Valor utilizado

3.3. Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

No contrato da sociedade "Alfabeto, Lda." ficou estabelecido que a sociedade pode


exigir aos sócios prestações suplementares, até ao valor do capital social.

Por deliberação da assembleia geral de 31 de maio de 2022, foi aprovado o


cumprimento da obrigação de prestações suplementares por parte dos sócios, no
montante global de € 400.000,00, sendo que o montante a que cada sócio fica obrigado
é proporcional à sua participação no capital à data de 31 de maio de 2022.

Na data referida, o capital da sociedade era detido por dois sócios, sendo que o sócio A
detinha 70% e o sócio B detinha o remanescente.

A 15 de julho de 2022, foi efetuado o pagamento das prestações suplementares por


parte dos sócios, através de transferência bancária.

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados.

Resolução:

1) Reconhecimento da deliberação relativa à exigibilidade de


prestações suplementares - 31 de maio de 2022

D. 268 ...................................................... 400.000,00


C. 53 ........................................................ 400.000,00

2) Reconhecimento da realização das prestações suplementares - 15 de julho de 2022

D. 12 ........................................................ 400.000,00
C. 268 ...................................................... 400.000,00

104
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Montantes das prestações suplementares a exigir a cada sócio:

Montante global das prestações x participação de cada detentor de capital

sócio A - € 400.000,00 x 70% = € 280.000,00


sócio B - € 400.000,00 x 30% = € 120.000,00
Total = € 280.000,00 + € 120.000,00 = € 400.000,00

Caso Prático N.º 2

A assembleia geral de acionistas da sociedade "Beta, S.A.", reunida em 30 de abril de


2022, deliberou, por unanimidade, utilizar as prestações acessórias reconhecidas no
capital próprio, no valor de € 200.000,00, para efetuar a cobertura de prejuízos
acumulados de vários períodos, reconhecidos no item Resultados transitados.

Proceda ao tratamento contabilístico do facto apresentado.

Resolução:

- Pela utilização das prestações acessórias de capital para efetuar cobertura de


prejuízos - 30 de abril de 2022

D. 53 ........................................................ 200.000,00
C. 56 ........................................................ 200.000,00

Caso Prático N.º 3

A assembleia geral de sócios da sociedade "Gama, Lda.", reunida em 30 de junho de


2022, deliberou, por unanimidade, utilizar as prestações suplementares, no valor de €
100.000,00, para efetuar um aumento do capital social.

Em 10 de julho de 2022, o aumento do capital social foi registado na Conservatória do


Registo Comercial.

Proceda ao tratamento contabilístico do facto apresentado.

Resolução:

- Pela utilização das prestações suplementares para efetuar aumento do capital social
- 10 de julho de 2022

D. 53 ........................................................ 100.000,00
C. 51 ........................................................ 100.000,00

105
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4. Prémios de subscrição

4.1. Aspetos Societários

4.1.1. Conceitos Fundamentais

Como referido, quando, na constituição de sociedades anónimas e por quotas e,


maioritariamente, nos aumentos do capital social, as ações ou quotas são subscritas por
valor superior ao valor nominal ou ao valor de emissão, resulta para a sociedade um
prémio de subscrição.

Este prémio de subscrição corresponde à diferença entre o valor de subscrição e o valor


nominal ou o valor de emissão das ações e o valor nominal das quotas, sendo
reconhecido na conta "54 - Prémios de emissão", a qual é movimentada, na ocorrência
do prémio, em conjunto com a conta "51 - Capital subscrito", normalmente.

Não é, agora, a origem do prémio de subscrição que nos interessa, mas, sim, a utilização
possível.

O CSC equivale o prémio de subscrição à reserva legal, sujeitando-o ao regime da


reserva legal, pelo que só pode, em princípio, ser utilizado para:

- incorporar em aumento do capital social.


- efetuar cobertura de prejuízos acumulados.

4.1.2. Enquadramento Legal

Vejamos o que o CSC dispõe, relativamente ao regime da utilização do prémio de


subscrição:

• Sujeição ao regime da reserva legal (al. a) do n.º 2 e n.º 3 do art. 295.º do CSC)

"2 - Ficam sujeitas ao regime da reserva legal as reservas constituídas pelos


seguintes valores:
a) Ágios obtidos na emissão de ações, obrigações com direito a subscrição de
ações, ou obrigações convertíveis em ações, em troca destas por ações e em
entradas em espécie;
...
3 - Os ágios a que se refere a alínea a) do número anterior consistem:
b) Quanto à emissão de ações, na diferença para mais entre o valor nominal e a
quantia que os acionistas tiverem desembolsado para as adquirir ou, no caso de
ações sem valor nominal, o montante do capital correspondentemente emitido;
c) Quanto à emissão de obrigações com direito de subscrição de ações ou de
obrigações convertíveis, na diferença para mais entre o valor de emissão e o valor
por que tiverem sido reembolsadas;
d) Quanto à troca de obrigações com direito de subscrição de ações ou de
obrigações convertíveis em ações, na diferença para mais entre o valor da
emissão daquelas e o valor nominal destas ou, no caso de ações sem valor

106
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

nominal, o montante do capital correspondentemente emitido;


e) Quanto às entradas em espécie, na diferença para mais entre o valor atribuído
aos bens em que a entrada consiste e o valor nominal das ações
correspondentes ou, no caso de ações sem valor nominal, o montante do capital
correspondentemente emitido.

• Utilização do prémio de subscrição (art. 296.º do CSC)

"A reserva legal só pode ser utilizada:


a) Para cobrir a parte do prejuízo acusado no balanço do exercício que não possa ser
coberto pela utilização de outras reservas;
b) Para cobrir a parte dos prejuízos transitados do exercício anterior que não possa
ser coberto pelo lucro do exercício nem pela utilização de outras reservas;
c) Para incorporação no capital."

Da análise destes artigos, é possível concluir que os prémios de subscrição estão


sujeitos ao regime da reserva legal, exceto se, tal como refere o n.º 4 do art. 295.º do
CSC, de tal forem dispensados por Portaria dos Ministros das Finanças e da Justiça
(por exemplo, Portaria n.º 408/99, de 4 de junho, para sociedades submetidas à
supervisão do Banco de Portugal e da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos
de Pensões).

Assim, podem ser utilizados para as mesmas finalidades destinadas à reserva legal,
nunca podendo, em princípio, "sair" do capital próprio, tratando-se de uma reserva de
capital, porque resulta de entradas para o capital social, não distribuível aos sócios,
como regra.

Note-se, por fim, que o art. 295.º do CSC também é aplicável às sociedades por quotas,
por remissão do n.º 2 do art. 218.º do CSC.

4.2. Aspetos Contabilísticos

Analisemos o esquema de movimentação da conta:

D 54 - Prémios de emissão C
Utilização para incorporação em Subscrição do capital social por
aumento do capital social ou valor superior ao valor nominal
para cobertura de prejuízos ou ao valor de emissão

Como referimos, neste contexto, interessa-nos, apenas, o movimento da conta a débito,


em conformidade com as deliberações tomadas em assembleia geral:

107
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- Pela utilização para incorporação em aumento do capital social

D. 54 ...................................................... Valor incorporado


C. 51 ...................................................... Valor incorporado

- Pela utilização para cobertura de prejuízos

D. 54 ...................................................... Valor utilizado


C. 56 ...................................................... Valor utilizado

4.3. Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

A assembleia geral de acionistas da sociedade "Ómega, S.A.", reunida em 31 de março


de 2022, deliberou, por unanimidade, utilizar os prémios de subscrição, no valor de €
50.000,00, para efetuar a cobertura de prejuízos acumulados de vários períodos,
reconhecidos no item Resultados transitados.

Proceda ao tratamento contabilístico do facto apresentado.

Resolução:

- Pela utilização dos prémios de subscrição para cobertura de prejuízos - 31 de


março de 2022

D. 54 ........................................................ 50.000,00
C. 56 ........................................................ 50.000,00

Caso Prático N.º 2

A assembleia geral de sócios da sociedade "Delta, Lda.", reunida em 31 de maio de


2022, deliberou, por unanimidade, utilizar prémios de subscrição, no valor de €
150.000,00, para efetuar um aumento do capital social.

Em 5 de julho de 2022, o aumento do capital social foi registado na Conservatória do


Registo Comercial.

Proceda ao tratamento contabilístico do facto apresentado.

- Pela utilização dos prémios de subscrição para aumento do capital social - 5 de julho
de 2022

D. 54 ........................................................ 150.000,00
C. 51 ........................................................ 150.000,00

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Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

5. Ajustamentos em Ativos Financeiros

5.1. Aspetos Societários

5.1.1. Conceitos Fundamentais

Os ajustamentos em ativos financeiros relacionam-se com o CSC, na medida em que


os lucros imputáveis a investimentos financeiros contabilizados pelo método da
equivalência patrimonial (MEP), que não sejam distribuídos pela sociedade investida, se
encontram arredados da possibilidade de serem distribuídos aos sócios ou aos
acionistas pela sociedade investidora.

