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Rio de Janeiro
2011
G963l Guimarães, Virgínia Totti.
O licenciamento ambiental prévio e a localização de
grandes empreendimentos : o caso da TKCSA em Santa
Cruz , Rio de Janeiro, RJ / Virgínia Totti Guimarães. –
2011.
119 f. ; 30 cm.
CDD: 363.7
Assim se esboçam as condições de possibilidade de um meio
justo: a limitação da nossa vontade actual de poder e de
usufruto é o garante do estabelecimento de vínculos com as
gerações que nos precederam e com as que nos sucederão.
Longe de ser um meio termo medíocre entre dois extremos, o
meio justo surge como uma alternativa radical: a radicalidade da
exigência ética da partilha, radicalidade epistemológica do
espaço intermédio (o meio como tensão entre objecto e
sujeito).
(OST, 1995; 19)
DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por tudo, sempre e por ensinarem, a cada dia, que os sonhos e a
felicidade são mais importantes que tudo. À Bianca e Julieta, que me lembram o
que de melhor pode conter no conceito de irmã.
Aos meus amigos da e para vida toda: Malu, Dani, Fernando, Paula, Lili, Mila, Thula,
Roberto, Fernanda, Lorenzo.
Aos amigos do INEA, com os quais tive a alegria de dividir tantos e importantes
momentos.
Aos que tem que conviver com os “usos sujos”, com a esperança de que esta
pesquisa, ainda que minimamente, contribua para um cenário de mudança.
RESUMO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................11
CONCLUSÃO..........................................................................................................106
REFERÊNCIAS........................................................................................................111
ANEXO.....................................................................................................................121
11
APRESENTAÇÃO
1
Até a década de 80, a legislação limitava-se à disciplina de certos bens ambientais, como recursos
hídricos e florestas. Somente com a Lei federal 6.938/81 que o meio ambiente foi tratado como um
sistema, tendo sido definido como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (artigo 3º,
inciso I).
12
2
As informações utilizadas na elaboração desta Dissertação são públicas e encontram-se disponíveis
nos órgãos ambientais, Ministério Público, internet, meios de comunicação, dentre outros.
3
O Instituto Estadual do Ambiente (INEA), criado pela Lei estadual 5.101/2007 e instalado pelo
Decreto estadual 41.628/2009, é a atual entidade pública no Rio de Janeiro, responsável pela
execução das políticas estaduais do meio ambiente, de recursos hídricos e de recursos florestais.
Sua instalação determinou a extinção da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
(FEEMA), da Fundação Superintendência de Rios e Lagoas (SERLA) e do Fundação Instituto
Estadual de Florestas (IEF), cujas competências e atribuições foram transferidas ao INEA. Os
procedimentos de solicitação de licença ambiental prévia, autorização para supressão de vegetação
de preservação permanente e outorga de uso da água, pela Companhia Siderúrgica do Atlântico-Sul
(TKCSA), foram apresentados, respectivamente, na FEEMA, no IEF e na SERLA.
14
Santa Cruz, no final da década de 1970. Além disso, pretende-se, ainda que
brevemente, analisar as conseqüências ou efeitos das políticas adotadas para a
Região, especialmente o incentivo à instalação de indústrias e o pouco investimento
em infra-estrutura.
A região do atual bairro de Santa Cruz, que até meados do século XVII era
ocupada por aldeias indígenas, teve seu povoamento por portugueses iniciado no
século XVI com Cristóvão Monteiro, e posteriormente foi doada à Capitania de São
Vicente.4 Em 1718, o local foi ocupado por missionários da Companhia de Jesus,
que constituíram um latifúndio conhecido como Fazenda de Santa Cruz, tendo como
principais atividades a criação de gado e os cultivos, inclusive de cana-de-açúcar.5
Em 1759, com a expulsão dos jesuítas do país, a Fazenda passa a ser propriedade
real e a região atravessa um período de decadência econômica.6
4
FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE
JANEIRO, 1976, p. 61.
5
FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE
JANEIRO, op. cit., p. 65.
6
FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE
JANEIRO, loc. cit.
7
FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE
JANEIRO, loc. cit.
17
A área central do Rio de Janeiro, que passa a ser beneficiada com obras de
arruamento, calçamento, saneamento, tem significativo adensamento populacional,11
diante do fluxo migratório interno oriundo das áreas degradadas da população
cafeeira, da imigração de trabalhadores estrangeiros não qualificados e,
posteriormente, de escravos libertos, resultando em inúmeros cortiços (moradias
precárias e intensamente povoadas). A questão habitacional do Rio de Janeiro, em
especial da área central, que já havia começado com a chegada da família real ao
8
RABHA, 2008, p. 20.
9
FURTADO, 1988, p. 8. FURTADO destaca que neste período de surto manufatureiro-industrial
diversas fábricas vão se instalar no entorno da cidade, “escolhendo localizações onde possam tirar
partido da presença de cursos d’água, de vastas áreas desocupadas e do recém-implantado serviço
de transportes”. Para atender a força de trabalho, nestes locais, serão construídas habitações
operárias pelas fábricas. Especificamente em relação à Zona Oeste, destaca-se a construção da
Fábrica de Tecidos Bangu, que gera a imediata inauguração da estação Bangu no Ramal de Santa
Cruz e que vai transformar não somente o entorno, mas como todo este ramal (p.9).
10
MURILLO MARX afirma: “A Lei de Terras de 1850 inaugurou um novo sistema geral de obtenção e
de transmissão de terras entre nós. Tal sistema, significativamente, muito tardou, tendo sido o de
sesmarias suspenso uma geração antes, porém não substituído até o seu advento. A Lei de Terras
estabeleceu como única forma possível de adquirir ou de transmitir a outrem que não os herdeiros a
compra e venda de terras. Calcava-se assim na afirmação avassaladora do liberalismo, na
experiência da Revolução Francesa, assim como no importante trato da questão que se dava com a
conquista das terras imensas e virgens da América do Norte”. MARX, 1991, p. 119.
11
SCHULTZ, 2008, pp. 161-163.
18
12
RABHA, op. cit., p. 35.
13
BENCHIMOL, 1992, p. 124.
14
RABHA, op. cit., p. 36.
15
ABREU, 1996, p. 171.
16
RABHA, op. cit., p. 36.
17
FURTADO, op. cit., p. 2.
18
FROES; GELABERT, 2004, p. 195.
19
19
FUNDREM, op. cit., p. 66.
20
RABHA, op. cit., p. 94.
21
Ibid, p. 41
22
RABHA, loc. cit.
23
Ibid, p. 147.
20
promulgue uma lei que obrigue o aproveitamento de sangue, tal como ocorre em
países europeus.
24
ABREU, 2008, p. 37. O autor afirma, ainda, que “trem, subúrbio e população de baixa renda
passavam a ser sinônimos aos quais se contrapunha a associação bonde/zona sul/’estilo de vida
moderno’”. Op. Cit., p. 57.
25
O número refere-se ao ano de 1870. Importante destacar que o bairro possui uma taxa de
crescimento negativa de 6%, em relação ao ano de 1838, no qual sua população residente era de
3.677 habitantes. Ibid, p. 39.
26
Ibid, p. 11.
21
27
Ibid, p.72.
28
Ibid, p. 80.
29
Ibid, p. 100.
30
Ibid, p. 99.
31
Ibid, p. 101.
32
DOMINGUEZ PEREZ, 2007, p. 215.
33
Ibid, p. 216.
22
Com uma pequena parte dos próprios recursos adquiriu e loteou dois distritos
industriais na avenida Brasil e em Santa Cruz. Este último era um local
privilegiado, disposto numa extensão planície, com as águas do rio Guandu,
do rio Paraíba e do canal de São Francisco atravessando toda região,
próximo a hidrelétricas da Light, com vias de acesso para o escoamento da
produção, podendo atingir a via Dutra através de Itaguaí sem entrar em
perímetro urbano ou utilizando o ramal de Mangaratiba da Rede Ferroviária. 35
No entanto, se o distrito localizado na Avenida Brasil teve todo terreno
vendido, do distrito de Santa Cruz, que dispunha de 7,2 milhões de metros
quadrados, somente vendeu-se 5% dos lotes.36 E, sobre os resultados desta política
de Lacerda, que se perpetuou nos dois governos subseqüentes (Negrão de Lima e
Chagas de Freitas), Dominguez Perez afirma:
34
DOMINGUEZ PEREZ, loc. cit.
35
DOMINGUEZ PEREZ, loc. cit.
36
DOMINGUEZ PEREZ, loc. cit.
37
Ibid, p. 218.
38
Ibid, p. 233.
23
39
RABHA, 2006, p. 164.
40
Ibid, p. 182.
41
GUANABARA (Estado), 1974, [12 p.].
42
Ibid, [13 p.].
24
43
RIO DE JANEIRO. MUNICÍPIO, 1976, p. 238.
44
Ibid, p. 266.
45
RIO DE JANEIRO. MUNICÍPIO, loc. cit.
