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Componentes e Elementos da alvenaria

• Inicialmente, observar que as paredes são elementos de alvenaria. São definidas como
elemento laminar vertical, apoiado de modo contínuo em toda a sua base, com
comprimento maior que cinco vezes a sua espessura. Eventualmente, também pode haver
pilares, quando a relação entre as dimensões for inferior a cinco vezes.
• Atentar para a diferente função das paredes: resistência (alvenaria estrutural) e vedação:
- A primeira vai suportar as cargas verticais e horizontais da edificação, além do próprio
peso, transmitindo-as à fundação. As unidades (no caso, blocos) são concebidos para
serem assentados com os furos na vertical. Podem ainda conter armaduras e prenchimento
com graute. A NBR 15270-1 (2017) também prevê a possibilidade do uso de tijolos em
alvenaria estrutural. Notar que, sendo a estrutura formada pelas próprias paredes, os tipos
de fundação compatíveis são sapatas corridas ou placas de fundação (radiers).
- Já as paredes de vedação suportam apenas seu próprio peso. As unidades (blocos) são
concebidos para serem assentados com os furos na horizontal ou vertical. Alternativamente,
tijolos podem ser utilizados. Há dois motivos para escolha de paredes de vedação no
sistema de alvenaria estrutural: dar alguma flexibilidade ao projeto arquitetônico permitindo
a remoção de tais paredes, ou paredes de área molhada para conter tubulações (passagem
de fluidos).
• Os componentes da alvenaria estrutural
são os seguintes:

1) Blocos / Tijolos
2) Junta de argamassa
3) Graute
4) Armaduras
1) Blocos / Tijolos
• São as unidades da parede de alvenaria. Podem ser cerâmicos, de
concreto, sílico-calcários ou de solo-cimento. Os dois primeiros são mais
comuns.
• Notar, conforme a evolução normativa, que as paredes de alvenaria
estrutural podem utilizar blocos ou tijolos. Blocos são definidos como
componentes que possuem furos prismáticos perpendiculares às faces
que os contêm. Os blocos estruturais são produzidos para serem
assentados unicamente com furos na vertical. Já os blocos de alvenaria
de vedação podem ser assentados com furos na vertical ou horizontal.
• O assentamento com furos na vertical, aliado a uma geometria do bloco
com furos centrais de maior dimensão, permitirá compatibilizar a parede
com as instalações elétricas, de modo que não haja necessidade de
rasgar paredes para prover instalação (rasgar paredes é bastante não
recomendável, só sendo permitido com severas restrições de extensão).
• Assim, do ponto de vista de utilização de alvenaria racionalizada, o uso
de blocos com furos na vertical é a opção preferível para alvenaria
estrutural.
1.1) Tijolos/Blocos de alvenaria de vedação (VED)
1.1.1) Tijolos maciços (ou perfurados) cerâmicos

O tijolo é caracterizado como o componente que possua altura de até


11,5 cm.

As dimensões recomendadas dos tijolos são definidas na NBR 15270-


1 (2017). A exemplo, largura de 9,0 cm, comprimento de 19,0 cm e
altura de 5,7 cm. A faixa de alturas vai de 5,3 a 11,5 cm.

No que diz respeito à resistência mecânica MÍNIMA (à compressão),


esta também é definida na NBR 15270-1 (2017), havendo algumas
categorias: (a) tijolo vazado com furos horizontais: 1,5 MPa; (b) tijolo
maciço ou com furos verticais: 4,0 MPa
1.1.2) Blocos cerâmicos ou de concreto (de vedação) (VED)

O bloco é elemento vazado com altura a partir de 11,5 cm. As


dimensões recomendadas dos blocos cerâmicos são definidas na
NBR 15270-1 (2017). Os furos podem ser na horizontal ou vertical.

Fonte: NBR 15270-1: blocos de parede vazada

Há uma família de blocos cerâmicos, cujas dimensões são múltiplas do


módulo dimensional M menos 1 cm. Por “família de blocos”, entende-se
um conjunto de blocos que interagem modularmente entre si. O módulo
dimensional é M = 10 cm. Uma escolha popular é a relação (1) M x (2)
M x (2) M, que corresponde às dimensões 9,0 x 19,0 x 19,0 cm. A NBR
15270-1 apresenta Tabela com as relações possíveis. A menor
dimensão L é 9,0 cm.
A espessura dos septos dos blocos cerâmicos de vedação deve ser
no mínimo 6 mm e a das paredes externas no mínimo 7 mm.

No que diz respeito à resistência à compressão fb (bloco cerâmico),


a NBR 15270-1 apresenta a seguinte Tabela (cálculo sobre a área
bruta): Posição dos furos fb (MPa)
Furos na horizontal ≥ 1,5
Furos na vertical ≥ 3,0
Com relação aos blocos de concreto usados para vedação (ou
estrutural), tem geometria única definida na NBR 6136 (2014).
A largura é a menor dimensão,
conforme padronização definida na
Norma. Dentre as famílias de blocos,
há também o 9,0 (L), 19,0 (H) e 19,0
cm (C). São concebidos para uso
com furos na vertical. A resistência
característica à compressão também
deve ser maior que 3,0 MPa.
Fonte: NBR 6136
1.2) Blocos de alvenaria estrutural
Em ambos os casos (cerâmico ou de concreto), são concebidos para uso com furos na
vertical. Há previsão de furos largos o suficiente para permitir passagem de tubulações
(elétricas).