De notar que o MEP é o critério de contabilização baseado no conceito do valor


contabilístico, previsto para a contabilização dos ativos constituídos por investimentos
financeiros em subsidiárias, em associadas e em entidades conjuntamente
controladas.

Analisemos as disposições das NCRF, a propósito da matéria.

Relativamente às subsidiárias, releva o § 8 da Norma Contabilística e de Relato


Financeiro 15 - Investimentos em Subsidiárias e Consolidação:

"Nas demonstrações financeiras individuais de uma empresa-mãe, a mensuração


dos investimentos em subsidiárias deve ser efetuada de acordo com o previsto para
os investimentos em associadas, nos termos da NCRF 13 — Interesses em
Empreendimentos Conjuntos e Investimentos em Associadas, aplicando-se, ainda,
o disposto nos parágrafos 14 e 15 da presente norma.

Relativamente às associadas e às entidades conjuntamente controladas relevam o §


29 e o § 44 da Norma Contabilística e de Relato Financeiro 13 - Interesses em
Empreendimentos Conjuntos e Investimentos em Associadas:

"29. Um empreendedor pode reconhecer o seu interesse numa entidade conjuntamente


controlada usando:
(a) um dos dois formatos de relato para a consolidação proporcional descritos no
parágrafo 60, ou
(b) a equivalência patrimonial descrita no parágrafo 62.
...
44. Um investimento numa associada deve ser contabilizado usando o método da
equivalência patrimonial ..."

Não é, contudo, o estudo do MEP, nas suas implicações que aqui nos interessa, por
não se enquadrar no âmbito desta formação, e, sim, apenas, um aspeto relacionado
com o mesmo que se encontra regulado pelo CSC, concretamente, a impossibilidade
de distribuição de lucros não distribuídos pela sociedade investida, no contexto da
aplicação do MEP.

109
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

5.1.2. Enquadramento Legal

Analisemos, então, o que o CSC determina, relativamente ao tópico que nos interessa.

• Limitação da distribuição de lucros imputáveis no MEP (n.º 3 do art. 32.º do CSC)

"Os rendimentos e outras variações patrimoniais positivas reconhecidos em


consequência da utilização do método da equivalência patrimonial, nos termos das
normas contabilísticas e de relato financeiro, apenas relevam para poderem ser
distribuídos aos sócios, nos termos a que se refere o n.º 1, quando sejam realizados."

O que esta norma pretende regular é a impossibilidade da sociedade investidora em


subsidiária, em associada ou em entidade conjuntamente controlada distribuir aos
sócios rendimentos que reconheceu em consequência da aplicação do MEP, mas que
a sua participada não distribuiu, isto é, vedar a possibilidade de distribuir lucros que não
tenha, efetivamente, recebido das investidas.

• Sujeição dos lucros não atribuídos ao regime da reserva legal (al. d) do n.º 2 do art.
295.º do CSC)

"Ficam sujeitas ao regime da reserva legal as reservas constituídas pelos seguintes


valores:
...
d) Diferença entre o resultado atribuível às participações financeiras reconhecido na
demonstração de resultados e o montante dos dividendos já recebidos ou cujo
pagamento possa ser exigido relativamente às mesmas participações."

• Utilização dos lucros não atribuídos (art. 296.º do CSC)

"A reserva legal só pode ser utilizada:


a) Para cobrir a parte do prejuízo acusado no balanço do exercício que não possa ser
coberto pela utilização de outras reservas;
b) Para cobrir a parte dos prejuízos transitados do exercício anterior que não possa
ser coberto pelo lucro do exercício nem pela utilização de outras reservas;
c) Para incorporação no capital."

Da análise destes artigos, é possível concluir que os lucros não atribuídos estão
sujeitos ao regime da reserva legal.

Assim, em princípio, apenas, podem ser utilizados para as mesmas finalidades


destinadas à reserva legal, nunca podendo "sair" do capital próprio, isto é, trata-se de
uma reserva especial, não distribuível aos sócios ou aos acionistas, como regra.

5.2. Aspetos Contabilísticos

De notar que os lucros das participadas, no contexto da aplicação do MEP, são


reconhecidos pela sociedade investidora, no fecho das contas do período, como ganhos,
por via da utilização da conta "7851 - Outros rendimentos - Rendimentos em
subsidiárias, associadas e empreendimentos conjuntos - Aplicação do método da

110
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

equivalência patrimonial"34.

Estes rendimentos vão influenciar o resultado líquido do período, aumentando-o e


potenciando um aumento do lucro que pode vir a querer distribuir aos sócios ou aos
acionistas.

É isto que o CSC limita, ao impossibilitar a distribuição dessa componente do lucro da


investidora que advém dos resultados imputáveis das sociedades investidas, cujos
investimentos se encontram contabilizados pelo MEP, no contexto, apenas, de as
sociedades investidas não atribuírem esses lucros.

Acresce que boa parte dos reconhecimentos contabilísticos a efetuar, por aplicação do
MEP, nas contas "4111 - Investimentos financeiros - Investimentos em subsidiárias -
Participações de capital - método da equivalência patrimonial, "4121 - Investimentos
financeiros - Investimentos em associadas - Participações de capital - método da
equivalência patrimonial" ou "4131 - Investimentos financeiros - Investimentos em
entidades conjuntamente controladas - Participações de capital - método da
equivalência patrimonial", tem como contrapartida a conta "57 - Ajustamentos em ativos
financeiros".

Assim, esta conta de ajustamentos em ativos financeiros existe em função da aplicação


do MEP, sendo que, no seu âmbito, existe uma divisionária, a "5712 - Ajustamentos em
ativos financeiros - Relacionados com o método da equivalência patrimonial - Lucros
não atribuídos", que se destina a reconhecer os lucros não atribuídos pelas sociedades
investidas à sociedade investidora que aplica o MEP.

Analisemos, então, o reconhecimento contabilístico que aqui nos interessa:

- Pelos lucros não atribuídos no contexto da aplicação do MEP

D. 56 ...................................................... Lucro não atribuído


C. 5712 .................................................. Lucro não atribuído

34por isto, o art. 65.º do CSC, concede a estas sociedades investidoras o prazo até ao fim do quinto mês
seguinte ao do encerramento das contas, para as apresentar; na verdade, as sociedades investidoras
necessitam que as sociedades investidas o façam, previamente, para poderem incorporar os ajustamentos
do MEP, entre eles, a imputação da parte do resultado líquido do período das sociedades investidas que
cabe ao seu investimento.

111
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

De acordo com as disposições da nota de enquadramento:

"5712 - Ajustamentos em ativos financeiros - Relacionados com o método da


equivalência patrimonial - Lucros não atribuídos
Esta conta será creditada pela diferença entre os lucros imputáveis às participações e
os lucros que lhes forem atribuídos (dividendos), movimentando-se em contrapartida a
conta 56 - Resultados transitados."

Neste contexto, interessa considerar, igualmente, o movimento da conta 5712 a débito,


em conformidade com as deliberações tomadas em assembleia geral:

- Pela utilização para incorporação em aumento do capital social

D. 5712 .................................................. Valor incorporado


C. 51 ...................................................... Valor incorporado

- Pela utilização para cobertura de prejuízos

D. 5712 .................................................. Valor utilizado


C. 56 ...................................................... Valor utilizado

5.3. Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

A sociedade "Alfa, S.A.", que detém uma participação representativa de 30% do capital da
sociedade "Beta, Lda.", aplica o MEP na contabilização do investimento financeiro.

Em 31 de Dezembro de 2021, a sociedade investida obteve um resultado líquido do período de valor


igual a € 100.000,00.

Em 15 de março de 2022, a assembleia geral de sócios da sociedade investida, aprovou


atribuir 50% do lucro do período de 2021, aos seus sócios.

Pretende-se a contabilização pela sociedade investidora dos factos descritos.

Resolução:

- Imputação do resultado líquido do período obtido pela sociedade investida - 31 de dezembro de 2021

D. 4121 .................................................. 30.000,00


C. 7851 .................................................. 30.000,00

Lucros imputáveis = Lucro da sociedade investida x % participação

€ 30.000,00 = € 100.000,00 x 30%

112
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- Pelos lucros não atribuídos pela sociedade investida - 15 de março de 2022

D. 56 ...................................................... 15.000,00
C. 5712 .................................................. 15.000,00

€ 30.000,00 x 50% = € 15.000,00

6. Excedentes de Revalorização de Ativos Fixos Tangíveis e de Ativos Intangíveis

6.1. Aspetos Societários

6.1.1. Conceitos Fundamentais

Os excedentes de revalorização de ativos fixos tangíveis e de ativos intangíveis ligam-


se com o CSC, na medida em que este normativo regula a utilização, quando se
encontrem realizados35.

Naturalmente, não cabe no âmbito desta ação de formação a abordagem dos requisitos
e procedimentos associados à aplicação do modelo de revalorização a estes ativos não
correntes.

