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AGosto - outubro
n.º 1 | trimestral
1€
Bela ecologista
A luta da actriz Joana Seixas
em prol do ambiente
Esta revista é distribuída com o jornal Público e não pode ser vendida separadamente
Artesãos do lixo
Como o eco-design dá uma segunda
vida a materiais já sem utilidade
Para onde
vai o plástico?
seguimos o rasto das embalagens colocadas no
ecoponto amarelo.
saiba no que se transformam
08|2008
para começar
Editorial Sumário
LEMA: RECICLA n.º1 agosto - OutubrO 2010
É com muito orgulho que a Sociedade www.pontoverde.pt
Ponto Verde lhe faz chegar a sua mais
recente iniciativa, a revista RECICLA,
projecto apaixonante que partilha com
o público. O nosso sonho é fazer chegar 8 Reportagem
Conheça os bastidores da reciclagem.
ao leitor conteúdos relevantes na área do Para acabar, de vez, com ideias feitas
ambiente, da sustentabilidade e da cida- 16
16
dania. Acreditamos que o mais importan-
te que uma revista pode fazer pelos seus Pequenos Gestos
leitores é inspirá-los. A actriz Joana Seixas é uma militante do
A noção de sustentabilidade (desenvol- ambiente. Partilhe os seus eco hábitos
vimento que não compromete o futuro)
começa a ganhar as ruas. A Sociedade
Ponto Verde faz parte deste movimento
que pretende proteger o ambiente e
20 Tendências Eco
Há mãos habilidosas que, com
criatividade, fazem arte a partir do lixo
tornar a convivência social cada vez mais
civilizada. Por isso decidimos lançar a
revista RECICLA e distribuí-la a um con-
junto alargado de leitores empenhados 24 Rosto SPV
À frente da Quercus, Susana Fonseca
34
em fazer a diferença. Editar a RECICLA é defende um mundo menos consumista
apenas mais um contributo da Socie-
34
dade Ponto Verde para criar um mundo
onde todos gostemos de viver. Atitude
O alerta dos cientistas para os proble- Inovadora e irreverente, a Renova
mas ambientais, que há poucos anos é também um exemplo ambiental
mobilizava apenas órgãos técnicos e
ambientalistas, é hoje tema omnipre-
sente. Está na retórica dos políticos e 5 Ponto Verde
nos planos de negócios dos empresá-
rios. Passou a ser ferramenta de marke-
28 Planeta Verde
ting na publicidade e de autopromoção 30 Universo SPV 20
entre celebridades. E transformou-se
em discussão obrigatória nas conversas 38 Lazer sustentável
entre amigos. Esperamos que a RECICLA
contribua para o debate.R 42 Sustentabilidade é
Recicla/Ficha Técnica
Propriedade: Sociedade Ponto Verde SA, Morada: Rua João Chagas, 53, 1.Dto, 1495-764 Cruz
Quebrada, Dafundo, Tel: 210 102 400, Fax: 210 102 499, www.pontoverde.pt, recicla@pontoverde.
pt, NIF: 503 794 040, Director: Mário Raposo, Directora-adjunta: Teresa Cortes
Edição: Have a Nice Day - Conteúdos Editoriais, Lda, www.haveaniceday.pt, info@haveaniceday.pt, Tel:217 950
389 Directora: Ana Rita Ramos, Redacção: Carlos Coelho, Raquel Simões, Teresa Violante,
Paginação: Mário Pedro e Margarida Girão, Fotografia: Agência Fotográfica Filipe Pombo, Corbis
Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráfica SA, Tiragem: 10.000 exemplares, Depósito Legal: 215010/04,
ICS: 124501
30
ponto verde
Vidro é no
ecoponto verde!
Até ao final do próximo ano, 60%
das embalagens de vidro colocadas
no mercado devem ser recicladas.
Portugal está no bom caminho, mas é
preciso maior participação de todos. E
é tão simples: basta separar garrafas
e frascos e colocá-los no ecoponto
verde. Para o sucesso da iniciativa,
a Sociedade Ponto Verde (SPV)
conta com a colaborecção do sector
Horeca (hotéis, restaurantes e cafés),
grandes utilizadores de embalagens.
Para produzir uma tonelada de vidro
basta uma tonelada de vidro usado,
em vez de 1,2 toneladas de matérias-
-primas virgens.
Brincar à triagem
de resíduos
Bombeiro, médico, apresentador
de televisão. Na Kidzania, parque
temático dirigido a crianças entre os
três e os 15 anos, no Dolce Vita Tejo,
Beja em
Amadora, os mais pequenos brincam
aos crescidos. E aprendem as boas SPV no
duas rodas
práticas da separação dos resíduos.
