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Porto Velho-RO
Junho de 2019
Identificação Institucional:
- Estatuto arquivado na Junta Comercial do Estado de Rondônia – JUCER sob o no. 11400003553.
- CNPJ 05.972.820/0001-69.
- Sede Social: Rua Brasília, no. 1575, B. Santa Bárbara, em Porto Velho-RO. CEP 76.804-206.
- Contatos:
E-mail: coogarima@hotmail.com.
Telefones (69) 3213-4955 e (69) 99956-3076.
Conselho de Administração:
- JOSÉ AIRTON AGUIAR CASTRO – Diretor Presidente.
- ARI OSMAR WEIS – Diretor Vice-Presidente
- LUIZ FRANCISCO MODESTI – Secretário Geral.
- JOÃO ANTONIO ABATI – 1º. Tesoureiro
- LUISINHO ANTONIO ABATI – 2º. Tesoureiro
Coordenadora - Dulce Michels – Consultora Sênior. Formada em Ciências Econômicas pela Universidade
Estadual do Paraná; Técnica em Contabilidade; Especialista em Elaboração e Análise de Projetos de
aproveitamento econômico, Especialização em Contabilidade: Análise e Controladoria; Especialização em
Orçamento Público; Especialização em Inovação e Difusão Tecnológica. Mestre em Administração Bancária
e Finanças. Experiência com Assessoria Técnica de Presidência de Banco de médio porte; experiência com
Arranjos Produtivos Locais – APLs e Desenvolvimento de Políticas Públicas de Desenvolvimentos Locais e
Regionais. Ex-Consultora do SEBRAE na área de treinamento empresarial e na área de Inovação e Difusão
Tecnológica. Professora e pesquisadora da Faculdade Porto Velho 2002-(), Faro (2002-2004) e FATEC
(2005-2009) e coordenadora do Curso de Ciências Econômicas da FATEC (2006-2009); Consultora do PNUD
de 2009/2010; Técnica em Pesquisas Educacionais do INEP de 2013-2018.
Analistas:
- Ioshua Johanna Schmitz Michels Dantas – Analista Sênior. Formada em Comércio Exterior e
Ciências Políticas – Relações Internacionais.
- Bruno Henrique da Silva – Analista Sênior. Formado em Construção Naval com especialização em
Mestre Fluvial
Porto Velho-RO
Junho de 2019
3
ÍNDICE
Figura 1: Localização das principais reservas minerais brasileiras de alumínio, cobre, cromo, 5
estanho, ferro, manganês, nióbio, níquel, ouro, vanádio e zinco. (ANM 2018, p.3)
Figura 2: Sistema fechado idêntico ao utilizado para o aquecimento da amálgama e posterior 31
separação do mercúrio do ouro. Vista frontal (A) e superior (B).
Figura 3: Processo de reciclagem de material para fabricar máquinas e equipamentos 32
Gráfico 1: Produção mundial de ouro (2010 a 2018) – soma dos países com produção 7
registrada
Gráfico 2: Produção Mundial de Ouro e preços internacionais praticados 8
Gráfico 3: Visualização da produção dos 11 maiores produtores de ouro em 2018. 9
Gráfico 4: Cotação do Ouro – Histórico dos últimos 40 anos em Reais/Oz 11
Gráfico 5: Relação entre pedidos protocolizados e PLGs outorgadas entre 1991 e 2018 15
Gráfico 6: Relação entre Alvarás de Pesquisas e outorgas de PLGs entre 1991 e 2018 15
Gráfico 7: Visualização das variações nas outorgas de PLGs entre 1991 e 2018. 16
Gráfico 8: Variação da quantidade de outorgas nos regimes de aproveitamento de substâncias 16
minerais no 1º/2014 em relação ao 1º/2013.
Gráfico 9: Performance de desempenho mensal de acordo com a sazonalidade 20
Gráfico 10: Performance da COOGARIMA em gramas de ouro – 2008 a 2018. 21
Gráfico 11: Receitas de vendas anuais no período 2008 a 2018 (em RS) 22
Gráfico 12: Impacto Intersetorial das atividades da Coogarima, no período de 2008 a 2018 35
Gráfico 13: Mensuração do Impacto Intersetorial das atividades da Coogarima, no período de 36
2008 a 2018
5
O Brasil é um país com muitos recursos naturais e com vocação para o setor
minerário. A mineração constitui uma indústria de base, fornecendo matérias-primas para a
indústria de transformação produzir bens essenciais para o conforto, saúde, higiene e
segurança dos cidadãos, e toda a sociedade se beneficia com o resultado desse setor.
Tradicionalmente, a atividade da extração mineral é muito importante para o Brasil, cujas
riquezas naturais são lendárias e notórias.
Figura 1: Localização das principais reservas minerais brasileiras de alumínio, cobre, cromo, estanho,
ferro, manganês, nióbio, níquel, ouro, vanádio e zinco. (ANM 2018, p.31)
No caso do Ouro, este mineral além de insumo industrial também se configura como
ativo financeiro, e portanto, sujeito às regras dessa área com todas as suas nuances e
especificidades e influências, exemplo disso é que o preço do ouro disparou no último
trimestre de 2018 e os bancos centrais – de vários países foram responsáveis (Infomoney,
20182).
1
BRASIL,ANM. Anuário Mineral Brasileiro 2018. Disponível em http://www.anm.gov.br/dnpm/banner-rotativo/anuario-mineral-brasileiro-2018-
principais-substancias-metalicas/view
2 INFOMONEY. Demanda por ouro dispara no último trimestre de 2018 - e os bancos centrais são os responsáveis – InfoMoney. Disponível
em: https://www.infomoney.com.br/blogs/investimentos/investimentos-internacionais/post/7913634/demanda-por-ouro-dispara-no-ultimo-trimestre-
de-2018---e-os-bancos-centrais-sao-os-responsaveis
6
Europe
Finland 5,8 6,6 9,1 8,5 7,6 8,2 8,6 8,8 8,3
Sweden 6,2 5,9 6,1 6,4 6,5 6,3 6,5 7,8 7,9
Bulgaria 2,5 3,4 4,3 4,5 5,5 5,4 5,7 6,6 6,8
Others 2,2 2,1 3,5 4,4 3,9 3,6 2,8 3,6 4,9
Sub-total 16,7 18,0 22,9 23,9 23,5 23,5 23,6 26,9 27,9
Africa
Ghana 94,3 96,8 106,0 105,8 106,3 95,4 131,5 130,2 130,5
South Africa 210,0 205,3 179,8 179,5 168,6 162,0 162,6 154,0 129,8
Sudan 29,3 32,6 33,9 57,6 60,9 67,8 77,5 88,0 76,6
Mali 42,7 42,6 47,6 47,4 47,4 49,4 50,1 50,4 61,2
Burkina Faso 26,9 36,7 34,9 38,6 42,2 41,6 44,9 52,6 59,3
Tanzania 47,5 54,4 56,3 52,0 51,8 53,2 55,3 54,6 47,7
DR Congo 18,0 21,0 24,8 25,3 35,9 39,7 35,7 36,6 44,9
Zimbabwe 17,1 19,0 22,7 23,0 24,3 26,5 30,8 33,3 42,2
Ivory Coast 7,8 13,2 13,0 14,5 23,4 28,2 32,6 36,7 40,9
Guinea 25,8 25,7 24,3 21,9 26,1 26,0 26,6 30,3 27,3
Senegal 5,4 4,8 7,4 8,2 8,6 8,7 10,2 12,3 17,5
Egypt 4,7 6,3 8,2 11,1 11,7 13,7 17,1 16,9 14,7
Nigeria 5,0 6,0 8,0 8,0 8,0 8,0 10,0 12,0 14,0
Gabon 0,3 0,3 0,9 1,4 5,0 7,3 9,3 11,3 11,3
Ethiopia 8,1 10,2 11,3 11,4 12,0 12,6 11,2 11,0 11,0
Others 39,1 50,2 49,9 50,1 50,2 58,3 74,5 82,4 92,2
Sub-total 581,9 625,2 629,0 655,8 682,4 698,5 779,9 812,6 821,0
Commonwealth of Independent
States
Russian Federation 203,1 211,6 233,4 248,5 252,7 255,3 262,4 280,7 297,3
Uzbekistan 71,0 70,6 80,0 81,0 83,5 85,5 86,7 89,0 92,5
Kazakhstan 30,3 36,8 40,0 42,4 46,2 51,0 52,6 56,0 68,4
Kyrgyzstan 19,0 19,7 11,3 20,2 19,2 18,1 19,8 22,0 22,1
Others 9,6 9,0 8,2 8,7 9,1 11,9 12,6 18,7 18,2
7
Continuação...