Na verdade, o modelo de revalorização é uma opção de mensuração subsequente que


assenta na aplicação do conceito do justo valor, de acordo com as disposições da
NCRF 6 e da NCRF 7.

Consideremos as disposições do § 73 da NCRF 6:

"Após o reconhecimento inicial, um ativo intangível deve ser escriturado por uma
quantia revalorizada, que seja o seu justo valor à data da revalorização menos qualquer
amortização acumulada subsequente e quaisquer perdas por imparidade acumuladas
subsequentes. Para a finalidade de revalorizações segundo esta Norma, o justo valor
deve ser determinado com referência a um mercado ativo. As revalorizações devem ser
feitas com tal regularidade que na data do balanço a quantia escriturada do ativo não
difira materialmente do seu justo valor."

, bem como as disposições do § 31 da NCRF 7:

"Após o reconhecimento como um ativo, um item do ativo fixo tangível cujo justo valor
possa ser mensurado fiavelmente deve ser escriturado por uma quantia revalorizada,
que é o seu justo valor à data da revalorização menos qualquer depreciação acumulada
subsequente e perdas por imparidade acumuladas subsequentes. As revalorizações
devem ser feitas com suficiente regularidade para assegurar que a quantia escriturada
não difira materialmente daquela que seria determinada pelo uso do justo valor à data
do balanço."

Como é possível concluir, estes parágrafos são, em tudo, semelhantes, sendo que a
questão central do modelo de revalorização é a mensuração fiável do justo valor, o qual
deve ser determinado de forma independente e qualificada.

35 disponíveis para serem utilizados.

113
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Os excedentes de revalorização podem ter suporte exclusivamente contabilístico, os


denominados "Outros excedentes", ou, supostamente, suporte fiscal, os denominados
por "Reavaliações decorrentes de diplomas legais"36.

No âmbito do tópico em análise, parece não ser indiferente o suporte do excedente,


pois as suas condições de utilização não são, em princípio, coincidentes.

Por um lado, o CSC enquadra os excedentes de revalorização, desde que resultantes


da aplicação de coeficientes de correção monetária, no regime da reserva legal, pelo
que só podem ser utilizados para:

- incorporar em aumento do capital social.


- efetuar cobertura de prejuízos acumulados.

Por outro lado, o CSC enquadra os excedentes de revalorização, desde que resultantes
da aplicação do justo valor, como montantes cuja distribuição é restringida, até que se
confirme a realização.

6.1.2. Enquadramento Legal

Analisemos as disposições do CSC, no que concerne ao regime da utilização dos


excedentes de revalorização:

• Limitação em termos de distribuição (n.º 2 do art. 32.º do CSC)

"Os incrementos decorrentes da aplicação do justo valor através de componentes do capital próprio,
incluindo os da sua aplicação através do resultado líquido do exercício, apenas relevam para
poderem ser distribuídos aos sócios bens da sociedade, a que se refere o número anterior, quando
os elementos ou direitos que lhes deram origem sejam alienados, exercidos, extintos, liquidados ou,
também quando se verifique o seu uso, no caso de ativos fixos tangíveis e intangíveis.”

• Sujeição ao regime da reserva legal (al. b) do n.º 2 do art. 295.º do CSC)

"Ficam sujeitas ao regime da reserva legal as reservas constituídas pelos seguintes


valores:
...
b) Saldos positivos de reavaliações monetárias que forem consentidos por lei, na
medida em que não forem necessários para cobrir prejuízos já acusados no
balanço;"

• Utilização dos excedentes de revalorização (art. 296.º do CSC)

"A reserva legal só pode ser utilizada:


a) Para cobrir a parte do prejuízo acusado no balanço do exercício que não possa ser
coberto pela utilização de outras reservas;
b) Para cobrir a parte dos prejuízos transitados do exercício anterior que não possa
ser coberto pelo lucro do exercício nem pela utilização de outras reservas;
c) Para incorporação no capital."

36de notar que estas dependem de diploma legal que as permita e defina as condições em que devem
ser efetuadas, sendo que o mais recente foi o DL n.º 66/2016, de 3 de novembro.

114
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Da análise destes artigos, é possível concluir que os excedentes de revalorização estão


sujeitos ao regime da reserva legal, desde que resultantes da aplicação de coeficientes
de correção monetária.

Assim, estes excedentes de revalorização podem ser utilizados, apenas, para


cumprimentos das mesmas finalidades subjacentes à reserva legal, nunca podendo "sair"
do capital próprio, tratando-se de uma reserva especial, não distribuível aos sócios ou
aos acionistas, como regra.

6.2. Aspetos Contabilísticos

Analisemos o esquema de movimentação da conta:

D 58 - Excedentes de revalorização de AFT e AI C


Ajustamentos de justo valor Ajustamentos de justo valor
negativos (até ao limite de positivos
qualquer saldo positivo
existente)
Transferência para resultados
transitados de valores
Realizados

O excedente de revalorização obtido na sequência da adoção do modelo da


revalorização é líquido, correspondendo ao acréscimo efetivo no total do capital próprio.

Na prática, o reconhecimento deste excedente decorre do reconhecimento do


acréscimo de valor na quantia escriturada dos bens objeto de revalorização (excedente
bruto), com reflexo em saldo credor da conta "5811 - Excedentes de revalorização de
ativos fixos tangíveis e intangíveis - Reavaliações decorrentes de diplomas legais -
Antes de imposto sobre o rendimento" ou da conta "5891 - Excedentes de revalorização
de ativos fixos tangíveis e intangíveis - Outros excedentes - Antes de imposto sobre o
rendimento", deduzido do efeito da tributação em IRC a que são sujeitos, em períodos
futuros, com reflexo em saldo devedor da conta "5812 - Excedentes de revalorização
de ativos fixos tangíveis e intangíveis - Reavaliações decorrentes de diplomas legais -
Impostos diferidos" ou da conta "5892 - Excedentes de revalorização de ativos fixos
tangíveis e intangíveis - Outros excedentes - Impostos diferidos".

O excedente obtido no momento da revalorização não fica, de imediato, disponível para


utilização, pois a realização, unicamente, permite a utilização e tal só ocorre por uma
de duas vias possíveis.

Uma das vias possíveis para a realização do excedente de revalorização é a via parcial,
em consequência do uso dos bens revalorizados, refletido através do reconhecimento
da depreciação ou da amortização.

Após a escolha do modelo de revalorização, o bem passa a ser depreciado ou


amortizado por valor superior àquele que tinha como referência o custo, sendo a
diferença entre os valores das depreciações ou das amortizações que corresponde à
realização parcial do excedente de revalorização (em regra, apurado anualmente ou
quando se pretenda conhecer o montante disponível para utilização).

115
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A outra via é a via total, mediante o desreconhecimento do bem revalorizado, sendo


que o excedente é realizado como consequência do efeito reconhecido no resultado
líquido do período.

Assim, realçamos que, quando se pretenda utilizar valores de excedentes de


revalorização, é necessário proceder ao apuramento do valor que se encontra
disponível para o efeito, nos termos referidos.

De um ponto de vista contabilístico, refere, por exemplo, o § 41 da NCRF 7, conjugado


com o § 58 da Norma Contabilística e de Relato Financeiro 25 - Impostos sobre o
Rendimento:

"41 - O excedente de revalorização incluído no capital próprio com respeito a um item


do ativo fixo tangível deve ser transferido diretamente para resultados transitados
quando o ativo for desreconhecido. Isto pode implicar a transferência da totalidade do
excedente quando o ativo for retirado de uso ou alienado. Uma parte do excedente deve
ser transferida quando o ativo for usado por uma entidade. Nesse caso, a quantia do
excedente transferida será a diferença entre a depreciação baseada na quantia
escriturada revalorizada do ativo e a depreciação baseada no custo original do ativo. As
transferências do excedente de revalorização para resultados transitados não são feitas
por via de resultados."

"58 - A NCRF 7 especifica que uma entidade deve transferir anualmente o excedente
(reserva) de revalorização para resultados transitados pela quantia igual à diferença
entre a depreciação ou amortização de um ativo revalorizado e a depreciação ou
amortização baseada no custo desse ativo. A quantia transferida deve ser líquida de
qualquer imposto diferido relacionado. Considerações semelhantes aplicam-se a
transferências feitas pela alienação de um item de ativo fixo tangível."

De acordo com as disposições assinaladas, supra, a realização do excedente de


revalorização, seja pela via total, seja pela via parcial, deve ser refletida na conta "56 -
Resultados transitados".

Considerando que, no item Resultados transitados, podem estar reconhecidos outros


valores, não relacionados com esta questão, é recomendada a criação de uma
divisionária da conta para este efeito, aqui, denominada "56Y - Resultados transitados
- Excedentes de revalorização realizados".