A Sociedade Ponto Verde (SPV)
Facebook
inaugurou um centro de reciclagem
que ajuda os mais novos a entender Com mais de 10 mil fãs,
É mais fácil circular nas ruas de o funcionamento e os benefícios de a página “Reciclar é dar e
Beja. A Câmara Municipal de separar embalagens. Ali podem ser receber” da Sociedade Ponto
Beja disponibiliza aos munícipes operadores de triagem, separando, Verde (SPV) é o espaço certo
bicicletas de uso público. As num tapete, as embalagens por tipo de para esclarecer dúvidas
Petras, assim baptizadas por se material; aprendem a colocar os vários sobre reciclagem e partilhar
inserirem no Plano Estratégico de resíduos nos ecopontos apropriados; e dicas de como separar os
Transportes e Mobilidade, estão descobrem no que se transformam as resíduos de embalagens
ao dispor dos cidadãos, com mais embalagens depois de recicladas. Mais no dia-a-dia. O pacote de
de 16 anos, em locais estratégicos de 12 mil crianças já visitaram o centro leite é no ecoponto azul ou
da cidade (Casa da Cultura, Posto SPV na Kidzania. Para que desde no amarelo? E as caixas
de Turismo e Câmara Municipal), pequeninos aprendam bons hábitos, de pizza que mandou vir
de 2.ª a 6.ªf, das 9:30 às 17:30. ao mesmo tempo que se divertem. ontem? Nesta rede social
Basta apresentar um documento trocam-se ideias sobre
de identificação e deixar contacto ambiente e reciclagem, e
telefónico. Depois, é partir à disponibilizam-se vídeos
descoberta de Pax Julia em duas e campanhas da SPV.
rodas. Participe.
5
“Reciclar é dar e receber” é o mote Prevenção do Abandono Escolar, as Setembro deste ano, o objectivo
do projecto da Sociedade Ponto taxas de abandono acentuam--se de é enviar para reciclagem 160 mil
Verde (SPV), em parceria com a forma marcante no 5º, 7º e 10º anos. toneladas de embalagens usadas,
Entrajuda, associação para o apoio É preciso agir depressa. Por cada ajudando cerca de 2 mil crianças.
a instituições de solidariedade tonelada de resíduos de embalagens Os kits obtidos com o material
social que assiste a mais de 22 mil colocada por todos nós no ecoponto, escolar serão entregues no início do
crianças através de 271 Instituições a SPV contribuirá financeiramente ano lectivo. A Entrajuda identifica
de Solidariedade Social. Missão do para a aquisição de material escolar. as situações que mais carecem de
projecto? Dotar alunos carenciados Para pôr em prática o projecto intervenção social. Homenagem ao
do 1º ciclo com materiais escolares “Reciclar é dar e receber”, a território mágico da solidariedade.
novinhos em folha e contribuir mecânica é simples: por cada
para contrariar fenómenos como tonelada de resíduos encaminhada
o abandono e o insucesso escolar. para a reciclagem, a SPV contribui
De acordo com o Plano Nacional de com 0,25€. A decorrer de Abril a
6
ponto verde
7
saiba tudo
sobre reciclagem
grande parte do lixo que produzimos diariamente
pode ser reciclado. Sim, é fácil e o planeta agradece.
A RECICLA preparou um guia de etiqueta eco para
acabar com ideias feitas.
Texto Teresa Violante
Ilustração Margarida Girão
Ao reciclar 25 garrafas de plásti- são todos misturados aquando da contentores específicos – se pre-
co obtém-se poliéster suficiente recolha dos ecopontos.… Porque ferir, pode colocar as embalagens
para produzir uma camisola. Com reciclar é simples, eficiente e em sacos de plástico usados que
este dado desfaz-se o mito de que necessário, a RECICLA derruba depois deve colocar no ecoponto
a reciclagem resulta apenas em mitos e dá-lhe dicas práticas para amarelo.
artigos pouco comuns, ou então melhor separar o seu lixo.
muito caros e raramente utiliza- Escorra o conteúdo das embala-
dos. Reciclagem significa poupar Embalagens tricolores gens para evitar cheiros desagra-
matérias-primas virgens, muitas É em casa e no escritório que dáveis.
não renováveis, como o petró- produzimos mais resíduos, sobre-
leo; e energia, já que na maioria tudo embalagens de papel, metal, Não precisa de retirar tampas e
dos casos exige menor consumo plástico ou vidro. Impõem-se três rótulos – o processo de reciclagem
energético do que a extracção e questões: como, o quê e onde encarrega-se desse processo.
transformação de novos materiais. reciclar?