25
Se lotear terrenos e dar crédito não bastava para atrair indústria, é preciso
concluir que o crescimento do Rio de Janeiro teria de se pautar por outro
modelo que levasse em conta as especificidades dos agentes econômicos
locais e aproveitasse os pontos fortes já existentes na economia carioca.
Mas não podemos exigir do passado a perspectiva que só o presente
fornece: naquele momento, as zonas industriais eram unanimidade entre
especialistas.49
Construído na década de 1970, o Porto de Sepetiba, que se localiza no
Município de Itaguaí, foi inaugurado em 1982, e
46
RIO DE JANEIRO. MUNICÍPIO, loc. cit.
47
RIO DE JANEIRO. MUNICÍPIO, loc. cit.
48
Ibid, p. 269.
49
DOMINGUEZ PEREZ, op. cit, p. 219.
26
50
SANTOS, 1999, p. 75. O autor ainda afirma que nenhum destes projetos foi bem sucedido, tendo o
porto, desde o início, se ocupado basicamente da demanda de carvão para CSN e alumina destinada
à Valesul.
51
INSTITUTO MUNICIPAL DE URBANISMO PEREIRA PASSOS, 2008.
27
Por outro lado, é importante destacar que o local vem sofrendo um intenso
processo de contaminação, desde a instalação das primeiras indústrias, culminando
com a situação crítica ocasionada pela Companhia Mercantil Industrial Ingá, que
resultou em um dos maiores passivos ambientais de que se tem notícia no país.
Nas palavras de Freitas e Porto, constata-se a:
52
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal. Disponível em
http://www.pnud.org.br/pdf/Tabela%206.2.22%20IDH%20bairro%2091_00-15_12_03.xls. Acesso em
09 de julho de 2011.
53
FREITAS; PORTO, 2006, p.107.
28
54
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006b, p. 8-9.
55
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006b, 13-15. No
entanto, na sua conclusão, o Parecer Técnico afirma que os sistemas de controle da poluição do ar
propostos são adequados e atendem aos padrões estabelecidos na legislação vigente (p. 60).
29
Por fim, é importante destacar que o local, que se pretende caracterizar como
uma zona de vocação industrial, igualmente possui reconhecido valor ecológico,
56
ACSELRAD, 2004, p. 12-13.
57
COUTINHO, 2004, p. 49.
58
ACSELRAD, op. cit, p. 13.
59
ACSELRAD, 2009a, p. 41.
60
FREITAS; PORTO, op. cit., p. 25.
30
O conhecido alto índice de poluição, no entanto, não foi suficiente para alterar
a política de incentivos de grandes indústrias para o local, o que continua resultando
em maiores danos à população. No capítulo 3, pretende-se avaliar as políticas
atuais para o Bairro, que incluem a implantação de uma grande siderúrgica, cujo
licenciamento ambiental prévio será detalhadamente analisado. Com intuito de
possibilitar as discussões sobre o caso em análise, no capítulo 2 apresentam-se as
principais normas sobre licenciamento ambiental, áreas de preservação permanente
e compensação pelos impactos não mitigáveis.
31
61
LEMOS, trabalho em fase de elaboração.
62
FERNANDES, 2005, p. 62.
32
68
A exigência de licenciamento ambiental ocorre, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, desde
1975, com a edição do Decreto-Lei 134/75, que foi regulamentado pelo Decreto 1633/1977, que
instituiu o Sistema Estadual de Licenciamento de Atividades Poluidoras (SLAP), com o objetivo de
“disciplinar a implantação e funcionamento de qualquer equipamento ou atividade que forem
considerados poluidores ou potencialmente poluidores, bem como de qualquer equipamento e
combate à poluição do meio ambiente, no Estado do Rio de Janeiro” (artigo 2º). Atualmente, o
licenciamento ambiental encontra-se regido pelo Decreto estadual 42.159/2009, que institui o Sistema
de Licenciamento Ambiental (SLAM).
No âmbito nacional, a exigência surge com a Lei federal 6.803/1980, que Dispõe sobre as diretrizes
básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, e, em seguida, foi tratada de
forma mais ampla pela Lei federal 6.938/1981, que será analisado adiante.
69
FINK; MACEDO, 2004, p. 03.
34
não mais, tem o Poder Público uma mera faculdade na matéria, mas está
atado por verdadeiro dever. Quanto à possibilidade de ação positiva de
defesa e preservação, sua atuação transforma-se de discricionária em
vinculada. Sai da esfera da conveniência e oportunidade para ingressar num
campo estritamente delimitado, o da imposição, onde só cabe um único, e
nada mais que único, comportamento: defender e proteger o meio ambiente.
Não cabe, pois, à Administração deixar de proteger e preservar o meio
ambiente a pretexto de que tal não se encontra entre suas prioridades
públicas. Repita-se, a matéria não mais se insere no campo da
discricionariedade administrativa. O Poder Público, a partir da Constituição
de 1988, não atua porque quer, mas porque assim lhe é determinado pelo
70
legislador maior.
Neste sentido, a Constituição Federal de 1988 determina:
70
MILARÉ, 2011, p. 190.
35
71
Nos termos do artigo 5º do Decreto federal 99.274/1990, compõem o Plenário do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA):
- o Ministro de Estado do Meio Ambiente, que o presidirá;
- o Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente, que será o seu Secretário-Executivo;
- um representante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA);
- um representante da Agência Nacional de Águas (ANA);
- um representante de cada um dos Ministérios, das Secretarias da Presidência da República e dos
Comandos Militares do Ministério da Defesa, indicados pelos respectivos titulares;
- um representante de cada um dos Governos Estaduais e do Distrito Federal, indicados pelos
respectivos governadores;
- oito representantes dos Governos Municipais que possuam órgão ambiental estruturado e Conselho
de Meio Ambiente com caráter deliberativo, sendo: um representante de cada região geográfica do
País; um representante da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente; dois representantes
de entidades municipalistas de âmbito nacional;
- vinte e dois representantes de entidades de trabalhadores e da sociedade civil, sendo: dois
representantes de entidades ambientalistas de cada uma das Regiões Geográficas do País; um
representante de entidade ambientalista de âmbito nacional; três representantes de associações
legalmente constituídas para a defesa dos recursos naturais e do combate à poluição, de livre
escolha do Presidente da República; (uma vaga não possui indicação); um representante de
entidades profissionais, de âmbito nacional, com atuação na área ambiental e de saneamento,
indicado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental; um representante de
trabalhadores indicado pelas centrais sindicais e confederações de trabalhadores da área urbana
(Central Única dos Trabalhadores, Força Sindical, Confederação Geral dos Trabalhadores,
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria e Confederação Nacional dos Trabalhadores
no Comércio); um representante de trabalhadores da área rural, indicado pela Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura; um representante de populações tradicionais, escolhido
em processo coordenado pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Populações
Tradicionais /IBAMA; um representante da comunidade indígena indicado pelo Conselho de
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil; um representante da comunidade
científica, indicado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência; um representante do
Conselho Nacional de Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares-;
um representante da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza;
- oito representantes de entidades empresariais; e
- um membro honorário indicado pelo Plenário.
72
O poder normativo do CONAMA, do qual resulta a possibilidade de edição de resoluções, tem
previsão legal no artigo 8º da Lei federal 6.938/81. No âmbito do Direito, existe grande controvérsia
quanto ao poder normativo de tais órgãos colegiados, como o CONAMA e agências reguladoras,
debate que fugiria ao objeto desta Dissertação. No entanto, no que se refere às normas ambientais,
a legalidade de edição de resolução pelo CONAMA para regular certas matérias, tal como ocorre com
a competência para licenciamento ambiental, que será analisada no item 3.1 desta Dissertação, é
polêmica. É certo que as resoluções do CONAMA adquirem maior importância nos casos em que lei
36
não regula o assunto, seja pela não edição da norma ou pela atribuição, ao CONAMA, pela própria
lei, da competência para decidir sobre o conteúdo, como ocorreu na definição de outros casos que
possibilitam a intervenção em áreas de preservação permanente.
73
Pode-se dizer que, conforme entendimento que vem predominando na doutrina, a diferença entre
eles situa-se na incerteza científica quanto às conseqüências ambientais adversas que podem ser
produzidas por determinada atividade ou substância. Neste sentido, o princípio da prevenção refere-
se aos casos em que se tenha certeza do dano ambiental, pressupondo, desta forma, a pesquisa e a
informação organizada. Por outro lado, o princípio da precaução seria o aplicado quando, num
contexto de incerteza científica, existir a eventualidade de ocorrência de danos graves e irreversíveis.
MATEO, Ramón Martín. Derecho Ambiental. pp. 85-86. Apud MILARÉ, op. cit., 2011, p. 1070.
74
FINK; MACEDO, op. cit., p. 03.
75
MACHADO, 2010, p. 288.
37
76
Como exemplos de estudos previstos na legislação mencionam-se o Relatório Ambiental
Simplificado – RAS, disciplinado pela Resolução CONAMA 279/2001, para empreendimentos
elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental, e o Relatório de Controle Ambiental – RCA,
tratado na Resolução CONAMA 10/90, para explotação de bens minerais da Classe II que tenham
sido dispensados da apresentação dos Estudos Prévio de Impacto Ambiental. Além disso, outros
estudos ambientais poderão ser realizados no curso do procedimento de licenciamento ambiental
com o objetivo de complementar a análise do empreendimento ou atividade, nos termos do artigo 1º,
III e 10, I da Resolução CONAMA 237/97.