Assim, pelo reconhecimento da realização dos excedentes de revalorização, devem ser


efetuados os reconhecimentos seguintes:

- Realização do excedente de revalorização antes de imposto sobre o rendimento

D. 5811/589137 ...................................... Excedente regularizado


C. 56Y ................................................... Excedente regularizado

- Ajustamento pelo efeito dos impostos diferidos

D. 56Y ................................................... IRC diferido


C. 5812/5892 ......................................... IRC diferido

37consoante sejam revalorizações efetuadas ao abrigo de diploma legal de caráter fiscal ou


revalorizações apenas contabilísticas (à luz das NCRF).

116
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Deste modo, o excedente de revalorização realizado é, igualmente, líquido de imposto
diferido.

Assim, o saldo apresentado na conta 56Y corresponde ao valor que se encontra


disponível
Deste modo,para ser utilizado,
o excedente denos termos dasrealizado
revalorização disposições do CSC referidas,
é, igualmente, istoimposto
líquido de é, para
uso no contexto
diferido. do capital próprio ou, eventualmente, para distribuição.

Assim, o saldo apresentado na conta 56Y corresponde ao valor que se encontra


disponível para ser utilizado, nos termos das disposições do CSC referidas, isto é, para
Consideremos
uso no contextoosdo
reconhecimentos contabilísticos
capital próprio ou, eventualmente,associados à utilização no contexto do
para distribuição.
capital próprio:

- Utilização do excedente de revalorização para cobertura de prejuízos


Consideremos os reconhecimentos contabilísticos associados à utilização no contexto do
capital próprio: D. 56Y ................................................... Excedente utilizado
C. 56X38 ................................................. Excedente utilizado

- Utilização do excedente de revalorização para cobertura de prejuízos


- Utilização do excedente de revalorização para incorporação em aumento do capital
social
D. 56Y ................................................... Excedente utilizado
C. 56X38 ................................................. Excedente utilizado
D. 56Y ................................................... Excedente utilizado
C. 51 ...................................................... Excedente utilizado
- Utilização do excedente de revalorização para incorporação em aumento do capital
social

D. 56Y ................................................... Excedente utilizado


C. 51 ...................................................... Excedente utilizado

38 divisionária da conta de resultados transitados onde estejam reconhecidos os prejuízos acumulados.

38 divisionária da conta de resultados transitados onde estejam reconhecidos os prejuízos acumulados. 117
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

6.3. Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

A assembleia geral de acionistas da sociedade "Gama, S.A.", reunida em 15 de março


de 2022, deliberou, por unanimidade, utilizar o valor dos excedentes de revalorização
contabilísticos, que se encontrem realizados, para efetuar:

- cobertura de prejuízos acumulados já acusados no balanço, à data da revalorização,


no valor de € 50.000,00.
- o restante para incorporação no capital social.

Sabe-se que valor dos excedentes de revalorização reconhecidos é de € 250.000,00 e


que 60% do valor se encontra realizado, sendo a decomposição em valor bruto de €
333.333,33 e impostos diferidos de € 83.333,33.

Em 5 de abril de 2022, o aumento do capital social foi registado na Conservatória do


Registo Comercial.

Proceda ao tratamento contabilístico dos factos apresentados.

Resolução:

- Apuramento do valor do excedente de revalorização realizado

Valor bruto = € 333.333,33 x 60% = € 200.000,00


Impostos diferidos = € 83.333,33 x 60% = € 50.000,00
Valor líquido = € 200.000,00 - € 50.000,00 = 150.000,00

Pelo que o aumento do capital social é de € 100.000,00.

- Transferência p a r a r e s u l t a d o s t r a n s i t a d o s do excedente de
revalorização r e a l i z a d o - 15 de março de 2022

Valor antes de imposto sobre o rendimento

D. 5891................................................... 200.000,00
C. 56Y ................................................... 200.000,00

Impostos diferidos

D. 56Y ................................................... 50.000,00


C. 5892 .................................................. 50.000,00

118
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- Utilização do excedente de revalorização realizado para cobertura de prejuízos -


15 de março de 2022

D. 56Y ................................................... 50.000,00


C. 56X ................................................... 50.000,00

- Utilização do excedente de revalorização realizado para aumento do capital social -


5 de abril de 2022

D. 56Y ................................................... 100.000,00


C. 51 ................,,,................................... 100.000,00

119
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

7. Outras Variações no Capital Próprio

7.1. Aspetos Societários

7.1.1. Conceitos Fundamentais

No que se refere ao item "Outras variações no capital próprio”, vamos abordar aquelas
que se relacionam com disposições do CSC.

Assim, com disposições relevantes do CSC, podemos identificar neste caso, as


doações39, na ótica do donatário.

Não interessa extravasar o âmbito desta formação, no que concerne ao


reconhecimento das doações, na ótica do donatário, mas, sim, a utilização nos termos
permitidos pelo CSC.

No entanto, importa referir que o reconhecimento ocorre através da conta "594 - Outras
variações no capital próprio - Doações", pelo valor de avaliação dos ativos obtidos a
título gratuito.

O CSC enquadra as doações, na ótica do donatário, no regime da reserva legal, pelo


que os valores correspondentes só podem ser utilizados para:

- incorporar em aumento do capital social.


- efetuar cobertura de prejuízos acumulados.

7.1.2. Enquadramento Legal

Analisemos o que o CSC dispõe, relativamente ao regime da utilização dos valores


correspondentes a doações, na ótica do donatário:

• Sujeição ao regime da reserva legal (al. c) do n.º 2 do art. 295.º do CSC)

"2 - Ficam sujeitas ao regime da reserva legal as reservas constituídas pelos seguintes
valores:
...
c) Importâncias correspondentes a bens obtidos a título gratuito, quando não lhes
tenha sido imposto destino diferente, bem como acessões e prémios que venham
a ser atribuídos a títulos pertencentes à sociedade.

• Utilização dos valores correspondentes às doações, na ótica do donatário (art.


296.º do CSC)

39 bens obtidos a título gratuito.

120
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

"A reserva legal só pode ser utilizada:


a) Para cobrir a parte do prejuízo acusado no balanço do exercício que não possa ser
coberto pela utilização de outras reservas;
b) Para cobrir a parte dos prejuízos transitados do exercício anterior que não possa
ser coberto pelo lucro do exercício nem pela utilização de outras reservas;
c) Para incorporação no capital."

Da análise destes artigos, é possível concluir que os valores correspondentes às


doações, na ótica do donatário, estão sujeitos ao regime da reserva legal.

Assim, podem ser utilizados, apenas, para as finalidades previstas para a reserva legal,
nunca podendo "sair" do capital próprio, isto é, trata-se de uma reserva especial, não
distribuível aos sócios ou aos acionistas

7.2. Aspetos Contabilísticos

Analisemos o esquema de movimentação da conta correspondente a valores de


doações, na ótica do donatário:

D 594 - OVCP - Doações C


Utilização para incorporação em Obtenção do bem a título
aumento do capital social ou gratuito
para cobertura de prejuízos

No que respeita à questão dos valores correspondentes a doações, na ótica do


donatário, são reconhecidos, quando os bens são obtidos, a crédito da conta "594 -
Outras variações no capital próprio - Doações”, pelo valor de avaliação.

Posteriormente, o valor existente em saldo credor da conta, pode ser utilizado para
efetuar cobertura de prejuízos acumulados ou para incorporar em aumentos do capital
social.

Consideremos o reconhecimento contabilístico a efetuar, nestes casos:

- Utilização dos valores correspondentes a doações, na ótica do donatário, para


cobertura de prejuízos acumulados

D. 594 .................................................... Valor utilizado


C. 56 ...................................................... Valor utilizado

- Utilização dos valores correspondentes a doações, na ótica do donatário, para incorporar em


aumento do capital social

D. 594 .................................................... Valor incorporado


C. 51 ...................................................... Valor incorporado

121
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

7.3. Aplicações práticas

Caso Prático N.º 1

Há 10 anos, a sociedade "Beta, Lda." Obteve, a título gratuito, equipamentos básicos,


avaliados por € 50.000,00.

Em 30 de abril de 2022, em assembleia geral, os sócios deliberaram utilizar esse valor


para incorporar num aumento do capital social.

O registo do aumento do capital social foi efetuado em 5 de maio de 2022.

Proceda ao tratamento contabilístico do facto apresentado.

Resolução:

- Utilização do valor correspondente à doação, na ótica do donatário, para incorporar em aumento do


capital social

D. 594 .................................................... 50.000,00


C. 51 ...................................................... 50.000,00

122
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

8. Reservas, Resultados Transitados e Dividendos Antecipados (Aplicação


de Resultados/Contas Anuais)

8.1. Aspetos Societários

8.1.1. Conceitos Fundamentais

As contas que pretendemos abordar relacionam-se, em geral, com a aplicação de


resultados.

A aplicação de resultados, em sentido lato, abarca o resultado líquido do período e


resultados transitados de períodos anteriores, bem como outros itens do capital próprio
que, face à lei e ao contrato social, possam considerar-se disponíveis para distribuição.

A aplicação de resultados, em sentido restrito, abrange, em exclusivo, a aplicação do resultado


líquido do período.

