Você está na página 1de 44

Comércio justo

Um movimento para combater as


desigualdades e preservar o planeta

AGosto - outubro
n.º 1 | trimestral

1€

Bela ecologista
A luta da actriz Joana Seixas
em prol do ambiente
Esta revista é distribuída com o jornal Público e não pode ser vendida separadamente

Artesãos do lixo
Como o eco-design dá uma segunda
vida a materiais já sem utilidade

Para onde
vai o plástico?
seguimos o rasto das embalagens colocadas no
ecoponto amarelo.
saiba no que se transformam

 08|2008
para começar

Fonte: Agenda do Desenvolvimento


Sustentável, Inspire


Editorial Sumário
LEMA: RECICLA n.º1 agosto - OutubrO 2010
É com muito orgulho que a Sociedade www.pontoverde.pt
Ponto Verde lhe faz chegar a sua mais
recente iniciativa, a revista RECICLA,
projecto apaixonante que partilha com
o público. O nosso sonho é fazer chegar 8 Reportagem
Conheça os bastidores da reciclagem.
ao leitor conteúdos relevantes na área do Para acabar, de vez, com ideias feitas
ambiente, da sustentabilidade e da cida- 16

16
dania. Acreditamos que o mais importan-
te que uma revista pode fazer pelos seus Pequenos Gestos
leitores é inspirá-los. A actriz Joana Seixas é uma militante do
A noção de sustentabilidade (desenvol- ambiente. Partilhe os seus eco hábitos
vimento que não compromete o futuro)
começa a ganhar as ruas. A Sociedade
Ponto Verde faz parte deste movimento
que pretende proteger o ambiente e
20 Tendências Eco
Há mãos habilidosas que, com
criatividade, fazem arte a partir do lixo
tornar a convivência social cada vez mais
civilizada. Por isso decidimos lançar a
revista RECICLA e distribuí-la a um con-
junto alargado de leitores empenhados 24 Rosto SPV
À frente da Quercus, Susana Fonseca
34
em fazer a diferença. Editar a RECICLA é defende um mundo menos consumista
apenas mais um contributo da Socie-

34
dade Ponto Verde para criar um mundo
onde todos gostemos de viver. Atitude
O alerta dos cientistas para os proble- Inovadora e irreverente, a Renova
mas ambientais, que há poucos anos é também um exemplo ambiental
mobilizava apenas órgãos técnicos e
ambientalistas, é hoje tema omnipre-
sente. Está na retórica dos políticos e 5 Ponto Verde
nos planos de negócios dos empresá-
rios. Passou a ser ferramenta de marke-
28 Planeta Verde
ting na publicidade e de autopromoção 30 Universo SPV 20
entre celebridades. E transformou-se
em discussão obrigatória nas conversas 38 Lazer sustentável
entre amigos. Esperamos que a RECICLA
contribua para o debate.R 42 Sustentabilidade é

Recicla/Ficha Técnica
Propriedade: Sociedade Ponto Verde SA, Morada: Rua João Chagas, 53, 1.Dto, 1495-764 Cruz
Quebrada, Dafundo, Tel: 210 102 400, Fax: 210 102 499, www.pontoverde.pt, recicla@pontoverde.
pt, NIF: 503 794 040, Director: Mário Raposo, Directora-adjunta: Teresa Cortes
Edição: Have a Nice Day - Conteúdos Editoriais, Lda, www.haveaniceday.pt, info@haveaniceday.pt, Tel:217 950
389 Directora: Ana Rita Ramos, Redacção: Carlos Coelho, Raquel Simões, Teresa Violante,
Paginação: Mário Pedro e Margarida Girão, Fotografia: Agência Fotográfica Filipe Pombo, Corbis
Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráfica SA, Tiragem: 10.000 exemplares, Depósito Legal: 215010/04,
ICS: 124501
30
ponto verde

Vidro é no
ecoponto verde!
Até ao final do próximo ano, 60%
das embalagens de vidro colocadas
no mercado devem ser recicladas.
Portugal está no bom caminho, mas é
preciso maior participação de todos. E
é tão simples: basta separar garrafas
e frascos e colocá-los no ecoponto
verde. Para o sucesso da iniciativa,
a Sociedade Ponto Verde (SPV)
conta com a colaborecção do sector
Horeca (hotéis, restaurantes e cafés),
grandes utilizadores de embalagens.
Para produzir uma tonelada de vidro
basta uma tonelada de vidro usado,
em vez de 1,2 toneladas de matérias-
-primas virgens.

Brincar à triagem
de resíduos
Bombeiro, médico, apresentador
de televisão. Na Kidzania, parque
temático dirigido a crianças entre os
três e os 15 anos, no Dolce Vita Tejo,

Beja em
Amadora, os mais pequenos brincam
aos crescidos. E aprendem as boas SPV no
duas rodas
práticas da separação dos resíduos.
A Sociedade Ponto Verde (SPV)
Facebook
inaugurou um centro de reciclagem
que ajuda os mais novos a entender Com mais de 10 mil fãs,
É mais fácil circular nas ruas de o funcionamento e os benefícios de a página “Reciclar é dar e
Beja. A Câmara Municipal de separar embalagens. Ali podem ser receber” da Sociedade Ponto
Beja disponibiliza aos munícipes operadores de triagem, separando, Verde (SPV) é o espaço certo
bicicletas de uso público. As num tapete, as embalagens por tipo de para esclarecer dúvidas
Petras, assim baptizadas por se material; aprendem a colocar os vários sobre reciclagem e partilhar
inserirem no Plano Estratégico de resíduos nos ecopontos apropriados; e dicas de como separar os
Transportes e Mobilidade, estão descobrem no que se transformam as resíduos de embalagens
ao dispor dos cidadãos, com mais embalagens depois de recicladas. Mais no dia-a-dia. O pacote de
de 16 anos, em locais estratégicos de 12 mil crianças já visitaram o centro leite é no ecoponto azul ou
da cidade (Casa da Cultura, Posto SPV na Kidzania. Para que desde no amarelo? E as caixas
de Turismo e Câmara Municipal), pequeninos aprendam bons hábitos, de pizza que mandou vir
de 2.ª a 6.ªf, das 9:30 às 17:30. ao mesmo tempo que se divertem. ontem? Nesta rede social
Basta apresentar um documento trocam-se ideias sobre
de identificação e deixar contacto ambiente e reciclagem, e
telefónico. Depois, é partir à disponibilizam-se vídeos
descoberta de Pax Julia em duas e campanhas da SPV.
rodas. Participe.

5
“Reciclar é dar e receber” é o mote Prevenção do Abandono Escolar, as Setembro deste ano, o objectivo
do projecto da Sociedade Ponto taxas de abandono acentuam--se de é enviar para reciclagem 160 mil
Verde (SPV), em parceria com a forma marcante no 5º, 7º e 10º anos. toneladas de embalagens usadas,
Entrajuda, associação para o apoio É preciso agir depressa. Por cada ajudando cerca de 2 mil crianças.
a instituições de solidariedade tonelada de resíduos de embalagens Os kits obtidos com o material
social que assiste a mais de 22 mil colocada por todos nós no ecoponto, escolar serão entregues no início do
crianças através de 271 Instituições a SPV contribuirá financeiramente ano lectivo. A Entrajuda identifica
de Solidariedade Social. Missão do para a aquisição de material escolar. as situações que mais carecem de
projecto? Dotar alunos carenciados Para pôr em prática o projecto intervenção social. Homenagem ao
do 1º ciclo com materiais escolares “Reciclar é dar e receber”, a território mágico da solidariedade.
novinhos em folha e contribuir mecânica é simples: por cada
para contrariar fenómenos como tonelada de resíduos encaminhada
o abandono e o insucesso escolar. para a reciclagem, a SPV contribui
De acordo com o Plano Nacional de com 0,25€. A decorrer de Abril a

6
ponto verde

Sim, festival rima


com reciclagem
Não há Verão sem festivais de música. Caça ao
Não há festivais sem multidões. E não
há multidões sem resíduos. Para que óleo usado
as sonoridades em voga não agridam
o planeta, a Sociedade Ponto Verde A Empresa de Ambiente de
(SPV), através da certificação 100R, Cascais (EMAC) iniciou em
Hostel amigo diminui a pegada ambiental dos dias
de festa.
Junho a recolha de óleos
alimentares usados. Todos
do ambiente No ano passado foram recolhidas 46
toneladas de embalagens nos eventos
são bem-vindos: óleos
resultantes da actividade
certificados pela SPV (papel/cartão, hoteleira, industrial,
Em apenas um ano de vidro e plástico) – Optimus Alive, restauração e doméstica.
funcionamento o Rossio Paredes de Coura e Festival TMN Music A EMAC instalou 30
Hostel, em Aveiro, arrecadou Session, entre outros. O feito repete- equipamentos de recolha,
duas distinções: o Best Staff se este ano em festivais como Rock distribuídos por todas as
Award, concedido pela agência In Rio Lisboa, Optimus Alive, Marés freguesias do concelho,
internacional Hostel Bookers, Vivas e Sudoeste. Para estimular a colocados em pontos de fácil
e a classificação de Eco- participação dos ‘festivaleiros’ a SPV acesso como PSP, postos de
-Hostel, atribuída pelos sites da lançou a campanha “Posso ver se o abastecimento ou centros
especialidade hostelsclub.com meu ponto verde dá com o teu?”, com comerciais. “Ao provermos
e eco-hostels.org. É a primeira a oferta de lenços e experiências Pack a reutilização e valorização
unidade deste tipo em Portugal Enjoy Adventure Spirit. energética destes resíduos,
a provar as preocupações A certificação 100R destina-se a continuamos a contribuir
ecológicas, que passam pelo eventos, mas também a escritórios e para a sustentabilidade
recurso à luz solar como fonte espaços comerciais ou desportivos, do concelho”, sublinha o
principal de energia para assegurando que os resíduos aí presidente da EMAC, Rui
aquecimento de águas, uso de produzidos são encaminhados para Libório.
electrodomésticos classe A ou reciclagem. Depois a SPV emite um
calafetagem de janelas. certificado, garantia dos cuidados
www.aveirorossiohostel.com ambientais seguidos pela entidade
organizadora ou empresa.

