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Última fiada
Planejamento da ligação da alvenaria à estrutura exige atenção à seqüência de aplicação
das sobrecargas na edificação

Simone Sayegh

Edição 120 - Março/2007

A execução do "encunhamento", que se referia à ligação da alvenaria


à estrutura com cunhas de concreto batidas ou tijolos maciços em
forma de cunha, caiu em desuso. Segundo especialistas, essa solução
não é mais recomendada na maioria dos casos. "Fixação superior é o
termo mais indicado, e basicamente inclui o preenchimento do
espaço entre a alvenaria e a estrutura com argamassa, com ou sem
adições", explica o engenheiro Jonas Silvestre Medeiros, da
consultoria Inovatec.

De acordo com o engenheiro Luis Sergio Franco, da Arco, empresa de assessoria em racionalização construtiva, a
fixação deve iniciar-se a partir dos pavimentos superiores, pois a laje fixada transmite parte dos esforços
decorrentes da deformação da estrutura para a laje inferior, na qual se apóia a parede. "Esta ordem permite que
a estrutura carregue mais lentamente as alvenarias, uma vez que as maiores deformações concentram-se nos
andares mais baixos", explica.

No entanto, Medeiros, da Inovatec, alerta que devido aos prazos sempre curtos, a fixação em muitos casos segue
a seqüência cronológica da execução das paredes, ou seja, de baixo para cima. Como alternativa para compensar
os efeitos das deformações, ela pode ser executada de cima para baixo para cada conjunto de três ou quatro
andares, respeitando: os prazos de escoramento de vigas e lajes, o intervalo de tempo sem escoras antes da
elevação das paredes, a conclusão de toda a estrutura e a seqüência de aplicação das demais sobrecargas
importantes, como a do contrapiso.

Novos materiais

Antigamente, em estruturas pouco deformáveis (flechas finais em


torno de L/500, por exemplo), a fixação era feita com argamassas
rígidas e cunhas de concreto. Hoje em dia, com a execução de
estruturas mais flexíveis, deve-se recorrer a materiais mais resilientes
como massa podre (argamassa rica em cal hidratada e pequeno
consumo de cimento), tijolos de barro cozido com pequeno módulo de
deformação, argamassas com elastômeros, esferas de isopor, placas de
neoprene, cortiça ou isopor, poliuretano expandido e outros. "Quanto
mais flexível a estrutura e mais desfavoráveis as condições da parede A fixação com encunhamento tradicional (foto) está

(grande extensão ou pequena espessura), mais deformável e resiliente sendo substituída pela ligação alvenaria-estrutura
com argamassa
deve ser o material de fixação", explica Ercio Thomaz, especialista do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo).

De maneira geral, o tipo de material empregado também depende da situação de uso e da própria vedação ou
alvenaria. O engenheiro da Inovatec recomenda a utilização da própria argamassa de assentamento com a
adição de polímero, que aumenta bastante a aderência nos fundos de viga ou laje, evitando o surgimento de uma
eventual fissura na ligação. Já para estruturas com lajes e vigas que possam apresentar maiores deslocamentos
específicos, como em lajes nervuradas ou vigas isostáticas de grandes vãos, pode ser necessária a adoção de uma
fixação mais deformável, como espuma de poliuretano, desde que se garanta a estabilidade horizontal das
paredes e se compatibilize com os revestimentos especificados. "O uso de alvenaria de bloco de gesso e laje
nervurada tem exigido esse tipo de fixação para tolerar as movimentações", explica Medeiros.

À esquerda, fixação mal preenchida com colher de pedreiro; à direita, ruptura na fixação de poço de
elevador devido à utilização de bloco com baixa resistência

Mas Franco, da Arco, alerta para o cuidado de uso nessas situações, pois revestimentos rígidos como
argamassa e gesso não podem cobrir esse tipo de ligação. O ideal seria a criação de forros ou sancas para
esconder a fixação, ou a execução de juntas de movimentação no revestimento de fachada.

O tipo de bloco empregado também influencia na escolha do material de fixação na medida em que define
a capacidade de deformação da parede e sua resistência e movimentação intrínseca, como retração na
secagem. A forma e estrutura do bloco, vazado ou não, determina o tipo de fiada de respaldo e sua técnica
de preenchimento. Para Franco, no entanto, o mais importante é observar se todos os componentes da
alvenaria têm capacidade de resistir aos esforços transmitidos.