Do relatório de gestão, que integra as demonstrações financeiras, deve constar uma


proposta de aplicação dos resultados, devidamente fundamentada, a submeter à
deliberação da assembleia geral que aprecia o relatório e as contas anuais.

As aplicações de resultados mais usuais são:

• cobertura de prejuízos acumulados.


• reserva legal.
• reservas estatutárias (previstas no contrato social).
• reservas especiais ou contratuais (previstas no âmbito de diploma legal ou de contrato
celebrado com terceiro).
• reservas livres;
• gratificações aos órgãos de administração e ao pessoal, a título de participação
nos lucros.
• Dividendos a distribuir pelos acionistas e lucros a distribuir pelos sócios.
• Resultados transitados (adiamento da aplicação).

8.1.2. Enquadramento Legal

A aplicação de resultados tem enquadramento na temática da apresentação das contas


e deliberações sobre elas, nos termos instituídos no "Capítulo VI - Apreciação anual da
situação da sociedade”, entre o arti. 65.º e o art. 70.º-A do CSC40.

Deste corpo normativo, para a matéria em apreço, releva, desde logo, a al. f) do n.º 5 do
art. 66.º, atinente ao relatório de gestão, que dispõe:

40de notar que, em 2020, relativamente ao exercício económico de 2019, o DL n.º 10-A/2020, de 13 de
março, veio permitir que, excecionalmente, devido ao surto da doença COVID-19, as assembleias gerais de
aprovação das contas e aplicação dos resultados de 2019 pudessem ser realizadas até 30 de junho de 2020.

123
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

"5 - O relatório deve indicar, em especial:



f) Uma proposta de aplicação de resultados devidamente fundamentada."

A partir dos períodos contabilísticos iniciados em, ou após, 1 de janeiro de 2016, o


anexo passou a incluir uma proposta de aplicação de resultados, concordante,
naturalmente, com a proposta constante do relatório de gestão.

A priori, a problemática de aplicação de resultados consagra as temáticas dos exercícios


económicos e do direito aos lucros (distribuição de lucros).

O percurso normativo, no âmbito do CSC, aponta para as etapas seguintes.

Quanto à participação nos lucros e à sua distribuição:

• Participação nos lucros e perdas (art. 22.º do CSC)

"1 - Na falta de preceito especial ou convenção em contrário, os sócios participam


nos lucros e nas perdas da sociedade segundo a proporção dos valores das
respetivas participações no capital.
2 - Se o contrato determinar somente a parte de cada sócio nos lucros, presumir-
se-á ser a mesma a sua parte nas perdas.
3 - É nula a cláusula que exclui um sócio da comunhão nos lucros ou que o isente de
participar nas perdas da sociedade, salvo o disposto quanto a sócios de indústria.
4 - É nula a cláusula pela qual a divisão de lucros ou perdas seja deixada ao critério de
terceiro."

• Limite da distribuição de bens aos sócios (art. 32.º do CSC)

"1 - Sem prejuízo do preceituado quanto à redução do capital social, não podem
ser distribuídos aos sócios bens da sociedade quando o capital próprio desta,
incluindo o resultado líquido do exercício, tal como resulta das contas elaboradas
e aprovadas nos termos legais, seja inferior à soma do capital social e das
reservas que a lei ou o contrato não permitem distribuir aos sócios ou se tornasse
inferior a esta soma em consequência da distribuição.
2 - Os incrementos decorrentes da aplicação do justo valor através de componentes do
capital próprio, incluindo os da sua aplicação através do resultado líquido do exercício,
apenas relevam para poderem ser distribuídos aos sócios bens da sociedade, a que se
refere o número anterior, quando os elementos ou direitos que lhes deram origem sejam
alienados, exercidos, extintos, liquidados ou, também quando se verifique o seu uso,
no caso de ativos fixos tangíveis e intangíveis.
3 - Os rendimentos e outras variações patrimoniais positivas reconhecidos em
consequência da utilização do método da equivalência patrimonial, nos termos das normas
contabilísticas e de relato financeiro, apenas relevam para poderem ser distribuídos aos
sócios, nos termos a que se refere o n.º 1, quando sejam realizados."

• Lucros e reservas não distribuíveis (art. 33.º do CSC)

"1 - Não podem ser distribuídos aos sócios os lucros do exercício que sejam
necessários para cobrir prejuízos transitados ou para formar ou reconstituir
reservas impostas pela lei ou pelo contrato de sociedade.

124
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2 - Não podem ser distribuídos aos sócios lucros do exercício enquanto as despesas
de constituição, de investigação e de desenvolvimento não estiverem completamente
amortizadas, exceto se o montante das reservas livres e dos resultados transitados
for, pelo menos, igual ao dessas despesas não amortizadas.
3 - As reservas cuja existência e cujo montante não figuram expressamente no balanço
não podem ser utilizadas para distribuição aos sócios.
4 - Devem ser expressamente mencionadas na deliberação quais as reservas
distribuídas, no todo ou em parte, quer isoladamente quer juntamente com lucros de
exercício."

Da análise destes artigos, devemos assinalar, como aspetos relevantes:

Os sócios participam nos lucros da sociedade segundo a proporção dos valores das
respetivas participações de capital, exceto se existir preceito especial ou convenção em
contrário.

O art. 32.º do CSC impõe três limites à distribuição de bens aos sócios,
designadamente:

• n.º 1 - não podem ser distribuídos aos sócios bens da sociedade quando o capital
próprio desta, incluindo o resultado líquido do exercício, seja inferior à soma do
capital social e das reservas que a lei ou o contrato não permitem distribuir aos
sócios ou se tornasse inferior a esta soma em consequência da distribuição.
Isto significa que, após a distribuição, o total do capital próprio deve ser igual ao
superior à soma do capital social com as reservas não distribuíveis.
• n.º 2 - os incrementos decorrentes da aplicação do justo valor através de
componentes do capital próprio, incluindo os da sua aplicação através do
resultado líquido do exercício, apenas relevam para poderem ser distribuídos
aos sócios bens da sociedade, a que se refere o número anterior, quando os
elementos ou direitos que lhes deram origem sejam alienados, exercidos,
extintos, liquidados ou, também quando se verifique o seu uso, no caso de ativos
fixos tangíveis e intangíveis.
• n.º 3 - os rendimentos e outras variações patrimoniais positivas reconhecidos
em consequência da utilização do método da equivalência patrimonial, nos
termos das normas contabilísticas e de relato financeiro, apenas relevam
para poderem ser distribuídos aos sócios, nos termos a que se refere o n.º 1,
quando sejam realizados.

A primeira limitação respeita à ressalva do capital social, quando, em especial, se


verificam prejuízos acumulados.

A segunda limitação está relacionada com variações patrimoniais positivas do capital


próprio, através da aplicação do justo valor e que ainda não estão realizadas ou
liquidadas.

As rubricas do capital próprio que podem incluir variações positivas decorrentes da


aplicação do justo valor são:

• 58 - Excedentes de revalorização.
• 56 - Resultados transitados (pela transferência de resultados de períodos anteriores
com ganhos de justo valor não realizados ou liquidados).
• 55 - Reservas livres (se incluírem transferências de resultados de períodos anteriores
com ganhos de justo valor ainda não realizados ou liquidados).
• 818 - O resultado líquido do período, na parte que resulte de variações positivas de
justo valor.

125
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Relativamente à terceira limitação, a aplicação do MEP, o SNC preconiza que os


valores incluídos nos resultados do período, que não venham a ser atribuídos pela
empresa participada, sejam transferidos pelo investidor para a conta “5712 -
Ajustamentos em ativos financeiros - Relacionados com o método da equivalência
patrimonial - Lucros não atribuídos”, nos termos do referido, supra.

O mesmo princípio é aplicável a outras variações positivas resultantes da aplicação do


MEP, que não devem ser distribuídas, enquanto não forem realizados, estando em
causa factos reconhecidos na conta "5713 - Ajustamentos em ativos financeiros -
Relacionados com o método da equivalência patrimonial - Decorrentes de outras
variações nos capitais próprios das participadas".

O art. 33.º do CSC impõe, ainda, limites à distribuição de lucros e reservas, nos termos
prescritos no no 1, no n.º 2 e no n.º 3.

No que tange ao direito aos lucros (distribuição) e à constituição de reservas, relevam


os artigos que se seguem.

Sociedades por quotas:

• Direito aos lucros do exercício (art. 217.º do CSC)

"1 - Salvo diferente cláusula contratual ou deliberação tomada por maioria de três
quartos dos votos correspondentes ao capital social em assembleia geral para o
efeito convocada, não pode deixar de ser distribuído aos sócios metade do lucro
do exercício que, nos termos desta lei, seja distribuível.
2 - O crédito do sócio à sua parte dos lucros vence-se decorridos 30 dias sobre a
deliberação de atribuição de lucros, salvo diferimento consentido pelo sócio; os
sócios podem, contudo, deliberar, com fundamento em situação excecional da
sociedade, a extensão daquele prazo até mais 60 dias.
3 - Se, pelo contrato de sociedade, os gerentes ou fiscais tiverem direito a uma
participação nos lucros, esta só pode ser paga depois de postos a pagamento os
lucros dos sócios."