Sub-total 332,9 347,8 373,0 400,8 410,7 421,8 434,1 466,4 498,5
Asia
China 351,1 371,2 413,3 438,4 462,0 460,3 463,7 429,4 404,1
Indonesia 134,6 108,5 82,6 91,0 93,5 113,2 108,8 114,1 136,9
Philippines 40,8 38,1 38,8 39,7 40,4 40,6 40,2 38,7 36,8
Turkey 16,6 24,1 29,5 33,6 31,4 28,4 24,6 23,2 24,9
Mongolia 14,0 13,3 14,0 19,7 32,0 32,8 21,3 19,8 22,6
Iran 5,0 6,0 6,0 7,0 10,0 11,0 11,0 11,0 11,0
Others 45,1 43,5 46,0 45,4 43,1 44,5 43,7 39,0 39,9
Sub-total 607,2 604,8 630,2 674,9 712,4 730,8 713,3 675,3 676,1
Oceania
Australia 256,7 258,7 250,4 267,1 274,0 279,2 287,7 292,5 314,9
Papua New Guinea 69,7 63,8 59,0 64,6 58,4 60,9 63,4 64,3 69,1
New Zealand 12,1 11,2 9,7 11,8 10,8 11,7 9,6 9,0 9,3
Others 2,0 3,4 3,6 3,1 2,0 1,6 1,6 1,6 1,6
Sub-total 340,4 337,2 322,7 346,6 345,2 353,3 362,2 367,5 394,8
Global Total 2.793,6 2.880,8 2.959,1 3.118,1 3.202,9 3.289,5 3.397,3 3.441,9 3.502,6
Source: Metals Focus
Quadro 1: Produção Global de Minério de Ouro de 2010 a 2018.
Fonte: WGC, The Economist Intelligence Unit (2019).
3.500,0
3.000,0
2.500,0
2.000,0
1.500,0
1.000,0
500,0
0,0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Gráfico 1: Produção mundial de ouro (2010 a 2018) – soma dos países com produção registrada
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da Source: Metals Focus (2019)
Como pode ser observado, o Brasil ocupa a posição de 11º Produtor de ouro em 2018.
O Gráfico 3, a seguir, mostra a participação de cada país em relação à somatória da
produção deste grupo.
No último trimestre de 2018, houve uma corrida dos Bancos Centrais de muitos países
para aumentar suas reservas de Ouro. O agravamento de incertezas econômicas e
geopolíticas decorrente, por exemplo, da disputa comercial entre China e Estados Unidos
junto à volatilidade dos mercados financeiros, motivou as nações a buscar refúgio no ouro,
com os bancos centrais a diversificando suas reservas e reorientando a atenção para o
objetivo principal de investir em ativos seguros e líquidos. Notícias dão conta que os bancos
centrais agregaram 651,5 toneladas às reservas oficiais de ouro em 2018, representando
acréscimo de 22% em relação ao ano anterior, o mais alto desde 2015.
De acordo com Alistair Hewitt, diretor de análise de mercado do WGC, só a Rússia,
reconhecida como o quinto maior possuidor de ouro do planeta, comprou mais de 42% de
todo o metal vendido durante 2018. Muitos bancos centrais de mercados emergentes têm sido
expostos à dependência do dólar e precisam cobrir o risco inerente comprando ouro; o
especialista explica ainda que a Turquia foi o segundo maior comprador de ouro e incrementou
assim, em 2018, suas reservas em 51,5 toneladas; o Banco Popular da China aumentou as
reservas de ouro em até 1.853 toneladas e as Filipinas turbinaram suas reservas em torno de
20% desde 2010 até 2018. De acordo com a WGC, a demanda de ouro em 2018 atingiu 4.345
ton., acima das quase 4.200 toneladas em 2017. Isso marca um incremento de 4% em termos
interanuais, e se coaduna com a média da demanda dos últimos quatro anos que se localiza
4
WORLD GOLD COUNCIL. Gold mine production. . Disponível em https://www.gold.org/goldhub/data/historical-mine-production
10
em 4.347 ton. (PRENSA LATINA, 20195). O Quadro 4, a seguir, traz os países detentores das
maiores reservas em ouro, bem como sete outros casos de significância, alguns por ter
apresentado atipicidades no período estudado.
Intervalo de Unid
Classif
País Jun/2019 Anterior
tolerância Medida
1 Estados Unidos 8133,5 8134 8149 : 8133 ton.
2 Alemanha 3367,9 3370 3469 : 3368 ton.
3 Itália 2451,8 2452 2452 : 2452 ton.
4 França 2436,0 2436 3025 : 2435 ton.
5 Rússia 2119,2 2113 2119 : 343 ton.
6 China 1864,3 1852 1864 : 395 ton.
7 Suíça 1040,0 1040 2590 : 1040 ton.
8 Japão 765,2 765 765 : 754 ton.
9 Holanda 612,5 612 912 : 612 ton.
10 Índia 607,0 599 607 : 358 ton.
11 Zona Euro 504,8 505 767 : 501 ton.
13 Portugal 382,5 382 607 : 382 ton.
17 Reino Unido 310,3 310 588 : 310 ton.
21 Turquia 261,1 254 261 : 116 ton.
25 Venezuela 161,2 161 373 : 150 ton.
30 África Do Sul 125.30 125 184 : 123 ton.
41 Brasil 67.40 67.4 119 : 31.99 ton.
Quadro 4: Países com as maiores reservas em ouro
Data de referência: Mês JUN/20196
Note-se que os países usam o ouro para blindagem de suas respectivas economias.
Ainda que, por conveniência burra, o mundo tenha acabado com o padrão ouro (paridade de
lastro das moedas com o equivalente em ouro em seus cofres) em Bretton Woods7 em 1944,
no inconsciente coletivo permaneceu, indelével, a importância do ouro lastreando o valor das
moedas dos países.
Outros fatores dignos de nota é que a Zona do Euro não está dentro do ranking dos
10 países com maiores reservas em ouro, ocupando a 11ª. posição; surpreendentemente,
Portugal ocupa a 13ª. o que significa que não entregaram todo o ouro extraído do Brasil aos
ingleses. Outra surpresa – nem tão boa – está nas reservas do Reino Unido, que aparece na
17ª. posição, principalmente por vivenciar o pós-Brexit, quando o Reino Unido optou por sair
da União Europeia e precisa, mais do que nunca, lastrear sua moeda para manter sua
credibilidade e estabilidade econômica. Não faz jus à sua herança da Império Britânico.