77
TESSLER, 2007, p.95.
38
78
MACHADO, op. cit., p. 298.
79
Como visto, a Constituição Federal exige que a instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente seja precedida de estudo prévio de impacto
ambiental (artigo 225, §1º, IV). No entanto, a norma constitucional determina que a lei deverá definir
que se entende como atividade ou empreendimento de significativo impacto. Até o presente
momento, ou seja, mais de 20 anos depois da edição da norma, ainda não foi editada tal lei,
encontrando-se a questão regulada pela Resolução CONAMA 01/86, que vem sendo reconhecida,
pela jurisprudência, como norma válida, embora não possua o status de lei exigido pela Constituição
Federal.
Não obstante, o conceito de significativo impacto ambiental torna-se constante objeto de disputa, seja
para dispensar de Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) as atividades listadas na Resolução
CONAMA 01/86, ou, ainda, para assim classificá-la, ainda que a atividade não esteja na mencionada
lista.
80
As atividades e empreendimentos capazes de causar degradação ou impactos ambientais devem
se submeter ao prévio licenciamento ambiental. Dentre estas, as que forem capazes de causar
significativa degradação ou impacto ambientais, no curso do processo de licenciamento, deve ser
elaborado o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, e seu respectivo Relatório de Impacto ao Meio
Ambiente (EIA/RIMA).
39
O EPIA tem o seu procedimento próprio, mas levará em conta os estudos que
o precederam, inclusive no aspecto econômico. No balanceamento dos
interesses em jogo na elaboração do projeto, será identificados os prejuízos e
as vantagens que advirão para os diversos segmentos sociais. Por exemplo:
o número e a quantidade de empregos a serem criados pelo
empreendimento, a distância do projeto da zona da residência dos
empregados, a necessidade de migração e/ou de imigração para a mão-de-
obra a ser empregada, as condições de sanidade profissional na atividade, a
probabilidade de maior ou menor ocorrência de acidentes de trabalho, a
possibilidade de utilização de deficientes físicos na atividade, o emprego de
reeducandos egressos de penitenciárias, e, quando o projeto for de grande
porte, sua influência na distribuição de renda, considerada a região e o
próprio país.81
Por outro lado, o licenciamento ambiental adquiriu importância na gestão do
meio ambiente no país também pela maior possibilidade de participação da
população nas discussões sobre as atividades e empreendimentos propostos, em
especial em audiências públicas realizadas no curso do procedimento que envolva a
realização de EIA/RIMA, tal como exige a Constituição Federal e determina a
Resolução CONAMA 01/86 que consagra a obrigatoriedade de transparência das
informações, exceto nos casos de sigilo industrial, devidamente justificado (art. 11
da Resolução CONAMA 01/86).
81
MACHADO, op. cit, p. 253.
40
ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou
eletrônico, especialmente as relativas a políticas, planos e programas
potencialmente causadores de impacto ambiental” (artigo 2º, II).
82
MACHADO, op. cit, p. 185.
41
Assim, de acordo com a legislação em vigor, não basta que a empresa paute
a escolha da localização de sua planta com base em critérios econômicos, mas
igualmente deverá ser considerada a legislação ambiental que rege o exercício da
atividade que se pretende desenvolver e, ainda, que incide sobre o local pretendido,
já que deverão ser obtidas as licenças ambientais pertinentes, que somente podem
ser expedidas após o atendimento das normas em vigor.
85
O conceito de impacto ambiental da Resolução CONAMA 01/86 encontra-se vinculado às
atividades humanas, ou seja, apenas atividades humanas são capazes de causar impactos
ambientais, e, como é extremante abrangente, deve ser interpretado dentro dos limites de
razoabilidade, sob pena de alcançar toda e qualquer ação humana.
86
Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades
técnicas:
I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise dos recursos
ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área,
antes da implantação do projeto, considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a topografia,
os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as
correntes atmosféricas;
43
A análise do pedido de licença ambiental deve ser feita pelo ente federativo
competente, nos termos das regras estabelecidas pela Constituição Federal. A
competência para o licenciamento ambiental inclui-se na competência executiva, ou
seja, a que “engloba poderes para o ente público realizar atividades que não legislar.
É competência não-legislativa, de cunho administrativo, material, em que se
Tal competência deve ser orientada para que a atuação dos entes ocorra de
forma ordenada, e sem interposições de tarefas e, neste sentido, o parágrafo único
do art. 23 da Carta Magna determina que “Lei complementar fixará normas para a
cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em
vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional”. Assim, a
Constituição Federal de 1988, ao mesmo tempo, atribui a competência para o
licenciamento ambiental a todos os entes federativos e exige que seja editada uma
lei complementar que irá estabelecer os critérios para que a atuação ocorra de forma
ordenada e sem a indesejada sobreposição de ações.
Em matéria ambiental, até o presente momento, ainda não foi editada a lei
complementar que regulará a atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios,91 o que torna a definição do órgão competente para o licenciamento
88
MATTOS NETO, 1999, p. 126.
89
É importante destacar que a Constituição Federal expressamente atribui ao Poder Público o dever
de defender e proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, em seu artigo 225.
90
MILARÉ, op. cit, p. 521.
91
Encontra-se em tramitação no Congresso Nacional, o Projeto de Lei Complementar (PLC) de nº
388/2007, que fixa normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à
proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em
qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora, previstas no art. 23,
incisos III, VI e VII, da Constituição. Com poucos artigos, o PLC pretende encerrar profundas
controvérsias surgidas no cotidiano da atuação dos órgãos públicos ambientais.
O PLC estabelece ser de competência da União: art. 6º, inciso XV: “promover o licenciamento
ambiental das atividades ou empreendimentos, a saber: a) que causem ou possam causar impacto
ambiental direto de âmbito nacional ou regional; b) localizados ou desenvolvidas conjuntamente no
Brasil e em país limítrofe; c) localizados na plataforma continental, na zona econômica exclusiva, em
45
Em que pese ainda não ter sido editada a mencionada lei complementar, a
Lei federal 6.938/1981 e a Resolução CONAMA 237/1997 trazem regras sobre a
competência para o licenciamento ambiental, mas que suscitam controvérsias
quanto à sua constitucionalidade, tendo em vista que o estabelecimento de normas
para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
deve ser veiculado em lei complementar.93
94
Art. 10 A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades
utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os
capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento
de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo,
sem prejuízo de outras licenças exigíveis. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)
[...]
§ 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA o
licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com significativo impacto
ambiental, de âmbito nacional ou regional. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)
95
MACHADO, op. cit, p. 290.
96
LUCIA VALLE FIGUEIREDO posiciona-se neste sentido: “A Lei 6.938, de 31.08.1981 foi recebida
pela Constituição, consoante entendemos, como norma geral e, até mesmo, foi modificada depois da
Constituição de 1988”. FIGUEIREDO, 2004, p. 53.
47
97
Art. 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei nº
6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo impacto
ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber:
I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na
plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de
conservação do domínio da União.
II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais
Estados;
IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material
radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e
aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN;
V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica.
[...]
Art. 5º - Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o licenciamento ambiental dos
empreendimentos e atividades:
I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de conservação de
domínio estadual ou do Distrito Federal;
II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação
permanente relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que
assim forem consideradas por normas federais, estaduais ou municipais;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios;
IV – delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio.
Art. 6º Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes da União, dos
Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e
atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por
instrumento legal ou convênio.
98
ÉDIS MILARÉ afirma que “a Resolução CONAMA 237/1997, ampliando o critério estabelecido na
Lei 6.938/1981, fundado exclusivamente no ‘alcance dos impactos ambientais’, adotou um critério
misto – baseado não só na abrangência dos impactos diretos, como também na localização ou
natureza da atividade/empreendimento e na dominialidade do bem sujeito a interferência – para
definição do órgão licenciador, conferindo o licenciamento a um único nível de competência”.
MILARÉ, op. cit, p.528.
99
FRANCISCO THOMAZ VAN ACKER afirma “que o CONAMA, ao arrepio das disposições
expressas no art.8º, inc. I, e no art. 10 da Lei 6.938/81, excedeu os limites de suas atribuições legais,
alterou disposições da lei federal e pretendeu, indevidamente, substituir-se à futura Lei complementar
fixadora das normas de cooperação entre os três níveis de governo na matéria de competência
comum”. VAN ACKER, 1997, p. 190.
48
102
MACHADO, op. cit, p. 244.
103
Artigo 5º. O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial os princípios
e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes
diretrizes gerais:
50
105
ANTUNES, op. cit, p. 307.
106
O conceito de espaços territoriais especialmente protegidos surgiu com a Constituição Federal de
1988, em seu artigo 225, §1º, III, que impõe a obrigação de sua definição ao Poder Público, e
estabelece que a alteração e supressão somente é permitida através de lei.