• Constituição de reserva legal (art. 218.º do CSC)

"1 - É obrigatória a constituição de uma reserva legal.


2 - É aplicável o disposto nos artigos 295.º e 296.º, salvo quanto ao limite mínimo de
reserva legal, que nunca será inferior a 2500 euros."

Sociedades anónimas:

• Direito aos lucros do exercício (art. 294.º do CSC)

"1 - Salvo diferente cláusula contratual ou deliberação tomada por maioria de três
quartos dos votos correspondentes ao capital social em assembleia geral para o
efeito convocada, não pode deixar de ser distribuída aos acionistas metade do lucro do
exercício que, nos termos desta lei, seja distribuível.
2 - O crédito do acionista à sua parte nos lucros vence-se decorridos que sejam
30 dias sobre a deliberação de atribuição de lucros, salvo diferimento consentido
pelo sócio e sem prejuízo de disposições legais que proíbam o pagamento antes de
observadas certas formalidades, podendo ser deliberada, com fundamento em situação
excecional da sociedade, a extensão daquele prazo até mais 60 dias, se as ações não

126
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

estiverem admitidas à negociação em mercado regulamentado.


3 - Se, pelo contrato de sociedade, membros dos respetivos órgãos tiverem direito
a participação nos lucros, esta só pode ser paga depois de postos a pagamento os
lucros dos acionistas."

• Constituição de reserva legal (art. 295.º do CSC)

"1 - Uma percentagem não inferior à vigésima parte dos lucros da sociedade é
destinada à constituição da reserva legal e, sendo caso disso, à sua
reintegração, até que aquela represente a quinta parte do capital social. No
contrato de sociedade podem fixar-se percentagem e montante mínimo mais
elevados para a reserva legal."
...
• Utilização da reserva legal (art. 296.º do CSC)

"A reserva legal só pode ser utilizada:


a) Para cobrir a parte do prejuízo acusado no balanço do exercício que não possa
ser coberto pela utilização de outras reservas;
b) Para cobrir a parte dos prejuízos transitados do exercício anterior que não possa
ser coberto pelo lucro do exercício nem pela utilização de outras reservas;
c) Para incorporação no capital."

• Adiantamentos sobre lucros no decurso do exercício (art. 297.º do CSC)

"1 - O contrato de sociedade pode autorizar que, no decurso de um exercício,


sejam feitos aos acionistas adiantamentos sobre lucros, desde que observadas as
seguintes regras:
a) O conselho de administração ou o conselho de administração executivo, com
o consentimento do conselho fiscal, da comissão de auditoria ou do
conselho geral e de supervisão, resolva o adiantamento;
b) A resolução do conselho de administração ou do conselho de administração
executivo seja precedida de um balanço intercalar, elaborado com a
antecedência máxima de 30 dias e certificado pelo revisor oficial de contas,
que demonstre a existência nessa ocasião de importâncias disponíveis para
os aludidos adiantamentos, que devem observar, no que seja aplicável, as
regras dos artigos 32.º e 33.º, tendo em conta os resultados verificados
durante a parte já decorrida do exercício em que o adiantamento é efetuado;
c) Seja efetuado um só adiantamento no decurso de cada exercício e
sempre na segunda metade deste;
d) As importâncias a atribuir como adiantamento não excedam metade das que
seriam distribuíveis, referidas na alínea b).
2 - Se o contrato de sociedade for alterado para nele ser concedida a autorização
prevista no número anterior, o primeiro adiantamento apenas pode ser efetuado no
exercício seguinte àquele em que ocorrer a alteração contratual."

Das disposições destes artigos, parece-nos relevante comentar:

e) Lucros distribuíveis

Da aprovação do relatório de gestão e das contas do exercício, depende a deliberação


sobre a distribuição de lucros, pelo que tal aprovação é condição necessária para a
deliberação de distribuição de lucros.

127
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A partir do lucro do exercício, determina-se o designado lucro distribuível, apurado após


dedução devida a:

• cobertura de prejuízos.
• constituição ou reforço da reserva legal, de reserva estatutária ou de reserva contratual.

Quanto à constituição ou reforço de reservas:

o Reserva legal

A reserva legal é obrigatória nos termos do art. 218º e do art. 295º do CSC, dispondo a lei
que a sociedade deve afetar, no mínimo, 5% dos resultados de exercício até que o valor
da reserva legal atinja, no mínimo, 20% do capital social ou, no caso das sociedades
por quotas, o montante mínimo de € 2.500,00, sendo que, no contrato de sociedade,
podem fixar-se percentagem e montante mínimo mais elevados para a reserva legal.

o Reservas estatutárias

O contrato de sociedade pode dispor que parte dos resultados seja para constituir
outras reservas, designadas por reservas estatutárias, sendo que o contrato de
sociedade deve definir o regime, no que respeita, nomeadamente, a montante a reter
por aplicação de lucros, limite de dispensa e utilização possível.

o Reservas contratuais

Constituem a criação ou reforço de reservas obrigatórias, não determinadas


pelo CSC ou pelos estatutos societários, mas, sim, por diplomas legais especiais ou
até decorrentes de uma obrigação contratual com terceiros, sendo que o contrato deve
definir o regime, no que respeita, nomeadamente, a montante a reter por aplicação de
lucros, limite de dispensa e utilização possível.

Neste âmbito da aplicação de resultados, podem, ainda, ser consideradas outras


reservas especiais, como é o caso da reserva para dedução por lucros retidos e
reinvestidos (DLRR), nos termos do art. 32.º do Código Fiscal do Investimento (CFI).

Os sujeitos passivos que queiram usufruir do benefício fiscal previsto no CFI, a DLRR,
devem proceder à constituição de uma reserva especial correspondente ao montante
dos lucros retidos que vão ser reinvestidos, sendo que esta reserva, resultante da
aplicação dos resultados, não pode ser utilizada para distribuição aos sócios antes do
fim do quinto exercício posterior ao da sua constituição.

o Reservas livres

Para além das reservas referidas, os resultados podem, ainda, ser aplicados na
constituição ou reforço de reservas livres ou, igualmente, denominadas reservas de
gestão, pois dependem da proposta do órgão de gestão.

128
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

As reservas livres não têm limitações de distribuição aos sócios, podendo, ainda, ser
utilizadas em diversos fins, como é o caso das reservas obrigatórias de cobertura de
operações com quotas próprias e com ações próprias, bem como na cobertura de
prejuízos e no aumento do capital social.

Para além da constituição ou reforço de reservas obrigatórias, há que atender,


igualmente, às limitações impostas à distribuição de lucros, segundo a disciplina do art.
32.º e do art. 33.º do CSC.

f) Participação nos lucros pelos membros dos órgãos sociais e trabalhadores da


empresa

Há, ainda, a considerar a questão particular das denominadas gratificações de balanço,


a título de participação nos lucros, atribuídas aos membros do órgão de gestão e ao
pessoal, que mais não representam do que parcelas do lucro distribuível cometidas aos
sócios, das quais os mesmos prescindem.

Aspetos a atender:

1) Uma sociedade pode distribuir parte dos seus resultados aos trabalhadores e órgãos
sociais como participação nos lucros (gasto fiscal mediante algumas condições).
2) Trata-se de remunerações (adicionais) atribuídas a título de participação nos lucros.
3) A participação deve ser reconhecida como gasto no ano a que correspondem os
resultados, se com referência a 31 de dezembro de cada ano existir uma obrigação
legal (disposição contratual ou estatutária) ou uma prática reiterada da sua atribuição,
complementada com a convicção ou expetativa fiável do órgão de gestão, no sentido
da sua ratificação pela assembleia geral (obrigação construtiva).
4) Neste caso, esse facto deve ser referido na assembleia geral de aprovação de contas
e a participação deve ser ratificada (ou não) pelos sócios ou pelos acionistas.

g) Distribuição aos sócios

Por fim, define-se o montante de distribuição aos sócios ou aos acionistas.

O resultado remanescente, não incluindo variações positivas de justo valor (conta 77 -


Ganhos por aumentos de justo valor), depois de cobertos prejuízos acumulados e
constituídas as reservas obrigatórias, tendo, ainda, em conta a possibilidade de
participação nos lucros dos órgãos sociais e trabalhadores, decidida ou ratificada em
assembleia geral, pode ser distribuído aos sócios, permanecer em resultados transitados
ou ser transferido para reservas especiais ou livres.

129
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

h) Adiantamentos de lucros

No âmbito da aplicação de resultados, cabe, ainda, analisar-se a questão dos


adiantamentos de lucros.

A lei permite que a sociedade antecipe aos sócios rendimentos por conta dos lucros a
obter no exercício em que se pretende promover o adiantamento.

Em causa, está a possibilidade de se distribuírem os lucros de exercício ainda durante o


exercício a que se reportam, o que a lei permite, observados os requisitos do n.º 1 do
art. 31.º do CSC.