Outra informação relevante é a classificação da Turquia, ocupando o 21º. Lugar e com
tendência a subir de posição, pois está investindo muito no fortalecimento de seu status na
comunidade internacional através do aumento de suas reservas. Na América do Sul, a maior
reserva em ouro pertence à Venezuela, que repatriou há alguns anos o volume físico de sua
reserva em ouro. Como não poderia ser, este volume tem decrescido em virtude da crise
interna e seu patamar se encontra próximo ao limite inferior de sua série histórica, mas ainda
assim detém a 25ª. posição do ranking. O outro caso exemplifica que nem sempre um grande
produtor mantém para si uma margem equivalente do volume da sua posição, que é o caso
da África do Sul, que mesmo estando entre os 10 maiores produtores, ocupa a 30ª. posição
em reservas em ouro.
5 PRENSA LATINA. Incerteza em mercados financeiros impulsiona demanda mundial de ouro. Disponível em
https://www.prensalatina.com.br/index.php?o=rn&id=21985&SEO=incerteza-em-mercados-financeiros-impulsiona-demanda-mundial-
de-ouro
6
Trading Economic. RESERVAS DE OURO - LISTA DE PAÍSES. Disponível em <https://pt.tradingeconomics.com/country-list/gold-
reserves>
7
Bretton Woods foi o nome dado a um acordo de 1944 no qual estiveram presentes 45 países aliados e que tinha como objetivo reger a política
económica mundial. Segundo este acordo as moedas dos países membros passariam a estar ligadas ao dólar variando numa estreita banda de
+/- 1%, e a moeda norte-americana estaria ligada ao ouro a 35 dólares. Para que tudo funcionasse sem grandes sobressaltos foram criadas com
o acordo Bretton Woods duas entidades de supervisão, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial. Assim, com o referido acordo,
o dólar passou a ser a moeda forte do sistema financeiro mundial e os países membros utilizavam-na para financiar os seus desequilíbrios
comerciais, minimizando custos de detenção de diversas moedas estrangeiras.
11
E finalmente encontramos o Brasil, que já foi tão rico na produção desse minério
ocupando o primeiro lugar dentre os maiores produtores em séculos passados e hoje mantém
como reserva em seu tesouro apenas 67,4 toneladas, o que lhe garante o 41º. Lugar deste
ranking, mas que já melhorou algumas posições, já que em 2015 ocupava a 47ª. posição.
(EXAME, 20198).
Percebe-se que, a partir de 2005, começa a haver ocorrências de picos de preços cada
vez mais elevados, sendo que a cotação do dia 16 de junho de 2019 o preço do grama atingiu
R$ 168,76, o que multiplicando pelo peso da onça (oz) que é de 28,35g, equivale a R$
4.784,35 o valor de cada onça.
Na década de 1990, do total do ouro produzidos no país, 57% era retirado por grandes
empresas, em processos industriais. Os outros 43% ficavam com os garimpos (considerando
apenas os legalmente autorizados). Atualmente, estima-se que 87% da produção ficam com
as indústrias, enquanto o garimpo encolheu sua participação para 13%. O quadro 5 a seguir
mostra os 10 maiores produtores do Brasil em 2016 cuja publicação só saiu em 2018:
Porém, o que mais chama atenção são as empresas por trás desta nova fronteira
industrial: os cinco maiores produtores de ouro no país, donos de praticamente 85% do que
é retirado do solo, e a maioria são empresas multinacionais com sedes no exterior. Ou seja,
as três minas de ouro mais produtivas do Brasil (Paracatu, Cuiabá e Serra Grande) são
exploradas por companhias estrangeiras. Do Canadá, estão presentes quatro grandes
empresas: Kinross, Yamana, Jaguar Mining e Aura Gold. A AngloGold Ashanti, da África do
Sul, completa o topo da lista. Consequentemente, a maior parte do ouro produzido no Brasil
tem como destino o mercado internacional. E como o Brasil é um dos pouquíssimos países
que não cobra imposto sobre fortunas e nem tributa a distribuição de lucros e dividendos,
o que sobra são as misérias e consequências de desastres criminosos como os casos de
Mariana e Brumadinho; ou seja, continua imperando o colonialismo na relação dos brasileiros
com a propriedade da riqueza e tesouros produzidos no país. Resta ao país o que é explorado
via garimpeiros, por isso devemos começar a desconstruir a ideia pejorativa que alimentamos
sobre eles.
13
CAMARGO, Moacir. O OURO, OS GARIMPEIROS E O BRASIL. Postado pela Parmetal DTVM. Disponível em https://www.parmetal.com.br/o-
ouro-os-garimpeiros-e-o-brasil/
14
BRASIL. Lei no. 7805 de 18 de julho de 1989. Cria a Permissão de Lavra Garimpeira PLG. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7805.htm.
15
BRASIL. Lei no. 11685, de 2 de junho de 2008. Estatuto do Garimpeiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11685.htm.
14
TÍTULOS 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Requerimentos Protocolizados* 19.702 23.639 30.409 24.908 24.717 20.603 19.423 18.505 15.850 13952
Alvarás de Pesquisa Publicados 15.123 18.309 19.582 8.860 13.562 12.215 17.525 13.615 9.569 9.295
Relatórios de Pesquisa Aprovados 1.493 1.360 1.537 1.522 1.613 1.477 1.732 1.660 1.463 1786
Concessões de Lavra Outorgadas 404 204 195 331 177 261 491 456 206 336
Licenciamentos Outorgados 1132 1548 1630 1645 1767 1802 1802 1627 1515 1013
Perm Lavra Garimpeira Outorgadas 122 368 251 316 212 162 175 146 282 216
Registros de Extração 202 185 186 136 131 195 226 196 418 383
Cessões de Direitos Aprovadas 3449 3842 4350 3060 3199 3027 2794 2481 2367 2025
Quadro 6c: Evolução dos Direitos Minerários - 1991 – 2018 parte 3/3 período 2009-2018
(*) Req.Protocolizados = Req. de Pesquisa + Req. de Licenciamento + Req. de Lavra Garimpeira + Req. de Reg. de Extração.
Por Paulo Ribeiro de Santana. Fonte: BRASIL. ANM (201817)
40.000
30.000
20.000
10.000
0
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Gráfico 5: Relação entre pedidos protocolizados e PLGs outorgadas entre 1991 e 2018.
Fonte: Elaborados pelos autores.
16BRASIL. ANM. Evolução dos Direitos Minerários 1988 – 2018. Disponível em http://www.anm.gov.br/dnpm/planilhas/estatisticas/titulos-
minerarios/evolucao-dos-titulos-minerarios-no-brasil-1988-a-2017/view
17
Ibidem.
15
20.000
15.000
10.000
5.000
0
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Alvarás de Pesquisa Publicados Perm Lavra Garimpeira Outorgadas
% PLG de alvarás publicados
Gráfico 6: Relação entre Alvarás de Pesquisas e outorgas de PLGs entre 1991 e 2018
Fonte: Desenvolvido pelos autores a partir dos dados estatísticos da ANM (2018)
Gráfico 7: Visualização das variações nas outorgas de PLGs entre 1991 e 2018.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir da estatística da ANM (2018)
Trabalhando com a amplitude dos números somente deste quesito, é possível avaliar
a trajetória das outorgas das PLGs no período estudado. Como já comentado, apesar das
PLGs terem sido criadas em 1989, as primeiras outorgas só ocorreram em 1991 e o primeiro
volume significativo dessas outorgas ocorreu em 1994, com uma queda significativa em 1995,
com leve reação em 1996 e fortes demandas em 1997 e 1998. Em 1999 houve um aparente
desencanto, com queda significativa e mantendo-se a tendência até 2001, ano em que se
registrou o menor nível da série histórica. Tanto em 2002 quanto 2010 apresenta-se um
crescimento significativo quando, coincidências ou não, foram anos de início de gestão de
novos governantes.