Mas ainda há resistências à reci- Espalme as embalagens de modo
clagem e pessoas que se recusam COMO? a poupar espaço, quer em casa,
a separar os resíduos. Os motivos Crie espaços próprios para separar quer no ecoponto.
que alegam são vários: é trabalho- as embalagens. Não é obrigatório
so, não surte efeito, os resíduos adoptar um mini ecoponto, ou
8
reportagem
O QUÊ?
Embalagens de vidro, papel, plástico e metal.
ONDE?
Não é um bicho-de-sete-cabeças, mas há normas para reciclar.
Azul
Colocar: caixas de cereais, papel
Amarelo Verde
Colocar: garrafas e garrafões de Colocar: garrafões de vidro, gar-
de escrita, envelopes (não é água, garrafas de óleos alimen- rafas de sumo e água, garrafas de
necessário tirar a janela), caixas tares, garrafas de sumos, garra- azeite, frascos de doce, boiões,
de bolachas, cintas de packs de fas de vinagre, embalagens de frascos de azeitonas e pickles,
garrafas, papéis de impressão, pa- manteiga e margarina, sacos de garrafas de vinho e cerveja.
pel de embrulho, caixas de cartão plástico, embalagens de iogurte
de ovos, listas telefónicas, cartas, líquidos e sólidos e de batatas fri- Não colocar: pratos, materiais de
sacos de pão de papel, sacos de tas e aperitivos, latas de bebidas, construção civil, frascos de perfu-
comida para animais. latas de leite em pó, de fruta e me, janelas, vidraças e espelhos,
leguminosas, latas de conserva, lâmpadas, chávenas, jarras, cris-
Não colocar: papel autocolante, pacotes de bebidas (leite, sumos, tal, copos, pirex, porcelanas.
sacos de cimento, papel plastifica- vinho), pacotes de natas e de pol-
do, toalhetes e fraldas, lenços de pa de tomate, esferovite, garrafas
papel sujos, embalagens de cartão de lixívia, embalagens de deter-
com gordura, papel de cozinha e gentes e de produtos de higiene,
guardanapos sujos, embalagens filmes plásticos, tabuleiros de
de produtos químicos. alumínio, aerossóis.
10
ETERNO
PLÁSTICO
TODO O PLÁSTICO TEM A CAPACIDADE DE SER RECICLADO. DE SE
REIVENTAR EM ROUPAS, BRINQUEDOS, NOVAS EMBALAGENS E ATÉ
PAVIMENTOS. BASTA COLOCÁ-LO NO ECOPONTO E A SOCIEDADE
PONTO VERDE FAZ O RESTO.
Texto Raquel Simões
Ilustração Margarida Girão
reportagem
1
reportagem
Sabia que …
no caso das garrafas de água ou sumos a reciclagem utiliza, em média, apenas
30% da energia que seria necessária para a produção de matéria-prima virgem?
por cada 100 toneladas de plástico reciclado evita-se a extracção de uma tonelada
de petróleo?
1
pequenos gestos
ECOLOGISTA
no palco da vida
Joana Seixas é conhecida pela capacidade de representação. Mas
a actriz também brilha na batalha ambiental. Defensora acérrima
do planeta, adoptou no seu dia-a-dia (e sem dificuldade) um
conjunto de práticas amigas do ambiente.
Texto Teresa Violante
Fotos Tiago Pereira/AFFP
Reduzir, reutilizar e reciclar não são apenas verbos para Joana o nascimento do filho. “A primeira preocupação foi alimentar,
Seixas. São gestos que a actriz interiorizou e pratica todos os com as papas do Francisco. Depois tornou-se numa bola de
dias com naturalidade. Conhecida do público pelas suas ac- neve”, recorda. Hoje tem no filho um pequeno ajudante, que
tuações na televisão e no teatro, ela é também uma militante lhe chama a atenção para comportamentos menos eco. Mas
ecologista. Do carro às escolhas alimentares, Joana é norteada Joana é (quase) irrepreensível. Na hora de ir às compras não se
por um objectivo: proteger o planeta. Por isso foi uma das qua- esquece de levar de casa sacos ou cestas para transportar as
tro fundadoras da Casa Verdes Anos, em Lisboa, espaço que compras. Sempre que possível opta por alimentos de origem
aposta na pedagogia alternativa focada no ambiente. biológica. “Ainda não é possível fazer uma alimentação exclu-
“Temos de saber viver em equilíbrio. Não temos de mudar sivamente biológica. Em minha casa consigo em 70%”. Fruta
radicalmente a nossa vida, mas podemos adoptar formas de e vegetais são sempre bio, assegura, respeitando o ritmo da
estar mais ecológicas. Não é assim tão complicado”, sublinha. natureza – não come morangos em Dezembro ou dióspiros em
E não é preciso regressar ao tempo das cavernas; basta tomar Junho. Para reduzir a pegada ambiental, a actriz também di-
decisões mais racionais. Por exemplo, em vez de abdicar do minuiu o consumo de carne. “Não sou vegetariana, mas como
carro – que seria muito complicado para a actriz, condicio- pouca carne. A produção de carne é motivo de intoxicação do
nada pelos horários e locais das filmagens – Joana optou por ambiente, devido aos gases emitidos pelas vacas”, esclarece.