7
saiba tudo
sobre reciclagem
grande parte do lixo que produzimos diariamente
pode ser reciclado. Sim, é fácil e o planeta agradece.
A RECICLA preparou um guia de etiqueta eco para
acabar com ideias feitas.
Texto Teresa Violante
Ilustração Margarida Girão

Ao reciclar 25 garrafas de plásti- são todos misturados aquando da contentores específicos – se pre-
co obtém-se poliéster suficiente recolha dos ecopontos.… Porque ferir, pode colocar as embalagens
para produzir uma camisola. Com reciclar é simples, eficiente e em sacos de plástico usados que
este dado desfaz-se o mito de que necessário, a RECICLA derruba depois deve colocar no ecoponto
a reciclagem resulta apenas em mitos e dá-lhe dicas práticas para amarelo.
artigos pouco comuns, ou então melhor separar o seu lixo.
muito caros e raramente utiliza- Escorra o conteúdo das embala-
dos. Reciclagem significa poupar Embalagens tricolores gens para evitar cheiros desagra-
matérias-primas virgens, muitas É em casa e no escritório que dáveis.
não renováveis, como o petró- produzimos mais resíduos, sobre-
leo; e energia, já que na maioria tudo embalagens de papel, metal, Não precisa de retirar tampas e
dos casos exige menor consumo plástico ou vidro. Impõem-se três rótulos – o processo de reciclagem
energético do que a extracção e questões: como, o quê e onde encarrega-se desse processo.
transformação de novos materiais. reciclar?
Mas ainda há resistências à reci- Espalme as embalagens de modo
clagem e pessoas que se recusam COMO? a poupar espaço, quer em casa,
a separar os resíduos. Os motivos Crie espaços próprios para separar quer no ecoponto.
que alegam são vários: é trabalho- as embalagens. Não é obrigatório
so, não surte efeito, os resíduos adoptar um mini ecoponto, ou

8
reportagem
O QUÊ?
Embalagens de vidro, papel, plástico e metal.
ONDE?
Não é um bicho-de-sete-cabeças, mas há normas para reciclar.

Ecoponto Ecoponto Ecoponto

Azul
Colocar: caixas de cereais, papel
Amarelo Verde
Colocar: garrafas e garrafões de Colocar: garrafões de vidro, gar-
de escrita, envelopes (não é água, garrafas de óleos alimen- rafas de sumo e água, garrafas de
necessário tirar a janela), caixas tares, garrafas de sumos, garra- azeite, frascos de doce, boiões,
de bolachas, cintas de packs de fas de vinagre, embalagens de frascos de azeitonas e pickles,
garrafas, papéis de impressão, pa- manteiga e margarina, sacos de garrafas de vinho e cerveja.
pel de embrulho, caixas de cartão plástico, embalagens de iogurte
de ovos, listas telefónicas, cartas, líquidos e sólidos e de batatas fri- Não colocar: pratos, materiais de
sacos de pão de papel, sacos de tas e aperitivos, latas de bebidas, construção civil, frascos de perfu-
comida para animais. latas de leite em pó, de fruta e me, janelas, vidraças e espelhos,
leguminosas, latas de conserva, lâmpadas, chávenas, jarras, cris-
Não colocar: papel autocolante, pacotes de bebidas (leite, sumos, tal, copos, pirex, porcelanas.
sacos de cimento, papel plastifica- vinho), pacotes de natas e de pol-
do, toalhetes e fraldas, lenços de pa de tomate, esferovite, garrafas
papel sujos, embalagens de cartão de lixívia, embalagens de deter-
com gordura, papel de cozinha e gentes e de produtos de higiene,
guardanapos sujos, embalagens filmes plásticos, tabuleiros de
de produtos químicos. alumínio, aerossóis.

Não colocar: garrafões de combus-


tível, baldes, canetas, cassetes de
vídeo, cabides, cd e dvd, rolhas de
cortiça, talheres de plástico, elec-
trodomésticos, pilhas e baterias,
tachos e panelas, ferramentas,
talheres de metal.
reportagem

E depois? vida? Também os equipamentos vem ser depositados em lugares


Em Portugal a gestão dos resíduos eléctricos e electrónicos (EEE) são próprios. As pilhas no pilhão e o
de embalagens está ao cuidado da reciclados; basta depositá-los em óleo usado nos oleões – procure
Sociedade Ponto Verde. Há quem locais próprios: Pontos Electrão e um ponto de recolha perto de si.
receie que após a separação dos Centros de Recepção, distribui- O óleo das batatas fritas ou dos
resíduos nos respectivos ecopon- dos por vários pontos do país. A croquetes contamina o ambien-
tos as embalagens sejam nova- categoria 3 E inclui equipamentos te, sobretudo quando é deitado
mente misturadas e o processo que funcionam por corrente eléc- fora pelo ralo do lava-loiça, mas,
de reciclagem boicotado. Mas não trica ou a pilhas, como grandes se tratado, é transformado em
há esse risco – dos ecopontos os e pequenos electrodomésticos, biocombustivel. Também os pneus
resíduos seguem para centrais de equipamentos informáticos, de usados já não são lixo – podem ser
triagem. Os materiais dos conten- consumo e de iluminação, ferra- recauchutados ou reciclados. Na
tores verde e azul são armazena- mentas eléctricas ou brinquedos e recauchutagem o piso do pneu é
dos ou enfardados substituído e, por vezes, tam-
e depois transpor- bém os flancos através de
tados para empre- um processo de vulcani-
sas de reciclagem. zação. Já a reciclagem
Já os resíduos do separa os componen-
ecoponto amarelo reciclagem tes dos pneus: a bor-
são separados em significa poupar racha é transformada
metais, plásticos e matérias-primas em grânulos usados
ECAL (embalagens noutros produtos,
de cartão para
virgens, muitas como pavimentos
alimentos líquidos) não renováveis, anti-choque ou
sendo submetidos como o petróleo; betume modificado
a triagem segundo e energia, porque para pavimentação
oito tipos de plásti- gasta menos do que de estradas, relva sintética,
co e dois de metal
(aço e alumínio).
a transformação lombas dissuasoras de velocida-
de ou solas para sapatos; o aço é
Seguem para em-
de novos materiais reencaminhado para a siderurgia e
presas autorizadas, reutilizado em novos artigos.
onde serão trata- Atenção ainda aos medicamentos
dos, tornando-se fora de validade: devem ser en-
matéria-prima para tregues nas farmácias. As subs-
novos produtos. Sabia que o plás- equipamentos de desporto e lazer. tâncias químicas que os compõem
tico reciclado está na constituição Como são constituídos por diver- podem ser perigosas, sendo de
de camisolas polares, fibra de en- sos materiais, alguns até conside- evitar a mistura com o lixo co-
chimento de um blusão, vasos ou rados perigosos, como mercúrio ou mum. Tudo isto são dicas por um
tubos para canalização? E que o chumbo, é importante que no fim mundo mais verde, mas é possível
papel se transforma em folhas de de vida sejam devidamente acon- fazer muito mais. E está nas mãos
jornal ou rolos de papel higiénico dicionados e tratados. Sempre que de todos. Porque pequenos gestos
ou de cozinha? E o metal é usado comprar um novo equipamento fazem mesmo a diferença.R
em bicos de fogão e esquentado- pode entregar na loja o antigo,
res? O vidro, por sua vez, origina ou, se for de grandes dimensões,
novos frascos e garrafas. como o frigorifico ou a máquina
de lavar roupa, solicitar a recolha
Artigos três “E” aquando da entrega do novo. Mais
Mas o que fazer à torradeira simples não há.
velha? Ou à batedeira que não
tem arranjo? Onde colocar o Outros resíduos
monitor do computador em fim de Há ainda outros artigos que de-

