Você está na página 1de 8

MOMENTO DA PATOLOGIA – AULA 60 – COMO A ALVENARIA AFETA O

DESEMPENHO DOS SISTEMAS DE REVESTIMENTOS

 Quais os problemas que podem ser gerados nos sistemas de revestimentos?

 Como evitá-los, tratá-los e mitigá-los?

 Não existe norma brasileira sobre o tema. O que existe são manuais
específicos que descrevem e discorrem sobre as boas práticas de execução e
controle dos processos produtivos.

1. ENCUNHAMENTO – APERTO – FIXAÇÃO

 Quando se opta pelo sistema construtivo de estrutura de concreto


armado, geralmente como opção para vedação e divisão de ambientes,
utiliza-se paredes de alvenaria de tijolos ou lajotas cerâmicas. Para
tanto, é necessário fazer uma ligação entre essas paredes de vedação
e a estrutura. Quando se trata da ligação com vigas ou lajes, chama-se
encunhamento.

 As alvenarias podem sofrer as ações advindas das estruturas e, se não


forem bem distribuídas, podem gerar problemas até mesmo antes do
término da construção. Assim, a principal função do encunhamento é
distribuir e absorver as cargas sobre a alvenaria, além de, é claro,
promover o fechamento da última fiada. Quando mal executadas, a
região poderá apresentar fissuras antes mesmo do fim da obra, gerando
problemas para a qualidade da construtora. Acontece que, com a
aceleração do crescimento imobiliário, houve um aumento significativo
no número de edifícios, fazendo com que o tempo de execução seja
reduzido drasticamente em busca de atender ao mercado. Redução
essa que, muitas vezes, é resultado da não obediência das normas que
ditam o tempo mínimo de execução, como por exemplo a desforma. Por
causa disso, tem ocorrido cada vez mais manifestações patológicas nas
ligações da estrutura com a alvenaria, levando à necessidade de
aplicação de elementos mitigadores. Vale apontar que, segundo alguns
estudos, esses problemas têm gerado altos custos para as construtoras
com crescimento no acionamento das garantias, custos esses que não
se encontram no orçamento inicial, acarretando num estouro de
orçamento.
 Essa técnica é utilizada desde a década de 1930, após o aparecimento
das primeiras estruturas de concreto armado. Inicialmente era
executada utilizando blocos cerâmicos com inclinação de 450. Dessa
forma, a transferência das tensões é absorvida pela argamassa de
assentamento e o bloco. Com o passar do tempo e com o surgimento
de materiais mais tecnológicos e as estruturas cada vez mais flexíveis,
surgem técnicas que utilizam materiais mais resilientes, tais como:
argamassas com elastômeros, esferas de isopor, placas de Neoprene,
poliuretano expandido, entre tantos outros. O pesquisador Fernando
Henrique Sabbatini sugeriu, em uma de suas publicações, uma
classificação quanto ao tipo de técnica utilizada para a realização do
encunhamento, dividindo-as em: com pré-tensionamento (tijolos a 45º,
argamassa expansiva), sem pré-tensionamento (argamassa de baixo
módulo de elasticidade) e plástico (espuma de poliuretano).
 O encunhamento com pré-tensionamento busca fixar a alvenaria a
estrutura ou propiciar o contraventamento dela, enquanto o sem pré-
tensionamento é mais direcionado para estruturas mais deformáveis,
tendo menor probabilidade de apresentar fissuras e sua a fixação é
garantida pela aderência inicial da argamassa e deformação lenta da
estrutura. Por fim, o encunhamento plástico é mais adequado para
estruturas muito deformáveis e paredes mais rígidas.

 Os três termos são bem comuns e largamente utilizados pelos


profissionais da construção civil. Porém, atualmente existe uma corrente
que defende a utilização do termo FIXAÇÃO. Faz parte dessa corrente
a Profa. Helena Carasek.
 Antigamente era muito comum a execução do ENCUNHAMENTO
RÍGIDO, realizado com o TIJOLINHO MACIÇO, com inclinação de 45o
e aplicados pequenos impactos nos mesmo para que o conjunto
formado pela união desses componentes TRAVASSE a alvenaria.
Verificava-se também, determinadas características dos elementos
estruturais (robustez, deformabilidade e etc) que exigiam esse tipo de
encunhamento.

 As imagens acima mostram 2 situações:


o Na imagem da esquerda observa-se o encunhamento “tradicional”
utilizado na atualidade com a utilização de argamassa convencional
ou argamassa com aditivo expansor. A função do aditivo expansor é
combater a retração sofrida pelas argamassas, ou seja, uma
COMPENSADOR DE RETRAÇÃO. Logo existirá uma região
argamassada com tendência a sofrer retração, assim a argamassa
expansiva compensaria essa retração. Porém, a utilização desse
tipo de encunhamento vem sendo cada vez menos utilizado.
o Já na imagem da direita observa-se um cenário com utilização de
ESPUMA DE POLIURETANO. Ressalta-se que esse tipo de
método e indicado para situações específicas.
o De maneira geral, ou se encunha com um material rígido, como a
argamassa, ou com espuma, EPS, que são materiais que não
transferem esforço para as alvenarias. Em termos de custo, a
maioria das obras optam pelo encunhamento com material rígido,
sendo muito comum a utilização da própria argamassa de
assentamento (traço de 1:1:10) com a utilização de um adesivo
(PVA ou ACRÍLICO) que a tornará menos rígida e até mesmo a
“ARGAMASSA PODRE” (traço 1:1:12) que se caracteriza pelo um
menor consumo de cimento, logo será menos rígida.
o Ressalta-se que a utilização de expansores deve ser
cautelosamente analisada visto que devido à grande capacidade
expansiva do material poderá haver o mesmo problema observado
com a utilização do encunhamento rígido com tijolinho maciço, ou
seja, o travamento da alvenaria no fundo da viga ou laje. Com isso,
qualquer deformação dos elementos estruturais adjacentes será
transferida para a alvenaria e fatalmente haverá a quebra da
mesma, manifestada por fissuras.
o A seguir alguns exemplos de fixação em alvenarias:

A B

o Na imagem A verifica-se um sistema de fixação com utilização


de espuma expansiva. Alerta-se para a existência de um
reservatório de água logo acima. Neste caso a opção pela
utilização da espuma expansiva foi acertada já que devido a
solicitação imposta pelo reservatório fatalmente haveria o
fissuramento da alvenaria caso a espuma não fosse utilizada.

o O EPS apresenta a mesma função que as espumas expansivas,


ou seja, impede a transferência de esforços para a alvenaria,
entretanto pode haver maior consumo de argamassa visto que
se faz necessária a fixação do elemento de EPS.

o Outro ponto que merece atenção diz respeito ao tempo de


fixação/encunhamento e ordem executiva. Levando-se em
consideração as boas práticas de engenharia têm-se como ideal
o seguinte processo: >> Execução da totalidade da estrutura
>> Finalização de todos os panos de alvenaria >>
Realização do encunhamento de cima para baixo, com
intervalo de 24hs entre os pavimentos. Entretanto tal prática é
utópica, visto os prazos cada vez mais apertados dos
empreendimentos. É comum a fixação ser realizada somente
quando 2 ou 3 pavimentos acima já estiverem com todo a
alvenaria executada. Ressalta-se que as condições de cada
obra devem ser respeitadas observando características,
processos logísticos e planejamento afim de não incorrer em
problemas no sequenciamento executivo da obra (RABOS).
o É de extrema importância que o processo de
fixação/encunhamento seja realizado preenchendo todo o
perímetro de contato na interface viga x alvenaria, ou seja, a
fixação deve ser executada tanto do lado interno e externo. O
material utilizado na fixação deve preencher a maior área
possível a fim de estabelecer a maior área de contato possível já
que σ=F/A, com isso a tensão imposta a alvenaria será menor,
incorrendo em uma menor probabilidade de fissuramento das
alvenarias. Um cenário contrário, quando só a parte interna da
alvenaria é fixada, proporciona uma concentração de tensões
neste lado, ocorrendo grande fissuração na face interna da
alvenaria.
o O material de encunhamento deve preencher no mínimo 50% da
seção transversal do bloco.
o A seguir um breve estudo de caso onde manifestaram-se fissuras na
fachada de um edifício:

o Observa-se, claramente a manifestação de fissuras iniciadas nas


juntas, local onde a fixação/encunhamento é realizada. Em um
primeiro momento, pode-se inferir que a causa da patologia
encontra-se nos revestimentos/argamassa. Um profissional
experiente e capacitado irá propor uma investigação mais
minuciosa. Ao realizar o corte com serracopo verifica-se quebra nos
componentes da alvenaria (blocos), caracterizando falhas na
execução do encunhamento, mostrado na imagem a seguir do
mesmo empreendimento:
o Outras situações:

Fissura típica de
interface
estrutura/alvenaria.

SOLUÇÃO: Criação de
junta ou utilização de
tela.
o

Fissura caraterística de falhas de


execução da fixação.

SOLUÇÃO: Utilização de espuma


expansiva

o Destaca-se a importância da realização do Controle Tecnológico do


Revestimento
o Na imagem a seguir exemplifica-se a técnica construtiva utilizada
antigamente, a qual hoje em dia está em desuso: Utilização de
tijolinhos inseridos a 45º.

Salienta-se que as estruturas antigamente apresentavam pequena


deformação e eram extremamente armadas. Entretanto, hoje em dia, as
estruturas assumiram características mais esbeltas, com um maior
módulo de deformação, o que por sua vez impõe uma maior
transferência de tensões para os elementos de vedação, logo essa
técnica executiva traz grandes chances da alvenaria ser acometida por
graves problemas de fissuração e consequentemente impactos
significativos na qualidade da alvenaria e nos custos não previstos nas
correções dessa patologia, podendo vir a comprometer o resultado
financeiro da empresa.

No caso da imagem acima destaca-se:


o Em 1: Fissuras mapeadas na viga provocadas por retração plástica;
(sarrafeamento/desempeno realizado antes da argamassa “puxar” –
consistência mole). Sabe-se que a argamassa “puxa” mais rápido
nas alvenarias, visto características físico/químicas dos blocos. Por
questões de produtividade os oficiais tendem a realizar o processo
de sarrafeamento/desempeno conjunto tanto na alvenaria quanto na
estrutura, ocasionado tal patologia com a configuração acima
o Em 2: Fissuras de interface estrutura/alvenaria;
o Em 3: Fissuras por falhas na fixação/encunhamento

BIBLIOGRAFIAS SUGERIDAS

o EXECUÇÃO E INSPEÇÃO DE ALVENARIA RACIONALIZADA


– ALBERTO CASADO

o MANUAL TÉCNICO DE ALVENARIA ABCI

o PATOLOGIAS DA ALVENARIAS – CRISTIANA FURLAN

Você também pode gostar