um automóvel de baixo consumo. “Além da reciclagem, que Também na hora de vestir-se Joana respeita o ambiente. A
é básico, passei a preocupar-me com a água que gasto, os começar pelas fibras que dão forma às peças, privilegiando o
detergentes que uso”, diz. Por isso privilegia soluções ecológi- algodão biológico. Depois, reutiliza ao máximo.”Passei a com-
cas que não agridem o ambiente, como a Oköball, constituída prar menos roupa. Tento não ser tão consumista, apesar de ter
por microbolas de cerâmica que potenciam a força da água e uma imagem a preservar e não poder estar sempre a repetir
lavam sem poluir. a roupa”, diz. “Work oblige”, mas Joana contorna-o com bom
Joana despertou para a questão ambiental há oito anos, após gosto e espírito ecológico. R
16
A actriz Joana Seixas leva tão a sério
a arte da representação como a
preservação do ambiente
pequenos gestos
olho atento Dos rótulos às embalagens, Joana Seixas a granel Sempre que possível a actriz compra produtos
analisa bem os produtos antes de os colocar no carrinho. a peso, colocando-os em embalagens reaproveitadas,
Sem desperdício de materiais ou ingredientes nocivos, adquirindo a quantidade exacta do produto desejado.
protege a sua saúde e a do planeta.
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Em sintonia A actriz só consome Bola mágica Preocupada com a segunda vida E terceira, quarta,
frutas e legumes bio e lamenta ainda pegada ambiental, Joana opta por quinta… Joana Seixas rentabiliza
não ser possível seguir uma dieta de detergentes ecológicos para lavar diferentes embalagens, como as
origem 100% biológica. Em respeito a roupa e a loiça. E rendeu-se à caixas dos ovos, que costuma levar
pelo ritmo da natureza, privilegia os Oköball que lava sem poluir. de casa. No supermercado compra
produtos da época. ovos avulso.
0
tendências eco
Em Portugal cada pessoa produz objectos fabulosos que as pesso- lixo renascem para uma nova vida.
cerca de 1,2 quilos de resíduos as deitam fora. Tudo é utilizável. “A filosofia é muito intensa. Não
urbanos por dia. Cerca de 4,5 Sempre achei que se devia dar é fazer por fazer”, diz José Victor.
milhões de toneladas/ano de re- uma segunda oportunidade às “As pessoas constroem, utilizam
síduos urbanos que todos os dias coisas”, defende. e deitam fora. Pois eu ia buscar
deitamos fora. Nas criações artísticas que po- esses objectos e fazia com que as
Uma montanha de detritos que pessoas comprassem o que an-
será em parte enterrada, inci- tes tinham deitado fora”.
nerada, ou reciclada. Mas há A Oficina ReCriativa, no Sei-
quem, com estilo, a reutilize. produzimos, em média, xal, é um grito à imaginação,
Podemos mesmo dizer: do lixo 1,2 quilos de resíduos onde de pacotes de leite nas-
ao luxo. Disto são exemplos urbanos por dia. cem vacas, galinhas e porcos,
os criadores que conhecemos Felizmente, há de embalagens de sumo sur-
nesta reportagem. Mentes
quem os reutilize gem carros de corrida, molas
criativas que dão nova dimen- de roupa e colheres e plástico
são a materiais que, de outra
para fazer arte transformam-se em bonecas.
forma, estariam condenados José Victor chama-lhes “eco-
aos aterros. brinquedos”. Uma das últimas
Felizmente para o ambiente, voam a sua casa descobrimos um novidades é um kit de montagem
peças nascidas de materiais aban- mosquito gigante nascido de uma
donados começam a ser vistas bomba de água, bancos feitos de
sob a luz do design e de inova- tubo, candeeiros construídos de
ção. Um novo conceito de moda, partes de motores ou aranhas
de consciência ambiental, que o de ferro. Obras de arte e peças
planeta agradece. João Parrinha de mobiliário feitas de materiais
é um destes artistas que oferece que ninguém quer, e que já foram
uma segunda vida aos materiais. expostas pela Europa.