10
ETERNO

PLÁSTICO
TODO O PLÁSTICO TEM A CAPACIDADE DE SER RECICLADO. DE SE
REIVENTAR EM ROUPAS, BRINQUEDOS, NOVAS EMBALAGENS E ATÉ
PAVIMENTOS. BASTA COLOCÁ-LO NO ECOPONTO E A SOCIEDADE
PONTO VERDE FAZ O RESTO.
Texto Raquel Simões
Ilustração Margarida Girão
reportagem

Versátil, leve e económico, o


plástico é uma das matérias-
reciclagem. E é neste campo que
opera a Sociedade Ponto Verde,
em 2009 foram
-primas mais utilizadas pela entidade que promove a recolha declaradas à
humanidade. Além do mais, gasta selectiva, a retoma e reciclagem Sociedade ponto
poucos recursos naturais: apenas de resíduos de embalagens. verde 197 mil
4% do petróleo consumido no “Só em 2009 recebemos 62 mil toneladas de
mundo ocidental destina-se à toneladas, das quais mais de 42
sua produção. Mas há um senão. mil provêm da recolha selectiva
resíduos plásticos.
É resistente à degradação (que (ecopontos)”, afirma fonte da 62 mil foram
pode levar 400 a 500 anos) e a Sociedade Ponto Verde, empresa recicladas
sua combustão ou decomposição que já abrange mais de 99% da
gera dioxinas e ftalatos, entre população portuguesa. Um avanço
outras substâncias tóxicas que, notável se tivermos em conta que,
segundo diversos estudos, não em 2000, apenas foram recolhidas
só prejudicam a reprodução cerca de 4 mil toneladas (dos
de espécies selvagens, como ecopontos e indústrias).
provocam disfunções sexuais
entre os humanos, poluem o solo, LIXO REINVENTADO
intoxicam os oceanos… Em 2009 foram declaradas à
Minimizar estes problemas sociedade Ponto Verde 197 mil
ambientais passa, provavelmente, toneladas de embalagens de
pela combinação de diversas plástico no sector doméstico. O
soluções: incineração controlada, empenho do cidadão comum é,
restrição do uso de certos portanto, premente e tem início
aditivos no fabrico, e, sobretudo, com um simples gesto: a colocação
reportagem

dos resíduos de plástico produzidos ser utilizada como enchimento


a reciclagem permite nas suas casas no ecoponto de edredões ou confeccionar
poupar recursos amarelo. “Até porque todos os camisolas; as embalagens de
naturais e energia, tipos de plásticos são recicláveis”, detergentes e champôs (PEAD)
reduzindo a emissão lembra Nuno Aguiar, da Plastval, podem transformar-se em
de poluentes fileira do material plástico no brinquedos ou tubos; a esferovite
sistema Ponto Verde. “Além de (EPS) em cabides ou vasos para
atmosféricos. mas que permite poupar recursos plantas; os sacos plásticos (filme
sem a colaboração naturais e energia, contribuindo plástico) em novos sacos ou
de todos será para reduzir a emissão de pavimentos; e embalagens de
impossível ter poluentes atmosféricos”. margarina ou copos de iogurte
Se cabe ao cidadão encher os (os plásticos mistos) em peças de
sucesso ecopontos, caberá aos serviços mobiliário urbano.
municipais fazer a sua recolha para “O investimento em tecnologia
os centros de triagem. Uma dessas tem permitido aumentar o leque
empresas, a Valorsul, situada no de plásticos possíveis de serem
Lumiar, Lisboa, recebe o conteúdo reciclados, como por exemplo
de 2.500 contentores amarelos dos garrafas de óleo, caixas de peixe e
Ecopontos e de recolhas porta-a- plásticos mistos”, ressalva Nuno
porta nos municípios da Amadora, Aguiar. E, cada vez mais, o que
Lisboa, Loures, Odivelas e Vila antes seria o lixo do passado pode
Franca de Xira. ser a Cinderela do presente.
Resultam do processo de triagem, Pura magia ou alquimia? R
de forma geral, quatro ou cinco
tipo de fardos – correspondentes
aos principais tipos de plásticos
– posteriormente enviados para
vários pontos de reciclagem, por
onde passam por um conjunto
de etapas – trituração, lavagem,
secagem e extrusão. O granulado
obtido seguirá, por fim, para a
indústria transformadora. As
garrafas de água ou sumos (PET),
por exemplo, tomarão a forma
de fibra poliéster, que pode

1
reportagem

Sabia que …
no caso das garrafas de água ou sumos a reciclagem utiliza, em média, apenas
30% da energia que seria necessária para a produção de matéria-prima virgem?

devido ao peso reduzido do plástico em automóveis o consumo de combustível


diminui 4% ?

que em 1998 a Sociedade Ponto Verde reciclou 280 toneladas de plástico e em


2010 mais de 24.000 (até 31 de Maio)?

a reciclagem de plásticos, como actividade industrial dedicada, tem longa duração


em Portugal, remontando às décadas de 60/70 ?

por cada 100 toneladas de plástico reciclado evita-se a extracção de uma tonelada
de petróleo?

cada pessoa, em média, produz 1,2 Kg de resíduos por dia?

Fonte: SPV e Plastval

1
pequenos gestos

ECOLOGISTA
no palco da vida
Joana Seixas é conhecida pela capacidade de representação. Mas
a actriz também brilha na batalha ambiental. Defensora acérrima
do planeta, adoptou no seu dia-a-dia (e sem dificuldade) um
conjunto de práticas amigas do ambiente.
Texto Teresa Violante
Fotos Tiago Pereira/AFFP

Reduzir, reutilizar e reciclar não são apenas verbos para Joana o nascimento do filho. “A primeira preocupação foi alimentar,
Seixas. São gestos que a actriz interiorizou e pratica todos os com as papas do Francisco. Depois tornou-se numa bola de
dias com naturalidade. Conhecida do público pelas suas ac- neve”, recorda. Hoje tem no filho um pequeno ajudante, que
tuações na televisão e no teatro, ela é também uma militante lhe chama a atenção para comportamentos menos eco. Mas
ecologista. Do carro às escolhas alimentares, Joana é norteada Joana é (quase) irrepreensível. Na hora de ir às compras não se
por um objectivo: proteger o planeta. Por isso foi uma das qua- esquece de levar de casa sacos ou cestas para transportar as
tro fundadoras da Casa Verdes Anos, em Lisboa, espaço que compras. Sempre que possível opta por alimentos de origem
aposta na pedagogia alternativa focada no ambiente. biológica. “Ainda não é possível fazer uma alimentação exclu-
“Temos de saber viver em equilíbrio. Não temos de mudar sivamente biológica. Em minha casa consigo em 70%”. Fruta
radicalmente a nossa vida, mas podemos adoptar formas de e vegetais são sempre bio, assegura, respeitando o ritmo da
estar mais ecológicas. Não é assim tão complicado”, sublinha. natureza – não come morangos em Dezembro ou dióspiros em
E não é preciso regressar ao tempo das cavernas; basta tomar Junho. Para reduzir a pegada ambiental, a actriz também di-
decisões mais racionais. Por exemplo, em vez de abdicar do minuiu o consumo de carne. “Não sou vegetariana, mas como
carro – que seria muito complicado para a actriz, condicio- pouca carne. A produção de carne é motivo de intoxicação do
nada pelos horários e locais das filmagens – Joana optou por ambiente, devido aos gases emitidos pelas vacas”, esclarece.
um automóvel de baixo consumo. “Além da reciclagem, que Também na hora de vestir-se Joana respeita o ambiente. A
é básico, passei a preocupar-me com a água que gasto, os começar pelas fibras que dão forma às peças, privilegiando o
detergentes que uso”, diz. Por isso privilegia soluções ecológi- algodão biológico. Depois, reutiliza ao máximo.”Passei a com-
cas que não agridem o ambiente, como a Oköball, constituída prar menos roupa. Tento não ser tão consumista, apesar de ter
por microbolas de cerâmica que potenciam a força da água e uma imagem a preservar e não poder estar sempre a repetir
lavam sem poluir. a roupa”, diz. “Work oblige”, mas Joana contorna-o com bom
Joana despertou para a questão ambiental há oito anos, após gosto e espírito ecológico. R

Os 3 ‘R’ de Apesar do cuidado com a imagem, a actriz procura diminuir o


consumo de roupa e acessórios de moda, conjugando as peças
joana Seixas com elegância e bom gosto. E, sempre que possível, opta por
fibras amigas do ambiente.

Sacos de plástico, caixas, embalagens… Nas


mãos de Joana Seixas os objectos ganham Separar os resíduos de embalagens e depositá-las nos
nova vida em prol do ambiente. Porque usar respectivos ecopontos é uma prática corrente no dia-a-dia
e deitar fora é desperdício. de Joana. Um comportamento cívico que, acredita, tem real
impacto no ambiente e que segue sem esforços.