107
Com relação às limitações administrativas que incidem sobre as áreas de preservação
permanente, destacam-se as palavras de GUILHERME JOSÉ PURVIN DE FIGUEREDO: “A
limitação administrativa estabelecida pela instituição das áreas de preservação permanente consiste
em sua imodificabilidade. A regra, porém, não é absoluta. O art. 3º, §1º e o art. 4º e seus parágrafos
(redação dada pela Medida Provisória 2.166-67/2001) regulamentam as hipóteses de supressão total
ou parcial da vegetação, que serão admitidos, mediante prévia autorização do órgão ambiental
competente [...]”. FIGUEREDO, 2004, p. 214.
52
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto
em faixa marginal cuja largura mínima será:
1 – de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros
de largura;
2 – de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a
50 (cinquenta) metros de largura;
3 – de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta)
a 200 (duzentos) metros de largura;
4 – de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200
(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
5 – de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água",
qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50
(cinquenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente
a 100% na linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do
relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a
vegetação. (art. 2º da Lei 4.771/1965)
Além destas, menciona-se que a Constituição do Estado do Rio de Janeiro
aumenta o rol das áreas de preservação permanente, incluindo, nesta categoria, os
mangues, as praias, os costões rochosos, as faixas marginais de proteção, dentre
outros (artigo 268).
determinados objetivos, dentre eles, “atenuar a erosão das terras”, “fixar as dunas”,
“proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico, “assegurar
condições de bem-estar público” (art. 3º da Lei 4.771/1965).
No entanto, ao longo dos anos, o texto do Código Florestal foi alterado para
constar expressamente um regime de supressão das áreas de preservação
permanente, destacando-se, dentre as medidas provisórias editadas, a Medida
Provisória 1.605-30, que alterou os parágrafos do art. 3º.110 Porém, foi com a
108
O artigo 4º, em sua redação original, do Código Florestal considerava como de interesse público
os seguintes casos: interesse público: (i) a limitação e o controle do pastoreio em determinadas
áreas, visando à adequada conservação e propagação da vegetação florestal; (ii) as medidas com o
fim de prevenir ou erradicar pragas e doenças que afetem a vegetação florestal; (iii) a difusão e a
adoção de métodos tecnológicos que visem a aumentar economicamente a vida útil da madeira e o
seu maior aproveitamento em todas as fases de manipulação e transformação.
109
Neste sentido, o art. 11, III, ‘c’, da Lei Complementar 95/98, que trata da elaboração, a redação, a
alteração e a consolidação das leis, determina, para obter ordem lógica nas disposições normativas,
que se expresse “por meio dos parágrafos os aspectos complementares à norma enunciada no caput
do artigo e as exceções à regra por este estabelecida”.
110
Os dispositivos passaram a ter a seguinte redação:
§ 1º. A supressão total ou parcial de florestas e demais formas de vegetação permanente de que
trata esta Lei, devidamente caracterizada em procedimento administrativo próprio e com prévia
autorização do órgão federal de meio ambiente, somente será admitida quando necessária à
execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social, sem
prejuízo do licenciamento a ser procedido pelo órgão ambiental competente.
54
113
Além da compensação para implantação de empreendimentos causadores de significativo impacto
ambiental, BECHARA destaca que a legislação ambiental ainda prevê a compensação por dano
ambiental irreversível, a compensação para supressão de área de preservação, a compensação de
reserva legal, a compensação para supressão de mata atlântica. BECHARA, 2009, p. 137.
57
Assim, pelo fato de pretender instalar uma atividade que seja potencialmente
causadora de significativa degradação ambiental, o empreendedor é obrigado a
apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de
Proteção Integral, nos termos e percentuais estabelecidos na legislação.
114
Ação Direta de Inconstitucionalidade 3378-DF, Relator Ministro Carlos Britto, julgada em
09/04/2008, com a seguinte ementa:
“Ação Direta de Inconstitucionalidade. Art. 36 e seus §§ 1º, 2º e 3º da Lei 9.985, de 18 de julho de
2000. Constitucionalidade da compensação devida pela implantação de empreendimentos de
significativo impacto ambiental. Inconstitucionalidade parcial do § 1º do artigo 36.
1. O compartilhamento-compensação ambiental de que trata o art. 36 da Lei nº 9.985/2000 não
ofende o princípio da legalidade, dado haver sido a própria lei que previu o modo de financiamento
dos gastos com as unidades de conservação da natureza. De igual forma, não há violação ao
princípio da separação dos Poderes, por não se tratar de delegação do Poder Legislativo para o
Executivo impor deveres aos administrados.
2. Compete ao órgão licenciador fixar o quantum da compensação, de acordo com a compostura do
impacto ambiental a ser dimensionado no relatório – EIA/RIMA.
3. O art. 36 da Lei nº 9.985/2000 densifica o princípio usuário-pagador, este a significar um
mecanismo de assunção partilhada da responsabilidade social pelos custos ambientais derivados da
atividade econômica.
4. Inexistente desrespeito ao postulado da razoabilidade. Compensação ambiental que se revela
como instrumento adequado à defesa e preservação do meio ambiente para as presentes e futuras
gerações, não havendo outro meio eficaz para atingir essa finalidade constitucional. Medida
amplamente compensada pelos benefícios que sempre resultam de um meio ambiente
ecologicamente garantido em sua higidez.
5. Inconstitucionalidade da expressão "não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais
previstos para a implantação do empreendimento", no § 1º do art. 36 da Lei nº 9.985/2000. O valor da
compensação-compartilhamento é de ser fixado proporcionalmente ao impacto ambiental, após
estudo em que se assegurem o contraditório e a ampla defesa. Prescindibilidade da fixação de
percentual sobre os custos do empreendimento.
6. Ação parcialmente procedente.”
58
115
MACHADO, op. cit, p. 69-70.
59
Por outro lado, o local escolhido para instalação da TKCSA pode ser
caracterizado como uma zona de exclusão, que, desde o final do século XIX, vem
recebendo os designados ‘usos sujos’, conhecidos por produzirem impactos
negativos e incômodos à população. Em que pese a industrialização sugerida ao
local estar atrelada a idéia de crescimento econômico, o que se tem visto é que não
houve melhora nas condições da população local, que, ainda, perde qualidade de
vida e a possibilidade de continuar exercendo atividades tradicionais, como a pesca
artesanal e agricultura.
116
Informações disponíveis no site http://www.acobrasil.org.br/site/portugues/numeros/numeros--
mercado.asp. Acesso em: 09 jul. 2011.
117
FREITAS; PORTO, op. cit., p. 100.
60
118
Descrição apresentada pela empresa na ocasião da solicitação da licença prévia, por meio do
processo E-07/200.751/2005.
61
119
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006b, p. 2-3.
62
120
Informações disponíveis no site http://www.thyssenkrupp-steel-europe.com/csa/pt/strategie/.
Acesso em: 09 jul. 2011.
121
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006b, p. 4-5.
122
Informações disponíveis em http://www.vale.com/pt-br/o-que-
fazemos/siderurgia/Paginas/default.aspx. Acesso em 09 de julho de 2011.
123
BNDES aprova financiamento de R$ 1,48 bilhão à CSA. Rio de Janeiro, 20 de junho de 2007,
Economia e Negócios. Disponível em
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,AA1568875-9356,00-
BNDES+APROVA+FINANCIAMENTO+DE+R+BILHAO+A+CSA.html. Acesso em: 02 jul. 2011. O
GLOBO.
124
Informações disponíveis em
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Produtos/FINAM
E_Maquinas_e_Equipamentos/bk_concorrencia_internacional.html. Acesso em: 09 jul. 2011.
63
125
Lula: 'RJ se tornará um grande Estado industrial'. Rio de Janeiro, 31 de março de 2008,
Economia e Negócios. Disponível em
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL381806-9356,00-
LULA+RJ+SE+TORNARA+UM+GRANDE+ESTADO+INDUSTRIAL.html. Acesso em: 02 jul. 2011. O
GLOBO.
64
126
Matéria publicado no jornal O Globo de 17 de junho de 2011.
127
Informações disponíveis em
http://www.palaciodacidade.rio.rj.gov.br/site/conteudo/ultimas.asp?Pagina=71. Acesso em: 09 jul.
2011.
65
No entanto, na zona rural de São Luís existem vários povoados que utilizam o
território para sua reprodução, inclusive com proposta, em curso no Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), de instituição de uma reserva
extrativista – a Reserva Extrativista de Tauá-Mirim.134 O projeto, diretamente,
acarretaria a remoção de 14.000 pessoas distribuídas em doze povoados (Vila
Maranhão, Taim, Cajueiro, Rio dos Cachorros, Porto Grande, Limoeiro, São
131
LIMA, 2009, p. 230.
132
PLATAFORMA BRASILEIRA DE DIREITOS HUMANOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E
CULTURAIS, 2006, p. 20.
133
SOUZA, Allan de Andrade. O ambiente, a política e o espetáculo: a Lei de Zoneamento e o
projeto do Pólo Siderúrgico de São Luís. In SANT’ANA JÚNIOR, Horácio Antunes de et al (org.).