Encontrou-se um texto de análise bastante ilustrativo da questão, feito pelos próprios
técnicos do DNPM, de dados apresentados referentes ao ano de 2013, “[...] Ao comparar a
quantidade de requerimentos solicitados no DNPM no primeiro semestre de 2014 em relação
ao mesmo período do ano anterior, percebe-se uma redução expressiva no valor total (-
20,2%). A maior retração incidiu nos requerimentos de Permissão de Lavra Garimpeira
(-42,4%), [...]” (grifo nosso). Prosseguindo-se a leitura da análise daquele órgão oficial “[...].
16
Pode-se também aventar a hipótese de demora nas concessões dessas outorgas, num
intervalo de tempo de dois anos em média até sair a publicação. O que vem corroborar a
“impressão” da maioria dos demandantes, já que deveria ser um processo simplificado.
Ademais, por serem pessoas mais humildes e descapitalizadas, não possuem o mesmo poder
de pressão das grandes mineradoras. O que remete novamente a importância da união
desses postulantes em cooperativas, pois a soma de muitos cooperados torna forte cada um
dos participantes, e à medida que a cooperativa cresce e se fortalece, também se ampliam as
oportunidades e resultados de seus cooperados.
De onde se pode concluir que, apesar da legislação brasileira reconhecer a
importância e proteger o empreendedor garimpeiro que mantém sua atividade legalizada
(notadamente se participante de forma organizada como cooperativas), de acordo com os
dados oficiais e observação objetiva dos documentos citados, bem como da vivência do dia-
a-dia: existe uma mudança real, substancial e explícita nas políticas públicas no sentido de
coibir ou limitar novas permissões de lavras garimpeiras. No andar da carruagem, se não
houver um processo de conscientização da gestão governamental, junto com uma resistência
pacífica e organizada por parte dos brasileiros, mesmo os 10% a 13% não pertencentes às
grandes mineradoras multinacionais tendem a ter sua exploração, de imediato, restringida; e
em seguida proibida através da não concessão de novas permissões.
Considerando-se que a nacionalidade dos demandantes de PLGs são de brasileiros,
e que a maioria das grandes mineradoras são ou pertencem a importantes grupos
multinacionais, seria de bom alvitre começar a valorizar aqueles que aqui produzem e cujos
lucros ficam 100% no Brasil. É dessa forma que se começará a desenvolver a cultura de
investimento com capital brasileiro, para resultados e desenvolvimentos de brasileiros.
Primeiro se deve oportunizar condições às pessoas cidadãs desta nação. Verdade que é difícil
obter financiamentos no começo de uma atividade garimpeira e é aí que entra a importância
de uma cooperativa séria, onde se fortalecem os empreendedores e se diluem os riscos. Por
outro lado, o Brasil tem batido recordes de produção, mas de acordo com dados do
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), só tem se considerado o montante de
ouro extraídas legalmente19. O quadro 7, a seguir, traz a produção brasileira do metal,
separada por Unidades da Federação (UF):
18
DNPM/DGTM. Informe Mineral 01/2014, p. 09 à 11, publicação do DNPM. Disponível em
<http://www.dnpm.gov.br/mostra_arquivo.asp?IDBancoArquivoArquivo=9328>.
19
Os dados referentes à produção de ouro no Brasil não podem ser avaliados através de dados oficiais. Segundo Félix (1987), os dados da
produção oficial brasileira são oriundos dos valores obtidos pela Secretaria da Receita Federal, a partir do recolhimento de impostos, e não refletiria
a realidade.
17
20
BRASIL. ANM. Anuário Mineral Brasileiro – principais substâncias metálicas – 2016. Brazilian Mineral Yearbook – main metallic commodities
– 2016. Publicado em 2018.
18
José Airton conta que nas décadas 1980/1990, milhares de pessoas garimparam no
Madeira, a maioria aventureiros que desistiu da atividade por operar sem infraestrutura e pelo
fato de o garimpo, sem os licenciamentos exigidos pelo governo, ser considerado ilegal na
época. E segue descrevendo:
ANOS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
2014 39.971,80 45.229,70 51.141,60 49.299,60 53.911,20 48.707,60 65.018,10 51.938,90 55.006,40 79.748,40 83.234,90 62.222,30 645.458,70
2015 39.828,90 47.776,60 51.443,00 63.815,00 50.183,00 50.169,00 59.237,00 100.943,00 117.665,00 101.184,00 74.818,00 79.453,00 796.686,60
2016 58.579,00 66.073,00 57.741,00 60.847,00 78.204,00 71.312,00 79.505,00 77.038,00 67.698,00 45.846,00 64.263,00 60.840,00 729.367,00
2017 36.051,00 27.101,00 32.652,00 35.907,00 59.950,33 49.381,60 43.873,70 48.451,90 53.783,80 59.492,60 70.578,80 59.409,90 540.582,63
2018 34.590,80 46.979,70 61.158,80 61.073,20 73.704,20 73.867,90 66.012,10 61.358,60 66.848,50 66.368,60 50.934,80 73.094,50 701.400,90
3.413.495,83
Na Região Norte do Brasil, as quatro estações não são bem definidas como o são na
Região Sul; aqui se resumem em apenas duas estações e não tem consonância com o quente
e o frio – porque normalmente é quente o ano todo. Tem conexão com as chuvas e o
comportamento das águas. Assim, o desempenho operacional mensal resulta num gráfico
que demonstra certa previsibilidade da produção (maior ou menor produção) de acordo com
o comportamento e manutenção de períodos produtivos, em função do período chuvoso (e de
cheia, no inverno amazônico) ou estiagem (e seca, do verão amazônico). O desafio da
Cooperativa é manter um nível tecnológico tal que a produção não desapareça nos meses de
cheia, pois é o que acontece nos casos de donos de balsas pequenas, sem condições
tecnológicas de trabalhar nos períodos de cheias do Rio Madeira.
Vê-se nitidamente que o ano começa com dificuldades na produção, já que os meses
de janeiro, fevereiro e parte do mês de março habitualmente são os meses em que o nível
das águas estão no auge. Em abril começa a baixar e em maio entra no período de ótima
produtividade, que dura até setembro/parte de outubro, que é quando as chuvas retornam e
o rio recomeça a encher.
Este é um gráfico para ser apenas ilustrativo, visando evidenciar que as produções
das dragas variam de acordo com o nível das águas, o que foi agravado sobremaneira depois
da construção das usinas, resultando em necessidade de investimento significativo para
adaptação dos equipamentos, principalmente as lanças precisaram ser mais compridas para
alcançarem o leito do rio, bem como os motores, que hoje necessitam maior potência para
fazerem funcionar bombas que também demandam maior potência, e equilibrar o peso desses
equipamentos; isso comprova o equívoco daqueles que tentam vender ao governo a ideia de
que garimpeiros não usam tecnologia. Sem falar que para vencer os desafios abrem mão de
parcela significativa de seus ganhos, pois motores mais potentes demandam mais
combustíveis, equipamentos mais pesados exigem mais segurança e manutenção e a soma
disso tudo em contabilidade significa AUMENTO DOS CUSTOS OPERACIONAIS, logo,
REDUÇÃO DA RENTABILIDADE, e MENOR LUCRO.