Muitos problemas patológicos ocorrem porque, mesmo utilizando-se um bloco de boa resistência nas
paredes, os submódulos utilizados para ajustar o espaço restante entre a última fiada e a estrutura
apresentam menor resistência. "Esse bloco 'mais fraco' funciona como um verdadeiro fusível que se rompe
quando carregado com esforços inferiores aos que poderiam ser resistidos pelo restante da parede", diz
Franco.
Patologias
Uma fixação malfeita pode acarretar destacamentos entre alvenaria e estrutura, fissuras, esmagamentos e
rupturas da alvenaria como um todo, ou apenas dos materiais de revestimento.

De acordo com o engenheiro Medeiros, as patologias mais comuns são as fissuras horizontais que
acompanham o alinhamento da fixação superior, entre a última fiada e os fundos da viga ou da laje. Elas
podem ocorrer ainda na fase da obra, quando a parede está ligada apenas por dentro e permanece assim
até receber a fixação externa, geralmente feita junto com o revestimento de fachada. Depois de finalizada a
obra, as fissuras podem ocorrer quando a fluência e a retração da estrutura passam a contribuir para o
deslocamento de lajes e vigas mais esbeltas ou em balanço.

Também podem surgir fissuras inclinadas, atravessando os blocos e juntas de argamassa e, na forma mais
crítica, regiões das paredes esmagadas, próximas ao apoio nos pés e junto dos pilares ou próximos à
fixação da alvenaria. Todas essas patologias atingem diretamente os pavimentos inferiores, onde ocorrem
os encurtamentos mais significativos dos pilares, as transições da estrutura para pavimentos térreos e os
mezaninos, e os últimos pavimentos, em função da retração hidráulica e movimentação térmica da
cobertura.
Outra situação que exige atenção é a descontinuidade da prumada das paredes, que pode levar ao
surgimento de fissuras nas paredes imediatamente superiores ao andar na qual a prumada foi interrompida.
"Essa situação vem se tornando comum, pois muitas empresas têm oferecido apartamentos com inúmeras
possibilidades de mudanças de layouts", explica Franco. Além dessas situações, podem ocorrer fissuras no
último pavimento, causadas pela deformação térmica da laje de cobertura. "Nessa situação, a fixação com
espuma de poliuretano pode ser bastante eficaz", conclui.

Etapas de execução
Em primeiro lugar, recomenda-se o início da fixação superior das primeiras paredes quando toda a
alvenaria já esteja finalizada, para evitar maiores sobrecargas.

"Nessas condições, a estrutura deve ter sido finalizada a pelo menos 60 dias", explica Silvestre. A
execução de uma fixação perfeita depende também da previsão das deformabilidades da estrutura e da
alvenaria, e de uma boa preparação que inclui limpeza e umedecimento da superfície antes da aplicação
de qualquer tipo de massa. Outra sobrecarga importante que deve ser prevista é a de contrapiso.

"Depois das alvenarias, esta é a segunda sobrecarga mais importante para efeito de deslocamentos que
podem afetar as paredes", conclui.

De maneira geral, os especialistas recomendam os seguintes cuidados e procedimentos com relação à


execução do serviço:
 A estrutura deve estar finalizada a pelo menos três pavimentos acima do pavimento onde será
executada a fixação – o ideal, no entanto, é que a fixação só seja realizada após 60 dias de
conclusão completa da estrutura;

 A alvenaria pode estar executada a dois pavimentos acima, mas sem a fixação;

 As paredes do pavimento onde será realizado o procedimento devem ter sido executadas há
pelo menos 14 dias;

 O procedimento em si deve ser retardado o máximo possível, (colocar antes toda a carga
permanente possível, como, por exemplo, o contrapiso finalizado);

 Executar a alvenaria e a fixação dos pavimentos superiores para os inferiores (quando isso não
for possível na estrutura toda, procurar fazer em grupos de pavimento, por exemplo, de quatro em
quatro).