Nas sociedades por quotas, tal deve ser, sempre, aprovado pelo sócios em
assembleia geral e cumprir as regras do art. 32.º e do art. 33.º do CSC.

Nas sociedades anónimas, tal não necessita da aprovação dos acionistas, nos termos do
disposto pelo art. 297.º do CSC.

8.2. Aspetos Contabilísticos

Comecemos por enunciar as contas p r i n c i p a i s associadas ao tema da aplicação


de resultados:

26 - Acionistas/sócios
...
263 - Adiantamentos por conta de lucros
264 - Resultados atribuídos
265 - Lucros disponíveis

55 - Reservas
551 - Reservas legais
552 - Outras reservas

56 - Resultados transitados

81 - Resultado líquido do período


...
818 - Resultado líquido do período

89 - Dividendos antecipados

Relativamente à conta "56 - Resultados transitados":

Tendo em consideração as limitações à distribuição de bens aos sócios e acionistas


impostas pelo CSC, designadamente, as referidas no art. 32.º e no art. 33.º, esta conta
pode ser subdividida, refletindo a componente distribuível e não distribuível contida no
resultado líquido de cada período, mormente, a decorrente da mensuração pelo justo
valor ou da aplicação do MEP, bem como a necessária à constituição da reserva legal
e de outras reservas exigidas pela lei ou pelos estatutos.

130
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A subdivisão pode ser a seguinte:

56 - Resultados transitados
561 - Ano N
5611 - Resultados transitados distribuíveis
5612 - Resultados transitados não distribuíveis
Consideremos, então, os reconheciimentos contabilísticos relevantes:

1) Em janeiro de N+1

- Transferência do resultado líquido do período positivo

D. 818 .................................................... Lucro


C. 56 ...................................................... Lucro

- Transferência do resultado líquido do período negativo

D. 56 ....................................................... Prejuízo
C. 818...................................................... Prejuízo

- Transferência dos dividendos antecipados

D. 56 ....................................................... Div. antecipados


C. 89........................................................ Div. antecipados

2) Aplicação do resultado líquido do período positivo

D. 56 ........................................................... Lucro aplicado


C. 5712........................................................ Lucros não
atribuídos MEP
C. 551 ......................................................... Reserva legal
C. 552 ......................................................... Reservas livres,
estatutárias,
contratuais,
especiais
C. 264........................................................... Lucros atribuídos
acionistas/sócios
C. 238 .......................................................... Lucros atribuídos
pessoal41

Em que:

5712 - Ajustamentos em ativos financeiros - Lucros não atribuídos


238 - Pessoal - Participação nos lucros

Na questão da participação nos lucros pelo órgão de gestão e pelo trabalhadores da


sociedade, há que atender aos requisitos (premissas) constantes entre o § 18 e o § 23
da Norma Contabilística e de Relato Financeiro 28 - Benefícios dos Empregados
(NCRF 28), nomeadamente, o referido no § 18, segundo o qual “uma entidade deve
reconhecer o custo esperado dos pagamentos de participação nos lucros e bónus
quando, e só quando: (a) A entidade tenha uma obrigação presente legal ou construtiva
de fazer tais pagamentos em consequência de acontecimentos passados; e (b) possa
ser feita uma estimativa fiável da obrigação.”

41 excecionalmente, quando não estiverem reunidas as condições referidas para serem reconhecidos

como gastos com o pessoal durante o período anterior.

131
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3) Disponibilização dos lucros atribuídos aos acionistas/sócios

D. 264 ........................................................ Lucros atribuídos


acionistas/sócios
C. 242 ........................................................ Ret. IRS/IRC
C. 265 ........................................................ Lucros disponíveis
acionistas/sócios

4) Pagamento dos lucros atribuídos aos acionistas/sócios

D. 265 ........................................................ Lucros disponíveis


acionistas/sócios
C. 12 .......................................................... Lucros disponíveis
acionistas/sócios

Na circunstância de se verificarem os pressupostos do § 18 ao § 23 da NCRF 28, a


participação nos lucros em análise, tem a contabilização seguinte.

• Em 31 de dezembro de N (ano a que respeita o resultado)

D. 638x ...................................................... Lucros a atribuir


ao pessoal
C. 2722....................................................... Lucros a atribuir
ao pessoal

Em que:

638x - Outros gastos com o pessoal - Participação nos lucros

Neste caso, o resultado de N já se encontra deduzido da participação p r o p o s t a


nos lucros.

• Em N+1 (após ratificação da assembleia geral)

D. 2722 ...................................................... Lucros atribuídos


ao pessoal
C. 238......................................................... Lucros atribuídos
ao pessoal

A quantia não ratificada (no todo ou em parte) é creditada na conta 56 - Resultados


transitados por contrapartida da conta 2722 - Credores por acréscimos de gastos.

Pelo pagamento de dividendos antecipados nas sociedades anónimas:

D. 89 .......................................................... Div. antecipados


C. 242 ........................................................ Ret. IRS/IRC
C. 12 .......................................................... Div. Líquidos

Pelo pagamento de adiantamentos por conta de lucros nas sociedades por quotas:

D. 263 ........................................................ Adiant. Lucros


C. 242 ........................................................ Ret. IRS/IRC
C. 12 .......................................................... Adiant. Líquido

132
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Neste caso, após efetiva atribuição de lucros, efetua-se:

D. 264 ........................................................ Adiant. Lucros


C. 263 ........................................................ Adiant. Lucros

8.3. Aplicações Práticas

Caso Prático N.º 1

A sociedade "Alfa, Lda." apresentava, em 31 de dezembro de 2021, a composição seguinte


do capital próprio:

N.º Descrição da conta 31/12/2021


Conta
51 Capital subscrito 400 000,00
551 Reservas legais 25 000,00
552 Outras reservas 135 000,00
58 Excedentes de revalorização de ativos fixos tangíveis e intangíveis 250 000,00
818 Resultado líquido do período 130 000,00
Total do capital próprio 940 000,00

O resultado líquido do período incorpora um ganho de € 30.000,00 resultante da


aplicação do MEP, decorrente da participação nos lucros de sociedade investida (lucros
não atribuídos em 2022 - assembleia geral da sociedade investida em 15 de março de
2022).

Em assembleia geral de sócios, realizada no dia 28 de maio de 2022, foi aprovada a


aplicação de resultados seguinte:

Reservas legais 5% do Lucro


Reservas livres 30% do Lucro distribuível
Lucros 50% do Lucro distribuível
Gratificações ao pessoal 20% do Lucro distribuível

A distribuição a título de gratificações ao pessoal não foi reconhecida como gasto em


2021.

Em 30 de junho de 2022, os lucros ficaram disponíveis e sujeitos, na totalidade, a retenção


de IRS à taxa de 28%, conforme previsto na legislação fiscal aplicável.

O pagamento por transferência bancária foi efetuado no dia 2 de julho de 2022.

A participação nos lucros dos trabalhadores foi paga por transferência bancária em 30
de julho de 2022 (sujeita à taxa de IRS média de 10%).

Proceda ao tratamento contabilístico correspondente aos factos apresentados.

133
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Resolução:

1) Transferência do resultado líquido de 2021 - janeiro de 2022

D. 818 .................................................... 130.000,00


C. 56 ...................................................... 130.000,00

2) Correção do lucro distribuível decorrente de lucros não atribuídos (MEP) - março de 2022

D. 56 ...................................................... 30.000,00
C. 5712 .................................................. 30.000,00

3) Aplicação do resultado líquido do período de 2021 (após aprovação das contas) - 28 de maio de
2022

D. 56 ...................................................... 100.000,00
C. 551 .................................................... 5.000,00
C. 552 .................................................... 28.500,00
C. 264 .................................................... 47.500,00
C. 238 .................................................... 19.000,00

Cálculo da aplicação do resultado líquido:

Reservas legais = € 100.000,00 x 5% = € 5.000,00

Reservas livres = € 95.000,00 x 30% = € 28.500,00

Lucros = € 95.000,00 x 50% = € 47.500,00

Gratificações ao pessoal = € 95.000,00 x 20% = € 19.000,00

A ata da assembleia geral deve ratificar os lucros não distribuíveis decorrentes da


aplicação do MEP.