Reforçando ainda o assunto do uso da tecnologia, uma planta estática, em terra,
dificilmente tem que ser mexida depois de calibrada. Já a configuração das dragas que
garimpam no período das cheias do rio demanda força e confiabilidade e requerem
investimentos no projeto e execução da construção dessas estruturas de produção. Manter
20
800.000,00
700.000,00
600.000,00
500.000,00
400.000,00
300.000,00
200.000,00
100.000,00
0,00
Produção em gramas
2008* 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
O ano de maior produção física nesta série foi o de 2015, com incremento na produção
muito acima da média nos meses de agosto-setembro-outubro daquele ano. Ao todo, o
empreendimento produziu no decorrer do período relatado, o total geral de 5.535,92kg (cinco
mil, quinhentos e trinta e cinco quilos e novecentos e vinte gramas) de ouro; mas em referência
ao nível de receita, o melhor desempenho ocorreu em 2016, em função da demanda do
minério e bom preço praticado neste ano específico, o que resultou na seguinte visualização
das receitas. A quantidade não variou ao longo do tempo, mas o preço variou muito de acordo
com as cotações da época da venda da produção e cujas variações se dão em função da
demanda, da inflação, da paridade ouro-dólar, e etc.
100.000.000,00
80.000.000,00
60.000.000,00
40.000.000,00
20.000.000,00
0,00
Gráfico 11: Receitas de vendas anuais no período 2008 a 2018 (em RS)
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos demonstrativos contábeis da cooperativa.
* A produção de 2008 começou no mês de maio.
e o 1º. Lugar em mineração de ouro, sendo que sua produção representa 11,77% de toda a
produção mineral do estado no período.
Em 2011, na página 47 do primeiro livro, traz uma produção de ouro de 489kg. Como
a Coogarima produziu em 2011 o montante de 362,913kg de ouro, foi responsável pela
produção de 74,22% de todo o ouro produzido no Estado de Rondônia no ano considerado.
O número de produtores caiu para 13. O ranking de produção mineral (p.54) registra que a
Coogarima ocupa o 3º. Lugar dentre todos os produtores minerais, com 7,44% de toda a
produção mineral comercializada e segue invicta em 1º. Lugar dentre os produtores de Ouro.
O período 2014 a 2017 fazem parte do segundo volume da publicação, cuja razão para
o desmembramento e dois volumes ainda não foi descoberta.
O número de produtores este ano subiu para 15, a COOGARIMA, já invicta em primeiro
lugar dentre os produtores de ouro, segue em segundo na produção geral mineral, detendo o
percentual de 13% de toda a produção mineral do Estado (p.46,v.2).
Em 2015, a produção de ouro informada (p.52,v.2) pelo referido Anuário Mineral, foi
de 1142kg, sendo que desses, 796,69kg foram produzidos pela Coogarima, representando
69,76% da produção total de ouro de Rondônia.
Em 2017 a produção de ouro no Estado de Rondônia sofre uma leve retração, com a
produção estadual registrando 1065kg, sendo que deste total 540,58kg (50,76% do total
produzido) foram ofertados ao mercado pela Coogarima. Não foi um ano fácil, como relatado
anteriormente, devido à queda significativa na produção nos meses de janeiro, fevereiro,
março e abril, em função da cheia do Rio Madeira.
27
Também subiu para 20 o número de produtores de ouro no ano de 2017, atraídos que
foram pela boa média de preços nas cotações de 2016.
Apesar de todos esses fatores, a cooperativa ainda se mantém em primeiro lugar entre
os produtores de ouro mas fica em 2º. entre os produtores gerais do setor minerário de
Rondônia (p.82,v.2).
A tabela 3.1 do citado anuário (p.85,v.2) traz a tabela de recolhimento do CFEM:
28
21
O Apêndice 5 do Anuário Mineral 2018 livro 2 que contém o período de 2013 a 2017 esclarece os critérios a respeito do CFEM:
APÊNDICE A5 – Royalties (Royalties) Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais - CFEM A CFEM, estabelecida pela
Constituição de 1988, em seu Art. 20, § 1o, é devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e aos órgãos da administração da União,
como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios. Ao DNPM compete baixar normas e exercer
fiscalização sobre a arrecadação da CFEM (Lei Nº 8.876/1994, art. 3º inciso IX / Lei Nº 13.575/2017, art. 2º inciso XII). A Compensação Financeira
é devida por toda e qualquer pessoa física ou jurídica habilitada a extrair substâncias minerais, para fins de aproveitamento econômico, e o
pagamento deve ser realizado mensamente até o último dia útil do segundo mês subsequente ao fato gerador. A CFEM é calculada sobre o valor
do faturamento líquido, quando o produto mineral for vendido. Entende-se por faturamento líquido o valor de venda do produto mineral, deduzindo-
se os tributos, as despesas com transporte e seguro que incidem no ato da comercialização. Quando não ocorre a venda porque o produto foi
consumido, transformado ou utilizado pelo próprio minerador, o valor da CFEM é baseado na soma das despesas diretas e indiretas ocorridas até
o momento da utilização do produto mineral. Os dados de arrecadação da CFEM apresentados neste anuário estão consolidados por substâncias
e por titular de direitos minerários.
30
si só, derruba todas as teorias nefastas e contundentes que se insculpe e atribui à imagem do
garimpeiro. Se legalmente se enquadra na descrição e atribuição de garimpo e garimpeiro, se
este núcleo de pessoas está organizado como cooperativa de garimpeiros e vem cumprindo
religiosamente com todos os seus compromissos socioeconômicos, ambientais e legais.
Então é fato que ser garimpeiro é uma profissão digna, extremamente séria e verdadeiramente
útil e compromissada com o desenvolvimento do país; sendo que, como profissão, não fica a
dever nada a nenhuma outra, por mais pomposa que seja, em nível de importância e
resultados.
A seguir, busca-se demonstrar os principais resultados concretos da filosofia
empresarial da COOGARIMA e sua cultura interna:
A primeira realização: conhecer profundamente o negócio, mapear o processo, padronizar
dentro dos parâmetros definidos, eliminar vícios e desperdícios, reduzir significativamente os
riscos, multiplicar e replicar os resultados positivos. Com o apoio do conhecimento teórico
(FRANCISCO Jr.; YAMASHITA; MARTINES, 201322) juntamente com trabalhadores de uma
draga de garimpo, foi mapeado e analisado cada uma das fases do processo, com visitas
presenciais para a coleta de dados e registro dos achados, visando apreender os
procedimentos empregados e demais aspectos relacionados. A partir do material coletado e
do conhecimento acerca do processo de extração de ouro, foi produzido um material com o
objetivo de inter-relacionar os saberes popular e científico. Neste relatório, que representa um
adensamento de aspectos teóricos do material coletado, será apresentado um breve contexto
histórico-social da exploração aurífera no Rio Madeira, as etapas que constituem o processo
de garimpo, bem como propostas de interação alguns conhecimentos científicos com a base
nos saberes relacionados a este tipo de extração mineral.
Diferentemente de outras regiões onde o ouro se encontra geralmente associado a
alguns minerais ou mesmo no formato de pepitas, no Rio Madeira, a disponibilidade do metal
é na forma de pequenas fagulhas, fato que exige tecnologias diferenciadas para o garimpo,
inclusive a necessidade de uso do mercúrio. Foi a necessidade de explorar o ouro no formato
de pequenas fagulhas que impulsionou a utilização das dragas para o garimpo, a partir de
equipamentos originários do saber científico-tecnológico e da experiência dos sujeitos em
modificá-los conforme suas necessidades. Logo, no que se refere aos termos operacionais,
os saberes envolvidos no garimpo são empíricos, basicamente fruto da observação da
experiência, construídos na relação com o outro no mundo e sendo apropriados conforme a
necessidade prática.
Atualmente, com as modificações na tecnologia empregada, especialmente nas
dragas, houve aumento significativo da segurança da atividade, com a redução do uso do
mercúrio diminuiu em mais de 90% a contaminação dos garimpeiros e do ambiente.