16
A actriz Joana Seixas leva tão a sério
a arte da representação como a
preservação do ambiente
pequenos gestos

compras eco A actriz frequenta com assiduidade


supermercados biológicos em Lisboa. E não se esquece de
levar consigo cestas ou sacos para transportar as compras.

olho atento Dos rótulos às embalagens, Joana Seixas a granel Sempre que possível a actriz compra produtos
analisa bem os produtos antes de os colocar no carrinho. a peso, colocando-os em embalagens reaproveitadas,
Sem desperdício de materiais ou ingredientes nocivos, adquirindo a quantidade exacta do produto desejado.
protege a sua saúde e a do planeta.

18
Em sintonia A actriz só consome Bola mágica Preocupada com a segunda vida E terceira, quarta,
frutas e legumes bio e lamenta ainda pegada ambiental, Joana opta por quinta… Joana Seixas rentabiliza
não ser possível seguir uma dieta de detergentes ecológicos para lavar diferentes embalagens, como as
origem 100% biológica. Em respeito a roupa e a loiça. E rendeu-se à caixas dos ovos, que costuma levar
pelo ritmo da natureza, privilegia os Oköball que lava sem poluir. de casa. No supermercado compra
produtos da época. ovos avulso.

Porque reciclar “é básico”, Joana Seixas separa as


embalagens e coloca-as nos ecopontos azul, verde e
amarelo. E deixa como sugestão a organização de visitas aos
centros de reciclagem para que as pessoas saibam o que
acontece após a recolha.
ReciclArte

Ecobrinquedos. Uma vaca sorridente ou


bonecas elegantes (ao lado) nascem da
criatividade do artista plástico José Victor,
da Oficina ReCriativa, que dá nova vida a
resíduos como tampas, palhinhas, molas ou
embalagens de leite e sumo

0
tendências eco

Com o conceito de eco design nascem obras de arte e uma nova


geração de objectos que dão segunda vida a materiais já sem
utilidade. São cada vez mais valorizados por uma consciência
global que transforma lixo em matéria-prima.
Texto Carlos Coelho
Fotos Paulo Castanheira/AFFP

Em Portugal cada pessoa produz objectos fabulosos que as pesso- lixo renascem para uma nova vida.
cerca de 1,2 quilos de resíduos as deitam fora. Tudo é utilizável. “A filosofia é muito intensa. Não
urbanos por dia. Cerca de 4,5 Sempre achei que se devia dar é fazer por fazer”, diz José Victor.
milhões de toneladas/ano de re- uma segunda oportunidade às “As pessoas constroem, utilizam
síduos urbanos que todos os dias coisas”, defende. e deitam fora. Pois eu ia buscar
deitamos fora. Nas criações artísticas que po- esses objectos e fazia com que as
Uma montanha de detritos que pessoas comprassem o que an-
será em parte enterrada, inci- tes tinham deitado fora”.
nerada, ou reciclada. Mas há A Oficina ReCriativa, no Sei-
quem, com estilo, a reutilize. produzimos, em média, xal, é um grito à imaginação,
Podemos mesmo dizer: do lixo 1,2 quilos de resíduos onde de pacotes de leite nas-
ao luxo. Disto são exemplos urbanos por dia. cem vacas, galinhas e porcos,
os criadores que conhecemos Felizmente, há de embalagens de sumo sur-
nesta reportagem. Mentes
quem os reutilize gem carros de corrida, molas
criativas que dão nova dimen- de roupa e colheres e plástico
são a materiais que, de outra
para fazer arte transformam-se em bonecas.
forma, estariam condenados José Victor chama-lhes “eco-
aos aterros. brinquedos”. Uma das últimas
Felizmente para o ambiente, voam a sua casa descobrimos um novidades é um kit de montagem
peças nascidas de materiais aban- mosquito gigante nascido de uma
donados começam a ser vistas bomba de água, bancos feitos de
sob a luz do design e de inova- tubo, candeeiros construídos de
ção. Um novo conceito de moda, partes de motores ou aranhas
de consciência ambiental, que o de ferro. Obras de arte e peças
planeta agradece. João Parrinha de mobiliário feitas de materiais
é um destes artistas que oferece que ninguém quer, e que já foram
uma segunda vida aos materiais. expostas pela Europa.
No seu ateliê em Calhandriz,
concelho de Vila Franca de Xira, Eco-diversão
uma carapaça gigante de metal, e No universo da reciclagem brilha
partes de aparelhos, ferro, tubos também a Oficina ReCriativa, do
e máquinas, transformam-se em artista plástico José Victor. Toda
arte. “É tudo questão de imagi- a sua criação tem por base a reu-
nação. Depende da criatividade. tilização de peças, objectos, um
Vou a ferros-velhos para recolher sem número de materiais que do
tendências eco

de um carro telecomandado movi- que faz criações eco-eficientes e as peças de eco


do a energia solar. se especializou no design para a
design reflectem
Com este conceito José Victor sustentabilidade. “A noção de ci-
organiza workshops pelo país, clo de vida é a base do desenvolvi-
um movimento
em nome da ecoconsciência. mento sustentável de um produto, mundial preocupado
“Fazer brinquedos com plásticos, e um princípio fundamental para com o impacto da
colheres, molas e tampas é uma esta abordagem: a eco-eficiência. produção industrial
maneira interessante de fazer as Não se pode pensar só na recicla- no ambiente
pessoas pensar sobre os objectos. gem, mas em minimizar ao máxi-
Através da sensibilidade artística mo o impacto ambiental em todas
caminha-se para uma menor pega- as fases do ciclo de vida”, frisa
da ecológica”. Ana Mestre, directora de design
Além dos brinquedos,
a Oficina ReCriativa
inventa “ecocoisas”.
Objectos funcionais cria-
dos a partir de “coisas”
que normalmente se vê
como simples detritos.
Exemplo? Um porta-lá-
pis que nasce de duas
metades de garrafas de
plástico e elásticos. Ou
uma caixa de arruma-
ção feita com caixas
de iogurtes, molas
de roupa e fundos de
garrafa. O sucesso já vai
longe, com a exportação
de “ecocoisas” para a
Alemanha. Numa das
viagens a Colónia, José
Victor, em parceria com
os “Clinic Clowns”, ver-
são alemã da Operação
Nariz Vermelho, levou
as suas criações a crian-
ças hospitalizadas.
Tudo isto é parte de um
movimento mundial.
Nos anos 70 surgiu a
preocupação com o
impacto da produção Castiçais feitos com garrafas de vidro
industrial no ambien- e cortiça e um confortável pufe (ao
te. Nas duas décadas lado) também de cortiça são duas das
criações da portuguesa Corque, com o
seguintes essas preocu-
conceito “Designing Living Objects”
pações estenderam-se
ao design, e daí nasce-
ram empresas como a
portuguesa SUSdesign,

22
tendências eco

da SUSdesign Roberto Cremas- É uma realidade que as empresas


e docente coli, arquitecto estão cada vez mais ecoconscien-
no IADE italiano resi- tes. É visível em todas as áreas. A
(Insti- dente em Caixa Geral de Depósitos lançou
tuto Portugal, um concurso para estudantes do
de foi con- ensino superior dos cursos de
Artes vidado Arquitectura, Design e Design de
Visu- em 2006 Equipamento, para a concepção e
ais, para ser criação de peças de mobiliário de
Design comissário interior com materiais provenien-
e Marke- do Remade tes das fileiras de reciclagem. Ou-
ting), em in Portugal, tro exemplo é a Sigg, marca Suíça
Lisboa. depois de em de garrafas de água eco-conscien-
Um dos grandes Itália vencer um tes. No mundo, descarta-
projectos da SUSdesign concurso internacional de -se anualmente – atenção ao
chama-se “Design Cork for future, arquitectura. Em parceria com a número – 60 mil milhões de
innovation and sustainability”. Agência Portuguesa do Ambiente, toneladas de resíduos plásticos.
Consiste em repensar a cortiça e Sociedade Ponto Verde e ate- Esta empresa resolveu inverter a
formas de reutilizá-la. Sob a marca liês de arquitectura, lançaram o tendência e fabricar garrafas de
Corque e o conceito “Designing conceito por cá. O objectivo inicial alumínio reutilizáveis e facilmente
Living Objects”, a empresa lançou foi juntar designers e empresas recicláveis. Além de ecológicas,
produtos de mobiliário e acessó- portuguesas para desenvolver são peças de arte, desenhadas por
rios construídos neste material designers de todo o mundo.
tão característico do país e, acima antes de se livrar E por que não? A RECICLA Deixa-
de tudo, eco-eficiente. Porquê a
cortiça? “A cortiça é um mate-
de algum objecto -lhe o desafio. Antes de se livrar
de algum objecto que já não quer,
rial espectacular. O processo de que já não quer, pense por alguns minutos que ou-
extracção não tem impacto nem pense que outra tra utilização lhe pode dar. Quem
gastos energéticos, é gerador de utilização lhe sabe não se surpreende. Obter
emprego, é um recurso renovável, poderá dar resultados requintados depende
e a transformação tem impactos de muita pesquisa, dedicação e,
muito reduzidos e baixo consumo sobretudo, criatividade. Mas o
energético. É um material sem desafio do design sustentável foi
desperdício, fácil de reciclar e produtos com 50% de material re- sempre tornar atraente um produ-
possível de transformar”, explica ciclado, para apresentar no Salão to novo que pode causar estranhe-
Ana Mestre. Internacional do Design de 2007 za. A moda ajuda: surge a consci-
em Milão. ência de que consumir produtos
Refeito em Portugal A filosofia? Provar que a reuti- ambientalmente correctos é vital
O projecto Remade in Portugal é lização e reciclagem podem dar para gerar um planeta saudável. R
outro exemplo da alta criação com origem a objectos bonitos, aliando
consciência ambiental. O conceito o design à qualidade de produção
nasceu em Itália, em 2004, para e a matérias-primas de segunda
incentivar as empresas ao desen- natureza.
volvimento de produtos feitos com A exposição Remade, que em
material reciclado. A internaciona- Portugal já foi visitada por mais
lização veio naturalmente com o de 300 mil pessoas, é composta
convite endereçado a Portugal, Es- por peças de criadores como Siza
panha, França, Argentina, Brasil e Vieira, Ana Salazar, Nuno Gama,
Chile para integrar a rede Remade Pedro Sottomayor, Souto Moura,
in the World. entre outros.