Ecos dos conflitos socioambientais: A Resex de Tauá-Mirim. São Luis: EDUFMA, 2009, p. 70.
134
De acordo com a legislação, as reservas extrativistas “é uma área utilizada por populações
extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na
agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos
proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos
naturais da unidade” (artigo 18 da Lei federal 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza).
67
Neste cenário, houve um grande debate público sobre o projeto, inclusive por
meio das audiências públicas realizadas para discussão do projeto de lei
encaminhado à Câmara, que foram cercadas de polêmicas, questionando-se
especialmente a escolha da opção de ampliação da área industrial em detrimento
dos atuais usos do local. Criou-se um movimento, designado de Reage São Luís,
composto por entidades da sociedade civil maranhense e representantes de
comunidades contrárias ao empreendimento.
135
SANT’ANA JÚNIOR, 2009, p. 30.
136
PLATAFORMA BRASILEIRA DE DIREITOS HUMANOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E
CULTURAIS, 2006, p. 23.
68
137
Com objetivo de facilitar a abordagem dos assuntos, os dados do processo E-07/202.952/2006
referente à dragagem, ao aterro e ao terminal portuário serão referidos como o processo do terminal
portuário e os do processo E-07/200.751/2005 relativo à usina siderúrgica serão mencionados como
processo da usina.
138
ERM BRASIL LTDA, 2005, p. 16.
69
139
Descrição apresentada pelo empreendedor na ocasião da solicitação da licença prévia, por meio
do processo E-07/200.751/2005.
140
A solicitação foi analisada no processo E-07/202.952/2005, que foi complementada com as
seguintes informações trazidas pela empresa: “A partir deste volume será executado um aterro
hidráulico no terreno destinado à implantação de um futuro empreendimento siderúrgico, visando criar
condições para o uso industrial, a partir de material de empréstimo extraído de jazida de areia
localizada a uma profundidade média de 6m da Baía de Sepetiba, defronte ao terreno supra citado.
Estima-se um volume de aproximadamente 7.000.000 metros cúbicos, com altura média aproximada
de 3,5m, sendo que os 2 metros iniciais destinam-se à regularização da cota final das instalações
industriais, enquanto os 1,5m finais têm como objetivo a função de pré-carregamento, para permitir o
recalque acelerado do terreno em função das condições locais do solo. O material do aterro será
transportado hidraulicamente através de tubulação, vindo de uma draga do tipo sucção e recalque,
com capacidade de recalcar este material a uma distância aproximada de 8km” (fls. 02).
141
Mencione-se que foi editada, ainda, a Portaria SERLA 451, de 29 de março de 2008, que outorga
à TKCSA o direito de uso sobre recursos hídricos no Canal de São Francisco, em uma vazão máxima
instantânea e vazão média mensal de 10.800 metros cúbicos por hora, bem como uma vazão
máxima instantânea e vazão média mensal de efluente tratado de 9.000 metros cúbicos por hora.
Na Nota Técnica 002/2005/DGRH, emitida pela SERLA para orientar a submissão e análise do
pedido de outorga de direito de uso de recursos hídricos pela CSA, constam as seguintes
informações: “A SERLA solicitou que todas as demandas fizessem parte do mesmo processo, para
que o empreendimento venha a ser analisado como um todo. No entanto, já foram apresentadas
duas solicitações de outorga preventiva em processos distintos. A primeira solicitação foi referente
ao uso de água pela futura usina siderúrgica, com vazão de captação de 10.800 m3/h ou 3 m3/s,
protocolo E-07/100.888/05, no dia 16 de maio de 2005. E a segunda solicitação foi referente ao uso
de água da usina termoelétrica, com vazão de captação de 64.800 m3/h ou 18m3/s, protocolo E-
07/101.549/2005, no dia 29 de setembro de 2005. Os processos deverão ser unificados sob o
protocolo E-07/100.888/2005”.
142
A Instrução Técnica 05/05 foi elaborada pela FEEMA para orientar o desenvolvimento do
EIA/RIMA para atividade de usina siderúrgica da CSA em Santa Cruz com as seguintes unidades:
pátio de estocagem de carvão, coqueria/carboquímica, pátio de matérias primas, sinterização, alto
forno, aciaria ld, corrida contínua, fábrica de cal, captação e tratamento de água, central termelétrica.
143
A Instrução Técnica 18/05 foi elaborada para orientar o desenvolvimento do EIA/RIMA para os
serviços de dragagem, aterro hidráulico e terminal portuário, a serem desenvolvidos pela TKCSA.
70
144
A mencionada Lei é expressa ao afirmar que o não atendimento desta exigência anulará o
licenciamento ambiental (artigo 2º).
145
ERM BRASIL LTDA, op. cit., p.16.
146
ERM BRASIL LTDA, op. cit., p. 932.
71
Pelo que se verifica nos processos do órgão ambiental estadual, bem como
nos estudos apresentados, a análise conjunta e integrada do Complexo Siderúrgico,
exceto nos pontos acima destacados que foram objeto do EIA do Terminal Portuário
do Centro Atlântico, não foi realizada, ou, caso que tenha sido feita, não é possível
constatar que tenha sido elaborada.
151
INSTITUTO POLÍTICAS ALTERNATIVAS PARA O CONE SUL, 2009.
74
152
Conforme destacado anteriormente, foram elaborados dois EIAs, tendo em vista o
desmembramento dos processos de licenciamento. Tem-se, assim, o EIA da Usina Siderúrgica e o
EIA do Terminal Portuário (que inclui as obras necessárias à construção do Terminal Portuário:
aterro, dragagem e construção do píer).
153
Sobre a celeridade do processo de licença de instalação do terminal portuário, que envolve a
supressão de vegetação, importante transcrever trecho de parecer do IBAMA, constante na
Recomendação do Ministério Público Federal, no âmbito do Inquérito Civil nº 30/2008, de 03 de junho
de 2008: “uma análise minuciosa das datas dos documentos apresentados expõe uma celeridade
pouco vista no andamento de processos desta natureza – convém lembrar que se trata da maior
usina siderúrgica do mundo. A licença prévia fls. (235/237) foi concedida de 17 de julho de 2006 e
continha como condição de validade para ser apresentada por ocasião do requerimento de licença de
instalação ( item 6.10) “autorização para supressão de vegetação do órgão competente”. Não
obstante a complexidade do empreendimento cinqüenta dias após a emissão da L.P., no dia 05 de
setembro de 2006, a CECA delibera pela concessão da licença de instalação, tendo considerado que
foi apresentada a autorização IEF 17/2006 para supressão de vegetação em APP, por coincidência
exarada no mesmo dia que a Deliberação CECA/CLF nº 4728/2006. Mesmo considerando a
autorização do IEF, a CECA determina no artigo 2º da deliberação que a FEEMA faça constar como
condicionante da licença de instalação, a ser cumprida antes do início das obras , a anuência do
75
Todos fizeram um trabalho muito bom, não apenas hoje, mas nos últimos
dias, para produzir essa primeira placa. É um belo começo”, disse Dr. Hans L.
Fischer, presidente da ThyssenKrupp Steel Americas e presidente do
conselho de administração da ThyssenKrupp CSA. Dr. Herbert Eichelkraut,
presidente da ThyssenKrupp CSA declarou que “depois de mais de três anos
de trabalho árduo, produzimos a placa com extraordinária qualidade e forma.
Este foi o primeiro dia de produção e continuaremos otimizando o processo”.
Com a entrada em operação da aciaria, onde são produzidas as placas, a
CSA cumpre uma importante etapa de suas operações, iniciada em 18 de
junho, quando o presidente Lula compareceu na solenidade de inauguração
do complexo siderúrgico.154
De acordo com notícias veiculadas na mídia, a população reclama da
poluição gerada pela instalação e operação da empresa, além do barulho dos trens
que transportam minério de ferro que passam perto das casas na Avenida João
XXIII, sem qualquer espécie de cobertura que evite a produção de poluição.
Verificam-se, ainda, reclamações de produtores de aipim sobre o alagamento das
áreas destinadas à lavoura, por conta das obras de desvio do Canal de São
Fernando pela empresa.155
IBAMA face à intervenção em APP. Mesmo o IEF ao autorizar a supressão a condiciona à prévia
anuência do IBAMA.”
154
Informações obtidas no site http://www.thyssenkrupp-steel-
europe.com/csa/pt/news/pressrelease.jsp?cid=2776678, acesso em 03 de julho de 2011.
155
Audiência pública discute impactos ambientais provocados pela CSA. Rio de Janeiro, em 25
de maio de 2011. Disponível em: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1518128-
7823-
AUDIENCIA+PUBLICA+DISCUTE+IMPACTOS+AMBIENTAIS+PROVOCADOS+PELA+CSA,00.html.
Acesso em: 02 jul. 2011. BOM DIA RIO.