No seu ateliê em Calhandriz,
concelho de Vila Franca de Xira, Eco-diversão
uma carapaça gigante de metal, e No universo da reciclagem brilha
partes de aparelhos, ferro, tubos também a Oficina ReCriativa, do
e máquinas, transformam-se em artista plástico José Victor. Toda
arte. “É tudo questão de imagi- a sua criação tem por base a reu-
nação. Depende da criatividade. tilização de peças, objectos, um
Vou a ferros-velhos para recolher sem número de materiais que do
tendências eco
22
tendências eco
23
rosto spv
É um dos rostos mais mediáti- tigação, relacionado com movi- Foi um conjunto de acasos.
cos da causa ambiental no país. mentos sociais e o seu impacto,
Quando começou a interessar-se pôs-me em contacto com a asso- Sentia vontade de participar num
pelas questões ecológicas? ciação. Comecei a colaborar como movimento associativo?
Ainda andava no secundário, Tinha vontade de fazer algu-
no 11.º ano, na antiga área A ma coisa. O facto de o CIR
– Ciências. Na altura só havia estar em formação ajudou.
recolha de vidro, com vidrões
“teremos de reduzir Tornei-me sócia e comecei
na rua, e na minha escola ini- significativamente a devagarinho; foi uma entrada
ciou-se um projecto de recolha pegada ecológica e de mansinho. Sentia falta de
de papel. A partir daí fiquei isso não vai lá só com voltar à questão ambiental,
mais consciente da questão eficiência, mas com que me preocupava.
dos resíduos. Mais tarde estive redução do consumo”
envolvida nalguns projectos A opção por Sociologia do
da faculdade, no Instituo Su- Ambiente é prova dessa
perior de Ciências do Trabalho preocupação?
e da Empresa (ISCTE). voluntária com o Centro de Infor- Foi uma escolha consciente. No
mação sobre Resíduos (CIR), que terceiro ano da Faculdade pensa-
Como chegou à Quercus? estava a começar. Depois convida- va em seguir sociologia urbana;
O meu primeiro projecto de inves- ram-me para a direcção nacional. não gostei. Experimentei socio-
25
rosto spv
logia do ambiente e vi que era capacidade de actuação, cada vez Qual o maior problema ambiental
o meu espaço. A minha tese de de forma mais profissional, no de Portugal?
mestrado foi nessa área – a pers- sentido de termos melhor noção A falta de sensibilidade, de conhe-
pectiva de como a sociedade olha do mundo em que nos movemos. cimento até, de muitas pessoas
para a questão ambiental. A Quercus começou na área da que tomam decisões importantes
conservação da natureza, depois para o país. Aplica-se aos go-
A partir de então tem participado passou para a vertente de enge- vernantes e aos decisores, mas
activamente na Quercus e é a nharia – árvores, resíduos, energia também aos cidadãos. A cultura
primeira mulher presidente da – e recentemente voltou a dar da sustentabilidade ainda não
associação. Que significado tem mais atenção à biodiversidade e está inculcada. Isso dificulta que
isso para si? natureza. Temos uma actuação soluções mais interessantes sejam
Não tem significado especial por- aplicadas e facilita a quem quer
que não é uma conquista dentro propor soluções insustentáveis
da Quercus – não há essa questão que o continue a fazer.
de género. Até foi numa altura
complicada para mim – fui mãe a Mas as pessoas estão mais sensi-
21 de Março de 2009 e no sábado, bilizadas…
dia 28, fui eleita presidente da Até reciclam algumas coisas, têm
Quercus. uma ou outra prática ambiental,
mas não são críticas em relação
Quais as prioridades para este ao que compram. Não se preocu-
mandato? pam se é português ou chinês, se
Há situações internas que temos tem demasiada embalagem, se é
de trabalhar. Temos como objec- sustentável ou não, se é feito com
tivo aproximarmo-nos dos sócios, fibras naturais ou sintéticas. Tam-
saber quais os seus interesses, o bém é preciso haver ferramentas
que esperam da Quercus, e faci- no terreno, rótulos credíveis que
litar o sistema de pagamento de
quotas ou atribuição de donativos.
“o planeta não ajudem a escolher melhor. Não te-
mos uma cultura de rótulos, e não
Na Quercus há áreas estratégi- comporta a busca temos cidadãos a solicitá-los. Mas
cas que temos de reforçar. Duas contínua de houve uma evolução significativa.
estão bem encaminhadas: água e recursos naturais. Os próprios resultados da Socieda-
agricultura sustentável. Depois há o caminho de Ponto Verde, ainda que modes-
outra: ordenamento do território. é reduzir, reutilizar tos a nosso ver, demonstram que
as pessoas têm aderido com maior
As acções da Quercus ao estilo
e reciclar” regularidade.