23
rosto spv

Primeira mulher à frente da


Quercus, Susana Fonseca
definiu três áreas de
actuação prioritária: água,
agricultura sustentável
e ordenamento do território
Socióloga de
intervenção
A RECICLA conversou com a primeira mulher à frente da ONG
ambiental mais mediática do país – a quercus – que divide os dias
entre a investigação e a luta por uma causa.
Texto Teresa Violante
Fotos Filipe Pombo/AFFP

É um dos rostos mais mediáti- tigação, relacionado com movi- Foi um conjunto de acasos.
cos da causa ambiental no país. mentos sociais e o seu impacto,
Quando começou a interessar-se pôs-me em contacto com a asso- Sentia vontade de participar num
pelas questões ecológicas? ciação. Comecei a colaborar como movimento associativo?
Ainda andava no secundário, Tinha vontade de fazer algu-
no 11.º ano, na antiga área A ma coisa. O facto de o CIR
– Ciências. Na altura só havia estar em formação ajudou.
recolha de vidro, com vidrões
“teremos de reduzir Tornei-me sócia e comecei
na rua, e na minha escola ini- significativamente a devagarinho; foi uma entrada
ciou-se um projecto de recolha pegada ecológica e de mansinho. Sentia falta de
de papel. A partir daí fiquei isso não vai lá só com voltar à questão ambiental,
mais consciente da questão eficiência, mas com que me preocupava.
dos resíduos. Mais tarde estive redução do consumo”
envolvida nalguns projectos A opção por Sociologia do
da faculdade, no Instituo Su- Ambiente é prova dessa
perior de Ciências do Trabalho preocupação?
e da Empresa (ISCTE). voluntária com o Centro de Infor- Foi uma escolha consciente. No
mação sobre Resíduos (CIR), que terceiro ano da Faculdade pensa-
Como chegou à Quercus? estava a começar. Depois convida- va em seguir sociologia urbana;
O meu primeiro projecto de inves- ram-me para a direcção nacional. não gostei. Experimentei socio-

25
rosto spv

logia do ambiente e vi que era capacidade de actuação, cada vez Qual o maior problema ambiental
o meu espaço. A minha tese de de forma mais profissional, no de Portugal?
mestrado foi nessa área – a pers- sentido de termos melhor noção A falta de sensibilidade, de conhe-
pectiva de como a sociedade olha do mundo em que nos movemos. cimento até, de muitas pessoas
para a questão ambiental. A Quercus começou na área da que tomam decisões importantes
conservação da natureza, depois para o país. Aplica-se aos go-
A partir de então tem participado passou para a vertente de enge- vernantes e aos decisores, mas
activamente na Quercus e é a nharia – árvores, resíduos, energia também aos cidadãos. A cultura
primeira mulher presidente da – e recentemente voltou a dar da sustentabilidade ainda não
associação. Que significado tem mais atenção à biodiversidade e está inculcada. Isso dificulta que
isso para si? natureza. Temos uma actuação soluções mais interessantes sejam
Não tem significado especial por- aplicadas e facilita a quem quer
que não é uma conquista dentro propor soluções insustentáveis
da Quercus – não há essa questão que o continue a fazer.
de género. Até foi numa altura
complicada para mim – fui mãe a Mas as pessoas estão mais sensi-
21 de Março de 2009 e no sábado, bilizadas…
dia 28, fui eleita presidente da Até reciclam algumas coisas, têm
Quercus. uma ou outra prática ambiental,
mas não são críticas em relação
Quais as prioridades para este ao que compram. Não se preocu-
mandato? pam se é português ou chinês, se
Há situações internas que temos tem demasiada embalagem, se é
de trabalhar. Temos como objec- sustentável ou não, se é feito com
tivo aproximarmo-nos dos sócios, fibras naturais ou sintéticas. Tam-
saber quais os seus interesses, o bém é preciso haver ferramentas
que esperam da Quercus, e faci- no terreno, rótulos credíveis que
litar o sistema de pagamento de
quotas ou atribuição de donativos.
“o planeta não ajudem a escolher melhor. Não te-
mos uma cultura de rótulos, e não
Na Quercus há áreas estratégi- comporta a busca temos cidadãos a solicitá-los. Mas
cas que temos de reforçar. Duas contínua de houve uma evolução significativa.
estão bem encaminhadas: água e recursos naturais. Os próprios resultados da Socieda-
agricultura sustentável. Depois há o caminho de Ponto Verde, ainda que modes-
outra: ordenamento do território. é reduzir, reutilizar tos a nosso ver, demonstram que
as pessoas têm aderido com maior
As acções da Quercus ao estilo
e reciclar” regularidade.
Greenpeace abrandaram. Que-
rem afastar-se dessa linha? equilibrada entre as várias áreas O excesso de consumo é um
Estamos a ficar velhos! (risos) e com uma postura mais correcta, dilema?
Ao longo da história da Quercus com projectos que demonstram É o nosso grande problema, e
houve vários momentos. Agora aquilo que consideramos que o excesso de produção para o
temos um leque de ferramentas deve ser feito: micro reservas, alimentar. Estamos acima da ca-
mais alargado e só partimos para centros de recuperação de animais pacidade do planeta. Teremos de
acções mais mediáticas quando selvagens… As pessoas acham reduzir significativamente a nossa
não estamos a progredir no bom que estamos sempre do contra. pegada ecológica e isso não vai lá
sentido. Iniciativas como o programa Minu- só com eficiência, mas com redu-
to Verde, em que surgimos a dar ção no consumo. A reciclagem, por
A associação celebra 25 anos. conselhos, transformaram a nossa vezes, dá a ideia de que não há
Que balanço faz? imagem junto da opinião pública. problema em consumir porque de-
A Quercus tem evoluído na sua pois se recicla. É um erro crasso.

26
Susana Fonseca faz da
máxima reduzir, reutilizar e
reciclar uma prática diária

A reciclagem apanha uma franja


do que é colocado no mercado e o
planeta não consegue comportar a
busca contínua de recursos natu-
rais para os produtos. O caminho é
mesmo os 3 R’s – reduzir, reutilizar
e reciclar.

Como aplica essa máxima na sua


vida?
Tento ser criteriosa nas minhas
compras e no dia-a-dia da mi-
nha casa. Moro na Margem Sul
e nunca venho para Lisboa de
carro, excepto em situações muito
pontuais em que vou muito tarde
para casa. Mas será menos de
uma vez por mês. Tenho hábitos
de poupança de água e de energia
– desligo as luzes, tenho lâmpadas
eficientes, uso a máquina da rou-
pa dentro do esquema bi-horário
e nunca seco a roupa na máquina.
E não compro coisas com regula-
ridade – a minha roupa e o meu
calçado duram muito tempo. Não
quer dizer que não tenha incon-
gruências. Ainda tenho caminho a
percorrer. ou comprados na Kid to Kid. É um financeiro pode ser através da
desperdício comprar esses pro- investigação ou da via empresa-
Foi mãe há pouco mais de um dutos – têm tempo de vida muito rial. Gostava de ter a experiência
ano. Os mimos ecológicos come- curto. do outro lado, de quem está a
çaram desde cedo? implementar e a tentar melhorar
Sim, há imensas coisas que se Está a terminar o doutoramento. a sua conduta. Neste momento
pode fazer. Uso fraldas e toalhitas Imagina-se a alterar o seu rumo imagino benefícios de um lado e
reutilizáveis. Compro roupa para a profissional – deixar o universo do outro. Mas não prevejo deixar a
minha filha na loja Kid to Kid, em da investigação e das ONG e tra- Quercus. R
segunda mão. E grande parte dos balhar numa empresa?
equipamentos, como cadeirinhas A Quercus é componente volun-
para o carro, ou são emprestados tária, portanto o meu suporte