 De preferência, a aplicação do produto deve ser feita com o auxílio da bisnaga de argamassa.
Quando o último bloco da parede for vazado, os dois cordões devem ser preenchidos
completamente, sem deixar vazios. Quando a face do último bloco (ou submódulo) for maciça o
preenchimento deve ser completo em toda a junta de argamassa.

 Nas paredes de fachada, o cordão externo deve ser executado junto com a própria preparação
da base para a execução do revestimento da fachada, mas com argamassa própria, não com
argamassa para emboço de fachada.
O travamento na estrutura pode ser melhorado com telas metálicas ou ferros-cabelo. Juntas
flexíveis ajudam a evitar fissuras
Melhorar a ligação entre a alvenaria e o pilar e equilibrar as deformações diferenciais entre os
sistemas impedem o surgimento de fissuras nessas regiões de interface. Como regra geral, a
ligação alvenaria-pilar é feita com argamassa de assentamento. Para que a aderência seja
perfeita, antes da aplicação do chapisco na estrutura, deve-se limpar a superfície de concreto
profundamente, o que pode ser feito com lavadora pressurizada.

As ligações podem ser reforçadas com o uso de ferros de espera (ferro-cabelo) chumbados
durante a própria concretagem do pilar - dobrados, faceando a fôrma internamente - ou com ferros
posteriormente embutidos em furos executados com brocas de vídea, seguido de limpeza e
colagem com resina epóxi ou poliéster.

O emprego de canaletas na posição dos ferros-cabelo, preenchidas com microconcreto, além de


reforçar substancialmente a ligação pode absorver diferenças significativas entre a posição dos
ferros e a posição das juntas de assentamento. Para os casos de estruturas mais deformáveis, a
aplicação do chapisco na estrutura e a introdução dos ferros-cabelo não impedem destacamentos
entre alvenarias e pilares. Nessas situações, recomenda-se a inserção de juntas flexíveis
(poliuretano expandido, feltro betumado, estiropor) nas ligações.

No caso do emprego dessas juntas, o contraventamento lateral da parede pode ser garantido por
outras paredes transversais ou por ganchos de aço chumbados respectivamente na parede e no
componente estrutural. O acabamento da junta é feito com moldura de gesso ou com selante
flexível à base de resina acrílica, poliuretano ou silicone.

Os métodos de ligação tradicionais podem ser mantidos apenas para estruturas razoavelmente
rígidas, paredes não muito extensas e componentes que não apresentam retração de secagem ou
movimentações higrotérmicas muito pronunciadas.

Outros métodos
No caso de estruturas metálicas, as alvenarias poderão ser embutidas em cantoneiras soldadas
no elemento estrutural ou mesmo através de ferros-cabelo soldados nos pilares a cada duas
fiadas. Outro recurso recorrente para a ligação entre alvenaria e pilares em concreto armado é a
utilização de telas metálicas galvanizadas, fixadas nos pilares mediante emprego de pequena
cantoneira de chapa dobrada e finca-pinos à explosão (tiros). Da mesma forma que os ferros-
cabelo, a tela deve ser posicionada perpendicularmente em relação à face do pilar, ficando
embutida no centro da junta de assentamento a cada duas fiadas. Para que o chapisco cumpra
adequadamente sua função é importante que haja um controle rigoroso quanto aos materiais
utilizados, à dosagem e à aplicação.

O reforço com tela metálica ou ferros-cabelo é necessário nas ligações de paredes sobre
elementos muito deformáveis, paredes submetidas à vibração contínua e paredes com
extremidade superior livre, entre outros casos. É o projeto de vedações que define as ligações a
serem reforçadas com as telas.

Para garantir a aderência entre a alvenaria e o pilar, deve-se aplicar a argamassa sobre toda a
superfície lateral do componente de alvenaria de extremidade e, no assentamento, deve-se
comprimi-lo contra a estrutura, a fim de garantir o pleno contato com o pilar.

Para paredes com espessura de 10 cm, recomenda-se a utilização de tela de 7,5 cm. Nas
paredes com espessura de 15 cm, deve-se especificar uma tela de 12 cm. Para paredes de 20
cm, é recomendável o uso de duas telas de 7,5 cm, com distância de 4 cm entre elas. As telas
poderão também ser utilizadas nas ligações entre paredes, sempre embutidas nas juntas de
assentamento.

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