Greenpeace abrandaram. Que-
rem afastar-se dessa linha? equilibrada entre as várias áreas O excesso de consumo é um
Estamos a ficar velhos! (risos) e com uma postura mais correcta, dilema?
Ao longo da história da Quercus com projectos que demonstram É o nosso grande problema, e
houve vários momentos. Agora aquilo que consideramos que o excesso de produção para o
temos um leque de ferramentas deve ser feito: micro reservas, alimentar. Estamos acima da ca-
mais alargado e só partimos para centros de recuperação de animais pacidade do planeta. Teremos de
acções mais mediáticas quando selvagens… As pessoas acham reduzir significativamente a nossa
não estamos a progredir no bom que estamos sempre do contra. pegada ecológica e isso não vai lá
sentido. Iniciativas como o programa Minu- só com eficiência, mas com redu-
to Verde, em que surgimos a dar ção no consumo. A reciclagem, por
A associação celebra 25 anos. conselhos, transformaram a nossa vezes, dá a ideia de que não há
Que balanço faz? imagem junto da opinião pública. problema em consumir porque de-
A Quercus tem evoluído na sua pois se recicla. É um erro crasso.
26
Susana Fonseca faz da
máxima reduzir, reutilizar e
reciclar uma prática diária
27
planeta verde
ecologicamente
correcta
Pequenos ajustes permitirão que se respire melhor na sua
residência, e no planeta. E a sua conta bancária agradece. Uma casa
super-eficiente pode cortar nas despesas, e nas emissões de gases
poluentes, em cerca de 66%.
Texto Ana Rita Ramos
Foto Corbis
28
Demolições, construção e
reciclagem de equipamentos
electricos e electrónicos são
algumas das áreas de negócio
do Ambigroup, revela o
administrador Nelson Além
universo spv
Nada
se perde, tudo se
transforma
Há 30 anos João Romana de Além dedicava-se ao ferro-velho; hoje
os seus descendentes gerem um grupo de empresas ligadas
à reciclagem e ao ambiente. Bem-vindo ao mundo Ambigroup.
Texto Teresa Violante
Fotos Filipe Pombo/AFFP
1
1983 90s
PASSO A PASSO
60s
Início década de 90
O negócio a ia a Recifemetal.
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É criado o Ambigr
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A Forestech para reciclagem de res
nça
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de equipamentos eléctr
icos e Nasce a Auto
electrónicos. VFV.
32
universo spv
Universo Ambigroup
As 12 empresas SA que
compõem o grupo gerido
pela família Além
• Recifemetal, desmante-
lamentos e reciclagem de
metais
• Recipolymers, reciclagem
de polímeros O Ambigroup é um império da reciclagem, de
• Recifemetal Espana, des- resíduos eléctricos e electrónicos a peças de
veículos em fim de vida
mantelamentos e demoli-
ções
• Demotri, demolições, reci-
clagem e construção
•Ambipolis, técnicas am-
bientais A diversidade de serviços presta- Verde, partilha com esta entidade
• Incoferro, comércio de dos, com claro enfoque no am- a missão e vontade de promover
produtos siderúrgicos biente, é apontada pelo adminis- a recolha selectiva e reciclagem.
• Ambitrena, valorização e trador como “economicamente “Usufruir dos serviços de uma
gestão de resíduos vantajosa” para o cliente. Através entidade que permite dar conti-
da Forestech, da qual é accionis- nuidade à actividade de recicla-
• Transalém, transportes,
ta maioritário, o grupo também gem, poupando recursos e energia
logística e serviços
investe em energias renováveis, é, de facto, grande mais-valia”,
• Forestech, tecnologias em especial a biomassa florestal. reconhece Nelson Além. Com
florestais “A Forestech, em consórcio com preocupações ambientais inscritas
• Recielectric, reciclagem de outras empresas, ganhou licença no seu ADN, o Ambigroup crê na
REEE para instalação de nove centrais necessidade de actuar já. “É no
• Auto VFV, reutilização de de cogeração alimentadas a bio- presente que tem de se criar con-
peças de veículos em fim de massa florestal, o que lhe permi- dições e apresentar soluções para
vida tirá injectar na rede pública um os constantes desafios ambien-
• Ambimobiliária, investi- total superior a 20 MW de ener- tais”. Um grupo motivado, com
mentos imobiliários gia/hora”, aponta o administrador. provas dadas na defesa de um
Parceiro da Sociedade Ponto mundo melhor. R
33
Papel de
vanguarda
34
atitude
5
atitude
ção de matéria-prima que de outra consumidores. É nos rótulos que duos, e descargas de substâncias
forma seria lixo preserva a floresta se explica as vantagens de reciclar poluentes no meio aquático são
biológica. papel, entre outros comportamen- alguns dos parâmetros avalia-
tos amigos do ambiente. dos. Um selo de sustentabilidade
Capítulo verde A criação Renova Green não pas- que ajuda o consumidor a tomar
Na senda de novos produtos e sou despercebida e graças a ela a opções ecológicas. “A escolha de
melhores soluções, a marca de empresa de Torres Novas tornou- produtos de consumo eco-dese-
Torres Novas lançou em 2007 a -se na primeira da Península Ibéri- nhados começa a ser natural e
gama Renova Green – lenços de ca na área tissue a receber o rótulo estes produtos são cada vez mais
papel, guardanapos, rolos de co- ecológico da União Europeia. “A valorizados”, considera o respon-
zinha, papel higiénico e papel de importância desta distinção sável de marketing.