76
Importante destacar que o segundo alto forno foi autorizado por decreto do
Governador do Estado, conforme se verifica no relatório abaixo, tendo como partida
as emissões ocorridas em junho de 2010, com o funcionamento do primeiro alto
forno:
156
RIO DE JANEIRO. MINISTÉRIO PÚBLICO. MPRJ denuncia Usiminas por apresentar relatório
irregular de auditoria ambiental na TKCSA. Rio de Janeiro, de 01 de julho de 2011. Disponível
em: http://www5.mp.rj.gov.br/consultaClippingWeb/clipAtual.do?id=185134&abrePopUp=true. Acesso
em: 02 jul. 2011.
77
157
CSA precisa fazer modificações para conseguir licença de operação definitiva. Rio de
Janeiro, 30 de junho de 2011. Disponível em: http://g1.globo.com/videos/rio-de-janeiro/v/csa-precisa-
fazer-modificacoes-para-conseguir-licenca-de-operacao-definitiva/1551223/. Acesso em: 02 de jul.
2011. RJ-TV, 2ª edição.
158
GONÇALVES, Glauber. CSA anuncia investimento para conter poluição. O Estado de São
Paulo, São Paulo, 03 de fevereiro de 2011, Economia. Disponível em:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110203/not_imp674559,0.php. Acesso em: 02 jul. 2011.
159
RIO DE JANEIRO. MINISTÉRIO PÚBLICO. Promotores do MPRJ denunciam Companhia
Siderúrgica do Atlântico por crimes ambientais, de 03 de dezembro de 2010. Disponível em:
http://www.mp.rj.gov.br/portal/page/portal/Internet/Imprensa/Em_Destaque/Noticia?caid=293&iditem=
8270865. Acesso em: 02 jul. 2011.
160
RIO DE JANEIRO. MINISTÉRIO PÚBLICO. TKCSA é denunciada por crimes ambientais pela
segunda vez, de 08 de junho de 2011. Disponível em:
http://www5.mp.rj.gov.br/consultaClippingWeb/clipAtual.do?id=183792&exibindoTodasAsNoticias=tud
o. Acesso em: 02 jul. 2011.
78
161
RIO DE JANEIRO. MINISTÉRIO PÚBLICO. MPRJ denuncia Usiminas por apresentar relatório
irregular de auditoria ambiental na TKCSA. Rio de Janeiro, de 01 de julho de 2011. Disponível
em: http://www5.mp.rj.gov.br/consultaClippingWeb/clipAtual.do?id=185134&abrePopUp=true. Acesso
em: 02 jul. 2011.
162
Na ocasião do anúncio de tais medidas, a Secretaria de Estado do Ambiente indicou as seguintes
obras: dragagem do Canal de São Fernando e drenagem da comunidade onde vivem 750 famílias, no
valor de R$ 1 milhão, que serão executadas pelo Inea; pavimentação e asfaltamento de ruas das
comunidades da região, no valor de R$ 2 milhões, executadas pela Prefeitura do Rio; construção,
também pela prefeitura, de uma Clínica da Família para a comunidade, no valor de R$ 4 milhões; e
construção de um Centro de Referência para Tratamento de Hipertensão e Diabetes, de 2.500 metros
quadrados, pela Secretaria de Estado de Saúde e de Defesa Civil, de R$ 7 milhões. Informações
disponíveis em http://www.rj.gov.br/web/sea/exibeconteudo?article-id=347169. Acesso em: 03 jul.
2011.
163
Embora não seja objeto desta Dissertação, é importante indicar que algumas obras que vem
sendo anunciadas e realizadas pela CSA podem ser decorrentes de obrigações oriundas do próprio
processo de licenciamento ambiental, tal como ocorre com as que serão realizadas no Canal de São
Fernando. Conforme a própria empresa indica posteriormente, trata-se de uma contrapartida pela
utilização de área de propriedade do Estado. Neste sentido, a entrevista do Diretor de
Sustentabilidade da empresa que consta na reportagem BOM DIA RIO. Obra promete acabar com
os alagamentos em Santa Cruz. Rio de Janeiro, em 20 de junho de 2011. Disponível em:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1540969-7823-
OBRA+PROMETE+ACABAR+COM+OS+ALAGAMENTOS+EM+SANTA+CRUZ,00.html. Acesso em:
03 jul. 2011. BOM DIA RIO. Destaca-se que não se tem como afirmar a exata coincidência entre as
obras anunciadas e as decorrentes do licenciamento, o que demandaria extensa pesquisa e foge ao
objeto desta Dissertação.
79
Os impactos que devem ser analisados pelo EIA/RIMA incluem os que serão
suportados pela população, bem como pelas demais atividades sociais e
econômicas. Ou seja, a análise feita no EIA deve incluir “o uso e ocupação do solo,
os usos da água e a socioeconomia, destacando os sítios e monumentos
arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência
entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura
desses recursos” (artigo 6º, I, c da Resolução CONAMA 01/86).164 Neste sentido, as
Instruções Técnicas da usina siderúrgica e do terminal portuário determinam que os
Estudos referentes ao empreendimento em questão analisem os impactos
ambientais com ênfase especial, dentre outros, na população.
164
Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades
técnicas:
I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise dos recursos
ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área,
antes da implantação do projeto, considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a topografia,
os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as
correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as espécies
indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção
e as áreas de preservação permanente;
c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-economia,
destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações
de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses
recursos.
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação,
previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes,
discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos
e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas
propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos de
controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas.
lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos positivos e
negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.
Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambiental o órgão estadual
competente; ou o IBAMA ou quando couber, o Município fornecerá as instruções adicionais que se
fizerem necessárias, pelas peculiaridades do projeto e características ambientais da área.
80
165
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p. 915. Nas páginas seguintes, o EIA lista os impactos
socioeconômicos positivos na fase de implantação: aumento da oferta de empregos diretos, aumento
da oferta de empregos indiretos, difusão de conhecimento e aprendizado, aquecimento de mercado
imobiliário, aumento do poder aquisitivo, aumento de padrão de consumo, dinamização da economia,
estímulo ao empreendedorismo, melhoria de orçamento fiscal, arrecadação de contribuições
previdenciárias, contribuição para a balança de pagamentos, melhoria de geração de valor, estímulo
à mobilização da sociedade civil. Os impactos negativos na fase de implantação, de acordo com o
EIA, são: geração de expectativas, pressão sobre a infra-estrutura de serviços e equipamentos
públicos, aumento de fluxo migratório, conflitos de interesse - associados ao adensamento
populacional na AID, eliminação de postos de trabalho e de oportunidades de negócio, queda de
poder aquisitivo, sobrecarga nas vias de acesso, incômodos à população de entorno, alterações das
relações comunitárias na área de entorno, aumento de problemas sociais, incremento da ocupação
irregular.
166
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p. 1.021.
167
Nos Estudos Prévios de Impacto Ambiental, os impactos são classificados como positivos ou
negativos e como alto, médio ou baixo. Como ainda não existe um critério técnico unânime e
tampouco normas regulando o assunto, as consultorias desenvolveram metodologias e as aplicam
em seus estudos.
168
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p.1021.
169
ECOLOGUS ENGENHARIA CONSULTIVA, 2005a, item 7.4.
81
A CSA garante que a população de Santa Cruz não corre risco de câncer,
nem de alteração fetal, nem de qualquer outra doença, em função dos
materiais que são utilizados no seu processo, que comprovadamente não
172
causam risco à saúde.
170
Estratégias para conciliar o desenvolvimento econômico com a qualidade de vida. Rio de
Janeiro, 30 de junho de 2011. Disponível em:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1550529-7823-
ESTRATEGIAS+PARA+CONCILIAR+O+DESENVOLVIMENTO+ECONOMICO+COM+A+QUALIDAD
E+DE+VIDA,00.html. Acesso em: 02 jul. 2011. BOM DIA BRASIL. Não foi localizado o laudo
conclusivo da Fiocruz.
171
Estratégias para conciliar o desenvolvimento econômico com a qualidade de vida. Rio de
Janeiro, 30 de junho de 2011. Disponível em:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1550529-7823-
ESTRATEGIAS+PARA+CONCILIAR+O+DESENVOLVIMENTO+ECONOMICO+COM+A+QUALIDAD
E+DE+VIDA,00.html. Acesso em: 02 jul. 2011. BOM DIA BRASIL.
172
CSA precisa fazer modificações para conseguir licença de operação definitiva. Rio de
Janeiro, 30 de junho de 2011. Disponível em: http://g1.globo.com/videos/rio-de-janeiro/v/csa-precisa-
fazer-modificacoes-para-conseguir-licenca-de-operacao-definitiva/1551223/. Acesso em: 02 de jul.
2011. RJ-TV, 2ª edição.
82
173
JUNIA, 2011.
174
JUNIA, loc. cit.
175
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p. 799.
176
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p. 802.
177
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p. 806. E o estudo conclui: “pode-se estimar que aproximadamente
7.000 pescadores atuam nas atividades de pesca da Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, que
representa o total de pescadores que potencialmente pode ser afetado pela implantação do
83
180
ECOLOGUS ENGENHARIA CONSULTIVA, 2005a, p. 639.
181
ECOLOGUS ENGENHARIA CONSULTIVA, 2005a, p. 641-642.