A Figura 2 a seguir ilustra uma retorta idêntica às empregadas pelos garimpeiros, na
qual o vapor atravessa um tubo metálico, espécie de condensador, sendo recolhido
novamente no estado líquido em um recipiente contendo água, que não permite a volatilização
do metal. Todo o sistema é fechado o que diminui drasticamente a contaminação com
mercúrio dos garimpeiros e do ambiente.
Figura 2: Sistema fechado idêntico ao utilizado para o aquecimento da amálgama e posterior separação do
mercúrio do ouro. Vista frontal (A) e superior (B).
Fonte: Catálogo do produto.
22
FRANCISCO JR., W.E.; YAMASHITA, M.; MARTINES, E.A.L.M. Saberes regionais amazônicos: do garimpo de outro no rio Madeira (RO)
às possibilidades de inter-relação em aulas de química/ciências. Química Nova na Escola, v. 35, n. 4, p. 228-236, 2013.
32
extração de ouro, salvo em casos nos quais a atividade é autorizada pelo órgão ambiental
competente. Não obstante a redução do uso de mercúrio no garimpo, sua autorização para
uso é de difícil concessão, o que faz com que muitas dragas operem irregularmente no Rio
Madeira. Isso traz uma incoerência sob a lógica legal, pois o processo de extração pode ser
liberado, mas não o é em muitos casos. No caso específico da COOGARIMA, todas as normas
e recomendações legais são rigorosamente obedecidas e dentro dos protocolos de utilização
exigidos pela legislação em vigor.
Vale aqui um adendo. Por um longo tempo, creditava-se ao garimpo o alto teor de
mercúrio da região amazônica, em especial a região do Madeira. No entanto, estudos sobre
a geologia da região demonstram que o teor de mercúrio no solo e sedimento é considerável.
Nesse caso, os fatores antropogênicos como o desmatamento, as queimadas, a inundação
de grandes áreas para reservatórios que abastecem as usinas hidrelétricas se configuram de
importante papel na biodisponibilização do mercúrio para metilação e entrada na cadeia
alimentar dos peixes, o que pode levar a resultados imprevisíveis de contaminação.
A erosão, a lixiviação do mercúrio presente nos solos e a sua consequente re-emissão
para a atmosfera mantêm a alta concentração do elemento no ecossistema, mesmo após a
diminuição do garimpo de ouro (LACERDA; MALM, 200823). Segundo Lacerda e Malm (2008),
o desmatamento com o intuito de expandir a área agropecuária poderia ser responsável pela
manutenção das elevadas concentrações de mercúrio ainda verificadas. Assim, é preciso um
olhar mais crítico para o garimpo e outros processos histórico-sociais que afetaram, afetam e
afetarão a região.
No presente, é possível recuperar o mercúrio utilizado, fato que praticamente
extingue a contaminação. Com isso, não seria mais adequado incentivar a exploração
legal, fiscalizando seu uso ao invés de proibi-lo?
23
LACERDA, L. D.; MALM, O. Contaminação por mercúrio em ecossistemas aquáticos: uma análise das áreas críticas. Estudos
Avançados, v. 22, n. 63, p. 173-190, 2008.
33
Em tempos de crise, o ouro é porto seguro, mas deve-se levar em conta que, da
mesma forma que no mercado de ações, o de ouro também é um mercado de risco, pois além
de variáveis externas, a cotação do ouro também varia de acordo com a oferta e a procura.
Por variáveis externas que influenciam na cotação do ouro entendam-se as guerras, as crises
mundiais, altas repentinas do preço do petróleo, etc. Nos tempos de situação difícil, é comum
os investidores buscarem refugio (hedge) no ouro. Sua função de hedge fica bem evidenciada
quando se verifica que o ouro é uma reserva de valor em momentos de incerteza econômica,
financeira ou política em nível mundial.
Tem como Marco Legal – O Art. 1º do Decreto-Lei no. 227 (Código de Mineração), de
28 de fevereiro de 1967 estabelece que: “Compete à União administrar os recursos minerais,
a indústria de produção mineral e a distribuição, o comércio e o consumo de produtos
minerais”. Depois deste, vários dispositivos legais trataram da exclusividade da aquisição do
ouro pela Caixa Econômica Federal nas regiões de Serra Pelada e Cumaru, bem como a
comercialização somente através de instituições financeiras credenciadas pelo Banco Central
– BANCEN, para realizar este tipo de transação.
A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 153, § 5º. Estabelece que: “O ouro,
quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial, sujeita-se
exclusivamente à incidência do imposto de que trata o inciso V do "caput" deste artigo, devido
na operação de origem; a alíquota mínima será de um por cento, assegurada a transferência
do montante da arrecadação nos seguintes termos: (Vide EC nº 3, de 1993)
I - trinta por cento para o Estado, o Distrito Federal ou o Território, conforme a origem;
II - setenta por cento para o Município de origem”.
Por sua vez, a Lei no. 7.766, de 11 de maio de 1989, dispõe sobre o ouro, ativo
financeiro, e sobre seu tratamento tributário:
“Art. 1º - O ouro em qualquer estado de pureza, em bruto ou refinado, quando destinado ao
mercado financeiro ou à execução da política cambial do País, em operações realizadas com
a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, na forma e
condições autorizadas pelo Banco Central do Brasil, será desde a extração, inclusive,
considerado ativo financeiro ou instrumento cambial”.
O § 1º do mesmo artigo complementa “Enquadra-se na definição deste artigo:
“I - o ouro envolvido em operações de tratamento, refino, transporte, depósito ou custódia,
desde que formalizado compromisso de destiná-lo ao Banco Central do Brasil ou à instituição
por ele autorizada. II - as operações praticadas nas regiões de garimpo onde o ouro é extraído,
desde que o ouro na saída do Município tenha o mesmo destino a que se refere o inciso I
deste parágrafo”.
Esclarecendo ainda no seu § 2º que: “As negociações com o ouro, ativo financeiro, de
que trata este artigo, efetuada nos pregões das bolsas de valores, de mercadorias, de futuros
ou assemelhadas, ou no mercado de balcão com a interveniência de instituição financeira
autorizada, serão consideradas operações financeiras”.
É o Art. 2º da mesma norma legal que faculta às cooperativas ou associações de
garimpeiros, desde que regularmente constituídas e autorizadas pelo Banco Central do Brasil
a operarem com ouro, restringindo-se, porém e exclusivamente, à sua compra na origem e à
venda ao Banco Central do Brasil, ou à instituição por ele autorizada, e serão comprovadas
mediante as notas fiscais ou documentos que possam identificar plena e legalmente essas
operações.
A COOGARIMA cumpriu as exigências e têm esse credenciamento, essa autorização.
O § 2º do Art. 3º ainda prevê que “O ouro acompanhado por documentação fiscal
irregular será objeto de apreensão pela Secretaria da Receita Federal”.
34
Cálculo dos valores distributivos setoriais no período 2008 a 2018 Receita R$587.628.450,09
Gráfico 12: Impacto Intersetorial das atividades da Coogarima, no período de 2008 a 2018
Fonte: Contabilidade da Coogarima e indicadores do IBGE.
adicional de R$ 0,09986 dentro da própria atividade. No que diz respeito aos efeitos indiretos,
em nível do aumento na demanda junto aos setores fornecedores, estão discriminados os
multiplicadores relativos aos segmentos de maior representatividade.
Pode-se perceber que o maior impacto se dá no setor de mineração, responsável por
fornecer os insumos para a produção industrial, que fabrica as máquinas e equipamentos que
vão atender à demanda crescente por bens de produção. O gráfico, a seguir, auxilia na
visualização dos efeitos distributivos das atividades desenvolvidas pela COOGARIMA de
acordo com a Matriz D.Bn.