Com relação à menor dimensão (largura), há diferenças de emprego:

Blocos de concreto: conforme a NBR 6136, para os blocos de menor resistencia ( Classe
C, fbk > 3,0 MPa) são permitidos ter largura de 9,0 cm para edificações de no máximo um
pavimento; e de 11,5 cm para edificações de no máximo dois pavimentos. Notar,
entretanto, que há restrições de esbeltez da parede, a serem posteriormente discutidas.

Blocos cerâmicos: conforme a NBR 15270-1 (2017), as dimensões dos blocos cerâmicos
estruturais seguem as mesmas especificações de emprego acima descritas.

Ainda, conforme a NBR 16868-1, blocos (cerâmicos ou de concreto) com largura mínima
de 14,0 cm devem ser usados em edificações de mais de dois pavimentos. Restrições
de esbeltez da parede também devem ser consideradas.
Concreto – NBR 6136

Cerâmicos – NBR 15270-1


Uma escolha “popular” são os blocos da família 15 x 30. Esta
família é composta pelos blocos 14,0 x 19,0 x 14,0 (meio bloco),
14,0 x 19,0 x 29,0 (bloco principal), e o “blocão” 14,0 x 19,0 x 44,0
para amarração de paredes.
Ex. família de blocos cerâmicos. Fonte:
Cerâmica Cincera

As famílias de blocos contém também blocos compensadores (por ex.,


para uso em ajustes em esquadrias), além de canaletas, para a
execução de vergas, contravergas e cintas (blocos canaleta J, U, u).
Com relação à resistência à compressão, a resistência característica f bk
dos blocos cerâmicos deve ser considerada a partir de 4,0 MPa,
calculada em relação à área bruta. Para os blocos de concreto, admite-
se resistência característica fbk a partir de 3 MPa.
2) Argamassa
Preenche as juntas entre os blocos (horizontais e verticais), tendo como
principal função a transferência uniforme das tensões entre os mesmos,
compensando as irregularidades e as variações dimensionais.

A argamassa deve ser resistente o suficiente para suportar os esforços


aos quais a parede será submetida. Contudo ela não deve exceder a
resistência dos blocos, de maneira que as fissuras que venham a
ocorrer, devido a expansões térmicas ou a outros movimentos da
parede, ocorram na junta.

A composição da argamassa é de cimento, cal e areia. A resistência à


compressão mínima é de 1,5 MPa. Já a máxima deve ser 1,5 vezes a
resistência à compressão do bloco. A resistência da argamassa afeta
principalmente a resistência à tração e ao cisalhamento da parede.
Alguns traços de referência (em volume) são:
Cimento Cal Areia Resistência Fonte:
(MPa)
1 2 9 2,5 selectablocos.com.br
1 1 6 4,5 selectablocos.com.br
1 1 4,5-6,0 3,5-5,0 Parsekian et al.
1 1 5-6 5 Napead/UFRGS
1 0,6 6 5,8 selectablocos.com.br
1 0,6 5,0 7,5 selectablocos.com.br
1 0,5 4,5 12 Napead/UFRGS

A espessura das juntas afeta a resistência à compressão da parede. A


espessura deve ser de 1,0 cm, admitindo-se espessuras de até 2,0 cm
no assentamento da primeira fiada, para regularização da laje.
Disposição da argamassa:
- nas juntas horizontais, deve ser posta sobre as faces laterais e
também sobre os septos transversais dos blocos. Admite-se que a
argamassa possa ser posta apenas sobre as faces laterais (há perda
de resistência à compressão nesta opção; a NBR 15961-1 menciona
um fator de correção de 0,8 para a resistência à compressão da
parede)
- Nas juntas verticais: é suficiente colocar dois filetes de argamassa na
parede lateral dos blocos, cada filete com espessura não inferior a
20% da largura dos blocos e de no mínimo 30 mm.