85
situa-se em local de baixa relevância para a pesca, motivo pelo qual avaliou-
se este impacto de per si como de magnitude baixa.182
E, por fim, no que se refere à compensação ambiental pela exclusão da
pesca, a TKCSA afirma que “as possíveis compensações de tais efeitos devam ser
definidas no bojo de uma política que integre as diversas esferas responsáveis pelas
restrições em questão, sendo contudo intenção do empreendedor do Terminal
Portuário o desenvolvimento de ações individuais, que contribuam para o
fortalecimento das comunidades pesqueiras da área de influência da atividade”. 183
182
Informações apresentadas pelo empreendedor, por meio de um ofício encaminhado à extinta
FEEMA, em 13 de março de 2006, no qual são prestados esclarecimentos a respeito do EIA,
inclusive em relação à questionamentos apresentados pelo Ministério Público Estadual, que está
inserido no processo administrativo E-07/200.751/2005 (fls. 150-166).
183
Informações apresentadas pelo empreendedor, por meio de um ofício encaminhado à extinta
FEEMA, em 13 de março de 2006, no qual são prestados esclarecimentos a respeito do EIA,
inclusive em relação à questionamentos apresentados pelo Ministério Público Estadual, que está
inserido no processo administrativo E-07/200.751/2005 (fls. 150-166).
184
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006b, p. 17.
185
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006a, p. 25.
86
A discussão que foi feita aqui da exclusão dos pescadores artesanais precisa
ser incorporada no estudo de impacto ambiental. Estamos à disposição para
incorporar esse contingente da população. Com o píer, com trânsito de
navios, acaba-se com a pesca artesanal e isso não é mensurado no estudo
de impacto ambiental, por isso eu disse que o estudo trabalha de forma
187
hipotética.
Ao que parece, reconhecendo os impactos da atividade na pesca da região, o
INEA está sugerindo a elaboração de um plano de desenvolvimento sustentável
para área, a ser custeada pelas empresas que lá estão localizadas.188 No entanto,
pode-se estar diante, mais uma vez, da troca de valores financeiros pela
impossibilidade de continuidade do modo de vida dos pescadores, o que deixou de
ser considerado nos estudos ambientais apresentados. Acselrad, ao analisar o
RIMA de Belo Monte, parece descrever a situação que se analisa nesta Dissertação:
186
Em audiência na Alerj, pescadores culpam siderúrgica CSA pela falta de peixes na Baía de
Sepetiba. Rio de Janeiro, 14 de junho de 2011. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/06/14/em-audiencia-na-alerj-pescadores-culpam-siderurgica-
csa-pela-falta-de-peixes-na-baia-de-sepetiba-924687448.asp#ixzz1PLLuDNND. Acesso em: 02 jul.
2011. O GLOBO.
187
JUNIA, 2010.
188
VIEIRA, Agostinho. Pesca em Sepetiba pode ter defeso estendido. Blog Ecoverde, Rio de
Janeiro, 30 de junho de 2011. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/blogs/ecoverde/posts/2011/06/30/pesca-em-sepetiba-pode-ter-defeso-
estendido-389538.asp. Acesso em: 09 jul. 2011.
189
ACSELRAD, 2009b, p. 54.
87
190
ACSELRAD, Henri et al, 2009a, p. 34. Merece destaque a crítica aos Estudos de Impacto
Ambiental feita pelos autores: “Considerou-se que estes últimos têm sido incapazes de retratar a
injustiça ambiental contida em determinados projetos, servindo, implicitamente, à legitimação de
ações e impactos inaceitáveis, se consideradas apropriadamente as dimensões socioculturais.
Conseqüentemente, eles têm sido apropriados pelos interesses econômicos envolvidos nos projetos
e na própria elaboração repetida de estudos de impacto, formalmente padronizados e socialmente
vazios, produto do que se configurou como uma espécie de ‘indústria de EIAs-RIMAs” (p. 35). No
que se refere à padronização e repetição dos EIAs destaca-se que o EIA da Usina apresentado pelo
empreendedor, apesar de a licença ambiental prévia ter sido solicitada pela CSA, em diversos
momentos, refere-se à CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), parceira da TKCSA no
empreendimento.
191
PORTO, 2008, p. 155.
192
Informações constantes no processo E-07/200.751/2005 (fl. 433).
88
193
Não serão analisadas as alternativas tecnológicas apresentadas e estudadas no processo de
licenciamento do Complexo Siderúrgico, em especial em relação ao Terminal Portuário, por não ser
objeto desta Dissertação. Mencione-se, no entanto, que a análise das tecnologias disponíveis para
dragagem, aterro e terminal portuário ocuparam grande parte do Parecer Técnico de Licença Prévia
026/06, referente ao processo administrativo E-07/202.952/2005. FUNDAÇÃO ESTADUAL DE
ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006a.
194
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p. 32. Em outro trecho do Estudo, afirma-se: “A Usina Siderúrgica
da CSA corresponderá a uma unidade industrial de alta performance que terá como finalidade
fabricar produtos altamente competitivos, como placas de aço. Desenvolver um empreendimento
potencial localizado na região sudeste do Brasil com tecnologia de última geração seria uma melhoria
importante para a indústria de aço brasileira e uma significativa ampliação do mercado exportador.
As justificativas fundamentais para a implantação do mesmo neste local referem-se à existência de
grandes reservas de minério de ferro no Brasil em exploração pela CVRD, possibilidade de
implantação de um futuro porto e reabilitação de atual ramal ferrroviário nas adjacências da área
prevista para o empreendimento.” (p. 31)
89
195
ECOLOGUS ENGENHARIA CONSULTIVA, 2005a, pp. 16-17.
90
196
Considerações apresentadas pela empresa ao Ministério Público Estadual, em 22 de maio de
2006, e que constam no processo de licenciamento da extinta FEEMA (E-07/200.751/2005 – fls. 298-
304).
197
Descrição apresentada pelo empreendedor na ocasião da solicitação da licença prévia para a
usina siderúrgica, por meio do processo E-07/200.751/2005.
198
Informação constante no processo E-07/202.952/2005, em um documento apresentado pela
empresa à FEEMA, em 06/04/2006, com imagens extraídas das audiências públicas e o registro das
perguntas mais freqüentes apresentadas. A primeira pergunta refere-se à intenção da empresa em
instalar-se em Itaguaí e a segunda à construção de um novo terminal.
91
199
Ministério Público Estadual, em um documento denominado de Justificativa de Audiência Pública,
referente ao processo MPRJ 2005.001.52122.00, de 20 de dezembro de 2005, assinado pelo biólogo
Osny Pereira Filho e pela Engenheira Química Josélia Brito Serber, p. 09.
200
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p. 35.
201
ERM BRASIL LTDA, op., cit., p. 36.
92
O exame das alternativas tem-se revelado um dos pontos críticos dos EPIAS,
a tal ponto que Luiz Enrique Sánchez salienta que ´os estudos são
encomendados somente quando o projeto está inteiramente definido sob o
ponto de vista técnico, prejudicando ou mesmo impedindo o estudo das
alternativas e fazendo com que os estudos ambientais devam ser elaborados
em caráter de urgência. Desta forma, se os mecanismos de controle forem
eficazes, os estudos terão que ser complementados ou inteiramente refeitos´.
O exame das alternativas conduzirá os consultores a não se fixarem somente
na localização e nos processos de produção propostos pelo requerente do
licenciamento, fornecendo a ela não só a possibilidade como o dever de
comentar outras soluções para a localização e a operação pretendidas.
Para dirimir o conflito na escolha de propostas alternativas, principalmente
quando se deverá escolher entre eliminar ou agredir um bem natural, valho-
me da respeitada opinião do Prof. Gerd Winter: ´Se o projeto destrói bens
naturais, é preciso um interesse público para justificar essa destruição. Se o
bem natural possui valor extraordinário, o interesse público alegado para sua
203
destruição deve ser igualmente extraordinário.
Pode-se verificar que, apesar de existir a exigência na legislação de análise
das alternativas locacionais do empreendimento, inclusive considerando a hipótese
de sua não realização, não se constatou, pelas informações constantes nos
processos de licenciamento prévio, que isso tenha ocorrido. Percebe-se, no
entanto, que não houve alteração dos fatores que pesam na escolha do local das
atividades e indústrias, especialmente em Santa Cruz, objeto desta Dissertação,
desde o século XIX, já que o Matadouro da Cidade, a Zona Industrial e, atualmente,
os grandes projetos aprovados para o local, dentre os quais se inclui a TKCSA,
202
ECOLOGUS ENGENHARIA CONSULTIVA, 2005a, p. 14-15.
203
MACHADO, op. cit, p. 245.
93
204
Estratégias para conciliar o desenvolvimento econômico com a qualidade de vida. Rio de
Janeiro, 30 de junho de 2011. Disponível em:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1550529-7823-
ESTRATEGIAS+PARA+CONCILIAR+O+DESENVOLVIMENTO+ECONOMICO+COM+A+QUALIDAD
E+DE+VIDA,00.html. Acesso em: 02 jul. 2011. BOM DIA BRASIL.
205
PORTO; MILANEZ, 2009, p. 12.
94
206
JUNIA, 2010.