R$16.512.359,45 R$8.602.880,51
R$20.901.943,97 R$51.499.757,37
R$22.071.324,59
R$38.301.622,38
R$22.494.417,07
R$23.311.220,62
R$33.165.749,72
R$24.780.291,74 R$31.003.277,03
Mineração
Fabricação & Manutenção de Máquinas e Tratores
Refino de Petróleo & Indústria Petroquímica
Transportes
Serviços Prestados às Empresas
Serviços Industriais de Utilidade Pública
Fabricação de Outros Produtos Metalúrgicos
Gráfico 13: Mensuração do Impacto Intersetorial das atividades da Coogarima, no período de 2008 a 2018
Fonte: Contabilidade da Coogarima e indicadores do IBGE.
Cálculo dos Multiplicadores sobre a renda do período 2008 a 2018 Receita R$587.628.450,09
BENEFICIÁRIOS INDIRETOS:005
Número Médio de Funcionários por Atividade de Apoio ao Garimpo Considerado 5
DISTRIBUIDORES DE
LOJAS SERVIÇOS
Equipamento Subaquático OFICINAS ÓLEO E TOTAL
COMERCIAIS AUTONOMOS
LUBRIFICANTE
UNIDADES 47 23 7 26 103
BENEFICIÁRIOS INDIRETOS 235 115 35 130 515
3.1 DEPENDENTES 006
Número Médio de Familiares por Funcionários por Atividade de Apoio ao Garimpo Considerado 5
DISTRIBUIDORES DE
LOJAS SERVIÇOS
EMPRESAS OFICINAS ÓLEO E TOTAL
COMERCIAIS AUTONOMOS
LUBRIFICANTE
007
BENEFICIÁRIOS INDIRETOS 1.175 575 175 650 2.575
Proprietários 83
Operadores e pessoal de apoio 591
Pessoal administrativo 15
TOTAL DE POSTOS OCUPADOS.................. 689
Portanto, pode-se considerar que a cooperativa mantém a seguinte média de
trabalhadores diretos, desconsiderando as vagas geradas na fase de pesquisa, prospecção e
planejamento e a mão de obra ocupada nos garimpos:
Tunes25: “Mineração é uma atividade de capital, não de Estado. E o preço é alto. Hoje nós
não temos uma estrutura de financiamento que atenda a mineração. Essas empresas que
estão aí são de fora porque, em países como o Canadá, há apoio para esse tipo de operação.
Qualquer cidadão pode colocar seu dinheiro na bolsa para financiar esses empreendimentos”.
A maioria dos projetos internacionais em atividade no país foi atraída por
empreendedores brasileiros que não conseguiram obter financiamento para bancar as
explorações em minas. Deve-se levar em consideração que se o empreendedor não possui
um sistema de financiamento no país, é preciso buscar alternativas fora do país. Isto não é
nenhuma novidade.
Em tempos normais, sem muitas crises e oscilações na economia, cerca de 70% da
produção mundial de ouro é utilizada pela indústria de joias, 11% por empresas produtoras
(dental, eletrônica) e 13% é detido por investidores privados e instituições como os governos
e os bancários.
O primeiro item a ser desmistificado é o do garimpo e da cooperativa de garimpeiros.
Na realidade, O ESTADO (entenda-se por Estado o ENTE FEDERATIVO, o PAÍS) deveria
cada vez mais fomentar a formação e utilização de cooperativas para fomentar as atividades
que, de outra forma não seriam viáveis em virtude dos níveis de juros praticados no país, a
insegurança de assumir dívidas em moeda estrangeira em face à instabilidade e fragilidade
da moeda nacional, e a falta de disponibilidade de políticas de fomento para concretização de
projetos que demandem determinados níveis de investimentos.
Alguns especialistas já começaram a trabalhar essas ideias e o objetivo agora é
trabalhar para que se concretizem como políticas públicas, ainda que estas têm dependido
cada vez mais do estímulo e do fortalecimento ao capital social ou da organização social dos
beneficiários em determinados contextos como forma de ampliar as possibilidades de sua
efetividade.
A criação e o fortalecimento de organizações coletivas passaram a integrar as
normativas de orientação do Estado para a aplicação de recursos públicos, numa clara condução
de programas públicos e o acesso a políticas públicas para “beneficiários” que precisam estar
constituídos em cooperativas e associações. Esse é um critério estabelecido de cima para baixo.
Compromissados em acessar as políticas e os programas, os “beneficiários” se adéquam às
exigências e formalizam uma organização, mesmo sem que ela seja fruto de um processo de
mobilização e confluência de interesses. Porém, é importante questionar: qual a capacidade
articuladora e coordenadora destas organizações em prol de um grupo? Elas (as organizações
induzidas) conseguem de fato integrar e implementar políticas públicas e fazer a diferença na
vida das famílias que a recebem? As cooperativas do ramo mineral, por exemplo, tem sido uma
forma de impulsionar a legalização dos garimpos; o Estado decretou que o direito de lavra seria
concedido prioritariamente para cooperativas ou associações. Com tal determinação os
garimpos tiveram que mudar sua forma de organização para se adequarem a uma exigência
externa. E em consequência se amplia a constituição de cooperativas de garimpeiros no Brasil.
Mas esta questão ainda é tratada de forma marginal na academia e carece de estudos para
ganhar amplitude e visibilidade, inclusive nas reflexões dos formuladores de políticas públicas.
Um segundo ponto que precisa ser entendido é que o uso do mercúrio nem sempre é
o vilão do processo de mineração do ouro. A utilização do mercúrio não se restringe apenas
à produção de ouro26. Aliás, o processo de amalgamação do ouro já era de domínio tanto dos
25
Fontes: Valor-Multinacional puxa alta na exploração de ouro no Brasil
26 Aplicações do mercúrio
Normalmente, o mercúrio é utilizado em instrumentos de medidas como termômetros, medidores de pressão sanguínea e barômetros, além de ser
também utilizado na fabricação de lâmpadas fluorescentes e como catalisador em reações químicas. Costumava ser usado por dentistas como
elemento para a obturação de dentes, porém, foi substituído por bismuto, que possui propriedades semelhantes às do mercúrio, mas é ligeiramente
menos tóxico. De todas as suas aplicações, a mais importante está na fabricação de instrumentos para laboratórios, que terão diversos fins, dentre
eles: medir o peso específico de alto, medir sua fluidez e condutividade elétrica. Na Sociedade Contemporânea, o mercúrio (Bicloreto de Mercúrio)
é utilizado nos seguintes produtos e procedimentos: amálgama dentário (cimentos dentais), baterias elétricas, bronzes, bulbos de lâmpadas
florescentes “e vapor de mercúrio”, branqueadores de pele, células eletrolíticas da produção de cloro e soda cáustica, cosméticos em geral
(preservativos), desinfetantes, detonadores, calibração de vidros e de cristais, conservação de sementes de batata, crematórios (devido às
próteses), equipamentos elétricos e eletrônicos (retificadores, relés, interruptores etc), esterilização de instrumentos controle e cirúrgicos
(termômetros, barômetros, esfingnomanômetros); espelhos (fabricação), feltro, fornos de cimento ( principalmente durante a injeção de resíduos),
fotogravuras, fotografia industrial, fungicidas (preservação de madeira, papel, plásticos etc.), garimpo (catalisadores e na extração de ouro –
“amalgamação”), galvanização (dourado, prateado e bronzeado), germicidas, geleias anticoncepcionais, incineradores (sobretudo de lixo urbano e
hospitalares), inseticidas, laboratórios químicos, leites de colônia, lâmpadas fluorescentes, litografia, minas de mercúrio produtivas, madeiras,
medicamentos anti-sardas e para psoríase, óleos lubrificantes, óxido amarelo de mercúrio, mercúrio amoniacal, pigmentos, pintura de pisos de
navios, preparações farmacêuticas, reservatórios de drogas, reagente analítico, produção de compostos de mercúrio, sabões sublimados, seda
artificial, solução para taxidermia, soluções antimofo em pintura, supositórios hemorroidários, soluções embalsamantes, soda cáustica, tanagem
(mordente), tatuagem (principalmente na cor vermelha), tecidos estampados, tecidos (pintura), termômetro, tinta anti-ferrugem, tinta de escrever,
tinta para quadros, tônicos capilares, vacinas (thimerosal), e etc.