4) Disponibilização dos lucros - 30 de junho de 2022

D. 264 ........................................................ 47.500,00


C. 242 ........................................................ 13.300,00
C. 265 ........................................................ 34.200,00

Retenção de impostos sobre rendimentos = € 47.500,00 x 28% = € 13.300,00

Lucros disponíveis = € 47.500,00 - € 13.300,00 = € 34.200,00

134
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

5) Pagamentos dos lucros - 2 de julho de 2022

D. 265 .................................................... 34.200,00


C. 12 ...................................................... 34.200,00

6) Pagamento da participação nos lucros dos trabalhadores - 30 de julho de 2022

D. 238 .................................................... 19.000,00


C. 242 .................................................... 1.900,00
C. 12 ...................................................... 17.100,00

Retenção de impostos sobre rendimentos = € 19.000,00 x 10% = € 1.900,00

Caso Prático N.º 2

Considere a ata de aprovação de contas da sociedade "Delta, S.A.":

“Ata Número doze


Aos vinte e quatro dias do mês de Março do ano de 2022 reuniu, pelas dez horas, a
Assembleia Geral da sociedade “Delta, S.A.”, registada na Conservatória do Registo
Comercial do Porto, sob o número único de matrícula e identificação fiscal 509 876 432,
na sua sede social sita na Rua das Flores, freguesia do Ouro, concelho do Porto,
estando presentes os acionistas que assinaram a lista de presenças anexa e que
representam a totalidade do capital social, com a seguinte ordem de trabalhos,
constante da convocatória dirigida aos acionistas e publicada no Portal da Justiça em
22 de fevereiro de 2022:
Ponto Um: Deliberar sobre o relatório e contas do exercício de 2021.-------------------------
Ponto Dois: Deliberar sobre a proposta de aplicação dos resultados do exercício de
2021.---------------------------------------------------------------------------------------------------------- -
Ponto Três: Apreciação da administração e fiscalização da sociedade.----------------------
O presidente da mesa Dr. Luiz Vaz, secretariado por Joana Reis, verificou as
formalidades legais de convocação e presenças dos acionistas na Assembleia Geral.
Aberta a sessão, após apreciação das matérias da ordem de trabalhos, foi deliberado
por unanimidade o seguinte:
Ponto Um: Aprovar o relatório e contas do exercício de 2021.-----------------------------------
Ponto Dois: Aprovar a aplicação do resultado do exercício de 2021, no montante de €
210.000,00, nos seguintes termos:
a) Reservas Legais, € 21.000,00;
b) Reservas Livres, € 63.000,00;
c) Dividendos, € 126.000,00 (por conta destes dividendos já tinham sido
contabilizados e pagos em outubro de 2021 dividendos antecipados no montante de €
50.000,00).
Ainda neste ponto, foi ratificada a participação nos lucros dos trabalhadores da empresa,
no montante de € 42.000,00, proposta pela Administração. Os gastos relativos a esta
participação foram contabilizados no ano de 2021, conforme o previsto no SNC.----------

135
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ponto Três: Atribuir um voto de louvor e confiança à atividade desenvolvida pela


Administração e pelo Fiscal Único.
Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a sessão pelas onze horas, lavrada a
presente ata, que depois de lida e aprovada por todos os presentes, vai ser assinada
pela Mesa da Assembleia Geral.
A Mesa da Assembleia Geral: “

Proceda à contabilização das deliberações tomadas nesta assembleia geral no ano de


2022, considerando que:
1º. Os dividendos, sujeitos a retenção na fonte à taxa de 28%, foram pagos em
abril de 2022 (transferência bancária).
2º. A participação nos lucros dos trabalhadores, sujeita a retenção na fonte à taxa
média de 15%, foi paga em abril de 2022 (transferência bancária).

Resolução:

1) Transferência do resultado líquido do período de 2021 - janeiro de 2022

D. 818 .................................................... 210.000,00


C. 56 ...................................................... 210.000,00

2) Transferência dos dividendos antecipados - janeiro de 2022

D. 56 ...................................................... 50.000,00
C. 89 ...................................................... 50.000,00

3) Aplicação do resultado líquido do período de 2021 (após aprovação das contas) - 24 de março de
2022

D. 56 ...................................................... 160.000,00
C. 551 .................................................... 21.000,00
C. 552 .................................................... 63.000,00
C. 264 .................................................... 76.000,00

4) Ratificação da participação dos trabalhadores nos lucros - 24 de março de 2022

D. 2722 .................................................. 42.000,00


C. 238 ...................................................... 42.000,00

5) Disponibilização e pagamento dos lucros aos acionistas - abril de 2022

D. 264 ........................................................ 76.000,00


C. 242 ........................................................ 21.280,00
C. 265 ........................................................ 54.720,00

Retenção de impostos sobre rendimentos = € 76.000,00 x 28% = € 21.280,00

136
Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Lucros disponíveis = € 76.000,00 - € 21.280,00 = € 54.720,00

D. 265 .................................................... 54.720,00


C. 12 ...................................................... 54.720,00

6) Pagamento da participação dos trabalhadores nos lucros - abril de 2022

D. 238 .................................................... 42.000,00


C. 242 .................................................... 6.300,00
C. 12 ...................................................... 35.700,00

Retenção de impostos sobre rendimentos = € 42.000,00 x 15% = € 6.300,00

Caso Prático N.º 3

Verificadas as condições para a distribuição antecipada de dividendos, a assembleia


geral de acionistas da sociedade "Gama, S.A." deliberou, em setembro de 2022, atribuir
€ 50.000,00 aos acionistas, que foram pagos no mês de outubro de 2022, deduzida a
retenção na fonte, à taxa de 28%.

Proceda ao reconhecimento contabilístico da distribuição de dividendos

antecipados em 2022.

Resolução:

1) Deliberação dos dividendos antecipados - setembro de 2022

D. 89 .......................................................... 50.000,00
C. 264 ........................................................ 50.000,00

2) Pagamento dos dividendos antecipados - outubro de 2022

D. 264 ........................................................ 50.000,00


C. 242 ........................................................ 14.000,00
C. 265 ........................................................ 36.000,00

Retenção de impostos sobre rendimentos = € 50.000,00 x 28% = € 14.000,00

Lucros disponíveis = € 50.000,00 - € 14.000,00 = € 36.000,00

D. 265 .................................................... 36.000,00


C. 12 ...................................................... 36.000,00

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Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sistema de Normalização Contabilística:

– Sistema de Normalização Contabilística, aprovado pelo Decreto-lei n.º 158/2009,


de 13 de julho, republicado pelo Decreto-Lei n.º 98/2015, de 2 de junho
– Código de Contas, aprovado pela Portaria n.º 218/2015, de 23 de julho, retificada
pela declaração de retificação n.º 41-A/2015, de 21 de setembro
– Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro, aprovadas pelo Aviso n.º
8256/2015, de 29 de julho, retificado pela declaração de retificação n.º
918/2015, de 19 de outubro

Legislação:

– Código Civil
– Código Fiscal do Investimento
– Código das Sociedades Comerciais
– Código dos Valores Mobiliários
– Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas
– Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
– Lei n.º 119/2015, de 31 de agosto
– Portaria n.º 290/2000, de 25 de maio

Site consultado:

– Comissão de Normalização Contabilística: http://www.cnc.min-


financas.pt/snc2016.html

Livros Consultados:

– ABREU, Jorge Manuel Coutinho (2007), Curso de Direito Comercial - Volume II


- Das Sociedades, Almedina, 2.ª Edição
– ALMEIDA, Rui M. P.; Almeida, Maria do Céu; Dias, Ana Isabel; Albuquerque, Fábio;
Pinheiro, Pedro (2013), SNC Casos Práticos e Exercícios Resolvidos, ATF - Edições
Técnicas, 3.ª Edição
– BORGES, A., A. Rodrigues J. e R. Rodrigues (2014), Elementos de Contabilidade
Geral, Áreas Editora, 26.ª Edição
- BORGES, A. et al. (2012), SNC - Casos Práticos, Áreas Editora, 2.ª Edição
– CUNHA, Paulo Olavo (2012), Direito das Sociedades, Almedina, 5.ª Edição
– CRUZ, Carlos; Cruz, Rita; Carvalho, Bernardo; Trabulo, Rita; Duarte, Marta (2013),
JusPrático Sociedades por Quotas e Sociedades Anónimas 2013, Wolters Kluwer
Portugal, 4.ª Edição
– DOMINGUES, Paulo de Tarso (2004), Do Capital Social - Noção, Princípios e
Funções, Coimbra Editora, 2.ª Edição

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Aspectos societários relevantes para a contabilidade
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

– DUARTE, Rui Pinto (2002), Problemas do Direito das Sociedades - Suprimentos,


Prestações Acessórias e Prestações Suplementares, IDET, Almedina
– MAÇÃES, Manuel Alberto Ramos (2018), Manual de Gestão Moderna. Teoria e
Prática, Atual Editora, 2.ª Edição
– MONTEIRO, Sónia Maria da Silva (2013), Manual de Contabilidade Financeira,
Vida Económica, 1.ª Edição
- PIRES, Jorge; Gomes, João (2015), SNC - Teoria e Prática, Vida Económica, 1.ª
Edição
– RODRIGUES, João (2022), Sistema de Normalização Contabilística - SNC
Explicado, Porto Editora, 8.ª Edição
– SANTOS, Cristina; Fernandes, José Rodrigo (2017), Contabilidade Financeira
Explicada, Vida Económica, 3.ª Edição
– SILVA, F.V. Gonçalves; Pereira, J. M. Esteves; Rodrigues, Lúcia Lima (2009),
Contabilidade das Sociedades, Plátano Editora, 13.ª Edição

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