27
planeta verde

como tornar a sua casa

ecologicamente
correcta
Pequenos ajustes permitirão que se respire melhor na sua
residência, e no planeta. E a sua conta bancária agradece. Uma casa
super-eficiente pode cortar nas despesas, e nas emissões de gases
poluentes, em cerca de 66%.
Texto Ana Rita Ramos
Foto Corbis

1 – Um dos melhores investimentos que pode fazer na sua


casa, se já for velha, é trocar de janelas. Vidros duplos que 5 – Se tiver jardim, trate-o bem. Plantas e árvores bem
bloqueiam o calor e os raios UV podem fazer baixar colocadas dão sombra e bloqueiam o vento. O
o gasto de energia entre 20% e 30%. Uns bons jardim ajuda-o a cortar no ar condiciona-
painéis que cortem a entrada do sol, no do e a poupar nas contas de electrici-
interior, são essenciais. dade entre 10% e 15%. Mais: cada
árvore absorve uma tonelada de
2 – Cuidado na escolha dos CO2 durante a sua vida.
electrodomésticos: frigorífico, 6 – Banhos que duram 15
máquina de lavar e ar condicio- minutos são ecologicamen-
nado. Escolha os que têm melhor te incorrectos: gastam em
eficiência energética. O dinheiro média 243 litros de água. A
que poupa em aparelhos mais ONU diz que cada pessoa ne-
baratos gastará depois na conta cessita de cerca de 110 litros
de electricidade. Se um milhão de de água por dia para atender
pessoas fizessem um upgrade para às necessidades de consumo
frigoríficos mais eficientes – quantos e higiene. Não escove os dentes
mais A, melhor –, poderíamos eliminar com a torneira aberta. Pode gastar
556 mil toneladas de emissão de CO2 por até 12 litros de água cada vez que faz a
ano. Pormenor: o frigorífico pode responder por higiene bucal sem fechar a torneira.
30% do consumo de luz.
7 – Economize papel. Estima-se que por cada 100 quilos de
3 – Se secar a roupa ao ar livre, e não na máquina de secar, papel reciclado são poupadas 60 árvores.
diminui consideravelmente a emissão de CO2. Na lavagem
prefira detergentes biodegradáveis e produtos de limpeza 8 – Recicle tudo. Se um milhão de pessoas reciclar o metal,
que não agridam o ambiente. Use a máquina de lavar só plástico, vidro e jornais, a emissão de CO2 é reduzida cerca
quando ela estiver cheia. Com poucas peças e lavagens de 21.000 toneladas. Leve o seu próprio saco de compras
frequentes gasta-se mais água e energia. ao supermercado. Isso diminui o consumo de sacos de
plástico, reduzindo também o volume de lixo produzido. R
4 – Um termóstato programável manterá a sua casa à tem-
peratura correcta todo o ano. No Inverno, por cada 2 graus
que descer no termóstato poderá poupar 4% na conta Fonte: Global Warming Survival Handbook, David de Roths-
de electricidade – e reduzir as emissões em quantidades child
semelhantes (não se esqueça, portanto, do casaco!).

28
Demolições, construção e
reciclagem de equipamentos
electricos e electrónicos são
algumas das áreas de negócio
do Ambigroup, revela o
administrador Nelson Além
universo spv

Nada
se perde, tudo se
transforma
Há 30 anos João Romana de Além dedicava-se ao ferro-velho; hoje
os seus descendentes gerem um grupo de empresas ligadas
à reciclagem e ao ambiente. Bem-vindo ao mundo Ambigroup.
Texto Teresa Violante
Fotos Filipe Pombo/AFFP

O passar do tempo alargou a área do grupo. Um vasto portfólio que


de negócio, mas não apagou o faz do Ambigroup uma organi-
O pequeno negócio
cariz familiar das unidades geridas zação conhecida no país e além de sucata deu
pelos Além. O que começou como fronteiras. A demolição do gigante lugar a um grupo
uma pequena empresa de reco- Hotel Estoril Sol (18 andares), em de 12 empresas,
lha e tratamento de sucata deu Cascais, teve o selo Demotri, uma com facturação
lugar a um grupo diversificado de das 12 empresas do grupo (veja
unidades assentes em dois eixos: caixa “Universo Ambigroup”). O
de 40 milhões/ano
reciclagem e ambiente. “O cres- mesmo aconteceu com o quartei-
cimento do Ambigroup foi acon- rão da antiga cervejaria Portugália
tecendo de forma gradual, mas no centro de Lisboa, ou a Ponte da
sustentada em sólidos alicerces”, Gala na Figueira da Foz Ao delica-
sublinha um dos três administra- do trabalho de demolir estruturas
dores (e irmãos), Nelson Além. complexas alia-se a reciclagem
Hoje o Ambrigroup dá emprego a dos materiais. Nestes casos de de-
270 colaboradores e tem uma fac- molição controlada “mais de 90%
turação na ordem de 40 milhões dos resíduos foram reciclados”,
de euros/ano (valores de 2009). sublinha Nelson Além.
Demolições, reciclagem e cons- Reciclagem é palavra de ordem no
trução; valorização e gestão de Ambigroup. E mesmo em activi-
resíduos; veículos em fim de vida dades como desmantelamento
e reutilização de peças; reciclagem de comboios, aviões, navios ou
de equipamentos eléctricos e elec- naves industriais, realizadas pela
trónicos; reciclagem de polímeros; empresa do grupo Recifemetal,
biomassa e bio energia são algu- os resíduos são reciclados. Uma
mas das muitas áreas de actuação solução nem sempre possível, mas

1
1983 90s
PASSO A PASSO

60s
Início década de 90
O negócio a ia a Recifemetal.
larga-se aos A família Além cr
e surge, ass filhos
im, a João R
de Além e Fi omana
) lhos, Lda, co
60 (séc. XX m sede O êxito da Reci
Década de inicia
na vila de A
rranhó, Arru expansão do ne
femetal leva à
da dos
ã o Ro mana de Além e, Vinhos. surgindo a Re
gócio para Espa
nha,
Jo qu
comercial

1994
cifemetal Espa
actividade s, abrange o ña.
ez ano
volvidos d

2000
ucata.
ramo da s

2003
A família Além ad
quire a Demotri.
Para dar respos
ta às necessid
de transporte ades
presas. s e logística, a
nsão das em família Além ad
Ano de expa mbipolis. quire a Transa
bitrena e a A lém.
Surge a Am

2008
É criado o Ambigr
oup, SGPS para
gerir os capitais da
s várias empresas
.

2004 2007 200


ers.
Surge a Recipolym

9
ade.
inicia activid A Recielectric obtém lice
A Forestech para reciclagem de res
nça
íduos
de equipamentos eléctr
icos e Nasce a Auto
electrónicos. VFV.

privilegiada pelo grupo. “Depois reciclagem é nhecido em Portugal e Espanha.


da redução e reutilização, a pri- Antes de expandir o negócio para
meira escolha é a reciclagem e a
palavra de ordem outros mercados, o grupo aposta
valorização dos resíduos”, subli- nas empresas numa estratégia de consolidação.
nha o administrador mais jovem do grupo, desde “Primeiro pretendemos consolidar
do grupo. Quando tal não é viável, demolições os actuais projectos, possibilitan-
“é preferível a revalorização de edifícios a do um crescimento sustentável
energética à colocação em aterro”, desmantelamento para mercados internacionais”,
acrescenta. Por isso o Ambigroup esclarece Nelson Além. Para tal,
tem investido em projectos que
de aviões ou navios o Ambigroup aposta na inovação,
analisam a viabilidade da valoriza- “para optimização contínua dos
ção energética de determinados serviços prestados, e numa postu-
resíduos. Em nome do menor ra pro-activa, centrada na procura
impacto ambiental. de soluções eficazes e ambiental-
mente correctas”, favorecendo
Crescimento sustentável uma “estratégia de desenvolvi-
O trabalho do Ambigroup é reco- mento e responsabilidade social”.