escritório feitos exclusivamente de ultrapassa o reconhecimento da Apesar da gama Renova Green
papel 100% reciclado. O processo capacidade inovadora e das boas inaugurar novo capítulo na prática
de transformação decorre nas uni- práticas ambientais da marca, ambiental da empresa, todos os
dades fabris da empresa e o papel passando uma mensagem inequí- artigos respeitam os mesmos prin-
velho é recolhido num raio de 400 voca ao consumidor – os produtos cípios de sustentabilidade. Sem
quilómetros, reduzindo a pegada com esta etiqueta cumprem um tomar posição sobre produtos, a
ecológica do material. Os cuidados conjunto de critérios ambientais Greenpeace Portugal congratula-
verdes estendem-se ainda às em- muito rigorosos”, sublinha Luís -se com a integração da respon-
balagens, também usadas como Saramago. Utilização de energia, sabilidade ambiental nos planos e
veículo de comunicação com os produção e tratamento de resí- processos de produção da empre-
36
atitude
Compromisso eco
Em Junho de 1993 a Renova tornou pública a sua política eco, assumindo vontade
de participar na protecção do ambiente. Os esforços e actividades da empresa
procuram:
proteger o sistema ecológico e usar os recursos naturais e a energia de forma
cuidadosa;
promover novos desenvolvimentos tecnológicos e aplicações que não tenham
um impacto negativo no ambiente;
desenvolver a consciência da protecção do ambiente em cada um dos
colaboradores da Renova;
fortalecer a interacção com os cidadãos e a comunidade.
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afinal,
o que é
comér
cio JUS
TO?
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Lazer sustentável
bais, facilitando as condições para que um milhão de trabalhadores. lucrativos e o seu funcionamento
ampla mobilização social”. Estima-se que cerca de 5 milhões é assegurado por voluntários. No
O movimento pode ainda estar (sobretudo agricultores e artesãos) entanto, nos últimos anos – quer
a dar os primeiros passos em estejam a ser beneficiados. por pressão dos consumidores
Portugal, mas segundo dados da mais exigentes, quer das ONG – o
associação Reviravolta, também EXPANSÃO MUNDIAL comércio justo tem conquistado
dedicada à divulgação do comér- Actualmente existem mais de 2 grandes cadeias internacionais. A
cio justo, já existem mais de 800 mil lojas de comércio justo ou do rede de cafetarias Starbucks, por
cooperativas em 45 países do Sul, mundo na Europa. A maioria é exemplo, está perto de comer-
que representam nada menos do gerida por associações sem fins cializar apenas café expresso
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lazer sustentável
Os 9 Mandamentos
1. Respeito e preocupação pelas
pessoas e ambiente;
2. Criação de meios e
100% certificado. É uma proposta provavelmente não respeitam oportunidades para os produtores
arriscada visto que este é 30% toda a cadeia, que vai desde a melhorarem as suas condições
mais caro do que o tradicional, produção até ao consumo final de vida e de trabalho, incluindo o
mas é provável que a estratégia (relativamente às políticas sociais, pagamento de um preço justo;
de marketing funcione e que o por exemplo). No fundo trata-se
consumidor ceda perante as boas apenas de uma estratégia de mar- 3. Abertura e transparência quanto
práticas sociais anunciadas. Como keting”. Certo é que o conceito à estrutura das organizações
a Starbucks, outras gigantes do tem vindo a ganhar força e massa e todos os aspectos da sua
sector alimentar começam a abra- crítica. actividade;
çar a causa: a fabricante de choco-
lates Cadbury garante que desde PRODUÇÃO LOCAL 4. Envolvimento dos produtores,
finais de 2009 todas as tabletes do Falar em comércio justo não im- voluntários e empregados nas
plica apenas vender no hemisfério tomadas de decisão;
O consumidor deve Norte o que é produzido a Sul.