Fonte: www.selectablocos.com.br
- Estudo sobre preenchimento das juntas horizontais (Leite, 2016):
Três configurações foram investigadas:
a) Preenchimento apenas das juntas longitudinais (Tipo 1)

b) Preenchimento de todas as juntas (Tipo 2)

c) Preenchimento de juntas longitudinais + revestimento (Tipo 3)


Resultados obtidos (Leite, 2016):
Prisma (dois blocos) Resist. Compressão (MPa)
Tipo 1 2,17
Tipo 2 2,94
Tipo 3 2,29

Não houve ganho de resistência apreciável ao acrescentar o


revestimento no prisma, sendo o acréscimo de apenas 5%.
Padrão de fissuração observado:
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3
3) Graute
Trata-se de um concreto com alta fluidez (fator a/c entre 0,8 a 1,1) e
com diâmetro máximo do agregado graúdo de até 10 mm, que permita
preenchimento de vazios dos blocos mediante adensamento manual
simples. O excedente de água é absorvido pelos blocos, resultando um
fator a/c mais baixo para endurecimento do concreto.
- É utilizado para solidarizar a armadura à alvenaria, ou aumentar a
capacidade resistente da mesma.
- A resistência recomendada para o graute é a da ordem da
resistência à compressão do bloco, em relação à sua área líquida.
Considerando que a relação entre área bruta e líquida de blocos é da
ordem de 2,0 a 2,5, a resistência do graute é da ordem de 2,0 a 2,5
vezes a resistência do bloco em relação à área bruta. A resistência à
compressão mínima recomendada para o graute é de 15 MPa.
- A NBR 15812-2 recomenda uma altura máxima de lançamento do
graute (sem aditivos) de 1,6 m. A primeira etapa de lançamento do
graute fica coincidente com a altura das contravergas das janelas.
- No caso das alvenarias não armadas, recomenda-se, como
disposição construtiva, realizar grauteamento dos encontros de
paredes externas da edificação. Nestes cantos, lança-se uma barra
de bitola 10.0 mm.

Fonte: Parsekian
- Traços:
Cimento Areia Brita 0 Fonte:
1 2-3 1-2 Mohamad (2015)

4) Armaduras
- Utilização de aço CA-50/ CA-60, idêntico ao do concreto armado
• Os elementos da alvenaria estrutural são:
1) Paredes
2) Vergas / contravergas
3) Cintas

1) Paredes
- São os elementos verticais do sistema. Conforme já mencionado
anteriormente, podem ser estruturais ou de vedação. O padrão de
distribuição dos blocos na parede é tal que as juntas verticais devem
ficar defasadas em no mínimo 1/3 do comprimento dos blocos.
- Já as paredes são amarradas umas nas outras por intertravamento
dos blocos (amarração direta). Isto é realizado com a interpenetração
alternada dos blocos de uma parede na outra.

Fonte: Parsekian
- A capacidade resistente das paredes pode ser avaliada a partir de
prismas. O prisma é o corpo de prova da alvenaria estrutural. Ele é
formado pela superposição de dois blocos, unidos por argamassa.

Ensaio de prisma (NBR 15812-2)

- Segundo Roman et al, o comportamento do conjunto bloco + argamassa


depende não somente de cada material empregado, mas principalmente
das interações físico-químicas que se processam entre os mesmos.
Dessa forma, é necessário realizar testes com o conjunto para ter
informação sobre o desempenho estrutural. A utilização de prismas como
corpos de prova é uma forma de associar o desempenho do conjunto
(parede) com o de blocos já interligados por argamassa.
- O fator de eficiência da alvenaria é dado pela razão entre a
resistência dos prismas (fpk) e a resistência do bloco (fbk). Segundo
Roman et al., vários estudos mostraram que o fator de eficiência
pode variar entre 10 e 70 % para materiais cerâmicos e entre 50 e 90
% para blocos de concreto. Esta variabilidade comprova a
importância da realização de ensaios com os materiais.
- A NBR 16868-1 apresenta os seguintes valores (de referência) para
a relação (fpk/fbk): 0,55 a 0,80 para blocos de concreto, 0,45 a 0,50
para blocos cerâmicos de parede vazada, e 0,60 para blocos
cerâmicos de parede maciça.
- Já a relação entre a resistência da parede (f k) e a do prisma fpk pode
ser estimada, conforme as Normas de projeto, em 0,7.

2) Vergas/contravergas

- Vergas são vigas colocadas sobre aberturas (ex., portas, janelas)


com a função de transmitir as cargas verticais para as paredes
adjacentes. Já as contravergas são colocadas sob o vão de janelas
com a função de redução da fissuração nos cantos da abertura.
- Vergas e contravergas devem prolongar-se um mínimo de 30 cm
para cada lado sobre as paredes, após o final da abertura.

- Blocos tipo canaleta podem ser convenientemente utilizados para


execução de vergas e contravergas, para vãos usuais.

Fonte: Roman et al.


- Armações longitudinais em ambas as faces devem ser dispostas.
3) Cintas
- É um elemento continuamente apoiado nas paredes, com a finalidade
de distribuir e uniformizar as cargas sobre as paredes, auxiliar no
contraventamento e amarração.
- As cintas são normalmente dispostas ao nível das lajes (cintas de
respaldo), na última fiada abaixo das lajes; uso de blocos canaleta
facilita a montagem.
- Cintas são armadas: nos cantos, dobrar a armadura em torno da
armação vertical de canto.

Fonte: Parsekian
- Sobre apoios intermediários, pode-se utilizar o bloco canaleta reduzido
para a cinta, a depender da modulação vertical. A armadura das lajes
sobre o cintamento intermediário é emendada (armadura positiva).

Fonte: Parsekian

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