32
universo spv

Universo Ambigroup
As 12 empresas SA que
compõem o grupo gerido
pela família Além

• Recifemetal, desmante-
lamentos e reciclagem de
metais
• Recipolymers, reciclagem
de polímeros O Ambigroup é um império da reciclagem, de
• Recifemetal Espana, des- resíduos eléctricos e electrónicos a peças de
veículos em fim de vida
mantelamentos e demoli-
ções
• Demotri, demolições, reci-
clagem e construção
•Ambipolis, técnicas am-
bientais A diversidade de serviços presta- Verde, partilha com esta entidade
• Incoferro, comércio de dos, com claro enfoque no am- a missão e vontade de promover
produtos siderúrgicos biente, é apontada pelo adminis- a recolha selectiva e reciclagem.
• Ambitrena, valorização e trador como “economicamente “Usufruir dos serviços de uma
gestão de resíduos vantajosa” para o cliente. Através entidade que permite dar conti-
da Forestech, da qual é accionis- nuidade à actividade de recicla-
• Transalém, transportes,
ta maioritário, o grupo também gem, poupando recursos e energia
logística e serviços
investe em energias renováveis, é, de facto, grande mais-valia”,
• Forestech, tecnologias em especial a biomassa florestal. reconhece Nelson Além. Com
florestais “A Forestech, em consórcio com preocupações ambientais inscritas
• Recielectric, reciclagem de outras empresas, ganhou licença no seu ADN, o Ambigroup crê na
REEE para instalação de nove centrais necessidade de actuar já. “É no
• Auto VFV, reutilização de de cogeração alimentadas a bio- presente que tem de se criar con-
peças de veículos em fim de massa florestal, o que lhe permi- dições e apresentar soluções para
vida tirá injectar na rede pública um os constantes desafios ambien-
• Ambimobiliária, investi- total superior a 20 MW de ener- tais”. Um grupo motivado, com
mentos imobiliários gia/hora”, aponta o administrador. provas dadas na defesa de um
Parceiro da Sociedade Ponto mundo melhor. R

33
Papel de

vanguarda

34
atitude

A empresa que mudou a forma como olhamos os rolos


de papel higiénico também dá cartas na preservação do
ambiente. Arrojada e inventiva, a Renova é um exemplo
de responsabilidade ecológica.
Texto Teresa Violante
Fotos Cedidas

A marca Renova confunde-se optimização do consumo energéti-


com o lugar Renova, em Torres co”, explica Luís Saramago.
Novas. Relação estreita entre Os produtos Renova são compos-
negócio e meio envolvente que tos por fibra de celulose obtida
remonta à criação da empresa. Os através de pasta virgem e de
fundadores da Renova construí- papel velho. Há duas décadas que
ram a unidade industrial junto à a empresa aposta na reciclagem
nascente do rio Almonda, decisão de papel. Ao mesmo tempo que
com dupla finalidade, aponta Luís a linha renova melhora a qualidade da pasta obti-
Saramago, director de marketing green utiliza da, fomenta a utilização de papéis
da marca: obter matéria-prima velhos considerados inferiores. Re-
para o fabrico de papel e produzir
apenas papel 100% sultado? O peso da pasta virgem
energia. “Sempre com grande reciclado, processo como matéria-prima da Renova
respeito pelo rio”, acrescenta. realizado na fábrica é diminuto – 22% e 35% em cada
Não admira, por isso, que a empre- em Torres novas. uma das fábricas. Só em 2008 a
sa aposte desde cedo em estraté- Este e outros empresa produziu mais de 35 mil
gias ambientais, dos métodos de
trabalho aos investimentos fabris.
cuidados valeram toneladas de pasta reciclada, um
recorde com impacto positivo no
Se, de início, a principal preocu- à marca o rótulo ambiente. “Globalmente, 50%
pação era minimizar o impacto da ecológico europeu do papel fabricado na Renova é
produção nas águas fluviais, mais conseguido a partir de pasta de
tarde estendeu-se ao controlo das papel reciclado, produzida unica-
emissões gasosas e consumos mente nas nossas unidades fabris,
energéticos das duas fábricas. com papel que já gozou outra
Hoje é valorizada a “produção de vida em escritórios, escolas ou
papel a partir de reciclagem e o casas, recolhido selectivamente na
investimento em sistemas avança- imensa floresta urbana”, explica
dos de cogeração como forma de Luís Saramago. Porque a utiliza-

5
atitude

ção de matéria-prima que de outra consumidores. É nos rótulos que duos, e descargas de substâncias
forma seria lixo preserva a floresta se explica as vantagens de reciclar poluentes no meio aquático são
biológica. papel, entre outros comportamen- alguns dos parâmetros avalia-
tos amigos do ambiente. dos. Um selo de sustentabilidade
Capítulo verde A criação Renova Green não pas- que ajuda o consumidor a tomar
Na senda de novos produtos e sou despercebida e graças a ela a opções ecológicas. “A escolha de
melhores soluções, a marca de empresa de Torres Novas tornou- produtos de consumo eco-dese-
Torres Novas lançou em 2007 a -se na primeira da Península Ibéri- nhados começa a ser natural e
gama Renova Green – lenços de ca na área tissue a receber o rótulo estes produtos são cada vez mais
papel, guardanapos, rolos de co- ecológico da União Europeia. “A valorizados”, considera o respon-
zinha, papel higiénico e papel de importância desta distinção sável de marketing.
escritório feitos exclusivamente de ultrapassa o reconhecimento da Apesar da gama Renova Green
papel 100% reciclado. O processo capacidade inovadora e das boas inaugurar novo capítulo na prática
de transformação decorre nas uni- práticas ambientais da marca, ambiental da empresa, todos os
dades fabris da empresa e o papel passando uma mensagem inequí- artigos respeitam os mesmos prin-
velho é recolhido num raio de 400 voca ao consumidor – os produtos cípios de sustentabilidade. Sem
quilómetros, reduzindo a pegada com esta etiqueta cumprem um tomar posição sobre produtos, a
ecológica do material. Os cuidados conjunto de critérios ambientais Greenpeace Portugal congratula-
verdes estendem-se ainda às em- muito rigorosos”, sublinha Luís -se com a integração da respon-
balagens, também usadas como Saramago. Utilização de energia, sabilidade ambiental nos planos e
veículo de comunicação com os produção e tratamento de resí- processos de produção da empre-

36
atitude

sa. “O sistema de gestão ambien- dos efluentes são utilizadas como


tal é política basilar da organiza- fertilizante na agricultura. Recen-
ção e não se aplica em exclusivo temente a empresa investiu numa
a um segmento. Produtos obtidos central de trigeração que permite
com recurso a tintas ou corantes a produção combinada de energia
obrigam a cuidados específicos, eléctrica e térmica para melhor
mas o processo de fabrico cumpre aproveitamento da energia. Apos-
as mesmas regras e condutas”, tas que são para continuar – a eco-
garante Luís Saramago. O Sistema política da Renova veio para ficar.
de Gestão Ambiental da Renova Como? “Apertando critérios e
está de acordo com a ISO 14001 definindo metas mais exigentes”,
e o Eco-Management and Audit traça Luís Saramago. E, claro,
Scheme (EMAS), auditado regu- “mantendo o ritmo de inovação e
larmente por entidades externas à lançamento de produtos ambien-
empresa. talmente responsáveis”, afirma o
director de marketing da empresa
Inovação e irreverência que surpreendeu o mundo com
Os preceitos ecológicos estendem- rolos de papel higiénico de cores
-se a outras vertentes da empresa: diferentes.
as duas unidades de produção Arrojo e criatividade q.b. fazem
Renova dispõem de estações de desta empresa portuguesa, com
tratamento de águas residuais facturação anual de 130 milhões
independentes e parte dos efluen- de euros, um exemplo dentro e
tes aí tratados são reutilizados no fora do país, autêntica ditadora de
processo de fabrico, diminuindo o tendências. Com o slogan “Para
consumo de água fresca. “Todos um novo bem-estar”, a Renova
os sistemas de produção de papel transforma artigos corriqueiros
incluem tecnologias de depuração como guardanapos ou lenços de
e recirculação de água”, expli- papel, em produtos design, com
ca Luís Saramago. Também as cores e pormenores de bom gosto.
lamas geradas pelo tratamento E responsabilidade ambiental. R

Compromisso eco
Em Junho de 1993 a Renova tornou pública a sua política eco, assumindo vontade
de participar na protecção do ambiente. Os esforços e actividades da empresa
procuram:
proteger o sistema ecológico e usar os recursos naturais e a energia de forma
cuidadosa;
promover novos desenvolvimentos tecnológicos e aplicações que não tenham
um impacto negativo no ambiente;
desenvolver a consciência da protecção do ambiente em cada um dos
colaboradores da Renova;
fortalecer a interacção com os cidadãos e a comunidade.