entender que o “Até porque há muitos povos que 5. Protecção dos direitos humanos,
nomeadamente os das mulheres,
comércio justo estão a vender arroz”, por exem-
crianças e povos indígenas;
plo, diz Carlos Gomes, “quando
não é um facto não têm o suficiente para alimen-
isolado, mas que se tar as suas aldeias”. Há sempre 6. Consciencialização para a
enquadra numa luta que questionar os conceitos e, situação das mulheres e dos
pela transformação sobretudo, a forma de os colocar homens enquanto produtores
social em prática. e comerciantes, e promoção da
Praticar o comércio justo é tam- igualdade de oportunidades;
bém comprar localmente. Junto,
tradicional Cadbury Dairy Milk são por exemplo, de produtores que 7. Promoção da sustentabilidade
totalmente produzidas com cacau não usem agrotóxicos. É também através do estabelecimento de
certificado e afirmou que investi- comprar mel, compotas, azeites e relações comerciais estáveis de
ria cerca de 64 milhões de dólares ervas aromáticas produzidas no longo prazo;
para ajudar a garantir o desen- país, respeitando o ciclo da natu-
volvimento económico, social e reza. Evitam-se gastos aos nível 8. Educação e participação em
ambiental sustentável de um dos transportes e todas as emis- campanhas de sensibilização;
milhão de agricultores de cacau sões de CO2 que estes acarretam.
nas comunidades do Gana, Índia, “Os pequenos produtores têm de 9. Produção tão completa
Indonésia e Caraíbas. Enquanto aprender a cooperar”, assegura o quanto possível dos produtos
isso, o grupo Unilever assegurou porta-voz da Mó de Vida. “Ainda comercializados no país de origem.
que o chá em saquinhos vendido estamos numa fase muito inci-
sob a marca Lipton em todo o piente”.
mundo levará o selo de comércio Uma excepção: a proliferação de Actualmente existem apenas 3
justo até 2015. Nos hipermercados entregas de cabazes de produ- Lojas do Mundo em Portugal:
o café e chocolate ou cacau certifi- tos biológicos ao domicílio. Se
cados também já se encontram à são mais caros? Sim. Mas somos Mó de Vida
disposição do consumidor. meros consumidores ou cidadãos Calçadinha da Horta, 19, Pragal,
Carlos Gomes, porém, é céptico conscientes? R Almada Tel. 212 720 641
em relação a este crescimento ex- Loja do Mundo de Braga
ponencial: “O comércio justo é um Rua D. Diogo de Sousa, 119, Braga
meio e não um fim em si próprio. Tel. 253 278 351
As grandes superfícies podem Loja do Mundo do Porto
vender estes produtos, mas elas, Parque da Cidade
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sustentabilidade é Velas de óleo reciclado
“Fazemos as pessoas apaixonarem-se pelo seu
lixo” é o mantra das velas Oon, criadas pelo
português Mário Silva. Uma pequena máquina,
de design e autoria portugueses, transforma
azeite e óleos alimentar utilizados em velas
perfumadas com aromas sui generis: blueberry
smoothie, cozy jasmine, sea lemons, spicy
orange, naked soul, hand picked apples e sweet
coffee cream. Velas de óleo reciclado e máquina
disponíveis em www.oonsolutions.com.
Oficina de iluminecos
de plástico
Anfíbios no Oceanário
A proposta é da Câmara Municipal
do Porto e promete animação para Rãs, sapos, salamandras, tritões e cecílias são
miúdos e graúdos. Resíduos de algumas das novas espécies que podem ser
plástico e muita criatividade dão admiradas no Oceanário de Lisboa. A nova área
forma a peças divertidas e ecológicas, dedicada exclusivamente aos anfíbios abriu
preparadas sob orientação da em meados de Julho e procura sensibilizar os
formadora Carla Pinheiro, da Eco- visitantes para o perigo de extinção destes
-Animação. Tome nota: dia 22 de animais, alertando para a necessidade de alterar
Agosto, das 15:00 às 17:00 no Centro comportamentos. Já. A visitar durante o horário
de Educação Ambiental do Núcleo de funcionamento do Oceanário
Rural do Parque da Cidade, na Invicta.
Mais informações através do e-mail
educa.ambiebtal.nrural@cm-porto.pt
ou do telefone 226 151 200.
A globalização já era!
Segundo o economista canadiano Jeff Rubin, a globalização
já era. A subida do preço do petróleo para três dígitos será
fatal a hábitos comuns como comer salmão da Noruega ou
comprar flores do Quénia. Mas o novo mundo, centrado no que
é próximo, não será negativo, garante. Conheça os argumentos
neste livro publicado em Portugal pela Lua de Papel.
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