Perigos para a saúde
Queimação na pele, mudanças de personalidade, coceiras persistentes e tremores musculares são alguns dos sintomas de envenenamento crônico
por mercúrio, ou seja, absorção frequente de pequenas quantidades do elemento. Já o caso de envenenamento agudo, que acontece por ingestão
de compostos do metal, é muito pior e se não tratado pode causar a morte em até uma semana.
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fenícios quanto dos cartagineses há 4,7 milênios atrás. Em escrito datado de 50 d.C. (História
Natural) Caius Plinius descrevia a técnica de mineração do ouro e prata com um processo de
amalgamação bastante semelhante ao ainda hoje utilizado na mineração de ouro.
O Brasil não produz mercúrio, pois não tem reservas de cinabre (forma
comercialmente explorada de mercúrio). Por isso, o país o importa principalmente dos EUA
e da Espanha. A sua importação e comercialização são controladas pelo IBAMA por meio da
Portaria n° 32 de 12/05/95 e Decreto n° 97.634/89, que estabelece a obrigatoriedade do
cadastramento no IBAMA das pessoas físicas e jurídicas que “importem, produzam ou
comercializem a substância mercúrio metálico”. O uso do mercúrio metálico na extração do
ouro é também regulamentado. O Decreto 97.507/89 proíbe o uso de mercúrio na atividade
de extração de ouro, “exceto em atividades licenciadas pelo órgão ambiental competente”.
Por outro lado, a obrigatoriedade de recuperação das áreas degradadas pela atividade
garimpeira é igualmente regulamentada pelo Decreto 97.632/89.
Por interessante, reproduziu-se aqui parte da entrevista do professor e pesquisador
Arthur Pinto Chaves27, concedida à Oficina de Textos28, quase que na forma de um debate.
Em face dos recentes debates sobre uso de mercúrio em garimpos impulsionaram a busca
por métodos sustentáveis de mineração, o professor e pesquisador Arthur Pinto Chaves,
esclarece que:
a) A amalgamação é um dos métodos de recuperação do ouro contido nos concentrados, mas não é o único. O ouro
pode ser extraído, por exemplo, por lixiviação cianídrica. Destacamos que o mercúrio pode ser utilizado de forma segura,
para os operadores e para o meio ambiente, com a utilização de equipamentos adequados, como moinhos de amalgamação
e retortas para vaporização e recuperação completa do mercúrio. O problema mundial na utilização do mercúrio na mineração
de ouro é que sua aplicação pelos mineradores informais geralmente feita sem nenhuma técnica ambientalmente segura.
Isso acarreta perdas para o meio ambiente, riscos de ele se integrar à cadeia alimentar e mesmo de se incorporar
imediatamente ao ser humano através da respiração dos vapores durante a “queima” do amálgama. Em outras palavras, o
mercúrio pode ser utilizado em mineração desde que seja de forma segura.
b) Existem outras técnicas que permitem separar os minerais dos resíduos, como a separação densitária. A diferença
em relação às outras técnicas é que o mercúrio facilita o trabalho. Além do bateamento manual, industrialmente os minérios
são processados em jigues, espirais concentradoras, mesas vibratórias, equipamentos centrífugos e por flotação. A
cianetação é um processo hidrometalúrgico muito eficiente e usado. Todos os métodos de concentração gravimétrica ou
densitária produzem concentrados de ouro, uma mistura do metal com outros minerais de ganga (rejeitos). Assim, sempre
será necessário aplicar um processo final para a apuração do ouro, e que pode ser a lixiviação cianídrica já citada. O único
problema com os processos de separação densitária é o elevado consumo de água. Isso faz com que os concentrados e
rejeitos tenham que ser desaguados e, geralmente, a disposição dos rejeitos é feita em barragens de rejeito, que costumam
ser ambientalmente impactantes. Mas não é aplicável em mineração em leito de rio, por exemplo, como é o caso do Rio
Madeiram porque não há onde armazenar esses rejeitos e ele solto no rio acaba por ser mais destrutivo que o próprio
mercúrio.
c) A cianetação é mais eficiente na recuperação do ouro, enquanto os custos operacionais com a amalgamação são mais
baixos. A cianetação também envolve riscos, que podem ser minimizados pela boa técnica de engenharia, que precisa
ser aplicada sempre. A amalgamação também poderia ser aplicada na apuração final do ouro se boas técnicas fossem
empregadas em todos os casos, mas como ela é de fácil execução mesmo manualmente, é utilizada, no mais das vezes,
sem nenhuma tecnologia ambientalmente sustentável, chegamos ao ponto de o mercúrio estar em vias de ser banido
mundialmente da mineração de ouro, exceto nos garimpos devido à oposição dos países emergentes.
d) A escolha do método de beneficiamento depende de vários fatores independentes: tamanho das partículas de ouro e
dos outros minerais presentes nos minérios; se o ouro está livre ou associado a outros minerais (sulfetos, por exemplo);
presença de cianicidas; presença de lamas etc. Além das eventuais restrições legais ao uso do mercúrio, a utilização de um
método ou outro depende: (a) das características do minério (presença ou não de cianicidas, e grau de liberação do ouro,
por exemplo); (b) da escala de produção; (c) do estudo de viabilidade econômica do projeto. O custo de capital (investimento)
mais elevado deverá corresponder às instalações com cianetação forçada, em tanques com agitadores.
Os principais motivos de envenenamento crônico por mercúrio são contaminações, como o descarte incorreto de telefones celulares, que podem
também comprometer o meio ambiente, uma vez que o visor desses aparelhos possui o elemento. Incineradores de lixo urbano produzem uma
fumaça rica em cádmio, chumbo e mercúrio, que se misturam ao ar e podem alcançar longas distâncias e contaminar a via nasal.
As indústrias que fazem uso dos seus processos podem deixá-lo vazar nos cursos d’água, seja acidentalmente ou até mesmo propositalmente. As
principais responsáveis por poluição e por acidentes com metais pesados são as indústrias metalúrgicas, fábricas de tinta e de plásticos,
principalmente o plástico PVC.
Referências:
1) Dra. Cecília Zavariz http://www.chem.unep.ch/mercury/2001-ngo-sub/sub14ngo.pdf; 2) Dr. Mario Julio Avila-Campos. Professor Associado do
Depto. Microbiologia - US). http://www.mundodoquimico.hpg.ig.com.br/metais_pesados_e_seus_efeitos.htm; 3) Dra. Shirley de Campos
http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias.php?noticiaid=1544&assunto=Metais%20Pesados%20/%20Transição;
https://www.estudopratico.com.br/a-quimica-do-mercurio/
27
CHAVES, Arthur Pinto; CHAVES FILHO, Rotênio Castelo. Teoria e Prática do Tratamento de Minérios – Volume 6
28
https://www.ofitexto.com.br/comunitexto/uso-de-mercurio/
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Equipe técnica:
Dulce Michels
Ioshua Johanna Schmitz Michels Dantas
Bruno Henrique da Silva
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APÊNDICE A – Testemunhos