207
ALMEIDA, Cássia. Presidente da CSA admite erros:' Achamos que só os empregos
bastariam'. O GLOBO, Rio de Janeiro, 21 de abril de 2011. Disponível em
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/04/21/presidente-da-csa-admite-erros-achamos-que-so-
os-empregos-bastariam-924300588.asp#ixzz1KRuS6pay. Acesso em: 02 jul. 2011.
95
208
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006b, p. 3-5.
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (RJ), 2006a, p. 08.
209
A Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva – Núcleo Angra dos Reis, por meio da Portaria 555/06,
instaurou Inquérito Civil com o objetivo de apurar os danos ambientais a serem produzidos no
Município de Mangaratiba, decorrentes da instalação da CSA e o Terminal Portuário Centro Atlântico.
Por outro lado, também no âmbito do Ministério Público Estadual, a 3ª Promotoria de Justiça de
Tutela Coletiva – Meio Ambiente da Capital, por meio da Portaria IC 66/2006, determinou a
instauração de Inquérito Civil para apuração de fatos relacionados à implantação da Usina.
210
Ministério Público Estadual, em um documento denominado de Justificativa de Audiência Pública,
referente ao processo MPRJ 2005.001.52122.00, de 20 de dezembro de 2005, assinado pelo biólogo
Osny Pereira Filho e pela Engenheira Química Josélia Brito Serber, p. 18.
96
211
Ministério Público Estadual, em um documento denominado de Justificativa de Audiência Pública,
referente ao processo MPRJ 2005.001.52122.00, de 20 de dezembro de 2005, assinado pelo biólogo
Osny Pereira Filho e pela Engenheira Química Josélia Brito Serber, p. 18.
97
212
A Lei estadual 4.529/2005 aprova “o enquadramento das sociedades CSA COMPANHIA
SIDERÚRGICA DO ATLÂNTICO, THYSSENKRUPP STAHL A. G e COMPANHIA VALE DO RIO
DOCE e das sociedades integrantes do Complexo Siderúrgico, das quais elas participem, ainda que
minoritariamente, no PROGRAMA DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS ESTRUTURANTES -
RIOINVEST, instituído pelo Decreto nº 23.012, de 25 de março de 1997, e suas posteriores
alterações, para utilizar os recursos do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social - FUNDES,
para a construção e operação de um Complexo Siderúrgico no Estado do Rio de Janeiro” (artigo 1º).
213
Em que pese ter obtido autorização para intervenção em área de preservação permanente, a
empresa foi autuada pelo IBAMA e pelo extinto IEF/RJ por suprimir vegetação sem autorização. No
caso do IBAMA, a multa aplicada foi de R$ 100 mil, pela supressão não autorizada de dois
quilômetros quadrados de manguezal próximo à ponte que liga o porto ao terreno da usina. O IEF/RJ
autuou a empresa o auto de constatação do IEF nº 2503/07 lavrado em face da CSA pela supressão
23, 2 ha (aproximadamente) de vegetação em área de preservação permanente sem licença e de 2,9
ha (aproximadamente) de vegetação nativa de mata atlântica sem licença.
98
214
A informação consta do processo E-07/200.751/2005, às fls. 48.
215
Estas informações estão inseridas no processo de licenciamento ambiental da usina (E-
07/200.751/2005), mas referem-se ao procedimento que tramitou na Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Econômico (E-11/752/2005)
99
216
A análise foi elaborada pelo arquiteto Marcelo da Silva da Fonseca, da 5ª Gerência de Planos
Locais da Secretaria Municipal de Urbanismo. O documento consta do processo administrativo E-
07/200.751/05, às fls. 443-444. No âmbito do Município do Rio de Janeiro, conclui-se pela
desnecessidade de alteração da legislação municipal, tendo em vista a prevalência do Zoneamento
Municipal, que classifica a área como Zona Industrial II, que admite usos industriais com
característica nociva, perigosa ou incômoda, em edificação de uso exclusivo, compatível com o
empreendimento proposto.
217
Importa mencionar que, no âmbito das assessorias jurídicas, ao qual na maior parte do tempo a
discussão ficou restrita, o parecer da Assessoria Jurídica do Gabinete Civil ressalta a necessidade de
informações sobre a elaboração de EIA/RIMA, tal como determina a legislação, bem como destaca a
existência de um acordo de reassentamento de famílias que se encontram no local e a previsão de
uma área de preservação ambiental. Parecer constante às fls. 21-22 do Processo E-11/752/05, de
lavra de Wilde da Silva Navarro, de 13 de outubro de 2005.
100
Industrial II, ‘onde são adequadas os usos industriais com característica nociva,
perigosa ou incômoda, em edificação de uso exclusivo’, conforme exposto no ofício
da Secretaria Municipal de Urbanismo’”.218
218
A manifestação consta do processo administrativo E-07/200.751/05, às fls. 466.
101
219
Os motivos expressos para a decisão de não adiamento das audiências públicas tomada pela
CECA são, além do atendimento da legislação sobre convocação de audiências públicas e adoção
das medidas relativas à divulgação dos eventos, no fato de tratar-se “de investimento que demanda
rigor quanto ao cronograma físico-financeiro, investimento este que, certamente, acarretará
crescimento econômico para o Estado do Rio de Janeiro”. Ofício CECA 099/2006, de 11 de maio de
2006, enviado pelo Presidente da CECA, Sr. José Paulo Junqueira Lopes, à Promotoria de Justiça de
Tutela Coletiva de Angra dos Reis.
102
220
Ofício da TKCSA dirigido à FEEMA, de 06 de abril de 2006, assinado pelo Sr. Ricardo Brito, e
constante às fls. 290 do processo administrativo E-07/202.952/2006.
221
Em atenção aos pareceres técnicos elaborados pelo Grupo de Apoio Técnico (GATE) relativos às
análises dos EIAs da Usina e do Terminal Portuário do Centro Atlântico, assinados pela engenheira
química Josélia B. Serber, pelo biólogo Osny Pereira Filho e pelo químico industrial Gilson Ozéas
Dias, de 07 de abril de 2006, a empresa apresentou respostas e esclarecimentos ao Ministério
Público Estadual em 03 de maio de 2006. Informações constantes no processo MPRJ
2005.001.52122.00, às fls. 27-59 e 63-121.
222
Parecer técnico assinado pela engenheira química Josélia B. Serber, pelo biólogo Osny Pereira
Filho, pelo químico industrial Gilson Ozéas Dias e pelo arquiteto Jorge Antonio Martins, de 19 de
junho de 2006. Informações constantes no processo MPRJ 2005.001.52122.00, às fls. 252-261.
103
223
Neste sentido, foi editada a Resolução CONEMA 35, de 15 de agosto de 2011, com as normas
sobre audiências públicas no âmbito do licenciamento ambiental estadual.
224
JUNIA, 2011.
225
ACSELRAD; PINTO 2009, p. 58.
104
226
Informação obtida em http://www.rj.gov.br/web/sea/exibeConteudo?article-id=163728. Acesso em:
13 out. 2011.
106
CONCLUSÃO
estadual foi editado sem que tivessem sido realizados os estudos técnicos sobre a
inexistência de alternativa locacional.
E, ainda, fato igualmente grave, refere-se aos impactos da atividade que não
foram sequer cogitados nos estudos, relacionados à poluição do ar e sonora
causadas durante a operação da empresa, bem como nas situações de emergência,
que, no período de menos de um ano ocorreram duas vezes.
108
Esta decisão política sobre as formas de utilização dos recursos naturais, que
afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas e, em alguns casos, a
possibilidade de assegurar continuidade de certos meios de vida, como no caso de
pescadores, não se encontra no âmbito do licenciamento ambiental, mas é tomada,
anteriormente, pelos agentes políticos e econômicos dotados de força particular no
processo. O agravante desta constatação é que apenas no curso do licenciamento,
como visto, foram instaurados fóruns para a participação direta dos interessados no
debate sobre o empreendimento.
Não parece difícil de entender, mas sim distante da prática, que a aplicação
das normas ambientais deva ser voltada para a proteção do meio ambiente
ecologicamente sustentável, para a preservação de vida digna e pelo uso
democrático dos recursos naturais. No entanto, muitas vezes, a prática parece
conduzir à percepção de que a aplicação de tais normas é um exercício para
alcançar a interpretação jurídica que possibilite a realização de determinadas
atividades ou empresas.
227
DERANI, 2008, p.161.
110
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cidade em questão II. Rio de Janeiro: Index, 1985.
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PIMENTA, Marisa Valente dos Santos. Normas e usos das áreas agrícolas da
Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2004.
RABHA, Nina Maria de Carvalho Elias (Coord.). Planos urbanos – Rio de Janeiro
– Século XIX. Rio de Janeiro: IPP, 2008.
VERDUN, Roberto; MEDEIROS, Rosa Maria Vieira de. RIMA: relatório de impacto
ambiental. 5ª ed. rev. ampl. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.
ANEXO
IMAGEM 1
IMAGEM 2
IMAGEM 3
IMAGEM 4
IMAGEM 5
IMAGEM 6
IMAGEM 7
IMAGEM 8