37
afinal,
o que é
comér
cio JUS
TO?
38
Lazer sustentável

Estima-se que cerca de um milhão de


artesãos e agricultores usufruam das
vantagens do comércio justo e alcancem,
deste modo, vidas mais dignas

Comprar produtos “comércio justo” – nacionais ou estrangeiros


– ajuda a combater as desigualdes sociais e preservar o ambiente.
A tendência já chegou às grandes multinacionais e hipermercados.
Texto Raquel Simões
Fotos Corbis /Cedidas

Recicla vidro, metal, papel, plás- tificados) respeitam pelo menos


tico e cortiça. Compra produtos quatro premissas: o pagamento do
de limpeza amigos do ambiente e preço justo ao produtor; o pré-fi-
frescos de produção orgânica. Jul- nanciamento da produção até 60%
ga-se um consumidor responsável. para que estes não se endividem
Está, efectivamente, a contribuir a fim de comprar matérias-primas
para um mundo mais justo? Sem ou ferramentas; contratos de lon-
dúvida. Só que ainda pode fazer ga duração, no mínimo de 5 anos,
melhor: comprar, sempre que pos- para permitir a estabilidade do
sível, produtos provenientes do produtor, e práticas agrícolas que
comércio justo. Significa isto que respeitem o equilíbrio ecológico.
estará a adquirir bens – sobretudo Carlos Gomes, da Mó de Vida,
alimentares, têxteis e artesanato uma das principais cooperativas
– que, ao longo de toda a sua impulsionadoras do comércio
linha de produção e comerciali- justo em Portugal, afirma: “Os
zação, foram pagos com justiça objectivos são claros. Por um lado
aos seus produtores muitas vezes criar produtores e consumidores
marginalizados, especialmente no conscientes em toda a cadeia
hemisfério sul. económica e, por outro, desenvol-
Os produtos provenientes do co- ver espaços alternativos que se
mércio justo (e devidamente cer- articulem em redes locais e glo-
Lazer sustentável

POR ONDE TUDO COMEÇOU


O movimento nasceu em 1959, numa pequena cidade holandesa, Kerkrade, pelas mãos de um
grupo de jovens católicos que, ao tomarem conhecimento de um universo de marginalizados,
explorados e pobres, que até aí lhes era desconhecido, lançaram o slogan: “Comércio não ajuda”.
A consciência de que era necessário abrir as portas do comércio aos povos do Sul foi crescendo e,
em 1969, surgiu a primeira Loja do Mundo (na Holanda, Brekelen). Em 1971 eram já 120 em todo
o país. ONG como a Oxfam, a Brod fur die Welt ou a Caritas promoviam, em paralelo, a formação
de organizações locais de comércio alternativo e não tardou que um pouco por toda a Europa
Central surgissem centenas de pequenas lojas destinadas a promover e comercializar produtos
provenientes do terceiro mundo. A iniciativa prosperou e, em meados dos anos 80, chegou aos
circuitos comerciais convencionais. A certificação dos produtos é, actualmente, liderada pela FLO
(Federation of Labelling Organisations).

bais, facilitando as condições para que um milhão de trabalhadores. lucrativos e o seu funcionamento
ampla mobilização social”. Estima-se que cerca de 5 milhões é assegurado por voluntários. No
O movimento pode ainda estar (sobretudo agricultores e artesãos) entanto, nos últimos anos – quer
a dar os primeiros passos em estejam a ser beneficiados. por pressão dos consumidores
Portugal, mas segundo dados da mais exigentes, quer das ONG – o
associação Reviravolta, também EXPANSÃO MUNDIAL comércio justo tem conquistado
dedicada à divulgação do comér- Actualmente existem mais de 2 grandes cadeias internacionais. A
cio justo, já existem mais de 800 mil lojas de comércio justo ou do rede de cafetarias Starbucks, por
cooperativas em 45 países do Sul, mundo na Europa. A maioria é exemplo, está perto de comer-
que representam nada menos do gerida por associações sem fins cializar apenas café expresso

0
lazer sustentável

Os 9 Mandamentos
1. Respeito e preocupação pelas
pessoas e ambiente;

2. Criação de meios e
100% certificado. É uma proposta provavelmente não respeitam oportunidades para os produtores
arriscada visto que este é 30% toda a cadeia, que vai desde a melhorarem as suas condições
mais caro do que o tradicional, produção até ao consumo final de vida e de trabalho, incluindo o
mas é provável que a estratégia (relativamente às políticas sociais, pagamento de um preço justo;
de marketing funcione e que o por exemplo). No fundo trata-se
consumidor ceda perante as boas apenas de uma estratégia de mar- 3. Abertura e transparência quanto
práticas sociais anunciadas. Como keting”. Certo é que o conceito à estrutura das organizações
a Starbucks, outras gigantes do tem vindo a ganhar força e massa e todos os aspectos da sua
sector alimentar começam a abra- crítica. actividade;
çar a causa: a fabricante de choco-
lates Cadbury garante que desde PRODUÇÃO LOCAL 4. Envolvimento dos produtores,
finais de 2009 todas as tabletes do Falar em comércio justo não im- voluntários e empregados nas
plica apenas vender no hemisfério tomadas de decisão;
O consumidor deve Norte o que é produzido a Sul.
entender que o “Até porque há muitos povos que 5. Protecção dos direitos humanos,
nomeadamente os das mulheres,
comércio justo estão a vender arroz”, por exem-
crianças e povos indígenas;
plo, diz Carlos Gomes, “quando
não é um facto não têm o suficiente para alimen-
isolado, mas que se tar as suas aldeias”. Há sempre 6. Consciencialização para a
enquadra numa luta que questionar os conceitos e, situação das mulheres e dos
pela transformação sobretudo, a forma de os colocar homens enquanto produtores
social em prática. e comerciantes, e promoção da
Praticar o comércio justo é tam- igualdade de oportunidades;
bém comprar localmente. Junto,
tradicional Cadbury Dairy Milk são por exemplo, de produtores que 7. Promoção da sustentabilidade
totalmente produzidas com cacau não usem agrotóxicos. É também através do estabelecimento de
certificado e afirmou que investi- comprar mel, compotas, azeites e relações comerciais estáveis de
ria cerca de 64 milhões de dólares ervas aromáticas produzidas no longo prazo;
para ajudar a garantir o desen- país, respeitando o ciclo da natu-
volvimento económico, social e reza. Evitam-se gastos aos nível 8. Educação e participação em
ambiental sustentável de um dos transportes e todas as emis- campanhas de sensibilização;
milhão de agricultores de cacau sões de CO2 que estes acarretam.
nas comunidades do Gana, Índia, “Os pequenos produtores têm de 9. Produção tão completa
Indonésia e Caraíbas. Enquanto aprender a cooperar”, assegura o quanto possível dos produtos
isso, o grupo Unilever assegurou porta-voz da Mó de Vida. “Ainda comercializados no país de origem.
que o chá em saquinhos vendido estamos numa fase muito inci-
sob a marca Lipton em todo o piente”.
mundo levará o selo de comércio Uma excepção: a proliferação de Actualmente existem apenas 3
justo até 2015. Nos hipermercados entregas de cabazes de produ- Lojas do Mundo em Portugal:
o café e chocolate ou cacau certifi- tos biológicos ao domicílio. Se
cados também já se encontram à são mais caros? Sim. Mas somos Mó de Vida
disposição do consumidor. meros consumidores ou cidadãos Calçadinha da Horta, 19, Pragal,
Carlos Gomes, porém, é céptico conscientes? R Almada Tel. 212 720 641
em relação a este crescimento ex- Loja do Mundo de Braga
ponencial: “O comércio justo é um Rua D. Diogo de Sousa, 119, Braga
meio e não um fim em si próprio. Tel. 253 278 351
As grandes superfícies podem Loja do Mundo do Porto
vender estes produtos, mas elas, Parque da Cidade

41
sustentabilidade é Velas de óleo reciclado
“Fazemos as pessoas apaixonarem-se pelo seu
lixo” é o mantra das velas Oon, criadas pelo
português Mário Silva. Uma pequena máquina,
de design e autoria portugueses, transforma
azeite e óleos alimentar utilizados em velas
perfumadas com aromas sui generis: blueberry
smoothie, cozy jasmine, sea lemons, spicy
orange, naked soul, hand picked apples e sweet
coffee cream. Velas de óleo reciclado e máquina
disponíveis em www.oonsolutions.com.

Oficina de iluminecos
de plástico
Anfíbios no Oceanário
A proposta é da Câmara Municipal
do Porto e promete animação para Rãs, sapos, salamandras, tritões e cecílias são
miúdos e graúdos. Resíduos de algumas das novas espécies que podem ser
plástico e muita criatividade dão admiradas no Oceanário de Lisboa. A nova área
forma a peças divertidas e ecológicas, dedicada exclusivamente aos anfíbios abriu
preparadas sob orientação da em meados de Julho e procura sensibilizar os
formadora Carla Pinheiro, da Eco- visitantes para o perigo de extinção destes
-Animação. Tome nota: dia 22 de animais, alertando para a necessidade de alterar
Agosto, das 15:00 às 17:00 no Centro comportamentos. Já. A visitar durante o horário
de Educação Ambiental do Núcleo de funcionamento do Oceanário
Rural do Parque da Cidade, na Invicta.
Mais informações através do e-mail
educa.ambiebtal.nrural@cm-porto.pt
ou do telefone 226 151 200.

A globalização já era!
Segundo o economista canadiano Jeff Rubin, a globalização
já era. A subida do preço do petróleo para três dígitos será
fatal a hábitos comuns como comer salmão da Noruega ou
comprar flores do Quénia. Mas o novo mundo, centrado no que
é próximo, não será negativo, garante. Conheça os argumentos
neste livro publicado em Portugal pela Lua de Papel.

4

Você também pode gostar